A lápide dupla



Capítulo 10
“A lápide dupla”


Em uma manhã notoriamente desagradável, onde o mal tempo fazia com que um clima de tensão e temor tomassem o ar, Harry Potter acordava animado com a expectativa que invadira seu corpo desde a última noite: finalmente partiriam para Godric’s Hollow, e começaria a jornada que definiria o destino de Harry Potter e Lord Voldemort. Nem as fortes pancadas de chuva e aquela estranha névoa que a tanto tempo dominava as ruas do país pareciam irritar o menino que sobreviveu. As palavras da profecia feita pela Profª Sibila Trewlaney já não surtiam o mesmo efeito devastador que anteriormente tinham:

“Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês... E o Lorde Negro vai marcá-lo como seu igual mas ele terá um poder desconhecido pelo Lord Negro... E um deve morrer pelas mãos do outro porquanto nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver...”

Harry sabia que embora tais palavras aparentassem que seria travado um duelo mortal ao qual nenhum dos dois sobreviveria, havia uma sutil diferença interpretativa naquela profecia, fato para o qual Dumbledore lhe chamara a atenção, poucos dias antes de morrer, fazendo Harry finalmente entender como encará-la, e como pequenos detalhes faziam toda a diferença do mundo... Ele não tinha mais medo de encarar seu futuro.

– Dia, Harry. – cumprimentou Gui quando Harry apareceu na escada em direção à cozinha.

– Dia, Gui. Dia, Sra. Weasley. – respondeu o garoto.

– Bom dia, querido.

A Sra. Weasley tinha um olhar distante, e era visível que ela estava perturbada. Harry nunca vira a velha senhora cozinhando e limpando sem o auxílio de uma varinha antes. Agora, a varinha jazia pendurada no bolso do avental, enquanto a mulher andava de um lado para o outro, derrubando coisas e sujando armários.

– Está tudo bem, mamãe? Precisa de alguma ajuda?

– Não, Gui, obrigada. Estou apenas um pouco ansiosa, nada demais. E a Fleur, volta quando?

– Acho que em uns três ou quatro dias. Não mais que isso. Caso contrário vou buscá-la pessoalmente. – disse Gui, sorrindo para Harry enquanto beliscava um pedaço de pão-de-ló.

– Onde ela foi, Gui? – perguntou Harry, curioso.

– Para a França. Gabrielle não estava muito bem de saúde, parece que estava delirando durante o sono e coisas assim. Chamava por Fleur o tempo todo. Nada muito grave, parece ser só um forte resfriado.

Harry jurou achar que tinha ouvido um fraco crack enquanto Gui explicava a ausência da noiva, e segundos depois constatou que estava certo: o Sr. Weasley entrava pela porta da cozinha, e provavelmente teria aparatado segundos antes no jardim. Ele parecia preocupado, trazia nas mãos uma cópia do Profeta Diário.

– Arthur! Já não era sem tempo! Pensei que ficaria o dia todo no Ministério, além de passar a noite, mas que coisa... Eles precisam mesmo que você fique indo e voltando o tempo todo? Isso já está me deixando irritada e...

O Sr. Weasley, visivelmente preocupado, estendeu o jornal para a Sra. Weasley, que parou de falar na mesma hora, apanhando o jornal instantâneamente, e levando as mãos ao rosto.

– Mas como é possível?

– Ainda não sabemos. Não há testemunhas, ninguém viu, ninguém morto, absolutamente nada. Um trabalho e tanto, eu diria.

– O que aconteceu, papai? – perguntou Gui, correndo ao lado da mãe para ler a notícia.

A Sra. Weasley abriu os braços para que o filho pudesse ler a notícia, e Harry aproveitou a deixa, correndo para trás de todos e começou a ler a notícia em letras garrafais:

