O plano perfeito



 “Quem sabe o que a verdadeira solidão é?
Não no sentimento convencional, mas o que é o terror na realidade. ”


Já era tarde e praticamente todos os convidados já haviam ido embora. Tinha sido um dia maravilhoso, rodeado de pessoas que amava e das quais sentira falta. Harry estava na varanda dos fundos apoiado no cercado, com uma cerveja amanteigada na mão. Ele deu um longo gole na cerveja e suspirou, estava sozinho há cinco minutos e aquilo já o incomodava profundamente, o angustiava. Ouviu a porta ser aberta e se virou pra ver quem era, sorriu ao ver a irmã sair sozinha. Ela se aproximou ficando ao lado dele, Harry passou o braço pelos ombros dela, puxando-a para junto dele. Os dois encaravam o jardim.


 


- Gostou da surpresa? - perguntou Mônica


 


- Muito. Foi uma recepção melhor do que eu esperava.  - disse beijando a testa dela - Como você conseguiu reunir todo mundo em tão pouco tempo?


 


Ela sorriu.


 


- Acredite, não foi difícil. - contou


 


Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas apreciando a companhia um do outro. Harry brincava com a mão esquerda dela, passando o dedo pela grossa aliança.


 


- Como foi seu casamento? - ele perguntou


 


Ela franziu a testa.


 


- Confuso. - admitiu - Eu estava feliz por estar me casando com Cedrico, mas ao mesmo tempo sentia um vazio, uma saudade de você.


 


Eles se encararam.


 


- Eu sinto tanto não ter estado aqui. - disse com um sorriso triste - Imaginei mil vezes o momento em que te levava até o altar, você vestida de branco... – ele pausou distante - Gostou do vestido?


 


Ela sorriu pra ele.


 


- Ele era incrível! - ela disse contente - Era exatamente o que eu queria, o vestido que eu sonhava usar no meu casamento. Obrigada maninho, você não poderia ter escolhido melhor.


 


Ele a beijou na face.


 


- Você merece. - disse sem sorrir


 


- O que foi? - ela perguntou


 


Harry suspirou.


 


- Nós tivemos tão pouco tempo juntos e acabamos perdendo mais um ano. Agora eu volto e você está casada. - disse com pesar


 


- O fato de eu estar casada agora não muda nada entre nós dois. - disse sincera - Nada pode mudar nossa relação, nem um ano sem nos vermos. Isso... - disse apontando para os dois - ...é pra sempre.


 


Ele sorriu e a abraçou.


 


- Senti tanto a sua falta. - ele disse num sussurro - Sofri, porque sabia que você não estava bem.


 


- E eu não estive Harry. - ela disse deixando as lágrimas caírem - Você não faz idéia da falta que me fez. Merlin, era como se faltasse um pedaço de mim!


 


Eles se abraçaram mais forte. Ele se afastou para encará-la.


 


- E se eu te conheço bem você não deixou ninguém te ajudar, sofreu sozinha e em silêncio. - ele disse e ela riu


 


- Você me conhece... - disse limpando as lágrimas - Mas agora tem essa nova versão de mim, que chora o tempo inteiro, e vive pedindo ajuda... - ela balançou a cabeça - Você sabe.


 


Ele riu.


 


- Eu gosto dessa nova versão. - admitiu Harry


 


Ela revirou os olhos.


 


- É, parece que todos preferem essa nova versão. - disse e os dois riram


 


A porta se abriu novamente e eles se viraram.


 


- Desculpem. - disse Gina parada a porta - É que o Cedrico está te chamando Nina, os pais dele estão indo embora.


 


Mônica se soltou de Harry.


 


- Deixa eu ir me despedir dos meus sogros. - disse em tom de tédio fazendo os outros dois rirem


 


Ela passou por eles e sumiu pela casa adentro.


 


- Vamos entrar também? - chamou-o Gina


 


- Antes me dê um abraço. - ele pediu


 


Ela sorriu e foi até ele, os dois se abraçaram e ele beijou-lhe o topo da cabeça.


 


- Você sabe que é a minha ruiva preferida não é? A única que amo incondicionalmente. - ele disse em tom divertido - E... Merlin, como você está linda!


 


Ela riu se afastando e dando um tapa no ombro dele, algumas lágrimas insistiam em cair dos olhos dela.


