Cinzas e Recompensas



Capítulo 12
“Cinzas e recompensas”


– Mas isso não faz nenhum sentido! – rebateu Hermione, já prevendo que a reação de Harry àquela notícia seria a pior possível.

Harry estava imóvel, ainda assimilando as palavras que acabara de ouvir.

– É, eu sei que deve ser difícil para vocês entenderem isso... Afinal, Dumbledore sempre confiou em Severo, não é mesmo? – disse Regulus.

– E eu ainda me pergunto o por quê... – disse Harry, entre dentes.

– Bem, acho que esse é um assunto muito delicado para...

Regulus parara de falar de repente, observando a janela que recebia em seus vidros uma forte rajada de vento e gotas de chuva. Caminhou lentamente até ela, olhando o nada, e apertando um dos braços com fervor.

– Continue, estamos ouvindo! – exclamou Rony, impaciente.

– Creio que devo me ausentar por um instante.

– O que? Não, você não pode! Tem que me contar mais sobre isso! O que Snape estava fazendo lá, vamos, continue! – Harry parecia furioso.

– Acalme-se, Harry. Não vou desaparecer. Preciso apenas... me ausentar por uns instantes. Podem ficar a vontade, a casa é de vocês. Eu o chamo pelo espelho assim que possível Harry. Agora, realmente preciso partir.

E sem mais explicações, ou quaisquer palavras que fossem, um crack foi ouvido e Regulus simplesmente sumiu da sala. Desaparatara.

– Como ele pode sair no meio de uma conversa tão importante? O que pode ser mais importante que isso?

Harry estava furioso, novamente andava de um lado para o outro, a respiração rápida e ofegante, como se não acreditasse no que acabara de ouvir e ver. Já não bastasse a raiva que sentia por saber que Severo Snape estivera presente na noite em que seus pais foram assassinados, ele havia sido simplesmente abandonado pela única pessoa que poderia lhe contar todos os detalhes do que realmente acontecera naquela noite.

– Calma Harry, o maluco vai voltar, uma hora ou outra. Acho que ele não teria porque mentir, teria? Já nos contou tanta coisa, acho que ele vai voltar... – Disse Rony, confiante.

– Exatamente! Não há porque se preocupar Harry, agora acalme-se, só nos resta esperar mesmo. – disse Hermione, apoiada por Gina.

Mas Harry não parecia estar se acalmando. A idéia de deixar um assunto importante como aqueles para depois era insuportável.

– Preciso dar uma volta. – disse ele, dando as costas aos amigos, e indo em direção à porta.

– Mas Harry, está chovendo demais! E outra... não sabemos se é perigoso andar por essa vila assim, desprotegido...

– Estou bem protegido Gina. – Harry tirara a varinha de dentro da blusa e acenava com ela para Gina, que lhe fazia cara de preocupada. – Não se preocupe, não vou demorar. Só quero levar meus pensamentos para um passeio, ok?

– Quer que eu vá junto, cara? – perguntou Rony.

– Não, tudo bem. Volto logo, sério. Obrigado.

E dizendo isso, saiu pela porta, deixando os melhores amigos e a namorada para trás. Sabia que eles o apoiariam em qualquer circunstância, e sempre teriam uma palavra de conforto, não importava qual situação ele estivesse. Mas, por alguma razão, sentia vontade de caminhar sozinho.

Subiu a pequena e estreita rua, sentindo as pesadas gotas de chuva castigarem seus rebeldes cabelos e sua fina pele. Sentia frio, mas não se importava. Sabia onde queria ir. Poucos minutos caminhando e ele já passava novamente pelo enorme portão de ferro que delimitava a entrada do cemitério. Caminhou pesadamente, olhando de longe o visível mas distante túmulo de seus pais, até chegar ao final da rua, e parar de fronte com a majestosa e antiga catedral que, como ele sabia, era sua própria casa.

– Como eu faço pra conseguir entrar, mãe? Pai? Me ajudem, por favor...

Harry encostara a testa numa das portas, dando leves palmadas com as mãos abertas nas portas de carvalho sólido que protegiam a entrada da casa. Não havia fechaduras.

