O Servo Fiel



Capítulo 3
“O servo fiel”


Harry subia as escadas apressadamente, com medo de que sua ausência na mesa fosse notada. Após terminar o café delicioso que há tempos não tomava, já que na casa dos Dursleys tudo que conseguia era passar fome, o garoto decidiu ter uma conversa com Gina, já que as coisas pareciam não ter saído como ele planejara. O garoto achara que após a conversa que eles tiveram no funeral de Dumbledore ela entenderia o porquê de sua atitude, e também seria inteligente o bastante, como sempre fora, para saber que ficando com ele só atrairia perigos para si. Bateu então na porta do quarto da garota, e ouviu resposta.

– Entre, está aberta.

– Gina, será que a gente podia conversar um pouco?

– Claro. Você veio me avisar de algum perigo que estou correndo aqui no quarto sozinha? Ou talvez você-sabe-quem esteja planejando um ataque com mil comensais da morte para buscar a pequena Weasley que ama o Harry Potter? – a garota disparou contra o garoto, perdendo o fôlego após terminar suas queixas.

– Gina... pensei que você teria entendido! Você me pareceu tão compreensiva quando conversamos sobre isso no... bem, quando falamos desse assunto! – o coração de Harry doía ao pensar no enterro de Dumbledore. Não conseguira ainda assimilar sua morte. Nem achava que conseguiria um dia. Decidira, então, simplesmente fingir que nunca acontecera, e não tocar no assunto.

– Pois é, mas pensou errado! Você está sendo egoísta! Quer me proteger de não sei o que aí mas não me deixa ter o que quero! Não me deixa ficar com quem quero. – ela agora se levantara da cama onde estava esparramada e apressava-se para perto de Harry, cujo coração disparara. – Não me deixa ser... sua... – Harry pensou que nunca tivera visto a garota tão linda antes! Mesmo nervosa, era impossível olhá-la e não desejar ter cada parte do corpo dela envolto em seus braços. Ela então encostou sua testa na testa do garoto, e já ia beijá-lo, quando Harry disse:

– Não, Gina! Não podemos! Por favor, não me faça sofrer mais do que já sofro por ter que ficar longe de você... Por favor... – Harry despencara na cama que antes fora de Fred ou Jorge, quarto que agora era de Gina.

– Desculpe Harry, desculpe. Não estou brava com você nem nada, é que, é tudo muito difícil pra mim, entende...

– Pra mim também, Gina. Você nem imagina o quanto... Mas não posso arriscar sua vida, ou Voldemort a teria como uma arma contra mim, e eu não pensaria duas vezes em dar a minha vida pela sua... Agora, queria lhe mostrar uma coisa, mas vamos encontrar Rony e Hermione, quero que eles vejam também.

Descendo então as escadas, eles encontraram Rony e Hermione conversando muito entretidos com Lupin e Olho-Tonto, que aparentemente acabara de entrar na sala.

– Pois é, e agora não se sabe como tudo ficará. – Olho-Tonto dizia – Ah, olá Harry, Gina! Sentem-se, trago notícias não muito felizes, mas acho que lhes interessam também.

– Alguém mais morreu, Moody? – perguntou Gina.

– Não, não, por Merlin! Na verdade, o Ministério decretou o fechamento de Hogwarts duas noites atrás. Bom, já era de se esperar mesmo, mas ainda assim é um baque para todos nós... Minerva está desolada.

– Isso é tão triste! O que faremos agora? Digo, como terminaremos nossos estudos? – Gina perguntou tristemente, largando-se em uma cadeira e quase sentando em Bixento, que pulara da cadeira bem a tempo de não ser esmagado.

– Não sei, fico triste por vocês, mas eu não voltaria mesmo que reabrissem a escola. – disse Harry.

– O que você quer dizer com isso, Potter? Não ia voltar pra escola? O que é que anda passando pela sua cabeça, garoto? Você precisa terminar os estudos! – disse bruscamente Olho-Tonto.

– Tenho outras coisas com que me preocupar, Moody. Não poderia mesmo perder tempo cursando meu sétimo ano enquanto pessoas são mortas em todas as esquinas do país. Tenho uma missão a cumprir...