 


- Seu bobo. - disse com a voz falhando


 


- Hei, o que foi?


 


Ela fungou.


 


- É que os outros homens dessa casa não são tão gentis como você. - ela disse manhosa - Senti falta de você, senti falta desse seu jeito.


 


Ele lhe sorriu doce e a abraçou novamente.


 


- Eu sempre disse que eu era o único que prestava nessa casa. - ele brincou, fazendo-a rir - Também senti sua falta ruivinha.


 


Ela deitou a cabeça no ombro dele e ele acariciou os cabelos ruivos dela. Os dois ficaram assim por algum tempo.


 


- Mais calma? - ele perguntou


 


Ela se afastou.


 


- Sim, estava precisando do seu abraço. - ela disse


 


Ele limpou uma última lágrima que descia dos olhos dela.


 


- Vamos entrar? - ele perguntou carinhoso


 


- Sim, vamos. - ela concordou


 


Os dois se soltaram e abriram a porta, mal entraram e deram de cara com Draco.


 


- Ah, aí estão vocês! - disse o loiro ao vê-los - O jantar está servido!


 


*********************


 


Estavam todos sentados a mesa jantando. Os amigos contavam a Harry os acontecimentos daquele último ano.


 


- Até que Gina mandou aquele anel e tudo mudou. – disse Rony por fim


 


- Você não contou como descobriu que Thereza estava grávida. – disse Harry provocando-o


 


Thereza riu, rolando os olhos.


 


- Isso é uma história pra outro dia Harry. – disse Rony – Vamos ter muito tempo pra te contar. Na verdade queríamos que você falasse um pouco agora.


 


Harry sorriu fracamente e encarou seu próprio prato, mexendo a comida com o garfo.


 


- Não é uma boa história pra ser contada essa noite. - disse calmamente, sem encará-los


 


Eles se entreolharam.


 


- A verdade Harry é que estamos cansados de dizer o quanto sofremos, soa um pouco egoísta. - disse Cedrico tentando convencê-lo - Tenho certeza que não passamos um terço do que você passou.


 


Harry levantou o olhar para eles.


 


- Pessoal... - começou um pouco contrariado - Não há nada que vocês precisem saber, esqueçam isso.


 


- Você vai esquecer Harry? - perguntou Mônica, mas Harry não respondeu - Então não nos peça pra esquecer, nós somos seus amigos, sua família. É claro que precisamos saber.


 


O garoto suspirou.


 


- Vocês tem razão. Nada mais justo. - admitiu ele e Hermione o viu assumir o tom sombrio pela segunda vez naquele dia. Ele fez silêncio por alguns segundos e começou a falar - Tudo começou no dia que duelamos no Ministério, a primeira vez que usamos os anéis, vocês se lembram?


 


- Como se fosse hoje. - disse Gina


 


Ele balançou a cabeça, seu semblante era sério e concentrado.


 


- Naquele dia eu duelei com Lucius Malfoy. - continuou Harry - Em condições normais jamais o derrotaria, não naquela época, mas eu não estava em condições normais, eu usava o anel e todo aquele poder parecia exalar do meu corpo. Derrotei Malfoy naquele dia e eu não sei explicar, era como se eu não mandasse no meu corpo, algo simplesmente me levou até o corpo desacordado dele e eu remexi suas vestes, como se soubesse que alí havia algo pra mim...E então encontrei aquela carta. - ele pareceu distante - Eu não a li de imediato, estava preocupado com vocês, a batalha ainda não havia terminado... apenas enfiei o pedaço de pergaminho dentro do bolso e voltei a duelar. Passamos a noite em claro e só dormimos no dia seguinte. Quando me deitei pela primeira vez depois da batalha me lembrei do pergaminho e o peguei para ler. - ele pausou, respirando fundo - Me lembro exatamente como me senti quando a li pela primeira vez, eu fui tomado por um medo, um pavor que jamais havia sentido na vida, nem mesmo quando era uma criança que vivia fugindo de um bruxo das trevas. E aquele sentimento, eu soube na mesma hora, era porque eu sabia que estava sozinho, sabia que não poderia contar com ninguém. Aquilo me apavorou mais do que qualquer outra coisa.


 


Harry fechou os olhos e riu amargamente.


