A Penseira de Dumbledore



Capítulo 5
“A Penseira de Dumbledore”


A fúria que tomou conta de Harry era visível e assustadora. Só não era mais assustadora e nem deprimente quanto o pânico que havia se espalhado em todos os presentes no jardim da Toca. A Sra. Weasley chorava inconsolável nos ombros do Sr. Weasley, os gêmeos tentando abraçar a mãe e o pai, Fleur amparando seu noivo Gui, cujo peito agora continha, além de cicatrizes, pequenas queimaduras sofridas graças ao contato com o veneno contido na taça de cristal, que segundo Lupin, era um veneno conhecido como Prata-Fumegante.

– Foi uma sorte Harry tê-lo impedido de beber o conteúdo da taça Gui – explicava Lupin ao noivo, que agora parecia miseravelmente infeliz – assim que descesse pela sua garganta ele o mataria em segundos!

– Mais uma vez – começou a falar o Sr. Weasley deprimido – devemos a vida de um membro da nossa família a você, Harry. Não sei o que dizer... Obrigado...

– Não há nada o que agradecer, Sr. Weasley. Eu fui tão lento... Se ao menos eu pudesse ter sido mais rápido, ela estaria aqui agora, conosco! – Harry andava de um lado para o outro do altar, como se não pudesse controlar as pernas, que se movimentavam violentamente.

– Você não tem que se culpar de nada, Harry – choramingou a Sra Weasley – Todos deveríamos estar agradecendo a você por ter percebido tudo antes que algo pior tivesse acontecido. Poderíamos estar sem três dos nossos filhos agora, ao invés de só dois! – e voltou a chorar compulsivamente no ombro do marido, que tinha lágrimas escorrendo também pelas bochechas cheias de sardas.

Rony, que estava sentado ao lado de Hermione, branco e paralisado como se alguém o tivesse simplesmente “desligado da tomada”, finalmente manifestara-se:

– Não entendi... O que aconteceu... Como você percebeu que não era o Carlinhos, Harry?

– Não sei ao certo. Eu estava ali, observando a cerimônia, e acho que tive um pressentimento, não sei explicar.

– É perfeitamente possível, Harry. – explicou Lupin.

– Agora gostaria de saber como você nos arremessou com toda aquela força sem ao menos nos tocar ou azarar, Potter! – questionou Olho-Tonto, apalpando um braço que parecia ter se contundido com a forte pancada que sofrera ao ser arremessado metros por Harry.

– Eu... também não sei... Senti tanto ódio, queria agarrar Malfoy, queria... machucá-lo... – completou Harry, envergonhando-se – E simplesmente aconteceu. Algumas vezes fiz coisas quebrarem quando estava nervoso, fiz minha tia virar um balão certa vez, mas nunca nada como aquilo! Não sei dizer com muita certeza...

– Acho que não é hora pra isso, Alastor. – Lupin levantou-se de onde antes estava o falso Carlinhos, levantando um pequeno frasco ns mãos, e o cheirando – Poção Polissuco. Malfoy deve ter derrubado antes de desaparatar. Receio que devemos encontrar Carlinhos, Alastor. Os comensais devem tê-lo interceptado enquanto vinha pra cá, ou até mesmo na Romênia. Ele pode estar machucado, ou...

– Então vamos de uma vez – interrompeu-o Tonks, que sabia que não era o melhor momento para fazer suposições.

– Mandaremos notícias o mais breve possível, Arthur.

– Ok, Alastor, tenham cuidado. – despediu-se o Sr. Weasley – Agora venha, querida, você precisa descansar um pouco, e eu tenho que mandar uma coruja ao Ministério, os aurores devem saber do que aconteceu.

E levantando, arrastou a mulher que parecia incapaz de caminhar sozinha para dentro da casa, deixando todos para trás.

– Harry, peço que tomem cuidado, e não ajam com a cabeça quente, ok? – aconselhou Lupin. – Voltaremos o mais breve possível.

– Ok. Boa sorte.

Tonks e Moody se despediram, e partiram com Lupin em direção à estrada que dava acesso à Toca, de onde Harry viu-os desaparatarem em seguida.

– Muito obrigado Harry. Não sei o que dizer. – Gui se levantara, e parecia ainda mais ferido, com o peito coberto de cicatrizes, queimaduras e pêlos. Ao ver que Harry o observava assustado, disse: – Está tudo bem, Lupin já deu um jeito nas queimaduras. Não há nada com o que se preocupar.

– Arrrrry, você salvou meu noivo, obrrrrrrrigada! – E Fleur precipitou-se até o garoto, beijando-lhe a testa.

