Mais um vidro desaparecido



––––CAPITULO TRES––––

Mais um vidro que desaparece


Quase catorze anos haviam se passado, e muita coisa havia mudado na casa dos Hunter, agora não existiam mais fotos de um garotinho de cabelos negros e rebeldes e olhos azuis, mas sim de uma garota e de um garotinho, ambos em praias brincando com bolas grandes e coloridas, os Hunter agora tiveram mais dois filhos, Amanda Hunter, de dez anos, e Mattew Hunter Junior, de cinco, os queridinhos do papai, como dizia Kyo. Kyo agora era um garoto revoltado, as pessoas achavam que ele não tinha motivos para tanta revolta, já que tinha uma vida digna de um rei, mas Kyo tinhas seus motivos, crescera quase que sendo detestado por seu pai, que punha a culpa de tudo em cima dele e achava que ele era o maior estorvo do mundo. Os outros dois filhos dos Hunter eram protegidos por ele como se fossem sagrados, o que deixava Kyo furioso.

Aquela manha ensolarada de começo de verão era aniversario do caçula de Kyo, Junior, o garoto detestava esses aniversários de seus irmãos, sempre seu pai levava os dois mais novos e os colegas, deixando ele com Harry seu assistente, dizendo que ele era velho demais para essas coisas.

–Ei, moleque, acorda! –gritou o Sr. Hunter batendo na porta de seu quarto.

Kyo abriu os olhos devagar, seu quarto estava mais desorganizado do que de costume, pelo menos sua cama estava. Ele se levantou e calçou a meia e depois o tênis, “já está na hora de comprar um novo”, pensou ele “talvez a mamãe me de um dinheiro para comprar”, ele pegou o boné e o colocou na cabeça, para não ter que pentear o cabelo e jogou alguns fios da franja sobre a cicatriz em forma de raio que tinha na testa, na verdade aquela cicatriz era a coisa que mais gostava nele, mas seu pai vivia reclamando dela, por isso ele resolveu mantê-la escondida, pelo menos em casa. Olhou-se no espelho e viu um garoto alto e magrelo, com olhos azuis muito intensos.

Desceu para a sala e deparou com muitas crianças correndo pela casa, seus pais conversavam com outros que sorriram ao vê-lo ao pe da escada, mas seu pai não sorriu, muito pelo contrario:

–Vá pentear esse cabelo? –mandou a guisa de bom dia.

–Bom dia para o senhor também, pai, eu não tô afim. –disse o garoto secamente, indo em direção a cozinha, mas parou na porta. –Bom dia para os outros também!

Na cozinha um cheiro de bacon enchia o ar, Kyo teve esperanças de poder tomar um café da manha descente, pelo menos aquela vez.

–Oi, mãe, bom dia.

–Ah, bom dia querido, –disse sua mãe sorrindo para ele –estou meio ocupada, pode me ajudar com o bacon? Depois eu te sirvo o café da manha.

Kyo sentiu que ia demorar em tomar o café, seu estomago roncava, mas ele não reclamou, sabia que se pudesse sua mãe o serviria no exato momento em pisasse na cozinha. O garoto fatiava o bacon que estava sobre a pia e o passava para sua mãe.

–Esse moleque está te atrapalhando, querida? –perguntou o Sr. Hunter entrando na cozinha, Junior em seu colo e Amanda em seu calcanhar.

–Não, Mattew, ele está me ajudando com o bacon.

Kyo fungou e olhou para o pai:

–Tá vendo, já posso ser fatiador profissional de bacon.

–Você? –perguntou Amanda – Você não serve nem para ser guarda de transito! É possível que você perca um dedo ai!

–Acho que é mais possível que eu perca um dedo aqui! –retrucou o garoto, sabendo que iria sofrer as conseqüências.

–Você ameaçou sua irmã? –perguntou o Sr. Hunter, sua voz letalmente alterada.

–Sim, senhor, pai.

–Eu não gostei disso, não gostei nada disso! Você está de castigo, não vai ir conosco!

Kyo abaixou a cabeça, sabia, já estava demorando para ele arrumar um motivo para deixa-lo em casa.

–Eu não gosto mesmo de zoológicos...–resmungou o garoto.

–Sem internet até o final das férias também! –o Sr. Hunter terminou de ditar a sentença.

Kyo continuou a fatiar o bacon, seu rosto ardia de raiva.

–Querida, –o Sr. Hunter virou-se para a esposa –você não viu o Harry por ai?