– Professor... Por que o senhor confiou esse feitiço àquele traidor? Por que o senhor mesmo não o fez?

Harry sentou em frente às portas, e observou-as por longos minutos, sem dizer nada, apenas sentindo seus pensamentos irem além daquelas portas. Seus pais tinham sido felizes ali por algum tempo. Seu coração se aqueceu ao pensar nos pais sorrindo, carregando ele próprio nos braços. O frio foi passando, e ele se sentia quente por dentro só de pensar em seus pais. Era como se estivesse à beira de uma fogueira de lembranças, sentindo o fogo aquecer-lhe... Fogo. Um estalo na mente de Harry.

– Mas será?

O pensamento de Harry de repente lhe fez lembrar de alguém que esquecera por algum tempo, e que talvez pudesse ajudá-lo a encontrar algumas respostas.

– FAWKES! – gritou Harry.

Harry pode ouvir, distante, o cantarolar já conhecido da magnífica ave que ele herdara de Dumbledore. Ao olhar para o céu, contemplou a ave descendo majestosa, com suas enormes asas e cauda abertas, cortando a chuva como um raio, e parando de fronte ao joelho do garoto, encostando sua pequenina cabeça em suas pernas.

– Olá! Desculpe, com toda essa correria, acho que acabei esquecendo de você, Fawkes... Mas aposto como a Sra. Weasley cuidou bem de você, não é mesmo? Acho que você ganhou un quilinho!

De fato, pela expressão contente de Fawkes, Harry estava certo. A ave devia estar sendo muito bem tratada e alimentada na Toca. Afinal, quem é que conseguia passar por aquele lugar sem ser bem alimentado?

– Preciso da sua ajuda em um assunto, amigão!

Fawkes estufou seu peito de cisne, como se adorasse a idéia de ser útil.

– Você sabe como entrar aqui, Fawkes? Você estava com Dumbledore quando ele fez o feitiço, ou mandou que alguém fizesse?

Fawkes parecia ter compreendido cada palavra do que Harry dissera. Mas a ave simplesmente virou as costas para o garoto, observando a construção antiga de baixo até em cima. Segundos depois, voou dos joelhos do garoto e pousou sobre seus ombros, cravando suas afiadas unhas das patas em sua blusa.

– O que você está fazendo, Fawkes? Não vá estragar minha blu.... Uoooou !!!

Com um grito de espanto, Harry sentiu-se sendo levantado do chão. Estava sendo carregado aos céus pela sua fênix. Partiam em direção ao ponto mais alto da Igreja: uma cruz, que imperava sublime nos céus de Godric’s Hollow.

– Acho que isso é um sim, então!


***


– A gente devia ir atrás dele, não devia não? – perguntou Rony.

– Acho que podemos dar um tempo sozinho pra ele. Se ele demorar demais, a gente vai atrás dele. – respondeu Hermione.

– Vocês confiam nesse Regulus?

– Não sei, ele é muito enigmático... Por que a pergunta, Gina?

– Sei lá, nada demais... É só que... as vezes... ele parece misterioso demais!

– É... Assustador isso, não é? – exclamou Rony. – Que tipo de louco vive tanto tempo numa vila abandonada, se fingindo de morto por tantos anos?

– E ele sair assim, no meio de um assunto tão importante, parece muito sinistro também! – concluiu Hermione.

– É melhor ficarmos de olhos abertos com esse cara. – alertou Rony, e Gina e Hermione concordaram.

Estava escuro, Rony e Hermione estavam em um dos cantos da sala, abraçados, esquentando um ao outro, já que era uma noite muito fria. Gina observava a janela atenta, esperando qualquer sinal que fosse de Harry ou de alguém mais. Porém, não foi nada do lado de fora da casa que chamou a atenção da garota.

– O Harry nem levou a mochila. Deve estar tão perturbado, coitado!

Algo brilhante no interior da mochila saltou aos olhos de Gina, chamando sua atenção.

– Hermione, por que é que isso brilha o tempo todo? HERMIONE! RONY!

Os dois, que muito provavelmente estavam no meio de um beijo, assustaram com o grito de Gina.

– Por Merlin, Gina! O que aconteceu? – perguntou Hermione, com o coração disparado pelo susto.

