A Carta



Capítulo 2
"A Carta"


– Não acredito nisso, Harry! Como você conseguiu? – indagou Hermione, incrédula e amedrontada.

– Dá um tempo, Hermione! Ele tinha de se defender, não é mesmo? – respondeu Rony, que estava deitado na sua cama, observando Harry com profunda admiração, que brincava com as gotas de água que escorriam na janela do quarto de Rony. – Era ele, ou eles!

– Mas não precisava usar as... Maldições Imperdoáveis – sussurrou Hermione – precisava Harry? Quer dizer, você pode ser mandado para Azkaban por isso!

– Não acredito que serei, Hermione. – bocejou o garoto – Estive praticando as Maldições durante todo o verão, e jamais recebi uma carta ou aviso qualquer que fosse do Ministério da Magia. E mesmo que tivesse recebido, não me importaria. Só há uma coisa que importa agora. Preciso encontrar os Horcruxes.

– Harry, você sabe como todos reagirão ao saber o que aconteceu, não sabe? – perguntou Hermione.

– Não importa, Mione. Fiz o que tinha que fazer, e não me arrependo, sinceramente... E amanhã, depois do casamento, vou para Godric’s Hollow.

– Iremos com você, Harry.

– Não vou impedí-los, mas também quero que avise sua mãe que você está indo por livre e espontânea vontade, Ron... Não quero que ela pense que estou obrigando você a ir comigo.

– É Harry, mas eu preferiria que você não usasse maldições imperdoáveis perto de mim. – exclamou Hermione.

– Ah, dá um tempo vai Hermione! – irritou-se Rony – Ele já teve problemas demais pra ficar se preocupando com qual tipo de feitiço usar e qual não usar. Isso salvou a vida dele!

– Hermione... Eles são Comensais da Morte, não elfos domésticos, ok? – respondeu Harry, agora observando o olhar de raiva de Hermione pela comparação.

– Harry, como você conseguiu usá-las? Porquê pelo que me lembro, as palavras de encantamento não significam nada sozinhas, é preciso “querer” usá-las...

– Eu quis. É como o feitiço do Patrono, Hermione. Tudo parte de um pensamento que carregará a força do feitiço. No caso do Patrono, são pensamentos alegres, de felicidade extrema. Nas maldições imperdoáveis, o ódio.

Rony e Hermione se entreolharam, mas foi a garota que perguntou o que ambos queriam saber.

– É nele que você pensa, não é Harry? Em Snape?

– Sim. E é uma ótima inspiração! – riu sombriamente o garoto.

– Inspiração? Ah Harry, por favor!

– Bom, concordo com ele Hermione. Não deixa de ser uma inspiração! – cutucou Rony.

– Bom, de qualquer forma, Harry, feliz aniversário... Comprei isso pra você. – disse ela, jogando um enorme pacote na mão de Harry.

– Obrigado, Mione! Não precisava se incomo... UAU!!! O que é isso, Hermione? – perguntou o garoto, segurando em suas mãos o que parecia ser um enorme espelho de dois lados, com inscrições em suas bordas em uma língua que o garoto não podia ler.

– Isso é um mini espelho de inimigos, Harry. Igual ao que Olho Tonto, bem, o farsante que se passava por ele tinha.

– Se esse é um mini, imagino como seja o original... – exclamou Rony, pegando o espelho das mãos de Harry e observando-o com curiosidade. – O que são essas coisas escritas, Hermione?

– São os encantamentos que produzem os efeitos no espelho, Rony. Você saberia se tivesse cursado Runas Antigas em Hogwarts, ao invés daquela idiotice de Adivinhação!

– Bem, fico feliz que você tenha cursado então... – Rony sorriu para a garota, que por um momento olhou-o com profundo interesse, retribuindo o sorriso, até que Harry interrompesse o momento mágico:

– Vocês se lembram de que eu ainda estou aqui?

– Ok, ok, desculpe Harry... – respondeu Hermione muito sem graça.

