O Sonho



Capítulo 7
“O Sonho”



Os dias que se passaram foram extremamente agradáveis na Toca, e nem as discussões momentâneas entre a Sra. Weasley e Fleur conseguiam tirar os sorrisos dos convidados, e principalmente de quatro em especial: Harry, Gina, Hermione e Rony. Talvez pelo fato de agora os dois casais não se desgrudarem de seus parceiros (a não ser para dormir, claro), ou talvez pela grande excitação que ainda pairava pela casa, fruto do ato heróico de Harry ao resgatar Gina, mas a verdade é que todos estavam extremamente satisfeitos. Quase todos.

– Non vejo rrrrrazão parrrrrrrrra adiarrrrrrrrr nosso casamento, querrrrrrido! Já eston todos ton bem e salvos! – dizia Fleur, sem se cansar de repetir a afirmação a todo momento.

– Papai, Moody e Lupin acham que não seja uma boa idéia, meu amor! Talvez os Comensais da Morte estejam apenas esperando por uma oportunidade para atacar-nos novamente. Acho realmente sensato esperarmos mais um pouco... Mas não se preocupe, prometo que não vou ser envenenado na próxima cerimônia, ok? – Gui agora abraçava docemente a noiva, que embora parecesse desgostosa, concordava sem muita empolgação.

Era chegado o mês de setembro, após um maravilhoso Agosto que se estendeu doce e suavemente, mesmo embora o clima continuasse horripilantemente estranho do lado de fora da casa. Mas não haviam muitas pessoas se importando com isso dentro da Toca. Harry e Gina, agora abençoados pelos pais da garota, que não sabiam como esconder tamanho orgulho pelo namoro de sua filha caçula com Harry, eram feito unha e carne. Conversavam, se abraçavam, se beijavam quando tinham a chance, caminhavam pelo jardim da Toca, azarando um duende e outro de vez em quando, e até mesmo tinham tempo para ouvir os deliciosos elogios da Sra. Weasley.

– Mas isso é tão maravilhoso, Gina querida! Tenho certeza que não haveria pessoa melhor pra você namorar! Um garoto com tanta fibra, tanta coragem, determinação! E é um cavalheiro também, não é Harry?

Embora risse e concordasse, Harry não podia deixar de ficar vermelho com tantos elogios. Não era que já não estivesse acostumado com elogios, ou a recente fama de “O Escolhido”, mas agora a Sra. Weasley não era apenas uma amiga ou uma segunda mãe para o garoto: era também sua sogra.

– Obrigado Sra. Weasley! Fico contente que a senhora esteja de acordo com nosso relacionamento!

Mais era muito mais que isso. A Sra. Weasley parecia flutuar nas nuvens com sapatilhas de algodão. Rony e Hermione também eram namorados, e seu relacionamento também havia se tornado “público”.

– É muita felicidade para uma pessoa só, não é Arthur! Gina e Harry, um casal tão perfeito! Diria que é um dos mais perfeitos, mas ainda temos nosso Rony com a Hermione! É difícil de saber qual dos dois casais é mais perfeito! Ah, Hermione, fico tão feliz com você na família agora! Você bem que poderia ensinar algumas coisinhas pro Roniquinho de vez em quando, não é mesmo?

– Mas é claro, Sra. Weasley! Pode ficar despreocupada, vou colocar esse rapazinho nos eixos! – brincava Hermione, que não cabia em si de tanta felicidade.

Rony parecia estranhamente envergonhado. Não se sabia ao certo se era por causa dos constantes abraços de Hermione, ou talvez os comentários amorosos da mãe. O fato era que o garoto parecia se estufar feito um pavão toda vez que estava de mãos dadas com a namorada, o que divertia a todos.

– Cuidado para não explodir, viu cara? Qualquer hora pode voar pedacinhos de “Roniquinho” para todos os lados se você não parar de bancar o fortão! – Harry brincava com o amigo, que lhe retribuía com um gesto pouco amistoso, mas sorria em seguida.

Foi difícil durante todo o tempo em que passaram juntos na Toca pensar que havia uma guerra do lado de fora da casa. Mas havia alguém que não se esquecia. E foi quando Harry tocou no assunto, em uma das tardes em que os dois casais passavam juntos, abraçados e felizes, que tudo pareceu voltar à triste realidade.

