Sorte.



Sem mais delongas...

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Era uma vez o meu tapete! Pqp!

Mas tinha que ser justamente nesse tapete? Com tanto espaço ao lado dele tinha que ser em cima do meu tapete? Será que ele não faz idéia de quanto tempo eu tenho essa relíquia? Era uma herança de família passada de mãe pra filha em quatro gerações e agora esse cachorro tinha que vomitar justamente nele? Não faltava mais nada! Quando você quiser que alguém estrague a sua vida pode chamar o Malfoy, ele faz o serviço direitinho! Humf!

- Desculpa... Vou dar um jeito nisso. – Malfoy disse com a sua voz enrolada fazendo-me olhá-lo ao mesmo tempo em que tirava sua varinha da parte de trás da calça. Mérlim, que bafo é esse?!

- NÃO! – gritei! Do jeito que estava, provavelmente iria tocar fogo, no mínimo, na minha casa toda – Deixa que eu faço isso, por favor. Não quero que você termine de acabar com o meu tapete.

- Então... tá. – tomou um gole da bebida que mais escorreu pelo canto de sua boca do que para dentro dela. E foi insuportável a necessidade de acompanhar aquele líquido pingando do seu queixo para o tórax nu que ele exibia. Sacudi a cabeça pegando a varinha de sua mão. – Nunca gostei desse tapete mesmo.

- E quem foi que disse que você tem que gostar do que gosto? – ele não respondeu apenas ergueu os ombros tomando mais um gole.

Coloquei a varinha em sua mão quando terminei de limpar o meu tapete que nunca mais seria o mesmo, infelizmente, com um pouco mais de agressividade do que o necessário quando, mais uma vez, aquelas gotas me chamaram a atenção para o que eu não podia e muito menos queria ver.

- Agora... o que você está fazendo de porre numa hora dessas na porta da minha casa? – perguntei cruzando os braços na frente do corpo.

- É... você está em casa. – e sorriu bobamente.

- Pois é, então, acho que você já poderia ir para a sua. Boa noite Malfoy! – falei pegando a porta para fechá-la, mas ele espalmou a mão com a garrafa na mesma. - O que você quer ainda?

- Se... você está aqui é porque... não está com o Bru... Bu... Brugrsstrons... Brugsss...

- Com o Igor. – eu completei já que Brugston tava sendo muito difícil para o nível de álcool em seu sangue. Ele entortou a cara de maneira engraçada.

- Esse mesmo. – apontou para mim com a mão com a garrafa. Se tivesse três dedos de álcool ali dentro era muito.

- Boa observação. Na verdade muito boa, já que no seu caso...

- Que caso? Eu estou ótimo! Olha. – e quase caiu em uma tentativa ridícula de fazer o número quatro com as pernas.

- Malfoy! Cuidado, você vai acabar se machucando! – não que eu estivesse realmente preocupada com o bem estar dele, mas ainda sim, e não me perguntem o porquê, eu estiquei os braços para segurá-lo em pé.

- Preocupada comigo, Greenge...

- Granger, Malfoy. Granger!

- Essa é você.

- Sim sou eu. E esse – eu apontei para ele ainda o segurando. – é você. E está horrível! Não consegue ficar em pé direito, não está conseguindo falar direito, na verdade não está conseguindo nem focar em um único ponto. Malfoy o que lhe deu pra beber desse jeito?

- Você está errada, Greengrre... esquece! – falou balançando mão e a cabeça, eu apenas sorri com a sua capenga tentativa de falar meu sobrenome.

- Por que eu estou errada? Por acaso sou eu que estou nesse estado deplorável?

- Errada de novo!

- Por quê? – eu perguntei sabendo que não conseguiria fazê-lo ir para a sua casa sem manter algum tipo de conversa com ele. E foi com esse pensamento que tentei guiá-lo para sua casa. Tentei.

- Não consigo ficar em pé direito porque você está me segurando – começou apontando com a garrafa para mim enquanto vacilava nas pernas e soltava cada baforada de álcool que se eu demorasse um pouco mais perto dele talvez ficasse igualmente de porre.

- Então ta. – e eu o soltei. Ele vacilou no equilíbrio e se apoiou em mim.

- É... nisso você está certa. – confirmou fazendo outra careta engraçada. - Falar eu to falando porque você está me entendendo. – eu meneei a cabeça. – Foco. Eu to focado em você. Só to vendo você aqui! Por que tem mais alguém aqui? – ele começou a olhar para todos os lados com seus olhos azuis cinzas e agora vermelhos divergindo para pontos diferentes. – Porque se tem eu não to vendo, ou... você vê gente morta?

- Não, Malfoy, eu não vejo. – respondi sorrindo.

- Hum... será que eu posso ver?

- Malfoy, eu não sei, vamos andando? Eu lhe deixo em casa. – comecei irritada em mais uma tentativa de fazê-lo andar em direção a sua casa. Não estava mais agüentando aquele bafo!

- Casa! É... casa é legal. E você é minha vizinha.

- Infelizmente. – até que enfim ele andou!

- E você está em casa também.

- Sim. E agora estou lhe ajudando a chegar à sua.

- Você está em casa e não com o...

Droga ele parou de novo! Nunca pensei que a porta de sua casa fosse tão longe. Olhei para ele e percebi que sorria. Um sorriso largo, de porre e cheirando fortemente a álcool estava estampado em seu rosto enquanto seus olhos brilhavam como se estivessem maravilhados. Aquilo me surpreendeu, mas nada se comparou à surpresa que eu tomei quando seus braços me envolveram em um abraço apertado. A garrafa bateu fortemente no meu quadril. Aquilo doeu!

- Você está em casa. – falou soltando a respiração, como se estivesse aliviado e afundando a cabeça em meu pescoço. Aquilo foi o ápice da baforada de álcool, tive que parar de respirar, brevemente, enquanto aquele cheiro se adensava ao nosso redor até se dissipar aos poucos. Mas isso nada teve haver com a baforada, mas sim com o contato de sua boca na pele de meu pescoço enquanto ele respirava profundamente. Fiquei imóvel e tudo rodou.

- Na verdade... – respirei. - infelizmente, não estou em casa, onde eu gostaria imensamente de estar. – comecei a falar de modo que pudesse desviar a atenção do que estava acontecendo. - E você, também, não está na sua, estamos no corredor a poucos passos da sua casa e acho que seria ótimo se você me deixasse levá-lo para lá. Ai eu volto para a minha e fica todo mundo feliz.

Enquanto falava tentava ao máximo fazê-lo se mexer, mas ficou extremamente complicado, pois ele me abraçava com tanta força que nossos corpos estavam colados demais para o meu gosto. Mais uma vez minha imaginação fluiu além do que fosse permitido e tive que respirar fundo para afastar certos pensamentos proibidos para menores de 18 anos da cabeça, mas aquilo também não foi muito legal de se fazer já que o perfume cítrico dele ainda estava impreguinado em seu corpo mesmo com todo aquele outro cheiro de álcool. Pelo menos havia um ponto positivo nisso: meu roupão era grosso o suficiente para não permitir qualquer contato da sua pele quente a minha, ou pelo menos não em toda.

Foi com a intenção de fazer com que aqueles pensamentos sumissem de minha cabeça, que ouvi um barulho vindo da casa do Malfoy. Fiquei parada, apenas segurando o peso dele com o meu corpo, porque, com certeza, se eu o soltasse ele cairia no chão, e tentando escutar atentamente. Mas nenhum outro som chegou aos meus ouvidos a não ser o de uma televisão ligada do outro lado do corredor e o pouco movimento da rua lá fora.

É! Acho que estou começando a ouvir coisas, ou o Malfoy tem um pouco de razão: eu consigo ver ou ouvir gente morta. Balançando a cabeça e tentando mais uma vez arrastar o Malfoy de porre comigo, dei mais um passo em direção a porta do seu apartamento, no entanto, mais uma vez ouvi um barulho vindo dali, parecia o barulho de um copo quebrando no chão.

- Você tem um cheiro bom. – Malfoy disse em meu ouvido, os pêlos de minha nuca eriçaram.

- Cala a boca.

- Mas...

- Silêncio.

