Capítulo Dezoito



Capítulo 18
Ou The One With Drinks and Moments



- Podemos conversar?



- Não. – passei direto por Nigel, sem olhar para ele. 


- Eu sinto muito, Lene. – ele respondeu, me seguindo. – Eu estava de cabeça quente. E você mentiu para mim.



- E daí? Não te dá o direito de mexer nas minhas coisas! – agora o olhei com raiva. 


- Mas você mentiu para mim. Sobre outro cara. – ele segurou meu braço de uma maneira nada delicada.



- Me solta! – eu falei, ele estava machucando meu braço. Naquele momento, me arrependi profundamente de ter falado a todos que preferia ficar no hotel descansando a ir passear. 


- Como você acha que eu me senti? Eu tinha o total direito de saber!



- Me solta agora, ou eu vou gritar. – eu falei, pois eu sentia que a circulação do meu braço estava quase parando. 


- Não ouviu o que ela disse? – uma voz familiar falou ao nosso lado. Sirius estava lá, com a mão no braço de Nigel. Nigel riu sarcástico da situação.



- Perfeito! – ele me soltou e encarou Sirius. – Veio resgatar a donzela para se mostrar? – ele empurrou Sirius, que o empurrou de volta. Eu interferi, colocando-me entre os dois, mas Nigel empurrou-me contra Sirius, que me segurou para que eu não caísse. Ele se assustou, acho que não esperava que eu tentasse parar a briga. 


Cheguei perto dele, e com toda a força que eu tinha naquele momento, joguei meu punho contra seu rosto. Devo admitir que doeu muito mais do que quando bati na Jessica.



- Acabou, Nigel. – eu disse, e fui embora, ignorando toda a dor que eu estava sentindo. Entrei no primeiro elevador que encontrei de porta aberta, e me encostei na parede, respirando fundo. Apertei o botão do 12º andar, mas o braço de alguém impediu que a porta fechasse. 


- Você tem uma maneira estranha de lidar com as pessoas. – Sirius disse, entrando no elevador. Eu não respondi, e tentei ao máximo não olhar para ele. – Deixe-me ver sua mão.



- Não. – a dor que eu sentia já estava insuportável. O elevador logo chegou ao meu andar e saí do elevador, abrindo a porta do meu quarto. Ele me seguiu para dentro do quarto, e fechou a porta atrás de si. Sentei-me na cama, respirando fundo. Será que toda essa cena aconteceu mesmo? 


A confirmação de que tudo realmente ocorrera veio quando ele sentou-se ao meu lado, com um pano branco enrolando cubos de gelo na mão. Ele estendeu a mão, pedindo a minha. Bufei, colocando a minha mão sobre a dele, delicadamente. Estava doendo muito.



- Bom, eu tenho que admitir. – ele falou, depois de um tempo pressionando o pano com gelo contra a minha mão. – Você é durona. Não está quebrada. 


- Como é que você sabe? – eu perguntei irritada. Estava doendo bastante, desta vez tinha que estar quebrada.



- Eu já quebrei a mão direita, o braço e a perna. Várias vezes. – eu arqueei as sobrancelhas. De onde garotos tiram tempo para se quebrar tanto? – Se estivesse quebrado, você não estaria agüentando a dor. 


Eu finalmente o olhei. Sua atenção estava voltada para a minha mão, num misto de tédio e diversão.



- Bom, pelo menos alguém está se divertindo. – eu resmunguei, e ele me olhou. 


- Você tem que admitir que é um pouco engraçado. – ele respondeu, sorrindo. Eu apenas revirei os olhos, bufando. – Você anda por aí, parecendo que vai quebrar a qualquer momento como se fosse de porcelana, mas toda vez que você se irrita com alguém dá um murro na cara deles. É engraçado.



Eu ri levemente pelo nariz, um pouco surpresa pelo que ele acabara de dizer. – Não faça graça de mim. Eu ainda tenho meu punho esquerdo. 


- Vamos. – ele levantou-se ignorando o que eu dissera. Eu o olhei sem entender. – Você precisa ir ao hospital.



- Ah, é claro! – eu falei irônica, sem sair do lugar. – Eu não vou ao hospital! Eu não preciso. – ele não disse nada, apenas pegou a minha mão e apertou levemente. – AI! 


- Se você não sair deste quarto agora, eu mesmo te carrego daqui. – ele falou entediado, mas dava pra sentir no olhar dele que estava me ameaçando.



