O dom da legimência



––––CAPITULO VINTE E QUATRO––––

O dom da legimência

Tiago estava sentado no saguão de entrada, conversando com Penélope Stone, uma garota do terceiro ano da Grifinória, conversavam animadamente sobre quadribol. Tiago comentava o quanto Kyo era bom e a vontade enorme que sentia de poder jogar como goleiro.

–Meus irmãos sempre me disseram que eu seria um bom goleiro, –dizia o garoto, mexendo nos cabelos vermelhos –tenho bons reflexos, sabe?

–Eu já tentei entrar como goleira no time, –disse Penélope –no primeiro ano, mas a Julian era muito melhor e estava no segundo também.

–Você lembra quando meus irmãos entraram no time? Eles disseram que foi sem querer, que estavam brincando...

–É, foi assim mesmo, eles estavam no primeiro ano, brincando de...

Nesse instante Snape entrou no saguão, vindo das masmorras, sua capa negra esvoaçando atrás dele, lhe fazendo parecer um enorme morcego. Ele olhou para a cara de Tiago e seu rosto se contorceu.

–Espero que não esteja aprontando, Weasley. –disse ele, em seu habitual tom letal de voz.

–Ap-aprontando, professor? –perguntou Tiago, assustado. –O que?

–Não seja idiota, Weasley! –riu ele, a cara de Tiago muito vermelha. –Estou falando de Sarah.

–Que tem ela?

–Você e...

A enorme porta de carvalho se abriu com tanta força que bateu estrondosamente nas paredes. Hagrid entrou, carregava alguém e uma outra pessoa corria em seus calcanhares, Snape se virou rapidamente para ele.

–Que aconteceu Hagrid? –perguntou Snape, exasperado.

–Um centauro atacou o garoto, –disse Hagrid preocupado –com uma flecha.

Tiago viu o rosto de Snape passar de branco para amarelo e, quando viu o rosto do garoto que Hagrid carregava, finalmente para cor de mingau de aveia velho. Hagrid carregava Kyo em seus braços, o garoto tinha um tom levemente arroxeado e muita neve nos cabelos, não usava sua capa, nem seu suéter ou cachecol, que estavam com a garota que vinha correndo atrás deles. Uandalini parecia muito assustada, algumas lagrimas escorriam pelo rosto e havia também muita neve em seus cabelos e vestes.

–Longbotton! –gritou Snape. –Vá até a sala de McGonagall e mande-a chamar Dumbleodore!

–Mas... –começou a garota.

–Vá logo, o garoto está correndo risco de vida! –a voz de Snape transmitia preocupação.

Uandalini saiu correndo pela escadaria de mármore, o mais rápido que as roupas pesadas lhe permitiam, Tiago se levantou e correu atrás de Hagrid, Snape já havia desaparecido em direção as masmorras.

–Hagrid, me diz que esse não é... –começou Tiago, preocupado.

–É o seu amigo, –disse o gigante, correndo na direção da ala hospitalar –você sabe o que ele estava fazendo na floresta proibida?

–Não faço a mínima idéia... –respondeu ele.

–Sirius... –era Kyo, o garoto balbuciava algumas palavras –volta, Sirius...

–Quem é Sirius? –perguntou Tiago, quando eles entraram na ala hospitalar.

–Não sei, –respondeu Hagrid –mas tenho idéia de quem seja...

Ele deitou Kyo na primeira cama que viu pela frente, logo em seguida Madame Pomfrey apareceu, ela parecia já ter previsto tudo, pois já trouxe uma garrafa com uma poção negra e pôs logo na boca do garoto, que se revirou. Havia uma flecha encravada no ombro e muito sangue na camisa branca e na gravata frouxa.

–Hagrid o que aconteceu ao certo? –perguntou Tiago, nervoso.

–Não sei, a menina Longbotton não me explicou direito, –disse o gigante, uma ruga de preocupação em sua testa –eles estavam na floresta, apareceu um centauro e atirou uma fle...

–Eu vou pra casa do Tiago, Bella... –murmurou Kyo –você gosta daquela sangue ruim, não é..?

–Do que é que ele tá falando? –perguntou Tiago, secando um pouco de suor nervoso que escorria por sua testa.

