A Filha da Mãe



Havia um portão negro que balançava com o vento. As cruzes, ao fundo, mostravam que os mortos descansavam sob aquele chão. Ela, sem poder controlar as próprias pernas, adentrava o cemitério.

Uma névoa sombria cobria a tudo, embaçando horrendamente a vista; e ela seguia em frente. Não sabia onde estava, mas parecia estranhamente saber aonde ia. Atravessou diversos túmulos até finalmente alcançar um mais ao fundo.

Nele estava repousado um buquê de flores amarelas. A lápide parecia lustrosa, tentou enxergar o que ela dizia, mas graças a nevoa não conseguiu ver mais do que uma flor gravada em baixo relevo por ali. E então sentiu o chão debaixo de si desaparecer ela começou a cair em um abismo aparentemente infindável, não sem antes ver uma única rosa – não soube se pela escuridão da noite ou por qual outro motivo – negra pousar sobre a mesma lápide.




****




Hermione acordou assustada com o estrondo da porta da enfermaria sendo aberta com certa violência. Abriu rapidamente um pedaço da cortina e puxou a varinha que estava sobre a mesa de cabeceira.

Mas se esperava algo grave, como assistir um Comensal qualquer vindo mata-la, chegou a decepcionar-se ao ver o vulto de alguém, que a princípio parecia Tonks, se aproximar carregando um outro alguém desfalecido.

A enfermeira logo veio socorrer e com um toque de varinha todos os candelabros da enfermaria se acenderam e tudo foi inundado por uma luz quase que cirúrgica.

Hermione viu então a mulher alta, que não era Tonks, depositar o alguém desfalecido em um leito indicado pela enfermeira. Espremeu os olhos para tentar ver quem era, parecia uma garota. Uma garota de longos cabelos louros.

- O que aconteceu, Sra. Tonks?- indagou a enfermeira informando involuntariamente a Hermione quem era aquela mulher.

- A garota parece que não passava bem e desmaiou.- informou a mulher alta, a mãe de Tonks.

- Vamos ver...- ponderou a enfermeira enquanto passava rapidamente pelo leito de Hermione em direção à sua sala.

Voltou um segundo depois trazendo uma porção de frascos de diversos tamanhos. Ao passar pelo leito de Hermione pareceu simplesmente não notar que ela estava acordada. Depositou os frascos sobre a mesa de cabeceira do leito e levantou o rosto do enfermo sobre travesseiros. Era Luna.

- Sabe quem é essa garota.- murmurou Madame Pronfey.

A mãe de Tonks fez que sim com a cabeça. Era, como Hermione já reparara antes, tão alta quanto à própria filha. Tinha também os cabelos curtos, porém estes em cor branca. No mais os traços eram os mesmos da outra, porém envelhecidos.

Trazia o ar de alguém que costumava estar sempre sorrido e que agora se encontrava inexplicavelmente sério.

- É melhor esperar.- disse a Sra. Tonks depois de pensar um pouco.- Sem fazer nada. Vou reunir a Ordem. Ninguém tinha me informado que a filha de Luana Lovegood fizera parte do grupo de heróizinhos.

Hermione fechou a cortina e se recostou nos travesseiros. Ouviu a mulher deixar a enfermaria, agradeceu por não ter sido pega acordada. Lembrava-se do sonho. Lembrava-se de Harry, quando certa vez sonhara com o Sr. Weasley sendo atacado e isto realmente ocorrera. Mais tarde fora explicado que, no meio de uma forte emoção do Lord das Trevas, Harry tivera a visão que ele tinha.

Talvez explicação similar fosse aceitável se dizendo respeito ao sonho que acabara de ter. Porém não parecia algo que acabara de ocorrer, parecia algo passado ou futuro, um fato em tempo difuso, um fato confuso, meio olvido, quase um delírio. Um ritual, repetido por anos. Um delírio, parecia um delírio, deveria ser um delírio.