– Veja!

Gina passou rapidamente os olhos no mini espelho de inimigos de Harry, e seu coração pareceu vir à boca. Rony, do seu lado, espantou-se igualmente.

– Temos que encontrar o Harry, vamos! – comandou Rony.

Gina e Hermione concordaram, seguindo para a porta da frente que dava acesso à casa.

– Esperem, não por aí, vamos por aqui, deve ter alguma saída dos fundos, vamos! – disse Rony.

Os três então correram por um minúsculo corredor, até uma porta dos fundos, que conforme Rony previra, dava para um pequeno beco na rua de trás da casa escondida.

– Acho que sei onde ele está. – disse Gina. – Vamos, temos que nos apressar!

Subiram a rua correndo, então, Rony e Hermione, seguindo Gina, que conhecia o namorado bem demais para saber onde poderia encontrá-lo. Em suas mãos, o mini espelho de inimigos de Harry, com três silhuetas totalmente visíveis aos olhos de quem olhasse. Longos cabelos loiros e prateados contornavam duas das silhuetas. A terceira, pálida, branca como a neve, e com o mais puro olhar de desgosto. Lucio, Narcisa e Draco Malfoy.


***


Após um vôo rápido e rasante, Fawkes soltou do ombro de Harry, deixando-o cair levemente no parapeito da pequena plataforma de cimento onde estava cravada a enorme cruz. Harry olhou em volta, o perímetro era pequeno. Cerca de cinco metros quadrados, sem porta, clarabóia, janela, nada.

– E então, Fawkes? Dá pra entrar daqui? Não vejo abertura nenhuma!

Fawkes olhava para Harry sem esboçar reação nenhuma. Como se fosse tudo muito óbvio e fosse até desrespeitoso perguntar.

– Ok, ok! Deixe-me ver... – disse Harry, olhando para a Fênix.

A questão é que não havia nenhum sinal de entrada ali naquele cubículo. Não haviam frestas, entradas de ar, absolutamente nada. Apenas cimento e cruz. Cruz!

– Mas é claro! Como é que nem as coisas mais óbvias eu não consigo enxergar? – disse Harry sorrindo, batendo a mão na cabeça da ave que o olhava com ar orgulhoso.

Harry observou a cruz, analisando cada centímetro possível. Não parecia haver nada de mais ali, a não ser pequenas escoriações que pareciam ter sido causadas pela deterioração do tempo, chuva, vento, neve e etc. Harry já começava a se sentir inquieto. Não conseguia ver nada de extraordinário ali. Sacou a varinha.

– Revele seus segredos! – disse firmemente.

Mas nada aconteceu.

Alorromorra!

Nenhum sinal de movimento.

– Mas que droga! Não sei o que fazer Fawkes, vamos, me dê uma ajuda!

A fênix parecia se divertir em ver a apreensão do garoto, mas não se movia.

– Talvez se eu a derrubar, então? – disse Harry, guardando a varinha no bolso, aflito, e preparando-se para empurrar a cruz.

Ao primeiro toque da mão de Harry, no entanto, algo aconteceu. Harry sentiu um leve tremor sob os seus pés, e logo ele identificou a fonte do tremor. O chão estava se retorcendo e girando, como se alguém mexesse uma xícara de chã com uma colher, formando uma escada em espiral. A escada era curta, toda de pedra, começando no ponto mais baixo da cruz.

– Mas era só isso? Só tocar? – perguntou Harry, como se a fênix pudesse respondê-lo a qualquer momento. – Qualquer um poderia abrir essa passagem então? Não faz nenhum sentido tantos disfarces e desilusionismos, então!

Harry desceu os degraus, aflito, ansioso, sedento por novas informações de sua família. Finalmente entraria na casa que um dia fora sua! Na casa em que viveu os primeiros meses, onde dera os primeiros passos.

A primeira visão que teve de sua casa foi, no entanto, bem menos acolhedora. A escada espiral de pedra dava no sótão da casa, lugar que pareceu extremamente assustador na opinião de Harry. Poeira, insetos mortos, o cheiro de bolor e o ambiente escuro davam uma péssima impressão. Artefatos antigos, como vassouras de corrida quebradas, caixas de papelão vazias (que provavelmente foram usadas na mudança), livros trouxas corroídos pela traça, nada interessante. Apenas umas casa comum.