–Não sei, –respondeu Hagrid, também nervoso –não ainda...

Eles ficaram olhando para o garoto que se revirava na cama, suava muito e o sangue de sua camisa já se espalhara chegando a sujar o lençol branco. Tiago tirou os óculos dele e pôs na mesinha de cabeceira ao lado ao lado da cama.

–Vocês dois, saiam agora! –disse Madame Pomfrey, rispidamente, segurando ameaçadoramente uma pinça. –Eu preciso ficar sozinha para tirar essa flecha.

–Ele vai ficar bem..? –perguntou Tiago, receoso.

–Não sei, Sr. Weasley, não sei... –respondeu Madame Pomfrey. –Flechas de centauro possuem um veneno muito perigoso...

Eles saíram da ala hospitalar, deixando Madame Pomfrey sozinha com o garoto. Era possível se perceber que a expressão de Hagrid possuía raiva, tristeza, inconformidade e até mesmo preocupação. Tiago observava o gigante atento, mas seu rosto também possuía preocupação.

Eles avistaram um morcego gigante, também conhecido como Snape, subir por uma escada, parecia tão preocupado quanto Hagrid ou Tiago, seu rosto se contorcia numa expressão inominável. Tinha nas mãos um vidrinho com um liquido verde-musgo de aparência muito viscosa. Passou por eles sem nem mesmo olha-los e entrou na ala hospitalar, com sua capa esvoaçando as suas costas.

–Tiago, –disse Hagrid, dando um passo em direção a escadaria que levava para o andar de baixo –creio que seja melhor subir para a torre da Grifinória.

–Pra que? –perguntou o garoto, sem controlar direito o tom de voz. –O que é que eu vou fazer lá?

–Não sei, garoto, mas é melhor você lá, onde não pode aprontar nada, do que andando pelos corredores, sem saber o que faz.

–Eu não vou aprontar nada, Hagrid! –protestou ele.

–Eu sei que não, Tiago, sei que não. Mas é melhor prevenir do que remediar.

–Tá... tá certo...

O garoto se virou e atravessou o corredor que levava a uma escadaria que subia diretamente para o sexto andar. As armaduras retiniam de um jeito que pareciam estar rindo da cara dele, o que o deixava ainda mais irritado. A escada parecia ter quase cem vezes mais degraus do que de costume.

–Ai... porcaria! –ele estava tão distraído que se esquecera de pular o degrau falso do meio da escada.

Depois de algum esforço ele conseguiu se soltar do buraco no meio da escada, ainda falando muitos palavrões e xingando tudo e todos que ousavam entrar em seu caminho. Ele ainda deu um encontrão em Lilian no meio do corredor, já ia abrindo a boca para xingar a garota, quando reparou que lagrimas escorriam pelo seu rosto e que ela ainda usava as vestes do baile da noite passada.

–Nossa, que foi? –perguntou ele, um palavrão ainda na ponta da língua.

–Nada! –exclamou ela, passando pelo garoto.

–Nossa, que é isso? Desculpa por me preocupar contigo!

A garota virou, talvez na intenção de xinga-lo, seu olhos apertados e o rosto amarrado, ela abriu a boca:

–Vai se... –ela parou de falar, olhou bem para o garoto, –Você não é amigo do Kyo?

–É... eu sou, por quê?

–Você sabe onde é que ela tá? É... é que eu quero falar com ele...

–Sei não, –mentiu ele –talvez na biblioteca...

A garota olhou com indiferença para ele e seguiu seu caminho e sua luta contra as lagrimas. Tiago deu de ombros, não que não quisesse contar para a garota o que havia conhecido com o amigo, mas achou que a prioridade talvez fosse contar para o pessoal da Grifinória.

O garoto subiu os lances seguintes de degraus, uma vontade enorme de ter algum para socar ou chutar. Ele viu pirraça quebrando alguns vasos a distancia, ele parecia bem concentrado em seus afazeres, pois nem percebeu que Tiago passava pelo corredor, o garoto também achou melhor ignorar o poltergeinst , não seria uma boa idéia provocar ele.

Ele atravessou o retrato da mulher gorda rapidamente, tropeçando pela quarta vez consecutiva nos cadarços desamarrados, algumas garotas do segundo ano ficaram encarando-no, sem entender o porque de tanta pressa e desespero. Sarah pareceu reparar nele, mas ao invés de seguir em sua direção, ela achou melhor sorrir, achando graça da pressa do amigo.

