DUAS CONVERSAS



A música era realmente muito boa. O pub, localizado em North London era um pouco mais do que uma espelunca, mas o jazz que aquele grupo tocava era realmente demais. Pouca gente sabia que Draco Malfoy gostava de música trouxa. Toda quinta feira em que não estava de plantão no St. Mungus, ele comparecia no pub apinhado de gente para ver aquele grupo. Pedia uma ou duas cervejas e ficava até o fim da apresentação. Estava se acostumando com as cervejas trouxas, que eram mais amargas e tinham infinitamente mais álcool do que as cervejas amanteigadas que os bruxos tomavam.

- Os caras são muito bons, não é mesmo?

Draco estava para responder que sim, quando percebeu que o dono da voz havia se sentado ao seu lado na mesa. A voz lhe era familiar. O estranho usava uma jaqueta esporte, tinha os cabelos trançados à jamaicana e usava um gorro rastafariano, ainda que fosse branco. E óculos escuros. Mesmo num pub enfumaçado e mal iluminado.

- Anh... , eu conheço você por acaso?

O sujeito riu de uma forma divertida. Quando voltou a falar, Draco percebeu que, embora o seu inglês fosse impecável, ele pronunciava as palavras como se estivesse desabituado a usar o idioma. Aqui e ali era possível perceber que hesitava um pouco antes de empregar alguma sílaba, como se estivesse esquecido da pronúncia correta.

- Costumávamos nos conhecer, meu caro! E gostávamos de nos odiar bastante também. E eu sempre ganhei de você no quadribol, se você me permite lembrar. Talvez eu fosse melhor, talvez eu tivesse mais sorte, é difícil saber.

- Potter! – disse o loiro, assombrado.

- Malfoy... – respondeu Harry Potter de maneira tranqüila – Mas eu gostaria que você não gritasse o meu nome por aí, sabe? Pode gerar um certo tumulto...

- Por Merlin, disseram que você estava morto!

Harry sorriu novamente e acrescentou irônico: - Parece que os boatos sobre minha morte foram um pouco exagerados.

- Sei, Mark Twain...

- Você realmente me surpreende, Malfoy! Curte jazz, reconhece citações de escritores trouxas. Até agora não me mandou para o inferno. E o mais interessante: você está morrendo de curiosidade a respeito do misterioso Harry Potter. E não se preocupe. Eu não pretendo lançar uma maldição imperdoável em você por você ter namorado a Gina.

- Como você... – começou a falar Draco, mas interrompeu-se imediatamente – Claro, o “DOM”... Você pode ler a mente das pessoas. Todo mundo dizia que você o tinha.

- Como dizia seu amado professor Severo Snape: “a mente das pessoas não é um livro que pode ser lido”. Eu posso sentir as emoções e as angústias. Acredite, Malfoy, isso não é divertido.

- Muito bem, Potter, se você não veio, digamos, “acertar as contas”, que bons ventos o trazem? E você está falando um inglês estranho. Você anda fora do país, eu suponho.

- Você é bem observador. Tenho andado por aí, principalmente pela França. Não tenho falado muito o inglês. Eu e minha irmã costumamos falar em francês.

- Irmã?? – surpreendeu-se Draco – Pensei que você fosse filho único!

- Bem, é uma longa história. Foi ela que arrumou o meu cabelo. Gostou? Mas eu procurei você porque preciso de um favor - emendou Harry sem permitir a resposta sobre o penteado.

- Favor? Um favor meu? – surpreendeu-se de novo – O grande Harry Potter pedindo um favor ao malvado Draco Malfoy... Espere até o mundo bruxo saber disso...

- Malfoy – disse Harry depois de um momento em que parecia pela primeira vez muito sério – Eu sei o que você passou depois da morte do seu pai. Acredite você ou não, eu sinto muito. Sinto muito sobre a sua mãe. Nesses últimos anos tenho visto desgraças demais, mortes demais, ódio demais. Eu não estou aqui para retomar aquela inimizade de adolescentes. Sei que você é um sujeito descente, ou pelo menos se esforça um pouco para ser. Hermione e Dumbledore confiaram em você e pra mim isso é suficiente. E eu preciso de um favor, mas você deve se sentir a vontade para recusar, é claro.

Aquilo era muito estranho, pensou Draco. O “santo Potter” dizendo que confiava nele. E esse Potter, versão... (como era mesmo o nome daquele cantor trouxa que vivia fumando aquela erva?) Ah, sim, versão Bob Marley era mais estranho ainda.

- Eu não entendo como poderia prestar algum favor para você. Mas, vejamos, qual o favor?

Harry enfiou a mão no bolso interno da jaqueta e tirou alguns pergaminhos que estavam um tanto amarfanhados. – Eu preciso que você verifique esses exames que eu fiz na França. Lá me disseram que o St. Mungus era o melhor lugar para um possível tratamento. E o seu nome também foi mencionado pela Doutora Lambert.