“FUGA MISTERIOSA DE AZKABAN

O Ministério da Magia está totalmente confuso em explicar à comunidade bruxa sobre a fuga misteriosa da noite passada. Por volta de onze e meia, como de costume, todos os portões externos foram fechados, e as luzes apagadas. Uma vez que já não existem dementadores guardando as celas da prisão dos bruxos, aurores treinados cuidam do circuito de celas que chega a comportar mais de mil bruxos das trevas presos em circunstâncias diversas. Os aurores fazem a contagem de presos e a conferência dos feitiços conjurados para proteger as celas todas as noites, e ontem não foi diferente. Tudo parecia normal. Hoje pela manhã, no entanto, algo chamou a atenção de um dos próprios presos de Azkaban, que disparou a gritar de sua cela, chamando a atenção de um dos aurores-chefes que estavam no local, Kingsley Shacklebolt, que falou com exclusividade ao Profeta Diário: `Stanley Shunpike estava gritando de sua cela, e eu não pude deixar de ouvir algumas palavras que me chamaram a atenção, como Comensais da Morte e Dementadores. Quando corri em direção à cela do jovem, o que realmente me chamou a atenção foi a cela ao lado da dele. Estava vazia. Lucio Malfoy havia simplesmente desaparecido, sem marcas de explosão, arrombamento, nada´. O famoso auror ainda disse à repórter do Profeta Diário que acredita que Stanley, antigo cobrador do noitibus andante, esteja dizendo a verdade quando jura ter visto Bellatrix Lestrange encabeçando a força-tarefa que resgatou o comensal da morte mais ilustre do Lord das Trevas. Já o Ministério da Magia nega veementemente a participação de outros comensais no resgate de Lucio Malfoy. O próprio Ministro da Magia, em um breve pronunciamento essa manhã, diz: `Não se pode tomar por verdade a palavra de um dos seguidores do Lord das Trevas. Temos fontes seguras que Stanley Shunpike é um dos braços direitos do Lord Escuro, e por isso não podemos correr o risco de acreditar na palavra de tamanho malfeitor, uma vez que poderia ser uma cilada´. Os problemas do Ministério parecem não ter mais fim, já que um grupo de trouxas presenciou uma missão não divulgada de dois Inominados perto de Londres e...”


– Como é possível Rufus Scrimgeour ter chegado a Ministro da Magia? – berrou Harry, irritado. – Ele não passa de um tapado!

– Calma, Harry, calma... Tudo a seu tempo! – acalmou-o o Sr. Weasley. – Em breve ele vai ver que está cometendo um grande erro mantendo Stan preso.

– É, talvez quando ele for morto em uma nova invasão a Azkaban! Nós temos que fazer alguma coisa, Sr. Weasley! Ele é inocente! Como ele pode dizer que Stan é o braço direito de Voldemort? É tão ridículo! – Harry estava transtornado demais para perceber que o Sr. e a Sra. Weasley e Gui contorceram os rostos ao ouvir o nome de Voldemort.

– Concordo com você, Harry. Até o velhote do Fudge se dava melhor como Ministro... Pode acreditar, tenho certeza que ele não vai durar muito tempo no cargo. – salientou Gui.

– Mas o problema maior não é esse. Lucio esta a solta novamente. E isso pode ser um trunfo para você-sabe-quem. – disse a Sra. Weasley.

– Algo está errado.

– Como assim, Harry? – perguntou o Sr. Weasley.

– Tenho certeza que Vol... você-sabe-quem ainda está com ódio de Lucio Malfoy por causa daquela noite no Ministério. Ele não faz o tipo que esquece as coisas facilmente.

– Talvez você esteja certo, Harry... Preciso informar Remo e Alastor sobre isso. Sinto que a Ordem terá problemas em breve. Quando vocês pretendem partir, Harry? – perguntou o Sr. Weasley.

A pergunta do marido pareceu não ser nenhum pouco bem vinda, pois a Sra. Weasley pareceu olhar duramente para ele quando este questionou Harry.

– Bem... creio que daqui a pouco, Sr. Weasley. É só o tempo de Rony, Hermione e Gina acordarem!

– Gina? – perguntou ele.

Gui levantou-se e subiu as escadas apressadamente. Harry achou que ele estivesse correndo do pai, ou então só queria deixá-los conversar com privacidade mesmo.

– Gina irá com vocês? – perguntou o Sr. Weasley novamente, olhando intrigado para Harry.

– Acho que... bem, eu não tenho certeza se...

– É claro que vou! – disse Gina apressada enquanto descia as escadas com Gui em seu encalço.

Após um sorriso de Gui, Harry entendeu o porque da pressa do rapaz em subir correndo as escadas daquela forma. Estava buscando ajuda para o amigo.