 


- Vocês não imaginam como é estar rodeado de pessoas em que confia, ama e que sabe que estarão do seu lado pro que der e vier, mas mesmo assim estar sozinho. Entendem? - os amigos concordaram, e ele continuou - Passei a pesquisar o que aquilo significava, passava o dia e a noite na biblioteca. Vocês me viam lá durante o dia, mas não sabem quantas madrugadas eu passei acordado naquele lugar, encoberto pela capa da invisibilidade. Até que encontrei aquele livro e as coisas pioraram quando descobri o que Voldemort realmente queria.


 


- Pioraram? – perguntou Draco


 


Harry balançou a cabeça.


 


- Enquanto eu pensava que era penas uma forma dele se vingar de mim não havia problemas em falhar, eu jamais me acovardaria. – admitiu com firmeza – Mas saber que se eu falhasse o mundo correria perigo, um perigo que nem mesmo naquela época corria...Aquilo me apavorou novamente e eu queria correr até vocês e gritar por ajuda, eu precisava de vocês, achei que não podia agüentar aquilo sozinho... Mas eu não tinha escolha. – disse amargurado – Encontrei aquele livro um pouco antes do ataque a Hogsmead e mais uma vez meu corpo pareceu agir por conta própria e eu arranquei as páginas do contra-feitiço e as levei comigo. Depois daquele dia passei muitas noites em claro e eu me agarrava a uma única esperança, ao único item que Voldemort ainda não concretizara.


 


- O sangue de um traidor. – lembrou Mônica


 


Harry sorriu pra ela.


 


- Até que você apareceu Nina, com aquela história de ataque na noite de Natal. – contou – E eu sabia que aquilo não daria certo, sabia que era uma armação de Voldemort pra conseguir o que faltava. Eu não sabia que Hogwarts seria tomada, apenas sabia que seriamos traídos.


 


- E porque você não recusou, porque aceitou participar daquele ataque? – questionou Rony


 


- Porque mesmo que eu não estivesse lá Clint teria me traído. – explicou Harry sem emoção – Eu estava do lado de Clint e das pessoas que participaram daquele ataque, indiretamente eu seria traído. E era melhor eu estar lá quando acontecesse.


 


- Merlin! – disse Cedrico abalado – Como você agüentou Harry? Saber que seríamos traídos, saber que talvez pudéssemos morrer ou correr sérios riscos de perder a guerra. Como você conseguiu não impedir?


 


Harry fechou os olhos e respirou fundo, falar daquilo era sentir novamente tudo o que sentira. Ele abriu os olhos novamente e os encarou.


 


- Eu tive que fazer uma escolha, não foi fácil, eu tive medo de estar errado, tive medo de colocar tudo a perder, mas eu tinha que fazer. – disse em tom de desespero – Ou eu deixava aquilo acontecer e conseqüentemente deixava Voldemort se fortalecer naquele momento, ou eu contava toda a verdade, impedia aquele ataque ridículo e decretava o fim do mundo bruxo, não naquele momento, mas futuramente.


 


- Mas... – tentou dizer Cedrico


 


- Vocês não entendem não é? – disse irritado – Se Voldemort possuísse o meu corpo seria o fim! Não haveria mais esperanças! – ele suspirou, tentando se acalmar – Vocês não fazem idéia do poder que ele teria, ele não precisaria mais se esconder, arquitetar nas escuras, não falaria pra centenas de pessoas, mas pra milhões, usaria seu poder de persuasão tão perfeitamente bem que seria impossível pará-lo, seria impossível desmascará-lo. Ele usaria da confiança que as pessoas tinham em mim para fazer o que quisesse.


 


Os amigos ficaram calados, imaginando o quão terrível seria.


 


- E quando Voldemort conseguiu o sangue de Clint, o que você fez? – perguntou Rony curioso


 


Harry se silenciou por alguns instantes.