–Que foi, Ti? –perguntou ela, divertida. –Correndo do meu pai?

–Quem me... me dera fosse... fosse isso... –ofegou ele, com a mão no peito –mas o... o buraco é... é mais embaixo...

–Do que é que você tá falando?

–O Kyo... ele tá.... tá na ala... ala hospitalar...

–Hos-hospitalar..? Fa-fazendo o que? O que aconteceu?

A garota se levantou da poltrona onde estava sentada, seu rosto ficara ainda mais branco que o normal, os olhos visivelmente aterrorizados e os lábios pareciam muito com uma fina linha vermelha marcada no rosto dela. Enquanto isso Tiago se largou na mesma poltrona onde Nanda estava sentada há algum tempo.

–Eu não entendi direito... –agora ele conseguia falar com mais facilidade, mas ainda ofegava muito –Hagrid falou alguma coisa sobre a floresta proibida...

–Floresta proibida? –atropelou a outra –Fazendo o que?

–E eu é que sei? Eu saí atrás dele como você mandou, mas ele corre muito, me deu um perdido facinho...

–E aposto como ficou aos flertes com a Stone, ela saiu correndo atrás de você!

–É... nós ficamos conversando sentados num canto do saguão de entrada...

–Isso não importa! Você não sabe mesmo o que aconteceu com ele?!

–Madame Pomfrey falou alguma coisa sobre veneno de flechas de centauro... eu não entendi?

–Ele... ele foi atacado por um centauro..?

Sarah se largou no chão, sem ligar para o fato dele ser duro ou que poderia se machucar, sua face mostrava total perplexidade e inconformidade, deixava as lagrimas escorrerem livremente por sua face, Tiago não entendeu direito, agachou-se ao lado dela e pôs seus dedos entre os fios de cabelo negro da garota.

–Que foi, Sarah? –perguntou ele, carinhosamente –Por que você ficou assim, de repente?

–Ele vai morrer Tiago... –disse ela, quase num sussurro. –Ele vai morrer, veneno de flechas centauro é mortal...

–Mas ele foi atendido a tempo, ainda estava vivo quando chegou na ala hospitalar!

–Isso não importa... ninguém conhece um antídoto para aquele veneno...

–Dumbleodore deve saber! Ele não tem uma fênix? Pode pegar as lagrimas dela para salva-lo!

–Esquece isso... não funciona... já foi testado...

–Mas...

Mas não ouve mas, o garoto não tinha argumentos e, se conhecia sara e sua mãe, elas deveriam saber tudo sobre isso, adoravam saber de tudo, viviam com o nariz enfiado em livros de tudo quanto é gênero. O garoto se largou ao lado de Sarah, estava em choque, seu melhor amigo estava com um pé na cova e ele não podia fazer nada para salva-lo, sentiu o estomago afundar. Lutava contra as lagrimas, “homem não chora!” pensava ele, “que bobagem é essa de que homem não chora? Claro que chora! Principalmente quando seu melhor amigo morre!”

Tiago, involuntariamente, pôs seu braço sobre os ombros de Sarah, e passou a acariciar os fios de cabelo dela, sentia um enorme vazio por dentro, como se tivesse perdido uma parte de si.

–Sabe, Ti, –disse Sarah entre alguns fungados –eu gostava dele...

–Eu também, Sarah, –concordou o ruivo, quase tão vermelho quanto os cabelos –eu também gostava dele...

–Não é desse gostar que eu tô falando, Ti, eu... amava aquele idiota...

–Como assim?!

–Amava, desde o dia no trem, quando ele disse que eu era linda...

–Muito bonita.

–Que seja, eu pensei que só tinha simpatizado com ele, por causa do elogio, mas quando fiquei sabendo daquele beijo...

–Ele e a Nanda?

A garota concordou com a cabeça, Tiago sentiu um aperto no coração, sentiu pena dela, não sabia o que era perder alguém que se ama, nunca nem perdera um ente querido, quanto mais alguém que amava. Apertou o corpo de Sarah contra o seu, querendo confortar a garota.

