O ÚLTIMO COMENSAL



Milhares de pessoas aglomeravam-se nos jardins de Hogwarts para dar o último adeus a Alvo Dumbledore, o maior diretor da escola em todos os tempos. Era considerado também o maior mago dessa era. Pelo menos até Harry Potter começar a caçar os Comensais da Morte. Harry sabia que Dumbledore não aprovava as escolhas que havia feito há oito anos atrás. Nunca mais, desde aquela noite na sede da Ordem da Fênix, havia falado com o professor. Com o homem que estimava quase como um pai ou um avô. E que agora estava morto. Assim como uma parte dele mesmo. O mal estar que vinha sentindo nos últimos meses talvez matassem a parte que restava. Estava cansado de perseguições, de mortes, de violências.

Apesar de todos os poderes que possuía, nunca havia sido muito bom em transfigurações. Manter aquela aparência de cabelos loiros e pele muito mais pálida do que a sua verdadeira epiderme, queimada pelo sol africano, dava bastante trabalho. Sem nenhum motivo, uma vez que eles não o reconheceriam, ficou longe de onde estavam os Weasleys e Hermione. Queria dizer tantas coisas a eles, mas não agora. Não queria que sentissem piedade do seu atual estado.

Com um olhar atento, varreu os assentos que haviam sido conjurados nos jardins para a cerimônia. Todos vestiam branco, o luto entre os bruxos, mesmo o professor Severo Snape havia abandonado suas tradicionais e esvoaçantes vestes negras. Bem atrás dos assentos estava Hagrid, um pouco afastado, seu irmão Grope, que projetava uma grande sombra sob o sol pálido de primavera. Involuntariamente acenou para o meio gigante, que surpreso retribuiu, obviamente não o reconhecendo. Algo, entretanto, fazia com que acompanhasse com os olhos Severo Snape. Alguma coisa estava errada.

No dia em que havia se despedido de todos na Ordem da Fênix sentiu a mesma coisa. Um medo soterrado no fundo da alma, um peso na consciência. Harry julgou na época que alguém temia que com o “DOM” ele descobrisse algum segredo muito íntimo. Talvez uma velha paixão proibida, talvez algum pecado. Talvez uma grande culpa. Uma grande traição. Maldito Severo Snape! De repente a verdade fluiu através do “DOM”. Teve que se controlar para não ir atrás do mestre de poções e quebrar o seu pescoço. Maldito traidor!

Quando terminou a cerimônia, Snape, de volta ao castelo, passou a poucos centímetros de onde Harry estava. O jovem encarou-o com ódio, fato que não passou desapercebido ao bruxo mais velho, que grande legilimente que era, percebeu quem o fitava com olhos impiedosos.

- Eu vou matá-lo, seu morcego desgraçado! – disse Harry através do “DOM”, antes que Snape fechasse a mente a qualquer ataque externo.

Harry já havia desaparatado dentro de Hogwarts mais uma vez. Mesmo com as novas proteções que a Professora MaCgonagall (nova diretora da escola) havia instalado, elas eram insuficientes para detê-lo. Quando Snape chegou aos seus aposentos, ainda confuso com a voz daquele rapaz estranho ecoando na sua mente, Harry estava esperando por ele sentado calmamente numa cadeira. Estava na sua forma original, e mesmo sem tê-lo encontrado nos últimos oito anos, Snape não teve dificuldade para reconhecê-lo.

Embora fosse dono de poderes impressionantes, o “homem que derrotou as trevas” , como era chamado, nunca havia aprendido a ficar invisível sem sua famosa capa. Dumbledore era capaz de realizar tal feito. Dizem que Merlin e Agripa também. Ele nunca havia se preocupado. Nos últimos anos fizera sempre questão de estar visível para levar o terror ao coração dos Comensais. Não disse nada a princípio. Nem Snape parecia surpreso em ver seu tão odiado ex-aluno. Os olhos verdes do rapaz pareciam brilhar na penumbra do aposento, como naquele dia do Massacre de Hogsmeade, oito anos atrás.