– E por favor, papai, não me impeça de deixar o homem da minha vida no momento em que ele mais precisa de mim... – Gina agora estava abraçada a Harry, que por sua vez estava imóvel, paralisado, com medo de qual seria a reação do Sr. Weasley.

Por um instante o homem só os olhou, mas de repente, abriu um pequeno sorriso, e abraçou ao casal, e Harry achava que não tinha ganhado muitos abraços do Sr. Weasley, talvez aquele fosse até o primeiro.

– Vocês tem a minha bênção. – disse ele, olhando para os dois. – Só espero que saibam se cuidar, e não abusem da minha confiança, certo mocinha?

– Te amo papai! – Gina agora tinha uma lágrima escorrendo do rosto enquanto pulava no pescoço do pai. Harry sentia o monstro em seu estomago rugir furiosamente: havia vencido mais uma batalha.

– Bem, tratem de mandar notícias sempre que possível, e cuidem-se. O que quer que precisarem, qualquer coisa mesmo, Harry, conte comigo e com o que eu puder arranjar no Ministério. Preciso mesmo voltar para o trabalho.

Despedindo-se da filha caçula com um beijo e um longo abraço, e um forte aperto de mão em Harry, o Sr. Weasley saiu pela porta de entrada na cozinha da Toca, deixando uma Gina aos prantos para trás.

– Tudo bem se você quiser ficar, Gina. Eu vou entender. – disse Harry, abraçando a namorada.

– Não seja estúpido, Harry. Eu vou com você. Só senti uma dor enorme no peito, só isso.

Harry não queria dizer, mas sentira a mesma dor. Talvez pelo clima que rondava à espreita de todos, talvez pela dura missão que enfrentariam, mas a verdade é que Harry sentia, e sabia que Gina também, que talvez fosse aquela a última vez em que veriam o Sr. Weasley. Afinal, era uma guerra, e eles estavam partindo para a linha de frente da batalha.

– Se vocês vão viajar, é bom que vão de barriga cheia. Vamos, sentem-se, tomem o café da manhã de vocês tranquilamente, e sem se preocupar com nada, por favor. – disse a Sra. Weasley, limpando do rosto as lágrimas que escorriam.

Uma hora mais tarde, todos já tinham tomado café e estavam mais que prontos para partir, inclusive Hermione e Rony, que embora tivessem acordado primeiro que Harry e Gina, demoraram um pouco mais para descer para o café, por razões desconhecidas.

– Então é isso... – disse Rony à sua mãe, que já não conseguia mais se controlar.

– Meu filho!!! Por favor, tomem cuidado... e... cuidem... um do outro... – a Sra. Weasley soluçava.

– Está tudo bem, mamãe, prometo que volto inteiro. Não é um “adeus”, ta? Vamos voltar em breve.

– Eu sei, querido, eu sei... – dizia ela, se consolando no ombro de Carlinhos, que parecia achar graça na situação.

– Eles sabem se cuidar, mamãe. Esqueceu que Hermione vai com eles? Eles estarão mais seguros do que conosco... – brincou Gui, que abraçava a irmãzinha.

Um forte barulho veio da lareira da Sra. Weasley, e no segundo seguinte Fred e Jorge apareceram com botas de couro de dragão e capas de viagem lindíssimas.

– Uau, quase perdemos a grande despedida, Jorge? – brincou Fred, limpando as cinzas das vestes antes de ganhar um apertado abraço da mãe.

– Seria horrível não ver vocês uma última vez, agora que vocês estão caminhando para a morte certa... – sorriu Jorge, levando um bofetão da mãe antes desta lhe dar um beijo na bochecha.

– Antes tarde que mais tarde, hein seus desastrados? – brincou Gui, abraçando os gêmeos. – Pensei que não tivessem pego minha coruja!

– Pegamos sim, mano, mas é que os negócios vão tão bem que é difícil pra gente largar a loja por um segundo que seja... Mas não podíamos deixar de vir, claro! Trouxemos algumas coisinhas pra vocês, pode ser útil. – disse Jorge, erguendo uma pequena mala para Harry.

– Orelhas extensíveis, pó-de-chifre-de-unicórnio, balas incha-língua, coisinhas básicas.

– Caramba! – exclamou Rony. – Não teremos de pagar dessa vez?

