Capítulo Dez



Capítulo 10
ou The One With The Stiff Dylans and Nicholas Sparks


- Oh my God! Se você não ficar com ele, Marlene, te deserdo como amiga! – Lily disse, e eu joguei uma almofada na cara dela. Estávamos no meu quarto, e deveríamos estar estudando ao invés de conversando.


- Quer falar mais baixo? As paredes aqui em casa têm ouvidos. – eu respondi, pensando em James, minha avó e em Sirius. 


- Se ele tivesse te beijado aquela hora, teria sido uma cena perfeita. Do tipo Clark Gable em ‘E o Vento Levou’!


Eu ri. ‘E o Vento Levou’ era um dos filmes preferidos de Lily. E meu também.


- É, mas esse é o mundo real. Onde caras simplesmente não te beijam daquele jeito. E além do mais, tem o Nigel.


- Você nem o beijou ainda!


- É, mas eu fiquei sabendo que vai abrir um novo lugar em Londres. Os Stiff Dylans vão tocar na festa de abertura e o pai de Dorcas arranjou convites para nós! Lugar perfeito para eu ir com Nigel, não acha? – O pai de Dorcas era um publicitário que estava trabalhando para esse club.


- Qual vai ser o esquema? Meus pais não vão me deixar sair pra dançar, e acho que muito menos os seus avós.


- A gente poderia dizer que vamos fazer uma ‘girls night out’ na casa da Emmeline ou da Dorcas.


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- Então – James disse, entrando no meu quarto e fechando a porta atrás de si. – Vocês vão se arrumar na casa de quem?


- Da Dorcas. Você encontra a gente lá? – eu perguntei, terminando de colocar um pijama na bolsa, por cima da roupa de festa, escondendo-a.


- Yep. – ele respondeu. Me despedi de James e Will me levou para a casa da Dorcas.


Lily e Emmeline já estavam lá se arrumando, e uma outra garota chamada Susan Bones, irmã do Edgar, que é amigo do James.


Pouco mais de uma hora depois, está vamos todas prontas. Eu usava meu vestido Marc Jacobs roxo, saltos pretos Prada e uma clutch preta Gucci. Meu cabelo estava mais liso e brilhante do que nunca, e meus olhos muito destacados pela maquiagem escura.


Fomos então para o club, que se chamava ‘Love Sucks’. Me perguntei se o dono não gostava do amor, ou era fã daquela série de vampiros que Lily ama. A fila que havia na frente era imensa, e nós passamos na frente de todos, com os nossos passes VIP.


A música eletrônica tocava alta, e estava tudo escuro, a não ser pelas luzes coloridas que iluminavam a pista no ritmo da música.


Eu e as meninas fomos direto para a pista de dança enquanto James ia no bar pegar uma bebida. Enquanto dançávamos, inúmeros caras chegavam perto de nós. Alguns obviamente bêbados e outros bem legais. Enquanto Dorcas já estava enroscada com um deles, eu apenas procurava Nigel pela multidão. Ou pelo menos tentava.


Até que senti uma mão na minha cintura me puxando. Eu estava pronta para mandá-lo tirar a mão – seja lá quem fosse – quando vi que era Nigel. Ele sorria, e me puxou para perto de si, praticamente berrando em meu ouvido para que eu pudesse escutá-lo.


- Procurando por mim? – eu sorri em resposta.


- Não, eu sabia que você viria.


- E agora, com vocês... The Stiff Dylans! – o DJ anunciou, abaixando o volume da música eletrônica.


E enquanto todos berravam e aplaudiam, Nigel me puxara para fora da pista até o bar. Por ser mais afastado, o som era mais baixo e agora Nigel não precisava mais berrar em meu ouvido.


- O que você quer?


Contando com o fato de que ninguém pediria nossas identidades, respondi:


- Um Bloddy Mary. – e ele logo fez o pedido ao barman. Apoiada no balcão, eu observei o barman que preparava as bebidas. Ele me lembrava muito de Johnny, da festa de James, com seu cabelo loiro e olhos verdes. O que me fez lembrar de tudo que acontecera naquela noite. E no momento que percebi o que estava pensando, tirei isso da minha cabeça rapidamente. 


Nigel me estendeu a taça com o Bloddy Mary, e logo tomei o líquido, para depois pedir outro.


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- That fire you ignited;  good, bad and undecided! Burns when I stand beside it. Your light is ultraviolet!


Depois de vários drinks, dançamos ao som do Stiff Dylans. Nigel me girou durante a música, para depois me puxar mais perto e sem aviso algum me beijou.


O efeito da bebida parecia ser ainda maior agora, fazendo a temperatura do meu corpo subir a cada segundo. A sua mão apertava firmemente a minha cintura contra ele, a outra estava em minha nuca. E eu apenas segurava a camisa dele pelo colarinho impedindo-o de desgrudar de mim.