Harry passou pelo minúsculo sótão em direção a uma portinha que se encontrava do outro lado do aposento. Do lado de fora, uma nova escada que dava para uma espécie de mezanino de portas. Três, no total. Harry fez rapidamente as contas, imaginando que muito provavelmente uma das portas seria o seu quarto, uma o quarto dos seus pais, e a terceira, talvez, um quarto de hóspedes. A madeira que anteriormente pudera ter servido de enfeite para a bela arquitetura da casa, agora estava corroída e apodrecida, dando ares fantasmagóricos ao lugar.

– Aposto que era bem mais bonito antigamente, Fawkes. – a Fênix seguia nos ombros de Harry, observando tudo atentamente.

O hall da casa fez os olhos e o coração de Harry quase pararem de funcionar. Tudo estava destruído... Cadeiras velhas despedaçadas, o que parecia ser a carcaça velha de um grande sofá estava reconhecível apelas pela sua armação esquelética, e grandes marcas de fogo jaziam por todos os cantos. Uma luta ocorrera ali, com certeza.

– Papai não se entregou facilmente, não é mesmo? – disse Harry, mais para si do que para Fawkes, uma lágrima teimosa insistindo em saltar de seu olho, mas orgulho brotando de dentro de seu coração.

Alguns porta-retratos estavam caídos pelo chão, mas nada era reconhecível dentro deles. As fotos, provavelmente, foram recolhidas por Hagrid na noite em que ele retirara Harry dos escombros da casa. Harry agora tinha um álbum com todas elas. Nada parecia intacto na casa.A destruição imperava.

A porta da frente era feita de carvalho, tal como o lado de fora, onde o que era visível era apenas uma catedral, não uma casa. Harry tentou abri-la, mas sem sucesso. Decidiu, então, subir para o andar de cima e olhar os quartos, já que ali não restara muito para ser visto. Já na primeira porta que abriu, percebeu logo o que guardava: uma enorme cama de casal deteriorada pelo tempo, armários de ambos os lados, todos sem portas e destruídos: era, ou melhor, “fora” o quarto de seus pais.

Harry andava de um lado para o outro, sem conseguir, no entanto, achar nada que estivesse inteiro ou pudesse lhe trazer de volta alguma recordação. Deixou o quarto dos pais para trás, decepcionado, achando que, depois de tudo, talvez não houvesse muito mesmo o que ver ali, naquela velha casa. A segunda porta era, conforme ele mesmo tivera previsto, um quarto de hóspedes, nada de anormal. Harry chegou até a fachada da terceira porta com um profundo desânimo, imaginando que tudo que veria seriam mais escombros e poeira, como no resto da casa. Mas se enganou.

Ao tocar a maçaneta da porta, algo diferente aconteceu. Uma leve vibração tomou conta do peito de Harry, e ele sentiu como se a própria maçaneta vibrasse em suas mãos. Um frio intenso o dominou, como se estivesse cercado por dementadores. Harry sacou a varinha, certo de que algo ali estava errado.

– Fique atento, Fawkes! Não sei porque tenho a sensação que teremos problemas...

A esplendorosa fênix voou do ombro direito de Harry, onde estivera por muito tempo, e batia as assas majestosamente, voando baixo, na altura da cintura de Harry, como se fosse um guarda-costas de luxo do garoto.

Harry abriu a porta então, e o espanto que sentiu só não superou a excitação que sentia pelo que acabara de ver. Claramente um quarto de bebê, com toda a decoração intacta: janelas, cortinas, brinquedos, chão, paredes, e até um berço no centro do quarto. Tudo absolutamente impecável, feito novo.

– Mas como isso é possível?

Não fazia nenhum sentido o quarto do único bebê dos Potter continuar daquela forma. A casa toda não passava de escombros, poeira e restos do que um dia fora uma mansão imponente. Menos aquele quarto. Bem aquele, onde um dia o Lord das Trevas fora derrotado por ele, Harry, com nada mais do que amor.