Harry ainda não se dava conta do que acontecia. Conseguira, depois de muitos minutos, sentar-se e descansar os pensamentos, mas o sangue ainda fervia, e ainda sentia um desejo incontrolável de encontrar Malfoy e feri-lo, fazê-lo pagar por ter levado Gina, e por ter arruinado um dia tão importante para os Weasleys.

– Harry, você está bem?

– Não sei Hermione, não consigo entender o porquê ele levaria Gina. Será que eles sabem de alguma coisa?

– Acho que não Harry, é mais provável que a vítima era pra ser Carlinhos, mas você conseguiu agir bem a tempo... E em pensar que eu estava achando que você tinha enlouquecido de vez quando estuporou a taça!

– Tenho que fazer alguma coisa...

– Você não vai fazer nada, Harry! Não há nada que possamos fazer agora, a não ser torcer para que ela esteja viva, e a salvo!

– Você acha fácil falar, não é Hermione! – Rony finalmente se levantara, e parecia extremamente transtornado com a última frase de Mione – Você acha mesmo que devemos ficar aqui sentados, lamentando que minha irmã foi levada por um Comensal nojento e não fazer nada? Está errada! Eu vou com você Harry, o que faremos?

Hermione abaixou a cabeça, corando levemente, e disse displicentemente.

– Desculpe, não quis ofender. Eu vou com vocês também.

– Ótimo. Sabe que preciso de você, não sabe?

Os dois se olharam carinhosamente, e Rony pegou a mão de Hermione, enquanto Harry começava a falar.

– Escute, quero que saibam exatamente o que aconteceu. Não foi um mero pressentimento. – cochichou Harry. – Tive uma... visão. Acontece que não quis contar para todos, não sei bem o que pode significar isso.

– Uma visão? Como assim, Harry? – Hermione parecia intrigada.

E então Harry contou tudo que tinha visto, começando pelos olhares estranhos que o Carlinhos falso lhe lançara. Rony tinha uma expressão de incredulidade, e Hermione parecia extremamente interessada em como Harry havia previsto tudo.

– E então, meio que voltei ao normal, mas sabia que não tinha sido uma alucinação ou coisa do tipo, parecia que sabia que aquilo ia mesmo acontecer se não fizesse algo, e rápido.

– E sua cicatriz doeu? – perguntou Rony.

– Não. Mas acho que estou esquecendo de algo. Lembro de ter visto mais alguma coisa, mas não consigo me recordar o que...

– Então talvez esteja na hora de você reivindicar parte da sua herança, Harry.

– Que?

Rony não havia entendido, mas Harry sim. E estava grato por Hermione ter tido aquela idéia.

– A penseira que Dumbledore deixou para o Harry, Ron!

– Claro! Assim posso rever o que quer que tenha sido aquilo que vi, e talvez possa encontrar alguma coisa útil lá, que nos ajude a encontrar Gina!

– Então talvez devamos nos apressar se quisermos ir com Hagrid, Harry. Acho que ele já estava de saída.

Rony parecia animado com a perspectiva de tentar trazer a irmã de volta, e os três correram para dentro da Toca, onde encontraram Hagrid despedindo-se de todos, dizendo que deveria voltar a Hogwarts para avisar McGonagall.

– Vamos com você, Hagrid. – apressou-se Harry.

– É mesmo? Bom, acho que a Professora McGonagall vai gostar de vê-los.

– Isso não tem nada a ver com o que aconteceu hoje aqui, tem Harry? Vocês não estão saindo em busca do esconderijo desses comensais, estão? – perguntou aflita a Sra. Weasley, que percebera que Rony o acompanharia, bem como Hermione.

– Não se preocupe, mamãe. Vamos trazê-la de volta.

Ao ouvir a frase do filho, a Sra. Weasley o abraçara tão fortemente que era difícil saber se Rony sairia vivo do abraço.

– Espero que saibam o que estão fazendo, meninos. – o Sr. Weasley parecia preocupado, mas sabia que não adiantaria argumentar com os três.

– Vou manter um olho nos garotos, Arthur. E se vocês precisarem de qualquer coisa estarei às ordens, Molly. Não se preocupe, tenho certeza que tudo dará certo. Fique despreocupado. – disse Hagrid, estufando o peito, e derrubando um dos vasos de flores decorativas da Sra. Weasley, que estava em cima de uma das mesinhas da sala.

Os três então subiram apressadamente para os quartos, a fim de pegar os seus pertences, e em poucos instantes encontraram Hagrid novamente, prontos para partir.

