Sonolência



N/A: Olá pessoal (se é que alguém ainda acompanha isso aqui)... Desculpem a demora de quase seis meses para atualizar, mas eu vou explicar o motivo da demora: 1º) eu tive um bloqueio criativo nesse capítulo que demorou quase um mês para passar. Eu escrevia cerca de um ou dois parágrafos antes de empacar de novo; 2º) quando eu finalmente acabei o capítulo, meu PC começou a ter problemas e ele é a maior causa dessa demora. Eu não conseguia nem mesmo ligar ele e levei a um técnico amigo do meu pai e o cara disse que era um problema no HD e q ia perder tudo que havia. Sem brincadeira, eu quase morri ao ouvir isso, pois a fic inteirinha está nesse HD, inclusive idéias do final, o epílogo (já concluído) e outras fics não publicadas. Como o HD é do meu irmão, ele me aconselhou a levar em outro técnico e eu levei em um amigo do meu irmão que entende de computadores. Esse cara me disse que não havia problema no HD e sim alguns vírus que estava entrando em conflito com o Windows XP (que é o que eu uso aqui). Trouxe o PC pra casa e vi que já tinha acesso à fic e pude salvar o cap. novo em um pendrive; 3º) o modem que permite meu acesso à internet tinha pifado na semana anterior e demorou quase um mês e meio até o serviço técnico da NET vir até aqui trocar o modem e isso ocorreu umas tres semanas atras; 4º)depois disso eu nao conseguia mais acessar a Floreios; 5º) então eu finalizei e betei o capítulo esse final de semana e aqui está ele, prontíssimo para sua leitura; 6º) último recadinho: baixem a música I Will do Billy Gilman, pois há uma parte desse capítulo em que ela é tema e se vocês não ouvirem não irão acompanhar bem. Espero que aproveitem as 15 páginas de Word que esse capítulo possui e divirtam-se com a música que é uma das minhas favoritas. Boa leitura.


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Capítulo 40 – Sonolência

Harry e Killua permaneceram imóveis diante das varinhas que Guilherme apontava para eles. Killua tentou manter a voz firme e calma quando disse:

-O que houve exatamente? E qual o motivo para isso? – perguntou o garoto se referindo às varinhas que o outro mantinha apontadas para seus corações.

-Quem são vocês? – perguntou Guilherme, as varinhas tremendo ligeiramente nas mãos pouco firmes. – O que vocês querem? – seu rosto estava pálido e coberto por gotículas de suor frio. – O que fizeram com meus amigos?

-Guilherme, acalme-se, ok? Somos nós. Agora largue as varinhas e vamos conversar.

-Largar as varinhas? – riu Guilherme. – Mas se eu fizer isso, com o que eu irei matar vocês?

-Certo. Agora eu estou começando a ficar preocupado com você. – disse Killua colocando os dois pacotes que havia trazido ao lado da cama, num lugar protegido de qualquer feitiço que pudesse se desviar, caso começassem a lutar. O garoto de cabelos branco-prateados sorriu abertamente e continuou: - Porque o B.K. que eu conheço nunca precisou de varinhas para acabar com a vida de alguém. Ele dá conta muito de bem de fazer o trabalho com as mãos nuas.

-Quem precisa usar as mãos quando se tem duas varinhas? – perguntou Guilherme disparando um feitiço contra Killua e um contra Harry, ao mesmo tempo. Harry sequer pensou, se jogou para trás de uma cama, fazendo com que o feitiço passasse direto e acertasse uma janela, estilhaçando-a. Farpas de madeira e cacos de vidro choveram sobre Harry que estava jogado embaixo da janela, protegendo a cabeça com as mãos.

Quando Harry se deu conta do que acontecia, feitiços multicoloridos voavam pelo quarto, fazendo buracos em paredes e destruindo a maioria dos móveis. Guilherme se abrigava atrás de uma escrivaninha tombada, enquanto Harry e Killua faziam chover feitiços sobre o amigo. Luzes brancas pipocavam à frente dos olhos de Harry devido às variações bruscas de cores que surgiam no aposento apertado.