Ordenei com a intenção de tentar ouvir mais alguma coisa, mas nada aconteceu de novo, o silêncio tomou conta do interior do apartamento. Malfoy levantou a cabeça seguindo o meu olhar, mas ele estava tão de porre que provavelmente não estava entendendo nada.

Esperei mais um pouco, mas ainda sim, nada aconteceu. Foi quando eu estiquei a mão para a maçaneta da porta que ouvi passos vindos de dentro do apartamento. Estanquei no ato de abrir a porta, com a mão a poucos centímetros da maçaneta. Os passos estavam vindo em direção à porta que a pouco eu estava prestas a abrir, olhei rapidamente para o meu apartamento e percebi que estava, infelizmente, longe demais dele para que eu pudesse jogar o Malfoy para dentro e entrar antes que a pessoa saísse. Eu poderia trancar a porta para que me desse tempo de alcançar a minha casa, mas isso iria denunciar que havia alguém do lado de fora e que era bruxo, ou eu poderia simplesmente esperar a pessoa sair e lhe cumprimentar com um belo sorriso falso, antes de ser atacada por ela, pois, com certeza, quem ou o quê estava ali dentro era bruxo, pois ninguém passou por nos nesse tempo que ficamos aqui fora e, pela situação, o Malfoy não tinha visitas agora. A única varinha que existia era a do Malfoy que estava nesse exato momento guardada no cós de trás de sua calça.

- Você está com visita? – perguntei bem baixinho erguendo a cabeça um pouco para falar no seu ouvido. Por sorte ou, talvez, ele não estivesse tão de porre quanto eu imaginava, ele apenas negou com a cabeça.

- Por quê? – perguntou apenas movendo os lábios.

- Acredito que tenha alguém ai dentro. – indiquei o seu apartamento com um movimento de cabeça.

Como que para dar veracidade as minhas suspeitas, ouvimos alguém falando e os passos pararam, provavelmente, nós e os invasores – que estavam no mínimo em dois – estávamos a menos de um metro de distância uns dos outros e divididos por essa única porta, que seria transformada em pedacinhos se um duelo fosse travado ali. Malfoy rapidamente ajeitou a sua postura e, por fim, me largando... Mérlim, muito obrigada!... segurou a garrafa com força na mão e pegando sua varinha com a outra passou o braço pela frente do meu corpo me empurrando levemente para trás, como se estivesse me protegendo.

Ficamos parados, esperando, o que foi o tempo de uma batida de coração e os passos voltaram, mas pareciam estar se dirigindo mais para o interior do apartamento. Malfoy ergueu a varinha pronto para derrubar a porta e invadir o lugar, quando eu intervir segurando seu braço tentando abaixar. Sim! Ele ia querer dar uma de super herói agora é?

- Não! – apenas movi a boca.

- Tem alguém aí dentro! – Malfoy falou baixinho e visivelmente irritado.

- Exatamente. Mas não sabemos quantos e nem quem são. E não sei se você reparou, mas estou sem varinha. – terminei erguendo as mãos.

Ele apertou o maxilar parecendo se controlar ao concordar comigo e abaixar o braço com a varinha.

- O que você quer que a gente faça, esse é meu apartamento! – Agente? Agora viramos uma dupla, tipo Sr. E Sra. Smith? Eu heim!

- Vamos sair daqui, vamos para o meu. – falei o puxando comigo, mas, é claro, ele não se moveu. – Por favor! – eu queria que tivesse saído implorativo, mas foi quase uma ordem.

Parecendo pensar duas vezes enquanto avaliava a situação, ele se moveu junto comigo para o meu apartamento. Entramos e tranquei a porta bem devagar. Peguei a sua varinha de sua mão e comecei a fazer todos os feitiços de segurança que todos aqueles anos de perseguição promovidos pelo Voldemort me ensinaram. Após um floreio complicado entreguei a sua varinha e me joguei na poltrona.

- E agora? Você acha que eles vão parar de me procurar quando perceberem que eu não estou, porque com certeza já revistaram todo o apartamento e perceberam que eu só posso ter saído por aqui mesmo já que estou com essa roupa e todos os meus documentos e dinheiro lá dentro. – começou a falar andando de um lado para o outro, desviei minha visão dele para que não ficasse mais tonta do que estava.

- Eles podem procurar pelo prédio todo, mas não vão nos encontrar. – falei enquanto massageava as têmporas.

- Como pode ter tanta certeza?

- Por que quando passarem pelo corredor apenas verão a sua porta desse lado. Meu apartamento e protegido pelo Fidelius.

- Ah... ok... então. – disse e sentou no sofá fitando um ponto no teto.
Pus-me de pé rapidamente seguindo direto para a pequena lareira que tinha na sala. Dificilmente era acesa. Era mais usada em caso de urgência e esse era um. Peguei um pouco de Pó de Flú e me inclinei para a ela.

- O que você vai fazer? – perguntou Malfoy abaixando a cabeça e me olhando abismado.

- Falar com o Harry e acionar a ordem.

- Por quê?

- Nos precisamos de ajuda Malfoy, não sei se você percebeu. – falei virando os olhos nas orbitas.

- Ah! É porque não sou acostumado a ter a quem recorrer. – virei rapidamente minha cabeça para ele com as sobrancelhas erguidas não acreditando no que tinha acabado de ouvir. Aquilo era verdade! – Vai lá. Chama o Cicatriz e a Galera do Passarinho. – balancei a cabeça negativamente.

- Casa do Harry. – joguei o Pó de Flú na lareira e chamas verdes apareceram lambendo minha cabeça.

Tudo começou a rodar rapidamente e fechei os olhos para que a fuligem não incomodasse, assim como a vertigem. Assim como começou, parou e quando abrir os olhos visualizei a sala da casa de Harry e a estante de parede toda com os artigos de Quadribol estava bem a minha frente. Chamei pelo nome de meu melhor amigo, desejando que eu não estivesse atrapalhando nada que não fosse apenas o seu sono, quando, na quarta tentativa, ouvi barulho de pés descendo a escada para logo, em seguida, Harry aparecer com o cabelo todo desgrenhado, se possível mais do que de costume, de camisa e short de dormir, derrapando na frente da lareira, sendo seguido por uma Gina mais descabelada ainda e amarrando o laço de um roupão de seda na frente do corpo.

- O que aconteceu Mione? – perguntou Harry se ajoelhando a minha frente.

- Invadiram a casa do Malfoy.

- O quê? – falaram os dois em uníssono.

- Foi o que ouviram. – e comecei a relatar o ocorrido sem mencionar o quanto o Malfoy estava bêbado ao me procurar, enquanto Harry e Gina apenas meneavam a cabeça para que eu continuasse, sem nenhuma interrupção.

- Vocês fizeram bem em não querer se envolver. Ninguém e muito menos essas pessoas podem saber que você mora ai, Hermione. – Gina disse levando a mão ao coração, visivelmente satisfeita por não termos tomado o partido de iniciar nada. Ruiva hipócrita! Se fosse ela teria derrubado aquela porta a ponta pés!

- Ainda estão no apartamento? – perguntou Harry começando a andar de um lado para o outro.

- Não sei.

- Quanto tempo faz que vocês os ouviram?

- Não faz nem cinco minutos.

- Ok. Vou trocar de roupa e vou ao ministério de lá aciono Lupin, Tonks e Quim e vamos verificar o que está acontecendo.

- Harry, você acha...?

- Sim! – Harry cortou Gina antes que ela terminasse de falar. – Acho que são as mesmas pessoas que invadiram Hogsmead e mataram o Borgin. – terminando de falar Harry correu em direção à escada, sem antes me lançar um olhar preocupante.

- Você está bem Mione? – perguntou Gina apenas para manter a conversa, mas eu bem sabia que ela estava bem preocupada.

- Sim.

- Onde está o Malfoy? – perguntou com o cenho franzido. Por que ela tem que lembrar justamente do que ela não devia lembrar?

- Está aqui.

- O quê? – os olhos da ruiva arregalaram.

- Você queria que eu o deixasse lá para morrer? – perguntei incrédula. Eu sei que em respeito ao Malfoy qualquer pessoa fica fria, mas não é para tanto.

- Não seria uma má idéia. – apenas neguei com um movimento de cabeça.

- Onde está o Malfoy? – agora foi à vez de Harry perguntar quando entrou em meu ângulo de visão.

- Está aqui.