– Vamos usar a lareira, Molly, se não se importa, acho que é o meio mais seguro.

O casal se despediu dos três garotos, e eles entraram na lareira atrás de Hagrid. Harry mais uma vez experimentava aquela estranha sensação de estar rodando sem parar, até que finalmente saiu na lareira que antes pertencera à sala da Professora McGonagall, agora totalmente vazia.

– Bem, ela se mudou para a sala dos diretores. – explicou Hagrid, observando o rosto de desentendimento de Harry. – Preciso ver como estão Bicuço e Grope. Acho que a diretora deve estar na sala dela agora. A senha é “Varinhas de Alcaçuz”. Vejo vocês mais tarde, na minha casa?

Concordando com a cabeça, os três apressaram-se para encontrar a diretora, enquanto Hagrid rumava em direção à sua cabana, que ficava na beira da Floresta.

– Não quero perder muito tempo aqui. Vamos pegar a penseira, e decidiremos o que fazer o mais rápido possível. – disse Harry.

– Será que ela ainda está... viva? – perguntou Rony, encarando o chão, enquanto ainda caminhavam para a sala da diretora.

– Claro que está, Ron! Não pense uma coisa dessas! Tenho certeza que ela está bem. Eles vão querer chantagear a Ordem, mas não se pudermos impedir, certo?

– É, acho que você tem razão. – concordou Rony.

Harry não queria pensar se a amiga estava ou não certa. Tinha medo só de pensar no que Gina poderia estar passando naquele momento, enquanto conversavam, e achou melhor se concentrar e pensar no que fariam depois de obter a Penseira que herdara. Haviam passado por um corredor que tinha uma tapeçaria de duendes dançantes, que Harry de cara reconheceu. Não havia prestado atenção onde estavam antes pois estava demasiado preocupado.

– Que foi Harry? – Hermione perguntou ao garoto, que havia parado, encarando a parede como se visse alguma coisa.

Harry olhou de Hermione para Rony, como se esperando que os dois pensassem por si só, e então respondeu:

– É o corredor da Sala Precisa.

– Nem tinha reparado. Mas e daí, Harry? – questionou Rony.

Mas Harry não respondeu. Começou a andar de um lado para o outro, e Hermione sabia o que ele estava fazendo.

– Harry, o que você está fazendo? Pra que quer entrar aí?

Mas naquele instante uma porta se materializara onde antes só havia a parede de pedras lisas, e Harry agarrou a maçaneta da porta e disse:

– Esperem aqui, já volto.

Não sabia exatamente por que, nem como teve coragem de fazer o que estava fazendo, mas sentia que era o certo a se fazer. Saiu dois minutos depois, com um livro de capa nova nas mãos, onde lia-se claramente “Livro Avançado de Poções”.

– Não acredito, Harry! Depois de tudo que aconteceu, você ainda quer levar esse maldito livro conosco? Será que ele já não nos causou surpresas demais? – berrou Hermione.

– Dá um tempo vai Hermione! Acho que talvez possa precisar dele... – respondeu Harry, guardando o livro no interior das vestes.

– Ele sabe o que está fazendo Mione. Vamos, é melhor nos apressarmos. – finalizou a discussão Rony.

Hermione parecia muito contrariada, mas achou melhor não discutir mais sobre aquilo, pois o momento não era dos melhores. Harry não queria dizer, pois achava que pareceria bobo, mas sentia como se algo dentro de si o fizera pegar o livro. Como um pressentimento. Mas como? Nunca dera o menor respeito a essas coisas de presságios e adivinhações. Lembrou-se, por um instante, das diversas vezes em que ele e Rony fizeram deveres para as aulas de adivinhação inventando os mais pesarosos desastres que podiam, achando muita graça naquilo tudo. Não tinha certeza se agora realmente desprezava tudo aquilo. Lembrou-se da Professora Trewlaney dizendo a ele que Dumbledore não dava atenção à carta que tirava constantemente: A torre atingida pelo raio. Sentiu uma dor dentro de si, pensando que talvez Dumbledore poderia ter dado ouvidos à Professora de Adivinhação, já que ela mesma havia feito a Profecia sobre Harry e Voldemort.

– Chegamos. – disse Hermione, interrompendo os pensamentos avoados de Harry. – Qual era a senha mesmo?

Varinhas de Alcaçuz. – disse Rony, e a gárgula de pedra que estava imóvel começou a girar, subindo pela parede e revelando uma espécie de escada rolante de pedras em aspiral, na qual os três rapidamente subiram, até chegar à porta da sala que antes fora de Dumbledore.