– Entendo... Parece que Dumbledore realmente lhe deu algo importante com o que se preocupar, han?

Harry se lembrara de repente, havia se esquecido por alguns momentos.

– Ehhh, com licença Moody. Ron, Mione, Gina, querem vir comigo aqui em cima?

Quando chegaram no andar de cima, Harry mostrou para os garotos a carta de Dumbledore, explicando tudo sobre o tal testamento e sobe a carta que deixara a Harry. Prontamente Hermione começou a refletir e pensar, quieta, como sempre, analisando palavra por palavra do que estava escrito.

– Me parece que você vai ganhar algumas coisas legais, hein Harry! Agora de resto, não entendi muita coisa não... Ele sempre foi muito enigmático mesmo, não é? – comentou Rony, que agora se preocupava em checar alguma coisa na parte de trás da calça de Hermione.

– O que será que ele quis dizer com tudo isso, Harry? Você não faz idéia?

– Algumas coisas sim, Gina, outras não...

– Bom, algumas coisas são potencialmente claras Harry. Primeiro, ele escreveu essa carta depois de lhe mostrar todas aquelas memórias, e de lhe dizer tudo que sabia sobre os Horcruxes. Depois, as palavras de carinho e sabedoria de Dumbledore sempre têm algum fundo moral relacionado aos acontecimentos mais recentes, não é mesmo?

– Traduz isso por favor, Hermione! – indignou-se Rony, Harry e Gina riram.

– Ela quer dizer que se ele disse essas palavras de consolo e deu alguns conselhos, Rony, é porquê sabia que Harry precisaria deles. E também parece, não sei, talvez que ele já...

– Sabia que morreria, sim... – concluiu Hermione, concordando com a linha de raciocínio de Gina.

– Mas como isso é possível? Se ele soubesse, teria evitado! – acrescentou Rony, que parecia confuso demais.

– Não, acho que não. Dumbledore me disse, no primeiro ano, que a morte não era algo a ser temido. Ele me disse isso porquê eu perguntei a ele sobre Nicolau Flamel, que havia destruído sua Pedra Filosofal e havia perdido sua imortalidade. Lembro de ele ter me dito exatamente o que disse nessa frase: “para a mente bem estruturada, a morte é apenas a próxima grande aventura”. – lembrou-se Harry, pegando a carta e examinando-a atentamente uma vez mais.

– Por que então ele não avisou pra ninguém que poderia morrer, se desconfiava? – questionou Rony.

– Provavelmente por não querer preocupar ninguém, e principalmente você, Harry. Acho que ele sabia que havia lhe passado um duro fardo, e não queria ser mais um peso em seus pensamentos. – Hermione concluiu tristemente, percebendo o olhar de angústia de Harry.

– Ele disse que eu saberia por onde começar a jornada. É Godric’s Hollow, tenho certeza. E... ele também tinha... mas por que não me disse nada? – indagou Harry, mais para si do que para os outros.

– Talvez ele esperasse que você juntasse algumas peças desse quebra-cabeça sozinho, Harry. Ele confiava na sua inteligência. – exclamou Gina, acariciando os cabelos de Harry.

– Quanto aos bens, creio que a penseira não será difícil de conseguir, não é Harry? Mostrando essa carta para a Profª McGonagall ela lhe entregará sem questionar nada, eu acho.

– Espero que sim, Rony. Ele realmente queria que eu continuasse a praticar Oclumência. Ainda bem que não deixou escrito para que eu pedisse para Snape me ajudar, ou rasgaria essa carta em um milhão de pedaços. – exaltou-se Harry.

– Acho que ele refere-se não só a Oclumência, mas também a feitiços não-verbais, Harry. – salientou Hermione

– Bom, tive trabalhando neles o verão todo, acho que já fiz alguns progressos.

– Muito bem, Harry! Muito bem! Vejo que não foi somente para desenvolver a habilidade de praticar Maldiçoes Imperdoáveis que você utilizou seu tempo no verão!

– Ah, por favor Hermione, de novo não! – Rony parecia desesperado – Já passamos por esse assunto, ok?

