AQUELE FIM DE TARDE NA TOCA



Hermione e Patrícia sorriam. Draco não encontrava nada irônico para dizer nesse momento. A tarde fria parecia ter se aquecido um pouco e um ou dois pássaros devem ter cantado bem próximos dali, mesmo não sendo a primavera.

- Acho que deveríamos deixar as crianças lá dentro – disse uma voz irônica que Harry não ouvia há muito tempo.

- Anh... maninha, você poderia soltar esse rapaz bonito um pouco pra gente dar uns chamegos nele também? – disse uma outra voz brincalhona.

Quando Harry soltou-se finalmente dos braços de Gina, percebeu uma infinidade de pessoas ruivas de várias idades espalhadas pelo jardim da Toca, além de algumas mulheres jovens que tinham outras tonalidades de cabelos e pele. Os gêmeos Fred e Jorge, que fizeram os comentário irônicos, carregavam, Fred (ou Jorge, era difícil saber) um garotinho de pele escura e cabelos ruivos, enquanto o irmão trazia pela mão um menino igualmente ruivo com uma cara travessa, cuja paternidade não deixava dúvidas. Então Harry viu também Carlinhos e Gui, ambos de mãos dadas com suas jovens esposas, que olhavam de maneira curiosa o visitante ilustre. Mais atrás, uma senhora gorducha, enxugava os olhos, enquanto seu marido, alto, um pouco mais gordo e mais calvo do que Harry se lembrava caminhava resoluto até ele.

Harry teria beijado Draco novamente por permitir que ele pudesse olhar cada membro daquela família. Foi abraçado pelo Sr. Weasley e depois quase foi esmagado pela chorosa Sra. Weasley.

- Oh, Harry – dizia entre soluços a matriarca da família – Nunca perdemos as esperanças de vê-lo novamente, querido! – e depois, afastando-se um pouco para poder olhá-lo melhor disse: - Você está tão bonito! Quem é essa menina, Harry? – disse, caminhando até Patrícia.

Feitas as apresentações (Carlinhos havia se casado com uma moça que Harry não conhecia, bem como Fred, enquanto a esposa de Jorge era sua antiga colega de Hogwarts, Angelina Johnson e Gui tinha como esposa Fleur Delacour, que havia estado na escola no quarto ano dele e que havia começado a namorar o mais velho dos Weasleys no ano seguinte), todos entraram na casa, agora muito mais espaçosa, mas preservando aquele ar levemente caótico que Harry lembrava com tanto carinho. Gina segurava na sua mão como se tivesse medo de perdê-lo novamente, os gêmeos olhavam Malfoy com desconfiança e Hermione vasculhava com os olhos o ambiente a procura de alguém de quem Harry também sentira a falta.

- Humm... – brincou Jorge, analisando Patrícia de alto a baixo – Você é mesmo irmã do Harry? Se eu fosse você, Gininha, tomaria cuidado...

Sem conhecer a fama brincalhona dos gêmeos, a menina havia ficado bastante constrangida com o comentário, mas sorriu quando Gina aplicou um grande beliscão no irmão, tranqüilizando-a:

- Não liga, Patrícia, a idade mental desse aí não ultrapassa os doze anos.

Enquanto Fred reclamava e os demais riam, um ruivo muito alto, vestido com roupas bruxas muito elegantes, entrou na abarrotada sala dos Weasleys. Afagou discretamente a cabeça dos sobrinhos e cumprimentou os outros com um leve aceno de cabeça. Rony Weasley estava muito mais elegante e bonito do que a última vez que Harry o havia visto. Propositalmente ignorou a presença do antigo amigo e apenas olhou de maneira hostil para Draco.

- Ora, ora – disse tentando parecer irônico e indiferente – Temos visitas surpreendentes aqui. Um ex-comensal e uma celebridade...

Aquelas palavras doeram profundamente em Harry. Patrícia, cujo “DOM” a ligava muitas vezes às emoções do irmão, sentiu o quanto aquilo o havia atingido e teve vontade de amaldiçoar aquele ruivo idiota. Draco mexeu-se desconfortavelmente na sua poltrona, mas Hermione, encarando o noivo de maneira contrariada, disse:

- Rony, eu convidei o Draco, e o Harry, pelo que me lembro, sempre foi bem recebido nessa casa.