De repente o coração de Harry disparou. Como é que tinha se esquecido daquilo? Poderia finalmente rever Dumbledore, através do retrato que vira meses atrás, mas naquela ocasião o diretor estava dormindo tranqüilamente em sua moldura de ouro. Bateu na porta

– Entre. – respondeu uma voz que Harry conhecia bem. – Olá! A que devo a honra da visita dos senhores?

Harry reparou que a Professora Minerva parecia ter envelhecido no mínimo uns 5 anos nos últimos meses. Tinha uma aparência cansada, e parecia não dormir a dias.

– Professora, aconteceu algo no casamento de Gui e Fleur. – começou Harry, enquanto Rony sentava-se em uma das cadeiras conjuradas por McGonagall.

– Sim, já estou a par do que aconteceu, Harry. Aliás, acho que todos no país já sabem. Notícias péssimas como essa correm rápido. Sinto muito Sr. Weasley, mas não se preocupe, tenho certeza que em breve ela estará de volta sã e salva.

Harry ouvia a diretora, mas parecia mais interessado no quadro de moldura de ouro que jazia pendurado ao lado da mesa que antes fora de Dumbledore. No entanto, ele continuava dormindo.

– Ele não acordou nenhuma vez. – disse a Diretora, observando o interesse de Harry no quadro, e parecendo um pouco infeliz. – Não sei porquê, não entendo muito dessas coisas, mas sei que desde aquela noite em que apareceu aqui, ele nunca muda de posição, e dorme dia após dia. Mas creio que não tenha sido essa a razão da visita dos Senhores, certo?

– Certo, desculpe. Bem, acontece que Dumbledore me deixou uma carta, a Senhora sabe, não é?

– Sim, inclusive eu a despachei pessoalmente a Lupin dias atrás. Por que?

– Bem, a Senhora se importaria de dar uma olhada?

Harry estendeu a carta para a Diretora, que a lia com atenção, e deixou escapar um pequeno sorriso e murmurando mais pra ela do que pra todos algo como “sempre enigmático Alvo”, e então começou:

– Bem, parece que ele queria que você ficasse com sua penseira... Agora não entendo a que poderia estar se referindo quando disse sobre alguém que lhe foi fiel, e muito menos sobre esse tal bem precioso deixado com seu próprio sangue... Talvez um parente...

– Foi isso que pensamos, Professora. – disse animada Hermione.

– Papai e mamãe não se lembram de jamais ter visto o Professor Dumbledore falar de algum parente vivo antes, mas sabemos que tem o tal irmão Abeforth. – disse Rony, que parecia estar querendo participar da discussão – Ele disse para o Harry algo sobre ele ter tido problemas com o Ministério por ter enfeitiçado umas cabras, não é Harry?

– Isso mesmo. E tenho essa foto aqui da primeira Ordem da Fênix, professora, e aqui está ele.

McGonagall apanhou a foto nas mãos e olhou-a atentamente, como se puxasse pela memória algo de útil para dizer aos garotos, mas depois de alguns instantes, pareceu desistir de forçar os neurônios.

– Sinceramente, também não me lembro desse tal Abeforth. Digo, eu o vi certas vezes durante algumas reuniões da antiga Ordem, mas estou quase certa que nunca chegamos a conversar pessoalmente. Sei que ele “realmente” teve problemas com o Ministério, e talvez tenha sido essa a razão pela qual abandonou a Ordem. Você já tinha nascido, Potter, mas estou certa que ele pediu para se retirar da Ordem antes de você-sabe-quem encontrar seus pais em Godric Hollow. É tudo que me lembro!

– Então a Senhora não faz idéia de onde ele possa estar? – perguntou Hermione.

– Infelizmente não, Sra. Granger. Gostaria de poder ajudá-los mais, mas estou bastante ocupada me preocupando com outros problemas, como o seqüestro de sua irmã, Sr. Weasley. Mas estou certa que a encontraremos em breve, muitos membros da Ordem estão à procura de pistas sobre o paradeiro do menino Malfoy.

Harry olhou para Rony, que parecia ter perdido toda a excitação que o dominava durante a discussão sobre o irmão de Dumbledore. A simples menção do nome de Gina fazia com que ele mesmo, Harry, sentisse uma dor dentro do peito que pareciam pauladas constantes de trasgos montanheses adultos. Eles tinham que se apressar, tinham que fazer alguma coisa para tentar ajudar a Ordem a encontrar Gina, e só então ele poderia começar sua jornada e ir a Godric’s Hollow. Mas não faria isso antes de ter certeza que Gina estava sã e salva em sua casa.