– Que história é essa, Harry James Potter? – perguntou Gina, olhando para Harry de uma maneira que muito lembrava a Sra. Weasley.

– Depois Gina, ok? Depois lhe conto a história toda. Vamos nos concentrar aqui, tudo bem? – pediu Harry

Gina deu de ombros, e então o garoto voltou a pensar alto nas palavras da carta do Ex-Diretor de Hogwarts.

– “Alguém que me serviu durante anos, com lealdade e pureza”. De quem será que ele está falando? Espero sinceramente que não seja de Snape, porquê se for...

– Pelo amor de Deus, Harry! Você não para de pensar nele! Você ouviu o que Lupin disse, não ouviu? Tanto ódio assim pode prejudicar você. Pode atrapalhá-lo na sua missão, e desvirtuar você do bom caminho Harry. Você tem que se concentrar em como destruir Voldemort, Harry! E não nutrir um ódio que, apesar de todos nós agora também compartilharmos por Snape, não vai ajudar a descobrir onde estão os outros Horcruxes! – Hermione disse em tom severo.

Harry odiava admitir, mas a garota estava certa, como sempre.

– Talvez ele se refira a alguém próximo a ele, alguém da Ordem... – divagou Hermione – Mas, quem poderia ser?

– A McGonagall? – apressou-se em dizer Rony – Ah, não faz essa cara Hermione, quem mais era tão próximo de Dumbledore e sempre estava lá pra ocupar sua posição quando ele não estava presente? Poderia sim ser McGonagall!

– Sinceramente, acho que Dumbledore não deixaria em seu testamento uma pessoa de presente para Harry. É meio estranho não acha Harry? – concluiu Gina.

– Também acho. Não é o tipo de coisa que Dumbledore faria, mas não tenho certeza. Depois ele diz que “meu mais precioso bem deixo a você com meu próprio sangue”. Será que é alguma espécie de encanto? Bem, na caverna com o Horcrux falso tínhamos de depositar sangue nosso para conseguir atravessar a entrada e...

– Por Merlin, Harry! Você acha mesmo que Dumbledore faria algo desse tipo? Isso é Magia Negra pesada... – Hermione parecia assustada ao explicar – não são todos os bruxos das trevas que conseguem realizar esse tipo de feitiço. Só os poderosos. É um encantamento muito cruel!

– Foi exatamente o que ele me disse naquela noite. “Oh, não, Tom... Tão cruel”. – Harry sentara-se na cama desolado, lembrando dos últimos momentos de Dumbledore com ele na caverna.

– Talvez ele queira dizer algum parente. – Gina empolgou-se – Claro, só pode ser isso! “Deixo com meu próprio sangue”, ele quis dizer que deixaria com algum parente, e que esse alguém talvez só entregaria o que quer que for a Harry!

– Isso, Gina! Brilhante! – exclamou Hermione, aplaudindo a amiga, que corou levemente.

– Estranho... Não me lembro de papai, mamãe ou até mesmo Dumbledore jamais ter mencionado que ele tinha algum parente vivo... – Rony tentava puxar pela memória algo que talvez estivesse passando desapercebido, mas realmente jamais ouvira alguém mencionar quaisquer parentes vivos de Dumbledore.

– Mas eu sim! Venham! – Harry apressou-se à porta do quarto, descendo as escadas de dois em dois degraus, e parando de frente a Moody, que deu um pulo na cadeira e assustou-se, engasgando, quando o rapaz disparou de uma vez:

– Moody, por favor, preciso daquela antiga foto da Ordem da Fênix! Aquela em que estão meus pais e os Longbottom!

– Mas que diabos, Potter! Você me assustou... – Moody então levantara – Ela está na sede da Ordem, na sua casa no Largo Grimmauld. Posso buscá-la mais tarde para você.

– Obrigado Moody! Bem, desculpe pelo susto, é que acho que descobri algo interessante na carta de Dumbledore... Você se lembra de ter me mostrado aquela foto dois anos atrás, e ter me dito que havia um homem que era irmão de Dumbledore, mas que você não tinha visto ele mais que duas vezes?