- Ok. – ele não ficou surpreso? Que coisa estranha. – Não saiam daí. Como você disse, não sabe se ainda estão no apartamento é melhor não saberem que existem outros bruxos no prédio e muito menos você. Não sei como será a intervenção, mas não saia por nada.

- O quê? – perguntei quase gritando. – Não pode me deixar trancada aqui enquanto...

- Fique e proteja o Malfoy, ele não pode ficar sozinho. Provavelmente estão procurando por ele e já que ele virou o seu protegido, então é sua função protegê-lo. – terminou de falar com um meio sorriso esnobe no rosto. Ainda te faço frito, seu pilantra! – Agora saia, preciso usar a lareira. – desde quando ele ficou tão educado?!

- Pelo menos me mantém informada, ok? – pedi lhe lançando um olhar cortante. Ele confirmou com a cabeça. – Tchau Gina. – ela sorriu para mim e puxei minha cabeça das chamas verdes.

Olhei para o Malfoy, mas ele não me olhava mais, ainda estava sentado no sofá. Levantei e segui para a poltrona.

Ficamos calados, cada um absorvido em seus próprios pensamentos, os dele eu não fazia idéia de quais eram, mas os meus sim. Minha cabeça estava a mil por hora, o que poderia ter sido uma noite um tanto desastrosa por incompatibilidade social, acabou se tornando uma tormenta. Onde foi que as coisas se tornaram tão erradas? Mas na verdade não era essa a pergunta que precisava de uma resposta urgente, mas sim as que se referiam ao que acabou de acontecer. E eu que estava tão preocupada com as coisas que a proximidade do Malfoy estavam fazendo com o meu corpo e minha cabeça, que nem lembrava que poderia acontecer coisas piores, como por exemplo, um bando de bruxos invadindo a casa de outro bruxo em plena madrugada e ainda em um bairro trouxa.

O que foi que aconteceu? Pensei de forma que pudesse colocar ordem em todos os pensamentos que ensandeciam a minha cabeça. 1º) Malfoy de porre na minha porta. 2º) Malfoy me abraçando. 3º) O primeiro barulho. 4º) Os passos. 5º) A voz e mais uma vez os passos. De uma coisa eu tinha certeza: não era apenas uma pessoa que estava ali dentro. Mas o que mais de uma pessoa estaria fazendo na casa dele uma hora dessas? Ele não tinha visitas naquele momento. Quem eram aquelas pessoas? Eram bruxos. Mas que bruxos? Com certeza da pior espécie, pois nenhum outro, principalmente do Ministério ou de Azkaban, iria invadir a casa de alguém, pelo menos não nesses tempos em que a verdadeira ordem estava estabelecida depois do que Voldemort e seus seguidores fizeram. O que ou quem elas procuravam? Será que tinha alguma coisa haver com o que aconteceu a Hogsmead? Harry estava certo com relação a isso? Será que eram as mesmas pessoas que destruíram a Borgin & Burkes? Será que vieram, realmente atrás do Malfoy? Fazer o mesmo que fizeram com o Borgin? Algo gelado percorreu todo o meu corpo, da cabeça aos pés. Olhei para o Malfoy e ele ainda estava na mesma posição, perdido em seus próprios pensamentos, mas o engraçado era que a garrafa continuava em sua mão enquanto que a varinha estava depositada na mesa de centro. Será que ele não vai largar essa garrafa nunca? Mas o que isso importava quando ele estava são e salvo na minha casa, no meu sofá? Soltei a respiração agradecendo a todos os deuses por ele ter querido beber essa noite e vindo a minha porta, pois, provavelmente, ele estaria em lugar bem pior agora. Respirei fundo quando o sentimento do alívio percorreu meu corpo. Ele levou a garrafa até a boca e tomou todo o líquido dali.

- Pára de beber Malfoy, tá bom por hoje. – pedi sem me mover na poltrona e ainda o fitando com aquele sentimento de alívio. Eu estava mesmo aliviada porque nem fui grosseira com ele. Eu podia odiar o Malfoy com todas as minhas forças, mas, mesmo que tenha falado várias e várias vezes, eu não o desejo morto.

- Eu já ia perguntar se você tinha uma dessas coisinhas por aí. Ia me ajudar a digerir melhor o que aconteceu ou está acontecendo. – ele olhou para a parede que dividia nossos apartamentos parecendo querer ver se ainda estavam lá. – O efeito do álcool passou pelo menos o suficiente para que eu possa pensar.

- Não tenho álcool em casa, mas acho que posso fazer um café para gente. – falei levantando da poltrona.

- Café? – ele entortou a boca. – Eu ainda prefiro o álcool pelo menos iria me fazer dormir mais rápido. E por falar em dormir...

- Você pode ficar aqui, Malfoy, devido às circunstâncias não me importo nem um pouco. – falei seguindo para a cozinha enquanto ele me olhava com uma cara espantada. – Na verdade, me importo um pouco sim, por isso, você dorme no sofá. – ouvi ele rindo.

- A senhora é quem manda chefinha.

- Se você me chamar assim mais uma vez lhe entrego aos leões que estão ao lado. – não ouvi nada em resposta. O clima pesou de novo.

Preparei o café ainda pensando no que aconteceu. Eu e o Malfoy, presos em minha casa por terem invadido a sua. Se eu pensasse nisso há um mês estaria no mínimo louca. Enquanto a água fervia, eu tentava escutar algum sinal de que os invasores tivessem ido embora, mas nada podia ser ouvido a não ser o borbulhar da água e o ronronar de bichento na sala. Coloquei os cafés em duas xícaras e rumei para a sala.

Malfoy continuava na mesma posição quando lhe entreguei a xícara, me agradeceu e tomou um gole logo em seguida. Eu sentei ao seu lado no sofá, colocando o maior espaço possível entre nós e os meus pés descalços em cima do sofá. Ficamos fitando a parede.

- Como está? – perguntei.

- Bom! Parece que gostamos do mesmo jeito: com um pouco de açúcar. – respondeu tomando um gole do café.

- Estou perguntando sobre você. Como você está?

Falei mais uma vez e ouvimos alguns móveis sendo arrastados. Arregalamos os olhos e senti meu coração bater fortemente contra o peito. Malfoy levantou rapidamente, depositando a xícara em cima da mesa de centro enquanto passava pela mesma, parou a centímetros da parede depositando seu ouvido ali para que pudesse escutar algo.

- Eles estão procurando alguma coisa. – falou

- Procurando? Mas o que estão procurando? – falei quando cheguei ao seu lado. – Não podem estar achando que você está de baixo de um armário.

- Talvez estejam procurando pistas...

- Ou uma passagem secreta.

- Isso poderia explicar o meu sumiço só com roupa do corpo.

- Mas não faz sentido. – falei com a voz esganiçada. Odeio quando as coisas não fazem sentido! É frustrante!

- Ou talvez faça e não estamos conseguindo chegar a ele. – falou tirando o ouvido da parede e olhando para mim. Mas eu não o encarei.

- Você acha que são as mesmas pessoas que invadiram Hogsmead? – perguntei

- Você acha que não? – falou com um tom de confirmação na voz.

Olhei para ele e só aí percebi que estávamos perto de mais para o meu próprio gosto e bem estar. Meu coração continuou a bater freneticamente, mas parecia que o motivo já não era mais o mesmo. Malfoy ainda avaliou o meu rosto quando eu respondi apenas com um aceno de cabeça, parando duas vezes nos meus lábios entre abertos, até se virar e voltar para o sofá.

- Não estou bem, mas posso sobreviver a isso. – falou apontando para a xícara de café enquanto se sentava. Um sorriso irônico brincou em seus lábios.

- Como você consegue brincar diante de uma situação como essa? – perguntei desacreditada que ele fosse tão frio, voltando para o sofá.

- Não sei. – tomou um gole de café. – Sai naturalmente, mas diante dessa situação é apenas uma forma de lidar com ela. A seriedade e a preocupação podem virar a sua cabeça se permitir.

- Sei bem como é isso.

- Mas no seu caso, sua cabeça já virou.

- Humf! – tomei outro gole contendo a vontade de falar coisas que não devia. A situação já estava complicada sem nos dois discutindo.

- Desculpe, mas é meu jeito de lhe dar com isso. – pediu fitando seriamente o resto de café que tinha ali antes de virar em sua boca.

