FACE A FACE



" O deserto do Kalahari não é apenas uma fornalha localizada no sul do continente africano. Ele tem uma grande extensão mágica que os trouxas nem imaginam existir. Por lá voam hipogrifos selvagens e outros animais tão estranhos que nem Hagrid conseguiria identificá-los. Nem sei se eu conseguiria falar a voz das aves selvagens que sobrevoam a parte mágica do deserto. Eu e Dobby caminhávamos a pé."

- A pé? – perguntou espantado, Jorge.

Naquele momento as crianças tinham sido colocadas para dormir e Harry Potter narrava aos Weasleys as circunstâncias que levaram ao seu confronto final com Voldemort. Ele já havia relatado a sua busca para controlar o “DOM”, seus ataques aos Comensais da Morte e o seu encontro com Amos Okosha, o pai de Patrícia. Gina estava sentada no mesmo sofá confortável que ele e segurava firmemente a sua mão. Patrícia, do lado oposto a Gina, às vezes acariciava seu braço, incentivando-o a continuar. E freqüentemente, assim como Hermione, olhava preocupada para o bruxo, como se temesse pela sua saúde. Os Weasleys prestavam atenção de maneira quase religiosa ao rapaz. Mesmo Rony, ainda sentado, muito sério, no canto da sala, parecia atento às palavras do seu antigo companheiro. Draco Malfoy acompanhava tudo em silêncio, mas não parecia disposto a tecer qualquer dos seus comentários irônicos.

" Voldemort havia construído sua fortaleza sinistra na parte mágica, selvagem e desolada do Kalahari. Tenho certeza que ele não esperava que alguém, mesmo um bruxo, chegasse até aquele local sinistro a pé. Aliás, duvido que fosse possível chegar ali por qualquer meio.Provavelmente o Lorde das Trevas e seus partidários atingiam o local através de uma chave de portal. Eu e Dobby caminhamos por vários dias, racionando a água e comendo grãos preservados por feitiços. O ar podre, infestado de magia negra estragava qualquer coisa. Antes de comermos ou bebermos, tínhamos que conjurar feitiços para purificar a comida e a água. Aquilo era o mais próximo possível de um inferno. Eu nem quero pensar o que seria um mundo dominado pela mente distorcida de Voldemort."

Harry interrompeu o seu relato por um momento, como se a lembrança fosse profundamente dolorosa. Com um pequeno gesto com a mão esquerda (Gina segurava ainda sua mão direita), fez uma jarra de água que estava sobre a mesa da sala de jantar despejar o conteúdo no copo, que veio flutuando até a sua mão. Os presentes olharam abismados aquela demonstração de poder sem varinha. E com mão esquerda! Todos sabiam que ele era destro. Patrícia sorria. Estava acostumada com essas demonstrações de magia do irmão, mas para os demais aquilo era assombroso.

Os gêmeos olhavam boquiabertos. Carlinhos, Gui e o Sr. Weasley arregalaram os olhos. Subitamente constrangido pelo gesto, que para ele era absolutamente normal, Harry murmurou um “desculpe” quase inaudível.

- Claro! – caçoou Fred – Nós o desculpamos por ser o bruxo mais poderoso do mundo.

- E depois de desculpá-lo vamos começar a fazer magias com a mão esquerda também, é claro – acrescentou Jorge.

- Ora, calem a boca, vocês dois! – ralhou a Sra. Weasley – Deixem que ele continue contando a história.

" Okosha havia me dado as coordenadas da fortaleza.Certamente havia torturado e matado para consegui-las. Confiante demais, Voldemort não se preocupou em proteger seus esconderijo com um feitiço “fidelius”. Ele certamente acreditava que o calor infernal, os animais selvagens e a magia negra que empesteava o ar dariam àquele lugar maldito toda a segurança que ele precisava. Chegamos no que parecia ser o centro dos domínios mágicos do deserto. Um feitiço de ilusão e outro isolante nos tornava invisíveis aos estranhos quadrúpedes que pareciam felinos gigantescos, que também não conseguiam sentir o nosso cheiro ou nos ouvir. Eles rondavam aquele pedaço de fim do mundo. Acho que se alimentavam da própria magia em volta, mas desconfio que não se importariam de devorar algo mais sólido, como um homem ou um elfo.

Desconfiei que a concentração daqueles seres grotescos naquele lugar não fosse gratuita. Conferi o pergaminho com as coordenadas e fiquei muito chateado de estar certo. A entrada da fortaleza de Voldemort ficava bem à nossa frente. E bem atrás dos 'felinos'. Não achei que pudéssemos entrar no refúgio do bruxo sem sermos notados pelos monstros. Tentando manter os feitiços de disfarce caminhamos em direção à 'porta'. Quando parecia que não seríamos notados, dois dos animais levantaram-se sobre duas patas e um deles cuspiu alguma coisa verde-escura na nossa direção. Embora eu saiba que os elfos são muito resistentes a todo tipo de feitiço, não quis arriscar. Bloqueei o feitiço, que mesmo assim queimou o meu braço como ácido".