– Bom, Harry, o meu é bem mais simples, mas espero que goste. – Rony apressou-se em entregar um pequeno pacote mal embrulhado, que parecia ter sido pisoteado por um hipogrifo.

– Obrigado Rony! – pulou da cama Harry, ao ver a coleção de cards de quadribol que Rony lhe dera. Mas... espera aí... esses não são os seus cards?

– São, errr, bem, não tive dinheiro pra comprar novos, desculpe.

– Não posso aceitar Rony, são seus!

Harry já os devolvia ao garoto, quando Rony exclamou:

– Harry, se você morrer nessa missão suicida, pelo menos saberei que alguma vez na vida te dei um presente que gostou!

Os dois riram, e Harry achou melhor não discutir com o garoto, já que lhe era muito conveniente guardar o presente de que tanto gostara. E os dois ainda riam quando a porta do quarto se escancarou e uma mulher pequena, com os cabelos presos e incrivelmente ruivos entrou no quarto.

– Harry, querido! Ah, pelas barbas de Merlin, soube o que aconteceu! Como você está? Eles te machucaram? – a Sra. Weasley o apertava em um abraço tão forte, que fez o garoto pensar em nunca se meter em encrencas novamente. – Feliz aniversário, querido!

– Obrigado! Estou bem Sra. Weasley – livrou-se do abraço Harry –, eles não me fizeram nada. Consegui me... defender... bem.

– Estou tão orgulhosa de você, querido! Pouquíssimos conseguiriam enfrentar dois comensais experientes e os fazer correr, Harry! Seus pais ficariam tão orgulhosos! Dumbledore ficaria tão orgulhoso de você!

A simples menção do nome de Dumbledore fez com que o garoto sentisse um aperto no coração que sentira todo o verão. O que seria dele agora que o seu diretor, seu amigo, seu protetor se fora? Nutrindo o ódio por Snape, que matara o diretor covardemente, Harry conseguira desenvolver habilidades incríveis durante o verão, como as maldições imperdoáveis, feitiços não-verbais e até mesmo Oclumência. Sentia que, depois de muito relutante quanto ao assunto, finalmente estava conseguindo começar a fechar sua mente.

– ... E é por isso que confiamos em você, Harry! – concluiu a Sra. Weasley, que falava sem que Harry a ouvisse, já que estava demasiado ocupado com seus pensamentos e aflições.

– Mas me diga, querido, que feitiços usou para espantá-los? Quais deles o atacaram, você reconheceu algum?

– Eu bem, é, reconheci sim, eram Crabbe e Goyle... – Harry não conseguia pensar em como dizer a Sra. Weasley que infringira no mínimo uma dúzia de leis mágicas na noite anterior.

– E como os espantou, Harry?

– Ah, foi simples, porquê ... errr, na verdade eu ...

– Harry! Soubemos há pouco o que aconteceu, como vai? – Lupin entrou no quarto acompanhado de perto por Tonks e pelo Sr. Weasley, e todos pareciam estar muito felizes em ver Harry bem para notar o quanto o garoto estava grato por terem interrompido o interrogatório da Sra. Weasley.

Ela, porém, parecia ter farejado algo, pois encarava o garoto com um olhar inconfundível, como se soubesse que ele tinha feito algo errado. Mas ela logo virou, e desceu as escadas dizendo algo sobre ter de preparar o café porquê todos estavam muito desnutridos.

– Muito boa, garoto! E feliz aniversário! – Tonks dera um esfregão em seus cabelos, despenteando-os ainda mais, se é que isso era possível, e seguiu atrás da Sra. Weasley. Ela já não parecia cansada e triste como no ano anterior, quando sofria de amores por Lupin. Agora, parecia estar muito feliz e seus cabelos haviam retomado a cor chiclete.

