Todo ou nada



––––CAPITULO VINTE E NOVE––––



Tudo ou nada



Kyo se sentia a cada dia mais estranho, não sabia porque, toda vez que olhava alguém nos olhos escutava a voz daquela pessoa na sua mente, muitas vezes essa voz dizia algo que ele tinha certeza de ser real na mente dela. Evitava conversar com todos, até mesmo Sarah e Tiago, que eram seus maiores amigos no castelo.

Entrementes, os treinos de quadribol estavam a cada dia mais chatos, Kyo estava ficando extremamente bom em cima da vassoura e muito rápido também. Julian não parava de recamar de que ele estava muito afobado e indo com muita sede ao pote, mas ele dizia que só estava aproveitando a velocidade da vassoura.

–Mas a vassoura de Juan Palheros é do mesmo modelo que a sua! –gritou ela, quando ele capturou o pomo bem na frente dela e disse que o apanhador da Lufa-Lufa não tinha chances. –E ele é mais experiente!

–Calma, Julian. –pedia Amanda, pondo a mão no ombro da amiga.

–Não posso ter calma, ele está ficando presunçoso demais! –exclamou Julian exaltada.

–Mas ele realmente é muito bom, o que é que tem demais ele mostrar a sua habilidade, hein, Julian? –perguntou Amanda, ligeiramente inocente demais.

–É verdade, o cara tem o dom, ninguém ganha dele! –exclamava Felipe, que tentava imitar Kyo, quando na vassoura atrás do pomo.

–Vocês acham que só basta um jogador rápido e com uma habilidade ligeiramente fora do comum...?–resmungou Julian –Quadribol é muito mais que isso... é preciso dar a sua alma!

–E eu dou, droga! –gritou Kyo. –Isso aqui é a única coisa dessa droga de castelo que me anima!

–E pra mim isso é minha vida! –exclamou Julian. –A minha e da minha família!

–É, pena que eu não tenha vida nem família para partilhar isso, então, né?!? –gritou Kyo, Julian sentiu um leve solavanco na vassoura.

Felipe abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Ciro e Renan tamparam sua boca. Kyo respirava com dificuldade seus cabelos pareciam muito mais esvoaçantes do que o normal, ficou encarando Julian por alguns instantes, esta sem nenhuma reação, apenas tinha os olhos úmidos e um vermelho muito incomum em sua face. Aos poucos deixou sua vassoura descer devagar, sem tirar os olhos do time lá em cima, estavam a pouco mais de cem metros do solo.

Kyo atravessou o campo na direção da saída leste, que dava quase para a floresta proibida, queria andar: há algum tempo se esquecera que seus pais estavam mortos, sem que percebesse algumas lagrimas lhe escorreram do rosto e algumas gotas de chuva começaram a cair aos poucos. Ignorou a chuva, que rapidamente encharcou suas vestes, com exceção da capa, que possuía um encanto anti-molhante, já não sabia o que era chuva e o que eram lagrimas, apenas sabia que a floresta parecia a cada instante mais distante e o frio cada vez maior.

Quando ele alcançou a primeira arvore da floresta a chuva já caia com força, ele só não entendia como podia estar chovendo, quando a temperatura estava tão baixa, não quis deixar as duvidas lhe consumirem. Sentou-se ao pé da arvore, sentindo algumas gotas, que atravessavam a folhagem, lhe caindo sobre os ombros. “Por que a minha é uma droga tão grande? Sei lá, eu posso ser muito bom em um monte de coisas, mas por que nada da certo pra mim?”.

–Morrer seria uma boa... –Kyo pensou alto, e então uma idéia lhe ocorreu: –Morte... a poção da...

Ele avistou um vulto negro vindo em sua direção, não conseguia reconhecer as linhas difusas por causa da chuva, tinha um guarda-chuva na mão. Ele se levantou devagar, na esperança inútil de reconhecer a pessoa, a qual ele só sabia que era uma garota, por causa das curvas. Apertou os olhos, para tentar ver alem das gostas de chuva que lhe escorriam dos cabelos para os óculos.