- Tudo bem. – falei depois de ter terminado o meu.

- O que nós vamos fazer? Esperar os caras terminarem de destruir o meu apartamento? – perguntou cético.

- Sim. É o que nos podemos fazer: esperar. – ele me lançou um olhar contrariado. – Se você tiver outra idéia Malfoy, vá em frente. Pegue sua varinha e vá duelar com pessoas que nem sabemos quem são e muito menos o porquê de estarem fazendo isso. Elas não estão para brincadeira, estão com vontade de matar e com certeza vão ficar muito felizes em colocar a marca negra em cima do prédio. Quem sabe enquanto lutam com você não matam, também, esses trouxas que temos como vizinhos.

- Ok, Hermione, você me convenceu. – disse se escorando no sofá e fitando o teto. – Vai demorar muito para o salvador da pátria aparecer?

- O Harry... – enfatizei bem o nome de meu amigo, odeio quando tiram brincadeiras desse tipo com ele. – Foi ao Ministério acionar os aurores e Kingles e depois a ordem.

- Tanta formalidade.

- Não é mais como antigamente quando podíamos fazer as coisas do nosso jeito, sem ter que ficar pedindo permissão. – terminei de falar com um pouco de frustração. Falando desse jeito, as coisas pareciam até ser mais fáceis.

- Então... vamos esperar enquanto esses caras destroem o meu apartamento. – Malfoy falou e depois comprimiu seu maxilar. Eu podia imaginar o quanto estava sendo difícil para ele ter quer ficar parado enquanto destruíam as suas coisas.

- Hermione? – chamou a voz de Harry e olhei diretamente para a lareira. Seguindo para a mesma. Malfoy me acompanhou.

- Harry! Pode falar. – pedi me ajoelhando na frente da lareira.

- Vão ser dois grupos. Um vai aparatar próximo ao seu prédio para fazer uma vistoria ao redor e procurar os possíveis suspeitos e eu com Quim e Lupin vamos aparatar direto no seu andar. Malfoy? – Harry chamou. – Temos a permissão de invadir...

- Faça o que bem entender Potter só tire essas pessoas de lá se não for muito incomodo. – falou Malfoy entre dentes, mas não parecia estar com raiva alguma de Harry, mas sim do que estava acontecendo.

- Ok.

- Harry? – chamei, ele me olhou. – Tome cuidado, ouvimos móveis sendo mexidos lá dentro, possivelmente ainda estão lá. – ele confirmou com a cabeça.

- Não saiam daí. Vamos lacrar as portas dos outros apartamentos antes de intervimos. Olho nele Mione. – e sua cabeça desapareceu, assim como as chamas verdes.

- Tem certeza que não tem nenhum tipo de bebida por aí Granger? Até álcool etílico puro serve. – Malfoy pediu erguendo-se e pondo-se a andar de um lado para o outro. Eu neguei brevemente com a cabeça ainda ajoelhada próximo a lareira. – Há! – Malfoy quase gritou e parou de supetão.

- O quê? – perguntei com um susto sem entender nada, muito menos um sorriso que apareceu em seu rosto.

- Como eu pude esquecer! – e colocando ação as palavras ele bateu com uma das mãos na cabeça enquanto se dirigia a mesa de centro, pegando dali a sua varinha e com um floreio da mesma, apareceu do nada uma garrafa de uísque em cima da mesa.

- O que é isso? – tive a loucura de perguntar já que eu bem sabia que aquilo era uma garrafa de bebida. Louca! – Malfoy, você não vai beber justamente...

Mas antes que pudesse terminar de falar ele estava levando a garrafa à boca para beber. Tomou três goles seguindo antes de afastar a garrafa, enxugar a boca com a costa da mão e respirar fundo de olhos fechados. Não acredito! Ele não pode querer voltar a ficar de porre justamente agora.

- Malfoy, você não...

Mas calei abruptamente quando sons de vozes apressadas foram ouvidas vindas do apartamento de Malfoy e logo em seguida foi a vez de estalidos, dois ao mesmo tempo o que provocou um aumento no som, indicando que as pessoas ali haviam desaparatado. Nem bem havia processado aqueles sons quando mais três estalidos foram ouvidos, agora vindos do lado de fora do meu apartamento. Ficamos parados, eu ainda ajoelhada na frente da lareira, o Malfoy segurando a garrafa de uísque em uma das mãos e a varinha na outra, comprimindo os maxilares. Se não fosse pela situação eu até me daria ao trabalho de continuar olhando a sua imagem de Deus Grego do álcool, porque a posição rígida e o tórax nu eram bem convidativos. Mas, enfim, esquece!

Um estrondo de algo sendo explodido fez com que algumas coisas em meu apartamento tremessem, escutamos vozes e passos apressados, mas nada mais que isso. Antes do grupo de Harry invadir, eu e Malfoy já sabíamos que os primeiros invasores tinham aparatado poucos segundos antes deles aparecerem. Alguma coisa ou algo tinha os avisado que os aurores estavam chegando, pois com certeza não teria dado tempo de saberem sem antes Harry invadir o lugar. Abaixei a cabeça enquanto levantava da posição rígida que me encontrava em frente à lareira, olhei para o Malfoy e sua expressão afirmava o que eu pensava: foi por pouco.

Ouvimos alguém batendo na porta, com certeza era Harry, e enquanto eu me dirigia para atendê-la Malfoy se jogou em minha poltrona virando a garrafa em sua boca. Ao passar ao seu lado pensei em tirar a garrafa de sua mão, mas achei que seria bem melhor um pouco mais de álcool em seu sangue antes que ele visse o estrago em seu apartamento.

- Oi Harry.

- Hermione, não conseguimos. O apartamento está vazio.

- Antes de vocês aparecerem, nós os ouvimos desaparatarem.

- Eles? – perguntou Harry com o cenho franzido enquanto que Quim e Lupin se aproximaram, eu acenei com a cabeça para eles.

- Sim. Eram dois. Acredito que eles sabiam que vocês estavam a caminho. – falei me encostando à porta. – Antes deles desaparatarem ouvimos vozes urgentes, mas não sei dizer o que estavam falando.

- Também achamos o mesmo. – disse Harry confirmando com a cabeça. – Alguns dos nossos estão fazendo uma ronda lá em baixo para encontrar alguém suspeito.

- Mas, provavelmente, não há ninguém. – continuou Lupin com um ar cansado e ao mesmo tempo preocupado.

- Como eles souberam que vocês estavam chegando? – perguntei.

- Não temos idéia. Mas você falou que ouviu vozes urgentes, então isso indica que foram, de alguma forma, avisados. – falou Quim soltando um suspiro logo em seguida. – Andei pensando e acredito que devemos nos preocupar em quem realmente está do nosso lado.

- Não podemos tirar esse tipo de conclusão Quim. – retorquiu Harry passando a mão pelos cabelos.

- Talvez não haja outra, Harry, mas conversaremos melhor sobre isso no Departamento ou em sua casa, na sua casa é melhor. Convoque a ordem, precisamos de uma nova reunião. Mas os obliviadores chegarão a qualquer momento e antes disso, acredito que o garoto Malfoy queira ver o seu apartamento. – Quim terminou de falar indicando o Malfoy com a cabeça, que continuava sentado na minha poltrona na mesma posição. Mas ele estava quieto demais, dou o meu dedo mindinho em prova de que ele estava escutando a conversa.

- E como está? – perguntei em voz baixa.

- Alguns móveis foram arrastados sim, com certeza estavam procurando por alguma coisa, mas... tem outra mensagem. – Harry falou no mesmo tom. Puxei um pouco a porta atrás de mim.

- Outra mensagem? Em runas? – pedi sentindo que meu coração estava batendo rápido demais.

- Não. Na verdade é mais um símbolo. Alguma coisa parecida com a marca negra, mas diferente. – respondeu Lupin olhando para os lados, como se estivesse se certificando de que ninguém mais ouviria.

- Um símbolo?

- Venha Hermione, também precisamos que o Malfoy nos acompanhe. – começou Harry voltando a falar normalmente. – Precisamos que ele dê uma olhada no apartamento para sabermos se alguma coisa foi levada.