– Sabe, acho que já é hora... – começou Harry timidamente.

– Hora do que, Harry? – questionou Gina.

Hermione apenas observava o amigo. Sabia do que ele falava. E Rony também.

– Bem, Gina... Você sabe... Tudo que te contei, sobre os Horcruxes, Voldemort... Acho que está na hora de partir!

Gina, que parecia temer que essa fosse a resposta do namorado, fechou os olhos, e deu um longo e profundo suspiro.

– É, sabia que nossa paz não poderia durar pra sempre, não é mesmo? – disse Gina, levantando-se.

– Pelo menos estaremos juntos, Gina... Enfrentaremos qualquer coisa que vier juntos. Lembra?

– Claro que me lembro! – disse ela sonhadoramente, dando um beijo em Harry e entrando na Toca.

– Não acho que ela esteja muito animada, Harry. Talvez ela queira ficar. – disse Rony

– Ficar? E deixar o namorado para trás? Rony, realmente preciso te ensinar muitas coisas ainda... E principalmente sobre garotas! Talvez “EU” queira ficar então, enquanto você e Harry vão! O que você acha? – brincou Hermione.

– Mas você não me deixaria ir sem você, deixaria? Você é muito corajosa, Hermione, é diferente! – disse Rony, abraçando Mione.

– E Gina é tão corajosa quanto eu, Rony. Se não for ainda mais do que eu...

– É, cara... Parece que não temos muita escolha então, não é mesmo? – disse Rony, dando um tapinha nas costas de Harry, que ainda observava a porta por onde Gina passara, segundos antes. – Quando você está pensando em partir?

– Bom, pra dizer a verdade, queria ter partido há dias atrás... Faltou coragem de tirar todos vocês daqui. Acho que essa é uma guerra minha, algo que eu tenho de fazer. Já me custa muito admitir que vocês não abrem mão de estar ao meu lado, embora esteja grato por isso... Mas é muito duro pra mim pensar que talvez nem todos nós retornaremos! Não gosto nem de pensar nos perigos que posso estar colocando todos vocês.

– Por favor, Harry, sem essa tá? – disse Hermione, indignada. – Já tomamos nossa decisão. Quando partiremos?

– Acho que amanhã está bom então, o que acham? Podemos passar uma última noite aqui, e também preparar tudo que levaremos. E amanhã pela manhã iremos para Godric’s Hollow.

– Ótimo então. Rony, vamos arrumar nossas coisas?

– Vamos sim, mandona...

– Mandona? Como você ousa?!

Rony e Hermione entraram brincando um com o outro, enquanto Harry continuava pensativo, observando os amigos de tantas jornadas, de tanto tempo, agora finalmente juntos e felizes. Se sentia péssimo por ter que colocar em risco a vida das pessoas que mais amava no mundo. Eram mais que amigos, eram feito irmãos. Os irmãos que ele nunca tivera. Os irmãos que poderia ter tido, se Voldemort não tivesse matado seus pais. Havia uma razão em tudo aquilo, uma razão que o próprio Harry desconhecia inteiramente, mas que ele sabia que não se tratava apenas de proteger o mundo mágico. Ele desejava vingar os pais, vingar Sirius, vingar Dumbledore. E não era essa a primeira vez em que pensava no seu ardente desejo de vingança, nem tampouco a primeira vez em que sentia um ódio incontrolável e escuro dominar seu corpo.

– Harry? Tudo bem?

O garoto então pareceu ser tirado dos pensamentos em que estava preso, para perceber que Tonks estava à porta do jardim, que dava acesso à Toca.

– Tudo, Tonks. Só pensando em como vou dizer à Sra. Weasley que devo partir, ou pior, que dois de seus filhos não me deixarão partir sem eles...

Tonks pareceu analisá-lo por um instante, antes de começar a falar.

– Sabe, estive conversando com Molly e Arthur ainda ontem. Se isso vai te acalmar, talvez você goste de saber o que ela acha sobre tudo isso.

– O que ela acha? – perguntou Harry, curioso.

– Ela disse que nunca se sentiu tão orgulhosa de seus filhos antes! Sabe, Harry, todos nós sabíamos há tempos que um dia isso aconteceria. Digo, Dumbledore nos disse muitas vezes que chegaria o dia em que você assumiria a responsabilidade de ser quem é, e encararia seu destino bravamente, e que quando esse dia chegasse...