–Nanda? Que você quer aqui? –perguntou Kyo, quando reconheceu a garota, que agitava os cabelos vermelhos, para espirrar o excesso de água.

–Eu queria conversar com você. –disse a garota, passando a mão por entre os cabelos.

–Conversar? Aqui?

–É... eu te vi vindo pra cá.

–E sobre o que você quer conversar?

–Sobre você.

–Eu? Como assim.

–Eu vi vocês e a Julian discutindo no campo.

–Ah, aquilo? Eu perdi o controle.

–Você anda perdendo o controle com muita facilidade, Ka.

–Eu não tenho muitas coisas para me distrair.

–Por que?

–Eu não tenho nada nessa droga de castelo, eu morro de medo de perder meus amigos, lá fora eu não tenho vida e tem um cara por ai tentando destruir o resto que me sobrou... eu não tenho muitos motivos pra me alegrar, tenho?

–É, não tem, mas mesmo assim, você vai se deixar abater? Vai deixar o mar te engolir?

–Eu não desisto nunca.

–E então? Você não pode sair explodindo toda vez que alguém falar com você!

–Eu não vou explodir toda vez que alguém falar comigo! Eu só estava cheio... –Kyo passou a mão pelos cabelos, para bagunça-los. –eu preciso de alguém comigo... de carinho, sabe?

–Você tem um castelo aos seus pés.

–Mas não tenho o que mais quero...

Sem querer Kyo deixou seus olhos encontrarem os de Nanda: “Se você soubesse que eu amaria ser o que você mais quer... se você soubesse o quanto eu te amo... se você soubesse que há seis meses não durmo direito sabendo que você é o que eu mais quero nesse mundo e durmo ao lado da pessoa que você mais quer... às vezes eu penso que...”.

–Suicídio é uma boa... –resmungaram os dois em uníssono.

Eles se encaram por alguns segundos, Kyo não sabia o que fazer, sem querer deu um passo a frente, Nanda pareceu estar pensando o mesmo que ele, pois fez o mesmo.

–Eu... eu... eu... –Nanda mal conseguia falar, seus olhos estavam fechados.

–Está muito perto..? –sugeriu Kyo. –Talvez.

A mão de Kyo, involuntariamente seguiu até o rosto dela, acariciando-o de leve, a garotas dava leves gemidinhos, como se realizasse um sonho. Ele deixou seu rosto se aproximar do dela, sentiu suas respiração quente, o peito dela arquejar do peito dela, seus rostos estavam muito próximos, ele sentiu o calor dos lábios dela mais uma vez, desta vez com vontade, não por impulso.

–Que bonito, o Hunter pegando a Flinch-Fletchey debaixo duma arvore! –uma voz desdenhosa disse as costas dele, assustando-o, ele puxou a garota para mais perto de si. –Que pena que ele só pega as garotas mais estranhas de Hogwarts: as grifinórias.

–Pelo menos nenhuma lembra um buldogue. –disse Kyo, tossindo de um jeito que lembrava muito o nome “Bulstrode”.

Kyo se virou muito rápido, sentiu o rosto de Nanda tocar suas costas pouco abaixo da nuca e ouviu-a soltar uma exclamação de desapontamento, meio abafada. Malfoy os observava desdenhosamente, usava as vestes de quadribol da Sonserina, os cabelos despenteados, provavelmente não se preocupara com sua aparência, e uma vassoura nas mãos, esta possuía o cabo negro e cerdas douradas.

–Que é que você quer Malfoy? –perguntou Kyo, severamente.

–Nada, só estou aqui, observando a novela mais famosa do castelo: Kyo Hunter e as mil doidas apaixonadas. –respondeu Malfoy, o desdém crescendo.

–Cai fora, Malfoy! –exclamou Nanda, a voz muito aguda. –Não vê que tá atrapalhando?!?

