Nível-S



Capítulo 41 – Nível-S

Harry continuou a observar o horizonte por muitas horas. Estava perdido em pensamentos quando ouviu uma sineta tocar no andar de baixo e concluiu que o café da manhã estava pronto. Achando que era melhor subir ao seu quarto para se trocar, Harry se levantou da poltrona de sopetão e gemeu, sentindo as pernas dormentes protestarem. Caminhou lentamente em direção à porta, sentido o sangue voltar a circular, queimando os músculos de suas pernas. Demorou quase dez minutos para chegar à porta de seu quarto. Quando a abriu, notou imediatamente que o quarto não estava vazio. Rony estava sentado na cama, parecendo ansioso. Quando Harry fechou a porta, o ruivo levantou a cabeça e quando viu que Harry acabara de entrar no quarto, se levantou de imediato:
-Onde é que você estava? Onde tinha se metido? Eu estava quase indo chamar a Hermione para que fossemos procurar você. – essas palavras saíram da boca de Rony numa torrente de palavras de alta velocidade. Harry, observando isso, ergueu uma sobrancelha e sorriu: Rony estava ansioso e nervoso com alguma coisa.
-Eu estava na biblioteca. E o que aconteceu com você? – encarou o rosto sardento do amigo à procura de alguma informação. – Porque está tão ansioso?
-Ansioso eu? Eu não estou ansioso. Só estava preocupado com você. Não sabia onde tinha se metido e estava... – Rony parou de falar em alta velocidade para respirar e encarou o rosto de Harry que demonstrava que o moreno não estava acreditando. – Ok, ok. – Suspirou e abriu um enorme sorriso, as orelhas corando absurdamente. – Eu estou namorando.
-Sério? Parabéns! – sorriu Harry, feliz pelo amigo. – Quem é a...?
-Eu queria te contar. Começamos a namorar nas férias e eu queria muito te contar, mas achei que não seria tão legal contar por carta porque eu não ia ver a sua cara e eu queria ver a sua cara, porque sabia que você ia gostar de saber e... – outra pausa para respirar, onde Harry apenas riu um pouco no que foi acompanhando logo pelo amigo. – Eu estava ansioso para te contar ontem à noite, mas quando chegamos você já estava dormindo.
-É uma ótima notícia, sem dúvidas, mas porque você estava tão ansioso para me contar?
Ambos se sentaram na cama e Rony abaixou a cabeça, meio sem jeito.
-Queria saber a sua reação, porque... bem... não sei bem se é uma boa idéia.
-O que quer dizer?
-Quando contei à Gina e Hermione, elas sorriram e pareceram felizes, mas eu tenho certeza que elas riram de mim depois que eu virei às costas.
-Por que diz isso?
-Porque... bem... eu gosto dela e tal, mas ela é um pouco estranha e...
-E o que isso tem a ver? – interrompeu Harry. – Você mesmo disse que gosta dela, então apenas fique feliz com ela e esqueça o que os outros pensam.
-Acha mesmo isso? – perguntou Rony parecendo mais animado.
-Claro que sim. E à propósito: quem é a garota de sorte?
-Luna Lovegood. – Rony sorriu abertamente. – Mandei uma carta para ela nas férias e nos encontramos no bosque perto de casa e quando começamos a conversar, descobri que ela é bem mais legal do que aparenta e... – Rony continuou narrando a história de como seu namoro começou, mas embora Harry quisesse prestar atenção, sua mente começou a divagar: Rony estava namorando; pelo que soubera, Gina estava se correspondendo com alguém num possível namoro à distância; Guilherme e Susan namoravam; porque tinha a impressão de que ele e Hermione estavam sobrando? Será que deveria fazer o que Guilherme lhe aconselhara? Harry sabia que gostava de Hermione, mas será que aquele sentimento era algo além de uma grande amizade? Será que aquilo era amor? Será que Hermione gostava dele da mesma forma? Se Guilherme estivesse certo, só havia uma forma de descobrir: um beijo. Mas talvez aquilo mudasse tudo. Se Hermione só gostasse dele como amigo, um beijo estragaria tudo para a amizade deles. O que devia fazer? O que fazer?