De repente um grande estrondo ensurdeceu Harry a ponto de seus olhos lacrimejarem pela dor nos tímpanos. Ao erguer os olhos para o quarto, viu que a escrivaninha que servira de proteção para Guilherme estava pegando fogo, enquanto o próprio garoto estava em pleno ar, a varinha apontada diretamente para Killua que olhava a cena perplexo. No instante seguinte, Killua foi lançado para trás por um potente feitiço azul-choque e se chocou contra estantes, derrubando prateleiras, livros e estilhaçando um vaso e a outra janela do aposento. Assim que Guilherme pousou no chão, apontou a varinha diretamente para o coração de Killua.

Harry gelou. Sentiu o coração parar de bater dentro do peito. O que quer que tivesse havido com o garoto, ia fazer com que matasse o melhor amigo e depois, possivelmente, o próprio Harry. Segurando a varinha com força, saiu de trás da cama, onde estivera se protegendo, e apontou a varinha para Guilherme, berrando "Expelliarmus!" com toda a força que possuía. Um raio vermelho-brilhante muito mais poderoso do que esperava saiu da ponta se sua varinha e atingiu Guilherme no peito, lançando-o na parede do quarto, girando e rodando no ar, tal a força do feitiço. Depois, com um floreio de varinha, Harry atraiu as duas varinhas que Guilherme estivera segurando e lançou-as no banheiro às suas costas. No instante seguinte, Guilherme se levantava com aparente esforço do lugar onde caíra. Na parede às suas costas, havia uma rachadura circular, no lugar onde o feitiço de Harry o jogara.

-Quase tinha me esquecido de você. – disse Guilherme, a voz arrastada e venenosa num tom que Harry nunca ouvira. – Não precisava se apressar. Eu ia te matar quando acabasse com o outro, mas já que você me interrompeu, eu te mato agora e acabo com ele depois. – Guilherme sorriu e limpou com as costas da mão o filete de sangue que escorria do canto de sua boca.

Harry flexionou ligeiramente as pernas, entrando em posição de batalha. Colocou uma mão perto do rosto e a outra à frente do corpo, na horizontal, e o chamou com os dedos da mão, num gesto de provocação.

Guilherme riu e avançou. Saltou, bateu um pé na parede e deu um mortal no ar, saindo da cambalhota com um pé na frente. Harry saltou para trás e viu a cama onde estivera ser rachada pelo chute do amigo. A cama se partiu no exato ponto onde o chute do amigo atingiu-a. Harry girou a varinha entre os dedos e começou a lançar feitiços que imobilizassem o amigo, enquanto corria pelo quarto. Guilherme se desviava incrivelmente dos feitiços lançados, saltando, girando sobre a mão, dando cambalhotas e etc. Harry notou imediatamente que o amigo esperava uma oportunidade para se aproximar e iniciar uma luta de contato. Com esse pensamento, parou de correr e guardou a varinha. Se Guilherme queria uma luta corpo-a-corpo, seria o que teria.

O moreno de olhos cor de mel se aproximou de Harry velozmente, mirando e errando o primeiro soco. Este foi seguido por um segundo, terceiro e quarto, todos desviados por Harry. Harry notava que Guilherme não estava concentrado. O que quer que houvesse acontecido havia tirado toda a sua concentração, por isso estava lutando tão mal. Em outras épocas, quando treinavam, por exemplo, Guilherme errava pouquíssimos golpes, menos ainda numa luta de média e curta distância, que era o forte do garoto.

Mas, observando Guilherme, Harry viu que algo havia mudado nele. Seus ataques eram desviados por Harry com uma facilidade absurda. Exatamente quando esse pensamento ocorreu a Harry, Guilherme mirou um soco no rosto de Harry. Centímetros antes da mão de Guilherme acertar Harry em cheio, seu punho brilhou com uma luz alaranjada e foi essa luz que alertou Harry do golpe a tempo dele se desviar.