–É, e eu não gosto de ser atrapalhado, Malfoy! –disse Kyo, tirando a capa do uniforme de quadribol, que magicamente se mantivera seca, e pondo-a sobre os ombros da garota.

–Ah, gente, não liguem para mim, eu estou apenas observando, podem continuar, na boa... –zombou o louro.

–Cala a boca, Malfoy! –Nanda gritou com a voz mais aguda do que antes, desta vez sacando a varinha e indo na direção de Malfoy.

–Tsk, tsk, tsk... –fez Malfoy, enquanto observava ela sacar a varinha, com o dobro da velocidade da garota. –Eu guardaria isso, Flinch-Fletchey.

–E por que eu faria isso, seu cabeça de bagre? –perguntou ela, Kyo achou que as cordas vocais da garotas deviam estar com um belo dum defeito. –Expelliarmus!

Protego! –disse Malfoy, se livrando com facilidade do feitiço da garota. –Idiota! Que raio de bruxa é você? Você não desarmaria um elfo domestico com um feitiço desses!

Nanda soltou um grito incrivelmente alto e agudo, mostrando a sua irritação com a criatura nojenta que Malfoy estava se mostrando, Kyo pôs as mãos no ouvido, mas Malfoy pareceu achar aquilo engraçado, pois apenas riu. Ela correu na direção do louro, os braços erguidos.

–Idiota! Idiota! Idiota! –dizia Nanda, dando socos no peito de Malfoy, Kyo se perguntou se aquele risinho dele era mesmo porque estava achando graça ou se era apenas para não chorar.

–Flinch-Fletchey, dá para parar? –pediu Malfoy. –Você tá amassando as minhas vestes.

–E você acha que eu ligo, seu desgraçado?!? –gritou ela. –Eu quero te matar!

–Faz o seguinte: cala a boca, tá? –sugeriu o louro. –Estupefaça!

Kyo viu Nanda cair em câmera lenta e correu para segura-la. Não acreditava que conseguisse a tempo, mas, contrariando todas as leis da física que conhecia, ele chegou e a segurou.

–Você é louco? –perguntou Kyo, se exultando. –Estuporar a garota? Ela não tem metade do seu poder! Sem infância!

–E daí que ela não tem metade de meu poder? –zombou Malfoy. –Ela é que começou.

–E se eu te estuporasse agora?

–Você teria que passar por metade da Sonserina antes. –disse uma voz em meio às arvores.

Malfoy riu, só então Kyo percebeu que vários moradores da Sonserina os rodeavam. Kyo não se mexeu, apenas olhou a volta com indiferença.

–Você acha que com só esse caras você vai me derrotar? –perguntou Kyo, a voz até brincalhona.

–Eu tenho certeza! –respondeu Malfoy, apontando a varinha para Kyo.

–Você ainda é peixe pequeno Malfoy. –zombou Kyo.

–Da ultima vez que brincamos eu te dei um belo trabalho, Hunter, não se lembra?

–Lembro, mas você não cresceu desde então.

–Você perdeu o amor a vida, Hunter? Não tá vendo quanta gente tem a nossa volta?

–E..?

–Você perdeu o juízo, só pode.

–Nunca estive tão são, e com tanta vontade de deixar alguém passar algumas semanas na ala hospitalar. Quer ser minha cobaia Malfoy?

–Cala a boca Hunter! Irocnomanam!

Kyo não sacou sua varinha para se defender, nem mesmo se mexeu, tinha uma certeza na cabeça: “não é preciso uma varinha para realizar feitiços simples”.

Protego! –disse ele, fazendo com que o jorro de luzas roxas explodisse a pouco mais de um palmo de seu rosto.

Os olhos de Malfoy se arregalaram junto com os de metade de Sonserina, Kyo apenas sorriu, sentindo um certo prazer em ver Malfoy e seus capangas assombrados daquele jeito.

–Que foi Malfoy? –zombou Kyo. –Surpreso?

–Co... como você fez isso? –perguntou Malfoy, um que de pavor na voz.

–Um bom bruxo sabe controlar seus poderes. –respondeu Kyo, a voz ainda em tom de zombaria.