- Suponho que tenha vindo vingar o seu amado mentor, Potter – falou o mestre de poções com a sua voz particularmente fria.

- Suponho que sim – retrucou Harry no mesmo tom de frieza.

- Eu vou lhe poupar o trabalho – disse o mestre, enfiando calmamente a mão nas vestes brancas e retirando de lá um frasco com um líquido transparente.

- Acqua Mortis – disse Harry de maneira didática – O veneno extraído de uma rara planta mediterrânica, cuja poção deve ser preparada durante duas luas cheias e depois acrescida duas gotas de orvalho colhidas na lua minguante.

- Parabéns, Potter. Vejo que melhorou muito seus conhecimentos sobre poções após a sua saída da escola – disse o bruxo mais velho com desdém. Depois, abrindo o frasco, tomou o conteúdo num único gole.

- Eu posso sentir, Severo. A sua oclumência é boa, mas não o suficiente.

- Professor Snape para você, seu insolente! – berrou o outro, tentando puxar a varinha das vestes, mas sendo paralisado por um gesto da mão de Harry.

- Não sou mais seu aluno – disse Harry de maneira tranqüila – O dia de hoje será como uma graduação, pode-se dizer. Por que, Severo?

- Ora, o grande Potter não pode simplesmente ler a minha mente?

- A mente não é...

- Um livro que pode ser lido – completou o outro – Lembro quando disse isso para você, seu fedelho idiota.

- Eu poderia arrancar a verdade de você e deixar a sua mente tão vazia como a de alguém que foi beijado por um dementador. Você quer isso? Acho que não, não é mesmo.Então, diga: POR QUE VOCÊ MATOU ALVO DUMBLEDORE? – a pergunta soou como um trovão ensurdecedor e só não foi ouvida em todo o castelo porque Harry havia colocado um feitiço de silêncio no aposento.

Foi a primeira vez em muitos anos que Severo Snape teve medo. Ouvira os relatos de ex-Comensais apavorados que falavam temerosos do poder do “garoto que sobreviveu”. De como ele era capaz de matar, mutilar e torturar as pessoas. O professor de poções sabia que ele só havia feito isso para assustar os seguidores de Voldemort e afastá-los dos seus amigos e do país. Mas agora, ele estava paralisado, graças a um simples gesto de mão do rapaz e a sua mercê.

- Juramento Inquebrável – disse por fim Severo Snape – Suponho que você já tenha ouvido falar.

- Continue – disse Harry impassível.

- Pouco depois dos episódios de Hogsmeade, o Lorde das Trevas obrigou alguns Comensais a realizar o juramento prometendo que, caso ele sucumbisse frente a você, um de nós mataria o Professor Dumbledore. Só eu sobrevivi à sua sanha assassina, Potter Os demais que fizeram o juramento foram mortos por você. Você sabe o que acontece se aquilo que foi prometido durante a realização do Juramento Inquebrável não for realizado por quem o efetuou?

- A pessoa morre, é claro – disse Harry, conservando toda a frieza que possuía.

- O meu tempo estava se esgotando. O que o grande Potter esperava que eu fizesse? – perguntou, a voz tremendo ligeiramente.

- Eu esperava que você morresse. Seria o preço justo a ser pago para o homem que o acolheu, mesmo você sendo um traidor sujo, um Comensal da morte arrependido.

- Suponho que você vai me matar, agora, não é mesmo? Talvez me decapitar como fez com o idiota do Nott – agora era perceptível o medo naquela voz fria.

- Acredite, Severo, eu não iria matá-lo. Apesar de você ter envenenado lentamente e covardemente o Professor Dumbledore e merecer uma morte dolorosa, eu nunca matei alguém sem necessidade, mesmo um verme sujo como você. Suponho que você usou a Acqua Mortis. Não tem sabor, não possui cheiro. E você está contando com o antídoto que tomou misturado à poção para continuar vivo após a minha partida. Seria um bom truque, mas não vai funcionar.