– É tudo tão... estranho!

Por algum motivo, Harry não sabia ao certo o que estava sentindo. Deveria estar emocionado, é verdade, afinal, tudo era muito belo. Mas a sensação que ele tinha era outra. Como se estivesse sendo oprimido, apertado. Até podia sentir seu estômago revirar. Algo estava errado.

– Fawkes... Acho... que estou... passando mal...

Harry sentia o corpo desfalecer, não conseguia sustentar o próprio peso sobre as pernas. Começou a cambalear, e tentou apoiar-se na primeira coisa que enxergou: o berço. Ao tocá-lo, sentiu seu umbigo sendo puxado para fora como se um gancho estivesse preso a ele. Ouviu o farfalhar de penas atrás de si, e também garras afiadas grudando em suas costas. Fawkes provavelmente grudara nele. Aquela sensação fez com que ele vomitasse. Quando abriu os olhos, sentiu-se melhor, a visão começou a voltar. Parecia que finalmente o sangue recomeçava a circular em suas veias. Conseguia pensar novamente.

– Por Merlin, que loucura foi essa? Achei que estava desmaiando... Fawkes?

Quando Harry olhou para o chão, a impetuosa ave não estava mais lá. Penas vermelhas e douradas estavam esparramadas por todo o chão. E bem ao centro da sala, onde Harry cambaleara segundos atrás, um montinho de cinzas guardava uma pequenina criatura, que tentava freneticamente se desvencilhar das cinzas que a encobriam.

– Fawkes? É você? Mas como? O que aconteceu?

A pequenina fênix renascia das próprias cinzas. Algo a tinha atingido em cheio, e agora ela tornara a ser apenas uma ave bebê.

– Você me salvou, não foi? Mas do que?

Harry estava intrigado. Sabia que algo tinha acontecido rapidamente ali, mas não sabia explicar. Alguma magia protegia aquele quarto. E pela maneira com que atingiu a ele e a Fawkes, só poderia ser magia negra.

Tudo veio como um flash à sua memória. Ele estava atrás de si próprio, e pôde ver uma espécie de onda vermelhada partindo da porta do quarto em direção à parede oposta, impactando tudo em seu caminho. Harry pôde ver a si mesmo, como se estivesse fora do seu corpo. Viu quando cambaleou e tentou apoiar-se no berço. E foi exatamente naquele instante que Fawkes abriu suas imensas asas e cravou suas patas nas costas de Harry, formando um ângulo estranho, como se tentasse cobrir cada centímetro de seu corpo. Com a rapidez que veio, a visão se foi. Harry pode entender que acabara de ser salvo por Fawkes, e isso lhe custaria a vida, se ela não fosse uma Fênix.

– Oh, Fawkes! Obrigado! Vou cuidar de você...

Harry retirou a pequena ave das cinzas com cuidado, observando como ela era diferente assim, bebê. Não haviam penas ou plumagens, apenas um corpo pelado de algo que lembrava um pequeno râmster com bico e asas. Era incrível. Colocou a ave em seu bolso, com o cuidado de deixar sua cabeça de fora, para que pudesse respirar.

– Agora, o que será que esse feitiço nada amistoso estava guardando?

Era óbvio que o feitiço intrincado naquele quarto era obra de algum bruxo das trevas. O pequeno impacto que Harry sofreu fez com que o garoto vomitasse e perdesse as forças. Não estaria nem vivo se não fosse por Fawkes. Algo importante deveria estar guardado ali. E pela crueldade do feitiço, só poderia ser uma coisa.

– Ele não seria tão ousado, seria Fawkes?

Harry aproximou-se do berço, ainda excitado por pensar nas probabilidades. Olhou dentro da pequenina cama que um dia lhe serviu perfeitamente. Sorriu para Fawkes.


***


– Mas que diabos, onde ele se meteu, Gina? Você disse que tinha certeza que ele estaria aqui! – gritou Rony.

– Eu tinha certeza que ele estaria! – respondeu Gina, observando a catedral de cima a baixo.

– Será que ele não foi para o cemitério? – disse Hermione, ofegante.

– Claro que não! Nós conseguiríamos vê-lo daqui! – respondeu Rony, impaciente.