- Você fez o que, Harry? – perguntou Hermione abismada. Ele pretendia omitir que o feitiço em questão expelido pelo monstro era um “Avada Kedavra”, a maldição da morte. Recriminou-se mentalmente por ter mencionado a cor da “alguma coisa” que foi atirada contra ele e Dobby pelo ser das trevas.

- Eram leônigos, não? – perguntou Carlinhos.

Claro, o especialista em dragões certamente deveria conhecer outras criaturas malignas. Leônigos são seres de origem incerta, que podem ser invocados com algum tipo de poder das trevas. Dizem que podem queimar a sua alma com a chama verde-escura que cospem nos inimigos. Podem agir como felinos selvagens e devorar a sua carne. Só alguém muito maligno consegue invocar essas aberrações. Alguém como Voldemort. A chama esverdeada é similar à maldição de morte, portanto, em tese, ela não teria defesa.

- Você bloqueou com as mãos um feitiço de morte? – perguntou Draco, visivelmente impressionado.

- Bem... sim – respondeu Harry, sem jeito.

- Com as mãos não. Com uma mão só! – explicou Patrícia, muito orgulhosa do irmão.

Os gêmeos assobiaram em sinal de espanto. Todos encararam Harry novamente. Mesmo Rony, no seu canto, parecia impressionado.

- Ora, parem de olhar para o Harry como se ele fosse uma atração de circo! – advertiu Gina, mas ela mesma parecia bastante surpresa com a aparente extensão infinita dos poderes do “garoto que sobreviveu”.

- Mas, Gina... – tentou argumentar o Sr. Weasley.

- Vamos, papai – interrompeu Gui gentilmente – Vamos deixar o Harry contar a sua história.

" Eu possuía uma espada com uma lâmina de aço forjada por duendes da Escandinávia. É a melhor arma contra a arte das trevas. Seu fio é tão afiado que pode cortar a sua sombra. Seu toque é tão suave que você será trespassado por ela e sentirá apenas um pequeno incômodo antes de cair morto. Em pé os leônigos eram maiores do que um trasgo e muito mais ferozes. Eles não ficaram contentes de ver que eu não havia morrido. Antes que pudessem realizar outros truques, eu fui obrigado a 'silenciá-los'".

- Você matou os leônigos? – perguntou Carlinhos, atônito. Diziam que essas bestas das trevas não poderiam ser mortas por nenhum bruxo de nossa era.

- Bem... sim. – respondeu Harry, de novo muito encabulado. Não queria que os outros, principalmente Rony, imaginassem que ele pretendia se exibir.

- E quantas dessas bestas você matou Harry? – perguntou Hermione, sempre muito curiosa.

- Anh... mais de uma – tentou desconversar.

- Dobby me contou que foram pelos menos oito – corrigiu Patrícia – Os demais fugiram.

- Caracas! – Exclamaram Fred e Jorge ao mesmo tempo. Jorge acrescentou: - Ei, garoto, não seja tão modesto! Se eu matasse uns oito bichões desses e pusesse outros tantos pra correr, eu faria questão de contar pra todo mundo.

- Porque você é um exibido! – disse Angelina, a antiga colega de Harry e esposa de Jorge, arrancando risadas de todos.

" Aquela espada fez um buraco, aparentemente em lugar nenhum, mas uma porta negra se abriu e lá estava a fortaleza insana do Lorde das Trevas. Dei a Dobby as instruções de sempre. Se eu morresse, meu corpo deveria ser trazido para a Inglaterra, meus bens doados a vocês e Hermione. O dinheiro sujo tirado dos Comensais de Voldemort enviado para o St. Mungus aos cuidados de Hermione e para Hogwarts".

Um silêncio caiu sobre a sala. A Sra. Weasley tinha lágrimas nos olhos. Mesmo os gêmeos pareciam emocionados. Então ele nunca esquecera os amigos! Gina aconchegou-se mais a ele.

- Você é a pessoa mais irritantemente nobre que eu conheço, Sr. Potter – disse entre um sorriso e uma lágrima.