Ainda paralisado, os olhos de Severo Snape eram a única parte do corpo que se movia, agora descontroladamente. Ele havia planejado encenar uma morte no caso de alguém descobrir a sua traição. Em breve ficaria desacordado, como morto, mas despertaria depois de alguns dias. Como os bruxos eram enterrados com suas varinhas, não teria dificuldade em voltar à vida e desaparecer. Mas não havia contado com a astúcia arrogante desse maldito grifinório. Com a habilidade impressionante dele em descobrir os segredos no fundo da mente. Como o odiava! Como havia desejado que ele tivesse enlouquecido ou morrido na procura pelo controle do “DOM”!

- O que você quer dizer com isso, Potter? Você por acaso entrou nos meus aposentos sorrateiramente e sabotou o antídoto? – perguntou desesperado o mestre de poções.

- O mesmo veneno que seus amigos usaram para chantagear Okosha, não é mesmo? Você o preparou, suponho.

- E o que isso tem a ver?

- Uma lição de um ex-aluno para você, Severo. De graça – disse Harry de maneira sarcástica – Seus amigos Comensais mandaram a planta africana. A planta européia tem antídoto. Aquela que nasce do outro lado do Mediterrâneo não. Foi assim que vocês mataram Okosha.

- Não foi...

- Não, não fui eu que o matei. Quando eu o encontrei ele já era um homem morto, assim como você. Leia os meus lábios: NÃO HÁ ANTÍDOTO! – gritou Harry, uma risada insana ecoou pelas masmorras sonserinas de maneira fantasmagórica. Depois disseram que o fantasma do Professor Dumbledore havia se vingado de Severo Snape. Usando uma maldição Imperius, Harry obrigou Severo a escrever num pergaminho sua traição. Esse nem tentou resistir Depois ficou ali, vendo-o morrer. O pior é que ele não pretendia matá-lo. Apenas queria que ele confessasse a traição que pôde sentir no fundo da sua alma, graças ao maldito “DOM”.


O meio gigante Hagrid foi o primeiro a falar ao acabar de ouvir a história de Harry. Quando soube que o rapaz estava vivo e internado no St. Mungus, ele ficara plantado ali até a recuperação daquele que ele considerava como um filho. Sabia que todas aquelas mortes, inclusive a de Snape, ainda torturavam o seu ex-aluno.

- Harry, você não deve se sentir culpado – disse com a voz embargada – Snape matou a si mesmo, aquele traidor sujo! Como ele pôde, depois de tudo que o Professor fez por ele?

Gina estava sentada próxima à cama de Harry e o confortava com seus belos olhos castanhos. Ele não teria forças novamente de se afastar da dona daquele olhar. Mas seria justo obrigá-la a viver com alguém que poderia durar tão pouco tempo?

Hermione, Rony e Patrícia ficaram em silêncio. Luppin tentou confortá-lo:

- Harry, eu sei que você se pergunta se tomou as atitudes certas, se algumas atitudes tomadas por você não provocaram mais mortes e dor. Eu lhe digo, meu amigo: Não há como saber. E havia uma guerra. Lamentavelmente não há escolhas boas a se fazer numa guerra. Você trilhou o caminho que julgou certo. Você se sacrificou de uma maneira que nenhum outro jovem de sua idade se sacrificaria. Nós é que temos um débito enorme com você, não o contrário.

- Vocês... – começou a dizer Harry depois de um momento.

- Se você pedir desculpas de novo, eu azaro você – disse Rony tentando desanuviar o ambiente – Você passou todos os dias em que ficou desacordado se desculpando, cara. Nos seus pesadelos – acrescentou o ruivo de maneira sombria. Desde que havia se recuperado estava sempre com o amigo. Assim como Gina.

- Acabou, Harry – disse Gina, segurando sua mão – Não há mais espaço para recriminações, para desculpas, para arrependimentos – enfatizou a última expressão, olhando significativamente para o irmão, depois voltando-se para aqueles olhos verdes que amava repetiu: - Simplesmente acabou.






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