– Precisamos avisá-lo antes que...

– Antes que o que, sangue-ruim? – respondeu uma voz mole atrás de Hermione.

Hermione virou-se rapidamente, já com varinha em punho, e contemplou não uma mas três faces arrogantes que subiam a rua. Todos os três vestidos de preto. Uma família inteira de comensais. E um quarto vinha atrás, na retaguarda, totalmente encapuzado.

– O que seria isso, Draco, uma reunião de seus antigos colegas de escola? – perguntou o homem, Lucio Malfoy, tomando a frente do grupo e encarando os três garotos que agora estavam encurralados em frente às portas de carvalho da catedral.

– Essa sangue-ruim e esses dois pobretões nunca foram meus colegas, papai! – respondeu Draco, encarando aos três da maneira mais nojenta que conseguia.

– O que vocês estão fazendo aqui, sangue-ruim? Onde está o Potter? – perguntou Narcisa Malfoy, com a varinha apontada diretamente para Hermione.

– Não se atreva a chamá-la disso, sua perua velha! – respondeu Rony, tomando a frente de Hermione, varinha também em punho.

– COMO VOCÊ SE ATREVE A OFENDER MINHA MÃE, WEASLEY? – berrou Draco, correndo em direção a Rony com a varinha apontada diretamente para o garoto.

– Não se atreva... – disse Lucio Malfoy calmamente – A atacar sem a minha ordem, Draco.

Draco parou perplexo, encarando o pai como se não entendesse o porque não podia atacar. Gina provocou:

– Que lindo! Um Comensal da Morte que nem é capaz de sair da barra da saia da mãe e do colo do pai! Vocês são todos patéticos. Agora vão, sumam daqui!

Pela primeira vez o quarto Comensal tomou a frente da linha dos outros três companheiros, despindo o capuz que lhe cobria a face. Ele era corpulento, e fedia à distância.

– Parece que não foi suficiente dar um jeito no seu irmãozinho mais velho, não é pirralha? Vou ter que consertar você também? – disse Fenrir Greyback, dentes grandes à mostra, baba escorrendo pelos cantos da boca.

– Por que você não tenta, lobinho? – respondeu Gina corajosamente.

– Foi muita tolice de vocês terem vindo até aqui. Agora vamos, entreguem-se, e me digam onde está o Potter! RÁPIDO! – ordenou Lucio Malfoy.

– Nenhum de seus pedidos serão atendidos, bandido! Você vai voltar pra Azkaban essa noite! – disse Hermione, valente.

Lucio Malfoy observou-a com um sorriso desdenhoso nos lábios. Apontou a varinha diretamente para a cabeça de Hermione, e no impulso, Rony precipitou-se a atacá-lo.

– NÃO! Expeliarmus!

Mas Lucio foi mais rápido, conjurando um feitiço-escudo rapidamente, e contra-atacando Gina desprevenida.

Crucio!

Gina, que estava atenta, desviou-se no último instante da rajada lançada por Lucio Malfoy, que passou pela garota atingindo uma das portas da igreja, sem deixar uma marca sequer.

A batalha travou-se dura no segundo seguinte. Hermione duelava com Narcisa, que disparava azarações e feitiços seqüenciais, sem dar tempo de Hermione fazer muito mais que se defender. Uma delas acertou a garota em cheio, que caiu, tonta de dor, de bruços.

A essa altura, Rony e Draco travavam uma batalha braçal muito violenta. As varinhas jaziam caídas no chão, e os dois se socavam e rolavam pela rua atingindo cada parte um do outro que podiam alcançar. Rony tinha um supercílio sangrando, Draco tinha o nariz e a boca.

Gina, sagaz e veloz, duelava com Lucio e Greyback ao mesmo tempo. Lucio lançava maldições imperdoáveis repetidamente, e Gina desviava de todas elas, mas não conseguia contra-atacar, já que levava tempo conjurando escudos para defender-se também dos feitiços lançados por Greyback. A batalha ia mal.

– Machucadinha, sangue-ruim? – exclamou Narcisa, aproximando-se do corpo caído de Hermione. – Vou dar-lhe um pouco de disciplina, sua imprestável! Cru...