O fato que, delírio, lembrança ou ritual, confuso ou muito claro, Hermione sabia muito bem a quem pertencia. Sabia ainda que ter acesso aquilo revelava uma ligação, e se ela podia ter espasmos da mente da comensal, significava que o processo contrário também existiria.

E se fosse aquilo mesmo, ou Belatriz tropeçara nas próprias pernas e caíra, ou estava prestes a faze-lo. Mas talvez não o fosse. Não poderia ser algo tão bom assim.

Bom ou ruim, dependeria do tanto e do quanto se pensasse a respeito. A princípio ganhava-se ali um motivo para pânico ou polvorosos. Mas lembrando-se que de uma forma ou de outra, já participava a muito do jogo da comensal, talvez fosse a hora de tirar as cartas escondidas nas mangas, antes de mostrá-las à toda mesa.




****




Gui, Carlinhos e Tonks levantaram as cabeças, assustados, ao ouvirem a porta se abrir estrondosamente. Mas ao contrário do que talvez esperassem, era só a mãe de Tonks.

- Ah! Você voltou.- murmurou Tonks voltando sua atenção para um mapa aberto sobre a mesa.- Estamos aqui especulando sobre pra onde Lestrange pode ter fugido.

Mas a Tonks mãe parecia sequer tê-los visto ali. Caminhou até um armário, ao fundo da sala de Tonks, e o abriu.

- Pensei que tinha uma penseira.- murmurou ela.

- Um aurora que mal tem trinta anos de idade ainda não precisa de uma penseira, mamãe.- murmurou Tonks erguendo o rosto novamente.

- Preciso de uma.- concluiu a Tonks mãe.

Gui, Carlinhos e Tonks se entreolharam.

- Snape costumava ter uma.- disse Tonks ao passo que a outra deixava a sala.




****




Harry saltou da vassoura e largou-se na arquibancada. Cho instantes depois fez o mesmo. O garoto soltou um suspiro, sentia-se cansado.

- Há tempos eu não simplesmente voava.- murmurou ele fitando a garota.

Cho se concentrava em algum ponto perdido em sua frente. Nada disse por algum tempo. Harry sentiu-se confuso por isso, algo em sua cabeça esperava que a qualquer momento ela começasse a chorar e eles se beijassem. Na realidade isso não tardou a acontecer.

- E a velha pergunta: Que momento é esse?- murmurou a garota finalmente.

- Não sei, a que, exatamente, está se referindo?- indagou Harry meio confuso. Porque sempre se saía meio travado com as garotas?

Cho finalmente se virou pra ele, parecia realmente prestes a chorar.

- Sabe, vamos pra casa em breve.- disse ela.- São meus últimos dias aqui. E têm algumas coisas que eu gostaria de dizer.

- Diga.- disse Harry meio sem jeito considerando a possibilidade de sair correndo, para a enfermaria, se ela começasse, efetivamente, a chorar.

- Quando nós acabamos... eu não queria acabar, eu nunca quis.- disse a garota.- Eu só sabia desde o início que eu iria te perder para a Granger. Eu passei, esse último ano, inteiro, me remoendo de inveja dela.

Porque ela tinha que falar em Hermione? Indagou Harry mentalmente.

- E todos os caras desistem das garotas quando Malfoy resolve ficar com elas e você não! Você lutou por ela, e como eu queria estar no lugar dela.- continuou Cho.- E... E agora eu estou indo embora, estou me tornando uma adulta e eu precisava lhe dizer isso antes de nunca mais lhe ver.

Harry a fitou, mudo, por um momento. A garota então, como que decepcionada, levantou-se agora realmente chorando.

- Eu sou uma idiota mesmo em pensar que dizer isso a você mudaria alguma coisa.- choramingou enquanto apanhava sua vassoura e fazia menção de ir para o castelo.

- Espere.- murmurou Harry se levantando e indo até ela, e a beijando.




****




*¹- Aqui está.- murmurou Snape ao tirar as últimas lembranças de sua penseira.