– Incrível, Harry, incrível. Devo dizer que estou extremamente orgulhoso de você. Até mesmo os aurores teriam dificuldade em atracar-se com Crabbe e Goyle. Bem, eles não têm nada na cabeça, é verdade, mas ainda assim são comensais perigosos a serviço de Voldemort, e todos sabem que... – enquanto o Sr. Weasley divagava suas idéias e exteriorizava seu orgulho por Harry ter se safado de mais uma, Lupin olhava de maneira muito estranha para Harry, como se o observasse de dentro para fora.

– Há algo que devamos saber, Harry? Algo que talvez você ainda não tenha contado? – questionou Lupin, que parecia saber de algo mais.

– Acho que não, por que? – mentiu Harry, mesmo que sua cara provasse que ele escondia sim algo.

– Ah Lupin, você não quer dizer que tenha algo a ver com aquilo, quer?

– Aquilo o que pai? – perguntou Rony, agora dirigindo-se ao Sr. Weasley, tentando acobertar o amigo. Pena que fora um passo em falso.

– Bem, na noite passada o Controle de Detecção e Regulamentação Mágica do Ministério detectou o uso de três maldições imperdoáveis e um feitiço desconhecido em um ser humano. E se estamos vendo Harry aqui, tão bem, Remo, não pode haver ligação. Aposto que em breve saberemos que os comensais da morte atacaram em algum lugar. Além do que Harry jamais usaria...

– Fui eu sim, Sr Weasley.

O Sr. Weasley ainda tinha o sorriso cravado no rosto quando Harry, sabendo que não poderia esconder por muito tempo, começou a falar.

– Usei as duas maldições imperdoáveis. Mas não usei a terceira. Meu tio disse que minha tia estava estranha, acho que talvez Crabbe tenha usado a Imperius nela.

Lupin olhava para os sapatos, com as mãos nos bolsos, e o Sr. Weasley parecia muito espantado para ter qualquer reação. Rony e Hermione apenas observavam.

– Bem Harry, e quais você usou? – perguntou Lupin

– Usei a Cruciatus...

– Duas vezes, Harry? – o Sr. Weasley parecia ter acordado do transe.

– Não, uma vez só, em Crabbe...

– Mas se você disse ter usado duas maldições, Harry? Usou a Imperius também? – questionou Lupin, que parecia já saber a resposta.

– Não. Usei... a... Maldição... da Morte...

O olhar de espanto do Sr Weasley cortou Harry como as facas invisíveis do feitiço desenvolvido por Snape. Ele poderia agüentar ser esfolado vivo por comensais, sofrer as dores da maldição Cruciatus de Lord Voldemort, mas ver que uma das pessoas que se importavam com ele chocado e enojado, era demais para ele.

– Precisava me defender, Sr. Weasley! Eles me levariam para Voldemort – o garoto continuou, ignorando os rostos contorcidos de todos à simples menção do nome de Tom Riddle –, e eu não teria a sorte que tive todas as outras vezes, entendem?

– Harry, isso é algo muito grave. Em vários aspectos. – começou mui calmamente o Sr. Weasley – O ministério pode querer apurar aquilo mais afundo, e certamente você seria mandado para Azkaban se eles descobrirem.

Hermione olhou para Harry com aquele seu famoso olhar de “não disse Harry, não disse?”, mas logo o desviou, não era a hora para aquilo.

– E Harry – Lupin agora falava ao garoto, segurando-lhe o ombro – isso pode significar uma fraqueza.

– Uma fraqueza? Como uma fraqueza se eu consegui desenvolvê-la perfeitamente? Lancei não uma mais duas maldições imperdoáveis perfeitamente! Que fraqueza há nisso? – Harry parecia transtornado ao tentar explicar-se. Afinal, tivera salvado sua vida da morte certa, e fora eficaz ao fazê-lo.

– Uma fraqueza no seu espírito bom, Harry. Por mais que sua intenção tenha sido salvar sua vida, seu espírito estava cheio de ódio, e sua alma, pedindo por vingança. – explicou Lupin, que sempre tivera aquele ar paternal ao falar ao garoto. – Me diga, em que pensamento você se apegou para frutificar o ódio necessário para lançar as maldições?