ESTUPEFAÇA! – berrou Hermione ainda de bruços, a varinha apontada para a barriga de Narcisa.

O baque surdo do corpo duro de Narcisa caindo ao chão chamou a atenção de Lucio, que partiu em defesa da esposa, deixando uma Gina exausta duelando apenas com Greyback.

– Vamos, Cissa, levante-se! – comandou Lucio Malfoy para a mulher estuporada. – Enervate!

Narcisa foi atingida por um jato de luz vermelha saída da varinha de Lucio Malfoy, e em segundos já estava de pé, totalmente pronta para retomar a batalha. Gina parecia estar tendo enormes dificuldades no duelo com Greyback. Ele a atingira com dois feitiços que pareciam ter causado um dano considerável na rapidez da garota, que já não conseguia se desviar com facilidade das investidas de Greyback. Por centímetros a garota escapou de levar uma mordida, mas a investida do Comensal brutamontes a derrubou no chão, desprovida de sua varinha, que rolou para longe do seu alcance.

– Vamos, valentona! De pé! Me enfrente como um homem! Hahahahaha ! – divertia-se o lobisomem.

Hermione, que estava cercada por Lucio e Narcisa, não conseguia desvencilhar-se do casal para partir em defesa da amiga.

– Rony, sua irmã! – berrou ela.

Rony escapou de um soco de Draco, e olhou de lado para a irmã, caída no chão, prestes a ser ou atacada ou devorada por Fenrir Greyback, que ria feito louco. O segundo que o rapaz gastou para olhar a irmã e pensar em tomar alguma atitude custou-lhe um tremendo soco na nuca, que o fez cair, delirando de dor, ouvindo apenas o riso agudo e pestilento de Draco Malfoy. Definitivamente, eles estavam levando a pior.

– Agora, sua pirralha de uma figa, leve essa mensagem para o mestrezinho Dumbledore: o Lord das Trevas mandará muitos amigos se reunirem a vocês, em breve! Hahaha! AVADA KEDAVR...

Quando Hermione soltou um grito fino e desesperado por ver um projeto de luz verde precipitar-se da varinha de Greyback, seu coração disparou ao ver o corpo disforme e gigantesco do lobisomem ser elevado a uma altura de no mínimo quatro metros, tremulando e vibrando como se estivesse sendo chacoalhado por mãos invisíveis.

– MAS O QUE...??? – gritou o lobisomem, antes de ver o que lhe causava aquilo.

Harry Potter caminhava em direção ao lobisomem, os olhos verdes cintilando, o cabelo esvoaçava como se estivesse sendo atingido por um vento impetuoso que não existia naquela noite sóbria. A varinha na mão esquerda, apontada para o chão, o punho direito cerrado, ódio em cada traço de sua face.

– COMO VOCÊ OUSA, COMENSAL? – berrou ele, em um surto de ódio.

O que Rony viu, ao levantar a cabeça, ainda recuperando-se do soco que levara, fez até os cabelos de seu braço se arrepiarem: um Harry furioso socava o vento, como se ali estivesse alguém. Mas no alto, a mais ou menos quatro metros de altura, era Fenrir Greyback que era atingido por cada soco desferido por Harry no chão, como se esse o pudesse atingir mesmo com toda aquela distância entre os dois.

Gina se recuperara, e agora estava de pé ao lado de Hermione, pronta para enfrentar o casal Malfoy com a amiga. Lucio e Narcisa se olhavam, como se esperando um do outro alguma instrução. Foi o tempo que Harry precisou para erguer a varinha, e sem palavra alguma, atingir Lucio Malfoy diretamente no peito. O impacto do feitiço de Harry pareceu causar um enorme estrago em Lucio, que foi arremessando pesadamente contra a parede da catedral de Godric’s Hollow, e não esboçou reação alguma de que levantaria novamente. Gemia como se tivesse partido cada costela do corpo.

– Agora... desapareçam... – ordenou Harry para Narcisa – e levem esse cachorrinho com vocês!

O corpo de Fenrir Greyback simplesmente desprendeu do que o mantinha flutuante no ar, e caiu pesadamente no chão, com um barulho de ossos quebrando.