Harry se jogou para o lado e enquanto caía, viu o soco de Guilherme acertar na porta do armário que estivera atrás de Harry. A porta de madeira velha rachou com o soco e a um buraco se abriu na porta, exatamente onde a mão de Guilherme encostou.

Harry, do chão, achou que aquilo já fora longe demais. Puxou a varinha e sem titubear, apontou para Guilherme, berrando:

-Imobilus.

O feitiço atingiu o garoto em cheio, imobilizando todos os seus movimentos. Harry se sentou no chão, e olhou para o próprio corpo, coberto de lascas de madeira, poeira e até mesmo pequenos estilhaços de vidro. Harry se levantou, sem pressa, e começou a bater nas vestes para tirar os resquícios da luta no pequeno aposento. Entretanto, quando se levantou, sua varinha rolou para baixo do que um dia foi uma cama e no momento era só um amontoado de madeira rachada e quebrada. Dando as costas ao quarto, Harry se abaixou e enfiou a mão sob as tábuas, tateando em busca da varinha. Quando sentiu seus dedos envolverem-na, sentiu um movimento às suas costas. Se virou rapidamente, apontando a varinha ao mesmo tempo.

Lá, de pé, estava Guilherme. Segurava um pontudo caco de vidro e parecia pronto a matar Harry com ele. Antes que Harry pudesse atacá-lo, entretanto, Killua apareceu atrás de Guilherme e com uma pancada na nuca do garoto, Guilherme caiu de joelhos, para em seguida tombar inconsciente no chão.

-Obrigado – disse Harry se levantando.

-Eu é que agradeço, Harry. – emendou Killua.

-Pelo que?

-Por ter me arranjado uma brecha para derrubá-lo. Mesmo enquanto lutava com você, ele me vigiava. – Killua se abaixou e levantou o corpo inerte de Guilherme, arrastando-o para a cama que continuava intacta no canto do quarto.

Assim que o corpo de Guilherme foi pousado sobre a cama, Harry perguntou:

-Você sabe o que ele tem? O motivo de estar agindo assim?

-Faço uma idéia. – disse Killua vagamente. Revistou os próprios bolsos à procura de algo até que finalmente achou um pequeno estojo de madeira, que abriu com um toque de varinha. Assim que a tampa foi aberta, uma pequena prateleira subiu, saindo de dentro da caixa. Harry viu que era um estojo de poções de emergência idêntico ao que Guilherme tinha.

-E o que você acha que é? – perguntou Harry observando Killua que passava os dedos de leve sobre os frascos com poções multicoloridas, como se procurasse um especificamente.

-Abstinência. – disse Killua vagamente, retirando um vidrinho e olhando contra a luz para depois coloca-lo de volta ao seu lugar e voltar a procurar.

-Abstinência? Como assim?

-Abstinência é quando o corpo exige alguma substância em que está viciado, mas não consegue obter. Isso, é claro, tem efeitos colaterais.

-Está me dizendo que o Guilherme é... um viciado? – Harry estava chocado.

-Devo presumir que você não sabia? – perguntou Killua, nada surpreso. – Era de se esperar. Não é algo que o B.K. saia alardeando por aí. E ele gosta de manter essa pose de garoto-perfeito, mas ele está longe de ser. Tem muitos defeitos, como qualquer pessoa, esse vício entre eles.

-No que exatamente ele é viciado?

-Poção Anti-Veritaserum. É extremamente útil, pois seu efeito dura quase 72 horas após ingeri-la e durante esse período, o efeito do Veritaserum é anulado ao entrar no organismo da pessoa que a beber. O único ponto negativo é que a Poção Anti-Veritaserum é extremamente viciante e em caso de abstinência, o usuário pode sentir tonturas, enjôos, paranóia e pode haver desmaios também. A questão é que o B.K. saiu em várias missões e em várias delas ele teve que tomar a poção. Depois da quarta ou quinta dose ele já estava viciado. Ele tem diminuído as doses aos poucos, mas parece que ele não tomou nada hoje, por isso essa reação tão estranha. – Killua parou de falar e puxou outro frasquinho do estojo que segurava. O colocou contra a luz e o analisou momentaneamente para depois soltar um suspiro aliviado. – Achei. – abriu o frasco e pingou cinco gotas da poção na boca do amigo inconsciente. – Agora só temos que esperar. Vai fazer efeito logo e quando fizer ele provavelmente voltará a si.