– Em... Snape... na noite em que... matou...

– Vê Harry? Isso não é algo bom. Mas não acho que o Ministério vá averiguar essa história a fundo. Você acha Arthur?

– Não, creio que não. – o Sr. Weasley tinha a voz muito cansada, e pela primeira vem em anos, desde que Harry o vira pela primeira vez, parecia desapontado com o garoto. – Bem, há comensais da morte por todos os lugares, usando as maldições em todos os lugares, inclusive em trouxas, não creio que isso seja uma novidade. Bem, vou descer pra ver se Molly precisa de ajuda...

– Sr. Weasley! – Harry gritou, e o homem ruivo parou à porta, virando-se mui lentamente.

– Sim, Harry?

– Desculpe... Perdi o controle. Não acontecerá de novo, ok?

O Sr. Weasley sorriu timidamente para Harry, como quem concordasse calado com a afirmação e a promessa do garoto. Harry sabia que poderia trazer complicações ao Sr Weasley, pois ele trabalhava no ministério, e tinha abrigado ao garoto por diversas vezes em sua casa. Não queria causar problemas.

– Tenho que ir embora logo. Não posso ficar aqui por muito tempo. Se o Ministério realmente descobrir, trarei problemas ao seu pai. – Harry disse a Rony, que ficara calado observando toda a conversa.

– Seja razoável, Harry! Você não pode simplesmente sair por aí caçando Lord Voldemort em um lugar onde você nem sabe onde fica! – Lupin parecia deveras preocupado com Harry, embora no fundo soubesse que era em vão: nada que dissesse mudaria sua decisão. Afinal, era filho de Tiago.

– Desculpe, professor. Não posso realmente explicar, mas, preciso ir...

– Entendo, Harry. Dumbledore deve ter lhe dado alguma missão realmente importante. E se ele lhe confiou tal coisa, era porquê confiava na sua capacidade. E todos nós também, Harry. Mas por favor, seja cauteloso com suas atitudes, com seus passos, e com o caminho em que trilhará. A linha que separa o bem e o mal é tênue, e muitos só se dão conta de tê-la atravessado quando é tarde demais.

– Obrigado professor, vou me lembrar disso.

– Ah, e será que eu ouso perguntar que feitiço desconhecido é esse e como aprendeu a usá-lo?

– Bem, é um feitiço criado por... bem, aprendi a usá-lo em um livro que encontrei ano passado na escola. É um pouco agressivo, mas útil.

– Entendo. Bom, vou descer agora. E vocês deveriam fazer o mesmo, antes que Molly pense que algum comensal da morte invadiu seu quarto e aprisionou a todos aqui. – sorriu Lupin, e partiu em direção às escadas da Toca que levavam à cozinha.

– Um pouco agressivo? Desde quando facas afiadíssimas e invisíveis são “um pouco agressivas?” – Hermione agora tinha os braços cruzados e o rosto inquieto.

– Dei uma melhorada no seu aspecto, ok Hermione? Eles não precisam saber tanto, para não se decepcionarem ainda mais comigo...

– Bom, alguém mais está com fome? Eu estou... Vamos? – indagou Rony, finalizando a discussão.

E o trio desceu as escadas em busca da cozinha que abrigava as delícias mais desejadas por Harry, já que ele nunca conhecera (e nem achava que conheceria) alguém que cozinhasse tão bem como a Sra. Weasley. O sorriso que havia em seu rosto só poderia significar uma coisa: nem Lupin e nem o Sr. Weasley contara o que realmente acontecera na noite anterior, e Harry estava muito grato por isso.

– É como eu semprrrrre disse: Arrrrry é rrrrrrrrealmente um grrrrrande brrrruxo! – Fleur Delacour estava ao lado da Sra. Weasley, ajudando a servir o café da manhã para toda a família, e ela parecia muito feliz com a ajuda.