–Isso não foi uma resposta, Hunter! –gritou Malfoy.

–Eu te devo satisfações? –perguntou Kyo, com um tom de voz ligeiramente monótono.

–Fala logo Hunter! –gritou Malfoy, avançando na direção de Kyo.

–Não é preciso uma varinha para realizar feitiços simples. –disse uma dos garotos da Sonserina, que era muito mais alto que os outros.

–Seu amigo já disse tudo, Malfoy, dá licença.

Kyo se abaixou e, com alguma dificuldade, pegou Nanda no colo, os sonserinos riam do esforço do garoto, Nanda era ligeiramente pesada para seu tamanho e corpo.

–Ah, Hunter, tá muito pesado? –perguntou Goyle, meio que exibindo seu braço. –Quer que a gente te ajude?

–Pesado tá, Goyle, mas eu não preciso de uma mula de carga. –até mesmo os sonserinos riram da cara que Goyle fez, quando, finalmente, entendeu a piada.

Com muito esforço Kyo seguiu andando na direção do castelo, com Nanda nos ombros. Os pés do garoto afundavam no chão molhado e cheio de lama, fazendo-o andar com ainda mais dificuldade, Nanda gemia de leve, como se aos poucos recobrasse a consciência.

Ele entrou no castelo, viu algumas pessoas o observarem com curiosidade, alguns davam risadinhas, como se achassem que Kyo tinha aprontado alguma com Nanda, ele não pode conter um pensamento meio pervertido, que, logo após, desejou com toda a sua vontade não ter tido.

–Ei, Hunter! Que é isso ai? –ele escutou Tathiane gritar de algum lugar no segundo andar.

–Hunter? Que é isso? –perguntou Kyo, ofegante –Perdeu o respeito?

–Ah, eu tô só brincando!

–Ah, sei...

–Por que você tá carregando a Flinch-Fletchey?

Kyo sentiu uma leve onde de fúria lhe invadir, quando se lembrou do que Malfoy fizera, apesar de a cena não ter saído completamente de sua cabeça. Olhou para a garota de um modo incrivelmente significativo.

–Não entendi. –disse a garota encolhendo os ombros.

–O nome Malfoy lhe diz alguma coisa? –perguntou, com um pouco mais de agressividade do que desejava.

–Ah, o pentelho? Já pensou em acabar com a raça dele?

–De novo? Já tá perdendo a graça...

Kyo sentia o suor escorrer pelo seu rosto, já estava cansado por causa do treino e agora isso.

–Já pensou em levitar ela? –sugeriu Tathiane, como se fosse a coisa mais obvia do mundo, o que não deixava de ser verdade.

–Às vezes poderiam me perguntar pra que tanta inteligência se eu sou tão idiota... –disse Kyo, sacando a varinha. –Vingardium Leviosa!

Kyo sentiu o peso do corpo de Nanda sumir, ela estava bem mais leve agora, achou que poderia ser desconfortável para ela ser carregada daquele jeito.

Conjurious maca! –exclamou ele, mais uma vez.

Uma maca surgiu à frente dele, e ele deitou Nanda nela, com o maior carinho possível.

–A Longbotton que se cuide, ela está perdendo Kyo Hunter! –zombou Tathiane, a voz ligeiramente alta.

–Como assim? –quis saber Kyo, que ergueu a cabeça, de repente. –Quem tá perdendo quem aqui?

–Aqui só tem a Flinch-Fletchey te ganhando.

–Do que você tá falando?

Kyo recomeçou seu caminho, guindo a maca de Nanda com a varinha ligeiramente erguida.

–Eu não tô falando de nada, estou comentando que você está se apegando demais à ruivinha ai.

–Eu sempre tive uma queda... ou melhor, um tombo por ruivas...

–Bota tombo nisso, foi um belo beijo, aquele.

–Pelo amor de Deus, será que tem alguém nesse castelo que não viu esse beijo?

–Acho que não...

