TALVEZ PARA SEMPRE





Harry Potter andava pelas Terras Altas escocesas há cinco dias. Dumbledore lhe disse que havia um caminho. Vários bruxos e trouxas procuraram esse lugar atrás de um poder infinito e inominável. Harry desaparatou do hospital St. Mungus dois dias depois do “Massacre de Hogsmeade”. O seu desaparecimento daquele lugar onde diziam também ser impossível desaparatar entraria para o rol das lendas que no futuro se contariam sobre o “garoto que sobreviveu”. A loucura estava próxima. Os sons, as vozes, os pensamentos, tudo se misturava nos minutos que antecederam sua partida. No primeiro dia, nessa região perdida da Escócia ele havia encontrado aparentemente a paz. No segundo dia começou a ouvir as pessoas do povoado a quilômetros de distância, no terceiro dia os seus pensamentos, no quarto as vozes e os pensamentos se avolumando. Estava perto da insanidade mencionada por Snape.

Hoje, no quinto dia de sua busca pelo “caminho”, só um desejo férreo de não sucumbir à loucura o impelia pela trilha mencionada pelo velho professor Dumbledore. Deveria vagar por essas terras e a entrada para o “conhecimento” iria aparecer. O garoto sentou-se na relva úmida. Uma fina chuva caía desde...Desde quando? O passado e o presente começavam a se misturar. E as vozes e as emoções começavam a chegar em cascata. Em Glasgow, uma garota drogada implorava por uma outra dose a um traficante sádico que ria do seu desespero. Numa aldeia não muito distante um bebê recém-nascido saciava sua fome no seio de sua jovem mãe enquanto uma menina de cinco anos tentava chamar a atenção do pai. Em Cardiff, um casal de amantes adormece exausto após trocar loucas carícias e juras de amor eterno. Em Hogwarts, uma bonita adolescente ruiva chora nos ombros de sua amiga por seu amor que partiu.Em Londres, três bêbados falam das glórias passadas de um time de futebol. Em Manchester, um bruxo cansado implora pela morte aos céus. E ali, nas Terras Altas da Escócia, Harry Potter estende-se na relva fria e grita por silêncio. A insanidade ameaçando, enfim, partir a sua alma.

- Qual conhecimento procura, Harry Potter? – A voz soou claramente no meio da balbúrdia que eram os seus sentidos naquele momento. – Você quer se livrar do “DOM”? Ou quer domá-lo?

- Eu quero apenas a sanidade – disse o garoto com uma voz estranhamente serena – E quero sabedoria.

Harry pensou ter ouvido uma risada. No instante seguinte o mundo silenciou e uma porta em forma de arco cortou a paisagem abrindo-se para fora da estranha moldura que se recortava contra o começo de noite. “Se o seu pedido é tão simples, talvez possamos atendê-lo”, Harry ouviu. Uma mulher de cabelos brancos esvoaçantes em contraste com o rosto muito jovem surgiu no caminho que se projetava além da porta.

- Você é o primeiro em dois mil anos que pede sanidade e sabedoria, jovem. Você terá a ambas. E depois poderá fazer sua escolha. Apenas vejo que há amor demais em você para ser sábio e são. Seja bem vindo, Harry Potter. Talvez você sobreviva para sempre. Talvez você não queira.

Seis meses haviam se passado quando Harry se despediu daqueles que guardavam os “segredos da sabedoria e da sanidade”. A brisa tinha outro som, podia ouvir cada pássaro e cada planta crescendo. Mas podia escolher o que ouvir e quando. Aquela que tinha a forma de uma mulher jovem de cabelos brancos o convidou para ficar para sempre entre eles. O prêmio era a imortalidade. O garoto, como ela havia previsto, estava repleto demais de amor por uma pessoa para aceitar uma imortalidade contemplativa e serena. Aqui fora, apenas três dias haviam se passado. Ele podia aparatar em Londres imediatamente, mas preferiu andar por várias horas. Sentia as pernas mais fortes do que nunca. Deixara para trás a sua varinha e seus óculos. Deixara, como troca pelo conhecimento adquirido uma prova de sua magia e de sua deficiência. Não iria mais precisar de sua varinha, uma vez que sua mágica poderia ser controlada pela força de sua mente. E seus olhos nunca enxergaram tão bem.

- Você deixará sua magia e sua maior fraqueza, mas nós lhe daremos o punhal de Agripa, o último grande feiticeiro que buscou a sanidade e a sabedoria. Com ele você cortará a mentira e rasgará as almas insanas – disseram as vozes que falavam pela mulher de cabelos brancos.

Harry havia aprendido que seu conhecimento relacionava-se principalmente a ouvir e que as respostas apareceriam no momento propício. Apenas guardou o punhal negro que, não obstante, emitia um estranho brilho. Sabia que um dia ele o usaria. Sabia que havia uma longa guerra pela frente e que ao cruzar aquele portão iria ganhá-la. Mas sabia também o que perderia. Parte de sua vida e as pessoas que um dia havia amado.







- Ele se comunicou comigo, Severo – disse a voz bondosa do Professor Dumbledore – Ele está a caminho.

Severo Snape assentiu. Não esperava que aquele garoto arrogante atingisse aquilo pelo qual muitos bruxos poderosos sucumbiram. Se ele tivesse achado o lendário portal, teria agora o poder de um pequeno deus. “Eu escolhi continuar humano e mortal, Professor Snape”.

- Boa noite, amigos – a voz parecia mais grave e mais calma – mas o “garoto que sobreviveu” acabava de aparatar na sede da “Ordem da Fênix” – E desculpe invadir os seus pensamentos, Professor Snape. Isso não se repetirá. Por favor, Senhora Weasley, não chore. Estou aqui para dizer o quanto vocês representaram para mim todos esses anos. Inclusive o senhor, Professor. Snape. Principalmente vocês Weasley e Professor Dumbledore. Estou partindo atrás dos comensais. Vou convencê-los a partir de hoje que esse país não é seguro para eles. Se tudo correr bem, vou convencê-los que não há nenhum lugar seguro no mundo. O que vou fazer não será do agrado nem da aprovação de vocês, mas estou cansado de ver pessoas boas morrerem por mim. Eu já tomei minha decisão. Senhora Weasley, diga ao Roni e a Gina que eu gostaria que tudo fosse diferente.

Inesperadamente Harry Potter caminhou até o velho professor Alvo Dumbledore e o abraçou. Não havia mais nada a ser dito naquele momento. Foi abraçado pela Senhora Weasley, que sempre o havia considerado como um filho. Os demais estavam estáticos. Ninfadora Tonks chorava silenciosamente. Lançou um último olhar para os presentes e desaparatou. Ainda precisava visitar um lugar antes de partir. Talvez para sempre.



Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.