– Não... mas da próxima você vai pagar em dobro, sarnento! – brincou Fred, dando um leve cascudo no irmão, abraçando-o em seguida.

– É, e se ele arrumar confusão, pode usar isso nele Hermione. – disse Jorge, estendendo uma pequena caixinha para Hermione.

– O que é isso? – perguntou a garota, intrigada.

– Isso é um paralisante muito eficaz. Nós o chamamos de “gemeoslisante”. Eu diria que é mais forte que um Petrificus Totalus, mas você não acreditaria, não é mesmo? Vou deixar você fazer a prova então... Em caso do seu namorado querer sair da linha, sabe? Talvez seja difícil mantê-lo a rédeas curtas... – Todos sorriram, incluindo Rony.

– Obrigado por vocês terem vindo. – disse Gina, chorando. – Significa muito para a gente, não é Harry?

– Claro que sim! Mas não é uma despedida. Pelo menos eu espero que não seja...

– Não será, Harry. Tenho certeza que nos veremos muito em breve. – disse Gui, abraçando-o.

Assim, com o coração feliz e ao mesmo tempo partido, Harry observou a família Weasley toda se despedindo e se emocionando, e não pôde deixar de sentir uma pontinha de ciúmes por não ter uma família só sua de quem se despedir.

– Eles são uma família e tanto, não é? – perguntou Hermione.

– E como são... Espero poder ter uma família assim um dia!

– Você terá Harry. Na verdade, acho que você já faz parte dessa aí... – disse Hermione, sorrindo para o amigo.

Harry sorriu de volta, agradecendo pelas palavras de Hermione. Saíram então todos para o jardim da Toca, de onde aparatariam até a estação de trem de Londres, de onde pegariam o trem que ia em direção a Godric’s Hollow.

– Bem, nós enviamos uma coruja ao Percy, mas acho que foi em vão, não é Carlinhos? – disse Gui.

– Já esperava que ele não viria mesmo... Uma hora dessas eu vou perder a cabeça e vou até o ministério ver se acordo aquele idiota! – exasperou-se Carlinhos.

– Se tiverem a chance, dêem um soco no nariz dele por mim. – disse Rony.

Todos riram, e então se abraçaram mais uma vez, já partindo em direção ao jardim da Toca.

– Até breve! – disse Harry, se afastando da entrada da casa.

– Até logo Sra. Weasley! Mandaremos notícias sempre que possível, ok? – disse Hermione.

– Assim espero... Não nos deixem aqui mortos de preocupação e sem notícias, por favor!

– Pode confiar, mamãe. Nós escreveremos. – disse Gina.

Hermione, Rony, Gina e Harry tomaram o rumo que levava para fora do jardim da Toca, em frente a uma árvore de no mínimo três metros de altura, cuja sombra os protegeria da forte chuva enquanto se preparavam para aparatar para Londres. Acenaram uma última vez para a família Weasley, que os olhavam agora de longe, não querendo os perder nenhum segundo de vista.

– Bom, então é isso. Prontos? – comandou Harry.

Todos concordaram, e então Harry voltou a falar.

– Se algum de vocês quiser ficar, realmente, não haverá problema algum. Esse é o momento.

– Corta essa, Harry! Já ta enchendo o saco... – disse Rony, dando um peteleco na cabeça do amigo, e sorrindo para ele. – Já disse que irei com você pra qualquer lugar. E duvido que elas também não irão... – apontou para Hermione e Gina.

– Pode apostar! – disseram as duas, em uníssono.

Sorrindo de felicidade, Harry então abraçou os amigos em um abraço conjunto, agradecendo de coração por serem tão companheiros.

– Então vamos lá, é chegada a hora. Rony, Hermione, concentrem-se na estação de Londres. Aquele beco antes da entrada deve ser ideal para aparatarmos. Gina, comigo.

A garota obedeceu, segurando o braço do namorado. Concentrando-se nos três D’s (destino, determinação e deliberação), segundos depois os quatro já haviam desaparatado. Primeiro Harry e Gina, seguidos por Hermione e Rony.