Eles ficaram em silencio, como se estivessem comunicando pela mente, Tiago não cedia no abraço que dava em Sarah. A garota fora sua amiga desde que ele se entendia por gente e única que vez que a vira apaixonada fora quando ela resolvera que Harry era o cara da vida dela, até arrumara uma briga com Lilian por causa disso.

De repente a buraco do retrato se abriu e pó ele entrou Uandalini, a garota tinha o rosto lavado por lagrimas e um curativo precário em sua mão indicava que ela andara socando tudo o que aparecera pelo seu caminho. Ela passou por Tiago e Sarah e se largou numa poltrona vazia defronte a lareira, puxou sua varinha e começou a estourar a lenha, com alguns feitiços para se conjurar chamas. Tiago pode ver que ela chorava e a todo instante puxava o cachecol ou a capa que estavam sobre as suas vestes e os cheirava demoradamente com os olhos fechados e uma expressão que misturava prazer e tristeza.

–Olha a Uanda... –disse Tiago, sem querer ignorando a tristeza de Sarah –ela parece estar arrasada...

–Ela já sabe..? –perguntou Sarah, meio a contragosto.

–Ela veio junto com o Hagrid, trazendo ele...

Tiago apertou o corpo da garota contra o seu, mais uma vez, não queria ver sua amiga sofrer, nunca gostara de ver ela chorar, mesmo quando a causa era algo engraçado.

–Vamos falar com ela? –sugeriu Sarah, tentando se erguer.

–Não, deixa ela lá. –disse o garoto, puxando Sarah de volta. –Ela deve querer ficar sozinha. Além do mais, ela pode tentar por fogo na gente!

Sarah riu pelo nariz, ainda sentia péssima por dentro.

Eles viram descer pela escada do dormitório masculino Julius e Nanda, o garoto parecia visivelmente decepcionado, enquanto a garota parecia meio sem graça e evitava olhar para o lado, para não encarar o garoto. Nanda, sem falar com Julius, se dirigiu até Tiago e Sarah, enquanto Julius saiu pelo buraco do retrato sem falar nada.

–O que aconteceu com vocês? –perguntou Tiago, ele parecia determinado a esquecer que seu melhor amigo estava praticamente morto.

–Nada. –respondeu Nanda, seca.

–Então qual é o problema? –insistiu, o ruivo.

–Esse é o problema, –explicou Nanda –eu até tava afim de ficar com ele, mas ele queria algo mais...

–E o Kyo? –pergun6tou Sarah, abruptamente.

–Que é que tem ele? –perguntou Nanda, sem entender.

–É, o que tem ele? –concordou Tiago, provavelmente na esperança de que a garota se tocasse de que ele não queria falar no assunto e que ela também não devia falar.

–Você vai esquecer ele? –respondeu a garota, a voz chorosa, sem erguer o rosto e passando a mão de leve nos fios de cabelo que Tiago parara de acariciar. –Quero dizer, você gostava dele e acho que finalmente conseguiu mexer com ele.

–Eu quero que ele se dane! –guinchou Nanda, fazendo Sarah se indignar.

–Belo amor o que você sentia por ele, né? –perguntou Sarah, nervosa, mais lagrimas lhe escorrendo pelo rosto. –Pra você sentou na calcada, fez sombra, mijou de pé, tá bom, né?

–Do que você tá falando? –Nanda não entendia nada e, para ser sincero, Tiago não parecia entender muito mais que ela.

–NADA! –exclamou Sarah, parecia furiosa e algumas fagulhas voavam da ponta de sua varinha, que estava na bainha da saia. –Nada mesmo!

–Você gosta dele, não é? –perguntou Nanda seca. –Tá na cara.

–É, eu gosto dele! –que visse Sarah naquele instante levaria um susto. –Mesmo! Mas você não!

–Eu gosto dele sim! –gritou Nanda, a voz aguda e rosto muito vermelho. –Mas eu já tô de saco cheio de ficar esperando ele reparar em mim! Como você acha que eu me sinto quando vejo vocês ter de um lado pro outro?!?

–E como você acha que eu me sinto andando de um lado pro com ele sabendo que ele gosta de outra garota?!? –dessa vez quem gritou foi Sarah.