- Você não faria isso. – Um segundo depois de eu ter respondido isso, ele simplesmente me jogou em seu ombro, exatamente como fizera alguns meses atrás no aniversário de James. – Me solta! – eu berrei, batendo nas costas dele, fazendo de tudo para que me soltasse. Ele me soltou no corredor e voltou para dentro do quarto, e antes que eu pudesse entrar de volta, ele saiu, trazendo meu casaco cinza que estava na cama. Eu peguei o casaco da mão dele. – Você me pagar por isso. 


xxx



- Poderia ser pior. – ele falou para mim, que estava irritada. – Poderia estar quebrada. 


- Cala a boca.



Minha mão não fora engessada, mas enfaixada de uma maneira que nem dava para usar luvas. Eles queriam o quê? Que eu perdesse a mão nesse frio?! Quando chegamos lá fora, havia alguns táxis na porta do hospital. 


- Você pode ir. – eu disse a ele. – Eu não vou voltar para o hotel agora. Obrigada. – eu disse, saindo andando antes que ele respondesse.



- Paris é uma cidade grande como Londres. – ele respondeu, e eu parei olhando-o entediada. – Está escurecendo, e não é legal você ficar por aí sozinha. 


- É, mas eu não vou voltar para o hotel agora. – eu respondi, voltando a andar na direção contrária de onde ele estava. Menos de dois minutos depois, eu o ouvi bufar irritado ao meu lado. Eu sorri levemente.



- Você é muito teimosa, sabia? – ele falou, colocando as mãos no bolso da jaqueta. 


- Eu sei. É uma das melhores coisas sobre mim. – eu respondi, com uma voz super falsa de patricinha.



- O que quer fazer agora? 


- Beber. – eu respondi, e ele arqueou a sobrancelha. – Não para ficar bêbada, mas para me esquentar. Está muito frio! – foi uma meia verdade. Eu esperava ficar um pouco bêbada para tentar esquecer o que acontecera antes.



- Você não pode beber. – ele falou, e eu o encarei. – Está tomando analgésicos. 


- Ah, é verdade. – falei, lembrando-me. – Que merda.



- Mas eu conheço um lugar com um café muito bom. – ele respondeu e eu aceitei. Voltamos para frente do hospital e pegamos um dos táxis. Em menos de 10 minutos, estávamos um prédio antigo num bairro que parecia ser boêmio. O prédio abrigava um café, e em seu último andar, havia várias mesas e sofás para relaxar. Escolhi sentar-me numa daquelas grandes janelas de vidro com bancos juntos. 


- Como conheceu este lugar? – eu perguntei, ainda um pouco maravilhada pela vista de Paris iluminada que havia daquela janela.



- Lola é amiga do dono. 


- Bom, diga a Lola que ela tem ótimos contatos. – eu respondi e ele riu. Peguei meu chocolate quente, e tomei um gole. Rapidamente senti o calor se espalhar pelo meu corpo. Ele pegou sua xícara de café e fez o mesmo. Ficamos vários minutos em silêncio, até que não agüentei.

– Você quer brincar de jogo da verdade?



Ele riu, provavelmente achando que eu tinha a mentalidade de uma pré-adolescente. Mas eu não estava nem aí. Minha mão doía, e o fato de eu estar tomando remédios me deixava com o raciocínio desse jeito.



– Eu não jogo isso há muito tempo. – ele respondeu. – Mas como vou saber se você está dizendo a verdade? 


- Se você falar a verdade, também falo.



- Eu sempre falo a verdade. – ele arqueou as sobrancelhas. 


- Eu também. – eu respondi, sorrindo. Era mentira, mas eu não iria falar isso.



- Muito bem, eu começo. – ele falou, colocando a xícara na mesa ao lado. – Porque faz esse papel de Bonequinha de Luxo? 


Uau, isso que é ser direto. Deveria ter ficado irritada por ele ter me chamado assim, mas naquele momento não liguei.



- Eu sou assim. Não é um papel. – eu respondi dando ombros. 


- É sim. – ele continuou, e eu arqueei as sobrancelhas. – Se fosse desse jeito mesmo, não daria soco nas pessoas que te irritassem, ou tomaria conta da minha irmã como naquele dia.



- O que está querendo dizer? 


- Você não é egoísta. – ele respondeu, surpreendendo-me. – Pelo menos não o quanto eu pensava. – ele me encarava com seus olhos azuis e eu não disse nada por alguns segundos.



- Minha vez. – eu falei, interrompendo aquele momento desconfortável. – Porque não se juntou ao time de futebol? Sei que passou nos testes. 


- Eu fiz o teste por diversão. – ele respondeu, tranqüilo. – Eu não teria tempo para treinar.



Eu assenti, sem saber o que falar. Lembrei-me do quanto Nigel ficara feliz por passar no teste. 


- Porque nos deu aqueles presentes de Natal?



- Quem disse que fui eu? 


- Sei que foi você. – pela expressão em seu rosto, calma e curiosa, percebi que ele sabia mesmo que fora eu. Como ele descobriu, é um mistério.