- Obrigada.- murmurou Andrômeda preparando-se para apanhar a grande bacia de pedra, mas Snape a segurou.

- Acha mesmo que pode encontra-la?- indagou ele firmando a bacia sobre a mesa.

- Encontra-la quem?- indagou Andrômeda fazendo mais força para tomar a penseira para si.

- Encontra-la ela.- murmurou Snape crispando a boca.

- Sim.- disse Andrômeda calmamente.- Eu o fiz da última vez, lembra-se?

- Luana McKinnon o fez.- murmurou Snape.- Você nunca foi grandes coisas. Vivia às sombras de suas “seguidoras”, McKinnon e a Evans sangue-ruim.

- Os maridos delas ficariam ofendidos se o vissem chamando-as pelos nomes de solteiro.- murmurou Andrômeda.

Snape deu ombros e soltou, finalmente, a penseira.

- Não custa tentar não é mesmo?- indagou ele enquanto Andrômeda apanhava a bacia.- Ela só não vai acabar levando-a pra cama e escapando antes do amanhecer porque são irmãs. Mas ela é ligeira, vai arrumar outra forma de fuga.

- Não me surpreenderia se você a ajudasse nesse ofício.- murmurou Andrômeda antes de deixar a masmorra.




****




A enfermaria esteve movimentada logo nas primeiras horas daquela manhã de início de verão. Hermione, pela fresta da cortina, assistiu à mãe de Tonks voltar trazendo uma penseira que guardou na sala da enfermeira. Em seguida foram até o leito onde Luna ainda dormia.

- E então?- indagou Andrômeda em tom de voz extremamente moderado.

- Como desconfiávamos.- disse a enfermeira em igual tom.- Como a mãe.

Cerca de duas horas se passaram quando um homem louro com uma enorme barriga marcando suas vestes xadrez de azul marinho, adentrou a enfermaria. Ele e a mãe de Tonks conversaram por algum tempo na sala da enfermeira até que voltaram ao leito de Luna.

A enfermeira conjurou uma maca e transportou a garota para a mesma. Os três conversaram em tom inaudível por alguns minutos até que a enfermeira se retirou.

- Temos um acordo, então.- disse a Sra. Tonks.- Nada deverá ser publicado, nada.

E então os três: o homem, a mãe de Tonks e a Luna desacordada, deixaram a enfermaria. Hermione cuidou de memorizar bem o ocorrido antes de voltar a dormir.




****




- Mamãe?- indagou Tonks ao ver a mulher adentrar a sala como que em outro mundo.- Por onde esteve? Quase não a vi nos últimos tempos.

Snape, que ali estava, também se levantou fitando a outra, aparentemente confuso. Mas Andrômeda simplesmente puxou uma cadeira e se assentou, enquanto gesticulava com as mãos e murmurava baixo.

- Se ela viu a menina isso explica porque simplesmente não os matou. A imagem da única coisa capaz de amolecer seu coração voltou à assombra-la e ela deve ter fugido desorientada. Provavelmente à vassoura ou à cavalo, como costumava fazer quando criança...

- O que foi mamãe?- insistiu Tonks.- O que aconteceu?

- Ela poderia ter desistido no caminho e voltado para vingar-se na menina, mas se o fizesse teria aparecido por aqui à... dois dias depois, sim, seria o suficiente.

- Menina?- indagou Snape.

- De quem está falando, mamãe?

- Mas ela não voltou, o que significa que não quer tanto se vingar, ou o quer fazer bem feito e de forma marcante. Teria então que sumir até poder voltar e vingar a todos de uma só vez. Mas se fugiu à vassoura quer dizer que estava tão fora de si que não pensou que poderia ser vista, assim ela ainda não está em um esconderijo definitivo... Ela deve ter entrado em crise, sim! Ela provavelmente entrou em crise, como da outra vez...

Tonks se assentou e balançou a cabeça negativamente como que indignada.

- Filha da mãe!- murmurou Andrômeda finalmente parecendo se importar com os presentes ali.- Tonks, preciso falar com você, querida.