–E como vocês duas acham que eu me sinto sabendo que todas as garotas gostam do meu melhor amigo?!? –Tiago entrou na briga, as duas garotas olharam para ele, espantadas. –Er... deixa pra lá... continuem gritando...

A sala comunal estava vazia, mas as poucas pessoas à volta olhavam curiosas para elas, querendo saber qual seria o desfecho daquela briga.

–Desde quando você gosta dele? –perguntou Nanda num tom de voz mais calmo, querendo manter a conversa cordial.

–E de que isso te interessa?! –gritou Sarah, que não queria saber de mais nada. Ela se levantou de um salto, as lagrimas escorrendo pelo seu rosto. –Não faz a mínima diferença desde quando eu...

Os olhos da garota desfocaram e seu rosto ficou incrivelmente branco. Ela desequilibrou e Tiago, num jogo de reflexos, segurou-a antes que caísse, ela tinha os olhos e a boca entreabertos e a expressão exausta. Tiago a deitou devagar no chão, e passou a mão, preocupado, pelo rosto dela.

–Vamos leva-la na ala hospitalar. Ela não tá legal.

–Ela está bem, –disse ele, passando a mão por entre os cabelos dela –acho que foi só um tonteira... Tudo isso por causa do Kyo...

–Eu quero que o Kyo se dane! –guinchou Nanda, erguendo o rosto para Tiago.

–Acho que para, ele seu desejo é uma ordem.

Nanda mirou bem o rosto dela, confusa.

–Do que é que você tá falando? –perguntou ela.

–Ele já se danou, –disse Tiago, tristonho –tá na ala hospitalar... e... e acho que vai... vai morrer...

Ele pode ver o choque estampado no rosto da garota, que arregalou os olhos, incontrolavelmente algumas lagrimas lhe ocorreram, ele mexeu os lábios sem falar nada.

–Você tá brincando, né? –disse ela com a voz fraca. –Só pode tá brincando...

–Eu adoraria estar brincando... –disse ele, balançando a mão na frente de Sarah, para ventilar.

–Não pode ser... ele não... imagine se um dia eu não acordar... ele... ele não se suicidou, né?

–Não sei... só sei que tem a ver com uma flecha de centauro...

Nanda se largou no chão, ao lado de Sarah, as lagrimas escorriam por seu rosto desenfreadas, ela não se preocupava em secar, a leve camada de maquiagem borrando.

–É culpa minha... –murmurou Nanda, desesperada –é tudo culpa minha...

–Não é culpa sua. –disse uma voz determinada as costas deles.

Nanda se virou querendo saber quem falara e Tiago apenas curioso com o que acontecer. Uandalini ainda estava sentada defronte a lareira, segurando as pernas com os braços, o olhar distante e o rosto lavado por lagrimas.

–Do que é que você tá falando? –perguntou Nanda, sem entender direito.

–Que a culpa não é sua. –explicou a outra, Tiago não entendia nada. –A culpa é minha...

–Como assim? –perguntaram Tiago e Nanda em uníssono.

–Eu tava com ele na floresta... –sussurrou Uandalini, mais para si mesmo do que para os garotos –vi o centauro se aproximar... mas fiquei amedrontada demais para avisar... devia ter falado alguma... estava mais preocupada querendo fazer papel de vitima... me... me mostrar pra ele...

–Você tava com ele?!? –perguntou Nanda, se erguendo, parecia descontrolada, Tiago se levantou depois dela, já sabia o que fazer. –Você tava com ele e não fez nada?!? O que você estava fazendo com ele?!

A garota andava a passos lentos na direção de Uandalini, já empunhava a varinha, apesar de Tiago ter certeza de que ela não poderia fazer muito estrago. Segurou ela pelo braço, ela era muito forte, apesar da aparência frágil.

–Isso não é da sua conta. –disse Uandalini, seca e distante.

–Fala! –exclamou Nanda, se desvencilhando de Tiago e partindo de varinha em punho para cima da garota.

–Ele gosta dela, todo mundo sabe, –disse uma voz cansada atrás deles –talvez estivesse querendo conversar num lugar onde ninguém incomodasse...

Eles se voltaram novamente, Sarah se levantava, tinha a expressão de alguém que fazia um esforço enorme sabendo que era inútil. Tiago se aproximou dela num só salto.