- Eu sempre gostei de você, sabia? – ele disse, assim que nos soltamos sem fôlego. Eu sorri, assim como ele, puxando-o pela camisa para beijá-lo mais uma vez.


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Quando a terça-feira chegou, parecia que eu ainda não havia me curado da leve ressaca da festa. O dia estava sendo horrível, começando com a cara azeda da minha avó – que, eu cheguei à conclusão, nunca vai mudar – e depois Jessica me atormentando com suas amiguinhas. Meu único consolo era que Nigel estava lá, me animando e me acalmando. Depois do almoço eu iria apresentar o trabalho de Arte Moderna, e eu estava nervosa.


- Vai dar tudo certo. Você vai ver. – ele disse, encostando seus lábios nos meus, suavemente, e então o sinal tocou. – Depois me conta como foi, ok?


- Ok. – respondi, dando mais um selinho nele, e fui para o banheiro, trocar de roupa. Saí de lá vestindo uma calça jeans, sapatilhas pretas, uma blusinha cinza, com meu cabelo preso num rabo de cavalo.


- Oh, olá meus queridos. – Srta. Joy disse assim que entrou na sala. – Vejo que todos entraram no espírito do trabalho. Estão lindos vestidos assim! Então, vamos começar?


Nós fomos os últimos a apresentar a cena, e eu agradeci mentalmente por isso, tive tempo para me acalmar mais um pouco; apresentar trabalhos para a classe nunca fora um ponto forte meu.


Ocorrera tudo bem, consegui me lembrar de quase todas as notas, e segundo a professora, formávamos “uma ótima dupla”. Ela devia estar muito high para pensar e dizer isso.


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- Eu estava pensando – Nigel disse, numa manhã de segunda-feira, me parando no corredor para me abraçar pela cintura. – O que vai fazer hoje à tarde?


- Tenho que checar minha agenda, mas creio que nada. Por quê?


- Quer ir ao cinema? ‘The Notebook’ reestreou e um passarinho me contou que você adora esse filme. – ele respondeu, ainda com aquele sorriso lindo.


- Obviamente você falou com a Lily. – ele deu uma risadinha. – Eu adoraria, mas quer mesmo ir? Você não gosta desse tipo de filme. Faria isso por mim?


- O quê? Assistir um filme com um carinha feio? – ele arqueou as sobrancelhas e fez uma careta. – Hm... é. Por você, com certeza. – ele respondeu sorrindo, para logo depois me dar um selinho.


- Eu quero muito ir. – comecei, mas logo parei, lembrando. – Mas não posso. Essa tarde vai ter reunião na minha casa sobre o baile de debutantes, e provavelmente vai durar até de noite. Minha presença é obrigatória. – seu rosto ficou ligeiramente triste, mas ele tentou esconder isso. – Mas, - eu disse, e ele olhou para mim, com as sobrancelhas arqueadas. – eu posso tentar dar uma escapada no final da tarde, e assistimos à noite, o que acha?


Ele não respondeu, apenas sorriu, para depois me beijar.


- Será que poderei escoltá-la? No baile, quero dizer. – ele perguntou, ainda sorrindo.


O baile de debutantes acontece todos os anos, logo após o Ano Novo, geralmente em Paris. As filhas das mais ricas famílias de Londres participam, usando longos vestidos, sendo escoltadas por caras bonitos (também ricos) e apresentadas à alta sociedade inglesa e francesa.


Antigamente era como as garotas arranjavam seus maridos. Foi desse modo que meus avós se conheceram. Mas os tempos são outros e agora o baile é apenas uma desculpa para os pais introduzirem seus filhos na alta sociedade e para os adolescentes dormirem juntos depois. Foi o que Lily ouviu falar, quando a sua irmã participou dele. É o sonho de toda menina quando criança, participar desse baile. Mas agora que eu tenho que cuidar de vários assuntos do baile, não é mais sonho algum.


- Obviamente. Você sabe que minha avó adora você demais. – eu respondi. E é verdade. Nas vezes em que Nigel jantara ou passara lá em casa, vovó o tratada bem. Bem demais.


- Combinado, então. – ele me deu outro selinho, e mal começara a me beijar quando o sinal tocou. Ele gemeu, frustrado. –Hm, te vejo mais tarde então?


- Com certeza. – falei dando um último beijo nele.


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- Até mais, Marlene querida. Você está linda, igualzinha a sua mãe.


- Ah, obrigada sra. Thomas. Até mais. – eu disse, desfazendo o meu sorriso logo depois de fechar a porta. Ele havia ficado congelado em meu rosto durante as três horas de reunião. Olhei o meu relógio de pulso. Seis e meia. Ainda dava tempo de encontrar Nigel.