-Certo. – concordou Harry.

Ambos se sentaram próximos à cama e ficaram em silêncio, esperando o amigo acordar.

-Tivemos sorte de ele não estar com Elizabeth. – comentou Killua. – Estaríamos muito ferrados se ele estivesse, não acha?

-Com certeza. – riu Harry, que já vira a capacidade do amigo com a espada nas mãos.

Mais algum tempo em silêncio até Harry se lembrar dos pacotes que havia trazido da loja da velha alemã.

-O que você acha que são aqueles pacotes? – perguntou apontando para as duas caixas que haviam sido guardadas perto da cama por Killua. As caixas de papelão eram grandes suficientes para caber uma Goles dentro de cada uma.

-São ovos de Occami. – disse Guilherme, se sentando na cama e passando a mão na testa, com voz rouca.

-Você está bem, B.K.? – perguntou Killua, sem se surpreender pela rápida recuperação do amigo.

-Estou ótimo. E desculpem por antes, não estava em meu juízo perfeito, mas continuando... – fez uma pausa para pigarrear e sua voz voltou mais forte e firme. – São ovos de Occami.

-Occami? – perguntou Harry que nunca ouvira falar de tal criatura.

-É. – concordou Guilherme, pousando os dois pés no chão, mas ainda permanecendo sentado. – É uma criatura estranha, na verdade. Imagine você, Harry, um bípede emplumado, com asas e corpo de serpente, com o comprimento de quatro metros e meio.

-Uau... – disse Harry tentando imaginar a criatura. – Difícil imaginar, mas para que você quer os ovos?

-Hagrid me pediu, na verdade. – e vendo que Harry ia perguntar, emendou: - Por causa das cascas dos ovos. Abra uma caixa. – Harry pegou uma caixa e puxou a tampa de papelão. Vários flocos de isopor e uma leve poeira azul brilhante saíram da caixa e Harry viu a superfície lisa e prateada da casca. – As cascas de ovos de Occami são feitas da mais pura e maleável prata. Esse é um dos motivos para os Occami serem tão violentos com relação a proteger seus ovos, o que torna muito mais difícil de consegui-los.

-E pra que Hagrid precisa de prata?

-Lobisomens. – respondeu Killua de imediato, que apenas estivera ouvindo a conversa. – Não é?

-Isso mesmo. – concordou B.K. – Prata é a única coisa que mata Lobisomens.

-E como Vocês-Sabem-Quem recrutou um certo número de Lobisomens, precisamos estar preparados. – disse Killua.

Guilherme se levantou, estralou os dedos, alongou os braços e girou o pescoço, fazendo-o estalar altamente. Nem parecia a mesma pessoa de minutos atrás quando sustentava um olhar maníaco e paranóico.

-Eu nasci preparado.

***

Haviam se despedido de Killua à entrada da mansão, quando Guilherme o convidara para passar o restante das férias junto deles. O garoto de cabelos brancos apoiara a idéia e disse que voltaria para o jantar, trazendo uma muda de roupas.

Harry checou o enorme, e aparentemente caríssimo, relógio que ficava no hall de entrada da casa dos McKinnons. Devia ser inestimável. Feito em mogno escuro e lustroso, uma cavidade no centro, protegida por uma fina placa de cristal, trabalhada à mão, protegia um pêndulo de ouro que terminava em um círculo adornado por formas em baixo relevo. No topo do relógio, na parte onde se viam as horas: um círculo feito em mármore negro com números romanos feitos em ouro; os ponteiros eram de vidro torcido e transparente, que distorciam a imagem do mármore do fundo quando se moviam, apontando para os números dourados, dando um belo efeito sob outra fina e trabalhada placa de cristal transparente. Eram quase sete da noite.