- Suspeitei desde o princípio*².- murmurou Tonks sem emoção.

- A sós.- completou fitando Snape com pouca simpatia. O professor, dando ombros, deixou a sala.- É um assunto sobre o qual ele não precisa saber.- completou fitando Tonks.- Não confio nele.

- Mas a ordem confia, mamãe.- disse Tonks.- Diga-me, o que foi dessa vez?

- Bela está em Paris.- sussurrou Andrômeda, os olhos brilhando.

- Desculpe, mas passamos a noite especulando sobre isso e Paris é o lugar mais improvável.- disse Tonks sem esconder a decepção.- Ela não voltaria lá, apenas que fosse... Idiota!

- Não é questão de idiotice.- murmurou Andrômeda como se isso fosse óbvio.- Porque não me falaram sobre a filha de Luana? Bela a viu, é óbvio que ela fugiria para Paris, depois disso.

- Fala de Luna?- indagou Tonks.

- Falo da garota que acabo de despachar para casa.- disse Andrômeda.- Sim, a filha do nosso querido Editor do Pasquim.

- Você fez o que?- indagou Tonks achando que ouvira errado.

- Despachei pra casa.- disse Andrômeda.- A garota estava doente.- justificou assim que identificou os sintomas de ira na filha.- Na verdade não necessariamente doente, mas... Sim: doente.

- Por favor, diga-me que Minerva a autorizou a fazer isso.

Andrômeda fitou-a como se aquilo fosse algo extremamente simples.

- Não.- concluiu.

- Ok! Agora vamos ter uma conversa séria.- disse Tonks respirando fundo e arredando sua cadeira pra frente.- A senhor trabalha para o Ministério e não para Hogwarts. Isso significa que não tem a mesma autoridade, a mesma autonomia, que os professores têm aqui.

- Hum, OK.- fez Andrômeda sem alterar sua expressão facial.

- E mesmo que a Sra. fosse uma professora, nenhum aluno entra ou sai dessa escola sem o consentimento do diretor, no caso a Diretora, que é Minerva.- Prosseguiu Tonks.- E isso significa que ou a Sra. vai agora mesmo atrás de Luna Lovegood, seja de vassoura, trem ou lareira, e vai traze-la de volta até o anoitecer do último dia letivo, na hora do último jantar do ano ou teremos uma conversa ainda mais séria aqui.

- Não acha que está exagerando ao ler as entrelinhas do regulamento?- indagou Andrômeda.

- Nem um pouco.- disse Tonks com firmeza enquanto se levantava e caminha até a porta, a qual segurou aberta indicando o corredor como saída.

Andrômeda soltou um suspiro e se levantou.

- O tempo que gastarei para ir busca-la de volta é suficiente para Bela sumir no mundo.- disse.

- Ninguém aqui disse ter aceitado a teoria proposta.- disse Tonks com certa secura.

Andrômeda finalmente mudou a expressão em seu rosto, mas não foi para derrota, ou coisa parecida. Era simplesmente de indiferença.

- Vai poder ir para casa este verão?- indagou quando alcançou a porta.

- Eu não sei.- disse Tonks deixando os ombros caírem. Era difícil ter que ser durona com a própria mãe.

- Preciso que leve a Srta. Granger para casa por mim.- disse Andrômeda tirando um monte de pergaminhos e papeis trouxas do bolso das veste.- Aqui está a papelada.- disse entregando-os para Tonks.- Pode acomoda-la no quarto de hospedes e cuidar para que seu pai não a assuste com alguma recepção estrondosa? Obrigada.- completou antes de deixar a sala e sumir em passos rápidos pelo corredor.

Tonks, confusa, abriu um dos pergaminhos e sentiu-se extremamente confusa ao ler algo como Contrato de tutoria sendo explicado por ali.




****




- Pronto.

- Pronto?- indagou Hermione fitando a enfermeira que acabara de terminar o curativo.