– É verdade Fleur, querida, o Harry inclusive já salvou Rony, Arthur e Gina da morte! – acrescentou orgulhosa a Sra. Weasley.

Não que ele tivesse esquecido, pois ela era a única boa visão que ele tinha em seus sonhos, mas realmente não tivera tido tempo até aquele momento de se dar conta que Gina não estava presente desde que ele chegara à Toca.

– Rony, onde está sua irmã? – questionou Harry, enquanto colocava um enorme pão na boca.

– Ela está no quarto dela. Não saiu de lá o verão todo. Acho que não está sendo fácil pra ela, cara. Eu digo, não é fácil pra ninguém ficar longe de quem gosta. – Rony dera um olhar tão profundo para Hermione, que essa se engasgou com as torradas que engolia, a ponto de Fleur ter de dar palmadas em suas costas, e Harry explodir em risadas.

– Você está bem, Errrrrrrmione? Você devia comerrrr mais devagarrrr, como fazemos na Frrrrrrança!

– Vou lembrar disso Fleur, obrigada. – respondeu corada, encarando Rony com o canto dos olhos.

– E como estão as coisas, sua mãe finalmente aceitou o casamento?

– Você deve estar brincando, né? Ela está vibrando! Fala nisso o tempo todo, ajudou a fazer todos os preparativos, nunca a vi tão entusiasmada! – Rony cuspia suco a cada palavra, mas Harry não se importava, pois uma menina de cabelos longos e muito vermelhos vinha descendo a escada, apoiando Gui em seus ombros.

Gui ainda tinha em seu rosto e braços as marcas do seu embate com Fenrir Greyback, mas obviamente haviam feito um grande trabalho: as cicatrizes eram, se não totalmente, muito imperceptíveis, e claramente o rapaz se recuperara com uma velocidade absurda.

– Estou bem Gina, sigo sozinho daqui, obrigado! Harry, bem vindo de volta! Já soube da sua proeza na noite passada! Dois comensais sozinho, ahn? Muito bem! Acho que já devia entrar para a Ordem...

– Por Merlin, Gui! Ele ainda não tem idade pra isso! – exclamou a Sra. Weasley, agora ajudando o rapaz a sentar-se à mesa, enquanto Fleur se preocupava em beijar-lhe cada parte disponível.

– Nós todos já temos dezessete, mãe. Somos maiores e agora resolvemos o que queremos fazer. – exclamou Rony, indignado pela resposta da mãe ao comentário de Gui.

– Tudo a seu tempo, Ron. Veremos como as coisas ficarão daqui pra frente. Temos um casamento pra pensar, por hora! Não é Fleur, querida? Vocês deviam tê-la visto ontem, experimentando o lindo vestido que ganhou de sua mãe e usando o colar que foi de minha mãe, simplesmente linda!

– Agora é assim todos os dias... Tudo parece rosas entre as duas, que mal podiam se olhar no ano anterior. Também pudera, Fleur tem se portado como uma verdadeira esposa ao cuidar do Gui durante todo o verão. Acho que realmente Gui está tomando a decisão certa. Tudo bem Harry? – terminou Gina.

– Tudo, e você? Como tem passado?

– Normal. – acrescentou tristemente Gina.

Era perceptível a todos que a garota já não demonstrava a mesma alegria de sempre. Era agora um tanto quieta, reservada, e nem mesmo as metamorfoses esgraçadíssimas de Tonks a faziam melhorar as feições.

– Estive conversando com ela ontem Harry. Não acho que ela esteja encarando tudo tão bem quanto gostaria. Quero dizer, ela te esperou por tantos anos, e quando finalmente vocês se entenderam, tudo isso aconteceu.

– Eu sei Hermione, mas não posso arriscar perdê-la. Não seria justo. Por que todos que estão ao meu redor têm que pagar com suas vidas, sempre? É muito injusto.