-Você provavelmente está cansado, certo Harry? – disse Guilherme, quando entravam na mansão, se dirigindo às escadas. - Vou te mostrar o seu quarto, assim você pode tomar um banho e descansar um pouco antes do jantar.

-Certo. – concordou Harry, que já começava a piscar de cansaço, provavelmente pelo fato de não ter dormido bem na noite anterior e devido ao fuso horário.

Guilherme subiu as escadas, de mármore branco com carpete vermelho, de três em três degraus, passando a mão de leve pelo corrimão metálico. Passaram pelo primeiro patamar sem parar, subindo outro lance de escadas em seguida. Assim que chegaram ao patamar seguinte, Guilherme entrou no corredor, guiando Harry. O corredor bem decorado e bem iluminado tinha várias portas de madeira de lei, com maçanetas redondas e douradas. Guilherme parou quase no fim do corredor e abriu uma porta, entrando em seguida. Quando Harry entrou no aposento, não se surpreendeu muito. Em parte por que o cômodo era bem simples e impessoal e em parte por ter se preparado anteriormente para um cômodo numa mansão daquelas, com base no restante da casa que já vira. Era um cômodo quadrado, com dois grandes lustres de cristal no teto, iluminando bem o aposento. Uma luz alaranjada entrava pelas janelas abertas que davam vista para a vila e o pôr do sol atrás dela. Uma grande mesa de trabalho, feita em madeira clara, estava exatamente abaixo de uma dessas janelas, com canetas, abajur e todo material necessário para trabalhos de rotina. Havia também uma lareira quadrada de pedra cinzenta, neste momento apagada, com um tapete e sofás de couro negro à frente. A cama de dossel era maior que as camas de Hogwarts e o dossel cor de vinho. Os lençóis e a colcha eram negros, aparentemente de cetim ou seda. E por fim, um grande armário embutido a uma parede inteira.

-E então, o que acha? – perguntou Guilherme ao lado da porta. – Não é grande coisa, mas é razoável para um quarto de visitas. O meu quarto é o próximo seguindo pelo corredor. – disse apontando uma direção. – Ah, é. Antes que eu me esqueça, o seu banheiro é aqui. – Guilherme caminhou até o armário embutido na parede e abriu uma das portas. Harry o seguiu e viu que havia um curto corredor, iluminado por uma lâmpada, que dava em um banheiro. Os azulejos eram bem brancos e limpos, assim com a cerâmica do sanitário e da pia. Um boxe circular num canto mostrava onde ficava o chuveiro. Havia também um pequeno armário, onde Harry supôs que houvesse toalhas e roupões. – É isso. – disse caminhando para fora. – Suas roupas novas já foram arrumadas no armário, ok? Tome um banho e descanse um pouco, Harry, você parece cansado. Venho te chamar em uma hora.

-Certo. Obrigado. – agradeceu Harry, fechando a porta quando o colega saiu.

Não demorou muito e Harry já estava embaixo da relaxante água quente do chuveiro. A pressão com que a água batia em seus ombros relaxava cada um dos nós de tensão que haviam se formado nas últimas horas. A sensação era de que mãos feitas de água estavam massageando suas costas e pensando que aquela era uma casa bruxa, não era uma idéia tão tola.

***

Harry fechou mais uma gaveta e bufou. Saíra do chuveiro há pouco e já vestira uma calça preta de um pijama que comprara, mas não estava encontrando a camiseta do mesmo. Pretendia dormir uma meia hora antes do jantar e não queria amassar uma roupa nova apenas por um cochilo, pra isso o pijama, entretanto, ficar vasculhando as gavetas já estava lhe dando nos nervos e estava ficando com calor, apesar de as janelas estarem abertas e uma brisa fresca entrar anunciando a chegada da noite.