– Vocês não deveriam me deter... É, Lupin me disse isso ainda outro dia. – sorriu Harry.

– Pois é... Molly e Arthur estão em dívida com você, sabe Harry? Você já salvou membros da família várias vezes, mas não que isso seja o ponto principal pelo qual eles concordam com tudo isso. E se essa guerra puder acabar de uma vez por todas? E se você conseguir derrotar você-sabe-quem para sempre? Não seria um prazer que membros da família Weasley pudessem te ajudar nessa missão? Eu teria o maior prazer em ajudá-los, Harry! Por isso, não se preocupe com o que eles dirão. Todos estão ao seu lado. E eu também, garoto!

– Obrigado, Tonks... Não sei nem o que dizer... – disse Harry, muito sem graça.

– Não tem de que, garotão! Agora acho melhor você entrar, acho que vi Gina, Rony e Hermione passarem dizendo que iam arrumar as coisas para a viagem. Você também tem que arrumar as suas, certo?

– Certo. Bom, vou indo então. Até.

– Até! – disse Tonks, com um sorriso.

Harry então entrou na casa, passando pela cozinha deserta, e indo em direção ao quarto de Rony, onde estavam suas coisas. Era difícil pensar que não estaria mais ali no dia seguinte. Aquela casa sempre fora tudo que ele nunca teve: um lar. Ali ele era tratado com carinho e respeito, como se fosse um membro da família. E essa era uma das razões pela qual sabia que não podia falhar em sua missão.

Quando chegou ao quarto de Rony e girou a maçaneta, ouviu um ruído que parecia ser de alguém pulando rapidamente. Assim que entrou no quarto entendeu tudo. Hermione parecia estar muito vermelha, do outro lado do quarto, colocando algumas coisas na mala de Rony, que estava de costas, mas Harry podia ver claramente suas orelhas vermelhas.

– Ei, Harry! Vai arrumar suas coisas agora? – disse Hermione, muito sem graça.

– Sim, pretendo. Mas posso esperar lá fora enquanto vocês terminam de dar uns amassos se for mais conveniente! – disse Harry, rindo feito louco.

– Não tem graça nenhuma, tá Harry! Quem vê pensa que você e a Gina são muito discretos, não é? E se fizer piadas, proíbo você de namorar minha irmã... – disse Rony, agora tacando em Harry uma meia fedorenta e rindo de volta para o amigo.

– Faça-me rir, Roniquinho! – brincou Harry, enquanto se dirigia à sua cama, onde estavam depositadas suas coisas.

– O que você pretende levar, Harry? – perguntou Hermione.

– Bom, acho que não devemos levar muita coisa, sabe. Uma mochila cada um acho que já basta. Podemos pedir pra Tonks enfeitiçá-las, assim caberão mais coisas. Preciso aprender aquele feitiço...

– Na verdade já fiz isso com a minha e com a de Rony, Harry. – disse Hermione, pegando a mochila de Harry, e tocando-a levemente com a própria varinha, sem dizer nada.

– Obrigado, Mione! Escuta, você viu a Gina?

– Deve estar no quarto dela arrumando suas coisas, vou lá dar uma olhada se está tudo bem. Você acha que consegue se virar sozinho, Rony?

– Talvez sim, talvez não... Volta logo, tá? – disse Rony, dando um beijo suave em Hermione.

– Em instantes! – disse Hermione sorrindo – “Crack” – desaparatando em frente aos garotos.

– Agora ela faz isso o tempo todo. Meio esquisito você não acha? – disse Rony, assombrado. – E quanto a nós, quando prestaremos o exame de aparatação, Harry?

– Na verdade, Rony, acho que não vou prestar. Pelo menos não por enquanto.

– Mas como vamos poder aparatar então, Harry? Vamos precisar aparatar um bocado, não vamos?

– Vamos sim, com certeza... Aparataremos sem licença mesmo. Não acho que o Ministério vá se preocupar muito com isso. Aposto como eles estão bem ocupados tentando mostrar que são eficientes, Rony. Isso não será um problema.

– Bem, se você diz... Só espero não perder pedaços do meu corpo por aí, entre uma aparatação e outra!

– Aposto como Hermione pode te ajudar com isso!