- Ok. – Harry falou olhando por cima dos meus ombros, mas a porta estava atrapalhando qualquer imagem do Malfoy, e seguiu atrás de Quim e Lupin.
Respirei fundo e andei até onde o Malfoy estava sentado.

- Malfoy? – chamei por ele me agachando próximo ao braço do sofá. Ele não me olhou. – Precisamos que você venha verificar se sumiu alguma coisa. – ele ainda sim nada falou, apenas tomou mais um gole da bebida e se levantou respirando profundamente.

- Vamos lá ver o estrago. – e passou pela porta antes de mim, sem largar a garrafa ou a varinha.

Sim. Parecia que todos os móveis da sala foram mexidos. O sofá e as poltronas estavam virados, o tapete de centro estava embolado a um canto junto com o que pareciam os restos da mesa de centro. O armário da sala que abrigava um aparelho de som, TV e DVD modernos estavam no mesmo lugar, mas as suas gavetas foram mexidas assim como todos os livros que estavam ali, alguns tiveram até as suas folhas arrancadas. No chão, próximo ao balcão de mármore que dividia a cozinha da sala, tinha vidro quebrado. Seria aquele copo que ouvi cair? Acredito que sim. A porta da geladeira estava aberta e um pouco de leite ainda pingava de um caixa para o chão, onde uma poça do líquido tomava conta de um pouco menos da metade da cozinha. As gavetas dos armários foram mexidas e todas estavam abertas. Eles realmente estavam procurando alguma coisa.

Mas nada se comparava com a situação que o quarto do Malfoy se encontrava. Senti um calafrio na espinha quando olhei para a cama dele e lembrei que há alguns dias ela foi cúmplice do nosso rompante de desejo. Balancei a cabeça, sabendo perfeitamente bem que aquilo não era hora e nem momento para pensar naquelas coisas. Mas a cama estava totalmente bagunçada, parecia que alguém tinha procurado alguma coisa em baixo do colchão por que ele estava fora do ângulo normal, enquanto que as cobertas verdes estavam jogadas de qualquer jeito no chão, emboladas no que pareciam ser as roupas do Malfoy. Eram desde camisas e calças a meias e cuecas, uma em particular chamou a atenção: ela tinha uma tonalidade meio rosada e estava escrito em letras garrafais “Bad Man”. Levei a mão à boca para tentar conter um riso, mas o Malfoy passou por mim a pegando do chão e a jogando dentro do guarda-roupa. Olhei para ele e senti o desejo de lhe pedir desculpas pela brincadeira de mau gosto. Ele poderia estar pensando que eu estava me divertindo com a sua desgraça o que não era verdade.

- Desculpa. – ele virou a cara olhando agora as paredes de seu quarto.
Eu fiz o mesmo e levei a mão à boca contendo um grito ao ver o que estava escrito na parede oposta à porta. Na verdade era um símbolo, era o símbolo que Harry havia mencionado: era o desenho de um círculo contendo uma cobra se enroscando em uma varinha; em baixo do desenho, em letras garrafais, estava escrito: Sorte. Parecia que quem havia feito aquilo usou fogo.

Girei a cabeça olhando para o Malfoy e vi que seus maxilares estavam mais rígidos ainda, ele apertava a varinha com tanta intensidade que faíscas vermelhas saiam da mesma, e a outra mão apertava com igual fervor a garrafa de bebida. Aproximei-me dele tocando sua mão que segurava a varinha de modo que pudesse tirá-la de sua mão antes que ele soltasse algum feitiço não verbal sem querer. Ele desviou os olhos frios e raivosos para mim.

- Largue a varinha Malfoy, você pode soltar um feitiço sem querer. – falei mansamente com medo de provocar uma reação contraria nele. Ele abaixou a cabeça olhando a sua varinha para logo em seguida soltá-la, eu a juntei do chão e lhe lancei um sorriso singelo.

- Harry, há outro desse pela casa? – perguntei a Harry que estava a todo o momento da excursão pela casa destruída do Malfoy ao meu lado.

- Não. Você viu coisa parecida antes? – pediu olhando para o desenho a feito a fogo.

- Não.

- Acho que é a marca desse grupo. Como um dia foi a Marca Negra para os Comensais da Morte. – ouvindo aquilo olhei para o braço de Malfoy onde a sua Marca Negra estava estampada, mas parecia envelhecida.

- Será que essas pessoas também as têm no corpo? – pensei mais comigo do que realmente com alguém ali.

- Não sei dizer. Isso pode ajudar, mas não vamos sair por aí pedindo que as pessoas se dispam para que possamos encontrar quem faz parte do grupo. – olhei para Harry não acreditando no que tinha acabado de ouvir. Quem tinha esse tipo de humor fora de hora era Rony e não ele. Balancei a cabeça descrente.

- O que quiseram dizer com “sorte”? – voltei a falar.

- Sorte porque não me encontraram aqui, Granger. – Malfoy falou com uma voz baixa, parecia controlar toda a raiva que sentia, mas quando olhei para ele vi que seu cenho estava franzido, ele pensava em alguma coisa. – Na verdade, sorte pra mim, azar pra eles.

- Esta pensando em que Malfoy? – pedi virando-me totalmente para ele.

- Só... tentando lembrar... mas acho que já vi esse desenho antes. – falou bem baixo enquanto respondia a minha pergunta.

- Você já viu esse símbolo antes, Malfoy? Onde? Consegue lembrar? Isso seria muito importante...

- Eu sei que poderia ser importante Potter, mas digo que acho que já vi, não tenho certeza. – de repente sua voz se tornou ríspida e quando se virou para nos um olhar de fúria estava estampado em seu rosto. – Tenha a certeza de que vou fazer o máximo para lembrar. Mas quem sabe na próxima vez vocês não pegam os caras que fizeram isso antes que eu não tenha sorte de novo. – e passou por nós rapidamente.

- Malfoy? – chamei por ele o seguindo, mas Harry já estava mais a frente do que eu.

- Se você quer segurança total, então procure por seguranças particulares, Malfoy. – Harry disparou.

- Eu pensei que segurança fosse o trabalho fornecido pelos aurores! – Malfoy devolveu parando em meio à sala.

- Malfoy, você poderia fica calmo, por favor? – pedi, quase implorei, mas mais uma vez minha voz parecia ser de ordem.

- Há! Você quer que eu fiquei calmo ao ver toda a minha casa destruída e por saber que agora é a minha vez de ter alguns malucos homicidas caçando a minha cabeça? Impossível Granger! – parou de falar e bebeu um pouco.

- Se você não ficar calmo vai acabar prejudicando as coisas! Entenda que Harry não tem culpa alguma do que está acontecendo, na verdade ninguém tem, mas se perdermos o controle as coisas vão ficar bem difíceis. – disparei falando e andando em sua direção, quando estava bem perto peguei a garrafa de sua mão e virei um pouco de líquido em minha boca. Comecei a tossir na hora. Meus olhos encheram de lágrimas. Aquilo era muito forte, ainda mais quente, mas nem por isso devolvi a garrafa para o Malfoy que me olhava perplexo. Virei para me posicionar ao lado de Harry que estava igualmente perplexo. – O que foi? – perguntei exasperada. Sim! Não posso me descontrolar também?

- Hermione tem razão. – falou Lupin de um ponto atrás de mim e percebi que ele estava na cozinha. – Não iremos resolver nada se continuarmos a discutir sobre quem tem culpa. Eu pediria que você Draco... – ele olhou para o Malfoy. – Não seja precipitado e não coloque a culpa em quem está tentando lhe ajudar e pense bastante sobre o símbolo que você diz ter visto em outro lugar. Isso será, realmente, muito importante.

Malfoy meneou a cabeça confirmando e parecendo, dessa forma, aceitar o que Lupin havia dito - e é só isso que ele faz, é muito difícil ele falar diretamente com Remo, agora só não me pergunte o porquê -. Ele respirou profundamente antes de passar mais uma vez o olhar pela sua sala destruída e fitar curiosamente o armário grande que havia ali. Na verdade eu pensei que ele estava olhando para mim, até me mexi desconfortavelmente, ajeitando meu roupão, achando que havia alguma coisa de errado comigo, mas ao vê-lo vindo em minha direção e segurar meu ombro e me empurrar calmamente para o lado para que ele pudesse chegar mais perto do armário foi que entendi o que estava acontecendo. Ele olhou o armário ao todo e depois fitou o chão, abaixou e pegou uma moldura que estava com seu vidro rachado ali.