- Eu não sei. – eu respondi, sentindo meu rosto pegar fogo. Nunca pensei que alguém ouviria de mim que fora eu quem dera os presentes. Especialmente Sirius. Ele nada disse, apenas em encarou. - Porque me ajudou hoje? – perguntei, sem pensar duas vezes. – Quero dizer, você não precisava me ajudar com Nigel, nem mesmo me levar no hospital. 


- Eu sei lá, acho que tenho um problema ao ver pessoas que precisam da minha ajuda e eu não os ajudo.



- Você me odeia? – eu perguntei, sentindo nós se formarem em meu estômago. 


- Não. Seria errado eu te odiar, você não fez nada de mais comigo. Mas espera, agora é a minha vez de perguntar...



- Você me odiava? – perguntei, ignorando o que ele dissera por último. Ele estava se surpreendendo com a pergunta que eu fizera. 


- Não. – ele respondeu por fim, e os nós que eu sentia em meu estômago se desfizeram. – Eu tinha uma idéia errada sobre você. Você me surpreendeu muito.



- Como? – as perguntas surgiam na minha mente e eu as fazia, sem filtrá-las. Mesmo com aqueles olhos penetrantes que me incomodavam tanto, não conseguia desviar meu olhar do dele. Ainda mais por estarmos os dois sentados naquele banco de janela não muito grande. Ele desviou seu olhar do meu, dando ombros. No entanto o que ele dissera ficaria me incomodando pelo resto da noite. 


xxx



- Diga o que quiser, - Lily falou enquanto colocava seus brincos prateados. – mas você tem que dar um crédito a ele por ser tão demais. 


Eu ri. Havia contado a ela tudo que acontecera sobre Nigel e como Sirius me ajudara. Essa última parte que a encantou.



- É, acho que está certa. – eu respondi, pedindo a ela que fechasse o zíper do meu vestido. - Você está ficando velha, Lily. Quando vai se resolver de vez com James? 


Ela revirou os olhos, me dando as costas e eu ri. Estávamos na casa de Lily nos arrumando para a festa de aniversário dela que ela comemoraria num clube perto de Picadilly Circus.



- Seu primo tem que fazer por merecer, Lene. Se não, com certeza haverá alguém nessa festa que me interesse. 


Eu a ouvia enquanto calçava as sandálias de salto pretas. Nem me dei ao trabalho de contradizê-la. Sabia que o que ela falava era verdade. Mas sabia também que James iria tomar uma atitude hoje. Afinal, fui eu quem o incentivou. Assim que ficamos prontas, saímos para o clube. O Downtown – nome super criativo assim como o clube do aniversário de Dorcas – estava lotado, e música tocava alta. Encontramos alguns amigos e James na frente do clube e todos entramos juntos. Lily, eu e algumas meninas fomos direto para a pista de dança. Após alguns minutos, vi Nigel num canto conversando com uns caras. Lily percebeu minha expressão e olhou na direção que eu encarava.



- Eu não o convidei, eu juro! – ela berrou, por causa da música. Eu apenas falei “eu sei”, e sorri para ela. Continuei dançando, até que resolvi parar para beber alguma coisa. Pedi ao bartender algo com frutas vermelhas. 


-Bebendo de novo? – ouvi alguém dizer ao meu lado. Eu não falava com Sirius desde aquele dia em Paris. E agora ele estava lá, apoiado no balcão me encarando com aqueles olhos azuis que me incomodavam tanto.



- Desta vez estou com sede. – eu respondi, pagando a bebida. 


- Porque não bebe água então? É mais seguro. – ele tinha um pequeno sorriso nos lábios. Aparentemente ele se divertia com meus momentos de pseudo-alcoólatra nas festas.



- Mas aí não seria nem um pouco divertido, seria? – eu respondi, dando um gole no drink. Logo senti que não havia nada de frutas vermelhas ali, só álcool. - O que está bebendo? 


- Nada.


- Você não bebe nunca? – eu perguntei, e ele deu ombros. – Aposto que você não consegue descer nem um shot de tequila.



- Você está me desafiando? – ele sorriu de lado, e eu arqueei as sobrancelhas. Sim, eu o estava desafiando. – Dois shots de tequila. 


O bartender logo colocou dois pequenos copos com o líquido alaranjado na nossa frente.



- Sem sal e limão? – eu perguntei, trazendo o copo para mais perto de mim. Ele apenas balançou a cabeça. – Ok, então. No três. Um, dois... – e virei o copinho bebendo todo o líquido. Nem preciso comentar o quanto minha garganta queimou. 


- Demais pra você? – ele perguntou, sorrindo de lado.