- Está liberada.- disse a enfermeira.

- Já?- indagou Hermione.

- Não esperava passar o verão aqui, ou esperava?- indagou a mulher.- Vocês voltam para casa amanhã.

- Já estou aqui a tanto tempo assim?- indagou Hermione sentindo-se tola.

- Sim. É, eu sei. O tempo parece não passar quando se está enfermo.- disse a enfermeira amavelmente.- Mas ele passa, sim, ele passa.

Hermione se assentou no leito e soltou um suspiro. Madame Pronfey juntava os curativos velhos. Já ia sair quando voltou-se para a garota novamente.

- A propósito. Tem um rapaz lhe esperando lá fora.- disse ela.

Hermione soltou um suspiro e se levantou. A perna já não doía. Agora era ter aquela conversa com Harry, que já a esperava lá fora.

Se trocou, porém, ao alcançar o corredor não foi com Harry que ela topou. Era Draco.

- Noite, Granger.- disse ele meio sério, meio risonho.

- Noite.- respondeu sem conseguir esconder a surpresa.

- Eu sei, você não esperava me encontrar aqui.- disse ele indicando o corredor em frente para que eles fossem andando.- Talvez o Potter, a Weasley, ou a Di-Lua. Mas parece que ambos eles estão ocupados demais para vir entender a sua loucura.

- É, talvez.- murmurou Hermione.

- Potter arrumou uma boa companhia para treinos diários após o jantar. A Di-Lua parece que pirou de vez e foi levada pra casa e a Weasley, bem, ela sempre foi estranha.- disse Draco.

- E você parece ter simplesmente voltado ao normal.- disse Hermione.- Tirando o fato de estar plantado na porta de enfermaria, à essa hora, esperando por uma “sangue-ruim enferma”.

- Bem, eu e Potter não nos falamos direito desde que ele me acertou aquele soco e como não faço a mínima questão da existência dele eu simplesmente o ignoro. Se era isso o que você chamava de anormal, sim, voltamos a um início.- despejou Draco.

Hermione deu ombros.

- E sobre você, bem, há coisas a que não conseguimos simplesmente largar.- disse o rapaz.- E agora que você e o Har... o Potter e você parecem não existir mais, bem, parece que o terreno está livre.

- É, você voltou ao normal.- murmurou Hermione.

- Talvez.- disse Draco.- Sobretudo eu a estou cortejando.

- Hum, e até quando isso durará? Até a hora da sua fuga? Ou até o dia em que a sua tia voltar para me matar?- indagou Hermione.

- Talvez a segunda opção, pois a propósito, eu não vou fugir.- sorriu Draco.- O Professor Snape meio que tomou a minha defesa. Só podem colocar processos sobre mim depois que eu terminar a escola.

- E vai ir pra onde durante o verão?- indagou Hermione.- Alguma colônia de férias? Ou vai ir viajar com o Professor Snape, seu protetor?

- Ficarei com mamãe, em St. Mungus.- disse Draco.- Isto é se eles me aceitarem com uma simpática fênix de estimação por lá.

- Pois é, o que sua mãe tem?- indagou Hermione.- Dizem que pirou.- completou sorrindo.

- Achei que você me responderia o que ela tem.- disse Draco. Estavam descendo as escadas em direção ao Salão principal.

- Ócios do ofício.- disse Hermione.- Não sei o que aconteceu, juro.

Haviam alcançado o Saguão de entrada. A porta se abriu e por ela entraram duas pessoas que pararam ao vê-los. Uma delas era uma garota baixinha que sorriu. A outra era um rapaz de cabelos arrepiados, que trazia sua Firebolt ao ombro.

Harry abriu a boca e a fechou rapidamente. Olhou para Malfoy, para Hermione e então para Cho. Em seguida subiu as escadas do saguão de entrada correndo, sem nada a dizer para ninguém.

- Meus sentimentos, Chang.- disse Draco maliciosamente.- Tinha me esquecido de que o Potter era um idiota infantil.