- A foto. – ele disse olhando da moldura para mim. – A foto minha e de Martim em Fernando de Noronha não está aqui.

- A foto de você e seu amigo? – perguntei, mais uma vez meu coração começou a bater descompassado.

- Você quer dizer que eles levaram a foto que está você e um amigo seu, Malfoy? – perguntou Lupin aproximando-se de nós.

- Parece que sim.

Harry falou no lugar de Malfoy que começava a vascular o armário, bagunçando-o mais do que já estava bagunçado. Remexeu nas gavetas abertas e nos livros estragados a procura de alguma coisa que nós não fazíamos idéia, por isso apenas ficamos parados o olhando remexer quase que desesperado o armário.

- A carta! A carta sumiu. – falou por fim ficando de pé e dando uns passos para trás.

- Que carta? – perguntou Harry, mas eu sabia qual era.

- A carta que o amigo dele, Martim, lhe enviou um tempo atrás. – respondi lembrando sem querer o que aquela carta tinha me feito fazer. Trinquei os dentes lembrando-me daquela lambisgoia se esfregando no Malfoy. Odeio essa mulher!

- E a onde está esse amigo? – perguntou Harry.

- No Brasil. – Malfoy e eu respondemos juntos. Harry me encarou com as sobrancelhas erguidas.

- E, nessa carta, havia algum endereço Draco? – pediu Lupin olhando seriamente para o Malfoy.

- Não sei. Não consigo lembrar. – Malfoy falou com um semblante desolado que me preocupou. Nunca eu o havia visto ficar desse jeito. Deu pena do cara, sério mesmo. – Mas com certeza vocês não vão esperar que eu me lembre disso também, para tomar providências que o vá proteger de qualquer coisa. Não é? – pediu olhando para cada um de nós. – Eu posso dizer que o Martim é um pé no saco, mas com certeza ele não pode pagar por qualquer coisa que esteja acontecendo aqui. Você vai protegê-lo não vai Potter? – nem mesmo a pior das criaturas iria negar esse pedido. Uma vontade enorme de correr até o Malfoy e pega-lo nos braços de forma que pudesse acalmá-lo cresceu dentro de mim e foi com muito custo que a controlei.

- Claro que sim, Malfoy, claro que sim.

Harry respondeu em uma voz baixa. Não tinha nada haver com aquelas vozes que as pessoas fazem quando cumprem uma promessa que dificilmente será cumprida, mas sim aquelas que fazemos quando prometemos não só para a outra pessoa, mas para nós mesmo que daremos a vida para cumpri-la. Mas eu percebi o que Harry estava pensando, ele estava pensando em Rony e que, se fosse em uma situação contrária, ele também iria pedir para quantas pessoas pudesse para que protegessem o Rony. Pela a primeira vez em seis anos, Harry e o Malfoy estavam falando a mesma língua, senão, sobre o mesmo sentimento. Se a vontade de confortar o Malfoy era grande, ela pareceu duplicar quando ouvi aquela promessa e me deu vontade de abraçar e beijar esses dois homens. Mas não era para tanto. Provavelmente, os dois me estuporariam e me mandaria para a ala dos feitiços irreversíveis St. Mungus depois se eu o fizesse.

Colocando ação às palavras, Harry pediu o endereço de Martim para Malfoy que o escreveu em um papel, não somente o endereço da casa do amigo, mas também da sua própria casa no Brasil e do boticário onde trabalhavam. Segundos depois Quim falou que os aurores do Ministério estavam subindo sem nada em mãos, ou seja, não haviam encontrado nenhum suspeito, acompanhando os obliviadores. Mais uma vez Harry prometeu encontrar o amigo do Malfoy e nos disse para esperarmos em meu apartamento até que todos os outros fossem embora.

Voltamos para o meu apartamento, mas tive que puxar o Malfoy pelo braço quando parou mais uma vez para visualizar o estrago em sua casa e entramos quando ouvimos passos nas escadas e o barulho da porta do elevador abrindo. Com certeza Bem, o porteiro, já havia tido a sua mente apagada.

- E agora? – Malfoy perguntou parando no meio da minha sala.

- Vamos esperar as investigações, encontrarem o seu amigo e você lembrar aonde viu aquele símbolo. – respondi passando por ele e lhe entregando a sua varinha. Coloquei a garrafa de Uísque em cima da mesa.

- Vamos ter que esperar muita coisa então. – respondeu e continuou no mesmo lugar. - Que horas são?

- 01:30 – respondi olhando para um relógio de parede que ficava em cima da lareira. – Por quê?

- Preciso encontrar um lugar para ficar Granger. – respondeu soltando o ar.

- Por quê? – perguntei. Sinceramente eu não estava entendendo. Ele sorriu descrente.

- Acho que aquele gole de Uísque não foi muito bom. – Ele sorriu mais abertamente agora enquanto via meu rosto ficar vermelho. – Mas, não sei se você percebeu, não tenho mais casa.

- Ah! É mesmo. – concordei esquecendo que meu rosto estava quente.

- Pois é. E até encontrar um lugar descente, vou ter que voltar para um hotel. – respondeu soltando mais uma vez a respiração. – A não ser que você me queira como hospede. – e aí sorriu de novo, aquele sorriso cínico que tanto me desconfortava.

- É claro que não! – respondi apressadamente. Ele ergueu as sobrancelhas. – Já basta tê-lo como funcionário e antigo vizinho, mas em baixo do mesmo teto 24 horas por dia, é claro que não.

- É claro que não. – ele disse fazendo uma cara como se tivéssemos falado uma grande besteira. Mas era sério! Muito sério!

- Mas, não vou me incomodar em lhe dar abrigo por essa noite. – ele olhou para mim e repentinamente seus olhos brilharam e um sorriso brincou no canto de seus lábios. Eu mesma estava me controlando ao máximo para não sorrir. Agora, mas uma pergunta daquelas que dão prêmio: Por que estávamos repentinamente felizes com essa desgraça? Ninguém responde! Ninguém responde!

- Sério? – perguntou empolgado demais. – Quer dizer, você vai fazer esse sacrifício pelo meu bem estar? – colocou depois de recobrar a postura.

- Põe sacrifício nisso. Mas é o melhor. Não é aconselhável você sair por ai a essa hora quando sua casa foi invadia. Podem ainda esta procurando por você.

- Tens razão. – ele pareceu refletir por um tempo. – Então isso é motivo de comemoração! – e seguiu em direção a mesa para pegar a garrafa de Uísque.

- Negativo! Tolero você em minha casa por essa noite, mas não de porre! – falei pegando a garrafa e dando a volta no sofá.

- Pows, Granger! Só um gole! Prometo que não vou beber mais do que isso e até aceito mais uma rodada daquele seu café horrível. – ele falou enquanto dava passos calculados em minha direção. Agarrei a garrafa em meu peito. Quem é ele pra falar que meu café é horrível? – Por favor? Essa noite não foi muito boa para mim.

- Golpe baixo, Malfoy. – falei depois de pensar um pouco e chegar à conclusão de que ele estava certo. Só um gole não ia fazer mal, até eu já tinha tomado um enquanto ele tinha tomado várias garrafas. Pensei um pouco mais e estiquei o braço com a garrafa para ele.

- Valeu Granger! – e um sorriso bobo e vitorioso surgiu em seu rosto que me contagiou e eu sorri também. Ele virou a garrafa na boca.

- Hei! Você disse que séria só um gole! – o acusei, mas foi difícil conter o sorriso no rosto. O alívio me encheu de novo. Ele estava ali na minha frente salvo por ser o único cara sortudo que encheu a cara em um dia improvável, mas que acabou salvando a sua vida.

- Desculpa, eu me empolguei. – terminou de falar limpando a boca com a costa da mão enquanto esticava a garrafa pra mim que a peguei fazendo uma careta, seu bafo ficou horrível de novo.

- Você está com um bafo horrível e uma aparência deplorável. – falava enquanto rumava para o meu quarto com a intenção de esconder a garrafa por ali. De repente ele é um alcoólatra e eu não sei.