Se jogou na cama, a toalha molhada nos ombros, com o tórax e o cabelo ainda úmidos, apenas aproveitando a sensação de frescor do quarto. Que importava que não achara a camisa do pijama? Só queria dormir mesmo. Estava se irritando à toa. Ali, deitado na imensa cama de casal, num país desconhecido, na casa de um colega, estava Harry Potter. O Eleito. O Escolhido. O Menino-Que-Sobreviveu. Queria pensar no futuro naquele instante. Parecia que o famoso Harry Potter não era ele. Ali, deitado, ele era apenas Harry. Nada de Voldemort, profecias, véus da morte, guerras, mortes. Por um instante, enquanto admirava o dossel da cama, imaginou-se um adolescente comum, pelo menos para os padrões bruxos: um adolescente com pais bruxos, que jogava Quadribol com os vizinhos do vilarejo bruxo, que estudava poções com a ajuda da mãe ou do pai durante as férias, que recebia visitas regulares de seu padrinho trintão com jeito de moleque e que gostava de aprontar junto dele. Mas a fantasia não durou muito. Antes que se desse conta, suas pálpebras pesavam. As divagações se transformaram em sonhos e Harry Potter voltou a ser O Escolhido quando se esqueceu de praticar Oclumência antes de adormecer.

***

Harry estava voando em uma vassoura de brinquedo aos onze meses de idade. Presente de Sirius. Tiago o olhava admirado, os olhos brilhando de emoção. Lílian olhava para o garoto, preocupada. Sirius olhava do garotinho risonho que flutuava a alguns centímetros do chão para os pais que expressavam tão opostas expressões. Por um momento, Harry deu a impressão de que ia se desequilibrar, mas a imagem mudou.

Um homem caminhava por um corredor de pedras, seu sapato fazia um barulho seco no chão. Bateu em uma porta e entrou. Assim que passou pelo batente, se curvou em respeitosa reverência e anunciou:

-Eles estão aqui, milorde.

-Todos eles? – perguntou um homem, que não se parecia com um homem, sentado numa confortável poltrona atrás de uma grande mesa.

-Sim, milorde. Dumbledore, Potter e toda a Ordem. Estão lá fora, no pátio.

Voldemort se levantou de sua poltrona e abriu a janela atrás de sua mesa, olhando para fora. De lá, do seu escritório no Ministério, pôde ver Dumbledore, Potter e mais uma dúzia de outros bruxos, todos acorrentados e bem escoltados. Não resistindo ao impulso, gargalhou.

-Eu lhe prometi Dumbledore. Há anos, quando eu deixei o seu lado. Prometi que seria o maior bruxo que já existiu. Prometi que todos teriam medo de pronunciar meu nome. E eu cumpri minha promessa. Aqui estou eu Dumbledore. No topo do seu medíocre mundo. E eu irei destruí-lo. E você irá junto Dumbledore, você, Harry Potter e toda essa ralé que você acha que poderá me deter. – Parou e encarou a todos os prisioneiros. Dumbledore ergueu os olhos muito azuis e encarou Tom, que lhe sorriu maldosamente. - Todos irão sucumbir perante o poder de Lord Voldemort.

***

Harry se sentou assim que despertou. Aquilo fora um sonho. Não um sonho dele, um sonho de Voldemort. Tinha certeza. Se esquecera da Oclumência e provavelmente Voldemort também. Harry estava usando-a constantemente desde que a dominara e talvez Tom não achasse que Harry voltaria a penetrar em sua mente. O pegara em um momento frágil. Voldemort estava dormindo e sonhando. Restava algo de humano nele, afinal de contas.

Harry passou a mão na testa com força. Estava ligeiramente úmida pelo suor. Olhou em volta e viu que ainda estava no quarto, mas a luz da lua que entrava pela janela denunciava uma hora bem avançada na madrugada. Checou o despertador no criado-mudo e descobriu que já passava das quatro e meia da madrugada. Será que estava certo? Chegara pouco antes das sete da noite. Não poderia estar dormindo há nove horas, poderia?

