Eu tentei



Eu tentei

Nessas vocês não vão acreditar… O telefone toca.
-Alo.
-Alo, Hermione? [A voz parece familiar, mas não sei quem é]. Hermione, é Luna Lovegood. [Bem, agora eu sei].
-Como vai, Luna?
-Muito bem, Hermione. Penso em você o tempo todo.
-Muito obrigada. [E...?]
-Estava pensando se por acaso mudou de idéia sobre mim e todo o resto.
-Bem, para dizer a verdade, Luna, não. Você é uma ótima pessoa, mas eu realmente não me sinto... Você sabe.
-Então, provavelmente, você nunca mais vai ouvir falar de mim. Não vou mais incomodar você.
-Mas não é que você me incomode, Luna.
-Hermione, já que você não quer nada comigo, eu vou me casar. Vou me casar com um cara chamado Andrew. [Ela vai se casar? Ela vai se casar?]
-Mas que bom, Luna. Meus parabéns. [Eu vou morrer. Olhe, por que não dá esse cara, Andrew, para mim e arranja uma garota que goste de você como você realmente é, Luna?]
-Se por acaso mudar de idéia, Hermione...
Ela vai se casar. Luna Lovegood vai se casar. Luna Lovegood tem uma lista de presentes na Tiffany’s.
Quase um mês depois da ligação, recebi um embrulho de presente. Um bracelete de ouro da Cartier. O cartão dizia “Acho que vou te amar para sempre... Luna”. E estava gravado na pulseira: “De L. L. para H. G. Para sempre.”
Devolvi a pulseira uma vez e foi mandado de volta. Tentei usá-lo, mas me deu alergia.

Vocês fazem idéia do que era ter 27 anos, procurando desesperadamente um marido em Nova York?
Eu odiava a minha vida de solteira. Eu fazia tudo que as outras solteiras faziam: marcava encontros. Se eu não tivesse um encontro com Neville, entrava em pânico. Tinha que arranjar um jeito das noites de sábados e sextas passarem de qualquer jeito. Eram mais ou menos assim os telefonemas entre amigas: “Oi, o que você vai fazer hoje à noite?” “Que tal a gente ir jantar e depois ao cinema?” “Vamos ver um show?” “Por que você não aparece lá em casa?”. Deus me livre de ir para casa sozinha. Deus livre todas nós de irmos para casa sozinhas.
Existem os compromissos de última hora, aqueles que terminam numa ligação de amiga para amiga “Sinto muito, Mione, mas hoje não vai dar. Eu tenho um encontro”. Não que ela gostasse dele. Na maioria das vezes, não gostava. Qualquer coisa é preferível do que sair com as amigas de novo . E nada de consideração uma com a outra. Vamos sair hoje à noite se não aparecer nada melhor, era assim entre eu e as minhas amigas.
Quando eu acabava sem encontro nenhum ou sem amiga nenhuma para sair, eu passava as noites vendo TV, comendo e ligando para qualquer um.
E os domingos, quando se fazem todos aqueles programas culturais debaixo da neve, enquanto as pessoas casadas ficam em casa, na cama. Todos aqueles eventos que melhoram nosso padrão de cultura e nos tornam incapazes de casar com alguém que não seja de Nova York.
Conheci uma vez um sujeito de uma cidadezinha no estado de Nova Jersey que não sabia a que restaurante ir ou que estava passando na Broadway.

Algumas vezes, era a minha vez de dizer “Sinto muito” para uma amiga porque um cara me convidou para sair. Nada de interessante, apenas um cara. Nenhum deles me levava a lugares fantásticos ou me comprava presentes fantásticos. [O de Luna Lovegood foi um dos melhores que eu já recebi]. Eu tinha um encontro atrás do outro e nenhum deles era muito melhor que Neville. Era como se eu estivesse me afogando.
Comecei a me dedicar à política. Bater na porta das pessoas, tentando convencê-las a votar. Colocar cartas no envelope no comitê do Partido Democrata. Está certo, pode ser que tudo isso seja uma coisa boa de se fazer, se eu não estivesse fazendo isso porque não tenho mais nada para fazer.
E havia as noites em que Neville aparecia e que eram imutáveis. Tão chatas. O chato do Neville com seu sexo chato.
Falávamos sobre casamento, ou melhor, eu falava.
-Neville, tudo isso é uma besteira, uma besteira completa. Você passa quatro noites por semana aqui. Estamos praticamente casados. Por que não vamos em frente e fazemos isso logo de uma vez?
-Fazer o que?
-Você sabe... Casar. [Lá vou eu, fazendo propostas de novo].
-Agora não. [Agora não? E por que não? Está por acaso levando uma vida dupla? Você é um super herói agora e sua identidade secreta é Neville Longbottom?]
-É só que eu acho tudo isso uma besteira. Quero dizer, você paga um aluguel e eu outro. Isso é uma besteira.
-Sei não.