-Harry?! EI HARRY! – a voz de Rony o trouxe de volta à realidade.
-O que foi? – piscou Harry, como que acordando de um sonho acordado.
-Você está bem? Estou te chamando há uns cinco minutos. – Rony olhou para ele estranhamente. – Em que estava pensando?
-Nada. Nada mesmo. Você está pronto para descer? Me espere que eu fico pronto em cinco minutos.

***

Harry abriu seu armário e se deparou com uma grande variedade de roupas. Olhou em dúvida para as muitas opções que agora tinha à sua disposição. Sempre achara fácil se vestir, pois nunca tivera outra opção além das roupas velhas de Duda. Ouviu a voz impaciente de Rony, o apressando. Decidido a não se demorar na escolha, Harry pegou uma calça jeans e uma camiseta. Vestiu ambos o mais rápido que pôde e se olhou no espelho: estava bem casual. Colocou o novo par de tênis e vestiu uma camisa de mangas curtas aberta sobre a camiseta que já usava. Estava bom, pensou Harry. Em seguida se dirigiu para a porta do quarto, onde Rony o esperava.

***

Ao chegarem ao térreo, Harry se deparou com a entrada, do que achou ser a cozinha, aberta. As duas portas simples que fechavam o cômodo anteriormente, haviam sumido. Harry adentrou a sala, juntamente com Rony, que já parecia bem à vontade com tudo na casa. Adentraram o aposento e Harry se deparou com uma longa mesa, colocada para várias pessoas. Uma toalha impecável estava entendida sobre o mogno escuro, com talheres e porcelana de primeira, postos à frente de cada cadeira. Uma grande janela, que tinha vista para a frente da casa estava aberta, permitindo que a claridade e uma leve brisa adentrassem o aposento vazio, mas apesar disso, uma grande lustre repousava imóvel exatamente sobre o centro da mesa.
Harry olhou a sala, que tinha alguns poucos quadros simples, mas que ornavam perfeitamente com a decoração clássica e opulenta da casa e depois se voltou para Rony ao seu lado:
-Acho que chegamos cedo. – disse Harry, no entanto antes que o ruivo pudesse responder ao amigo, uma voz veio da sala que Harry acabara de observar:
-Nem tão cedo assim, se é que me permite dizer, Harry. – Harry olhou para a sala que um segundo antes estivera vazia e deu de cara com Killua sentado numa das cadeiras, pronto para o desjejum. – Bom dia, Harry, Rony.
-Como é que você...? – perguntou Harry meio abobado, já que estava parado com Rony junto da única entrada da sala.
-Maus hábitos são difíceis de se perder, sabiam? – Killua sorriu, fazendo um sinal para que se sentassem também. – Infelizmente ainda tenho os passos incrivelmente silenciosos.
-Pode-se dizer que é herança de família, hein?! – brincou Rony no que Killua riu e concordou.
No instante seguinte, três moças adentraram a sala, conversando animadamente. Harry que estava de frente para a porta de entrada, simplesmente ergueu os olhos e observou as moças, reconhecendo-as de imediato: a primeira delas era uma ruiva usando rabo-de-cavalo, usava uma saia jeans e uma blusinha branca fina e delicada, combinando com uma sandália baixa; a segunda delas usava uma única trança negra nas costas e usava uma camiseta d'As Esquisitonas com uma saia branca; a ultima das três usava o cabelo solto, ainda úmido do banho, com brincos prateados balançando alegremente de ambos os lados de seu rosto delicado, usava uma saia florida com cores básicas e uma camiseta com o brasão de Hogwarts. Eram Gina, Susan e Hermione, respectivamente.
