Remoendo o passado



Capítulo 15:

Aquelas palavras reverberaram no meu cérebro fazendo até a mais descontraída de minhas moléculas ficarem tensas. A cena era digna de um filme em que o segredo mais sórdido de um dos personagens principais é desvendado. A cena congelada diante de meus olhos se desenrolava em preto e branco e definitivamente eu não sabia o que pensar e muito menos o que fazer. “Um filho!” Um filho de Maire e Malfoy ?!?!

Quando e como aconteceu? Está bem! Como aconteceu eu sei, mas não estou falando desse “como”, mas sim de “Como” eles se envolveram? E quando, principalmente. Não consigo pensar em uma brecha na vida turbulenta de Malfoy que fosse capaz de permitir isso. Na verdade eu consigo pensar em muitas. Sei que uma coisa dessas pode acontecer em um único encontro. No entanto, não acredito que Maire seja esse tipo de mulher que se entrega para qualquer um. Definitivamente tem alguma coisa errada.

“Um filho!” O seu grito ainda ecoava na minha cabeça quando ela me empurrou para o lado e desabou na poltrona chorando convulsivamente, debruçada sobre os braços apoiados na mesa. Um filho! Gerar uma criança dentro de si é um dos maiores milagres que Deus deu a cada mulher. Poder olhar para uma coisinha pequeninha e dizer: esse é meu! Saiu de dentro de mim! Deve ser maravilhoso! Qual a mulher que nunca pensou, pelo menos uma vez na vida, em ter um filho? Acredito que nenhuma. Mas perder um filho? Tirar uma coisa que é sua por natureza, assim? Do nada? Deve ser uma dor inigualável. E só por pensar nisso e ainda ver minha grande amiga chorando essa dor meus olhos encheram de lágrimas. Por que Maire nunca me contou nada? Nem tocar no assunto ela fazia. Lembro que nas poucas vezes que assunto envolvendo gravidez e filhos surgiam em muitas de nossas conversas ela se mantinha imparcial, distante, fazia pouco caso. Imaginava que ela não se importava com essas coisas, a achava estranha por isso, porém nada falava, pois concordava com sua opção. Mas agora entendo o motivo. Queria poder dividir essa dor com ela. Pegar, pelo menos, um pouquinho para mim. Mas não posso. Não agora. Não antes de saber o que aconteceu. Mas será que não estarei sendo injusta perante a dor dos dois?

E por falar em dois, lembro que mais uma pessoa poderia estar sofrendo ali, porém, não vejo seu rosto, pois o Malfoy estava de costas para mim. Seu ombro subia e descia denunciando que sua respiração estava descompassada. Como foi que eles se envolveram? Como permitiram que isso pudesse acontecer? E ele era um Comensal da Morte desde os 16 anos de idade, ou ainda é, não sei. Ao lembrar de sua idade a conversa que tivemos no refeitório sobreveio em minha mente: “Olha aqui Granger. Eu não fiz nada com a sua amiga do que não me arrependesse. Mas saiba que eu só tinha 17 anos e que meu pai era um Comensal da Morte. Só”. 17 anos? Se Malfoy tinha 17, Maire deveria ter...

- Céus, Maire! Você tinha 15 anos? – perguntei não conseguindo refrear minha estupefação.

- Vai... me... recriminar tam-também? – perguntou com a voz entrecortada pelo choro, mas sem levantar a cabeça.

- Não! Claro que não! – essa era a última coisa que eu poderia fazer naquele momento. – Malfoy, ela era uma... uma criança! Como você pode fazer isso? – virei-me para o Malfoy tentando controlar a raiva que me consumia.

- Queres mesmo que eu explique como se faz uma criança, Granger? – perguntou ainda de costas para mim, no entanto, sua falsa tentativa de colocar cinismo na voz não foi alcançada.

- Não acredito que você ainda consegue brincar em um momento desses. Pelo Amor de Merlim, Malfoy, você ainda possui alma pelo menos? – perguntei incrédula.

- Que foi Granger? Não acredita mais que as pessoas possam mudar? – falou me olhando de canto de olho, mas nem por isso havia se virado ao todo para mim.

- Não acredito que você fez isso! Como pôde Malfoy? Que tipo de homem você é?

- O tipo que você pinta, do que imagina, do que desejar. Eu sou esse homem. – respondeu ainda me olhando de soslaio. Os soluços de Maire aumentavam toda a vez que ele falava.

- Ridículo! – cuspi essa palavra com nojo. – Está com medo de me encarar Malfoy, por quê?

- Não tenho medo de você Granger! – falou rispidamente.

- Então me encare! Olhe nos meus olhos quando estiver falando. Será que não é homem suficiente para isso? – perguntei controlando o máximo possível minha voz que clamava por gritos exaltados.

Mas ele nada respondeu, apenas respirou profunda e lentamente e de cabeça abaixada atravessou o espaço entre ele e a porta e sumiu por ela me deixando paralisada e perdida com meus pensamentos e perguntas sem resposta.

Olhei para Maire que continuava de cabeça baixa, porém já não chorava, apenas respirava com um pouco de dificuldade. Fechei os olhos por alguns segundos tentando controlar a raiva por Malfoy que ainda me assolava e quando os abri minha cabeça rodopiou e devi isso à confusão pela qual essa estava passando. Encostei-me na mesa de Maire e em um ato inconsciente comecei a afagar os cabelos curtos de minha amiga.

Por que será que ele foi embora? Por que não me olhava nos olhos? Estariam eles vermelhos? Nossa! Será que Malfoy estaria chorando silenciosamente? Merlim! O que será que aconteceu? A dor desses dois é quase palpável. E se Malfoy estivesse realmente chorando então isso significa que ele ainda tem um vestígio de alma? Tem alguma coisa errada nisso tudo. Malfoy = Alma? Tem alguma coisa errada mesmo! Por que se Malfoy estivesse, realmente, nada arrependido do que fez sua reação não teria sido essa. Se comover com a dor do próximo não é uma característica dos Malfoy’s e muito menos dos Comensais da Morte. A frieza imperaria após a explosão de Maire.

Malfoy e Maire e um filho, apenas ele maior de idade. Que loucura! Tanta coisa passou pela minha cabeça, mas isso: Maire perder um filho por causa de Draco Malfoy? Nunca! E o que o Lúcio Malfoy tem haver com isso. Se bem conheço aquele cretino, tem tudo haver com o que aconteceu a Maire. Mas por que ela tem raiva do Draco se provavelmente a culpa foi do Sr. Malfoy? Ah! Não entendo mais é nada!

Mas 15 anos?! Com 15 anos eu estava tentando salvar Hogwarts de Umbridge e de Voldemort também! O que estava passando pela cabeça dessa menina, hein? Na verdade na cabeça desses dois. Porque quando um não quer os dois... Bem vocês entenderam! Mas! Hãn! Céus! Será que... será que Maire não queria? Será que Malfoy forçou alguma coisa? Cretino! Filho da... Olhei para Maire que ainda recebia meus afagos e agora estava com a cabeça virada, olhando para o nada. Inexpressiva. Mas se, realmente, Malfoy tivesse forçado algo contra ela, reclamar pela perda de um filho não seria prioridade. Ou seria?

- Maire. – chamei passados alguns minutos que pareceram longos, agoniantes e ansiosos demais. Mas ela sequer moveu a cabeça e muito menos piscou enquanto recebia meus afagos. – Maire! – tornei a chamá-la, no entanto, um pouquinho mais alto. Talvez a sua não reação perante meu chamado se devesse a ele não ter sido sonoramente percebido. Mas nem assim ela demonstrou algum sinal de vida, dessa forma, deixando-me um tantinho irritada e temerosa. E se não fosse por sua costa que subia e descia devido à respiração eu teria um treco quando percebesse que estava chamando por uma morta. Cruz! – Maire! – definitivamente ela ouviu, por que até eu levei um leve sobressalto pela sonoridade que minha voz tomou. Porém, como das outras vezes, a individa nem se mexeu. E eu já ia tomar fôlego para chamá-la de novo quando ela piscou.

- Ouvi desde a primeira. - olha ela fala! E que ridícula! Fazendo-me gastar saliva à toa.

- Então por que não respondeu querida? – perguntei com o meu tom mais amável. Tantos anos de convivência com a Sra. Weasley que acabei pegando o jeito daquele tomzinho que poderia fazer ate Você-Sabe-Quem pedir arrego.

- Estava com a esperança de que você desistisse. – respondeu ela movendo apenas os lábios, mas eu pude sentir uma pontadinha de esperança no seu tom de que aquilo se concretizasse. Mas, pode ir tirando seu hipogrifo da chuva garota, por que isso não vai acontecer. Estou curiosa para deixar isso pra depois. Estou sendo péssima? Mas é claro que não! Só preciso saber o que aconteceu entre esses dois para tentar, de alguma forma, ajudar Maire. E o Malfoy que se vire, já estou lhe ajudando muito pro meu gosto.