–Não, acho que ele ainda não chegou.

–como sempre atrasado, ele tem sorte de ser tão eficiente senão...

O Sr. Hunter saiu batendo a porta, Kyo jogou a faca na mesa:

–Ele me odeia!

–Não é assim querido, ele gosta de você, ele só não acha legal esse seu jeito revoltado de ser.

–Mãe.

–O que foi?

–Eu nem sempre fui revoltado, você acha que eu não me lembro de quando ele preferia ir trabalhar a comemorar o meu aniversario com a gente? Ai nasceram a Amanda e o Junior, e tudo piorou...

–Ele simplesmente acha que os mais pequenos merecem a mesma atenção que você recebeu.

–É, só que no meu caso ele prestava atenção nas minhas gafes...

–Ah, querido, você tem que admitir que nunca foi um anjo.

–Mas ele podia ao menos tentar escutar algumas vezes as minhas explicações...

–Que explicações, Kyo?

–Sei lá!

O garoto resolveu sair daquela conversa, sua mãe provavelmente lhe passaria um sermão sobre boas maneiras, mas ele sempre fora educado, apesar das coisas estranhas que aconteceram com ele, como da vez que estava fugindo de uns garotos que queriam bater nele na escola a mando de sua irmã, Amanda, e fora parar em cima da cantina, apesar de jurar que tudo o que fizera foi pular por cima das latas de lixo, ele achava que devia ter sido o vento que dera impulso. Ou talvez daquela vez em que seu pai o levara no cabeleireiro, para cortar toda aquela cabeleira, e deixara apenas uma franjinha ridícula para cobrir “aquela cicatriz horrorosa”, como dizia seu pai, ele passara a noite acordado pensando em como seria motivo de risadas na escola no dia seguinte. Quando chegou em casa com Harry seu pai teve um acesso de fúria ao ver o cabelo do garoto exatamente como estava antes do corte, Harry apenas sorriu, Kyo teve a leve impressão de que Harry sentia orgulho.

–Droga! –Kyo cortara seu dedo com a faca.

–Que foi...?

A Sra. Hunter se virara e vira o sangue sobre a mesa e o dedo de Kyo com um enorme corte que atingia todo o palmo, ela, de repente, ficou histérica, correu de um lado para o outro atrás de alguma coisa para estancar o sangue, Kyo se levantou calmamente e pegou um pano no ombro da mãe, abriu a torneira da pia e lavou o ferimento, depois enrolou o pano na mão e deu um nó apertado.

–Pronto mãe.

A Sra. Hunter olhou para o filho, dos três era o que tinha mais medo de que se machucasse, ela sorriu de leve, ainda tremia, e foi em direção ao filho.

–Acho que precisamos fazer um curativo.

–Pode deixar que eu faço, em algum lugar no meu quarto tem uma caixa de curativos.

–Não! Eu faço, não vou deixar entrar naquele lugar machucado!

–Mãe, aquele lugar é o meu quarto e eu não quero que o Sr. Hunter saiba que eu me machuquei.

–Ele é seu pai e...

–E isso seria uma ótima chance para chamar de inútil mais um pouco, alem de ter que aturar aquela coisa que você chama de filha.

Ele saiu sem olhar para trás. A sala da casa estava meio apinhada de gente que fora convidada para o café da manha de aniversario de Junior, Kyo não queria conversar, por isso tentou ser o mais discreto possível, mas não adiantou:

–Kyo!

Ele se virou e seu coração deu um salto, Harry estava ali, sorrindo, vinha em sua direção. Kyo se espelhava em Harry desde quando se entendia por gente, sempre se achara muito parecido com ele, magrelo, cabelos negros e rebeldes, a única coisa diferente eram os olhos, os de Harry eram verdes-vivo e os seus eram azuis-rubi. Kyo se adiantou na direção dele, lhe estendendo a mão.

–Harry? O que você está fazendo aqui?

–Eu vim dar os parabéns para o seu irmão...–e diminuindo o tom de voz –não verdade eu vim falar com você.

Kyo sorriu largamente, sabia que, assim como ele, Harry também não gostava de seus irmãos. Eles subiram para o quarto do garoto, Harry já sabia como Kyo era desorganizado, muito ao contrario dele, que quando tinha a idade do garoto tinha que esconder muito bem suas coisas para não serem confiscadas pelos Dursley, seus tios.

–E então, como vão as coisas? –perguntou Harry, observando Kyo fuçar a procura da caixa de primeiro socorros.