Harry agora remexia em suas coisas, tentando selecionar o que levar e o que deixar para trás. Poderiam passar na Toca para buscar qualquer coisa de que precisassem, caso precisassem. Mas e se começassem a chamar atenção demais para a casa dos Weasleys? Talvez fosse melhor escolher um outro lugar como “quartel”.

– Sabe, estive pensando... – começou Harry – talvez nós pudéssemos levar algumas coisas para o Largo Grimmauld, para o caso de precisarmos voltar para buscar alguma coisa. Há o encantamento de proteção lá, com certeza é mais seguro do que voltar aqui. Não quero colocar sua família em risco, Rony...

– Bom, pra mim, o que você decidir está decidido. Acho que a sede da Ordem é realmente um bom lugar. – concordou Rony.

– Veremos o que Gina e Hermione acham então.

Harry continuou selecionando o que levaria em sua mochila, que parecia caber muito mais coisas do que imaginava: já havia colocado uma porção de camisas e calças, mas ainda parecia caber muito mais. Abriu então o malão, e começou a revirar os materiais escolares que utilizara em Hogwarts. Livros, caldeirões, pergaminhos, não achava que precisaria de nada daquilo, então foi simplesmente jogando tudo para os lados, enquanto procurava por mais alguma coisa. Viu o livro de Poções do príncipe, e aproveitou a ausência de Hermione para jogá-lo dentro da mochila, bem escondido no meio de um velho camisão que herdara de Duda.

– Não deixe Hermione vê-lo colocando isso na mala, Harry. Ela vai ter outro ataque. Na verdade, eu mesmo estou começando a me perguntar por que você carrega esse treco para todo lado!

– Não sei explicar, Rony... Só acho que devo levá-lo.

Harry achou no malão o presente que ganhara de Hermione, o mini espelho de inimigos, e desembrulhou-o cuidadosamente para dar uma olhada. As inscrições nas bordas do espelho pareciam ser feitas a mão, e Harry de repente lembrou-se de ter visto algo parecido com aquilo em algum outro lugar, mas não se lembrou onde. Ao fazer força para lembrar-se onde pudera ter visto, lembrou-se da penseira, que jazia bem guardada no fundo do malão. Pegou-a com cuidado, e colocou-a de lado na mochila, que recebeu-a sem dificuldades, e a mochila parecia não pesar nada, mesmo contendo uma pia de pedra em seu interior.

Harry continuou olhando para o espelho de inimigos, mas tudo que conseguia ver eram imagens sem foco algum, sombras, e às vezes parecia até mesmo ver silhuetas de animais correndo de um canto para o outro do espelho, mas tudo não passava de pequeninas sombras. Um pouco ao fundo do malão, encontrou um pequenino espelho quadrado, muito velho e sujo. Virou-o para ter certeza que era o que pensava que fosse. Lá estava rabiscada uma mensagem que seu padrinho escrevera a dois anos atrás.

Esse é um espelho de comunicação. Eu tenho o outro do par. Se você precisar falar comigo é só dizer meu nome pra ele; você vai aparecer no meu espelho e eu poderei falar no seu. Tiago e eu costumávamos usá-los quando estávamos em detenções separadas”.

O coração de Harry apertou-se e comprimiu-se. Nunca tivera usado o presente do Padrinho. Na verdade, só se dera conta do que ganhara quando Sirius já havia sido morto por Bellatrix Lestrange, no Ministério da Magia. Podiam ter conversado tantas vezes através do espelho, mas Harry havia negligenciado o presente, e agora lhe custava caro pensar no quanto perdera. Não podia mais ver nem falar com Sirius.

– Me perdoe, Sirius. Me perdoe... – sussurrou o garoto

Guardou o espelhinho quadrado cuidadosamente nas vestes. Levaria-o consigo o mais perto possível do peito. Queria ter uma lembrança de Sirius perto de si, caso acontecesse o pior... Harry não podia deixar de pensar o que poderia lhe acontecer naquela jornada que se iniciava. Não que tivesse medo, mas sentia-se culpado por talvez não ser capaz de terminar tudo antes de ir encontrar seus pais. Rony, que por um instante pareceu ter o dom da legilimência, disse ao garoto:

– Não se preocupe, Harry. Tudo vai dar certo.

– Tomara, Rony... Tomara...

