LUZ E NEBLINA



Três anos após o desaparecimento de Harry, Roni andava por um denso nevoeiro. A vida do ruivo não vinha sendo fácil nem para ele nem para as pessoas que o cercavam. Havia se formado em Hogwarts com notas apenas razoáveis. Intercalava períodos de sobriedade com terríveis períodos de recaída alcoólica. No ano anterior, Hermione Granger havia finalmente desistido dele. De longe ele acompanhava o sucesso da amiga. Melhor aluna da história de Hogwarts, brilhante aprendiz de medibruxa, ela havia lhe dito que não suportava mais vê-lo destruir a própria vida. Gina estava treinando firme num time da segunda divisão da liga de quadribol britânica e todos diziam que a irmã mais nova tinha muito futuro. Os gêmeos Fred e Jorge faziam sucesso com o que agora era uma cadeia de lojas de logros e brincadeiras e já estavam investindo em brinquedos bruxos. Nos breves períodos de sobriedade, Roni lhes dava idéias e projetava novos brinquedos, cujas maquetes eram rapidamente destruídas nos acessos de fúria etílica que o rapaz tinha. Resumindo, ele era a vergonha da família Weasley. Os gêmeos, Hermione, Gina, seus pais haviam procurado todo tipo de tratamento para livrá-lo do alcoolismo, tanto métodos bruxos quanto trouxas. Tudo em vão. Passava agora cada dia menos sóbrio e nem ele mesmo conseguia explicar o seu vício. Sabia que estava fazendo as pessoas sofrerem, mas não conseguia se livrar da bebida.

“Espere um pouco”, pensou o ruivo, “que droga de nevoeiro é esse?”. Roni tentava lembrar onde estava. “Mau sinal, Ronaldo Weasley”, disse para si mesmo. “Será que você finalmente teve coragem de fazer a coisa certa e livrou o mundo de sua presença insuportável?” Roni lembrou (noite passada? Mês passado? É tão difícil raciocinar nessa neblina!) que, ao ver sua mãe chorando pela milésima vez por sua causa, havia pensado sinceramente em pôr um fim nisso tudo. Não seria tão difícil. Um gole de uísque de fogo com algumas substâncias que ele havia experimentado no passado e seria o sono eterno. Sabia que ninguém sentiria muito mesmo. Sabia que o seu velho amigo Harry Potter é que fazia falta na vida das pessoas.

- Você faz muita falta sim, cara! – A voz que lhe dizia isso saía de um menino de uns onze anos de idade, cujos contornos se tornaram visíveis no nevoeiro. Ele não acreditava. Aquele era o Harry! Mas o Harry de onze anos que ele havia conhecido num verão remoto na estação do trem que levava até Hogwarts. Era o mesmo garoto magrelo, de óculos remendados e usando roupas muito maiores do que o seu tamanho.

- Por que, Roni? – perguntou o garoto?

- Por que você não confiou na gente, Harry – disse Roni sem pensar direito no que falava – Você sabe que a gente estava disposto a morrer junto com você se fosse preciso! Gina amava você! Você precisava ver como ela ficou, seu idiota! E a Mione, meu pai, minha mãe! E você disse uma vez que a gente era a sua família!

Como se o peso daquelas palavras fossem demais para ele, Roni Weasley desabou sobre o que parecia ser o chão daquele lugar estranho e começou a chorar. – Eu nunca consegui ser tão importante como você! Mas eu estava disposto a morrer junto com você!

- O problema é esse, Roni – disse a versão infantil de Harry – Eu não queria que você morresse. Eu não queria que ninguém morresse. E você faz falta sim, pra muita gente. Principalmente para uma aprendiz de medibruxa. Você tem pessoas que gostam de você, mas você tem sido burro demais pra perceber, cara!

- Você também tinha, Harry, você também!

- Você sabe que eu não tive escolha, Roni! E eu sei muito bem o que perdi. E isso dói muito. Mas você ainda não perdeu tudo!

- Você tem certeza? – perguntou um Roni hesitante

- Eu já menti pra você? Tá legal... algumas vezes eu não contei a verdade toda. Mas você pode consertar as coisas. Não faça todos nós perdermos o que é importante, Roni. Pela nossa velha amizade.

Muito impressionado Roni assentiu – Tudo bem, Harry, eu vou tentar... mas nossa conversa não acaba aqui, ou acaba?

- Não, Roni, vai demorar um pouco, mas nós vamos conversar de novo. E não vai ser num sonho, amigo, eu prometo.

O Harry de onze anos abaixou-se, beijou Roni na testa e se afastou. A última frase ecoando estranhamente no nevoeiro.

Roni acordou no seu quarto na Toca. Vestia as roupas do dia anterior irremediavelmente amarrotadas. Sentia-se estranhamente bem como se tivesse tido uma importante conversa com alguém que não via há muito tempo e de quem sentira muita falta.Só muito tempo mais tarde ele se lembraria do sonho, mas sem os detalhes todos e a promessa feita por seu amigo.Tomou banho, aparou cuidadosamente a barba muito rala. Era cedo ainda, mas ele tinha muito para fazer naquele dia.

- Bom dia, mãe – disse um Roni estranhamente bem disposto. Carregava alguma coisa que a Sra. Weasley não conseguir distinguir a princípio. – Aqui estão todas as garrafas de bebida que estavam escondidas pela casa. Eu parei!

Molly Weasley encarou o filho a princípio com incredulidade. Ele já havia feito promessas de largar a bebida antes, mas nunca com tanta segurança. Nessa hora Fred e Jorge desceram para o café.

- Ué, alguém caiu da cama? – perguntou Fred.

- Vai começar cedo a bebedeira, maninho? – emendou Jorge com ar contrariado, apontando as sacolas com as garrafas ao lado de Roni.

Sem responder aos gêmeos o rapaz apontou sua varinha para as bebidas e executou um feitiço, fazendo com que elas desaparecessem. – Eu disse que parei – falou muito sério, servindo-se de ovos, bacon e tudo o mais que conseguiu colocar no prato. Os gêmeos olharam incrédulos. Molly, com lágrimas de felicidade sufocou o filho num abraço apertado. Tentando disfarçar a emoção ele virou para os gêmeos e perguntou se eles ainda precisavam de ajuda na loja de Hogsmeade. Aquele seria um dia bem cheio, pensou o ruivo. E ele ainda tinha que procurar uma pessoa.

Longe dali, num bairro trouxa de Londres, Hermione Granger segurava uma xícara de café enquanto olhava sonhadora pela janela do apartamento que dividia com Gina Weasley. Um pequeno ponto colorido foi crescendo em sua direção. Um pássaro exótico, pouco maior que uma coruja descansou no parapeito da janela. Curiosa, a jovem bruxa abriu a vidraça e acariciou a cabeça da ave que pronunciou algumas frases esganiçadas no que pareceu uma língua estrangeira. Ela tinha um pedaço de pergaminho amarrado na perna. Não tinha assinatura, mas uma letra estranhamente familiar havia escrito “ELE VIRÁ PROCURÁ-LA. VOCÊS MERECEM UMA NOVA CHANCE”.Hermione sorriu. Ela sabia que o seu amigo Harry não os havia abandonado totalmente.







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