–Ah, mais ou menos... –desabafou Kyo.

–Por que?

–Meu pai, tá mais opressor do que nunca, parece que quer tirar alguma coisa de dentro de mim.

–É, eu sei como é, meus tios também fizeram isso comigo.

–Ah, é mesmo, você cresceu na casa dos seus tios, mas pelo menos você tinha a escola, o St. Brutus, e eu que fico aqui quase o dia inteiro, minha escola não é em período integral como a sua era.

Harry sentiu uma pitada de culpa, “por que tinham que mudar a idade mínima para entrar?”, se perguntou Harry.

–Às vezes isso pode ser bom, pelo menos não é o dia todo estudando, você não sabe como era...

–Ainda assim eu queria estudar lá.

–Quem sabe, mas você vai ter aturar algumas pessoas muito idiotas.

–Não ligo, não pode ser pior que meu pai.

Harry sorriu, o garoto detestava mesmo o pai, ou será que o pai era quem o detestava?

–Vamos descer? –perguntou Harry.

–Espera ai... Tenho que terminar esse curativo...

O garoto achara a caixa de primeiros socorros, e agora se esforçava para abrir a caixa, Harry ria do esforço do garoto. Depois de alguns instantes Kyo colava o ultimo esparadrapo no curativo:

–Sabe qual é o problema desses esparadrapos?

–Não. –respondeu Harry curioso.

–Ou eles não colam ou não saem...

Harry riu, as vezes Kyo falava coisas idiotas que faziam certo sentido, como esse exemplo do esparadrapo.

Quando eles desceram o café da manha já havia sido servido, as pessoas estavam espalhadas pela casa dos Hunter. Kyo e Harry sentaram-se na escada para manterem-se longe dos convidados, nem Harry nem Kyo gostavam dos amigos de Junior ou os do Sr. Hunter.

–Por que seus pais têm que manter amizade com essas pessoas mal educadas? –perguntou Harry depois de alguns instantes.

–Sei lá, meu pai adora esse povo, ou pelo menos as carteiras deles, a maioria é dona de empresas tão grandes quanto a que ele trabalha.

Os dois riram, chamando a atenção do Sr. Hunter, que apareceu ao pé da escada.

–Kyo! Desça já aqui e ajude sua mãe!

–Não tô afim!

–Vem logo! –gritou o Sr. Hunter.

–Vai lá... –disse Harry batendo no ombro do garoto.

Kyo se levantou pesarosamente e desceu a escada, mas quando chegou ao pé da mesma deparou com uma coisa muito estranha, ou pelo menos bizarra: seu pai atravessava a sala carregando uma bandeja com bacon e seus amigos rindo de seu esforço para atravessar a sala, Kyo não pode deixar de conter o riso.

–Vamos, moleque! Faça alguma coisa! –gritou seu pai quando o viu rindo.

Kyo foi até a cozinha e encontrou a mãe passando café, se perguntou o por que dela ser obrigada a agradar os amigos de seu pai.

–Ah, Kyo, querido, como está a mão? –perguntou ela quando o viu entrar.

–Ah, tudo bem, mamãe, nem tá doendo. –mentiu Kyo, na verdade sua mão ardia muito, mas ele não queria preocupar sua mãe.

–Tem certeza?

–Tenho, mãe. –o garoto achou que sua mãe perceberia logo que mentia, por isso mudou de assunto –O Sr. Hunter pediu pra mim te ajudar.

–Da pra chamar ele de pai?

–Quando ele me considerar um filho...

Kyo sabia que sua mãe detestava o fato dele e de seu pai não se darem bem, mas ele não tinha culpa se desde pequeno seu pai o tratara como um estorvo em sua vida, algo que só veio para atrapalhar.

–Muito bem, pegue este café e aqueles copos descartáveis e leve-os para os convidados, daqui a pouco isso tudo acaba e poderemos ir para o zoológico.

–Vocês vão...

Kyo obedeceu a sua mãe e pegou as coisas, indo para a sala servir os convidados, sua vontade era de jogar o café quente na cara de alguém, mas sabia que isso teria conseqüências muito grandes.

Mais ou menos meio-dia todos os convidados haviam ido embora, Kyo se perguntava que tipo de café da manha durava até o meio-dia. O Sr. Hunter o obrigara a recolher toda a sujeira do chão e a lavar os pratos e talheres.

–Ainda está sujo! –disse o Sr. Hunter examinando uma colher que estava sobre a pia.

–A não ser que você não tenha notado, eu ainda estou lavando os pratos.