E se virando novamente para a mochila, jogou para dentro dela o mapa que ganhara de Lupin, mais algumas roupas e o medalhão falso que continha o bilhete de RAB. Fechou a mochila com facilidade, e ao colocá-la nos ombros, ficou pasmo com a leveza em que essa se encontrava. Hermione tinha mais talento do que se podia imaginar, pensou ele.

– Bom, vou descer um instante, quero conversar com sua mãe antes de partirmos. Se a Gina aparecer, diga a ela que estou lá embaixo, ok?

– Ahan. – concordou Rony.

Harry então desceu as escadas, e parou na sala de estar da Toca, onde o Sr. e a Sra. Weasley estavam sentados, conversando animados com Lupin, Tonks e Moody.

– Ehhh... será que eu poderia conversar com vocês um minuto? – perguntou Harry, sem graça por ter de atrapalhar a conversa de todos.

– Claro Harry, querido! Sente-se. – disse a Sra. Weasley.

– Acho melhor nos retirarmos então, Tonks, Alastor. – disse Lupin, já se levantando.

– Não, por favor, fiquem! – disse Harry – Vocês devem saber também.

Lupin, Olho-Tonto e Tonks obedeceram, e sentaram-se novamente.

– Bem, primeiro eu quero dizer que tentei convencer Rony, Hermione e Gina a não me acompanharem, Sra. Weasley. Mas eles são tão teimosos! – sorriu Harry – E não poso negar que esteja feliz por tê-los perto de mim agora. Estamos partindo amanhã, vamos para Godric’s Hollow. Há algo que devo fazer, algo que Dumbledore me pediu para fazer, não posso contar tudo a vocês, ele me pediu segredo, mas quero que saibam que tomaremos cuidado, e protegeremos uns aos outros...

Harry esperou um instante para ver se alguém faria algum comentário. Mas ninguém fez.

– Antes de fazer o que Dumbledore me pediu, vamos para Godric’s Hollow. Quero dar uma olhada nos... túmulos... de meus pais. – Harry agora diminuía o tom de voz, como se dizer aquilo lhe trouxesse uma dor imensa – E, bem, acho que é isso.

– Harry, – começou o Sr. Weasley, se levantando do sofá – Saiba que não temos rancor por nossos filhos estarem acompanhando você nessa sua missão. Muito pelo contrário. Temos orgulho por eles serem tão leais ao amigo. E namorado, claro! – o Sr. Weasley sorria para Harry, que corou – Não vou dizer que não ficaremos preocupados, pois seria mentira. Mas tenho certeza que é assim que tem que ser. Só devo lhe pedir Harry, tomem cuidado, e não hesitem em pedir ajuda, se precisarem. Ok?

– Muito obrigado, Sr. Weasley! Fico muito aliviado de saber que entendem!

– Claro que entendemos, Harry! – começou a Sra. Weasley, com os olhos cheios de lágrimas – Lembro-me como se fosse ontem, você apavorado na estação King’s Cross, sem nem saber como atravessar para a plataforma nove e meia. E olhe pra você agora! Veja o bruxo em que você se transformou! Tenho muito orgulho de você, querido!

O abraço que se seguiu àquelas palavras foi uma das coisas mais maravilhosas que Harry já sentira na vida. Não era como os outros abraços que a Sra. Weasley já havia lhe dado. Era ainda mais cheio de amor, ternura, e compaixão. Ele pode sentir um carinho de mãe envolto naqueles braços curtos e fofos que lhe abraçavam. Por um momento, sentiu que queria ficar ali, nos braços da mãe do melhor amigo, e esquecer tudo que viria pela frente. Mas logo se afastou, sorrindo, agradecido pelo carinho.

– Potter, há alguma em que possamos ajudar? – perguntou Moody.

– Por enquanto não, Moody, muito obrigado! Temos tudo que precisamos, partiremos amanhã pela manhã. Estive pensando em usar a sede da Ordem como quartel, caso precisemos de qualquer coisa. Não queremos levantar suspeitas indo e vindo daqui o tempo todo, sabe... Tem algum problema?

– De maneira alguma, rapaz. Afinal, a casa é sua! E assim poderemos ter notícias de vocês, claro. Usem-na quando precisarem. – disse Moody, o olho bom e o mágico fixados em Harry.

– Alguma dúvida quanto ao mapa, Harry? – perguntou Lupin.