Bastante encabulado, Harry prosseguiu:" Havia algumas dezenas de Comensais ali com Voldemort. Eles não pareciam contentes. Mesmo os seguidores das trevas não pareciam muito felizes com aquele local. Deixando Dobby do lado de fora, caminhei no meio dos seguidores do bruxo, que me olharam espantados. Alguns pensaram em correr, mas devem ter se lembrado que a fornalha do Kalahari não seria muito gentil com eles. Dolohov, um dos seguidores fiéis caminhou decidido em minha direção. Eu o estuporei rapidamente, bem como outros cinco ou seis que tentaram alguma coisa. Então eu o vi. Ele estava mais horripilante do que da última vez. A aparência viperina agora era obscena. Ele não apenas tinha olhos de cobra e fendas no lugar das narinas como uma serpente. Era como se ele tivesse se transformado em uma. Eu não estranharia se ele rastejasse e sibilasse como um maldito réptil. Nem faço idéia do tipo de feitiço que ele fez para ficar dessa forma. Não era apenas sua aparência que havia se corrompido. Podia sentir sua alma consumida pelas trevas. O mal em pessoa. Os trouxas diriam que ele era o próprio demônio".

Nesse momento Patrícia escondeu o rosto no ombro de Harry e soluçou fortemente. Ela havia visto o bruxo uma única vez. Os comensais a deixavam isolada naquele lugar terrível. Sua incipiente sensibilidade produzida pelo "DOM" afetada pela magia negra deixava-a praticamente catatônica. “Aqui está a sua futura noiva”, disse um dos homens que a havia raptado, matando seus parentes trouxas na França. A garota gritou quando viu o rosto do maldito. Aquela imagem ainda a assaltava algumas vezes em pesadelos. Harry, que a ensinou a controlar o “DOM”, orientou-a também a tirar aquela face de serpente dos seus pensamentos, colocando-a em algum lugar no fundo da mente."Aqui está a sua futura noiva". Um medo irracional enterrado em sua alma, mas nunca esquecido, provocou um tremor involuntário no seu corpo. Harry a havia livrado de um destino mais trágico do que a morte. Sim, provavelmente ela morreria, mas só os deuses sabiam o que ela teria que sofrer antes de encontrar os seus antepassados. Harry soltou-se da mão de Gina e abraçou a irmã. Ela odiava sentir-se frágil dessa forma! Queria ser forte, mostrar para aqueles ruivos que ela era tão digna do amor e da admiração de Harry Potter quanto eles e Hermione. Sentindo seus temores através do “DOM”, o irmão a tranqüilizou:

- Você não tem do que se envergonhar, Patrícia. Você teve coragem suficiente para não enlouquecer. Não imagino um outro bruxo da sua idade passando pelo que você passou e conservando a sanidade.

- É claro, querida – disse de maneira compreensiva, Gina Weasley, que agora havia enlaçado suas mãos nas dela.

As outras pessoas da casa a olhavam com um misto de admiração e solidariedade. Ela sabia agora por que Harry considerava aqueles bruxos a sua família. Ela poderia passar o resto da vida ali, sendo confortada por aquelas pessoas, sentindo a bondade deles.

- Ei, vocês não precisam contar tudo agora – disse Fred sério, mas logo depois, sorrindo, acrescentou: - Tudo bem que eu não vou dormir à noite, querendo saber como o nosso amigo aqui derrotou o “cara de cobra”, mas tudo bem...

- Fred! – ia chamando a atenção do filho a Sra. Weasley, quando Patrícia, mais calma, falou:

- Tudo bem, Sra. Weasley. Foi só uma má lembrança. Pode continuar, Harry.

" Voldemort estava sentado numa poltrona com um encosto alto e uma serpente imensa enrolava-se em seu corpo. Tentou fingir que não estava surpreso me vendo ali, mas falhou miseravelmente. Disse para os comensais não se intrometerem.

- Potter é meu! – sibilou numa voz inumana. Invocou algum tipo de magia negra e um escudo prateado o envolveu. – Ou melhor – acrescentou – É de Nadine.

Talvez a cobra gigantesca dele tivesse muito poder. Eu nunca descobri. A mente do bruxo das trevas abriu-se para mim por um momento e todos os seus sonhos insanos de domínio do mundo mágico desfilaram diante dos meus sentidos. Vocês não fazem idéia do tamanho dessa insanidade. Nunca senti tanto ódio de um indivíduo na minha vida! Aquela loucura iria acabar ali. Pela primeira vez em anos me descontrolei. Emiti um grito na língua das serpentes e o réptil gigante de Voldemort estirou-se sem vida. Os objetos estranhos da fortaleza do bruxo começaram a se desfazer em pedaços. Os Comensais que haviam sobrado ameaçaram arriscar-se no deserto. Não permiti. Nenhum daqueles malditos sairia dali vivo. Pela primeira vez pude sentir o medo do Lorde das Trevas.Caminhei até o escudo que o bruxo ergueu achando que me impediria de cumprir o meu destino.

- Nem mesmo esse seu poder demente pode violar o escudo de Anúbis, Potter – zombou – Tente destruir o escudo e você será feito em pedaços. Ficarei aqui, vendo o seu desespero enquanto essa fortaleza desaba matando a garota. Você veio salvá-la, não é mesmo? Como o patético herói que você é.