Subi calmamente para o meu quarto para que ninguém suspeitasse de nada. Acho que nunca me arrumei tão rápido na minha vida. Sete e cinco, e desci as escadas na ponta os pés para que ninguém me ouvisse. E aparentemente deu certo, até chegar na cozinha.


- Menina Marlene, onde a senhorita vai toda suspeita? – Stella me abordou, quando eu passava pela cozinha.


-Shhh! – eu falei, temendo que minha avó ouvisse. Ela ouve muitíssimo bem quando quer. – Por favor, Stella. Eu tenho um encontro. E não voltarei muito tarde, prometo. Nós vamos no cinema.


Ela parou para pensar um pouco, me encarando. Depois, me deu um sorriso leve.


- Só se é jovem uma vez certo? – eu ri, dando um beijo em sua bochecha.


- Obrigada!


- Hey – ela chamou, quando eu já estava de saída. – Vou ficar acordada, é bom não chegar tarde. Você tem escola amanhã. – assenti, saindo logo em seguida para pegar um táxi. Se Will me levasse, minha avó ai descobrir num segundo.


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Olhei o horário no meu celular: 19h25. Ótimo. Perdi completamente o charme de chegar atrasada, para que não descobrissem que saí com Nigel. Estava sentada no café dentro do cinema, quando meu celular tocou.


- Alô?


- Hey, que bom que atendeu. Você ainda não saiu de casa, né? Não vou poder sair hoje, teve uma confusão aqui em casa sobre o trabalho do meu pai. – ele parou de falar, e quando eu ia responder, me interrompeu: - Ah, não. Você já saiu. Por isso esse barulho todo, né?


-Não. Eu acabei de sair de casa pra pegar um taxi. Mas agora que você me ligou, volto pra casa rapidinho.


É, eu sei que não devo mentir. Mas o que eu podia fazer? Não ia pagar o mico de levar um bolo, logo no primeiro encontro de verdade com Nigel.


- Que bom! Ok, falo com você amanhã, e prometo que vou te compensar depois. Beijo.


Desliguei o celular, e suspirei. Bem, só me restava ir assistir ao filme. Comprei os ingressos rapidamente, para a sessão das 19h40. Comprei um saquinho pequeno de pipoca e entrei na sala, no exato momento em que os trailers terminaram.


Escolhi um lugar no fundo, e assim que me sentei, vi o lanterninha passando perto da tela. Esse era um daqueles cinemas antigos, que manteve a decoração antiga, e a clássica tradição dos lanterninhas.


No final do filme, fiquei surpresa ao ver que o saquinho de pipoca já havia acabado há muito tempo, e meus olhos pareciam que iam saltar das órbitas a qualquer momento de tanto que chorei no filme. Enquanto eu enxugava o rosto com um lencinho, percebi que só havia eu na sessão.


Desci as escadas, olhando cuidadosamente para o chão; eu ainda não estava enxergando direto por causa da escuridão quando bati de frente com alguém. E tamanha foi minha surpresa ao ver Sirius Black na minha frente, usando um uniforme azul-marinho e carregando uma lanterna na mão direita.


- Você é um lanterninha. – eu disse.


- Obviamente. – ele respondeu, arqueando aquela maldita sobrancelha. – E você chorou muito. – ele constatou, olhando o meu rosto. Eu devia estar inchada feito um balão. – Você ‘tá bem?


- Sim. – respondi, rapidamente. – Eu tenho que ir.


Saí da sala, e fui direto ao banheiro. Lavei o rosto, tentando me acalmar. Do filme, do que ele me lembrava, de tudo. Fui para a frente do cinema, tentar pegar um táxi, mas estava sem sorte.


- Precisa de uma carona? – eu não precisava me virar para saber a quem pertencia essa voz. Mas ainda assim, virei. Ele não usava mais o uniforme azul marinho, e sim uma camiseta cinza com uma jaqueta verde e calça jeans.


- Não, obrigada.


- Vem. – ele disse indo na direção contrária a qual eu pretendia ir.


- Pra onde?


- ‘Tá na cara, que você está morrendo de fome. – ele respondeu, dando um sorrisinho.


Eu o segui, pois era verdade. Eu não havia comido nada desde a hora do almoço, exceto aquele pacotinho de pipoca, que no momento parecia mais isopor no meu estômago.


- Ok, - ele começou, assim que pedimos as bebidas no barzinho. – O que aconteceu? Mulher nenhuma chora tanto assistindo aquele filme. A não ser por TPM ou álcool. Eu vou ficar com a primeira opção. Ou você tem bebido algum Jack ultimamente? – ele terminou, com um sorriso torto e eu ri levemente. Ele estava claramente tentando me animar.