– Hummm, creio que não... Obrigado Lupin! – Harry não havia sido muito sincero, mas não queria importunar ainda mais aos amigos. Daria uma olhada no mapa mais tarde, não teriam problemas, ele pensou.

– Então está acertado. Amanhã vocês partirão. – concluiu o Sr. Weasley – E já sabem como vão viajar, Harry?

– Bem, vamos aparatar. – Harry achou que um pequeno sermão seguiria à sua resposta. O Sr. Weasley trabalhava no Ministério, e aparatar sem licença era contra as Leis Mágicas.

– Bem, se vocês sabem como fazer, muito bem. Não acho que o Ministério esteja se importando com essas pequenas infrações hoje em dia – divagou o Sr. Weasley – Na verdade, não acho que eles estejam se preocupando com “nada”... Mas Gina ainda não sabe aparatar, Harry. Vocês terão de ajudá-la, certo?

– Sem problemas, Sr. Weasley. Posso levá-la comigo quando aparatar.

Harry então mentiu que deveria subir para terminar de arrumar suas coisas. A verdade é que ele não queria mais ficar ali. A visão da preocupação dos amigos lhe incomodava muito, e aumentava em si a responsabilidade e a pressão de não poder falhar, nem colocar em risco a vida de outras pessoas, cujas vidas não precisavam entrar em risco daquela maneira.

– E aí, como foi? – perguntou Hermione, ao encontrar com o garoto nas escadas.

– Tranqüilo. Reagiram melhor do que eu esperava. E a Gina?

– Está com o Rony.

E caminhando juntos, Harry e Hermione chegaram ao quarto de Rony, encontrando o garoto e Gina terminando de arrumar tudo.

– E então, Harry? Mamãe e papai choraram muito? – brincou Gina.

– Sua mãe, um pouco... Seu pai parece estar bem conformado. Mas acho que amanhã durante a despedida esse problema se resolve! – sorriu Harry, tomando Gina em um longo abraço.

– No meu quarto não, por favor! Ainda sou seu irmão mais ve...

Enquanto Rony tentava terminar o que dizia, uma Hermione apaixonada pulava em seus braços, beijando-o e impedindo o namorado de concluir a frase, ato que deixou Harry e Gina muito a vontade para fazer o mesmo.

– Acho que é hora de nos deitarmos, Gina. Vemos vocês de manhã então. – disse Hermione, despedindo-se de Rony com um longo beijo.

– Sonha comigo, tá? – Gina disse a Harry, dando-lhe um carinhoso beijo, e partindo com Hermione pela porta dos garotos.

Harry deitou-se em sua cama, feliz, imaginando como seria o dia seguinte. Embora não tivesse a mínima idéia de por onde começariam a busca pelos Horcruxes, sabia que o ponto de partida era Godric’s Hollow. Além do mais, poderia visitar seus pais, antes de começar a jornada que culminaria no confronto final com Lord Voldemort. Se pelo menos Sirius estivesse vivo para ajudá-lo... se pelo menos Dumbledore não tivesse sido tão tolo a ponto de confiar em Snape durante tantos anos... Se ele ao menos tivesse uma pista de quem era o tal RAB, tudo poderia ser mais fácil.

– Noite, Harry.

– Noite, Rony.

Harry então tirou seus óculos, e deitou-se na cama. Cansado, mas animado por finalmente achar que teriam uma chance contra Voldemort. Sentiu uma pequena dor no peito, e na hora soube que não era tristeza e nem amor. Algo estava “realmente” espetando seu peito. Meteu as mãos dentro das vestes, e sentiu o gelado e pontiagudo espelho quadrado que ganhara de Sirius tocar seus dedos. Tirou-o da camisa, colocou-o na mesinha de cabeceira, ao lado da cama, e virou-se, para dormir. Lembrou que havia prometido praticar Oclumência, mas se esquecera de cumprir a promessa nas últimas semanas. Estava tão feliz que achou não ser preciso.

– Amanhã começo a praticar. – murmurou para si próprio.

Virou-se para o lado, e fechou os olhos, adormecendo quase que instantaneamente. Ouvia apenas alguns ruídos bem ao fundo de seus sentidos, como se fossem roncos. Definitivamente, Rony também já havia adormecido. Mas os roncos sumiram em segundos, dando lugar a uma voz muito distante, gélida, como a voz de uma cobra.

– Harry... Potter...