- Você sabe que eu não iria desistir...

- Por isso que disse que estava com esperança. – falou dando um meio sorriso e um suspiro. Esperei alguns segundos antes de retomar a conversa. Já que tinha começado tentarei terminá-la.

- Como você está? – perguntei ainda com a voz adorável aprendida com a Sra. Weasley.

- O que você acha? – sua voz não passou de um sussurro e de novo o suspiro.

- Acho que está precisando conversar. - falei com o meu melhor sorriso bondoso, mas energizante e só nesse momento que ele deu um sinal de que seu corpo ainda se movia, pois ela sentou-se reta na poltrona, com isso quebrando o meu afago em seus cabelos.

- Desde quando você virou uma especialista nisso? – ela fitava as mãos.

- Posso saber em quê? – perguntei com um ar risonho, tentando deixar o clima o mais leve possível. E eu acho que estou conseguindo. Ponto pra mim!

- Em fazer os outros falarem quando não estão bem para isso.

- Digamos que conviver por anos com dois homens um tanto insensíveis me torna PHD nesse assunto. – ela sorriu meio de lado, sem nada falar. Porém, aquilo era um bom sinal de que a conversa estava indo por um caminho florido. – Mas sim, você gostaria de conversar sobre o que aconteceu aqui? Desabafar? Pode contar comigo Maire, sou e sempre serei sua amiga... – ela me olhou e sua expressão ia ficando dura de acordo que ouvia minhas palavras, isso sem contar com os olhos vermelhos que voltavam a ficar marejados. E aquele caminho florido ia perdendo toda a cor e o encanto se transformando em um sombrio. – Talvez você possa se sentir melhor... – e a minha voz foi abaixando... abaixando...

- Ou Talvez não! – arrematou ela levantando-se firme e rápida da poltrona.

- Maire...

- Você vai expulsá-lo daqui? – perguntou visivelmente irritada com os punhos fechados ao lado do corpo.

- O q-quê?

- Vai deixar de ajudá-lo?

- Mas...

- Então não temos nada pra conversar Hermione! – concluiu passando por mim tirando seu jaleco.

- Sei que não posso obrigá-la a dizer...

- Não pode mesmo!

- Mas pelo menos você poderia me ajudar a entender direito o que aconteceu entre vocês – agora eu também estava irritada e isso não é muito legal não.

- Você já sabe o que aconteceu! – disse pendurando seu jaleco em um suporte na parede ao mesmo tempo em que pegava sua bolsa de lá.

- Não, eu não sei!

-Você está surda ou o quê, hein? Será que não ouviu que o MALFOY ME FEZ PERDER UM FILHO – gritou me fazendo sobressaltar.

- Você já disse isso e eu sinto muito, mas...

- O que você quer mais saber Hermione? – perguntou dando um passo para cima de mim com o dedo erguido que recuei e colidi com a poltrona. – Será que perder um filho já não basta para me fazer sentir tanto ódio dele? Quer saber como uma garota de 15 anos se deixou envolver por alguém que pensou ser o seu príncipe encantado?

Malfoy está longe de ser um príncipe encantado, mas é por aí mesmo. Foi o que pensei a tentar imaginar o Malfoy surgindo em um cavalo branco, com aquela camisa em tufos listrados e a calça colada. Que horror! Contudo não externalizei isso para ela e nem devia só pelo jeito que ela me olhava. Como se sua desgraça se devesse a minha ínfima existência. Era só o que faltava!

- Acho que isso seria um bom começo.

- Então está bem! Lá vai. – meu coração deu um salto e algo frio percorreu meu corpo quando ela jogou sua bolsa sem cerimônia alguma em uma outra poltrona que havia a frente da mesa. – Eu tinha 15 anos quando conheci o Malfoy. – começou sem deixar de colocar toda a sua frustração e raiva em cada palavra. - Foi lindo e perfeito! Totalmente inesperado. Ele queria um refúgio e achou isso em mim. Só que como toda garota da minha idade, também sonhava com um príncipe encantado com quem casaria e teria muitos filhos... – como eu não pensava nisso então posso me considerar uma exceção. – E ingênua como só eu sabia ser, cai na lábia desse... desse... – soltou um bufo de raiva e respirou profundamente. – Acabou acontecendo e foram tantas vezes que nem consigo contar... – meu Deus uma Ninfomaníaca! Cruzes! – Uma melhor que a outra... – sim, minha filha, vai querer contar todos os detalhes mesmo? – No entanto, em um dia, ele sumiu e foi a partir daí que descobrir quem eram os Malfoy, mas não me arrependi de nada, porque o que ele era pra mim não se encaixava na família adoradora de sangues-puros que eram. Mas, como nem tudo nessa vida é flores, descobri que estava grávida de 1 mês, contei para meus pais que me expulsaram de casa e fui atrás dele até que o encontrei e lhe contei que ia ser pai. Sabe qual foi a reação dele? – apenas mexi a cabeça estupefata por tudo aquilo. – Sorriu! Chorou! Disse que era tudo o que ele queria...

- Ele fez isso? – perguntei completamente aterrorizada. Vai negar que também não pensou o contrário?

- Isso mesmo e ainda me prometeu mundos e fundos. – mesmo diante de meu espanto ela ainda continuava com raiva. Colocando em cada palavra uma frustração que seus olhos marejados e vermelhos denunciavam muito bem. – Contou pra família e sem mais nem menos, me chamou para um jantar na Mansão Malfoy para conhecer minha família, achei que aquilo seria um pedido de casamento... – Ela respirou fundo e aquela demora fez com que todo o sangue que possuísse no corpo se escondesse em algum lugar porque ele ficou tão frio perante aquele silêncio que uma vertigem perpassou por meus olhos me fazendo apoiar na mesa. – A única coisa que lembro é do Malfoy me oferecendo uma taça com alguma bebida antes de acordar jogada em uma praia na Austrália, suja de areia e de sangue. O fim! – terminou com um falso sorriso teatral para logo em seguida pegar sua bolsa tremendo de raiva e sair pela porta que a bateu com estrondo a fim de fechá-la.

Minha reação? Apenas me deixar cair na poltrona com a boca aberta e sentir calafrios de tristeza, espanto, descrença, raiva e não sei mais o que percorrer meu corpo. Será possível que depois de mostrar tanta alegria diante a notícia de que seria pai uma pessoa mudaria seu modo de pensar tão facilmente? Claro que sim! Depois de descobrir que bruxos existem e estão tão pertos dos ditos “normais” descobri que nessa vida tudo pode acontecer. Mas é impressionante que casos como esses, depois de tudo que passei junto de Harry e Rony contra o Lord das Trevas, ainda me deixam desestabilizada, descrente, temerosa que pessoas assim, sem escrúpulos, ainda existam. “Isso por que minha amiga, você tem o coração bom”. Pela primeira vez, depois que descobrir que você existe Consi., paro para refletir profundamente no que disse. E mesmo sem pensar muito chego a uma conclusão: Tenho o coração bom e burro. Bom, por não acreditar que isso ainda pode acontecer e burro por aceitar ajudar um ser tão desprezível quanto ele. “Ah! Com isso você não deve se preocupar caríssima prima dos leoninos, pois por ‘ele’s’ sempre ficamos burras!’” Sabia que estava muito bom pra ser verdade. Aff!

Por quanto tempo eu fiquei sentada naquela poltrona, estática, apenas sentindo o sangue voltar a correr pelas minhas veias, não faço idéia, mas acredito, que foi o suficiente para perceber que tenho que tirar essa historia a limpo. Têm vácuos que precisam ser preenchidos e relatos ainda para serem ouvidos. Quero detalhes! E mesmo que ele não queira vai me dar. Se realmente tivesse se sentindo culpado a ponto de chorar quando saiu desta sala é porque essa história tem outro lado e, peço a Deus, que ela realmente tenha outro lado. A única coisa que não entendo, e isso não tem nada haver com o que está acontecendo entre eles, o porquê dessa necessidade quase sufocante de encontrar um vestígio de bondade daquela coração de Comensal. Por que preciso tanto provar que ele possui humanidade? Mas agora a outra pergunta de mil galeões é: Provar para quem? Tem alguma coisa errada comigo ou só é meu lado “bom” tentando salvar uma alma perdida?