–Alguém lá e cima não gosta de mim...

–Ah, gosta, e como gosta, se não gostasse você não tinha nascido esse gatinha que você é.

Kyo reparou que Tathiane deixara aquilo escapar, pois ela ficara muito vermelha, não tanto quanto ele, mas ainda assim podia-se dizer que ela sumiria debaixo dos cabelos de Nanda.

–Ah, só mais um lance de escadas e nós chegamos... –Kyo desabafou, sentia uma ligeira dor nas pernas.

–Assim até parece que você não gostou de ver a garota aí. –zombou Tathiane.

–E quem foi que te disse que eu gostei?

Kyo abriu a porta da ala hospitalar, de repente escutou o barulho de sapatos rumando apressados em sua direção. Madame Pomfrey se aproximava com uma seringa que assustaria até mesmo um trasgo, Kyo teve que se esforçar muito para não recuar um passo.

–Sr. Hunter, não me diga que andou se estrepando mais uma vez? –perguntou a enfermeira, se aproximando de Kyo de um modo ameaçador, a seringa erguida.

–Não! –gritou Kyo, recuando um passo, os braços erguidos em frente ao rosto.

–O que aconteceu... ah meu Deus, o que aconteceu a essa pobre menina?

–Malfoy, Madame Pomfrey, ele a estuporou! –respondeu Kyo, com fúria contida na voz.

–Você não envolveu essa garota em suas brigas, não é Sr. Hunter? –perguntou a enfermeira, baixando a varinha de Kyo e mantendo a maca no ar com sua própria varinha.

–É claro que não! Ele veio me irritar, a Nanda não gostou e tentou atacar ele!

–Essas meninas idiotas e suas manias de se mostrar grandes aos amados...

A enfermeira começou a levitar a maca na direção da enfermaria, resmungando alguma coisa sobre Kyo só arrumar encrencas desde que entrara para a escola. Kyo e Tathiane se entreolharam, a garota visivelmente continha o riso, pois seu rosto estava muito vermelho.

–E vocês dois? O que ainda fazem aqui? –perguntou a enfermeira, enquanto passava Nanda da maca para uma das camas da enfermaria.

–A senhora não nos disse que não podíamos ficar. –disse Kyo, com displicência.

–Pois então agora eu estou dizendo. –disse ela. – Vamos, dêem o fora!

–Tá, tá, tá... –resmungou Tathiane.

Eles saíram da ala hospitalar rapidamente, Tathiane já não continha mais o riso e ria abertamente. Kyo também sentia vontade de rir, mas, por algum estranho motivo, não conseguia.

–Do que é que você tá rindo? –perguntou Kyo para Tathiane.

–Da sua cara... –respondeu a garota, sem fôlego. –Você é demais...

–Que eu sou demais eu já sei, mas isso não é motivo para risos.

–Larga a mão de ser sem graça...

Neste momento Kyo viu duas garotas da Lufa-Lufa subirem as escadas ali próximas, pareciam um tanto quanto robóticas, como se estivessem fazendo aquilo por obrigação. Elas olhavam diretamente para ele, que não entendia o porque de estar sendo encarado, acabou nem percebendo que três figuras sinistras se esgueiravam logo atrás delas.

–Ei, eu tô barbado? ––perguntou Kyo, para as garotas.

–Barbado? Não... –respondeu a garota mais alta, que tinha cabelos negros e olhos verdes.

–Por que a pergunta? –quis saber a outra, que tinha cabelos castanhos escuros e olhos cor de mel.

–Vocês ficam encarando, parece que eu tô com alguma coisa errada. –disse Kyo, bagunçando os cabelos involuntariamente.

Tudo aconteceu muito rápido, Kyo reparou em uma figura grande tentando se esconder atrás de uma estatua demasiado pequena para ele, sacou a varinha e ia apontar para a figura, quando sentiu um forte tranco as suas costas e seu corpo voar para longe, até bater numa parede. Alguém tentara estupora-lo.