 


- Quando vi o corpo de Clint estirado no chão do ministério... – ele pausou franzindo a testa – Eu soube que não havia mais saída, sabia que precisaria parar e pensar, precisava de tempo. Merlin, eu não sabia nem por onde começar, eu não sabia o que fazer. Como eu poderia dar conta de tudo aquilo sozinho? Como poderia fazer tudo sem saber quanto tempo eu teria? A verdade é que eu tentei não me desesperar. Me lembro de sentar no chão a um canto e enfiar a cabeça entre as mãos. – ele riu nervosamente – Eu não sei precisar quanto tempo fiquei ali e eu não ouvia as pessoas falarem comigo. Minha cabeça estava a mil e o medo tomava conta de mim mais uma vez. Ali, sentado no meio daquela multidão, pela primeira vez eu entendi o que Mônica sempre insistia em me dizer sobre o destino, sobre estar destinado a algo.


 


Mônica sorriu ternamente para ele.


 


- E eu entendi que meu destino estava traçado. Ou eu morreria enfrentando Voldemort ou o derrotaria e ficaria trancafiado em uma casa durante um ano. – ele concluiu – Eu só tinha que me preparar pra qualquer uma das duas. Me levantei naquele instante com um único propósito: fazer com que vocês realizassem o contra-feitiço.


 


- Mesmo sem sabermos de nada. – disse Gina impressionada


 


Harry deu de ombros.


 


- Eu precisava elaborar um quebra-cabeça, arquitetar um plano sem falhas. E sozinho! Comecei analisando as possibilidades de Mônica me tirar de lá, ela era minha única família, tinha que ser ela. – disse óbvio – Mas ela não tinha dois dos requisitos, ter tido contato com Voldemort e ter matado alguém. Tentei fazer com que ambas as coisas viessem a acontecer, mas Voldemort era esperto demais, era cauteloso e não errava, ele agia de modo perfeito. Vi que ele não apareceria nas batalhas que se seguiriam, e que foram muitas por sinal. – ele pausou, ainda matinha o tom sombrio – Mais noites em claro se seguiram, minha mente não parava um instante sequer. Foi então que cheguei à outra solução: Cedrico.


 


Os meninos estavam atentos a cada palavra dele. Ele continuou.


 


- Cedrico havia tido contato com Voldemort através de Quirrel, que no final ele acabou servindo pra alguma coisa. – disse com repúdio – E cheguei a uma conclusão óbvia também, se Cedrico se casasse com minha irmã seria meu parente, seria meu cunhado, seus filhos seriam Potter assim como eu. Era simplesmente perfeito e Voldemort jamais desconfiaria e acharia que eu estava fora da jogada. – disse simples – Só faltava uma única coisa, Cedrico precisava ter sangue em suas mãos, precisava matar alguém, e eu precisava dar um jeito nisso.


 


Cedrico o olhou sem acreditar.


 


- Você... – ele estava sem ação – Você armou aquilo?!


 


Harry concordou e os amigos estavam surpresos, pasmos.


 


- Eu sinto muito. Não me orgulho disso. – disse sincero – Sei que é algo que você vai carregar pelo resto da vida, mas não tive escolha. Tinha que ser feito.


 


- Como... – Cedrico não terminou de falar


 


- Não interessa como eu fiz, você não vai querer saber. – disse Harry com pesar e Cedrico concordou – Quando Cedrico estava pronto pra realizar o contra-feitiço eu já tinha algumas coisas preparadas. Já havia há muito tempo preparado a mansão dos Black pra me abrigar por um ano, já havia descoberto que Dolohov era o único que poderia realizar o feitiço e já havia escolhido um cofre em Gringotes com um número que Hermione não teria dificuldades em descobrir.


 


- Você fez tudo isso sozinho? – perguntou Draco ainda mais impressionado – Enquanto acontecia uma batalha atrás da outra, batalhas em que você duelava com tanta precisão e êxito, você simplesmente fazia tudo isso sozinho? E sem ninguém desconfiar?


 


Harry concordou mais uma vez.


 


- Eu precisava ser perfeito Draco, eu não podia errar. – disse com um semblante triste


 


- Como você sabia que os anéis eram capazes de mostrar o horário? Como você sabia que o outro livro estaria no escritório do meu pai? – perguntou Draco empolgado


 


Harry riu das perguntas dele.


 


- Minha estadia na biblioteca me ensinou muita coisa Draco, utilidades secretas de anéis mágicos foram as mais simples delas. – disse divertido – E quanto ao livro, bem... Eu não sabia que havia outro livro e que ele estaria lá, eu não sabia sobre nada daquilo, mas eu tinha um pressentimento de que havia algo lá, precisava arriscar e se vocês não encontrassem nada eu tinha certeza que iriam procurar em outro lugar.