*

Nunca me senti tão sozinha nesse Departamento quanto hoje. Também nunca pensei que ele fosse tão grande sem as gracinhas e risadas de Maire e até mesmo sem a presença afetada do Malfoy. Por incrível que pareça me acostumei com ele enchendo a minha paciência. Mas nada se compara a presença estavelmente radiante de Maire. No entanto, isso nem se compara ao trabalho tedioso de três pessoas que tive que executar durante o dia. Não que eu esteja demonstrando preguiça. Nunca! Jamais! Mas fazer o meu trabalho como Diretora, Projetista e Mestra em Poções e o de secretaria além de ser minha própria auxiliar não é pouco não. No mínimo eu deveria ter oito braços e olhos e quatro ouvidos. E ainda mais, como se fosse para fechar o dia com chave de meleca de Trasgo, terei que fazer um trabalho de coruja, pois perante os acontecimentos agonizantes e inesperados de mais cedo acredito que Maire esqueceu de entregar uma carta destinada ao Malfoy que notei quando os serviços de secretaria de Departamento me chamaram. Era só o que me faltava! Tenho cara de coruja por acaso? Mas ainda bem que por hoje...

Pelo menos esse trabalho, porque um ainda pior, porém, mais vibrante me espera. Mesmo sentido que daqui a alguns minutos Harry não hesitará em me jogar na cova dos leões pelo caso “Salvem a Lesma Albina” já posso sentir aquela mesma adrenalina que sentia quando estávamos tecendo planos para fazer alguma coisa contra o Lord das Trevas, ou até mesmo em qualquer coisa dentro de Hogwarts. Mesmo que estivéssemos na linha de frente do lado bom da guerra contra Voldemort, mesmo tento tantas vidas em jogo a adrenalina pulsante nas veias é viciante. E admito, estou sentindo uma saudade enorme disso tudo.

E com todo esse entusiasmo que resultou em um sorriso travesso nos lábios, que podem não acreditar, mas eu o tenho, em menos dos minutos necessários para sair do Hospital e procurar uma rua deserta, aparato na frente da casa de Harry.

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Droga! Droga! Mil vezes droga!

- Bom dia, Sr. Malfoy! – escuto alguém dizer ao passar por mim nas escadas do hospital enquanto eu descia com a máxima rapidez que minhas pernas e meu equilíbrio permitiam.

Maldita bruxa! Por que revolver o passado? Para quê, se só trouxe lembranças horríveis de um passado doloroso? Já me bastava perder horas de sono e quando conseguia dormir por livre e espontânea pressão, isso atormentava meus sonhos e agora essa: a Granger ficar sabendo!

Por que contar justamente para ela? Ela não tinha que saber de nada! Ela não podia saber! E o que vai pensar de mim agora? Se só pelo fato de ser quem sou, de ter o nome que tenho e por ter ficado na casa que fiquei em Hogwarts já não pensa boa coisa, depois dessa não vai querer mais nem olhar na minha cara. Definitivamente, para ela, eu sou um pesadelo! Mas... espera aí! E que merda isso tem de importante para mim? Que a Granger se exploda com seus pensamentos recriminatórios sobre mim.

- Já vai embora, Sr. Malfoy? – escuto a voz pastosa da recepcionista do saguão de espera ao mesmo tempo em que sinto aquela camada fria e, no momento, extremamente desconfortante ao passar pelo vidro que separa o hospital bruxo da Londres dos trouxas.

- O que essas pessoas tem haver com a minha vida? – pergunto-me em alto e bom som, enquanto andava a passos largos e firmes pela rua sem um rumo certo de onde poderia me fazer esquecer essa droga. Dessa forma, fazendo algumas pessoas próximas me olharem curiosas. – Por que diabos eu voltei pra Londres? E que outro diabo me fez pensar que seria recebido de braços abertos depois de ter escrito um passado obscuro que só eu conheço e de ter fugido como um covarde? – volto ao meu mártire tirando com urgência aquele jaleco verde que já estava começando a chamar atenção demais, isso, com a ajuda do meu monólogo.

E foi nesse momento que a luz de um vício antigo floresceu em minha mente, fazendo-me procurar quase, para não dizer totalmente, desesperado por algum lugar que vendesse minha perdição. E como se, pela primeira vez, Merlim estivesse guiando meus passos, encontro uma loja de conveniências, que sem pestanejar e ainda com um sorriso de criança ao avistar uma loja de doces toma conta de meu rosto antes marcado por... Prefiro não comentar... adentro a loja procurando assiduamente pela sua embalagem comprida, cilíndrica, colorida e em questão de segundos lá esta ela sorrindo e piscando para mim com todas as letras: Pringles!

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- Que bom que você veio. – Saudou-me Gina com um sorriso largo no rosto ao abrir a porta. – Entre. – dando-me espaço para que entrasse. – Nem todos chegaram ainda, mas isso bom, pelo menos você pode comer alguma coisa antes de começarem a reunião.

Sempre achei a casa de Harry e Gina um máximo. Na verdade a cara dos dois. Sem excessos. Nem excessivamente limpa, mas também não é um chiqueiro. Lembra um pouco a que dividia com Rony, mas ela não é tão grande, apesar de possuir uns dois quartos a mais. Móveis simples que exalam conforto só de olhar. Em cada detalhe pode-se perceber toda a tranqüilidade que Harry sempre desejou. Como um casal de admiradores compulsivos de quadribol, que Gina e Harry são, perdendo um pouquinho para o Rony, é claro, os artigos referentes ao jogo, que vão desde miniaturas de vassouras, que flutuam sozinhas, até uniformes de vários times, consomem toda uma parede, distribuídos em armários e prateleiras. A casa mais parece uma extensão da sala comunal da Grifinória em Hogwarts, ate as paredes são vermelhas com detalhes em dourado. No entanto, os tons, tanto dos móveis quanto das paredes, são mais claros, mais harmoniosos. E o toque final desse sonho realizado pelos meus amigos são os vários brinquedos de criança que se espalham pela casa.

-Quem já chegou? – perguntei.

- Apenas Remo, que está no escritório conversando com Harry, mas não demorará muito para que os outros cheguem. – dizia pegando minha bolsa e meu jaleco e os depositando em cima de uma mesinha perto da porta. - Como a maioria trabalha e por esse horário que largam, devem estar chegando...

- Sempre gostei da casa de vocês. – disse com um sorriso sincero nos lábios ainda perdida nos detalhes daquele lugar. Gina ainda pôde dar um sorriso ainda maior pra mim.

- Às vezes, na maioria quando acordo de manhã, penso se não estou vivendo um sonho.

- Por que, Gina? Vocês estão casados há... seis anos já. – pra mim já é tempo de mais pra ser real.

- Por que você acha Hermione? Sou louca pelo Harry desde que descobri que ele existia... – pensou um pouquinho. – Acho que desde que descobri que eu existia. – sorrimos e eu balancei a cabeça negativamente. – Até parece que você não lembra Mione!

- Claro que lembro! Oh se lembro! Nunca havia perdido tantas noites de sono só para lhe ouvir falar como o Harry é isso, como o Harry é aquilo... – ela deu-me uma tapinha do braço sorrindo, logo em seguida abaixando e pegando uma boneca do chão. Mas era verdade, às vezes me dava ate reboliços no estômago de tanta admiração e na maioria das outras vezes me deixa levar por pensamentos distante com relação a Rony fingindo ouvir aquela babação de ovo. Ah Rony! O que você estará fazendo agora meu cavaleiro andante?

- Mione? Oh Hermione! Em que planeta ruivo você está, hein? – ouvi sua voz me chamar atenção. – Ou será agora um planeta loiro?

- Quê? – perguntei de olhos arregalados e ela sorriu. – O que você perguntou?

Mas fui salva pelo gongo, ou melhor, por um grito agudo de criança vindo direto da cozinha. Foi minha salvação. Corremos até a cozinha, mas demoramos a chegar lá, porque no momento que chegamos perto do escritório, Harry e Lupim também saíram desesperados provocando certo congestionamento no corredor, até que por fim, Gina empurrou os dois homens para dentro do escritório de novo e avançou como uma leoa para a cozinha.

- Lily!? – falou Gina com uma voz esganiçada ao mesmo tempo apavorada ao avistar a filha estatelada no chão da cozinha rodeada de vidro e alguns caldeirões e sapos de chocolate. – O que aconteceu, minha filha? – perguntou se aproximando com cuidado e carregando Émilly do chão.

- O que aconteceu? – falou Harry entrando na cozinha e me empurrando para o lado com a intenção de chegar mais perto das duas e se não fosse por Remo eu seria a próxima a ficar estatelada no chão. Mais que educação!

- Eu não sei!- respondeu Émilly com sua voz fininha de criança, quase iniciando um choro. Seus olhos já estavam ficando marejados. Aí tem! Se bem conheço essa sobrinha legitima de Jorge e Fred essa aprontou uma.