Vários Weasleys falaram ao mesmo tempo, mas a voz de Jorge, sobressaindo-se na confusão sonora, disse ao irmão:

- Olha aqui, deixa de ser babaca! O Harry sempre foi nosso amigo e estamos ansiosos para ouvir o que ele tem pra nos dizer sobre os anos que passou desaparecido. Se isso o incomoda, cai fora, ô bebezão! – disse apontando para a porta da rua.

- Eu não vim aqui para criar desavenças familiares, Rony – disse Harry com uma voz muito calma – Se você não quiser minha presença eu me retiro, afinal estou na sua casa.

- A casa também é minha e dos meus pais, Harry – disse Gina, as mãos ainda entrelaçadas às do rapaz – E um pouco de cortesia de sua parte seria apreciada, Rony. Do contrário, faço minhas as palavras de Jorge.

Rony encarou a irmã como se pesasse as suas palavras. Então, dirigiu-se até uma cadeira no canto da sala e se sentou de maneira afetada, cruzando as longas pernas.

- Bem – disse ainda com sua voz fria – Vamos ver o que a nossa celebridade tem a dizer...

Carlinhos Weasley levantou-se de supetão, assustando o sobrinho mais velho que estava sentado numa almofada, próxima do tio:

- Se você chamar o Harry novamente dessa forma, eu o expulso pessoalmente daqui! Já chega um idiota na família, que eu pensei que era o Percy!

Harry também se levantou. Segurando amistosamente o braço de Carlinhos, tentou acalmá-lo:

- Está tudo bem, amigo. Vamos, eu acho que preciso explicar algumas coisas, certo? Pra você também, Rony – disse virando-se para o irmão de Carlinhos - que lhe devolveu o olhar, mas com uma boa dose de hostilidade.

Gina dirigia ao irmão um olhar maligno. Hermione encarava o noivo visivelmente magoada. Carlinhos finalmente retornou ao seu lugar, com os olhos ainda mirando Rony de maneira ameaçadora. Harry sentou-se novamente. Patrícia sabia o quanto a hostilidade do amigo o magoava. Acercou-se do irmão de maneira protetora. Esse, apenas sorriu para ela a fim de tranqüilizá-la. Gina olhou-os, agora desprovida de qualquer ciúme. Patrícia realmente agia como irmã de Harry. Deveria ser difícil para a garota entender a atitude de Rony. Harry certamente havia lhe contado como os dois haviam sido amigos. Não deveria ser fácil para a garota entender essa hostilidade, que aparentemente era gratuita.

Draco Malfoy nunca teve tanta vontade de esganar Rony Weasley como naquele momento. O ruivo era decididamente um idiota. Se ele tivesse metade dos poderes do “garoto que sobreviveu” lançaria uma ou duas maldições naquele grandalhão tapado. Muito divertida essa família Weasley, pensou o ex-sonserino. Um monte de gente, uma casa estranha, solidariedade, crianças. Seria assim uma família respeitável? Ele nunca soube, uma vez que não teve uma.

Molly Weasley veio da cozinha trazendo alguns acepipes bastante deliciosos. Como para provar que Draco era bem-vindo ali, ofereceu a ele os quitutes antes de oferecer aos demais. Aceitando um tanto encabulado, olhou discretamente Harry, que confabulava algo com Arthur Weasley, mas parecia estar ficando um pouco pálido novamente.

- Você está se sentindo bem, Harry? – perguntou Patrícia, sempre atenta ao estado do irmão.

- Claro, Pat – sorriu o ex-grifinório. E Gina viu de novo, naquele sorriso, o adolescente que ela tinha amado um dia, e que nunca havia deixado de amar – Estou muito bem, exceto por uma coisa – disse de modo a confortar a irmã e os demais, que o olhavam preocupados.

“Exceto por uma coisa”, pensaram Gina e Hermione, quase ao mesmo tempo. Ambas olharam a “coisa” no canto da sala, que nesse momento comia calmamente um pedaço de bolo de caldeirão


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