-Bom dia. – disseram as três garotas em uníssono.
-Bom dia – responderam os rapazes, quando as viram entrar.
-Oi, Harry, como foi de férias? – perguntou Gina ao se sentar.
-Foi tudo bem. – disse Harry sem tirar os olhos de Hermione que o olhava, sorrindo. – A mesma chatice de sempre com os meus tios, você sabe. – Gina e Hermione riram quando ele completou a frase e depois Gina se virou para conversar e cumprimentar os outros garotos.
-Dormiu bem, Harry? – perguntou Hermione. – Guilherme nos disse que você estava cansado ontem, por isso não te acordamos quando chegamos.
-Sim, eu dormi bem sim. E você, Mione?
-Dormi como uma pedra. – depois sorriu.
Naquele momento, Guilherme adentrou a sala. Estava usando uma roupa bem casual também: calça jeans e uma camisa clara, com os botões próximos ao pescoço abertos, mostrando que usava algumas correntinhas e cordões no pescoço.
-Bom dia a todos.
-Bom dia. – responderam todos em uníssono.
Guilherme se sentou à cabeceira da mesa, exatamente entre Killua e Susan, que estavam de frente um para o outro, assim como Gina estava de frente para Rony e Harry de frente para Hermione, na mesa retangular.
-O meu tio pede desculpas, mas não poderá nos acompanhar no Café da Manhã, pois já saiu para o trabalho. – O olhar de Guilherme cruzou com o de Harry e o desenho de um sorriso surgiu no rosto do garoto, que sabia que Harry não gostava de seu tio. – Mas isso não importa. Vamos aproveitar esse ótimo dia. – E tocou um pequeno sino de cristal que estava à sua frente.
No mesmo instante, um quadro, que estava posicionado exatamente sobre a cabeça de Guilherme, se abriu como uma porta, e de dentro da passagem na parede vieram vários pratos voando. Os pratos flutuaram pela mesa, pousando silenciosamente no centro da toalha branca. Enquanto todos começavam a se servir, Guilherme se levantou e todos lhe dirigiram olhares. Harry se lembrou imediatamente dos discursos de Dumbledore no começo de todos os anos letivos em Hogwarts.
-Bem, desejo um bom dia a todos. Tenho ótimas notícias para todos... – fez uma pausa - ...ou melhor, quase todos. Reservei a piscina do clube por toda a manhã de hoje para que vocês possam nadar e aproveitar um pouco do sol tropical da região.
-“Vocês”? Você não vem conosco, B.K.? – perguntou Killua.
-Não posso. – disse B.K. se sentando – Tenho coisas a fazer hoje. Mas pensando bem... – se virou para Susan – porque você não chama seu irmão para ir com vocês até o clube? Faz tempo que não o vejo. Traga-o para almoçar aqui quando estiverem voltando.
-Hum... – ela pareceu analisar a questão por um tempo. – Parece uma boa idéia. Vou ver se ele quer. – A garota se levantou da mesa e se dirigiu para o escritório, levando uma torrada com geléia na mão, em busca de uma coruja.
-Ótimo. – disse Guilherme começando a comer. Havia algo em seu rosto que Harry não soube definir. Captou um ou outro olhar de esguelha que o amigo lhe lançava, acompanhado de um discreto sorriso. Harry estava imaginando o que o garoto estava pensando quando caiu a ficha: fazia muito tempo que Harry não passava um tempo fora de casa sem Guilherme em sua cola. Desde o começo do ano, Guilherme estava sempre o seguindo, protegendo-o é claro e Harry imaginou que se o colega não ia ao clube, então...
-Eu também não vou poder ir, certo? – perguntou Harry. Guilherme ergueu os olhos de sua omelete e sorriu para ele sem responder. Harry interpretou aquele sorriso como um “certo!”. Sacudiu a cabeça, desanimado, e baixou os olhos, suspirando resignado.