- Como não sabe minha filha? – Gina se aproximou de uma bancada que separava a cozinha da sala de jantar e colocou a filha lá passando a olhá-la nos olhos – Diga para mamãe...

- E para o papai! – colocou Harry olhando atencioso para a filha, fazendo Gina e eu revirarmos os olhos.

- Diga como foi que você caiu. – continuou a ruiva.

- Eu, eu tava aqui... quietinha... esperando a senhora. – falou com um muxoxo.

- Se você estivesse quietinha não teria acontecido tudo isso aqui. – disse Harry olhando para o canto que ainda estava sujo de vidro quebrado e chocolates.

- Mas eu estava, eu... foi tudo culpa do pote! – disse ficando ligeiramente emburrada e apontando para o chão sujo.

- Como assim “culpa do pote”? – perguntou Harry assustado.

- Não acredito que você tentou pegar o pote de chocolates de cima do armário Émilly! – Pronto! As orelhas de Gina, assim como de todos da tribo dos palitos de fósforos, começaram a ficar vermelha enquanto olhava para a filha e logo em seguida fuzilou Harry com os olhos que se esquivou um pouco quando ela votou a falar. – Eu disse pra você esconder esse pote direito Harry! Está vendo só o que fez a sua filha fazer?

- Mas eu escondi! Estava em cima do armário! E veja a diferença de altura dos dois!

- Harry estamos falando de uma criança! E não de uma criança qualquer. – Ih, Começou! E pior que já sei até onde isso vai dar. E pela carinha de alegria que a Émilly está tentando esconder, ela também. Depois que essa pestinha aprendeu a fazer a culpa de alguma traquinagem que fez voltar para os pais meio estabanados que tinha não faz outra coisa para se livrar dos poucos castigos que levava e que agora eram evitáveis. Nem parece que essa menina tem três anos. – Estamos falando da nossa filha e, o que pior, da sobrinha de Jorge e Fred...

- Não é bom para a criança ficar discutindo na frente dela. - disse Lupim com ar profissional puxando uma cadeira da mesa e sentando, dessa forma, me dando a idéia de fazer o mesmo.

Harry respirou fundo engolindo o que iria retrucar para Gina e os dois olharam a filha que prontamente fez um biquinho de choro. Essa menina vai dar muito trabalho!

- Minha filha? - Émilly olhou para o pai que olhava ao redor parecendo notar alguma coisa. – Como foi que você tentou pegar o pote de bombons? – com essa até eu me surpreendi e não fui a única, pois um semblante intrigado tomou conta do rosto de Gina.

- Nan... ele que veio me pegar!

Essa foi demais! Remo soltou um barulho pelo nariz e fingiu que tossia. Harry virou de costas para a filha tampando a boca com uma das mãos. Gina comprimiu os lábios ainda tentando falsamente manter a cara séria para a menina, mas eu fui à única que ri de verdade debruçando-me sobre a mesa.

- Explique essa Émilly?- pediu Harry voltando ao normal, ou pelo menos tentando, porque ainda era visível um sorriso em seu rosto.

- Eu tava aqui, ai vi o pote e ele me viu... – começou a falar fazendo caras e bocas. – Eu fiquei com vontade de comer, mas a senhora nunca deixa... – ela cruzou os pequenos bracinhos na frente do corpo fazendo um biquinho de frustração maior que o de choro.

- Deixo sim, mas você sabe que não pode comer toda hora! – explicou Gina.

- E o que aconteceu depois filha? – perguntou Harry lançando um olhar recriminatório para Gina que fingiu não notar.

- E eu fui ali pra pegar... - apontou para o lugar que estava sujo de vidro. - Só que tava lá lonjão, no céu... – apontou para o céu, desencadeando mais uma onda de risinhos, mas dessa vez eu me controlei. – E eu queria comer, e foi crescendo, crescendo e...

- E? – todos nos perguntamos o que teria acontecido mais.

- E ele veio com tudo e me derrubou no chão...

Ela nem tinha terminado de falar quando Gina a pegou no colo dando gargalhadas e Harry abraçou as duas mulheres de sua vida, na verdade quase as esmagando, gritando para quem quisesse ouvir: É Bruxa!
Depois disso foi uma zoeira só. Pois, logo em seguida, Fred e Jorge chegaram, sem as esposas que por algum motivo não vieram, e, percebendo a festa que nós estávamos fazendo diante da espantada Émilly, pois ninguém havia falado para a menina o porquê daquele vuco-vuco, e os gritos transloucados de Harry se juntaram a comemoração. Não havia passado nem um segundo quando Tonks saiu da lareira com o pequeno Ted, seu filho com Remo, seguro em seus braços e não demorou muito para começarem a entoar um grito de vitória: Lily é uma bruxinha! O único que parecia mais controlado era Remo que havia limpado o chão da cozinha e explicava, na medida em que as pessoas iam chegando, o porquê de toda aquela festa.

Por fim, depois que todos os ânimos foram se extinguindo e algumas garrafas de Hidromel também, o que para mim poderia ter demorado a noite toda e no mínimo poderia deixar todos um tanto tontos, dessa forma adiando minha entrega aos leões para... hum... a próxima vida. Mas não, como parecendo uma praga que jogaram para mim, nada anda acontecendo como quero, só foram às senhoras Potter e Lupim descerem do andar superior da casa, onde haviam deixado os filhos dormindo e agora, estão todos na sala atentos ao momento que Harry começasse a falar e, como se estivessem sido avisados por ele, anteriormente, de que tenho tudo haver com o teor daquela reunião, as suas atenções correm de Harry para e mim de virce-e-versa. Ou será mania de perseguição? “Tá ficando neurótica já, viu?!” Cala a boca!

- Bem... – ai começou! Adeus, oh mundo cruel! – Boa noite a todos! Desculpem a demora, mas espero que entendam o motivo. – começou Harry com um sorriso enorme no rosto.

- Claro Harry! Não é todo dia que descobrimos que a única filha dá sinal de bruxa. – disse Tonks sentando-se em uma das poltronas, balançando as mãos.

- Ok! – Harry respirou profundamente, acredito que tentando controlar a emoção e voltar à seriedade que aquele momento exigia. - É do conhecimento de todos que Draco Malfoy voltou para Londres... – Fred fez um barulho com a boca que lembrava um pum. – E que infelizmente ontem, em Hogsmead, ouve um ataque de possíveis Comensais da Morte resultando em uma morte.

Um minuto de silêncio, onde, alguns abaixaram as cabeças. Carlinhos foi uma delas. Nem Fred e Jorge, que ainda possuíam aquele humor exagerado, foram capazes de dizer alguma gracinha com relação a alguma coisa. Gui mexeu-se desconfortável no sofá recebendo logo em seguida um beijo e um sorriso de Fluer. E só pelo fato de Gina ter encostado a cabeça no ombro do marido e este passado um braço por cima de seu ombro, significava que a perda de Percy e o Sr. Weasley, mesmo estando acostumados e aceitados a perda dos entes queridos, ainda doía e muito, principalmente agora que a ameaça de uma nova tempestade negra pairava pelas nossas cabeças.

- Infelizmente, essa não foi a única morte. – Harry foi o primeiro a cortar aquele momento fúnebre.

- Como assim, Harry? Do que você esta falando? – perguntou Lupim olhando intrigado para Harry do braço da poltrona que Tonks ocupava. Mas ele não foi o único, todos estavam olhando atentos para Harry.

- Mas, o Porrfeta Diárrio anunciou apernas uma morrte. – Disse Fleur do menor sofá que dividia com seu marido Gui que haviam chegado minutos antes. Quanto tempo faz que ela mora na Inglaterra? Oito? Nove anos? E ainda não perdeu esse sotaque francês? Ou ela só faz isso por costume? Por que sinceramente, está ficando enjoativo isso.

- Desde quando o Profeta diário conta toda a verdade? – lembrou Jorge sendo que todos concordaram, que estava sentado em uma cadeira tirada da sala de jantar e a apoiava nas pernas traseiras.

- Mas por que anunciar apenas uma morte em Hogsmead se foram mais de uma? – Perguntou Gui.

- O problema é que a outra morte não foi em Hogsmead. – olhei ao redor para saber se só eu que havia arregalado os olhos de espanto quando notei que todos estavam assim. – Foi na Travessa do tranco! – diante a surpresa, Jorge perdeu o equilíbrio e caiu de costas no chão. Ninguém pareceu notar.