Harry abriu os olhos. Estava em uma sala escura, onde não conseguia ver o chão e nem o teto. As paredes pareciam estar cobertas de escuridão sólida, se é que isso existia. Não conseguia ver o começo da sala, e muito menos o fim. Apenas uma poltrona velha, mofada e rasgada, no meio da sala, de onde o sibilar frio e arrepiante parecia ecoar.

– Não tenha medo, Harry Potter... Aproxime-se...

No fundo ele achava que sabia quem o chamava. Já ouvira aquela voz antes. Mas algo dentro dele o fazia continuar andando, em direção à poltrona ao meio da sala, de onde vinha a voz gelada e sussurrante.

Não parece tão ameaçador assim... Acho que não vai me fazer mal. – pensava Harry.

Quando chegou às costas da cadeira, deu um passo para trás, caindo em si no que estava fazendo. Estaria ficando louco? Mas uma vontade imensurável de aproximar-se mais tomou-o incontrolavelmente, e ele deu mais um passo em direção à poltrona, receoso.

– Não é preciso ter medo... Venha... – disse a voz, cujo dono parecia ser capaz de ler na mente de Harry o receio que este sentia.

A poltrona se virou de baque, e lá estava, sentado, envolto em longas vestes negras, Lord Voldemort. As feições lhe eram iguais à última vez em que Harry o vira, no Ministério. Os olhos vermelhos, como a mais densa tinta escarlate, no lugar do nariz duas fendas espessas e finas, que com certeza eram semelhantes às de uma cobra. A boca era fina e o rosto era branco como a neve. Parecia um crânio à mostra. Ele levantou-se, e com a varinha em punho, fez a poltrona desaparecer com um simples e displicente gesto. Em seguida, encaminhou-se em direção a Harry. Parecia flutuar por baixo das vestes. Harry não conseguia ver seus pés.

Harry automaticamente levou a mão à cicatriz, preparando a si mesmo para sentir a dor que lhe atormentava a cada encontro com seu nêmesis. Porém, a dor nunca apareceu.

– O que estou fazendo aqui? O que você quer? – Harry agora desesperara-se, e tentava achar nas vestes a própria varinha. Enfrentaria Voldemort ali mesmo, não teria medo. Mas não encontrou a varinha

– Tome, se é isso que quer, apanhe a minha própria. Tenho certeza que você seria capaz de fazer maravilhas com ela. – sibilou Voldemort, estendendo o braço a Harry, entregando-lhe a própria varinha, que era branco-perolada, com um pequeno crânio na extremidade por onde era segurada.

Harry sentiu uma sensação estranha. De repente confiava em Voldemort. Ele não lhe faria mal. Pegaria a varinha. Queria experimentá-la. Então, ele a apanhou.

– O que estou fazendo aqui? – perguntou Harry, ainda admirando a varinha em suas mãos. Era tão bela!

– Quis lhe falar em particular... Há tempos venho querendo... Não há razão para confrontos, guerras ou mais mortes... Você vem tentando encontrar a mim, e eu a você...

– Você vai me matar? – perguntou Harry, agora encarando Lord Voldemort, que parecia sorrir, um sorriso demoníaco.

– Não poderia, poderia? Você está de posse de minha varinha. Na verdade, quero propor-lhe algo...

– Propor algo? A mim? Não quero, não importa o que seja, não quero! – Harry esboçava agora uma vontade de gritar. Apontava a varinha de Voldemort para ele próprio. – Afaste-se de mim!

– Calma, meu garoto... Você terá de aprender a canalizar seu ódio e fúria se quiser ser muito mais que um bruxo! Se quiser ser... muito mais que um homem!

Harry agora abaixava a varinha. Por que estava dando ouvidos a ele? Por que simplesmente não o atacava? Era o momento, Voldemort estava desarmado, e ele, Harry, tinha a varinha do próprio Voldemort! Mas não queria atacá-lo. Queria ouvir mais...

– Por que... você... está dizendo... essas coisas? – perguntou Harry, agora trêmulo.

– Tenho algo a lhe oferecer, e quero que aceite.