Depois disso, tudo que se ouviu na mesa foi o leve tilintar dos talheres contra os pratos. O silêncio opressor envolvia a todos. Harry teve a ligeira impressão de que Hermione o encarava e por isso não ergueu os olhos de sua torrada. Não queria conversar sobre aquilo.
Logo Susan voltou, quando todos já haviam acabado, dizendo que conseguira falar com seu irmão e que ele iria encontrá-los no clube e depois talvez fosse almoçar com eles.
Não demorou nada até que todos acabassem de comer. Logo em seguida, subiram aos seus quartos para pegar roupas de banho e toalhas e qualquer outra coisa que fossem utilizar na piscina. Assim que se levantaram da mesa, Harry pensou em acompanhar Rony ate seu quarto para poder ajudá-lo, mas mudou de idéia ao ver que Guilherme e Killua ficaram na mesa a sós, provavelmente para conversar sobre algo que os outros não poderiam ou deveriam ouvir. Parou na saída da sala de jantar, onde haviam tomado o Café da Manhã, e ficou ouvindo a conversa dos dois. À principio um estranho silêncio predominou entre os dois até que Killua o quebrou:
-Quanto tempo faz?
-Você não acha realmente que eu fico contando os dias, não é? – respondeu B.K. rispidamente.
-Você não conta os dias, mas eu tenho certeza absoluta que você sabe quanto tempo faz. – Um novo silêncio invadiu o aposento e Harry se perguntou do que eles estavam falando. – E então?
-Quatro anos, onze meses, três semanas, seis dias e dezoito horas. Quer saber os minutos também? É só você me dizer que horas são agora e...
-Quer parar com isso? Eu sei que isso te chateia, mas não precisa falar assim comigo, ok? – a voz de Killua não era zangada ou mesmo magoada, estava mais para a voz de alguém que quer apenas ajudar um amigo.
-Tem razão, tem razão. Me desculpe, Killua. – Harry não estava olhando para eles, apenas ouvindo suas vozes, mas podia sentir que Guilherme estava chateado. – Você sabe como isso me afeta, não é?
-Uhum. – concordou o amigo. Outro silêncio se fez presente e Harry temia que alguém chegasse ali, afinal estava ouvindo a conversa no meio do Hall de entrada, exatamente em frente à escada. – Você está pensando em levar o Harry até lá? Até o túmulo dela?
Túmulo? Túmulo de quem?, pensou Harry.
-Não! É claro que não. – B.K. pareceu surpreso com aquela pergunta.
-Então porque você não o deixa ir conosco até o clube? Mesmo se você não puder ir, Susan e eu estaremos lá, podemos protegê-lo.
-A questão não é essa...
-Você não acha que ele merece se divertir um pouco? Quero dizer, ele é Harry Potter, está destinado a salvar o mundo e tudo mais, mas mesmo assim ele ainda é um garoto da nossa idade e merece sair para se divertir e relaxar de vez em quando. – Harry se viu sorrindo com essas palavras, embora não acreditasse que Guilherme fosse deixar ele ir apenas por causa daquilo.
-A questão é exatamente essa: ele é Harry Potter. Ele poderá se divertir depois que sobreviver à sua luta mortal contra Você-Sabe-Quem. Mas, até que esse momento chegue é meu dever garantir que ele sobreviva, da mesma forma como é meu dever garantir que ele esteja preparado para sobreviver a uma luta contra Voldemort.
-O que quer dizer com isso? Pelo que eu pude ver, Harry é um bruxo excelente, um ótimo espadachim e um lutador excepcional...
-Sim, mas infelizmente ainda não é o suficiente para derrotar Ele.
-Pode até ser, mas você já ensinou a ele tudo o que você sabe, certo? O que mais você poderia ensin... você vai mostrar a ele como fazer aquilo? É isso, não é? É só o que falta, não é? É só o que separa Harry de ser você.