De longe, da porta da Toca, a Sra. Weasley observava a enorme árvore e sua sublime sombra, que antes cobria suas “crias” da chuva, agora vazia. Embora Carlinhos, Gui, Fred e Jorge já tivessem entrado, a Sra. Weasley sentou-se em uma das cadeiras que haviam ao lado de onde estava, e ali ficou, durante horas, até o anoitecer, quando o Sr. Weasley chegou, abraçou-a e a levou para dentro, enxugando suas lágrimas que já escorriam sem força pelo rosto molhado de chuva e castigado pela dor.


***


– Harry, Harry?

Harry acordou com o pescoço doendo, já que estava praticamente pendurado na poltrona do trem, que aparentemente havia parado. Gina, que também despertara, agora levantava a cabeça de seu ombro.

– Que foi Mione? – perguntou Gina, acordando assustada.

– Chegamos, bela adormecida. Vejam!

Hermione apontou para uma pequena placa velha de madeira que mal podia ser vista do outro lado da janela, já que a chuva continuava incessante.

“Godric’s Hollow”

– Ótimo. Agora só temos que tomar toda essa chuva, e sair em direção a não-se-sabe-onde e achar quatro vocês-sabem-o-quê do você-sabe-quem pra depois tentar matá-lo? Moleza...

– Obrigado Rony! Foi uma injeção de ânimo e tanto... – disse Harry, olhando feio para o amigo.

– Só estou sendo realista! – respondeu ele, rindo.

– Você está sendo idiota, Ronald. – disse Gina, que não sorria para o irmão.

Hermione apenas o encarou por um instante, e sem dizer nada, este entendeu que ela também não gostara da brincadeira.

– Tudo bem, vamos andando então. – disse Harry.

A primeira impressão que tiveram de Godric’s Hollow realmente não foi das melhores. Por estar situada no alto do vilarejo, a estação de trem dava uma boa perspectiva geral do lugar: pequenas casinhas estilo medieval se estendiam ao longo de ruas e mais ruas estreitas que lembravam a Harry a rua dos Alfeneiros. A iluminação era escassa, e as condições do tempo adicionadas à escuridão da noite que ali parecia ser ainda mais intensa não ajudavam, mas Harry pode ver com certeza que o lugar não era grande. Tirou o mapa que Lupin lhe mandara por coruja dois meses atrás e começou a identificar os pequenos pontinhos que o antigo professor destacara no mapa.

– Estamos aqui, vejam! – Harry apontou para um pequeno triângulo que indicava a estação de trem de Godric’s Hollow. – Segundo Lupin, a casa de meus pais é exatamente do outro lado do vilarejo! Não é ótimo? Vamos ter que atravessar tudo isso na chuva, e nessa escuridão!

– Excelente... – bufou Rony.

– Será que já está na hora de usar o gemeoslisante, Harry? – brincou Hermione, arrancando uma boa gargalhada de todos.

– Vai pensando que você vai usar esse troço em mim, vai! – respondeu Rony, abraçando a namorada e partindo atrás de Harry e Gina, que iam à frente, em direção à saída da estação.

O mais estranho daquele lugar era que desde que haviam chegado não haviam topado com nenhuma alma viva. Tudo era escuridão, e as casinhas, que Rony disse serem todas iguais e impossível de se distinguir umas das outras, estavam totalmente apagadas.

– O que você acha que é aquilo, Harry? – perguntou Gina, apontando para o outro extremo do vilarejo, onde uma enorme cruz de madeira era visível por entre as ruas finas.

– Talvez seja uma... igreja? – respondeu Hermione. – Que estranho!

– O que é tão estranho, Mione? – perguntou Harry, sem entender o olhar de espanto da amiga.

– Bem Harry, isso é um povoado totalmente bruxo, não é?

– Lupin disse que sim. Mas o que isso tem a ver?

– Bem, Harry, você já deve ter percebido que bruxos não costumam ir à igreja, não é mesmo?

Harry nunca parara para pensar naquilo, mas agora que Hermione comentava, ele realmente nunca tivera ouvido falar de nenhum bruxo que freqüentasse igrejas.

– E por que isso? – perguntou, curioso.

– Bem, é simples. – começou Hermione, com seu ar de professora. – Durante a época da Inquisição Católica, na Idade Média, bruxos e bruxas eram caçados e queimados vivos nas chamadas “fogueiras santas”. Obviamente nenhum deles foi realmente “morto” nessas fogueiras. Eles conjuravam feitiços poderosos que os mantinham ilesos, sentindo nada mais que cócegas em meio ao fogo...