Naquele ano, as coisas realmente mudaram. Gina saiu da minha vida. Foi passar umas férias em Los Angeles e arranjou um emprego de modelo ou coisa parecida. Ela foi morar com um jornalista muito importante e nós duas não perdemos contato. Mandávamos vários e-mails e deves em quando falávamos por telefone.
Ela aparecia em Nova York de vez em quando e ficávamos horas rindo dos bons e velhos tempos.
-Lembra quando ficamos presas do lado de fora do apartamento?
-E da festa de Halloween?
-E dos nosso vizinhos malucos? E de Fire Island?
-Ah, Gina, acha que estamos ficando velhas?
-Não somos velhas. Nem chegamos aos 30.
-Estamos quase lá. Comecei a passar hidratante todo dia, se não minha pele resseca toda. Antes não era assim.
-Mione, também estou usando e um xampu totalizante também.
É por isso que o cabelo dela parecia mais vermelho do o que o normal.
-Não estou vendo nenhum cabelo branco.
-É porque estou usando o xampu.
Ah, ta, Gina sempre foi exagerada. Até parece que ela tem cabelo branco antes dos 30.
-Estamos envelhecendo, Gina.
-É mesmo.
-E como é que nunca nos casamos?
-Nunca encontrei um cara que fosse normal. E não estou brincando. Podia ter me casado um milhão de vezes, mas nunca encontrei um sequer que fosse normal.
-Sei o que quer dizer com isso. Todas as garotas que conheço parecem normais e os caras são todos malucos.
-Com quantos você já dormiu?
-Não sei...
-Dê um palpite.
-Não sei, uns 20? [Provavelmente mais]
-Eu só com 13... Não posso acreditar nisso. Sabe, quando nos mudamos para Nova York, eu era virgem.
-Eu também [quase]
-13 caras e nenhum orgasmo. Já teve algum?
-Sim, acho que sim.
-É como é que sabe?
-Não tenho muita certeza. Eu disse que acho que sim.
-E como é?
-É... Não sei. Explicar. [Claro, eu provavelmente nunca tive um].
-Tenho o direito de ter um orgasmo. É um direito meu. Vou me casar com o primeiro que me faça ter um.
-Mesmo que seja republicano?
-Se é republicano, é incapaz de provocar um. Vou me casar com o primeiro que me fala ter um.
-Eu também.
-Pensei que já tive tido.
-E eu disse que não tinha muita certeza.
Ah, Gina, o que nos levou a imaginar que tudo teria um final feliz?

Troquei de emprego e de apartamento. É. Eu me mudei para a Rua 39 Leste, dessa vez num prédio com porteiro. Eu não tinha mais companheira de apartamento. Eu resolvi ser professora também, como minha mãe sempre quis. Eu ensinava inglês a sétima série no Lower East Side, o que não era fácil. Os alunos eram mal educados, mas o trabalho tinha suas compensações. O salário era bom e eu tinha férias no Natal, na Páscoa e no verão. Sim, mamãe, exatamente como você me disse há muito tempo atrás.
Eu fiz de tudo para me casar. Participei de marchas pela paz em pleno inverno. Talvez meu verdadeiro amor/ meu futuro marido estivesse ali. Eu entrava e saia do Dr. Lockhart. Eu participei de reuniões e cursos noturnos. Eu ia a todas as festas para qual eu era convidada, todas festas em que eu ouvia falar. Fui esquiar num fim de semana e acabei deslocando o nariz. Tentei de tudo.
Cortei o cabelo na última moda, mas não deu muito certo. Continuei trabalhando como voluntária no Partido Democrata. Fiz uma assinatura da revista Cosmopolitan . Não me digam que eu não tentei. EU TENTEI. A única coisa que eu não fiz foi me mudar para a Austrália, onde há mais homens que mulheres.
Fazem idéia da soma de dinheiro que eu gastei tentando casar? Pelos meus cálculos, uns 15 mil dólares.
É só fazerem as contas. Salões de beleza e roupas. Bons perfumes. Corridas de táxi tarde da noite custam uma pequena fortuna, para não falar em certos psiquiatras. E as entradas de teatro. Paguei seis dólares para me registrar num site de relacionamentos e entrei em contato com quatro idiotas. Mais cremes, restaurantes, cinemas, dietas, livros de relacionamentos [e de dietas também.]
Presidente dos Estados Unidos, por que tudo isso não é dedutível do imposto de renda? Foi um prejuízo total.

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