-O que está dizendo? Que eu não deveria ensinar isso a ele? Que eu deveria mandá-lo como ele está para enfrentar Voldemort? Ele seria massacrado em um instante. Se for para que Harry ao menos tenha uma chance, que seja, eu farei o que for necessário para que ele tenha essa chance, não importa o que seja.
-Você tem noção do que está me dizendo? Dumbledore sabe disso? Mestre Chang não deve saber, porque, do contrário, você já estaria morto agora. Isso, sem falar, é claro, que você mesmo levou mais de seis meses para dominar o básico. Nós não temos tanto tempo assim, você sabe.
-Harry dominará em menos tempo. – Guilherme disse categoricamente e Harry percebeu que ele já estava se irritando com aquela conversa.
-Você sabe que isso não é apenas improvável, como também impossível. Não dá para dominar aquela técnica, nem mesmo o básico dela, em menos de seis meses. Simplesmente não é humanamente possível.
-Harry conseguirá.
-E se ele não conseguir? – duvidou Killua.
-Ele conseguirá. – o tom de Guilherme encerrou o assunto. Outro silêncio se instaurou entre eles, até Guilherme dizer: - Eu tenho certeza de que ele dominará o básico mais rapidamente do que qualquer outro.
-E porque você acha isso?
-Por toda a história dele. Ele tem feito feitiços sem varinha desde que era criança, eu investiguei com o Departamento de Controle de Magia de Menores no Ministério Britânico. Tem feito mais magia do que qualquer outra criança bruxa fez nos últimos 50 anos. Vem fazendo coisas desaparecerem e depois reaparecerem, mudando a cor de objetos. Inclusive ele transformou a tia em um balão, pelo amor de Deus. É óbvio que ele tem um talento especial para isso. Ele vai conseguir.
-E se ele não conseguir? – perguntou Killua com voz de derrota e um suspiro.
-Então, nesse caso, ele morrerá. – Guilherme também suspirou e completou a sentença. - E então, perderemos a guerra. Voldemort vencerá. Simples assim. – Harry gelou ao ouvir essas palavras. Sentiu um arrepio percorrer a espinha e o sangue fugir de seu rosto. Teve até mesmo de se apoiar na parede para não cair no chão.
-Acha que isso pode acontecer? – perguntou Killua. – Harry Potter morrer?
-Espero que não. Farei tudo que estiver ao meu alcance para evitar que isso aconteça, mas tudo pode acontecer. Tudo. Todos nós podemos morrer lá fora. Mas... – Guilherme parou de falar e Harry sentiu que aquelas palavras iriam lhe causar mais mal-estar apenas por ouvi-las. A tensão no aposento era tão grande na expectativa pela conclusão daquela frase, que Harry pode sentir a energia dali do lugar onde estava escondido, do lado de fora da porta. - ...se Harry Potter morrer, que Deus nos ajude.

***

Harry passou os minutos seguintes olhando pela janela do corujal. Sua mão acariciava automaticamente Edwiges, que parecia contente pelo carinho. Mas Harry não estava pensando em Edwiges ou qualquer outra trivialidade. Estava pensando na conversa entre Guilherme e Killua. Nunca antes a possibilidade da morte lhe passara pela cabeça tão seriamente. Tinha a impressão de que algum tipo de milagre ia salvar a ele e a todos da morte certa, mas agora essa idéia parecia um sonho distante e improvável. Mais do que nunca, Harry se dera conta naquele momento de que tudo dependia dele. Ele é que deveria evitar a morte de seus amigos e a sua própria. Ele é que deveria lutar por todos e vencer. Ele é que deveria derrotar Voldemort.
Antes que Harry pudesse continuar sua corrente de pensamento, houve uma batida na porta do corujal e Harry se virou para ver quem era: um dos elfos domésticos da casa estava parado ali encarando-o. Assim que percebeu que recebia a atenção do moreno, o elfo fez uma reverencia e disse ainda de cabeça baixa:
-O Mestre McKinnon mandou avisar que o espera na Sala das Artes do segundo andar. – e dizendo isso, saiu sem dar as costas e nem mesmo levantar a cabeça.