- Estou só começando. – eu respondi, pedindo mais duas tequilas. 


xxx



- Ok, acho que você já bebeu demais. – Sirius puxou o copo da minha mão, um certo momento na noite. 


- Se eu bebi foi culpa sua: você que me desafiou. – eu respondi, ouvindo a minha voz um pouco enrolada.



- É, mas eu não achei que você iria realmente aceitar! – ele respondeu como se fosse algo óbvio. 


- Eu não sou covarde. – eu falei, tentando pegar a bebida da mão dele, sem sucesso.



- Eu sei disso agora. – ele disse, me puxando para fora da multidão para a área externa do clube. 


A cada passo que eu dava, tropeçava em meus pés, fazendo com que Sirius me segurasse contra ele toda vez que isso acontecia. Não havia nenhum banco lá, então ele apenas me deixou perto da parede, e eu me apoiei nela, sentindo agora a bebida subir à minha cabeça.



Ele se afastou e eu respirei fundo, com os olhos fechados. Tentava não pensar na maldita ressaca que eu teria depois. Abri os olhos, e vi Sirius, acendendo um cigarro. Se havia algo que eu abominava em alguém, era ser fumante. 


- Você realmente vai fumar agora? – eu perguntei irritada e ele apenas deu ombros, pouco se importando com o que eu dissera. Eu estava quase desmaiando e ele ia fumar?! Fuzilei-o com meus olhos antes de ir decidida até ele e arrancar o cigarro de sua boca, jogando-o para longe. Ele me olhou furiosamente.



- Você é louca? 


- Fumar faz mal. – eu respondi. – E eu odeio fumantes.



- Francamente, eu não dou a mínima. – ele respondeu, utilizando a famosa frase de Clark Gable, mas acho que ele nem percebeu. Apenas tirou o maço do bolso para pegar outro cigarro, mas arranquei-o de sua mão. Ele bufou. – O que há de errado com você? 


- Não há nada de errado comigo. Não sou eu quem está fumando. - ele ficou ainda mais irritado com a minha resposta, e começou a andar em direção a mim. Eu coloquei a mão com o maço nas costas.

– Eu consigo pegar ele de você em um segundo. – Ele respondeu ainda irritado.
 


Eu comecei a correr, mas ele apenas agarrou o meu braço, virando-me para encará-lo e me empurrou contra a parede, e logo percebeu que o maço já não estava mais na minha mão. Ele olhou um abaixo do meu pescoço, o maço estava lá, dentro do decote do vestido. Ele arqueou a sobrancelha, e disse mais uma vez que conseguiria pegar o maço.



- Não se você quer continuar vivo. – eu respondi, com raiva. Eu o mataria ali mesmo se ele colocasse a mão dentro do vestido. 


Ele respirou fundo várias vezes antes de começar a falar.


- Qual é o seu problema? – ele perguntou irritado. – Parece que você muda de idéia constantemente! Um minuto você finge que eu não existo, e no outro não quer que eu fume! O que diabos você quer?!


Ele parou de gritar, e eu apenas o encarava. Suas mãos seguravam meus braços, pressionando-me contra a parede. A bebida parecia estar fazendo efeito nele, pois já não controlava mais sua força e meus braços estavam começando a doer.

- Eu quero que você me solte. – eu respondi calmamente, olhando em seus olhos azuis. Ele o fez, mas não se afastou. Quando eu fiz menção de sair de sua frente, ele apoiou o braço na parede, impedindo a minha passagem. Eu voltei a encará-lo seriamente, na expectativa do que ele iria fazer.
 


Sirius colocou uma mão que estava em meu rosto, e a outra foi para a minha cintura, pressionando-me mais uma vez contra a parede, porém, desta vez com mais delicadeza. Provavelmente era o efeito da bebida, mas senti meu corpo aquecer-se muito rapidamente.


Ficamos nos encarando pelo que eu acho que devem ter sido vários minutos, até que ele aproximou-se, e eu senti que parei de respirar. Quando ele chegou perto suficiente de meu rosto, e nossos lábios se roçaram, ele mordeu levemente meu lábio inferior. Involuntariamente, suspirei. Tê-lo tão perto assim chegava a ser algo quase que torturante. A minha reação fora como um incentivo para que ele finalmente me beijasse.


Fora um beijo lento e calmo, diferente do que fora na festa de Halloween. Minhas mãos subiram para sua nuca, entrelaçando meus dedos em seu cabelo. Quando ele separou-se de mim, ofegante, traçou um caminho de beijos em meu pescoço. Pronto. Ele descobrira meu ponto fraco. Agarrei-me ainda mais a ele, e puxei seu rosto para beijá-lo mais uma vez. 


N/A: estou sem tempo agora, mais tarde escrevo minha notinha! ;)

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