–Sarah?! Você é doida? –perguntou ele, preocupado. –Você acabou de desmaiar! Vem cá, eu te ajudo a sentar... ali, oh...

Ele sentou ela na mesma poltrona onde estava sentada até pouco antes, o peito da garota arfava e ela estava ligeiramente suada, o rosto continuava muito branco.

–Eu tô legal, Ti, é serio! –protestava ela, com um sorriso amarelo.

–Tá nada! –disse ele, passando a mão pelos cabelos dela, ele realmente estava adorando fazer aquilo. –Acabou de desmaiar e ainda tá muito pálida.

–Ela tá legal? –perguntou Nanda, num tom de voz que misturava preocupação e sarcasmo. –Não tá com uma cara muito boa, né?

–Ela vai ficar legal... –disse Tiago, aliviado por elas pararem de discutir.

Eles ficaram algum tempo em silencio, Tiago olhava de uma para outra, querendo entender o que estava acontecendo. Aquele silencio estava matando Tiago, que gostava de conversas.

De repente irrompeu pela porta a prof ª Minerva, ela parecia muitíssimo preocupada, o rosto dela estava ligeiramente suado, indicando que ela subira todos os andares que separavam sua sala da torre da Grifinória praticamente correndo. Ela olhou rapidamente a volta e avistou Uandalini sentada em sua poltrona.

–Srta. Longbotton, –disse ela, em sua habitual voz enérgica, mas desta vez ligeiramente tristonha –peco que venha comigo, precisamos conversar.

–Ahn... professora... –disse Tiago –acho que ela não tá muito legal...

–Depois eu cuido disso, Sr. Weasley, –disse rispidamente, a professora –Papoula estará lá também.

–Mas... –recomeçou o ruivo.

–Deixa, Tiago. –disse Uandalini se levantando. –Eu vou com ela.

A garota guardou a varinha na bainha da saia e seguiu com a professora, atravessando o buraco do retrato, Tiago, Sarah e Nanda ficaram se olhando, abobalhados.

–O que será que ela quer com a Uanda? –perguntou Nanda, confusa.

–Eu não sei. –respondeu Sarah. –Mas deve ser importante.



–Professora o que a senhora quer comigo? –perguntou Uanda, enquanto desciam as escadas.

–Precisamos de mais detalhes do que aconteceu com a senhorita e o Sr. Hunter na floresta proibida. –respondeu a professora, sem olhar para a garota. –E seu pai, o ministro, gostaria de falar com você.

–O que meu pai está fazendo aqui?

–Pergunte a ele, quando chegarmos na ala hospitalar.

Elas entraram na ala hospitalar, que estava cheia, Neville, Harry, Hagrid, Snape, Dumbleodore e Madame Pomfrey e uma mulher de longos cabelos lanzudos e olhos cor de mel conversavam a um canto, estavam todos muitos sérios e ela pode ver que Harry demonstrava aflição, como se o ocorrido fosse com seu próprio filho.

–Alvo, –disse a professora ao entrarem –a garota está aqui.

–Ah, sim, obrigado, Minerva. –disse Dumbleodore num tom de voz tão calmo que chegou a causar arrepios em Uandalini. –Sente-se, Srta. Longbotton, por favor.

Ele agitou a varinha e uma cadeira apareceu ao lado dela, a garota olhou para esta, meio assustada, mas logo assentiu com a cabeça e sentou-se, olhando para todos a volta. Ela reparou que Harry lembrava muito Kyo, no jeito meio largado de ser, os traços do rosto, os cabelos rebeldes, até a expressão nos olhos era idêntica.

–Srta. Longbotton, –disse Dumbleodore, se sentando numa cama ao lado da cadeira –você poderia nos informar o que aconteceu com a senhorita e o Sr. Hunter durante sua visita a floresta proibida?

A garota assentiu com a cabeça mais uma vez, seu olhar não parava em lugar algum, sabia que era proibida a entrada de alunos na floresta, por isso achava estar encrencada.

–Eu... eu estou encrencada, não estou? –perguntou ela, receosa.

–Por que acha isso? –perguntou Snape, seu tom letal levemente alterado.

–Severo! –disse a mulher de cabelos lanzudos. –Não assuste a garota!