Harry demorou a subir. Não estava motivado a aprender o que quer que Guilherme quisesse lhe ensinar. O peso que sempre repousara em suas costas parecia ter triplicado de tamanho. Saiu do corujal arrastando os pés, meio desanimado. Sentiu a porta se fechar às suas costas, mas não deu importância.
Ao chegar aos primeiros degraus da escada, objetivando subir o mais lentamente possível ao segundo andar, Harry começou a ouvir uma melodia estranhamente calmante. Parecia ser uma melodia pura, sendo tocada ao vivo em algum ponto dos andares superiores. Provavelmente havia uma ou mais portas fechadas entre o local de origem da musica e Harry, pois o som não se propagava bem, de forma que Harry não tinha certeza do instrumento, embora achasse que parecia ser piano. Começou a subir a escada sendo guiado pela melodia quase hipnótica que lhe soava estranhamente familiar. Passou pelo primeiro andar sem parar. A musica se tornava mais alta agora, ecoando pela casa vazia. Harry adentrou o patamar do segundo andar. A musica vinha dali. Estava alta e clara agora. Era um piano com certeza. Harry se aproximou da porta de onde vinha a musica: ficava exatamente em frente à porta da biblioteca. Harry colocou a mão sobre a maçaneta e entrou na sala, sem saber o que esperar.
Não se surpreendeu muito com a cena. Guilherme ao fundo tocando um piano preto e brilhantemente polido. Já esperava que fosse o colega aquele que estava tocando, no entanto, nunca adentrara aquela sala antes e isso sim o surpreendeu.
Na parede oposta à da entrada havia três grandes janelas, naquele momento abertas, decoradas com finas e translúcidas cortinas brancas; na mesma parede haviam vários quadros multicoloridos pendurados e belamente emoldurados; o restante da sala seguia o mesmo estilo: vários quadros coloridos pendurados por todas as paredes. Abaixo da altura onde os quadros estavam, haviam prateleiras e mesinhas baixas, onde estavam pousadas todo tipo de coisas: estatuetas metálicas ou de gesso ou de porcelana, vasos brilhantemente decorados, enfeites de cristal, medalhas de honra dentro de molduras e algo que pareceu a Harry ser um ovo feito de ouro com detalhes em cristal branco sobre a superfície lisa. Foi então que Harry se deu conta de que a música não parara desde que entrara. Se virou para Guilherme que estava concentrado em frente ao piano, tocando. Não tinha notado até aquele momento que havia um grande buquê de flores claras sobre o piano. A melodia variava de forma perfeita. Lenta, bem rápida e um fim brusco. Notas lentas, rápidas e fim. Harry se aproximou, mas não disse nada. Queria apenas ficar ali ouvindo a música que o amigo tocava. Observou que a cabeça do amigo balançava no ritmo da melodia e depois passou a olhar atentamente para os dedos de Guilherme. Este, concentrado, não se importou. Harry olhou admirado a velocidade com que os dedos do amigo saltavam pelo teclado branco-e-preto. Seus dedos se moviam com uma fluidez que Harry não imaginava existir. Parecia que cada dedo tinha controle sobre si mesmo, decidindo aonde ir por vontade própria, tamanha era a facilidade com que trabalhavam isoladamente, embora fizessem parte de um todo. Harry não conseguia explicar aquilo. Apenas quem já viu um pianista tocar sabe a forma como ele o faz. A desenvoltura e a graça são únicas e inimagináveis para aqueles que nunca puderam ver tal feito. Então Guilherme simplesmente finalizou. Ao erguer os olhos para Harry, perguntou:
-E então, o que achou?
-Incrível. – Harry estava realmente impressionado. – Que música era essa?