Uma brisa fresca penetrava pela janela, esfriando seu corpo quente e ligeiramente molhado de suor. Deveria tomar outro banho e tentar dormir até o dia nascer. E foi o que fez, ou quase. Assim que saiu do banho novamente, vestiu um roupão e se jogou na cama. Não conseguiu mais pegar no sono. Rolou na cama por aproximadamente vinte minutos antes de desistir. Bufando se levantou da enorme cama e começou a andar pelo quarto. Era visivelmente um quarto de hóspedes, bastante impessoal, mas bem decorado. Viu sobre a mesa, embaixo da janela, uma jarra prateada, uma taça de prata com o brasão dos McKinnons, um prato coberto e um bilhete escrito às pressas. Se aproximando, pegou o bilhete e reconheceu imediatamente a letra de Hermione. O bilhete dizia:

Olá Harry, desculpe não termos te acordado, mas você dormia bem e parecia cansado. Achamos melhor deixa-lo dormir. Sim, eu também estou hospedada aqui, assim como Rony, Gina e Susan. Há também um amigo de Guilherme chamado Killua, mas me disseram que vocês já se conheceram. De qualquer forma, aqui há suco e alguns sanduíches para quando acordar, caso tenha fome e ainda não tenha nascido o sol ou algo parecido. Nos vemos no café da manhã, às sete.

Harry olhou o pedaço de pergaminho e pensou na forma como a garota o entendia. Depois notou uma única frase rabiscada no fim do papel, na garranchosa letra de Rony:

Tenho boas notícias, me aguarde!

O que será que ele queria dizer? Isso não importava muito a Harry no momento, pois ele realmente estava morrendo de fome. Devorou vários sanduíches até o prato se esvaziar e tornar a se encher novamente. O suco de laranja estava gelado e caiu como uma benção no quarto ligeiramente abafado, apesar da leve brisa que entrava pelas janelas abertas.

Quando estava satisfeito, e vendo que não conseguiria pegar no sono novamente, Harry achou que talvez pudesse andar um pouco pela casa. Na pior das hipóteses, encontraria com alguém e poderia dizer que estava procurando a cozinha ou algo do tipo. Enfiou a varinha no bolso do roupão antes de sair. Já aprendera a não ir nem mesmo ao banheiro sem ela.

Saiu para o corredor silenciosamente, fechando a porta às suas costas. Segundo Guilherme dissera, aquele andar era só composto pelos quartos, então Harry caminhou pelo corredor em direção às escadas. Harry achou melhor caminhar exatamente no centro do corredor para não esbarrar em mesinhas e outras coisas postas junto às paredes, pois o corredor estava escuro e tudo que Harry podia ver eram sombras disformes na escuridão.

Chegou ao patamar e contemplou a escuridão da casa. Teve um arrepio de medo na espinha ao olhar aquilo: parecia uma igreja ou sepulcro. Se apoiou no corrimão do patamar e olhou para cima e para baixo. Na escassa iluminação que entrava por algumas janelas, Harry pôde ver um gigantesco lustre de cristal flutuando na escuridão metros acima de sua cabeça. Na verdade só podia ver o seu vulto e ocasionais brilhos quando alguma luz tocava um dos pequenos cristais. Como estava no patamar do segundo andar, tudo o que Harry via abaixo era um mar negro de infinito silêncio. Se sentia tentado a explorar a casa, mas não teve coragem de subir outro lance de escadas. Tinha a impressão de que pelo fato de Guilherme ter o levado até o segundo andar, tinha liberdade para explorar tudo dali para baixo. Entretanto no andar de cima, Harry não sabia o que tinha. Poderia ser o quarto do tio de Guilherme. Sentindo-se meio desconfortável, desceu as escadas até o patamar do primeiro andar. Encontrou o corredor levemente iluminado. Uma das poucas portas do corredor estava aberta e uma luz avermelhada de fogo banhava parte do corredor, saindo do aposento. Encaminhou-se para lá silencioso como um gato, seus pés mal tocando o chão acarpetado do corredor. Entrou pelas portas que estavam abertas. Estava em uma biblioteca bem mobiliada, embora em tamanho reduzido. Exceto por duas janelas grandes e uma lareira, naquele momento acesa, todas as outras paredes estavam abarrotadas pelos inúmeros livros, do chão ao teto, de todos os tipos e tamanhos e nas mais diversas línguas. Haviam várias poltronas de couro negro, aparentemente muito confortáveis: duas postas de frente para cada janela, de forma que os ocupantes pudessem apreciar a vista; duas perto da lareira, onde uma mesinha de centro ostentava um magnífico tabuleiro de Xadrez de Bruxo feito em puro mármore branco e preto, que devia custar uma pequena fortuna. O silêncio no aposento era quase opressor. Com exceção do leve rumorejar ocasional de uma folha de papel, nenhum som se manifestava no aposento mal-iluminado.