–Hm, eu quero isso muito bem limpo.

–Quem quer, faz, quem não quer, manda... –cochichou Kyo, quando seu pai lhe deu as costas.

Kyo queria não estar de férias, seria muito melhor se pudesse ficar na escola fazendo resolvendo equações algébricas do que estar ali lavando pratos.

Quando deu uma hora a Sra. Hunter se despediu de Kyo, se dependesse dos outros ele morreria por falta de adeus.

–Eu queria que você viesse. –disse sua mãe.

–Não, valeu mãe, eu vou ficar com o Harry.

–Mas vai ser tão divertido.

–Não pra mim, os dois duendes vão ficar me amolando e o Sr. Hunter vai tentar tornar isso um inferno pra mim, alem do mais, eu tenho quase quinze anos.

–Só daqui a duas semanas, mocinho.

–Então, só duas semanas.

A Sra. Hunter sorriu e deu um beijo no rosto do filho, logo depois entrou no carro bem lustroso do Sr. Hunter, dando tchau para o filho e Harry.

–Tchau, mãe!

–Tchau, Sra. Hunter.

–Cuida do meu Kyo, Harry. –disse ela enquanto o Sr. Hunter dava a re no carro para sair do numero quatro, seu olhar recaiu automaticamente no muro da casa.

–Pode deixar.

Eles ficaram observando o carro até ele virar a esquina da rua dos Alfeneiros, Harry pôs a mão no ombro de Kyo.

–Vamos entrar?

–Hã? Vamos, vamos.

Eles entraram em casa, Harry sentiu um ligeiro arrepio ao entrar na casa, ele olhou para Kyo que sorria de uma maneira muito estranha.

–Que foi? –perguntou Harry.

–Vem comigo...s

Kyo subiu as escadas correndo, Harry em seu calcanhar, o garoto atravessou o corredor passando direto por seu quarto, e então Harry percebeu o que ele iria fazer:

–Por que estamos indo para o quarto de seus irmãos?

–Vamos jogar vídeo game?

–Vídeo game? Mas você não tem!

–Eu sei, mas o Junior ganhou um de aniversario, eu instalei ontem, mas o Sr. Hunter me proibiu de tocar nele de novo.

–E então? Seu pai não te proibiu?

–Você não está com medo do Sr. Hunter? Está?

–Não, mas eu quero manter meu emprego...

Kyo mexia na caixa do vídeo game que estava sobre a cama de seu irmão:

–Astromash, Tibio, The Revenge…

–The Revenge? Vamos jogar!

Kyo pôs o cd no aparelho e o ligou, Harry agarrou um joystick como se fosse um copo de água no deserto, Kyo pegou o outro e ambos começaram a jogar.

Algumas horas depois eles ainda jogavam com muita empolgação, mas brigavam de vez em quando e até tentavam tomar o joystick da mão do outro, Harry fazia isso com muito mais freqüência que Kyo.

–Como você joga tão bem? –perguntou Harry.

–Por que? –Kyo não desgrudava os olhos da tv.

–Ah, você disse que seu pai nunca deixava você se divertir, eu até me lembro de quando você fez um escândalo porque não ganhou aquele vídeo game de natal.

–Ah, eu jogo por ai.

–Aonde?

–Na casa de uns garotos por ai...

Harry sabia que Kyo não tinha amigos, por isso ficou mais curioso ainda quanto a fonte da habilidade de Kyo, mas se conteve, não queria irritar ele.

Kyo não desprendia os olhos da tv, mas teve que se virar quando percebeu que Harry jogava com mais imperícia do que de costume.

–Que f..? –começou ele.

Kyo parou de falar de repente, percebeu em Harry uma coisa que nunca havia reparado antes: Harry tinha uma cicatriz na testa, uma cicatriz em forma de raio.

–O que... É isso? –perguntou Kyo, apontando para a cicatriz, não reparou que soltara o joystick.

–Isso? É uma cicatriz, a tenho desde que tinha apenas um ano...

–Eu também!

Kyo mostrou a própria cicatriz, Harry olhou para ela com uma falsa surpresa, sempre soubera que ele tinha aquela cicatriz, mas nunca demonstrou.

–Você sabe como arrumou a sua? –perguntou Harry, sempre quis saber se Kyo sabia da verdade.

–Ah, minha mãe me disse que eu cai da escada e me cortei, mas e você, como?

–Eu... Bem, foi no acidente de carro em que meus pais morreram.