-Moonlight Sonata, 3 movimento, de Beethoven. Não ficou lá essas coisas. Estou meio enferrujado ao piano. – disse à guisa de desculpa.
-Pois eu achei ótimo. – disse Harry impressionado.
-Isso porque você não entende nada de música, Harry. – disse em tom de brincadeira, embora fosse verdade.
-Certo. – Harry não sabia o que dizer. – Você queria que eu subisse, certo?
-Uhum. – Guilherme pareceu notar que falara besteira ou que fora mal-interpretado, mas não comentou nada. – O pessoal queria se despedir de você, mas eles não te encontraram. Onde você estava?
-Corujal. – disse Harry simplesmente, dando as costas e olhando pela janela.
-Escute, Harry. Talvez não seja a melhor hora, mas...
-É uma excelente hora. – interrompeu Harry friamente. Aquela conversa não saía de sua cabeça e aquele peso imenso, de suas costas. Por fim se virou para encarar o amigo. – Na verdade, não poderia ser melhor.
Guilherme ergueu uma sobrancelha e o encarou. Parecia estar tentando analisar as palavras do amigo e retirar um sentido oculto através da expressão do rosto de Harry. O garoto dos olhos verdes apenas reforçou mentalmente a Oclumência que já estava usando. Guilherme pareceu contrariado e Harry sorriu internamente com isso.
-Escute, o que quero te ensinar hoje é uma das técnicas mais difíceis em magia. Pouquíssimas pessoas sabem utiliza-la. E aqueles que sabem, não a utilizam devido à sua grande dificuldade. Deixe-me perguntar uma coisa: quando você começou a aprender Legilimência, o que você achou? Achou difícil?
-Se eu achei difícil? – Harry tentou se lembrar. Quando Dumbledore começara a ensiná-lo, Harry não achou que fosse conseguir dominar aquilo. A concentração e o esforço mental eram tão grandes que qualquer distração apenas drenaria sua energia e nada mais aconteceria. – No começo achei impossível de aprender... e mesmo agora, é muito difícil de fazer.
-Entendo. Vou te explicar algo, por isso preste atenção: o aprendizado em magia tem vários níveis. Eles são, do menor e, portanto mais fácil, para o maior e, portanto mais difícil: Nível D, C, B e A. Tudo o que você aprende em Hogwarts se enquadra nessa classificação. Aprender um Feitiço de Levitação é nível D, por exemplo. Um Patrono é nível B. Oclumência é nível B. Legilimência é nível A. Mas existe um outro nível. Está em um patamar diferente. Nível S. O que eu quero te ensinar pertence a esse nível. Mais difícil do que qualquer outra coisa que você já tenha visto ou mesmo ouvido falar. – Guilherme falara tudo isso de costas para Harry, olhando a vista pela janela. Harry até mesmo se esquecera que estava zangado com o amigo. É claro que não havia motivo para estar zangado, mas estava, até aquele momento. Aquela conversa o distraíra.
-O que é? – perguntou Harry.
-Magia sem varinha. – disse Guilherme se virando para Harry.
-O quê? É isso? – Harry esperava algum tipo de técnica secreta que o ajudaria a vencer Voldemort.
-Você acha pouco? – perguntou Guilherme com uma sobrancelha erguida, meio rindo. – Quantas pessoas você conhece que fazem magias complexas e avançadas sem varinha?
-Dumbledore, Voldemort...
-Certo, e quem mais? – perguntou Guilherme se sentando no batente da janela e rindo.
Harry abriu a boca, mas nada saiu. Ninguém mais e mesmo os exemplos que Harry citou, não eram com certeza.