Hermione olhou de Cho, que tinha uma expressão leviana no rosto, para Draco, o velho Draco Malfoy de sempre.

- É, você definitivamente voltou a ser o de antes.- murmurou antes de subir as escadas atrás de Harry.

Foi alcança-lo no salão comunal, assentado em uma poltrona, com a cara mais ordinária e incompreendida que se pode imaginar. Hermione, hesitante, se assentou na poltrona defronte a ele.

- Você me trocou, de novo, pelo Malfoy.- concluiu o garoto depois de algum silêncio.

- Você voltou pra Cho antes mesmo de saber o que estava se passando comigo.- retrucou Hermione.- E o pior é que não foi capaz de perceber que ela estava de combinação com o Draco.

- Não vire o jogo.- disse Harry em tom irritado.

- Não estou virando o jogo, mas, eu esperava isso dele, não de você.- disse Hermione.

- Você passou todo aquele tempo trancada na enfermaria, sem querer me ver.- disse Harry.- Qualquer um consideraria isso um fim.

- Talvez.- disse Hermione descansando a cabeça no encosto da poltrona e fechando os olhos, como que para reunir forças.

- Se ao menos deixasse um porque.- disse Harry.- Um porém, um talvez, qualquer coisa!

- Talvez eu lhe apresentasse o verdadeiro motivo, mais tarde...

- Que motivo? Draco Malfoy?

- Não seja tolo Harry, eu nunca romperia com você para ficar com ele!- disse Hermione aumentando o tom de voz.- Mas esse tipo de pressuposição sua só me prova que você não teria cabeça para entender os meus reais motivos.

- Como você pode saber se eu entenderia ou não?- indagou Harry.- Você só consegue me subestimar, nada mais!

- Sinto muito Harry Potter.- disse Hermione se levantando.- Porque não procura a Cho Chang para buscar algum consolo? Eu vou cuidar da minha vida.

- Antigamente a sua vida era a minha também.- disse Harry secamente se erguendo também.

- Lord Voldemort já caiu. Você não precisa mais da sua amiguinha Cdf, Harry.- disse Hermione.- Deixe-me seguir a minha vida, por favor, sem você.

E dizendo isso ela subiu as escadas que a levariam à seu dormitório, ao passar pelo do quinto ano, porém, encontrou uma Gina que assistia à tudo. Olhou para Harry, que agora deixava o salão comunal lá em baixo, e então entrou no dormitório vazio de Gina – todos estavam no jantar-, que foi atrás dela.

- Eu sinto muito, por tudo, Gina.- murmurou Hermione antes de abraça-la.

- Quando eu era mais nova, eu daria tudo para ser você.- murmurou Gina, as duas se assentaram na cama da garota.- Mas acho que não suportaria as suas responsabilidades. Luna pediu que eu cuidasse de você.

- Luna! Como ela está?- indagou Hermione.

- Não sei, acho que ninguém sabe!- disse Gina meio indignada.- Escrevi a ela assim que soube que o pai dela a buscou. Acabei por obter uma frase apenas, em resposta: Cuide de Hermione. Nunca pensei que vocês ficariam amigas, de verdade.

- Eu sei.- disse Hermione.- Ela precisa de você, Gina. Ela é igual a mãe, igualzinha! Sem tirar nem pôr.

- Fala da doença, não é?- indagou Gina. Hermione quis dizer que talvez não, mas se segurou.- Ainda bem que a mãe de Tonks estava por lá. Espero que ela esteja bem. Realmente espero. Mas tenho algo pra você. Pediram que eu só a entregasse quando deixasse a enfermaria.

Hermione observou Gina se levantar e apanhar algo em seu criado. Aceitou o pergaminho e o abriu. O que leu a seguir parecia no mínimo estranho.

- O que foi?- indagou Gina fitando.

- É uma carta de meus pais.- disse Hermione.- Pelo que entendi, eles estão me informando que não voltarei pra casa este verão, e talvez nem no próximo. Mas que não devo me preocupar com eles e simplesmente seguir a minha vida?!- resumiu meio incrédula.