 


Draco riu impressionado e Harry prosseguiu.


 


- Eu tinha uma última preocupação, a de como iria preparar vocês. Eu pensei em várias formas de dizer a vocês o que fazer, mas tinha medo de dizer mais do que deveria e anular o contra-feitiço, eu não podia arriscar, tinha que ser cauteloso, milimetricamente cuidadoso. – pausou – E por fim o último passo, eu precisava deixar o anel. Sem ele vocês não poderiam descobrir o horário e nem desconfiariam que eu estaria vivo.


 


- Como assim? – perguntou Rony


 


- Se quando eu matasse Voldemort eu estivesse usando o anel, ele iria comigo para onde eu fosse. – explicou


 


- E como você fez? – perguntou Thereza sem entender


 


Harry não respondeu, esperava que eles já soubessem disso. Os segundos de silêncio dele fizeram a ficha dos amigos caírem.


 


- Você derrotou Voldemort sem o anel? – perguntou Hermione pela primeira vez


 


- Sim. – disse e eles ficaram surpresos – Quero dizer, eu usei o anel durante boa parte do duelo, tirei no momento final, apenas alguns segundos antes de derrotá-lo, se não o anel daria um horário diferente do horário em que o portal seria aberto.


 


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Voldemort estava quase rendido e Harry parecia intacto, impecável. Harry tinha a varinha apontada para o peito do bruxo, enquanto a de Voldemort estava jogada no outro canto da sala. O homem olhou desesperadamente para a sua própria varinha, mas gargalhou em seguida.


 


- Tenho uma surpresinha pra você essa noite Potter. – disse com um sorriso doentio


 


Harry não alterou sua feição, ele estava sério e determinado.


 


- Não gosto de surpresas Voldemort. – disse frio – E por isso trato de descobri-las antes que aconteçam.


 


Voldemort desfez o sorriso.


 


- Então você sabe. – disse visivelmente contrariado


 


Harry balançou a cabeça confirmando e sem desgrudar os olhos dele tirou o anel do dedo.


 


- Também não gosto de conversas, vamos direto ao ponto Riddle. – Harry ergueu a varinha novamente e sem hesitar, sem temer as conseqüências, proferiu o feitiço – Avada Kedavra!


 


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- Depois disso só me lembro de acordar na mansão dos Black. Não sabia quanto tempo havia ficado desacordado, sabia apenas que Voldemort havia conseguido, ele havia me aprisionado e conseguido mais uma chance de voltar. – disse Harry com um olhar distante


 


- O que aconteceu lá Harry? – perguntou Gina direta


 


- Vocês querem mesmo saber? – ele perguntou, eles não responderam e Harry riu – Me respondam uma coisa, talvez vocês não tenham tido tempo pra pensar nisso, mas o que vocês acham que aconteceu com Voldemort durante todo esse tempo? Digo, o corpo dele foi destruído, mas onde ele esteve?


 


Harry se surpreendeu com a resposta imediata.


 


- No seu corpo. – respondeu Cedrico tranqüilo


 


Harry sorriu orgulhoso.


 


- Como você descobriu? – quis saber Harry


 


Cedrico suspirou ao receber a confirmação e passou a mão nos cabelos.


 


- Depois que lemos sua carta. – contou – Nela você dizia que não haveria nada sobre você que ele não saberia, seus temores, seus segredos, seus pensamentos. Cheguei a conclusão que só tendo estado dentro da sua mente pra saber tudo isso.


 


Harry balançou a cabeça.


 


- Você está falando sério? – perguntou Rony sem acreditar


 


- Eu e Voldemort dividimos o meu corpo nesse último ano. – confirmou Harry – É claro que por ser o meu corpo eu tinha certo controle e fiz o possível e o impossível pra mantê-lo afastado, mas...


 


Ele parou de falar. Os amigos estavam completamente atordoados, confusos, surpresos e sentindo pena de Harry.