- Não, eu não tenho bebido nenhum Jack, Johnny, ou derivados. Deve ser TPM. – eu parei, assim que as bebidas chegaram à mesa. Coca para ele, suco de laranja para mim. – E também – eu hesitei por um momento antes de continuar. – porque esse filme me lembra a minha mãe.


Ele tomou um gole de coca e ficou me olhando, esperando eu continuar. Tinha algo no olhar dele que me incomodava. O modo como ele me encarava. Havia alguma coisa passando na mente dele, e minha curiosidade para saber o que era só aumentava.


- Ela é muito fã dos livros do Nicholas Sparks, acho que ela leu todos. Toda vez que assisto algum filme baseado neles, lembro dela.


- Sinto muito. – ele disse, e eu levantei meus olhar, encarando-o surpresa.


- Porquê?


- Por sua mãe estar longe. Sei como é difícil.


Naquele momento, não pude controlar a minha língua e perguntar a primeira pergunta que me veio na cabeça.


- Como sabe disso?


Era um assunto que o deixava desconfortável, dava pra perceber. Sua postura ficou rígida na cadeira, e ele evitava olhar diretamente nos meus olhos.


- Minha mãe está em reabilitação também. Mas de um jeito diferente da sua mãe.


Pelo modo como ele falava, era como se ela estivesse doente. Eu não disse nada. Era a primeira vez que ele se abria desse jeito. Era até algo estranho, nós não éramos tão próximos e ainda assim, ele estava me contando da mãe dele. E ele sabia sobre a minha mãe.


- Six! – uma mulher disse, chegando na nossa mesa. Era uma morena alta, com longos cabelos escuros, e aparentava ter mais de 20 anos.


- Hey, encrenca. – ele disse, se levantando e dando um beijo na bochecha dela. – O que você ‘tá fazendo aqui? Hoje é o seu dia de servir bebidas.


- Cuide da sua vida, Sirius. – ela disse rindo, e olhou para mim. – Nova namorada?


Arqueei a sobrancelha ao ouvir aquilo. Não sabia se ria do fato de ele ser – possivelmente – um galinha, ou corava pelo fato de ela achar que estávamos namorando.


- Essa é Marlene, ela estuda comigo. Essa é a Lola.


- Colega de trabalho dele. – ela respondeu, ainda sorrindo simpaticamente.


- No cinema? – eu perguntei, pois não me lembrava de vê-la no cinema.


- No pub, na verdade. – ela respondeu antes que ele o fizesse. O olhei meio surpresa. Contando com o trabalho na casa dos meus avós, já eram 3 trabalhos. – Vou indo agora, já estou atrasada pro trabalho. Prazer te conhecer, Marlene.


Ele se sentou e eu apenas o encarei, sarcástica.


- O quê? – ele perguntou confuso e eu ri.


- Lola. – ele rapidamente entendeu o que eu queria dizer.


- Não. O violão veio primeiro. Por causa daquela música ‘Lola’.


- O que há de tão especial nessa música? – perguntei e ele apenas deu ombros, dando aquele sorriso torto.


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- Obrigada pela carona. – eu disse, assim que paramos nos fundos da casa. Já passava das nove da noite, e com muita sorte eu não seria pega. – E pelo jantar.


- Sem problemas.


Tirei a jaqueta que ele me emprestara, e o entreguei. Apesar de ainda ser setembro, a noite estava fria.


- Te vejo por aí. – ele disse, e eu comecei a abrir o portão. – Ah, e fique longe das histórias do Sparks. Não é nada saudável chorar muito.


Sorri para depois revirava os olhos, e ele continuava com aquele sorriso torto no rosto enquanto colocava o capacete e depois ia embora.


N/A: E aí, o que acharam do capítulo? Eu não gostei dele, mas fazer o quê. Mas me digam o que acharam dele! Bom, estou postando agora, sem terminar de escrever o 11, porque vou viajar e ficar um mês fora (Inglaterra, aí vou eu!). Então, para não deixar vocês sem nada para ler, aí está ele. No segundo semestre, terei menos tempo para escrever, porque vou pegar pesado nos estudos, então vocês já sabem o motivo das futuras demoras! Obrigada a quem comentou no Floreios: MMcK, Lari_sl, Viic B., M. Smith e F. Dawson, Mary Malfoy, Fê Black Potter, July A. Black, Jujubaa, Chanel Black.
E no FF.net:
M. Bennet, Jane L. Black, beijomeliga, Luh Broekhart


Beijo,
Gab!


 


Ps: Vocês perceberam como eu não consigo escrever cenas longas? No total são sete cortadas de cenas. (!!!)

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Comentários (1)

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