- Lambert... – refletiu Draco – Edith Lambert? – a mente de Draco voltou por um minuto ao verão passado, quando conseguiu juntar alguns galeões e passar as férias em Paris. A Doutora Lambert trazia ao rapaz memórias lúbricas que envolviam banhos de espumas à tarde, champanhe, lençóis brancos... e ameaças de maldições imperdoáveis e alguns palavrões bem criativos ditos pela enfurecida doutora na melhor pronúncia do idioma de Balzac e Vitor Hugo.

- Ela disse que você é o maior especialista em poções que ela conhece. E mencionou também a “famosa” Doutora Granger - acrescentou Harry com um estranho pesar na voz – Mas... Eu não quero encontrar Hermione, não agora.

- Pensei que ela fosse como uma irmã para você.

- E é, Malfoy, mas eu gostaria de encontrá-la em outras circunstâncias. E então?

- Só mais uma coisa. Edith falou mais alguma coisa sobre mim? Algo como, sei lá, se sentia minha falta?

- Bem...

- Vamos lá, Potter, não tenha medo de ferir meus sentimentos!

- O problema de ter esse “poder” é saber que os sentimentos das pessoas vão ser feridos pela verdade, Malfoy. Ela disse algo como “bastardo nojento”, mas talvez o meu francês não seja muito bom e eu tenha entendido mal.

- Sei... Tudo bem, Potter, eu vou dar uma olhada nisso – falou Draco apontando para os pergaminhos sobre a pequena mesa do pub. Mas minha especialidade são as poções. Ainda acho que você deveria ver a Hermione.

- Apenas faça o possível, OK? Quanto tempo para uma resposta?

- Quinta próxima, mesmo horário.



- Eu não acredito! Harry Potter, versão reggae – brincou Gina Weasley.

-E você não vai acreditar no que ele fez quando se despediu.

-O que? – perguntou Gina, muito interessada.

- O cara me deu um beijo – disse Draco Malfoy com um certo ar enojado.

- O que?- Gina engasgou e derramou cerveja amanteigada nas vestes – Espero que não tenha sido nada muito obsceno - zombou a ruiva.

- Por favor, Senhorita Weasley... Foi um beijo na testa. Muito estranho esse novo Harry Potter...

- Muito tempo na França? – perguntou Gina, ainda com aquele olhar irônico.

- Sério, Gina, parecia saber de tudo sobre todo mundo. Sabia até sobre minha mãe. Sabia inclusive sobre nós!

- Ele... – hesitou Gina – falou algo a meu respeito?

- Na segunda vez que a gente se viu. Não precisa ter o tal “DOM” pra sacar que ele ainda é louco por você.

- Uma garota maluca que diz que é irmã dele me falou algo a respeito a três dias atrás...

- Uma garota negra, de olhos verdes?

- A própria. Você a conheceu? Muito bonita, mas muito estranha...

- Você ficou com ciúmes! – disse Draco, olhando divertido para a ruiva.

- Ora...

- Acho que você não precisa se preocupar. Não com essa menina. A atitude dela é mesmo de irmã.

- Como você sabe? Você nunca teve irmãos, não é mesmo?

- Ela age como você com o Roni ou como a Hermione agia com o Potter em Hogwarts. Sabe como é, proteção, broncas maternas, abraços fraternais. E, depois, a menos que o cara tenha mudado muito, não me parece o tipo que sai por aí seduzindo adolescentes.

- Não, decididamente isso não combina com o Harry que eu conheci um dia – suspirou Gina, lembrando-se do que a “irmã” de Harry havia lhe dito - Mas, há quanto tempo foi esse encontro?

- Há uns três meses atrás.

- Então... – Gina agora parecia muito preocupada – Você sabe o que dizem os exames dele? Ele está doente?

- Doente? – Draco mudou estranhamente de tom, assumindo uma expressão grave – Antes fosse apenas isso. Sinto ser o portador de más notícias, Gina, e desculpe minha falta de sutileza com essas coisas. Mas ele está morrendo. E está cego como um morcego.





NO PRÓXIMO CAPÍTULO, A PROCURA DO “CAMINHO”, MENCIONADO POR DUMBLEDORE!



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Comentários (4)

  • Matheus Slade

    óbvio gente dava pra ver q ele tava cego é só prestar a atenção óculos escuro no frio, e é claro q ele tinha uma boa razão pra ficar tão amável ta morrendo. 

    2012-02-06
  • Dih Potter

    :O... Nossañ acredito? Harry Cego!:( e os olhinhos verdes brilhante?? 

    2012-01-22
  • Bárbara JR.

    Meu moreno de sapinhos verde-esmeralda tá cego? :O

    2011-07-31
  • Clara Ginny Tonks

    Ai não acredito o Harry ficou cego??????

    2011-07-17
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