– Claro, Potter, estou velho e com apenas uma perna boa, mas não estou lelé da cuca ainda. Era Abeforth Dumbledore. Sujeito estranho... Acho que o vi não mais de duas vezes mesmo! Uma foi quando tiramos a tal foto, e outra, bem, não me lembro bem onde, mas acho que foi só de relance, ele estava passando com alguma coisa nas mãos e se despedia de Dumbledore, mas já fazem muitos anos. Dumbledore nunca falou muito do tal irmão. Parece que ele chegou a ter problemas no Ministério por ter enfeitiçado umas cabras, não sei ao certo.

– Abeforth... – Harry repetiu. Ele não entendia o porquê Dumbledore jamais mencionara coisa alguma sobre o irmão, mas agora já não adiantava. Ele teria de descobrir por si mesmo. – Obrigado, Moody. De qualquer forma, quando puder, gostaria sim de dar uma olhada naquela foto.

– Claro, posso apanhá-la mais tarde sem problemas.

– Obrigado!

Naquele instante a Sra. Weasley entrou na sala apressada, pedindo a Gina e Hermione que a ajudassem com os últimos preparativos para o casamento do dia seguinte, parecia que seria uma festa das grandes! Os gêmeos estavam fazendo um bom dinheiro com a loja de logros, e pareciam ter ajudado muito com toda a preparação do casamento.

– Onde estão Fred, Jorge e Carlinhos, Rony? – perguntou Harry.

– Bem, Carlinhos está na Romênia, terminando alguns afazeres antes de vir para o casamento. Acho que ele deve estar chegando esta noite. Fred e Jorge estão na loja de logros, dizem que não podem perder um dia sequer pois as vendas estão aumentando muito. Você já viu como está lá fora? É o máximo, cara! Nunca pensei que teria um jardim tão grande!

O jardim da toca já estava todo preparado com cadeiras de jardim espalhadas em longas fileiras com aquele corredor tradicional no meio, por onde entrariam os noivos e padrinhos. Harry achou que o jardim estava enfeitiçado para parecer maior, ou então os Weasleys estavam esperando uma verdadeira multidão para a celebração do casamento. Foi andando por esse mesmo corredor que ele viu Gui sentado em uma das primeiras cadeiras, olhando para as mãos, com seu rabo de cavalo bem preso e penteado, parecendo não se dar conta de que todos corriam para lá e para cá com flores, enfeites e encantamentos para preparar o altar do casamento.

– Tarde Gui! – disse Harry – E aí, como vão as coisas? Ansioso?

– Ahn? Ah, sim Harry! Senta aí! – convidou Gui.

– Ta tudo bem, Gui? Você ta preocupado com o casamento?

– Bem – sorriu Gui, e então Harry reparou que o rapaz parecia muito mais peludo e velho olhando-o mais de perto –, na verdade ando meio cansado, sabe? Depois da luta com o maldito Lobisomem, tenho me sentido muito cansado. As feridas se fecharam até que rápido. Algumas cicatrizes restaram, mas nada muito preocupante. Madame Pomfrey, mamãe e Fleur cuidaram muito bem de mim, mas, acho que já não sou aquele jovem bem disposto de sempre! Mas não vá dizer isso por aí, Harry, ou então Fleur acaba desistindo da coisa toda! – brincou Gui, sorrindo e dando um leve safanão no ombro de Harry.

– Você acha que, talvez, tenha se contaminado Gui? – Harry parecia envergonhado e receoso ao perguntar.

– Ah, não Harry... Lupin disse que eu não fui mordido por Greyback em seu estado de Lobisomem, então, talvez sejam apenas pequenas seqüelas mesmo. Mas não posso me negar que esteja sentindo vontade de mordê-lo agora. – Gui fez uma cara de assassino, que fez Harry se levantar de baque. – Hahahaha, é brincadeira, Harry, não esquenta, ta tudo bem! Mas valeu pela preocupação. Quero ver você na primeira fila amanhã, ok? – e dizendo isso o rapaz levantou-se, e seguiu para dentro da casa, mancando, e Harry ficou observando-o, sentindo que talvez realmente Gui jamais seria o mesmo.