Enquanto ele falava, as pedras que formavam a fortaleza começaram a desabar. Usando toda a extensão do 'DOM' localizei Patrícia numa masmorra vários metros abaixo de nós. Certamente Voldemort imaginava que os feitiços que ele havia colocado no local me impediriam de fazer o que fiz. Desaparatei e na volta trazia a garota nos braços. Ela estava em choque. Calmamente criei meu próprio escudo para protegê-la e resolvi cuidar do demônio que tinha me privado dos meus pais, de Sirius e da minha própria humanidade.

Ele me olhava surpreso com os seus olhos de serpente quando, usando o punhal de Agripa, desferi um golpe no escudo que o protegia. Abri o escudo com as mãos, sentindo uma dor que não me lembro de ter sentido antes. Eu sabia que se ele se fechasse novamente nem todo o poder do mundo me impediria de ser esmagado. Usando ainda o punhal que corta o mal e a mentira, cravei-o no pescoço de Voldemort cortando sua jugular. Antes que ele caísse, tirei minhas mãos do escudo, fechando-o para sempre com um feitiço congelante. Ele repousa até hoje no seu túmulo prateado, o rosto paralisado num esgar de pânico. Os bruxos africanos a quem dei as coordenadas da localização da fortaleza, semanas mais tarde, enviaram-no para a Inglaterra."

- Sim, eu me lembro – disse o Sr. Weasley – Quando o cadáver chegou na Inglaterra o Ministério da Magia decretou feriado nacional no Reino Unido. Todos diziam que você o havia matado, mas ninguém sabia ao certo o que houve.

- E inventaram tantas histórias... – divagou a Sra. Weasley.

- Mas, como vocês cruzaram o deserto? Vocês aparataram? – quis saber Hermione.

" Nós tentamos aparatar, mas a magia negra do local não permitia. Tivemos que caminhar seis dias através do deserto. Com pouquíssima água disponível e quase nenhuma comida. De alguma forma a morte de Voldemort contaminou mais o ar em volta, destruindo boa parte da água e dos alimentos que carregávamos. Dobby, graças à magia inata à sua espécie conseguiria sobreviver, mas havia Patrícia, que nem mesmo conseguia andar. E eu também precisaria de água e de comida. Foi aí que executei um feitiço perigoso que havia treinado para uma emergência como essa. Depois de dar as instruções a Dobby, segurei Patrícia nos braços, apontei para a minha cabeça e murmurei 'Mortus'. Estava preparado para a travessia".

- Você realizou o feitiço “morto-vivo?” – perguntou Hermione, chocada.

- Eu nunca ouvi falar – afirmou Gina

- Por que não exista ninguém que consiga invocá-lo e sobreviver para contar a história – afirmou o Sr. Weasley – Ele torna a pessoa um morto vivo, insensível à dor, ao sono ou à fome. É uma magia negra antiqüíssima. Eu conheci alguns bruxos, na minha juventude, que tentaram invocá-la. Eram uns tolos adoradores das trevas. Você nem queira saber o resultado.

- Mas você sobreviveu, é claro – disse Gina, olhando preocupada para Harry. Por Merlin! Não havia limites para os poderes do homem que amava?

" O problema desse feitiço é que você precisa ser guiado. Caminhei como um morto vivo com Patrícia em choque nos meus braços e Dobby me guianbdo através do deserto".

- Meu Deus, Harry! – exclamou a Sra. Weasley, os olhos de novo cheios de lágrimas. Novamente um silêncio caiu sobre o aposento, até que Harry falou:

- Talvez vocês não acreditem, mas continuo tão humano como a nove anos trás. Apesar de tudo, apesar... – e sua voz falhou. Antes que os demais o confortassem, Rony Weasley finalmente levantou-se e ironicamente bateu palmas.

- Muito bem. Isso lhe dá todo o direito do mundo, claro! O salvador da humanidade. O “homem que derrotou as trevas”. Não é assim que o chamam agora? E isso lhe dá o direito inclusive de invadir os sonhos dos outros, não é mesmo? O grande e onipresente Harry Potter.

Todos olharam para Rony espantados. Nenhum deles entendeu a história de “invadir os sonhos”, que Rony nunca havia contado aos familiares. Patrícia e Gina estavam prestes a estuporá-lo, quando Harry também se levantou. Parecia querer dizer alguma coisa para o amigo, mas tudo se apagou na mente do bruxo e ele caiu. Todos, menos o ruivo correram em sua direção, enquanto Hermione, desesperada pedia para que todos se afastassem. Harry Potter, o maior bruxo de todos os tempos, que tinha matado Voldemort e realizado façanhas impossíveis poderia estar morto, ali naquela sala da Toca.






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