– Bem professora, nós queremos ajudar. Só passamos por aqui para pegar a Penseira.

– Ok, Potter. – respondeu Mcgonagall, levantando-se e indo em direção ao armário que havia logo ao lado da mesa que antes fora de Dumbledore – É sua por direito, mas devo alertá-lo que é extremamente necessário que o Senhor a guarde com todo o cuidado, pois Penseiras são utensílios raríssimos, e se esta cair em mãos erradas, creio que existam feitiços que podem revelar todos os pensamentos já depositados nela. E não queremos isso, não é mesmo?

– Ok. Não se preocupe, ela ficará bem guardada Professora. Agora, bem... tem uma coisa... não sei como usá-la!

– Ah, claro, claro! Tinha me esquecido desse detalhe. Bem, é um feitiço simples, Harry. Tudo que você deve fazer é colocar a sua varinha na sua têmpora, dessa maneira. – McGonagall postou sua própria varinha na cabeça – E você deve se concentrar em qual memória você deseja retirar de sua mente, e, o mais importante: o encantamento deve ser não-verbal. Creio que o Senhor já tenha aprendido a prática de feitiços não-verbais, certo?

– Errr, bem, mais ou menos, pra ser sincero... – respondeu Harry, sem graça.

– Tudo bem, não é uma prática muito fácil mesmo. É normal que os jovens bruxos sintam dificuldades. Tudo que posso aconselhá-lo a fazer é praticar. Bem, o encantamento deve ser pronunciado não verbalmente, como já disse, e as palavras são "Libertus Mente", observe.

A professora McGonagall colocou novamente a própria varinha na cabeça, fechou os olhos por um instante, e, no segundo seguinte, retirava a varinha da cabeça, que agora vinha acompanhada de um longo e prateado fio que parecia fumaça. Ela então depositou o fio de prata na Penseira, que formou uma espécie de névoa acinzentada, nem liquida nem gasosa, e Harry pode ver os rostos dele, Hermione e Rony subindo rapidamente e desaparecendo na fumaça cinza que subia da Penseira.

– Tente você mesmo agora.

McGonagall passou a Penseira a Harry, que olhava atentamente para as inscrições que jaziam na borda de pedra. A língua era parecida com aquela que estava no mini espelho de inimigos que Harry ganhara de Hermione no seu aniversário, pensou ele.

Harry então pousou a penseira na mesa de McGonagall, e retirou a varinha das vestes, e lentamente encostou-a na têmpora, concentrando-se como nunca no momento em que teve aquela estranha visão no casamento de Gui, e então murmurou em sua mente, sem jamais pronunciar as palavras:

Libertus Mente.

Harry sentiu uma sensação engraçada, como se um enorme fio de seu rebelde cabelo estivesse magneticamente grudado em sua varinha, e quisesse desesperadamente libertar-se de seu couro cabeludo. Ele então foi afastando lenta e suavemente a varinha da cabeça, e, pela expressão de satisfação no rosto de McGonagall e aquela inconfundível cara de espanto que era tão característica de Rony, ele havia conseguido. Foi então que ele contemplou o longo e prateado fio que saíra de sua cabeça. Orgulhoso de si mesmo, depositou a lembrança na penseira, que como sempre, começou a rodopiar silenciosamente formando aquela estranha e densa névoa que mais parecia uma nuvem de fumaça prateada.

– Muito bem, Potter! Vejo que o Senhor está pronto para utilizar sua herança apropriadamente. – McGonagall disse alegremente. – Quando quiser esvaziar sua Penseira para que outros não possam ver quais pensamentos ou lembranças depositou nela, use um simples feitiço para terminar o encantamento, um "Finite Incantatem" deve bastar. Mas devo ressaltar que um bruxo poderoso seria capaz de recuperar quaisquer memórias depositadas nessa Penseira, embora seja uma tarefa muito difícil e também um feitiço muitíssimo complicado. De qualquer forma, cuidado nunca é demais...

– Ok, professora, muito obrigado. Creio que isso seja tudo, então. – disse Harry, que levantava-se da cadeira, levantando consigo a Penseira que agora lhe pertencia. – Vamos?

Rony e Hermione apressaram-se em acompanhá-lo, enquanto McGonagall parecia triste em vê-los partindo. Harry pensou que a tarefa de ser a Diretora de uma escola que estava fechada e vazia devia ter feito muito mal para ela, e não pode sentir muito mais do que pena por aquela professora que fora, por tantas vezes, severa com o trio, mas sempre justa.