– Sua cicatriz tem doído, Harry?

Harry então virou-se para ver quem perguntara, esquecendo seus pensamentos sobre Gui e Fenrir, e virou a tempo de responder a Lupin.

– Não, na verdade, já faz um bom tempo que não dói e que não tenho mais sonhos ou visões de Voldemort.

– Isso é bom. Creio que talvez Voldemort tenha percebido que...

– Deixar eu adentrar em sua mente seria perigoso? Sim, Dumbledore disse a mesma coisa... – completou Harry, deixando Lupin com aquele seu tradicional sorriso no rosto.

– Sabe Harry, se você me permite dizer, Dumbledore confiava muito em você. – Lupin agora tinha as mãos nos ombros de Harry, e o encarava como um homem, não como seu aluno ou como um garoto órfão, como todos costumavam encará-lo. – Ele sempre disse que o que fazia um verdadeiro bruxo eram suas atitudes, sua honra, humildade, e capacidade de amar. Poderes excepcionais em feitiços e encantamentos eram apenas meros detalhes. Ele me disse pessoalmente, por várias vezes, que chegaria a hora em que nenhum de nós poderíamos mais nos colocar em sua defesa, ou fazer algo qualquer em seu lugar. Que você se levantaria como um homem, como o grande bruxo que ele tinha certeza que você era, e então encararia seu destino bravamente. E quando esse dia chegasse, nenhum de nós deveria colocar-se à sua frente para tentar impedi-lo. Olhando pra você hoje, Harry, tenho certeza que mais uma vez Dumbledore estava certo. – e com um gesto afetuoso, Lupin apertou a mão de Harry – seus pais teriam muito orgulho do homem que você se tornou. Sirius também. E eu também tenho Harry.

Harry observou Lupin se distanciando e indo encontrar Tonks em um abraço, antes de ajudá-la a carregar uma enorme bacia com frutas, e procurava entender o porquê de palavras tão tocantes de repente, mas ficou feliz com si mesmo, sentiu-se confiante, e sorriu, orgulhando-se de ter amigos tão especiais como os que tinha. Não poderia falhar em sua missão. Tinha que acabar com aquela onda de mortes e violência, pois não agüentaria ver mais um de seus amigos morrendo para tentar salvá-lo ou então para defender-se de Voldemort.

Tinha que encontrar os Horcruxes, e ele não parava de repetir para si os quatro Horcruxes faltantes: a taça de Helga Hufflepuff, o medalhão de Slytherin que fora roubado da caverna pelo tal R.A.B., Nagini e algo de Gryffindor ou Ravenclaw. Depois de destruir a todos, ele enfrentaria a sétima e última parte da alma de Voldemort: aquela que habitava o corpo do bruxo.

Foi então que em um súbito flash em suas vistas Harry teve a visão ofuscada por uma densa e escura névoa que revelou algo que parecia ser um enorme cisne avermelhado voando por cima de uma enorme torre. Mas, no segundo seguinte, a visão desaparecera. O que foi aquilo? Certo de que talvez tivesse imaginado aquilo, tratou de ignorar a visão, e foi encontrar Rony, Hermione e Gina, que estavam agora ajudando a arrumar a cozinha da Toca. Saiu cantarolando uma canção que não conhecia, mas que parecia vir de dentro dele mesmo.


***


Em uma sala muito escura, onde não era possível saber quando as paredes se encontravam com o teto, um homem forte e alto estava aos pés de uma poltrona muito velha e rasgada, e segurava em suas mãos um capuz preto que antes cobrira seu rosto. Ele parecia muito envergonhado, e dirigia-se ao homem sentado na poltrona com um misto de medo e respeito.

– Por que você está tão apavorado Goyle? – a voz fria e estridente de um homem sentado na poltrona velha quebrou o silêncio, cortando o ar como um sibilar de uma cobra.

– Oh, mestre, não estaria apavorado diante da presença de Milorde! É apenas respeito, meu amo.