 


- Quando descobri que isso aconteceria não descansei até encontrar uma maneira de mantê-lo o mais longe possível. – voltou a falar em tom frio – Descobri que havia uma maneira. Eu precisava fechar minha mente, precisava mantê-la concentrada, não podia deixá-la vulnerável. Mas não era tão simples como parecia, eu precisava treinar, precisava aprender a deixar minha mente vazia, e várias noites, enquanto todos dormiam eu treinava, eu praticava.


 


Os garotos continuavam sem dizer nada, apenas ouviam tudo atentamente.


 


- Aprendi que pensar em vocês deixava minha mente vulnerável, principalmente em você Mione. – disse a olhando tristemente – Aprendi que algumas leituras faziam minha mente ficar dispersa e outras me mantinham concentrado e aprendi a fechar minha mente, a controlar meus impulsos e sentimentos.


 


- E você conseguiu evitá-lo? – perguntou Gina interessada


 


Harry maneou a cabeça.


 


- No primeiro mês sim. – contou e viu a confusão no rosto deles – Quando acordei depois da batalha, sozinho naquela casa escura e fria, não encontrei vestígios de que ele estivesse... como posso dizer... – pensou antes de falar – bem, que ele estivesse dentro de mim. Era como se fosse apenas eu e cheguei a pensar que talvez estivesse errado. Ainda assim mantive minha mente fechada, tentava não pensar em vocês e conseguia no início, e lia livros que havia levado que me mantinha concentrado. Era basicamente isso que fazia durante o dia, quando não estava lendo me sentava e tentava não pensar em nada.


 


- E durante a noite? Como você fazia pra não ficar vulnerável? – Mônica questionou o irmão


 


Ele demorou um pouco para falar.


 


- Eu me sedava. – respondeu envergonhado – Usei meus meios para comprar uma boa quantidade de remédios trouxas que tinham essa finalidade, e possuía um estoque enorme desses remédios. No início eu tomava um antes de me deitar e ficava tão sedado que minha mente adormecia.


 


Os garotos estavam cada vez mais admirados com a história de Harry.


 


- E porque parou de dar certo? – perguntou Gina novamente – Você disse que só conseguiu no primeiro mês.


 


Ele balançou a cabeça.


 


- Depois de um tempo começou a ficar difícil não pensar em nada, não pensar em vocês. Eu me sentia sozinho e a cada dia que passava aquela solidão aumentava. – disse em tom angustiado – Não era parecido com nada que eu costumava sentir, era diferente, doía, era como um vazio dentro de mim, uma angustia e um desespero que não conseguia controlar, que não iam embora, apenas cresciam e cresciam... – ele pausou – E eu não agüentei, eu fiquei vulnerável por alguns instantes e pela primeira vez ele deu sinal de vida.


 


Harry estava visivelmente abatido, era como se estivesse vivendo tudo novamente, todo o sofrimento. Ele esfregou o rosto com as duas mãos, suspirando.


 


- Eu ouvia a voz dele dentro da minha cabeça, ouvia ele dizer coisas e me provocar. – disse Harry olhando para baixo – Ele parecia tão a vontade lá dentro... como se estivesse lá o tempo inteiro. E realmente estava. – Harry parecia desnorteado – Naquela primeira vez foi muito rápido, eu consegui me recuperar a tempo, mas já havia dado uma brecha, uma parte de mim já não tinha mais forças e ele sabia disso, ele sabia de absolutamente tudo. E outras vezes se seguiram depois daquela. No segundo mês algumas aparições, rápidas, mas que me deixavam enfraquecido. No terceiro mês elas duravam mais tempo e ele ria enquanto eu gritava, gritava em desespero, como se pudesse ficar livre dele, mas não acontecia.


 


Os amigos pareciam apavorados agora e Harry desolado.


 


- As coisas começaram a piorar com o tempo e eu passei a tomar dois remédios para dormir, porque um não era mais suficiente. – disse tentando se conter – Eu comecei a ficar deprimido, a enlouquecer, eu não conseguia mais fechar minha mente e não parava de pensar em coisas que me deixavam triste, geralmente pensava em vocês. Até que um dia ele apareceu tão forte que...


 


Ele pausou e balançou a cabeça negativamente.


 


- Continue Harry, queremos saber. – pediu Hermione


 


Ele pensou um pouco mais antes de voltar a falar.