–Deixe ele, Mione. –disse Harry, pondo a mão no ombro da mulher. –É o jeito dele, apesar de eu também não gostar...

–Muito bem, então, Srta. Longbotton, pode prosseguir. –disse Dumbleodore, retirando os óculos e os limpando num lencinho dourado.

–Eu estava andando pelos terrenos, ai comecei a sentir um pouco de frio, ia voltar pro castelo, mas ai avistei ele ao longe, não resisti a tentação de ir ver o que ele estava aprontando dessa vez.

“Ele disse que estava voltando da casa do Rúbeo, nós conversamos um tempo, ai ele disse que viu o Sr. Filch entrando na floresta e resolveu ir atrás, dizendo que ele tava se comportando estranho, nós corremos e entramos na floresta pelo mesmo ponto que ele. Seguimos as pegadas até começarmos a escutar vozes, uma era a voz de Filch, mas a outra não conhecíamos, Filch o chamava de Lúcio, ele conversavam sobre Filch, eu não escutei direito, mas Kyo deve ter escutado tudo, não sei... bem eles perceberam que nós estávamos escutando e saíram correndo atrás de mim, nesse meio tempo Kyo, percebendo que eu estava morrendo de frio, começou a tirar suas vestes e me dar, nós corremos até ele encontrar um lugar bom pra gente se esconder...”

–Você disse que Filch e um tal Lúcio correram atrás de você? –perguntou Minerva, interessada.

–É, eu acho que o nome era esse... –respondeu a garota, passando a mão nos cabelos.

–Lúcio Malfoy. –disse Harry, de repente. –Mas o que ele poderia querer com Filch?

–Não era Filch. –disse Dumbleodore, os oclinhos brilhando. –Era Bellatriz Lestrange usando a poção polissuco.

–Como o senhor sabe? –perguntou Uandalini curiosa.

–Durante os delírios o garoto falou coisas sobre Bella, Sirius e a poção. –disse Dumbleodore. –Foi fácil deduzir.

–Bella? –perguntou Uandalini lembrando de mais uma coisa. –O tal Lúcio chamava Filch... quer dizer, Bellatriz, desse nome.

–Bellatriz Lestrange e Sirius tiveram um caso quando adolescentes, não foi, Alvo? –perguntou Harry, entendendo algo que ninguém percebera.

–É, pouco depois de Bellatriz terminar os estudos, mas isso não vem ao caso.

–Vem sim, como o garoto poderia saber os nomes deles?

–Você não acha que...

–Uandalini, ela tentou ler a mente dele? –perguntou Harry. –Quero dizer, para localiza-los?

–É... agora que você comentou, Harry... –a garota fez algum esforço para se lembrar –acho que sim... é, ela tentou vasculhar a mente de Kyo, mas...

A garota parou de falar, se lembrou da reação de Bellatriz Lestrange quando ela tentou ler a mente de Kyo, a garota não viu, mas escutou os gemidos da outra, a dor que parecia sentir.

–Mas o que? –perguntou Snape, rispidamente, Uanda pode ver a mulher de cabelos lanzudos dar-lhe uma cotovelada nas costelas. –Mione!

–Sshhh! –fez a outra.

–Ela começou a gemer, –respondeu Uandalini, ignorando a briga do casal –como se sentisse dor...

–Ele entrou na mente dela! –disseram Dumbleodore, Harry e a mulher de cabelos lanzudos.

–Mas a questão é: como? –disse Snape, com um leve ar de surpresa. –O garoto não pode ser legimente.

–A não ser... –disse a mulher de cabelos lanzudos.

–Um legimente natural? –perguntou Snape. –Mas são incrivelmente mais raros que... –Snape olhou consideravelmente para Harry –mais raros que ofidioglotas. Principalmente em mestiços.

–Mas ele pode muito bem ter esse dom, –disse Harry, pensativo –Voldemort é um legimente natural e ofidioglota, como passou para mim o dom do ofidioglotismo pode ter passado a legimência para ele.

–Quando tentou mata-lo? –perguntou a mulher dos cabelos lanzudos.

–É isso ai, Mione, –disse Snape, com a expressão de alguém que descobriu o maior dos segredos da magia –isso pode muito bem ter acontecido, assim como deve ter passado um pouco de seu poder para ele, não é normal um bruxo tão poderoso.