- Você só pode estar brincando! – exclamou Tonks espantada, sendo apoiada pelos gêmeos, Gui e Fleur que balançavam a cabeça afirmativamente. Essa cena foi até engraçada, porque os quatro estavam sentados lado a lado e pareciam que havia ensaiado anteriormente aquele balançar de cabeças, porque elas se moviam iguaizinhas. Se não fosse pelo momento eu teria me dado o desfrute de rir.

- Não estou brincando não. – Harry negou levantando-se do braço do sofá que Gina ocupava com Fred e Carlinhos que estava como eu, apenas observando aquela conversa, mas, acredito que por motivos completamente diferentes. Pois eu, não havia dado sinal de vida apenas para não chamar atenção, apenas por isso. – E foi justamente por isso que passei o dia indo do Ministério ao Beco Diagonal e vice e versa. – continuou olhando para Remo que confirmou com a cabeça demonstrando que estava a par de alguma coisa.

- Mas o que Hosgmead tem haver com a Travessa do Tranco? – perguntou Gina olhando para o marido que andava de um lado para o outro.

- Não seria porque os dois lugares são bruxos. – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta dada por Jorge que sorriu de lado para a cara emburrada que Gina fez. Eu não disse que esses dois não haviam mudado nada?

- Eu entendi o que Gi quis dizer...

- Mas eu não!

Brincou Fred interrompendo Carlinhos que havia se pronunciado pela primeira vez. Sendo que o primeiro recebeu um olhar de Gui como alerta de que aquele momento não era propício para brincadeiras. Fred ficou fingidamente sério. Depois da morte do Sr. Weasley, Gui, pelo fato de ser o filho mais velho, havia incorporado o lugar do pai para dar uma ajudinha a Sra. Weasley na eterna criação dos filhos.

- O que os dois ataques tem haver, nós ainda não sabemos. Mas estamos investigando. E foi por isso, também, que acionei a Ordem. – começou Harry olhando nos olhos de cada um e voltando a sentar no braço do sofá, ao lado de Gina - Quando estava me preparando para ir até a casa de Hermione uma coruja invadiu minha sala e deixou uma carta. – Harry tirou um pedaço de pergaminho amassado de dentro do bolso da calça e passou a Gina que começou a lê-la. – Dizendo que houve um ataque na Travessa do Tranco.

- Quem a mandou? – perguntou Carlinhos a lendo por cima do ombro da irmã.

- Não sabemos.

- Mas quem iria querer ser relacionado com algum acontecimento envolvendo a Travessa? – dizia Lupim enquanto a carta passava de mão em mão. – Mesmo depois da morte de Voldemort o comércio de artigos relacionados às forças das trevas não se extinguiu, na verdade, ainda continua, como sempre, por baixo dos panos. Voldemort foi morto, mas a maldade que há no mundo não.

- Até mesmo porque, se tivesse Harry já estaria desempregado... – disse Jorge pegando a carta de Fred e, não lhe dando tanta atenção, passando-a a Gui.

- Na verdade, não tinha nem consigo virar auror... – continuou Fred.

- Na verdade, não tinha arranjado nenhum outro emprego... – foi à vez de Jorge continuar o joguinho. Joguinho esse que, para mim, já está se tornando chato. “Você que é uma chata!” Aff!

- Por que o cara não sabe fazer outra coisa na vida...

- Do que caçar bruxos das trevas.

- E vocês dois não sabem fazer outra coisa do que tirar brincadeirinhas em horas indevidas. - brigou Gina, fazendo os irmãos bateram as mãos sorrindo. – Vamos Harry, continue. – pediu Gina dando um aperto na coxa do marido.

- A carta, como viram, não foi assinada, justamente pela razão que Remo colocou. Mas nem por isso, pensei que fosse algum tipo de trote. Fui à casa de Hermione... – apontou para mim e ao ouvir meu nome um arrepio percorreu meu corpo, pois o momento havia chegado. Seria agora que falaria de tudo entre eu e Malfoy. – E logo em seguida voltei ao ministério e acionei alguns aurores e nos dirigimos para o local.

Ele não disse! Por que ele não disse? Ah não! Tem alguma coisa errada com ele. Olhei para Gina que retribui meu olhar e deu uma piscadela quase imperceptível. Essa ruiva tem alguma coisa haver com isso, ah se tem! Mas nem por isso, vou deixar de agradecê-la no final dessa reunião, isso, claro, se a omissão continuar.

- Diferente da vez que errei de lareira e fui parar na loja de Borgin & Burkes, a Travessa estava completamente vazia e pelo o que pude perceber ao olhar pelas janelas de algumas lojas alguns artefatos tinham sido retirados. Mas a loja Borgin & Burkes estava bem diferente das outras. Parecia que um furacão tinha passado por ali, pois muitos artefatos, as estantes e algumas coisas que antes eram penduradas no teto estavam jogadas no chão e atrás do balcão estava o corpo de Borgin.

- Como é que é? – se impressionou Carlinhos.
Fred, bocudo como sempre, soltou um palavrão, recebendo um olhar de censura de Fleur e meu é claro.

- Borgin? O próprio dono? – perguntou Jorge depois de se levantar da cadeira que havia caído de novo. Pelo amor de Deus!

- Se você conhece outro Borgin que tem uma loja na Travessa do tranco me avisa beleza. – disse Gui balançando a cabeça de um lado para o outro no fim e passando a carta para Remo que levantou e passou para mim. - Foi a Avada Kedavra, Harry? – perguntou Gui.

- Exatamente. – confirmou com pesar. – Mas isso não é tudo. Jefrey Archer notou que havia alguma coisa escrita no chão da loja e depois de remover todas as coisas que estavam atrapalhando vimos que a pessoa que provocou aquilo tinha escrito a fogo símbolos. Eram Runas para ser mais exato. – parou de falar olhando para mim. Sim? Que foi agora? Aproveitando aquele momento devolvi a carta para ele, que na verdade era mais um bilhete com os dizeres: “Houve um ataque na Travessa do Tranco, por volta do mesmo horário do ataque que aconteceu a Hogsmead. Vocês devem verificar.” Sem nenhuma assinatura como já foi dito.

-Conseguiram decifrar? – perguntou Tonks movendo-se na poltrona demonstrando grande excitação e interesse. Na verdade, todos nos estávamos assim e parecendo que Harry sentia aquilo demorou um pouco para voltar a falar, o que aconteceu só depois de ter colocado a carta em cima da mesa de centro. Maldita hora que fui devolvê-la.

- Sim! Graças a AnettheWilson...

- E posso saber quem é essa? - perguntou Gina rapidamente olhando para Harry com as sobrancelhas erguidas, visivelmente cheia de ciúmes.

- Gi, não é hora pra ataques de ciúmes! – repreendeu Jorge revirando os olhos.

- Sim! Será que não posso saber quem são as pessoas que trabalham com meu marido?

- Gi, dá um tempo? Pelo amor de Merlim! – continuou Jorge.

- Anetthe é a mãe de Cristian que fez aniversário mês passado que nos mandou convite para levarmos Émilly, lembra? – Harry, como ótimo marido que é, respondeu ao ataque de ciúmes que Gina deu. Na verdade, sempre que Harry se refere a uma mulher na presença dela, ela dá ataque. Eita ciúmes besta!

- Ah, sim! Agora lembro. – confirmou ficando vermelha e recebendo um beijo na cabeça de Harry. Oh senhor, daí-me um marido desses, se não for pedir muito.

- Será que dá pra continuar Harry? – pediu Carlinhos no que os outros, confirmaram e voltaram à atenção para ele. – O que os símbolos significavam?

Harry tornou a se aproximar da mesa de centro e pegando um envelope de lá, tirou de dentro uma outra folha de pergaminho que passou para mim, evidentemente exigindo meus conhecimentos de Runas antigas. Peguei a folha e passei a examiná-la com atenção. Percebi que mesmo não tendo praticado com afinco o estudo dos símbolos das Runas antigas, ainda consegui entender bastante bem.

- “Os desleais sucumbiram.” – falei pela primeira vez naquela sala com a voz um tanto embargada pela a falta de uso ao olhar os três únicos símbolos que se faziam naquela folha.

- Desleais a quem? – Tonks perguntou, olhando para mim, mas só pela sua expressão ela já parecia saber a resposta.

- Diante dos acontecimentos, só pode se referir a Voldemort. – disse Remo categoricamente.

- O que isso significa Harry? – Gina olhou para o marido, amedrontada. Mas não foi ele quem respondeu.

- Isso só pode significar que as pessoas que se voltaram contra Voldemort serão todas mortas. – disse Carlinhos olhando atento para Harry.

- Acredito que sim. – confirmou Harry balançando a cabeça afirmativamente.

- E por que só agora? – a voz de Jorge se fez presente.

- Essa talvez não seja a pergunta central. – disse Gui apoiando os braços nos joelhos. – Mas por que justamente quando o Draco Malfoy voltou?