- Obrigado pela parte que me toca Granger. – o ouvi dizer da sala.
Coloquei a garrafa dento do meu guarda-roupa e o olhei procurando por alguma coisa que Malfoy pudesse vestir. Peguei uma camisa de Quadribol que um dia pertenceu a Rony e a coloquei de volta no lugar, eu não queria o Malfoy usando roupas do Rony, a imagem e a lembrança não iam ser legais e muito menos ajudar. Vasculhei um pouco mais e encontrei uma camisa grande e branca. Se era do Rony eu não tinha idéia, mas só o fato de não ter certeza já ajudava. A separei. Agora o mais difícil: alguma coisa que ele pudesse usar na parte de baixo do corpo. Revirei o meu guarda-roupa a procura de algo grande o suficiente para não deixar nada a mostra, até que por fim, nos compartimentos superiores, encontrei uma calça de moletom que uso nos dias frios quando estou sozinha e só pelo tamanho ia ficar bom. Abri outra porta e peguei uma toalha de lá. Voltei para a sala. Malfoy estava andando por ela olhando as várias fotos expostas ali.

- Aqui. – falei depositando as roupas e a toalha em cima da poltrona.

- O que é isso? – perguntou virando-se para mim.

- Camisa, calça e toalha. Tome um banho, você está precisando. – falei cruzando os braços na frente do corpo.

- Isso é do seu ex? – perguntou apontando para as roupas e sorrindo cinicamente. – Se você quer me arrumar com as roupas do Weasley apenas para matar a saudade, pode crê que não vou lhe ajudar com essa fantasia.

- Humf! Então esquece! – nossa como era fácil ele me tirar do sério! – Só achei que estivesse querendo tomar um banho e trocar de roupa. – e passei os braços pelas roupas e segui para o quarto pisando forte.

- Ok! Desculpa Granger. – ele me alcançou antes que eu conseguisse chegar ao meu quarto. Eu ergui uma sobrancelha descrente. – Sério mesmo. Você está querendo ser bacana comigo e eu tô te enchendo. Desculpa. – e pegou as roupas de meu braço. – A onde fica o banheiro? – perguntou sorrindo sinceramente.

- Ali. – apontei para uma porta que ficava do outro lado da porta de meu quarto. Caramba! Ele ia ter que passar pelo meu quarto antes de chegar lá. Oh banheiro inconveniente!

- No seu quarto?

- Isso.

- Estranho.

- O quê?

- Nada. – e seguiu em direção ao banheiro sem nem sequer olhar para os lados e trancou a porta. Bom garoto!

O que eu fiz para passar o tempo? Nada! Bem, na verdade eu continuei pregada no chão sem saber o que fazer. Olhando para a porta do banheiro enquanto os segundos passavam até que o barulho do chuveiro se fez presente e uma onda de calor e calafrios percorreram o meu corpo. Naquele exato momento Malfoy estava como veio ao mundo e tomando banho no meu banheiro. Inacreditável! Inacreditável mesmo era eu parada aqui pensando essas besteiras! Peloamordemerlim, até parece que nenhum outro homem tomou banho no meu banheiro! Acorda Hermione, esse só é o... o Malfoy. E pior ainda, cheirando fortemente a álcool. Urg!

“O que tá esperando mulher? Te enfia de baixo daquele chuveiro também!”

Nossa! Você ainda existe?

“Já disse que você não vai se livrar de mim tão facilmente!”
Péssima noticia então!

“Hermione Jane Granger, o que você está esperando para invadir aquele banheiro?”

Não estou esperando nada, porque não vou fazer isso. Se liga!

“Aproveita a oportunidade mulher!”

Nossa! Grande oportunidade!

“Escuta aqui amiga, você vai negar que aquele tórax nu não lhe deixou meio catatônica?”

Não vou negar. O Malfoy é, realmente, muito bonito.

“Então?!”

Mas isso não quer dizer muita coisa. Ele continua sendo o Malfoy. O prepotente, irritante e lesma albina do Malfoy.

“Ai Granger! Você vai acabar virando freira ou ficando virgem de novo”

Cala a boca!

“Só uma espiadinha vai.”

Urg!

“Definitivamente você é muito esquisita! Que mal há em querer ver um homem muito gostoso nu?”

Para você que é a parte poluída do meu cérebro não há mal algum, mas a parte que prefiro dar ouvidos me diz para ficar onde estou.

“Chata! Antipática! Nojenta! Faz isso por mim? Eu preciso disso! Prometo que nunca mais vou encher tua paciência com qualquer coisa relacionada ao Malfoy.”

Tá! E eu vou ser a mais nova apanhadora do Time da Inglaterra.

“Ai! Você é irritante!”

Eu sei.

“Mas que uma espiadinha não ia fazer mal algum é verdade.”

Vê se me esquece, ok!

“Isso eu consigo, o difícil vai ser esquecer que você me privou de ver o Malfoy tomando banho.”

Aff! Consi, esse não é um momento muito bom para nós discutirmos.

“Ok! Concordo contigo. Mas pensa comigo...”

Consi!

“Calma, estressadinha, eu já vou! Mas pensa comigo só um instante, na verdade tenta imaginar: o Malfoy tomando banho, nu, a água escorrendo por seu corpo, tórax, braços, barriga, Bu...”

- Chega! – ai caramba! Falei alto de mais! Será que ele ouviu?

- Hermione, algum problema? – É! Ele ouviu. Sua voz estava abafada pelo banheiro fechado.

- Não. Nenhum. – respondi olhando para a porta do banheiro. Será que se eu gritasse de novo ele sairia de lá molhadão? Não acredito que tô pensando isso!

- Ok. – respondeu de novo e o barulho do chuveiro tomou conta do apartamento.

“Será que ele sairia nu ou perderia tempo se enrolando em uma toalha?”

Eu não mereço isso!

“Foi você que começou!”

Esquece!

Andei até minha poltrona favorita e me enrosquei ali. Não que fosse denominada assim pelo fato de existir apenas ela no apartamento, mas porque a tenho desde que comecei a ler e se ela falasse poderia dizer quantos livros eu li perdida em seu conforto. Em Hogwarts eu tinha minha poltrona favorita, era aquela do lado esquerdo da lareira. Mas ainda sim, não se comparava com essa. Enrosquei-me mais. Ainda bem que o meu pai é um cara inteligente, comprou logo uma grande para que eu pudesse desfrutar de muitos anos em sua companhia. Foi o melhor presente que ganhei depois, é claro, de todos os livros.

Sentar ali para pensar era, depois de ler, a melhor coisa do mundo. Os pensamentos não se aglomeravam e nem se embolavam, apenas iam surgindo de acordo com a necessidade de avaliá-los, e o pensamento da vez era: o que aquelas pessoas querem? Se fossem as mesmas que invadiram Hogsmead, o que acredito piamente que sim, elas estão se vingando das pessoas que se viraram de alguma forma contra Voldemort no seu período de trevas. E se o que aconteceu com Borgin é o mínimo que eles farão a essas pessoas nem posso imaginar o máximo. Se, apenas pelo fato de Borgin nos ajudar de forma indireta com o caso de Gina, ele já foi morto, não consigo imaginar o que acontecerá a Malfoy se o pegarem.

Abracei minhas pernas quando um calafrio agourento percorreu minha espinha. Mesmo com todas as minhas desavenças com o Malfoy eu, definitivamente, não o queria ver morto. Será que só pelo fato dele ter se tornado bom, ou pelo menos um pouco, e nos ajudado ele merece ser destruído dessa forma? Será que é esse o pagamento que ele receberá por ser bom? Por tentar mudar? Isso não pode ser verdade! Isso é injusto! Isso é péssimo e injusto e maldoso e... e... E por que eu to chorando? Ai que droga! Passo a mão pelo rosto tentando controlar aquele rompante, mas essas malditas lágrimas não param de cair e escorrer pelo meu rosto. Isso é inacreditável! Abaixo a cabeça e a escondo entre as mãos, tentando ao máximo contê-las, mas parece que todas as lágrimas que engoli por todos esses dias estão descendo de uma só vez. Mas será que elas não poderiam esperar eu ficar sozinha ou pelo menos escondida em meu quarto para criarem vida? Justamente com o Malfoy aqui! A meu Deus o Malfoy! Ele vai achar ridículo! Vai me avacalhar! Me tirar até o diabo dizer chega! Vai...