– Draco, Fenrir, desaparatem... – comandou Narcisa.

Fenrir não pareceu relutante em obedecer o comando de Narcisa, e desaparatou em instantes. Draco Malfoy abriu a boca para discutir, ainda envolto em socos com Rony, mas o olhar de fúria do pai, que levantava com dificuldades, o fez repensar em sua vontade de responder. Apanhou a varinha e desaparatou, seguido em segundos por Lucio e Narcisa, que apoiava o marido em seus ombros.

– Gina, você está bem? – perguntou Harry, agora mais preocupado do que furioso.

– Estou Harry! Onde você estava, por Merlin?! – ralhou a menina, o abraçando em seguida, como se não o visse a semanas.

– Hermione, você está ok? Rony? Uau cara! O que aconteceu com você?

Rony parecia ter mergulhado em uma piscina de sangue. Seu rosto estava bem inchado, com escoriações ao redor dos olhos e supercílio.

– Estou, só uma briguinha à velha moda trouxa, né... – brincou o garoto.

– Ai Rony! Venha cá, deixa eu tentar te ajudar – disse Hermione – Episkey! – invocou ela, fechando os cortes no rosto de Rony, e estancando o sangramento.

– Obrigado... Essa é a minha garota! – agradeceu ele.

– Mas Harry, você ainda não disse onde estava! E o que é isso se mexendo no seu bolso? – perguntou Hermione, afoita.

– Isso... – disse Harry, tirando a ave do bolso – é Fawkes. – Eu consegui entrar na minha casa, Mione. Consegui! Fawkes conhecia uma entrada secreta, acho que foi feita apenas para minha família usar, porque ela só abriu quando eu toquei a entrada!

– E onde seria essa entrada, Harry? – perguntou Rony.

– No alto daquela cruz, em cima do telhado. Uma entrada para o sótão.

– E então, o que você viu, Harry? Como é a casa?

– Não sobrou muita coisa, Gina. Tudo estava destruído e deteriorado pelo tempo! Só meu quarto de bebê estava intacto. Aliás, intacto até demais. – disse ele, erguendo Fawkes à altura dos olhos dos amigos.

– O que aconteceu com Fawkes, Harry?

– Ele salvou minha vida, mais uma vez! Claro que isso lhe custou uma vida, mas não acho que fenixes sejam que nem gatos, que só tem sete vidas! – brincou Harry.

– Salvou sua vida? Do que? Você correu perigo lá dentro? O que aconteceu Harry? – perguntou Gina desesperada, tocando cada pedaço de Harry que podia alcançar, para ver se tudo estava inteiro.

– Estou bem, Gina, minha linda! Estou bem... Tinha alguma espécie de feitiço protetor naquele quarto. Algo para impedir qualquer pessoa de entrar lá.

– E por que isso, cara? Por que alguém ia querer impedir outro alguém de entrar lá? E quem faria isso?

– Voldemort faria, Rony.

– Você-sabe-quem? Mas por que, Harry? – perguntou Hermione.

Harry sorriu vitorioso, e do outro bolso puxou uma pequena taça com duas asas finamente forjadas, e uma pequena gravura de um texugo em sua superfície.

– Isso não é... É? – espantou-se Hermione, levando as mãos à boca.

Gina paralisou.

– É? É o que, raios? – perguntou Rony desesperado.

– Isso, Rony, é a taça de Helga Hufflepuff! Esse é o terceiro horcrux de Voldemort!


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O que posso dizer além de "PERODEM-ME"? rs... Pessoas, estou realmente muito ocupado, por isso a demora excessiva pra postar o capítulo. E admito que essa foi récorde, han? Um mês ! rs.... Desculpem mesmo... Mas às vezes é bom esperar, não é? A gente fica com mais vontade quando demora pra ganhar alguma coisa! Ou acaba desencanando também... Não desencanem da FIC, por favor !!!! rs... Bem, tá aí o capítulo novo, e vamos lá, dêem uma forcinha pra esse pobre autor, vai! Vamos comentar e VOTAR BASTANTEEEE ! Pode ser? Semana que vem tem mais, ok?

Até lá...

Israel G3

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