- É claro que ele esta por trás disso! – afirmou Carlinhos batendo com uma mão fechada na outra aberta com tanta ênfase como se todos os problemas tivessem sido resolvidos.

- Ou não. – falei olhando para o pergaminho em minha mão tão baixo que torci para que ninguém tivesse ouvido, no entanto ao levantar os olhos percebi que todos me encaravam. – Se o que diz aqui for verdade, Malfoy era pra ser o primeiro da lista.

- Não acredito que você vai defender esse cara...

- Harry? – chamou Remo o interrompendo. – Talvez Hermione tenha razão. – Harry arregalou os olhos para Remo incrédulo, mas nem me importava com isso, não acreditava, mas será que tinha acabado de ganhar um aliado para defender o Malfoy? - Por que Draco estaria por trás de tudo isso se ele foi o primeiro a se debandar para o nosso lado?

- Por qualquer motivo!

- Pense Harry! – disse Remo levantando-se. – Malfoy foi muito importante para nós. Ele apareceu em um momento muito delicado e matou o próprio pai para vingar a morte da mãe. E todos nos sabemos a importância de Lucio Malfoy para os Comensais da Morte e para o próprio Voldemort. Não vamos colocar a culpa no primeiro que aparecer. – conclui Remo quase sendo ovacionado por mim, mas eu me controlei. Foi difícil!

- Querendo ou não, Harry, Remo tem razão...

- Está tudo muito estranho! – disse Gina interrompendo Gui. - Por que Burgin? Por que matá-lo? Para mim ele sempre foi um partidário das trevas.
Realmente. Gina tem razão. Por que motivo Burgin seria morto? Olhei para Harry que olhava para um ponto no chão e eu até posso jurar que ouvi seu cérebro pirando para encontrar uma resposta convincente. Na verdade ele não era o único, pois o silêncio que se apoderou da sala foi tão intenso que zumbia em nossos ouvidos. Parei um momento para pensar em alguma coisa que nos levasse a encontrar um motivo qualquer, mas imediatamente nada veio, até que...

- Por que foi ele que nos deu a chave daquela algema que Gina tinha quando você a encontrou Harry! – falei pondo-me de pé.

- Verdade. – Gina confirmou, mas não tão entusiasmada quanto, fitando seus punhos que ainda possuíam as marcas finas daquela algema. – Pensei que nunca fosse me livrar daquilo.

Harry notando o pesar na voz da esposa passou o braço por seus ombros a puxando para mais perto e depositando um beijo em sua cabeça. Carlinhos fez um afago nos cabelos ruivos de Gina. Imediatamente a emoção de ter lembrado de algo importante evaporou. Só de imaginar que Gina poderia ter perdido as mãos se alguém tentasse abrir aquela algema a força me dá um aperto no coração e se não fosse por...

- Malfoy...

- Quê? – perguntou Harry me olhando com aquela cara intrigada.

- Foi o Draco que descobriu que as chaves ainda existiam. – respondi da melhor maneira possível e empinando o nariz e, sabendo que Harry me conhece muito bem, vai entender a postura.

- Definitivamente, você está mesmo do lado desse cara. – ele cuspiu essas palavras quase me metralhando com seus olhos verdes.

- Não Harry, você sabe que estou do seu lado e que farei o possível e impossível para descobrir o que quer que seja que esteja acontecendo agora. – rebati erguendo o pergaminho com os símbolos em runa.

- Só não entendo por que você esta defendendo esse cara. – disse ele, mas já não tinha aquela raiva toda na voz, foi tiro e queda. Num instante ele murchou aquela crina de eu-sou-o-sabichão.

- Como já lhe disse mais cedo, não sei como o Malfoy pode ter feito essas coisas, principalmente depois disso aqui. – Ergui mais uma vez o pergaminho. – E sei que você também pensou a mesma coisa depois do que viu na loja do Burgin. Como Remo disse muito bem: não vamos colocar a culpa no primeiro que aparecer. – terminei de falar voltando a me sentar. Só aí percebi que todos estavam nos olhando e que eu tive o prazer de entregar algumas pistas do acontecimento que Harry omitiu. Valeu Hermione!

- Será que eu ouvi direito mesmo ou foi uma alucinação? – começou Fred olhando diretamente para mim.

- Acho que você não foi o único não maninho. – continuo Jorge também me fitando interessado e com os olhos estreitos. – Mas, acho melhor confirmar.

- Você disse que a nossa querida ex-cunhada aqui está ajudando o filhote de doninha, Harry? – perguntou Fred sem tirar os olhos de mim.

- Sim, Fred, eu estou tentando ajudar o Malfoy! – respondi no lugar de Harry, secamente sem mais me importar com nada. Uma hora eles teriam que saber mesmo.

- Céus!!! – exclamou Jorge pondo-se de pé e vindo em minha direção. – Vamos levar Hermione direto para o St. Mungus agora, ela enlouqueceu!

- Não precisa Jorge, eu estou muito bem da cabeça.

- Hermione, minha ex-cunhada favorita, eu entendo que o seu termino com Rony pode ter lhe prejudicado bastante, mas chegar a esse ponto. – continuou Fred, falando docemente, também se pondo de pé e pegando em minhas mãos.

- Não Fred, acho que não foi o término não. Acho que foram os anos de convivência mesmo...

- Agora chega! – exclamei me pondo de pé de um salto espantando a todos.

- Hermione as crianças! – Gina me olhava furiosa pelo meu rompante.

- Desculpe Gina. – confesso que fiquei meio sem graça, mas, gárgulas galopantes, esses gêmeos são irritantes! “Olha! Até rimou!” Aff! – E respondendo a pergunta de todos: eu estou tentando, sim, ajudar o Malfoy!

- E poderíamos saber o porquê Hermione? – Perguntou-me Tonks.

- Porque eu acredito que não foi ele. Como o Malfoy é meu mais novo assistente...

- No ia serr a Gina? – vou fingir que nem escutei essa francesinha aí!

- E vizinho também... – continuei. Fred e Jorge ficaram de boca aberta. – Estou podendo vigiar seus passos mais assiduamente. E hoje, pela manha, pude, mesmo que rapidamente, usar a legilimência contra ele.

- Você usou a legilimência? – espantou-se Tonks. – Mas você disse...

- Que nunca mais iria usar. – aff! Isso ta cansativo já! – Mas eu usei, porque foi necessário.

- Mas, Hermione, você sabe que Draco é um...

- Excelente oclumente. – interrompi Remo. Dar-lhe com assuntos previsíveis é assim mesmo. – Também sei disso. Mas, eu aproveitei a oportunidade. E como a Gina disse, depois que contei isso a ela e a Harry mais cedo, é melhor ter o inimigo perto...

- Tramando sob nossos olhos do que longe. – concluiu ela sorrindo e dando uma piscadela para mim.

- E se tudo indicar que ele, realmente, tem culpa? O que você vai fazer? – perguntou-me Gui aparentemente cético.

- Se preciso, vou ao inferno atrás dele só para vê-lo atrás das grades, ou melhor, morto! – respondi com a voz carregada só de pensar nessa possibilidade.

“E sumir do mundo só pela vergonha de admitir: eu errei!”

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Depois de ter saído com uma sacola cheia de todos os sabores da minha perdição que aquela conveniência possuía e aparatando, logo em seguida, diretamente em meu apartamento, me vi sozinho pela primeira vez desde que cheguei e a sensação não foi das melhores. Quase que instantaneamente os gritos de Maire e o semblante chocado da Granger sobreporam-se em meus pensamentos desencadeando raiva e tristeza.

Sem ter muito que fazer e definitivamente, me martirizar pelos acontecimentos o passado não iriam me levar a nada, além de não ser, nem de longe, o melhor a se fazer. Dirigir-me até meu quarto e, como se minhas roupas fossem responsáveis por tudo que tinha e que está acontecendo, elas praticamente foram arrancadas de meu corpo e jogadas de qualquer jeito em cima da cama. Peguei um short e uma blusa regata que vesti e voltei para a sala onde pequei e abrir mais um pacote de batatas colocando um pouco menos da metade na boca.

Olhei ao redor e a lembrança de um passado que atormenta veio em minha mente: uma Maire, bem mais nova, me contando, debaixo da árvore que nos conhecemos, que estava grávida de um filho meu. Definitivamente eu tenho que fazer alguma coisa ou então vou enlouquecer de vez com tudo isso.