– Bem, voltem quando quiserem, ok? E se precisarem de qualquer coisa, não hesitem em mandar uma coruja. E Harry – McGonagall agora corria para a porta, onde os três garotos já estavam quase atravessando – Não tente bancar o herói por aí, ok? Se você precisar de ajuda, não hesite em pedir.

De repente, Harry se deu conta de que a Professora fez algo que ele jamais pensara na vida que ela teria coragem de fazer. Ela o abraçou carinhosamente.

– Bem, acho que tudo que me resta dizer é boa sorte.

– Obrigado, professora! – gritou Hermione por cima dos ombros, já atravessando a porta em direção à gárgula que levava aos corredores do castelo.

– Até breve, professora. – disse Rony, saindo nos calcanhares de Hermione.

Harry não disse nada, apenas sorriu de volta para ela. Não sabia porquê, mas sentia que talvez a professora temia pela vida de Harry mais do que ele próprio. E novamente aquela sensação de responsabilidade sobre o mundo mágico abateu seus pensamentos. Definitivamente, muitas pessoas contavam com o sucesso de sua jornada.

– Muito bem, Harry. O que faremos agora? – perguntou Hermione.

– Quero que vocês vejam comigo o que vi no casamento do Gui. Talvez vocês me ajudem a perceber algo que eu mesmo não tenha percebido. E assim que descobrirmos alguma coisa procuraremos Gina. Não podemos deixar a Ordem trabalhando sozinha.

– Harry – chamou Rony, parando de caminhar pelo corredor e olhando para o amigo – Obrigado.

– Obrigado pelo que, Rony?

– Por você adiar a ida a Godric’s Hollow e tudo mais, pela minha irmã... Sabe, nunca achei que diria isso a um garoto, mas tenho certeza que vocês serão felizes um dia! Assim que conseguirmos salvá-la, vocês tem que conversar, tentar se acertar, não adianta mais esconder Harry, a essa altura você-sabe-quem já deve saber tudo sobre vocês. Juntos vocês serão mais fortes, sabe... Isso dá coragem pra gente – Rony encarava Hermione com o canto dos olhos, embora falasse para Harry.

– Ele está certo, Harry. – Hermione também observava Rony, embora se dirigisse a Harry, e naquele momento ambos sabiam a que estavam se referindo.

Harry sentiu uma pontada de dor no coração, mas sabia que os amigos estavam certos. Não fazia mais sentido tentar proteger Gina de Voldemort agora que ela fora capturada e poderia estar, naquele instante, sendo interrogada por Voldemort, que era conhecido, além de muitas outras coisas, por ser um dos maiores Legilimens do mundo.

– Talvez... Mas isso é coisa pra depois, agora temos que nos concentrar em encontrá-la. – disse Harry, envergonhado, mas os amigos sabiam que ele concordara com eles, mesmo silenciosamente.

– Ok. E aonde iremos agora, Harry? – perguntou Rony.

– Acho que a Sala Precisa é um bom lugar para examinarmos meus pensamentos.

E os três partiram em direção ao sétimo andar do castelo, onde poderiam tranqüilamente rever os pensamentos de Harry e tentar saber qual o próximo passo a ser tomado. Caminharam silenciosamente até a tapeçaria dos duendes, e chegando de fronte à parede, Harry entregou a Penseira para Hermione, que a segurou enquanto o garoto andava de um lado para o outro, em frente à lisa parede de pedras, pensando:

“Preciso de um lugar onde eu, Hermione e Rony possamos analisar meus pensamentos na penseira. Preciso de um lugar onde eu, Hermione e Rony possamos analisar meus pensamentos na penseira”.

Como de costume, uma porta se materializou na parede, deixando à mostra aquela maçaneta enferrujada que eles já conheciam há tanto tempo, pois haviam usado a sala durante algum tempo no quinto ano, quando haviam formado a Armada de Dumbledore.

– Vamos. – convocou Harry, e Hermione e Rony o seguiram pra dentro da sala.

A sala estava diferente de todas as vezes que eles já haviam visto. Estava um pouco mais escura, com alguns focos de luzes pendurados em candelabros ao centro da sala, que faziam uma espécie de círculo em volta de um pequeno pedestal de pedra que estava parado exatamente ao centro da sala. Em volta do pedestal, haviam três largas almofadas que serviriam para os garotos se sentarem enquanto analisavam a Penseira. Harry logo entendeu o porquê daquela escuridão: a Penseira agora brilhava violentamente nas mãos dele, destacando-se no escuro que dominava a sala.