-Harry, você está cometendo um erro crítico. Está subestimando tanto Dumbledore quanto Você-Sabe-Quem. Nenhum deles é um bruxo comum, Harry. Entenda isso. Dumbledore é um gênio. Mundialmente famoso, extremamente poderoso. Ninguém pode negar que Dumbledore é o mago mais poderoso dessa época. Ele já derrotou um grande bruxo das trevas, fez descobertas importantíssimas para o mundo bruxo e é uma figura da mais alta importância na sociedade bruxa mundial. Não o rebaixe ao nível de um bruxo comum, chega a ser ofensivo. Agora, quanto a Voldemort... Tom Riddle foi mais longe do que nenhum outro na história em relação ao objetivo de se tornar imortal. Se meteu com a mais poderosa e perigosa Magia Negra, e se utilizou de todos os métodos possíveis para alcançar seu objetivo: imortalidade. Nenhum deles é um bruxo normal, Harry. Se você pensar assim, estará cometendo um erro que pode custar a sua vida. E mesmo assim, quando foi que você viu Dumbledore ou Voldemort fazendo magia sem varinha? – Harry parou para pensar. Não se lembrava de ter visto algo assim, apenas havia suposto que sendo poderosos como eram, talvez fossem capazes de tal feito, que Guilherme dizia ser quase impossível.
-Não me lembro de ter visto isso...
-Exato. Você supôs que ambos eram capazes de fazê-lo porque ambos são poderosos. A questão, Harry, é que essa técnica é extremamente útil, mas poucos sabem usa-la, e a maioria dessas pessoas é do Oriente. É muito improvável que você encontre alguém no Reino Unido que consiga fazer. Agora imagine a utilidade disso: em meio a uma batalha você perde sua varinha. Não sei, alguém a toma de você ou ela é quebrada por um inimigo. O que você faria em condições normais?
-Não sei... luta corpo-a-corpo? – arriscou Harry.
-Sim, acho que essa seria a estratégia mais inteligente. Se você domina técnicas de luta corporal, essa é a melhor estratégia. Além de poder pensar em um meio de escapar, você diminui a distância com o inimigo impossibilitando que ele possa usar a própria varinha. Agora, se você for capaz de fazer magia sem varinha, você pode entrar em um duelo de feitiços com ele, e pode vencê-lo se lutar corretamente. Vê como isso é importante? Vê como aprender isso pode salvar sua vida? Entende?
-Eu entendo.
-Ótimo. Agora, não se preocupe se não for bem no início. Eu mesmo demorei dois meses para aprender apenas o básico. – Harry sorriu por dentro. Sabia que ele estava mentindo. Ele demorara seis meses para aprender o básico. – Nós temos mais ou menos esse tempo também. – então era isso: Guilherme estava mentindo para não desmotivá-lo. – Vamos começar. Irei dando instruções à medida que você for tentando, ok??
-Certo. – Harry pegou a própria varinha e se preparou. Só não imaginava que estava diante do maior desafio que já enfrentara até aquele momento.

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N/A: Olá pessoas que têm computador. Desculpem a demora centenária (como sempre, aliás), mas... Não, dessa vez não vou sequer me explicar, pq senão ficaria repetitivo, basta dizer que os problemas nunca param... Desculpem a falta de acentuação em algumas palavras desse capítulo, mas é o que o teclado em que escrevi a maior parte não tinha mtos acentos (longa história)... Tentei corrigir, mas talvez tenha passado alguma palavra... Qnto ao cap., sinto mto pelo fim abrupto... Planejava colocar mais umas duas ou três cenas, mas ia ficar mto grande e ia demorar mais meio século, então resolvi parar por aqui enquanto vcs ainda têm paciência de ler (espero que ainda tenham paciência, né??)... Já aviso que o fim da fic se aproxima rapidamente...Talvez mais uns três ou quatro capítulos grandes e epílogo (que aliás, já está escrito!)... A boa notícia é que já tenho tudo planejado, de forma que só o que falta é tempo e disposição para pôr no papel (leiam documento no Word)... De qualquer forma, espero que apreciem o capítulo, comentem e se puderem, esperem pelo desfecho da fic... Acho que não vão se decepcionar... Grato a todos e até a próxima... Fui!

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