- Parece realmente estranho.- disse Gina se assentando novamente.- Que tipo de pais diriam à filha para não voltar pra casa no verão depois de tudo o que você passou?

Hermione dobrou o papel e o guardou no bolso das vestes. Levantou-se.

- Que lhe entregou isso?- perguntou.

- Tonks.- disse Gina.

- Vou procura-la.- disse Hermione indo em direção à porta.

- Se importa...- começou Gina.

Hermione parou e se virou.

- Se importa em pedir notícias precisas de Luna?- indagou a garota ruiva.

- Claro que não.- respondeu Hermione.- Mas porque você mesma não pede?

- Tonks já deve ter se cansado de mim.- sorriu sem jeito.

Hermione, deixando um sorriso de volta, deixou o dormitório e rumou para a sala de Tonks.




****




Hermione adentrou a sala de Tonks receosa, a carta dos pais queimando em suas mãos.

- Ah! Você recebeu alta.- murmurou Tonks ao vê-la.- Supus que viria me procurar em seguida.- completou indicando uma cadeira pra que Hermione se assentasse. A garota o fez e respirou fundo.

- Gina me entregou isso.- disse erguendo a carta.

- Acredite, fiquei tão surpresa quanto você.- disse Tonks depressa.

- Eu...- Hermione engoliu em seco.- Eu só queria entender o que os levaria a fazer isso... Eu sempre soube que era demais pra eles aceitar o fato de... de eu ser uma bruxa. Principalmente depois da minha amizade com o Harry, dos verões com os Weasleys. Mas daí a abrir mão da minha guarda?!- sentiu seus olhos arderem, enchendo-se de água, engoliu o choro que se aproximava.

- Eu realmente não sei que argumentos mamãe utilizou para leva-los a isso.- disse Tonks.- Talvez você devesse escrever a eles.

- É.- fez Hermione se esforçando novamente para engolir o choro.- Notícias de Luna?- indagou.

- Mandei mamãe traze-la de volta.- disse Tonks.- Mas pelo visto ela não me obedeceu, ou já teria voltado.- riu.- É estranho quando somos obrigados a tentar mandar em nossos pais.

- Acha que ela finalmente ficou louca de vez?- indagou Hermione.- É que não pude deixar de ouvir algumas coisas na enfermaria e parecia que ela havia pirado como a mãe costumava fazer.

Tonks sorriu de forma amável.

- Lembro de ter presenciado uma crise da mãe de Luna, quando era nova.- disse Tonks.- Ela não era louca sempre, quer dizer, tinha a mesma aparência excêntrica de Luna, mas não vivia fazendo coisas estúpidas por aí. Eram crises, apenas, que vinham de tempos em tempos. Só sei que ela dormiu por horas depois da crise, creio que era sempre assim, mas no fim ela sempre acordava como se nada tivesse acontecido. Lovegood ficará bem.

- É.- concordou Hermione.

- Talvez eu devesse ter dito isso a Gina.- sorriu Tonks.- Ela parecia aflita e preocupada. Pode transmitir isso a ela se achar necessário para acalma-la.




****




- Ainda não … Acredito … que fez ... isso!- disse Harry que parecia prestes a matar alguém. Cho chorava sem parar.

- Eu sei! Não foi legal!- choramingou a garota.- Mas não havia mais o que fazer.

- Não! Só arruinar qualquer possibilidade de reconciliação entre mim e Hermione.- Despejou Harry cerrando os pulsos.- Escuta: Ficarei extremamente feliz se você nunca mais me procurar. E que você tenha uma boa vida adulta.- completou antes de dar as costas e sumir pelo corredor.




****Continua****




Nota da autora:*¹ Essa cena ficou muito direta, talvez pudesse ter sido mais sutil... Mas quem disse que Severo Snape possuísse alguma sutileza?

*² Nada mais clássico do que Chavez.

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