 


- Até que um dia ele assumiu o controle do meu corpo. – contou com amargura – Eu me tornei o prisioneiro na mente dele e ele tinha o controle. Não foi por muito tempo, mas tempo o suficiente pra que eu entrasse em pânico, pela primeira vez eu me desesperei, enquanto o ouvia rir de forma doentia.


 


- Merlin... – sussurrou Thereza assustada, assim como os outros


 


- Eu corri até a despensa e peguei um dos vidros de remédio, joguei vários na mão e os tomei sem hesitar. – continuou se contendo novamente – Nem ao menos sei quantos eram. Peguei mais alguns frascos coloquei-os dentro do bolso da jaqueta que usava e já meio grogue corri pro quarto onde dormia, me joguei na cama já completamente sedado e apaguei. – disse friamente – Também não sei precisar quanto tempo fiquei desacordado, mas me lembro de acordar muito tonto, ir até o banheiro e vomitar. Depois voltei pra cama, com medo de que ele voltasse e com a mão trêmula peguei mais um frasco e tomei mais uma grande quantidade de remédios, mais uma vez apaguei. Fiz isso durante uns vinte dias, creio eu. Até os remédios no bolso da jaqueta acabarem. – ele piscou algumas vezes – Quando acordei pela última vez depois de me sedar daquele jeito não sabia nem mesmo aonde eu estava, levei algum tempo para recuperar a lucidez e meu corpo inteiro doía.


 


- Você poderia ter morrido sabia disso? – acusou-o Hermione desesperada


 


Ele a encarou com pesar, se sentindo culpado e ela suspirou.


 


- Eu não pensei, eu estava apavorado, assustado e sozinho. Não tinha a quem recorrer e nem ao menos sabia porque aquilo tinha acontecido. – disse se desculpando – Eu só queria que não acontecesse mais ou eu enlouqueceria de vez! Quando eu voltei a mim percebi a besteira que tinha feito.


 


Ela balançou a cabeça segurando as lágrimas.


 


- Dalí pra frente ele voltava com freqüência e novamente tomava controle por algum tempo e eu não conseguia mais me manter concentrado, não conseguia mais fechar minha mente por muito tempo. – disse com a voz rouca – Eu voltei a tomar os remédios apenas antes de dormir e somente dois. Depois de um tempo eu comecei a colocar a cabeça no lugar e a me acostumar com ele controlando meu corpo, percebi que era sempre temporário, mesmo que me causasse sofrimento eu tinha que agüentar. Quando me conformei com aquilo voltei a me fechar, parei de imaginar, de evocar lembranças e memórias, parei de choramingar e comecei a lutar.


 


- Lutar? – perguntou Mônica sem compreender


 


- Sim, lutar. – confirmou ele – Quando ele aparecia e tomava controle do meu corpo eu lutava, lutava tentando voltar. E começou a dar certo, eu conseguia voltar quando ele estava no controle e as vezes ele retomava em seguida. Era...estranho. – admitiu – E quando eu me permitia pensar em vocês lá estava ele novamente, mas eu não me importava, pensar em vocês me ajudava a não enlouquecer e a não me sentir fraco, eu conseguia sobreviver, apesar da solidão nunca ir embora. E assim foi até o final, quando ouvi a voz dele pela última vez.


 


- Ontem? – perguntou Draco e Harry concordou – Como foi? Ouvimos gritos.


 


Harry franziu a testa.


 


- Não sei exatamente o que aconteceu, me lembro de ouvir a porta se abrindo e então algo parecia rasgar minha pele, como se estivesse tentando sair. É só do que me lembro. – admitiu


 


A mesa caiu em um completo silêncio, todos pareciam ocupados demais em seus próprios pensamentos.


 


- Eu não sei como você agüentou Harry, eu não conseguiria. – disse Rony quebrando o silêncio – E sei que muitas coisas você não nos contou e respeito isso. Como esses cortes na sua mão e em alguns lugares do seu corpo.


 


Harry deu um pequeno sorriso para o amigo.


 


- Não importa mais o que aconteceu. – disse Harry sereno – Sei que jamais vamos esquecer, mas algum dia vai parar de doer quando lembrarmos.


 


Todos concordaram.


 


- É hora de deixarmos o passado pra trás e pensarmos no futuro. – disse Hermione – Essa parte das nossas vidas chegou ao fim, vamos começar novamente.




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