– Dumbledore já havia me contado algo sobre isso... – disse Harry.

– Fazendo isso, os bruxos deixavam os trouxas acreditarem que realmente estavam os eliminando de seu convívio, começando assim o grande feito de manter toda a comunidade bruxa em segredo, o que nos é muito conveniente nos dias de hoje.

– Ta, mais o que é que tudo isso tem a ver com bruxos não irem à igreja?

– Por favor, né Harry! Você freqüentaria um lugar onde as pessoas tentassem queimá-lo vivo?

– É... acho que não mesmo!

– Desde então a comunidade bruxa cortou relações com os representantes eclesiásticos da igreja, e com a própria igreja em si, assim, desenvolvendo nossas próprias crenças e tradições religiosas. E é por isso que é tão estranho uma igreja dessas num povoado bruxo...

Harry orgulhava-se internamente da inteligência da amiga, mas estava com a cabeça cheia de informações, e tudo fazia muito sentido agora que ela explicara.

– Bom, ela fica no nosso caminho, podemos dar uma olhada por lá.

– Posso dar uma olhada no mapa, Harry? – pediu Gina.

– Claro, toma.

– Ela não fica no caminho do nosso destino, Harry.

– Como não, olha direito Gina, está perto do "X" que representa a casa dos meus pais! Bem do ladinho, olha aí...

– Harry... A Igreja é o nosso destino! O "X" está sobre a igreja, não do lado.

Harry observou com mais cuidado, e viu que sua namorada estava certa. O grande “X” desenhado por Lupin no mapa indicava mesmo a igreja de Godric’s Hollow. Mas que loucura seria aquela?

– Meus pais moraram numa igreja?

– Não sei Harry, papai e mamãe nunca disseram nada sobre isso... Muito estranho mesmo... – disse Rony.

– Bem, só há uma maneira de descobrir, não é? – sorriu Harry.

A excitação que tomava conta de Harry Potter crescia a cada passo que eles davam. Os guarda-chuvas conjurados por Hermione eram demasiado grandes para comportar vinte pessoas, por isso, todos estavam secos e não se importavam de caminhar na chuva e terem de gritar um pouco, de vez em quando, para conseguirem ouvir uns aos outros, já que o barulho dos trovões era ensurdecedor.

Em meio às sensações de frio, excitação e curiosidade, uma nova onda de sentimentos invadiu o corpo de Harry, deixando-o pasmo. Sentia que estava sendo observado. A cada rua que atravessavam, conversando e imaginando o que haveria na tal igreja, Harry olhava constantemente para trás, observando o caminho que já haviam percorrido, como se esperasse que alguma coisa pulasse em suas costas.

– O que você tanto olha, Harry? – perguntou Hermione.

– Não sei, tenho uma estranha sensação...

– Que sensação, cara? – perguntou Rony, começando a se apavorar.

– Não sei, acho que é bobeira minha. Vamos em frente!

Harry continuou andando, mesmo em meio a protestos de seus três companheiros, que queriam saber o que o amigo estava sentindo. Harry fingiu não ser nada demais, mas a sensação estava se tornando quase insuportável, e foi então que Harry teve uma idéia. Abriu a mochila e começou a revirar todos os seus pertences, procurando por algo em específico.

O mini espelho de inimigos que Harry ganhara de Hermione não foi difícil de encontrar. Estava embrulhado em um pequeno lenço que o protegia. Harry tirou-o da mochila e o observava com atenção, sem no entanto conseguir identificar fisionomia nenhuma nele. Apenas fumaça e vultos sem definição clara. Algo era um estranhamente intrigante, no entanto. Uma das inscrições estranhas que haviam ao redor do espelho brilhava em um tom de prata, diferente das outras, que continuavam mortas.

– Hermione?

– Sim?

– Por que esse símbolo está brilhando?

– Que símbolo?

– Se você olhar talvez você veja, Hermione!

Harry mostrou o espelho de inimigos para Hermione, que ficou intrigada ao ver uma das runas brilhando intensamente daquela forma. Talvez fosse o efeito da chuva caindo, ou o breu que dominava o lugar, mas o brilho dos símbolos do espelho nas mãos de Harry era fantasmagórico.

– Quando isso começou a brilhar, Harry?