– Acontece que aqueles que te amam não se importam de estar ao seu lado Harry. – e com um súbito baque, Gina levantou-se da mesa antes mesmo de tocar no café da manhã e voltou correndo escada acima, para trancar-se no seu quarto.

– O que foi Hermione? Vocês brigaram?

– É, eu... tudo bem Sra. Weasley, vou conversar com ela. – e Hermione disparou escada acima, atrás de Gina.

– Harry, bem, algo requer sua atenção. Mas entenderei se quiser tratar disso mais tarde. – disse Lupin, em seu tom mais formal.

– Tudo bem, professor. Do que se trata?

– Bem, é sobre o testamento de Dumbledore.

– Testamento? Ele me deixou alguma coisa, professor?

– Na verdade, Harry, seu testamento continha apenas a instrução que você deveria receber esta carta, contendo todas as explicações pertinentes, bem como a localização da mesma. Minerva me despachou hoje de manhã, tome. Apenas tome cuidado, ainda não sabemos se pode ser uma carta impostora ou não!

Harry estendeu a mão e apanhou a carta, com aquela escrita fina e inclinada que conhecia tão bem. Quando Sirius morrera, Harry tinha sentido um turbilhão misto de emoções: dor, agonia, desespero... Ao pensar na morte de Dumbledore, tudo que sentia, no entanto, era tristeza. Tristeza por nunca ter tido a chance de lhe dizer tudo que quisera, tristeza por nunca ter podido aprender um pouco mais com aquele velho bruxo do nariz torto e óclinhos meia-lua que com certeza era o mais inteligente e corajoso que conhecia. Conheceu. Ele se fora. Harry abriu-a, e mais uma vez, reconheceu a inclinada e desenhada letra do Diretor:

Harry,

Se você estiver lendo esta carta, então talvez eu não tenha tido tempo suficiente para lhe ensinar tudo que desejei. Quero me desculpar se minha passagem lhe causou dor e sofrimento, e lhe fez sentir abandonado uma vez mais. Nunca se esqueça de que aqueles que nos amam nunca nos deixam realmente, e que para uma mente bem organizada, a morte é apenas a próxima grande aventura. Se tem algo de que realmente me orgulho, é de quão integro, honesto e valente você se tornou. Tais qualidades lhe serão muito úteis em breve. Creio que tenha tido tempo, no entanto, de compartilhar com você minhas principais suspeitas, agora concretizadas em fatos, graças à sua perícia em nos recuperar aquela memória de Horácio. Sinto por não ter ficado mais tempo para ajudá-lo em sua jornada, que um dia foi a minha, em busca dos Horcruxes. Sei que você saberá por onde começar, e é por isso que gostaria de lhe deixar algumas coisas, que talvez o ajudem em sua busca. Lhe deixo não ouro ou bens, mas itens que talvez lhe propiciem algum valor real, contrário ao valor ilusório do dinheiro. Quero que tome para si minha penseira, que o ajudará a manter o controle sobre seus pensamentos, e desenvolverá em você a técnica da Oclumência, que reitero ser de suma importância para o sucesso da sua missão. Pratique! Deixo-lhe também alguém que me serviu durante anos, com lealdade e pureza, e que atenderá ao seu chamado a qualquer hora, momento, ou situação em que você se encontre. E o meu mais precioso bem, deixo a você com meu próprio sangue. Seja você mesmo, e sempre, mas sempre, mantenhas seus amigos próximos, e será vitorioso em sua missão.

Alvo Dumbledore

P.S: não confie apenas nos seus sentidos Harry, eles podem traí-lo. Confie no seu coração, e nos seus instintos, pois eles jamais mentirão a você.


Harry, enxugando sem constrangimento nenhum as lágrimas que escorriam de seus olhos muito verdes, e sentindo uma verdadeira alegria pela primeira vez em muito tempo, exclamou:

– É dele mesmo! A carta é dele... Não entendi metade do que escreveu, só pode ser dele...

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