– Não seja tolo, Goyle. Posso ver através dos seus olhos, através da sua alma, e sinto o cheiro do seu medo como um fedor insuportável! Vamos, agora me diga exatamente o que aconteceu naquela casa, e conte-me os detalhes desta vez! – levantou a voz aquele homem com olhos vermelhos cintilantes, que ao invés de nariz, tinha uma fenda, que lembrava muito as feições da cobra que repousava aos pés de sua poltrona.

– Foi como lhe disse, Milorde, o garoto Potter estava escondido no armário trouxa de seu quarto, e quando eu e Crabbe entramos pela porta, nos pareceu que ele estava dormindo em sua cama, mas na verdade eram travesseiros embaixo de uma coberta...

– Dois de meus servos, treinados por mim nas Artes das Trevas, enganados por um truque barato de um bruxo de dezessete anos! Isso é tão inadmissível, Goyle... Continue, explique-se. – Lord Voldemort agora levantara, e deixara sua cobra Nagini para trás, sibilando como se conversasse com seu amo.

– E então, o garoto desarmou Crabbe com um feitiço, e me paralisou com outro, mestre! Foi tudo muito rápido, não pude agir! Não esperávamos que ele estivesse dentro daquele armário, esperando por um ataque!

– Crabbe fez o que mandei? Provocou-o até despertar-lhe a ira?

– Sim, Milorde. E creio que isso tenha lhe custado a vida. Potter estava preparado para usar... as Maldições Imperdoáveis, mestre.

Como se já esperasse pelo que ouvira, Lord Voldemort virou-se instintivamente para Goyle, que estava com a testa entre as mãos, como se quisesse esconder sua vergonha.

– Quais maldições ele usou, Goyle?

– Duas. A Cruciatus e a Maldição da Morte, meu amo. Além de um outro feitiço, um que eu jamais havia visto sendo praticado, acho que ele mesmo o inventou, Milorde, embora tenha dito algo sobre avisar Snape que “seu feitiço era útil”, não pude entender bem Milorde, estava com o corpo de Crabbe... e... ele disse para que eu voltasse, dizendo ao Milorde que ele mesmo o encontraria quando fosse a hora...

– Cale-se, idiota! Agora suma, enquanto minha misericórdia não se esvai e não lhe mando fazer companhia ao seu outro amigo incompetente! SUMA! – e Lord Voldemort acenou sua varinha como se esbofeteasse Goyle, e esse foi lançado duramente contra uma porta que jazia do outro lado do quarto escuro, e então ele se levantou, e partiu. – Moleque insolente! Pensa que pode vir desafiar-me... Creio que você possa me dizer que feitiço é esse – disse Voldemort, virando-se para o lado mais escuro do quarto.

Então surgiu da escuridão do quarto um homem com os cabelos negros oleosos, e com o rosto muito branco, usando uma capa preta que lhe dava os ares de um morcego. Ele respondeu rispidamente:

– Sim, Mestre. Eu mesmo o desenvolvi, na minha época de escola.

– E o que ele faz? – Voldemort agora se aproximava de Severo Snape, como se deslizasse pelo chão sem precisar tocá-lo para locomover-se.

– É um feitiço contra inimigos, Senhor. Uma real convocação de lâminas afiadas que mutilam o corpo do inimigo. Chamei-o de Sectumsempra.

– Engenhoso, meu servo fiel... Muito engenhoso. Parece que subestimamos, uma vez mais, o meu detestável garoto-cicatriz. Ouso perguntar como ele conhece o tal feitiço, se você mesmo o desenvolveu? Não sabia que você costumava ensinar-lhe mágica das trevas!

– Jamais, meu amo! Jamais ensinaria coisa alguma àquele moleque metido! Não saberia lhe dizer como ele tem conhecimento do feitiço, Milorde. Potter usou-o contra o garoto Malfoy no ano passado, e tentou usá-lo contra mim quando saíamos de Hogwarts. Não sei como e onde descobriu o encantamento...