– Não sei, eu acabei de tirar o espelho da mala... O que significa?

– São runas antigas...

– Mas o que significam?

Hermione não respondeu, mas a atitude da garota preocupou Harry ainda mais do que já estava preocupado. A garota começou a olhar violentamente para todas as direções, como se procurasse por alguém ou alguma coisa. Harry fazia o mesmo.

– Será que dá pra vocês dizerem o que diabos está acontecendo? – exasperou-se Gina.

– O que significa isso, Hermione? – perguntou Rony, que parecia não entender nada.

– Esse símbolo indica a presença de alguém...

– Um inimigo, Mione? – perguntou Harry, que agora aproximara-se da garota para sussurrar.

– Não necessariamente... Se fosse um inimigo, apareceria no próprio espelho. Essa inscrição pode representar duas coisas. A primeira é a instabilidade psicológica.

– Traduzindo?

– A variação de humor da pessoa, que pode ser ora boa, ora ruim...

– E a segunda? – perguntou Gina.

– Representa... a invisibilidade...

– Então quer dizer que pode haver alguém em qualquer lugar, até mesmo bem aqui do nosso lado, que esteja invisível? – perguntou Rony, abobado.

– Exatamente! – Hermione voltara a observar todas as direções, procurando enxergar algo.

Harry estava sozinho, de costas para os amigos, observando um ponto distante rua acima. Ele certamente ouvira o que fora dito por Hermione, mas não parecia se importar com o que ouvia. De alguma forma, sentia como se algo lhe dissesse para não se preocupar. Como se uma força o impulsionasse a seguir adiante.

– Vamos em frente. – comandou Harry.

– Mas Harry, você entendeu o que eu disse? – perguntou Hermione, espantada com a calma do garoto.

– Sim, Mione. Mas sinto que devemos ir em frente. As respostas virão na hora certa.

Gina foi a primeira a começar a andar e seguir o namorado. Rony e Hermione ainda se entreolharam, tentando entender o por quê da decisão do amigo, mas preferiram não discutir. O grupo continuou andando rua acima, agora, no entanto, todos preocupados com o suposto “homem invisível”. Ou melhor, quase todos. Harry praticamente corria rua acima. Estavam se aproximando agora da última rua do povoado, a rua que levava diretamente à igreja, ao "X" do mapa de Lupin.

Algo chamou a atenção de Harry, no entanto. Seu coração disparou ao ver o que viu. Um longo portão de barras de ferro percorria a rua, indo terminar na lateral esplendorosa da mini catedral do fim da rua. O olhar de Harry, que até então não desgrudava da igreja, perdeu-se na longa imensidão de um campo verdejante castigado pela chuva. Pequenas lápides de pedra estavam fincadas em fileiras que não terminavam aos olhos de Harry.

Rony, Hermione e Gina pararam diante da visão do cemitério, a chuva caindo ainda mais forte, o vento uivando ferozmente. Uma rajada de vento levou das mãos de Harry o guarda-chuva que este segurava. Mas Harry parecia paralisado, não se importava se estava se molhando ou não. Ele percorreu a extremidade externa do portão de ferro, até atingir o arco de entrada para o cemitério. Rony fez menção de acompanhar o amigo, mas foi impedido por dois pares de mãos, um de Hermione e um de Gina.

A visão do cemitério de Godric’s Hollow era ainda mais deprimente. Os sepulcros estavam todos mal cuidados, com a grama alta, flores e vasos há muito tempo deixados já haviam apodrecido, e o odor era dos piores. O coração de Harry se partiu ao pensar como estaria o túmulo dos pais, já que ele mesmo nunca o tivera visitado antes.

Procurar o túmulo de seus pais seria uma dura tarefa, já que haviam tantos nomes, e tão pouca luz. Harry tirou a varinha do bolso.

Lumos. – sussurrou Harry.

A luz da varinha de Harry iluminava nomes desconhecidos, de pessoas desconhecidas. O coração de Harry disparou quando seu cérebro processou a possibilidade de ele jamais encontrar o túmulo dos pais. A chuva já o havia molhado por inteiro, e o vento zumbia em seus ouvidos como se debochasse dele. Harry já começara a se desesperar por não achar o que procurava.

– Papai, mamãe... Por favor, me ajudem... Onde vocês estão? – sussurrava ele.

