Grávida?!



Grávida?!

Certa noite, sai com Lila Brown, que era professora de biologia da escola em que eu trabalho. Fomos ao um bar, numa sexta à noite.
Era um bar escuro. A quem achava que estavam enganando com toda aquela escuridão e aquele cardápio esquisito? Todos os pratos levavam Arroz Silvestre, seja lá o que fosse isso. A metade das pessoas lá teriam preferido um bom sanduíche, eu tenho certeza.
Pedimos o jantar e ficamos tentando parecer descontraída, olhando todo mundo que entrava e saia. Casais foram se juntando. Lila começou a ficar ansiosa lá pela sobremesa. Já estávamos ali há duas horas e agora não tinha como aumentar o jantar. O lugar estava cheio de bêbados a essa altura, mas nada acontecia com Hermione e Lila.
É preciso reconhecer que a competição estava dura. Meninas de 18 anos, com cabelo liso natural, se inclinando sobre as mesas e a bancada para dar a chance de todos verem pelo decote de seus [mini] vestidos. Garotas realmente bonitas, como se o concurso de Miss Universo estivesse se realizando lá.
Os caras eram bonitos, também.

Quando estávamos acabamos de beber, dois caras chegaram na gente e vocês já sabem. Um deles acabou no meu apartamento, acabamos dormindo juntos e...
Foi na manhã seguinte que eu descobri que a camisinha tinha estourado.
Fiquem calmos. Fiquem todos calmos. O que vou contar agora vai provavelmente chocá-los. Aliás, mamãe, acho melhor você tomar um calmante antes de continuar.
-Edd, o que mais ela pode dizer que vai me chocar ainda mais do que eu já estou chocada? – Essa é a minha mãe falando com meu pai quando ler isso.
Fiz um aborto.
-Edd, você leu isso? Hermione fez um aborto! Edd, eu não consigo respirar! Traga meu calmante!
Sei o que você está pensando, mãe. Que eu não precisava ter feito isso. Na verdade, eu mesma pensei nisso. Mas eu não tinha a coragem necessária.
Na verdade, sempre achei que teria um filho aos 35 anos, casada ou não.

Fato: a maioria das mulheres planeja ter um filho aos 35 anos, casadas ou não... E nunca fazem isso.

Planejar uma criança sem pai é sem duvida interessante. É desejável obter os melhores genes possíveis. Se for do marido, a gente aceita os genes das manias esquisitas e tal. Mas se estamos escolhendo, então é preferível ter o melhor. O deprimente é que eu não lembro de ninguém com quem eu tenha dormido que eu gostaria que fosse o pai ausente do meu filho. Vamos encarar os fatos: os caras com quem eu dormi não tinham genes maravilhosos.

-Neville, a gente dorme bastante juntos. E se acontecer alguma coisa?
-O que quer dizer com isso?
-Suponha que eu fique grávida ou coisa assim.
-Você está?
-Não, acho que não. [Sim, acho que sim.]
-Então para que ficar fazendo suposições?
-E por que não? Mas que droga, Neville, todo mundo faz isso. POR QUE NÃO PODEMOS FAZER SUPOSIÇÕES? QUERIA QUE VOCÊ ME DESSE UMA BOA RAZÃO PARA ISSO.
-Está bem. Vamos supor então. O que você quer supor?
-Que eu estou grávida.
-E se estivesse?
-O que aconteceria?
-O que aconteceria, não sei. O que você quer que aconteça?
-Não sei.
-Já terminamos as suposições?
-Não, ainda não. Se eu ficasse grávida, o que íamos fazer? Nos livrar dela?
-Da gravidez?
-É. Nos livrar da criança. É isso que você desejaria?
-Não sei.
-Ia preferir se casar ou coisa assim?
-Não sei.
-E por que não sabe?
Nenhuma ajuda de Neville. Querem saber a verdade? Não sei se o filho era do Neville ou do cara com quem eu dormi, meio bêbada, cujo nome eu não sei. Eu me lembro que ele era ruivo. Daqueles ruivos muito ruivos. Eu ouvi dizer que quando o pai é muito ruivo, o bebê nasce ruivo. Quero dizer, o Sr. Desconhecido Ruivo Jr. Ia ser mais bonitinho que um Neville Jr., isso é verdade.
Não há ruivos na família, nem minha nem na de Neville. Imagina se o bebê nascesse ruivo?

[Minha mãe] – Não é a coisa mais linda? São tão bonitinhos quando são bebês.
[Neville] – Hermione? Você já viu o bebê? Acho que cometeram um erro, quando colocaram a etiqueta ou coisa assim.
[O médico] –Sra. Longbottom, teve um belo menino. Vamos precisar, para nossos arquivos, além do nome do seu marido, o nome do pai verdadeiro.
-Meu marido é o pai.
-Ora, vamos, Sra. Longbottom. Não somos idiotas.

Ah, e os parentes e todas as fofocas. O que quero dizer é que é muito fácil enganar o Neville, mas estou certa que, no fim das contas, até ele ia entender.
Eu não estava me sentindo lá muito maternal, nem achava que eu estava destruindo uma vida. O aborto parecia à saída mais fácil. Muitas mulheres fazem isso, você sabe.
Não aconteceu em nenhuma garagem suja ou coisa semelhante. Foi em uma clinica comum e limpa, com um médico perfeitamente comum. Ele foi recomendado por Lila Brown, que já tinha usado duas vezes. Apenas um bom médico que acreditava em abortos. Com um pouco de dor e quinhentos dólares, meu filho tinha desaparecido.
Arrependimento? Sim. Alivio? Sim. Algum dia desejei ter tido aquela criança? Sim. E já me senti contente por ter feito aquilo? Sim.

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