– Pensei ter visto, dois anos atrás, ódio escondido em sua mente. Mas jamais pensei que esse ódio despertaria tão intensamente após a morte de seu mentor intelectual. Dumbledore era, como pensei, um bloqueio ao lado perverso que habita a mente do garoto. Mas agora, já não há proteção suficiente a ele. Em breve, encerrarei a tal profecia de uma vez por todas!

– Se o senhor me permite colocar, Mestre, não creio que isso se repita. Agora mesmo ele deve estar se lamentando até o fim das forças por ter torturado e matado um de seus servos. Conheço-o muito bem, Milorde, e sei que não é capaz de feitos tão impressionantes. É apenas um asqueroso e enxerido moleque, que conta com a ajuda de amigos mais habilidosos para se safar de nossas armadilhas.

– Severo, Severo! Não o subestime desta forma... – Voldemort o encarava com um olhar penetrante, como se estivesse tentando adentrar em Snape pela janela dos olhos. – Com a mente sempre fechada, não é Severo! Têm medo de abri-la para mim? Têm medo que eu vague pela imensidão de seus pensamentos sórdidos, ardiloso servo?

– Nunca, meu mestre. Sabe que sou fiel, e nada tenho a esconder, a não ser meu remorso por não poder servir-lhe melhor do que consigo...

– Sempre bom com as palavras, não é? Acontece que há muito venho percebendo que sua mente está constantemente fechada durante nossas conversas, Severo. Não seja tolo de mentir para mim, pois Oclumência jamais o protegerá de Lord Voldemort! És ainda fiel?

– Irredutivelmente, Milorde! Pensava já ter provado isso deveras vezes, mas sinto que vossa confiança permanece abalada, mesmo tendo eu dado cabo de um dos vossos maiores inimigos!

– É verdade, é verdade... – divagou Lord Voldemort. – Explique-me então a razão de sua mente se fechar em minha presença, e terá minha confiança, como sempre a teve, e compartilharei os próximos passos de meu plano.

– Milorde, como o Senhor sabe, o velhote Dumbledore era um excelente Legilimens, mas claro, nada comparado ao Lord Escuro! Era sempre mui árdua a tarefa de permanecer em sua presença sem a utilização da Oclumência! Ele poderia, a qualquer momento, adentrar minha mente e descobrir a quem realmente se prostrava minha lealdade! Acabei, então, por desenvolver o método definitivo da Oclumência, meu mestre! Essa é a única razão de minha mente estar constantemente fechada. Pensei que o agradaria com mais essa habilidade, que muito me foi útil para prestar-lhe meus serviços...

– Claro, claro... – Voldemort agora sentara em sua poltrona, observando e acariciando Nagini, sua enorme cobra. – Receio que a esta altura, seu querido protegido já esteja pronto para executar sua segunda missão, certo?

– Certamente Milorde! E o Senhor não se decepcionará desta vez, tenho certeza. Não se arrependerá de ter-lhe dado uma outra chance, posso garantir-lhe Mestre.

– Espero que sim, Severo. E espero que as informações que ele nos passou sejam verdadeiras. Se, no entanto, ele fracassar novamente, morrerá. E não ouse... ajudá-lo desta vez. Muito me custaria ter de perder seus serviços tão úteis! Mas se tentar se intrometer mais uma vez na tarefa do rapaz, Severo, não terei misericórdia. Entendeu?

– Claramente, Milorde. Só o ajudei da outra vez por ter feito um Voto Perpétuo com Narcisa, e não queria ter de quebrá-lo e me ausentar dos seus serviços eternamente. Somente isso!

– Compreendo. Então trate de manter-se longe de Votos Perpétuos Severo. E que Narcisa deixe uma vez por todas de bancar a mãe em meus serviços, ou sentirá o peso da fúria de Lord Voldemort.

– Certamente, Senhor.

– Agora vá, trate de chamar o rapaz à minha presença.

E girando nos calcanhares, Severo Snape partiu da presença de seu amo, com o mesmo olhar ríspido e a boca crispada que lhe eram característicos. Voldemort levantara-se uma vez mais, e acariciando Nagini, que sibilava freneticamente, exclamou em uma língua que parecia muito com o som que a própria cobra produzia:

– Mas eu sim, Nagini... Acalme-se agora...

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