– Bom, acho que tem uma pra cada um – disse Rony, sentando-se em uma das almofadas.

– O que fazemos agora, Harry? – perguntou Hermione, sentando-se ao lado de Rony e apoiando uma das mãos no joelho do garoto, que, mesmo estando envolto nas sombras da sala, estava visivelmente vermelho.

– É muito simples. Tudo que vocês devem fazer é tocar com as varinhas nessa névoa dentro da Penseira, e encostar a cabeça na superfície dessa coisa – explicou Harry, indicando os pensamentos que giravam violentamente na Penseira. Bom, eu vou primeiro, assim vocês vêem como fazer.

E então Harry retirou a varinha do bolso interno do casaco e tocou a superfície da Penseira. A pequena visão do jardim da Toca subiu a alguns centímetros da superfície da Penseira, e Hermione deu um pequeno grito de espanto, mas no segundo seguinte desaparecera a imagem.

– Agora é só encostar o rosto aqui, venham.

E dizendo isso, Harry encostou o rosto na superfície suave do próprio pensamento depositado na Penseira, e Rony e Hermione viram uma cena engraçadissima: a cabeça de Harry havia desaparecido, e ele estava suspenso na penseira como se tivesse o corpo inteiro normal, até o pescoço, mas sem cabeça. Os dois se olharam e sorriram por um instante, até Hermione dizer:

– Vamos?

E ela própria já tinha a varinha em punho e tocaria a superfície da Penseira, quando Rony a chamou com pressa.

– ESPERE! – e aproximando-se dela, com as duas mãos em seu rosto, beijou-a rápida e silenciosamente. – Pronto, agora estamos quites. Vamos.

Hermione sorriu alegremente, e ambos entraram de cara nos pensamentos de Harry.

– Uau! Isso é demais, Harry! – exclamou Rony, que olhava ao seu redor e via o jardim da Toca decorado, como se lá estivessem, mas tudo parecia um tanto menos colorido.

– Incrível! Incrível! – Hermione parecia excitadíssima.

– Certo, lá estou eu – Harry apontou para o altar improvisado à frente das cadeiras de jardim. – E você também, Rony. Devo estar te perguntando o porquê de a cerimônia ainda não ter começado. E Hermione está ali, sentada ao lado do Hagrid.

– Eu me lembro! Olha lá, você está voltando para a cadeira, Harry!

– Bom, a qualquer momento agora. Venham, vamos ficar mais perto de... mim!

Eles se aproximaram de Harry, ficando em pé atrás dele, à frente de Fred e Jorge, que falavam alegremente um com o outro. Mas, curiosamente, os garotos não podiam escutar ao certo o que eles falavam. Harry achou que isso se dava ao fato de ele não ter prestado muita atenção neles quando tudo aquilo acontecera de verdade. Talvez só pudesse se lembrar do que realmente vira e ouvira. Era o mais sensato a se pensar.

– Vejam, vejam! O Carlinhos falso está olhando pra mim, ali senti que tinha algo errado no olhar dele...

– Como não percebi isso? – Rony perguntou indignado, socando a própria mão – Ele está com um olhar assassino, é visível!

– Está tudo bem Rony – acalmou-o Hermione.

O Harry da lembrança agora caminhava de volta para as cadeiras, onde sentava e cochichava algo com Hermione, mas os três não deram atenção, pois estavam olhando Fleur adentrar pelo corredor florido do Jardim em direção ao altar.

– Ela está realmente bonita, não é? – perguntou Hermione, mas nenhum dos dois garotos respondeu. Estavam concentradíssimos em cada detalhe do que acontecia ali.

De repente, tudo começou. Um flash rápido pareceu ter atingido o jardim inteiro. Não havia mais ninguém nas cadeiras, só Harry, Hermione, Rony, e o Harry da lembrança.

– Aqui vamos nós, vai começar! Devemos prestar atenção em qualquer detalhe, ok? – exclamou Harry para os amigos, que concordaram com a cabeça.

Carlinhos e Fleur estavam lá no altar, se contorcendo de dor, a taça de cristal quebrada no chão, um pouco à frente das mãos de Gui, que agora apertava seu próprio pescoço violentamente, como se tentando impedir algo que estava em sua boca de descer pela garganta.

– ELES ESTÃO MORRENDO! – gritou rony, e tentou correr para o altar, mas Harry o segurou pela camiseta.

– Calma Ron! É só uma visão, cara! Não é real! Acalme-se!