E com um gesto de seus longos e finos dedos, um corpo pendeu-se do ar, como se envolto por uma corda invisível, descendo das alturas escuras e invisíveis como em câmera lenta. Um corpo que caiu aos pés de Harry. Entre ele e Voldemort. O homem levantou-se, ao bater no chão, e afastou-se rapidamente de Harry. Estava com medo. Harry reconheceu o homem, e então seus sentidos pareceram retomar de uma vez. O ódio tomou conta de si, e ele já estendia a varinha contra Severo Snape, que nada dizia, apenas parecia aterrorizado.

– Vamos, castigue-o! Ele merece sua fúria... Traiu Dumbledore, merece ser castigado! – dizia Voldemort, agora atrás de Harry, as mãos em seus ombros, apoiando-o.

– TRAIDOR NOJENTO! – berrou Harry. – COMO VOCÊ PÔDE?

– Harry, o que você está fazendo? Do que você está falando? – Snape parecia muito confuso.

Severo Snape agora afastava-se atordoado, com medo. Harry sentia prazer ao ver a expressão de pavor nos olhos de Snape. Queria acabar com sua vida, queria fazê-lo sofrer. As mãos de Voldemort pareciam lhe dar ânimo para aquilo. Sentia-se capaz.

– Vamos, Harry, acabe com ele, vamos! – instigava a voz gélida de Voldemort.

– Você não vai morrer rápido como ele, Seboso! Vai sofrer! Quero ver sua dor! Quero rir sobre seu corpo morto! – gritava Harry.

– Harry, por favor, o que você está fazendo? Você não é assim! – Snape parecia a ponto de chorar.

Harry não acreditava no que via. Era tão gostosa aquela sensação! Era como se ele pudesse trazer todas as pessoas que amava de volta, e era só matá-lo para atingir isso. Era só estender a varinha, e fazer. E ele fez.

CRUCIO ! – berrou Harry, rindo de prazer.

A varinha de Voldemort tremeu em suas mãos, expelindo um fino filete de luz vermelho-escuro, e Harry sentiu-se nas nuvens ao ver o corpo de Snape no chão, contorcendo-se em dor, desespero, e sofrimento. A risada alta, estridente e congelante de Voldemort ecoava em seus ouvidos. Suas mãos já não estavam mais em seus ombros.

– Muito bem, Harry... Muito bem... Você estará pronto em breve... – sibilou ele, mas Harry já não podia vê-lo.

Snape agora parecia estar a ponto de enlouquecer. Gritava de desespero, implorava por sua vida, o que fazia com que Harry sentisse uma enorme satisfação. Pôde ver, naquele momento, as paredes. Elas estavam entrando eem foco. Não eram mais escuras, eram feitas de madeira velha e gasta. A poltrona no meio da sala desapareceu, dando lugar a uma cama bagunçada, vazia. Um cobertor no chão. Outro corpo no chão, se contorcendo de dor frente ao feitiço poderosíssimo de Harry. A varinha já não era branco-perolada. Era marrom. Sua própria varinha.

EXPELLIARMUS ! – berrou uma voz vindo de trás de Harry. – Meu Deus, Harry! O que você está fazendo? – gritou Gina, desesperada, as lágrimas escorrendo nos olhos, passando correndo por Harry.

– Estou castigando Snape, Gina! Ele está aqui no...

A voz de Harry simplesmente desapareceu com o que viu. No chão, em frente sua cama, estava Rony, desacordado, os braços e pernas estendidos em um ângulo estranhamente bizarro. Ofegava de dor, os olhos vidrados no teto.

– Meu Deus, o que eu fiz? RONY! ENERVATE ! ENERVATE ! Finite Incantatem ! ENERVATE ! Finite... Finite...

Harry gritou, caiu de joelhos ao lado de Gina, mas Rony não parecia ouvir os gritos de desespero do amigo, nem tampouco seu corpo parecia absorver os feitiços que tentava praticar. Estava no chão, caído, imóvel.

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Olá!

Espero que tenham gostado desse capítulo. Pessoalmente, acho que é um capítulo bem interessante... Mas sou suspeito, certo? Quero agradecer a todos pelo carinho e pelos comentários. Peço encarecidamente que continuem lendo, comentando, e votando! Afinal, é para vocês que escrevo! Gostaria de dizer também que agora há, como vocês viram, imagens nos capítulos. Então, a vocês que já leram os outros capítulos, deêm uma olhadinha por lá para ver as imagens, acho que dá um contraste legal com cada capítulo que posto. Bom, obrigado, e até a próxima...

Israel G3

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