Com um aceno de varinha fiz os móveis da sala se arredarem para perto das paredes, dessa forma deixando o meio livre. Logo depois com outro aceno de varinha ela foi ocupada por um pequeno colchão aberto no chão, e alguns aparelhos de academia, incluindo pesos de vários tamanhos. Com outro aceno, um saco de areia que flutuava sozinho apareceu no meio da sala e pra terminar uma barra de ferro surgiu no alto da entrada do pequeno corredor de quartos. Nada se compara a fazer exercícios quando se deseja esquecer de qualquer coisa. Não há droga nenhuma, no mundo mágico ou não, que possa deixar a mente mais livre do que se dedicar a prática da anti-ociosidade.

O tempo passava...

Musculação com os menores pesos passando aos maiores na medida em que o corpo se acostumava...

O suor escorria da testa ou da ponta do nariz para o chão enquanto fazia apoio... com os dois braços... com apenas um...

Uma... Duas... Três... Quatro... A imagem de uma mulher sentada de costas na frente de um balcão de bar, seus cabelos ondulados até o meio das costas e exalando um perfume cítrico, surgiu em minha mente... Ah, Granger! Por que você não poderia ter outro nome... outra casa... outros amigos... Droga! Quarenta e quatro... Quarenta e cinco... Quarenta e seis...

A hora do almoço chegou e se foi. Pelo menos eu acho. Na verdade não estava me importando muito com a hora. Isso é psicológico! Mas as batatas e a água, que bebia regulamente, foram suficientes para matar qualquer fome que eu tivesse sentido. Santas batatas!

A camisa que outrora vestia já estava embolada em um canto molhada de suor. Todos os aparelhos de musculação já tinham sido usados e agora só faltava o saco de areia que estava, por enquanto, imóvel. Com uma tolha que convoquei provisoriamente, enxuguei o rosto e parte do tórax e costas.

Olhando para o saco de areia enrolei algumas ataduras nas mãos deixando toda aquela frustração que havia contido, enquanto fazia os exercícios básicos, tomarem conta de mim. Respirei fundo quando uma onda de raiva começou a crescer em meu corpo e foi com fúria que partir para cima do saco de areia. Alguém tinha que levar a culpa e aquele saco de areia era o mais próximo que estava, então, a culpa é toda dele!

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A reunião, depois do meu estouro, tornou-se bem mais amena. Pelo menos para mim. Acredito que, depois da minha confissão, do que faria se o Malfoy fosse considerado condenado, Harry passou a me tratar melhor. Que débil! Até os gêmeos pararam de me atazanar e, depois de um puxão de orelha muito bem dado por Gina, pararam de mencionar o nome de Rony. Incrível como esses dois conseguem ser tão iguais em tudo que fazem. Desde a fisionomia até a personalidade. E o que mais me intriga neles é o poder que possuem de entender o que o outro que dizer antes mesmo de fazê-lo. Incrível!

A noite foi se alongando e o teor da conversa continuava na mesma. Várias suposições foram levantadas com relação a quem poderia ter provocado aquelas mortes. O porquê dos símbolos em Runas antigas. E qual seria a próxima vítima da lista dos desleais. Chegamos à conclusão de que a informação sobre o ataque a Travessa do Tranco chegou horas depois, apenas para que os transeuntes daquele lugar pudessem sumir antes que os aurores chegassem.

Apesar dos acontecimentos era possível notar a empolgação, de poder voltar a fazer algo útil pela comunidade bruxa, brilhar nos olhos de cada um. Não que no decorrer dos anos tenhamos ficado inertes com relação a qualquer faísca que surgisse relacionada a Artes das Trevas, mas poder sentir que algo de concreto e verdadeiro estava acontecendo era quase o mesmo que voltar para Hogwarts depois das férias de verão. No entanto, não imaginem que estávamos nos jubilando com a volta de uma possível ameaça, mas, quando você se acostuma a viver fazendo alguma coisa que se sente vivo, é complicado deixar de se sentir assim... mais vivo.

O sinal de que a reunião deveria ter sido encerrada há horas foi dada pela vozinha de uma Émilly toda descabelada, com uma camisola de dormir puxando um ursinho pelo braço chamando pela mãe. Gina, sem hesitar, foi até a filha a pegando no colo e caminhou a passos lentos para o andar de cima, cantando uma musiquinha de ninar. Não sei se foi impressão minha, mas aquela música que Gina cantava foi o suficiente para fazer todos mergulharem em um estupor de sono. Aquilo bastou para que todos, quase em uníssono dessem a reunião por encerrada, até Harry, que parecia o mais obcecado com relação aqueles acontecimentos, nada falou contra. E aos poucos todos foram se retirando. Remo subiu até o andar de cima para buscar o filho e segundos depois haviam sumido pela lareira junto com Tonks. Por fim, fui a última a sair.

- O que você achou? – perguntou Harry esticando-se no sofá.

- Sempre achei que várias cabeças funcionam melhor que uma. Mas, não devemos ser precipitados. A investigação sempre foi a melhor coisa que fizemos, não é? – Falei fazendo o mesmo que ele, mas na poltrona.

- Você está se referindo ao caso Malfoy não é? – Ah, pronto! Será que ele não sabe falar de outra coisa?

- Ai, Harry! Desculpa, mas, sinceramente, não estou a fim de discutir de novo sobre isso...

- Não pretendo discutir, Hermione... – como é? Essa eu não entendi. – Não depois do que vi na Burgin.

- Não sei por que, mas, estou sentindo que você não falou tudo que tinha para falar. O que aconteceu, Harry? O que você não contou a todos na reunião? – falei ajeitando-me na poltrona, pois quando Harry fala que pego as coisas no ar é porque ele está certo. Tinha alguma coisa errada ali.

- Contei a vocês tudo que vi na Burgin & Burkes. Não omiti nada, até mesmo por que não estaria sendo sincero com relação às pessoas que sempre me ajudaram. Mas... – ele sentou-se no sofá fitando um ponto no chão, como se estivesse indeciso em falar sobre alguma coisa. Ah! E esse ‘mas’ que me persegue! – Eu sei que você está sentindo o mesmo que eu. Essa vibração que só vem quando estamos fazendo o que realmente nascemos para fazer, mas agora é diferente. Tornamos-nos adultos, cheios de responsabilidades. Você tem sua carreira como curandeira e pelo o que percebo não demorará muito para quererem você como Ministra da Magia...

- Quê? Ah, Harry! Também não é para tanto. – não é para tanto mesmo. Porém, quem não se sente super feliz ao ouvir um elogio desses? Comigo não seria diferente!

- Estou falando sério, Hermione. Sempre soube, na verdade não só eu, mas todas as pessoas que lhe conheceram, sempre imaginaram que você chegaria o mais longe possível de nos três. E aí está você, diretora de um departamento com apenas 24 anos. – eu sorri com essa. Mas também com toda a preguiça que tinham para estudar só poderiam resultar nisso. – E olha só o Rony, chegou a onde sempre desejou: Titular de um time internacional de Quadribol. E está acumulando uma fortuna com o que mais gosta de fazer. – e por isso ele foi embora me deixando sozinha aqui. Grande consolo! – Não faça essa cara Hermione... – que cara estou fazendo? Ela continua a mesma de sempre, viu! – Sempre soubemos que o ponto fraco de Rony é o Quadribol, mas infelizmente ele não está aqui agora. E posso sentir a saudade que você está sentindo daquele ruivo cabeça-oca, porque sinto a mesma coisa. – eu apenas suspirei profundamente. Ah, Rony... como você faz falta! – E olhe só para mim! – disse abrangendo com os braços toda a sala. - Eu tenho uma família! Não sou mais apenas o Harry Potter... – disse apontando para a cicatriz. - Agora sou o Harry Potter esposo e pai. Pai! – ele deu sorriso tão grande que me contagiou na hora, com isso eu sorri também. – Pai de uma menina linda que é a minha lata mais a personalidade da mãe. Descobri que a Gina, quando criança, era igual ou senão pior que Émilly para aprontar.

- Engraçado que a Gina vive perguntando a quem a Émilly puxou. Que sacana! – falei tirando um sorriso mais largo ainda do rosto de meu amigo.

- E é em relação a isso toda a minha preocupação. Em relação à vida que construímos nesses seis anos ser ameaçada, assim, do nada. E eu que sempre sonhei com a minha tranqüilidade.

- Quem foi que disse que ia ser fácil? – perguntei, mas para mim do que para ele que apenas me fitou compadescente.

- Ninguém disse também que ia ser tão difícil.

- E agora vai se tornar pior papai! – falei sorrindo tentando deixar de lado o teor da reunião, na verdade, qualquer coisa que nos deixasse preocupados. Amanha é outro dia e por hoje já basto pra mim.