Harry baixou a cabeça, não gostava de mentir para as pessoas de quem gostava, mas era necessário, não tinha certeza se Kyo seria realmente receberia a carta.

–Foi mal, eu não queria...

–Tudo bem, eu não me importo. –Harry sorria, Kyo sentiu um leve aperto no coração.

Kyo olhou em seu relógio de pulso, já eram sete horas, seus pais estavam chegando.

–Corre! Desce! Meus pais estão chegando!

Harry olhou no próprio relógio, arrumou o joystick em cima do vídeo game e se levantou, Kyo correu a arrumar as coisas do vídeo game.

Eles desceram o mais calmamente possível, para o caso dos pais de Kyo já terem chegado. No meio da escada escutaram o barulho da fechadura da porta se abrindo e logo depois viram os Hunter entrando, Amanda e Junior pareciam um tanto decepcionados, já o Sr. Hunter parecia furioso. Ao ver Harry e Kyo descendo as escadas ele pareceu ficar muito mais nervoso.

–Boa noite, Sr. Hunter. –disse Harry educadamente, ao chegar ao ultimo degrau da escada.

–Boa noite, Harry.

Harry acenou para a Sra. Hunter, mas ignorou Amanda e Junior.

–Kyo. –disse o Sr. Hunter.

–Sim, senhor.

–O que você estava fazendo no quarto do Junior e da Amanda?

–Hã?

–Você ouviu, o que você estava fazendo lá?

–Eu não estava lá!

–Estava sim.

–Não, nós na estávamos! –disse Harry, intervindo.

–Ah, estavam sim, vocês não estavam no seu quarto.

–E como você sabe que não?

–A luz de seu quarto estava apagada.

Kyo percebeu que estava perdido, não havia como negar, a luz do quarto dele realmente estava apagada, seu pai agora o mataria.

–EU estava jogando no vídeo game novo do Junior.

–Você estava jogando, e com a autorização de quem?

–De ninguém. –ele encarava o Sr. Hunter sem medo, mas conseqüente.

–Então acho que você desobedeceu a um ordem clara.

–Acho que sim.

–E eu posso saber o por que? –a voz do Sr. Hunter começava a atingir o tom letal que Kyo tanto temia, ele sabia que se chegasse ao ápice seu pai o mataria.

–Porque eu estava de saco cheio, eu nunca tenho direito a diversão, todo aniversario da Aline e do Junior tem uma festa e depois um passeio, eu nunca tenho o direito de participar de nada disso, alem do fato de eu nunca ter ganhado uma festa que chegasse aos pés das deles...

–Nunca ter ganhado uma festa? –perguntou o Sr. Hunter –É claro que você teve festas de aniversario.

–Se você chama de festa um bolo velho comprado na padaria e dois ou três garotos que eu nunca vi.

–Suas festas não eram assim!

–Eram sim! Eu nunca vou me esquecer de quando você preferiu ir para aquela maldita firma ao invés de passar o natal comigo! Depois que esses dois nasceram você nunca mais perdeu um feriado, nem mesmo o mais simples!

O Sr. Hunter ficou sem palavras, não podia negar, mas não queria admitir, mexia seus lábios, mas não emitia som algum.

–E então? –gritou Kyo –Vai ficar quieto?

–Você está de castigo. –a voz do Sr. Hunter alcançou se tom mais letal, ele se apoiara no vidro da janela.

–Ótimo! Você não tem amor pelo seu filho, não quer admitir e para se livrar o castiga! Nossa como eu sou uma pessoa de sorte!

De repente o vidro em que o Sr. Hunter estava apoiado desapareceu e ele, perdendo o equilíbrio, caiu pela janela em cima do jardim, Kyo não viu o que aconteceu, seu rosto estava abaixado. Quando o Sr. Hunter tentou pular de volta pela janela teve uma enorme surpresa, o vidro da janela reapareceu ele teve que tocar a campainha para entrar.

–Harry. –disse ele ao entrar novamente, logo após a Sra. Hunter abrir a porta.

–Eu tô sem nada, mas ele te avisou.

O Sr. Hunter olhou ara Kyo, durante anos tentara reprimir aquilo dentro do garoto, mas fora em vão, não conseguira.

–Você continua de castigo, está proibido de sair do seu quarto, e está sem jantar, por tempo indeterminado!

Kyo, agora um pouco mais calmo, graças a confusão de sua mente, subiu lentamente as escadas, quando alcançou o patamar mais alto gritou.

–Tchau Harry, boa noite mãe.

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