Então eles o viram, no altar, parado ao lado de Gina, com um olhar maligno no rosto, Draco Malfoy. Estava lá parado, sorrindo maldosamente à visão de Gui e Fleur se debatendo ao chão. Foi então que Hermione viu, mas pareceu não ser capaz de dizer, por isso, apenas apontou, levando a mão à boca em espanto. Apontava para cima da cabeça do Harry da lembrança.

– Ali, Harry! Ali!

Quando Harry finalmente se deu conta para o que a amiga estava apontando, seu estômago pareceu ter caído até a altura dos joelhos. Rony parecia abismado e incapaz de emitir som qualquer. Uma ave muito grande, parecida com um cisne, batia as asas parada a uns 2 metros da cabeça do Harry da lembrança, não piscava, não se movia, apenas mantinha-se voando com o bater das longas asas, deixando um rastro vermelho e dourado no céu. Todos eles a reconheceram imediatamente, e naquele momento eles sentiram seus corpos sendo puxados para o alto por um gancho invisível. Estavam de volta à Sala Precisa, sentados nas almofadas. A lembrança havia acabado. Os três se olharam abismados, incapazes de produzir qualquer som, até que Harry se levantou repentinamente.

– Era Fawkes!

– Mas o que ela estava fazendo lá, Harry? Na sua visão! Como é possível ela estar presente apenas na sua visão?

– Não faço idéia, Hermione!

– Talvez você tenha apenas pensado que a viu, Harry! Talvez fosse uma ilusão... – disse Rony, que parecia ter recuperado o dom da fala.

– Não pode ser! Vocês viram como eu só conseguia ver coisas que estavam realmente ali, não viram? Não pudemos ouvir ao certo o que Fred e Jorge estava falando, porquê naquela hora eu não estava prestando atenção! – Harry falava tão rápido que era difícil para os amigos acompanhar o que ele dizia.

– Mas você também não estava prestando atenção em Fawkes, mas ainda assim pudemos vê-la Harry! Como isso é possível? – perguntou Hermione, e Harry sabia que agora a garota estava se esforçando ao máximo para tentar resolver aquela charada.

– Deve haver alguma coisa que...

Harry parou de falar de repente, como se algo extremamente óbvio estivesse martelando seu rosto. Ele olhou de Hermione para Rony, de Rony para a Penseira, e da Penseira para a porta da Sala Precisa. Dando um tapa em sua própria testa, ele gritou, assustando os amigos.

– Mas é claro! Como sou burro! Rony, pegue a Penseira, por favor, temos que sair daqui!

Rony obedeceu, sem ao menos entender o que o amigo estava fazendo ou dizendo, e ele e Hermione seguiram o amigo para fora da Sala Precisa, e dispararam atrás dele enquanto ele corria pelos corredores.

– Harry! – gritou Hermione – Por Merlin, o que você está fazendo? Onde estamos indo?

– É óbvio, Hermione – ofegou o garoto, parando de frente à porta principal do castelo, onde haviam os enormes javalis de pedra, abrindo-a – “Alguém que me serviu durante anos, com lealdade e pureza, e que atenderá ao seu chamado a qualquer hora, momento, ou situação em que você se encontre” – disparou Harry, recitando de cor a carta que recebera de Dumbledore.

Rony e Hermione pareciam não ter entendido, até que a visão do que o amigo faria explicaria tudo. Já fora do castelo, nos jardins de entrada de Hogwarts, Harry encontrava-se parado, olhando para o céu tímido, sem Sol, mas um grito irrompeu do peito de Harry, cortando o silêncio:

FAWKES!

Ouviram um canto suave. Compelidos pela música maravilhosa que os envolviam, os três viram, mesmo sem acreditar. Uma bela fênix, do tamanho de um cisne, com as penas vermelhas e douradas voava do céu em uma rapidez inimaginável, cortando o ar com suas longas asas, e vinha como uma flecha em direção ao chão, até aterrissar docemente no ombro de Harry, onde ela observou-o por um instante, e fez uma longa reverência ao garoto, que sorriu de volta para a ave, que parecia contentíssima no ombro de Harry. Ele a acariciou na cabeça. Feliz, ele olhou para Rony e Hermione, enxugando as lágrimas que escorriam dos olhos.

– Acho que Edwiges terá uma série crise de ciúmes.

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Desculpem a demora pra postar o capítulo 5, mas esses capítulos especiais merecem ser tratados com carinho especial, certo? Gostaria de pedir encarecidamente aos meus amigos leitores que comentem e votem. São poucos os amigos que têm comentado sobre a FIC, e gostaria de saber o que vocês estão achando. Bem, aguardo os votos e comentários. Um abraço!

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