Ele se virou, mesmo sentindo seu corpo dolorido e avistou Malfoy, Crabbe e Goyle, os três com as varinhas apontadas em sua direção e sorrisos triunfantes, Tathiane um pouco mais afastada tinha a varinha em punho, mas parecia ter medo de usa-la contra Malfoy.

–Que tipo de covardia é essa, Malfoy? –perguntou Kyo, se erguendo. –Atacar pelas costas?!?

–Tática de guerra, Hunter! –respondeu o outro. –Só quero ganhar.

–Ganhar ou me destruir? –quis saber Kyo.

–Te destruir seria mais divertido, sabe Hunter, mas eu gosto de deixar o mais divertido para o final. –respondeu o outro com um ligeiro ar de desdém.

Kyo sacou a varinha numa velocidade que surpreendeu até a si mesmo, Malfoy recuou um passo. Crabbe e Goyle se esconderam atrás da mesma estatua em que estavam há pouco.

Já fazia algum tempo que Kyo estanhava o que acontecia com ele: desde o ocorrido na floresta proibida ele ganhara alguns “poderes” que faziam-no ficar a cada dia mais experiente e poderoso. A varinha ainda em riste ele e Malfoy se encaravam.

–Que foi Malfoy? –perguntou Kyo, em zombaria. –Perdeu a coragem para atacar?

–Coragem, Hunter? –retrucou Malfoy. –Um Malfoy não tem coragem, tem audácia.

–Sua audácia mais me parece covardia, foi só me ver com a varinha erguida e você recuou.

–Não seja por isso! Rictusempra!

Expell!

Os dois feitiços se chocaram no ar e explodiram, centenas de fagulhas douradas e vermelhas voaram em todas as direções. Malfoy fechou os olhos para se proteger, o que seria uma grande chance para Kyo, que, apesar de achar aquilo ótimo, não conseguiu atacar: alguma coisa em sua cabeça lhe impedia.

–Anda, Malfoy! –exclamou Kyo. –Não quero que você desista agora!

–Cala essa boca, Hunter! –gritou Malfoy. –Estupefaça!

Protego! –Kyo exclamou para se proteger. –Expelliarmus!

O feitiço de Kyo atingiu Malfoy bem no peito e este voou alguns metros para trás, na direção das duas garotas da Lufa-Lufa, que estavam encolhidas próximas à porta da ala hospitalar. Kyo se aproximou alguns passos, pensando que Malfoy estava inconsciente, mas sua única certeza era a de que estava desarmado.

–E então, Malfoy, desiste? –perguntou Kyo, parando a dois metros do louro, cujos cabelos estavam espalhados pelo rosto.

–Nunca, Hunter! –exclamou ele. –Agora, seus palermas!

Estupefaça!

Kyo mal teve tempo de se virar, sentiu uma forte pancada em sua cabeça, como se tivesse caído de uma altura de dez metros de cabeça direto no chão. Seu corpo cambaleou e tudo ficou fora de foco.

–Ao menos uma coisa descente que vocês fizeram desde ganharam essas varinhas! –Kyo escutou a voz de malfoy distante gritando.

–Seu idiota! –a voz aguda de Tathiane soou irritada. –Que diabos que você pensa que está fazendo? Mandar seus capangas fazerem seu trabalho sujo? E ainda pelas costas!

–Cala a boca, Priscila! –disse Malfoy, calmamente. –Dolorius!

O grito de dor da garota deve ter ecoado por todo o castelo, mas só Kyo pode ouvir o baque oco do corpo inerte dela caindo ao chão. Os passos de Malfoy soavam distantes, vindo na direção de Kyo.

–Agora você não passa de um grande nada, não é Hunter? –disse Malfoy, Kyo só pode supor que ele estava rindo.

Crabbe e Goyle se aproximaram dele também, riam em grunhidos, como dois trasgos, Malfoy soltou uma gostosa gargalhada.

–O que... que você... você quer... Malfoy..? –perguntou Kyo, sem forças.

–Tudo. –respondeu Malfoy. –Ou nada.b

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