- Granger, tudo bem? – ai que droga! Por que eu não prestei atenção ao barulho vindo do banheiro. Solucei. Droga! – Granger, você está chorando?

- Não! Tá... tá tudo bem. – tirei a mão do rosto e foi à pior coisa que fiz, porque ele estava abaixado na minha frente, olhando-me atentamente. E mesmo que eu negasse com todas as minhas forças, esses olhos vermelhos, essas lágrimas que continuam caindo e esse rosto borrado que estou sustentando iriam me denunciar no ato. O que está acontecendo comigo?!

- Granger! Meu Deus, por que você está chorando? – perguntou todo alarmado.

- Esquece. Tá tudo bem. – respondi tentando me levantar. Ele colocou a mão em meu ombro me impedindo disso.

- Não. Não tá tudo bem, eu vejo isso. Pode falar Hermione.

- É sério. Tá tudo bem sim. – eu tentei sorrir.

- Hermione, por favor, fala porque choras senão eu vou te perturbar com isso a noite toda e, não sei se você lembra, mas vamos dormir embaixo do mesmo teto hoje. – ele falou também tentado sorrir e foi melhor do que eu, por que aquele sorriso cínico que tanto me desconcertava surgiu em seu rosto. E eu que poderia nunca mais ver esse sorriso. Pronto! Comecei a chorar de novo. – Ai caramba!

E o pior de tudo não foi nem pensar que eu não veria mais aquele sorriso que, a partir daquele momento eu percebi que gostava imensamente, mas o pior foi o que eu fiz, eu simplesmente, loucamente, contrariamente e insandecidamente me agarrarei ao pescoço do Malfoy em um abraço apertado. E como foi bom aquele abraço por que ele retribuiu e foi melhor ainda quando começou a afagar minhas costas me dizendo palavras que eu não conseguia compreender, por que eu estava tão concentrada nele perto de mim demonstrando, daquela forma, que ele estava, realmente, ali são e salvo que eu não conseguia pensar em mais nada. Só nele. Ali. Nos meus braços.

E as lágrimas copiosas desceram, desceram por um tempo que achei que não teria fim, até que viraram apenas respirações descompassadas e quando minha respiração voltou ao normal, fiquei apenas parada, descansando, fungando uma vez ou outra quando uma pontada de dor invadia meu peito, mas elas não eram o suficiente para derramar mais lágrimas e eu sabia que pontada de dor era aquela e quando ela iria terminar, pois eu já a havia sentido antes, sentia quando o pesadelo de Voldemort assombrava nossas vidas e ela terminaria quando tudo isso acabasse de novo.

- Você está melhor? – Malfoy perguntou em uma voz baixa.

- Umhum. – respondi me afastando dele. Aquele abraço poderia ter sido bom, maravilhoso na verdade, mas estava bom de contato físico com o Malfoy por, pelo menos, uma década.

- Que bom. Eu não gosto de ver mulher chorando. – ele disse com um meio sorriso enquanto fitava o meu rosto. – e os meus joelhos já estavam protestando em ficar nessa posição. – então por que ele não se levanta?!

- Então, perdão por lhe provocar este constrangimento. – eu falei com um pouco de sarcasmo na voz. Ele sorriu mais abertamente.

- Perdoada. – sorrimos. Tô ficando bege! Não acredito que tá sendo fácil sorrir com ele e não dele. – Mas você não vai me dizer o porquê desse derrame de lágrimas?

- Não se preocupe, já passou. – respondi tentando me levantar, ele mais uma vez não deixou e continuou segurando meu ombro.

- Não tô preocupado, só to curioso. – Olha o sorriso cínico de novo. Tava bom demais pra ser verdade.

- A curiosidade matou o rato. – respondi. – Não que vocês tenham alguma diferença.

- Se começou o insulto é por que está bem mesmo. – e levantou. Percebi uma pontada de raiva e... decepção na voz dele? Ai que droga! O cara vem me consolar e eu fico dando patada. Acho que posso ser um pouco mais gentil com ele. Depois de tudo, acho que ele merece, mas só um pouquinho.

- Ok. O motivo...

- Não precisa falar, Granger. – respondeu ficando de costas para mim e seguindo para a janela da sala.

- Mas eu quero ok. Com licença, obrigada! – falei também me levantando. Eu consegui vislumbrar um sorriso no rosto dele antes de olhar pela janela. – O motivo... – respirei fundo. Por que ele tinha que me interromper? Agora ficou difícil ser mais legal! – é porque eu acho injusto e... maldoso perseguirem você apenas por nos ter ajudado. – pronto! Falei! Agora na tem mais como voltar atrás. Acabou a cota de gentileza com o Malfoy por, pelo menos, duas décadas.

Ele ainda ficou um tempo parado, olhando pela janela, mas dou minha cara à tapa que ele estava pensando no que tinha acabado de ouvir, até que, por fim, virou-se para me encarar. O seu cenho estava franzido.

- Sério?

- Sim. Eu lhe dei um voto de confiança e não gosto de injustiça. Ninguém pode ser condenado por querer ser bom.

- Todo aquele chororô era por mim? – perguntou cético.

- Não totalmente, mas em parte.

- Então quer dizer que você estava chorando por não querer que eu morra? – sim! vai ficar me metralhando de pergunta mesmo?

- Em tese.

- Por quê?

- Quê? – calma gato que eu tô voando.

- Por que você não quer que eu morra? – ele perguntou dando alguns passos em minha direção em reação eu dei um passo para trás e cai na poltrona.

- Por que você não merece, eu já disse que é injusto. – respondi

- Mas não é você que vive dizendo que prefere que eu suma, desapareça, pegue o beco da tua vida? – agora ele estava a um passo de mim.

- Sim, mas não dessa forma. Apenas por livre e espontânea vontade. – me encolhi um pouco na poltrona pela intensidade de seu olhar.

- Tem certeza? – ele deu mais um passo e se inclinou para mim, apoiando cada uma de suas mãos em cada braço da poltrona.

- Cla-claro. – caramba! Ele tinha que me olhar desse jeito e ficar tão perto assim?

- Tem outro motivo? – seu rosto estava a centímetros do meu. Seu hálito estava com o cheiro do meu anti-séptico bucal.

- Na-não. – aquele cheiro era bom. Melhor do que o álcool pelo menos.

- Então por que você esta gaguejando? – ai que droga! Alguém me dá uma luz aí, por favor!

- Não sei. – eu respirei fundo antes de falar, mas foi horrível por que o cheiro de menta invadiu meu nariz.

- Nervosa?

- A-acho que sim.

- Por quê?

- Perto de mais.

- Quem está perto de mais? – ele avançou mais um centímetro. Seus olhos eram incrivelmente azuis e cinzas ao mesmo tempo.

- Vo-você. – falei em um único fôlego. Minha voz saiu baixa.

- Quer que eu chegue mais perto?

Não precisei responder, pois ele avançou mais um centímetro e a qualquer movimento nossos lábios iriam se tocar, se tocar mais uma vez. Meu coração, que já estava maluco por bater tão rápido, pirou com aquela aproximação. Minha respiração se tornava cada vez mais desequilibrada enquanto eu procurava uma resposta, mesmo sabendo qual seria, e me perdia naquela imensidão fria que era a cor de seus olhos. Era incrível aquela sensação de querer dizer sim e não ao mesmo tempo, incrível mesmo eram os seus olhos percorrendo o meu rosto esperando por apenas uma palavra para avançar a qualquer momento aquela linha imaginária que construímos quando ainda tínhamos 11 anos de idade. E foi com fervor e completamente desconectada do mundo que eu abri a boca para falar:

~~*~~*~~*~~*~~

Má? eu? Não!
huhuhuhuhuhuh
Calma gente... muita calma nessa hora... se acontecer alguma coisa comigo vcs nunca saberão o final dessa historia... por isso... guardem as maldições imperdoaveis tá...
huhuhuhuhuhuhuhu
1º pedido de perdão: a demora...
1º pedido: a demora...
3º pedido: O cap ficou pequeno, eu sei... eu sei tbm q dc q ia postar um grandão, so q eu confabulei com minha beta e ela me deixou parar o cap aki... + ñ se preocupem q o cap. 20 vai xegar rapidinho pq so falta "conclui-lo"
E para adiantar... o nome eh... O outro lado...

B-jocas pra td mundo... =*******

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