–Não, Severo, –disse Dumbleodore calmamente –o garoto nasceu com esse poder, com um ano já era capaz de desaparatar.

–Como?! –perguntaram Neville, Snape, Mione e Uandalini.

–Parece meio impossível, –continuou Dumbleodore –mas o poder mágico no sangue desse garoto é tão poderoso quanto o de Merlin.

–Era... –disse Uandalini melancólica.

–Por que era, filha? –perguntou Neville, sem entender direito.

–Ele não vai morrer..? –perguntou Uandalini, em resposta. –A flecha do centauro.

Ela escutou Dumbleodore riu e levantou o rosto com vontade de xinga-lo de uma bela porção de nomes, que achou que seu pai não gostaria de ouvir.

–Por que o senhor está rindo? –perguntou a garota, indignada.

–Ele não vai morrer, minha cara, pode ficar tranqüila. –disse ele, com um sorriso bondoso.

–C-co-como..? –gaguejou ela. –Veneno de flecha de centauro não tem antídoto, não tem como sobreviver... como ele vai... como ele pode ficar bem?

–Pelo que acabei de dizer, –explicou Dumbleodore em seu tom de voz calmo –o poder mágico no sangue dele é tão grande que praticamente anulou os efeitos do veneno.

–Mas por que ele ficou tão mal? –insistiu a garota.

–Porque, apesar de tudo, o veneno ainda atingiu o sistema imunológico dele. –disse Mione com um suspiro. –Ele foi muito afetado, vai demorar a se recuperar.

Ela olhou para uma cama cujos biombos estavam fechados, podia-se perceber que havia alguém dormindo profundamente ali dentro. Snape a abraçou com força e esta sorriu amorosamente.

–Você tem mais alguma coisa que gostaria de nos contar, Srta. Longbotton? –perguntou Dumbleodore, os olhinhos azuis brilhando intensa e misteriosamente na direção da garota.

–Não, senhor, professor. –respondeu Uandalini, escondendo ao máximo possível seu nervosismo. –E o senhor? Tem algo que gostaria que eu soubesse?

Dumbleodore sorriu para a garota, que se sentiu aliviada. Ele olhou para os outros à volta, que perceberam que ele gostaria de falar a sós com a garota.

–Eu tenho milhões de coisas que gostaria que soubesse srta Longbotton. –disse Dumbleodore, se levantando da cama onde sentara. –Mas não posso contá-las para ninguém, nem mesmo para meu maior confidente. Mas posso te dar um conselho: pense bem se o que realmente quer é realmente necessário para que você realmente seja feliz, agora ignore o que é necessário e saberá onde mora a razão nessa confusão de emoções.

Ele se dirigiu a porta e saiu, sem mais nada dizer. Uandalini ficou algum tempo olhando para a porta, sem entender o que o velho bruxo quis dizer, apesar de aquilo não importar mais, o que ela realmente queria era ver o garoto que sobrevivera, agora pela segunda vez.

Ela pegou a cadeira que Dumbleodore conjurara e se dirigiu a cama de biombos fechados, onde Kyo estaria. Ela abriu os biombos devagar e sentou-se ao lado da cama.

O rosto de Kyo estava muito pálido e os lábios muito roxos, havia olheiras muito escuras embaixo dos olhos do garoto, nem parecia que há quatro horas eles estavam juntos entrando naquela maldita floresta. Ela reparou que ele não usava camisa e seu peito estava nu, sentiu uma vontade enorme de deslizar as mãos por ali, sentir o calor do corpo dele, se arrepiou.

–Nossa. –disse ela, pensando alto –que foi isso..?

Ela ficou olhando para ele por alguns instantes, sentindo uma sensação incomoda que ela não sentira desde os seus treze anos naquela maldita festa.

–De onde vem esse seu mel, hein? –perguntou ela, sorriso, para o corpo inerte do garoto. –Toda garota que arrisque chegar a menos de cinco metros dele acaba hipnotizada por aqueles olhos azuis, menos ela, até hoje era a única que não cedera aos encantos daqueles olhos, apesar de não negar que adoraria ceder se ele tentasse com um pouco mais de convicção.

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