- Nem me fale! – Harry sorriu levantando-se do sofá. – Vou ter que redobrar os cuidados mágicos com crianças nessa casa. É bruxa! Minha filha uma bruxa legítima. – estendeu a mão para mim. - Venha Mione, durma aqui essa noite. Ajude-nos a contar histórias para a Lily. Posso apostar toda a minha coleção de quadribol de que ela ainda está acordada.

E não foi com pesar algum que me deixei levar pelo meu grande amigo.

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A exaustão se apoderou de meu corpo quando ainda tentava dar mais alguns socos no saco de areia, mas foi respirando pesadamente que me agarrei a ele para não cair no chão em decorrência da fraqueza nas pernas. Para mim, por hoje, já chega. Não tenho pique para mais nada. Esse é outro motivo para se matar de fazer exercícios quando não quer pensar nos problemas, quando parar não terá nem força para pensar. Olhei pela janela e percebi que as luzes do lado de fora estavam todas acessas, significando que a noite havia chegado sem eu ter percebido.

E foi quase me arrastando que cheguei ao banheiro e tomei um ótimo banho, daqueles de relaxar todo o corpo e praticamente ficar pronto para a próxima. Mas, na verdade, o que desencadeou mesmo foi uma fome enorme que se eu pudesse comia um hipogrifo inteirinho. E foi com esse apetite que sai do banho, pegando roupa de baixo e uma calça de moletom do guarda-roupa que prontamente vesti e me direcionei para a cozinha.
No entanto, antes de chegar a abrir a geladeira, a campainha toca fazendo-me adiar aquele momento sagrado e me dirigir até a porta para saber quem é o filho da mãe que não deixa os outros comerem em paz. Será que as pessoas não possuem senso de ridículo para não notarem que já está tarde para ficar apertando a campainha dos...

- Oi, Draco!

- outros...

- O quê?

Eu disse que estava cansado? Mas que mentira a minha! E quem foi que disse que era filho da mãe? Na verdade, era uma filha da mãe. E que filha!

- Na-nada! – respondi meio que atordoado por aquela aparição dos céus.

- Espero que você esteja com fome

Com fome? Na verdade eu estava faminto! E agora não é só de comida. Não depois do que via na minha frente. Aquilo era a perdição em forma de mulher. Na verdade era a visão do céu. Hilva, a secretária do Sr.Wancroft, estava parada na minha porta segurando uma forma que exalava um cheiro indiscutível de pizza. E minha imaginação foi a mil quando a visualizei com uma de suas roupas habituais de secretaria que escondiam as formas daquela mulher de parar o trânsito. Oh, Merlim, valeu pelo jantar!

- Estou com muita fome. – respondi lançando o meu melhor sorriso cínico.
Ela sorriu dando um mordidinha no lábio inferior. Oh, céus! Desse jeito ela me mata.

- Estou atrapalhando?

- Nem um pouco.

- Espero que minha companhia seja boa para essa noite.

- Espero que você fique a noite toda. – ela sorriu e entrou. Essa noite promete!

Valeu Merlim! Te devo essa!

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Depois de alguns dias tendo as piores noites mal dormidas da minha vida depois da grande guerra, acordei com uma disposição incrível. E uma preguiça também incrível que só senti estar ali quando lembrei que era o meu final de semana de folga. NO entanto, mesmo acordando um pouco mais cedo do que o normal, pelo fato de ainda ter que passar em casa antes de ir trabalhar, meu humor estava bem melhor do que dos outros dias.
Émilly ainda estava dormindo quando sai de seu quarto. Antes de pregar seus pequenos olhos de vez por aquela noite, havia exigido que eu dormisse junto dela, alegando que, pelo fato de ter desaparecido por alguns dias, teria que dormir grudadinha nela. E foi isso que aconteceu, pelo menos até a metade da noite, pois a menina demonstrou uma habilidade incrível para derrubar qualquer um da cama. Resolvi deixa-la sozinha e mais confortável quando um chute atingiu meu estomago deixando-me temporariamente com falta de ar.

Fui ao banheiro do corredor fazer minhas necessidades básicas e desci. Sabendo que pelo fato de ser cedo demais para Harry estar acordado e consequentemente Gina também, procurei um pedaço de papel que pudesse escrever lhes avisando que já tinha ido embora e não demorei a encontrá-lo. Com o ávido devidamente escrito além de um beijo enorme para minha afilhada linda, deixei a casa aparatando, logo em seguida em um beco perto do meu prédio.

- Bom dia, Bem! – saudei o porteiro que mais uma vez me lançou um de seus vários olhares de surpresa a me ver chegando sem ter me visto saindo. Já estava acostumada com aquilo.

- ‘Dia Srta. Granger! – respondeu ele voltando ao normal. – Fez serão a noite toda?

- Praticamente. – respondi já entrando no elevador.

Chequei ao meu andar e, inconscientemente, meus olhos grudaram na porta do apartamento do Malfoy. “Vai pensando que vou cair nessa!” É a mais pura verdade! Onde será que ele passou o dia todo? “Não faço a mínima idéia!” O que será que andou pensando depois que saiu daquele jeito do departamento? “Vai ver pensando em você fofa!” Poupe-me Consci! Ou vai ver procurando uma maneira de se matar. “Ou uma de se explicar!” A minha sugestão é bem mais cabível.

Dirigi-me para meu apartamento tentando desviar a atenção daquela porta que mais parecia ter um ímã que me atraia. No entanto, antes de enfiar a chave na porta, lembrei-me que dentro de minha bolsa havia uma carta destinada a ele, peguei e olhei o endereço do remetente. Era do Brasil!
Não foi lá que ele havia se refugiado, para não dizer se escondido, esses anos todos e ainda possuía um amigo e um boticário? Só podia ser! Será que vou da-la agora? Olhei o relógio de pulso que indicava 7:00 da manha em ponto. Não podia perturbar alguém, mesmo essa pessoa sendo o Malfoy, tão cedo. “Ora, por que não? Aproveita e leva a carta pra ele agora!” Está muito cedo para isso e da mesma forma não tenho cara de coruja pra servir de correio. “Oh, desculpa esfarrapada! Não adianta negar, porque sei que você está louquinha para dar essa carta agora!” Não estou ‘louquinha’! “Aff! Pense comigo: ele terá que se levantar de qualquer jeito para ir trabalhar e, além de entregar uma carta de um amigo você ainda estará fazendo um favor a ele.” Oh, que proposta tentadora! Desse jeito até parece fácil! “Não parece, querida, é mais fácil!” É melhor deixar para mais tarde.

E entrei no meu apartamento, mas como a curiosidade é bem maior do que qualquer coisa, nem bem havia entrado e já estava saindo de novo e antes que qualquer outro pensamento me fizesse voltar atrás apertei a campainha. “Isso aí garota! Essa é das minhas!” Ninguém respondeu. Apertei de novo, no entanto, demorei um pouquinho mais da conta com o dedo ali. Nenhum barulho ou sinal que indicasse que havia gente no apartamento. Será que ele não dormiu em casa? “Aperta de novo!” Melhor não! E já estava dando a volta quando ouvi passos do lado de dentro e segundos depois a porta se abriu revelando um Malfoy com cara de sono, um short e mais descabelado já tinha visto em toda minha vida.

- Granger?! – falou meio que bocejando e um tanto assustado olhando para os lados como se estivesse à procura de alguma coisa.

- É... – o que eu vim fazer aqui mesmo? – Ah, sim! Isso chegou para você. – falei estendendo a carta que ele pegou meio desorientado. – Você está bem?

Mas antes que ele pudesse responder, mãos surgiram, na verdade, mãos de mulher apareceram por trás dele que percorreu sua barriga e peito completamente acostumadas com aquele carinho. E instantes depois o rosto de uma mulher surgiu ao lado do dele sorrindo sapeca pra mim.

- Oi, doutora!

“Filha da p...!”














AÊ GALERA, AQUI, QUEM VOS FALA É A BETA DA DRIKA, A MARCELE, GENTE MIL DESCULPAS PELA DEMORA, EU TAMBÉM TIVE CULPA NO ATRASO, ENTÃO NÃO JOGUEM TODAS AS PEDRAS NA DRIKA, TÁ? MIREM EM MIM TAMBÉM ^^
EU ESTOU POSTANDO POR ELA PORQUE NO MOMENTO ELA ESTÁ IMPOSSIBILITADA PARA FAZER ISSO.
AGRADECEMOS A PACIÊNCIA DE TODOS.
CONTINUEM ACOMPANHANDO A FIC QUE VEM MUITAS SURPRESAS POR AÍ, OK?
UM BEIJO ENORME PARA TODOS!!!!
AH! EM NOME DA DRIKA AGRADEÇO POR TODOS OS COMENTÁRIOS, GENTE ISSO É REALMENTE IMPORTANTE, VALEU MESMO!!!!

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