Molhado, com frio e cansado, Harry parou e olhou panoramicamente para o cemitério escuro e descuidado. Uma árvore lhe chamou a atenção de um lado afastado de onde o garoto estava. De tudo que havia lá, aquela árvore era certamente a mais bela e a mais bem conservada do local. Harry pensou em se esconder um pouco da chuva, recuperar a calma e voltar a procurar, partindo em direção da enorme árvore. Ao chegar embaixo da cúpula do enorme Salgueiro, sentiu-se vivo novamente por esconder-se, por segundos que fosse, daquela chuva torrencial. Mas algo além da sombra da árvore chamou-lhe a atenção. Um túmulo de mármore branco, cercado por um dos jardins mais lindos que ele já vira na vida, e que certamente deixariam Tia Petúnia invejada.

Com o coração disparado, ele passou por cima da pequena cerca de madeira, da altura de um tijolo, e foi em direção ao cume da lápide. Viu então que não era uma, mas duas. Duas peças de mármore branco e polido, com letras douradas garrafais, que brilhavam aos olhos e à luz da varinha do garoto. Entre orquídeas, jasmins e rosas de formas que ele jamais vira antes, subia do chão a dupla lápide branca e em formato estranhamente entrelaçado, que praticamente iluminava o chão. As pernas de Harry tremeram, e ele não se conteve em pé ao ler o que havia escrito em um dourado majestoso na lápide de mármore:

Thiago Potter: honra ao eterno amigo fiel, marido e pai, de cuja coragem não se absteve nem no momento em que a morte lhe sorriu ferozmente...”

Lílian Potter: lembrança eterna à mulher valorosa e mãe inigualável; os olhos da família Potter, àquela que renunciou à vida para que o fruto de seu ventre prevalecesse ao triste fardo que lhe sobreveio...”


Embaixo das palavras, exatamente no ponto de junção da lápide dupla, havia uma foto encrustada magicamente na pedra. Uma foto que Harry reconheceu imediatamente: aquela que ganhara de Hagrid no final do primeiro ano, onde Thiago e Lilian seguravam um Harry ainda bebê, orgulhosos e felizes. Harry não podia imaginar quem tivera escrito aquelas palavras, mas nunca tivera lido algo como aquilo, capaz de penetrar seu coração e chegar no íntimo de sua alma. Podia até sentir uma mão tocar-lhe o ombro.

– Queria poder dizer que fui eu quem escreveu essas lindas palavras.

Harry assustou-se ao ouvir aquela voz. Virou-se rapidamente, e a primeira visão fez o garoto cair de costas, assombrado.

– Sirius? – assustou-se Harry.

O homem suspirou por um instante, abaixando a cabeça. Abaixou-se então, até ficar de frente a Harry.

– Não sou tão digno assim, Harry...

O coração de Harry voltara ao lugar, embora ainda batesse muito mais acelerado que o normal. Não era Sirius, mas muito lembrava ao falecido padrinho.

– Não sou tão bom com palavras, mas sei cuidar bem de jardins... Espero que tenha gostado. Seus pais mereciam muito mais que isso.

O homem estendeu a mão para que Harry pudesse se levantar, e ele, confuso e receoso, aceitou a oferta. Pondo-se de pé, Harry encarou-o, cheio de lágrimas no rosto, com o cérebro desesperado por respostas.

– Desculpe minha má educação... É um prazer conhecê-lo, Harry Potter! Sou Regulus Alphard Black.


_____________________________________________________________________________________




_____________________________________________________________________________________

Olá!

Conforme prometido, aí está o novíssimo capítulo (e ainda essa semana, ahn? rs...). Primeiramente, quero agradecer por todos que comentaram desde a semana passada... Esses últimos comentários têm sido especialmente especiais para mim! O carinho foi enorme, e isso me deu um incentivo que vocês jamais fariam idéia! Estava realmente precisando desse ânimo extra. Espero que tenham curtido mais esse capítulo, pois o fiz com o MAIOR carinho do mundo, e a FIC vai começar a esquentar, podem apostar... Não me abandonem, ok? Aguentem firme, continuem acompanhando, e clarooooooooo: comentando e votando! Fiquem a vontade para enviar dúvidas, palpites e críticas, ok ?

Um abraço;
Israel G3

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.