Harry caminhou silenciosamente pela biblioteca, olhando as prateleiras altas e imaginando quantos livros aquele aposento comportaria. Provavelmente milhares. Chegou próximo a uma janela e observou a vista. Era belíssima. O céu ainda estava escuro, mas não tanto quanto anteriormente. Um tom mais claro de azul começava a tomar conta do céu antes das cores da aurora surgirem. Suspirou, sentindo-se bem com a leve brisa que lhe batia no peito, nu sob o roupão aberto. Continuou caminhando pela biblioteca, seguindo a parede repleta de livros, absorto em seus títulos. Passava os dedos de leve pelas capas grossas e coloridas de couro à medida que seus olhos esquadrinhavam os títulos marcados nas lombadas. Por fim, seguira as estantes até o ponto em que a lareira acesa dividia a sala exatamente no centro, por isso, para continuar a olhar os títulos, tinha que passar em frente a lareira e continuar nas estantes do outro lado. Uma bandeira com o brasão da família McKinnon - um grande "M" floreado dentro de um escudo amarelo, ladeado por dois lobos cinzentos em pé nas patas traseiras - estava pendurada exatamente sobre a lareira. Entretanto, ao passar pela lareira, os porta-retratos sobre ela chamaram sua atenção. As fotos pareciam ter poucos anos e mostravam várias pessoas conhecidas por Harry, pelo menos de vista. Um Guilherme mais jovem, sorridente e feliz do que Harry jamais havia visto lhe sorriu e acenou de uma foto. Seu aspecto era bem diferente do atual: o cabelo negro lhe caia graciosamente pela cabeça, brilhante e curto; seu rosto fino e delicado expressava a inocência e ingenuidade da infância; seus olhos brilhavam de uma forma que Harry nunca tinha visto, destacando ainda mais o castanho cor-de-mel.

-Ele está diferente, não está? – perguntou uma voz atrás de Harry. Todas as ações seguintes passaram-se numa fração de segundo: Harry gelou ao ouvir aquela voz que lhe era desconhecida. Buscou velozmente alguém a quem ligar aquela voz, incluindo todos os Comensais que conhecia, mas não a reconheceu em ninguém. Ao mesmo tempo em que olhava a foto de seu anfitrião no porta-retrato, sua mão deslizou como uma serpente para dentro do bolso, saindo de lá, no segundo seguinte, acompanhada de uma varinha. Enquanto pensava no dono da voz e sacava a varinha, Harry virou o corpo na direção do desconhecido.

Quando se deu conta, Harry apontava a varinha para um homem que estava sentado à uma das poltronas em frente à lareira. Ele usava um roupão dourado e tinha um livro aberto sobre o colo. Quando viu que Harry lhe apontava a varinha, ergueu as mãos em sinal de rendição. Mas Harry pôde notar algo de irônico na forma como as mãos do homem ficaram no ar, como se estivesse zombando dele.

-Belo reflexo. – parabenizou o homem enquanto colocava um marca-página e fechava o livro, colocando-o, em seguida, sobre o braço acolchoado da poltrona. Levantou-se e passou as mãos automaticamente sobre o roupão dourado, como se estivesse se certificando de que não havia amassados. Se aproximou um passo de Harry, ignorando completamente a varinha que permanecia apontada para o próprio peito. – Você deve ser Harry Potter, suponho. – Harry levou a mão automaticamente à testa, descobrindo que a franja não estava encobrindo a tão famosa cicatriz. – Oh, não. Não foi por causa disso que eu soube que era você. É que você foi o único que eu não vi durante o jantar. – o homem sorriu para Harry. – Oh, é verdade, ainda não me apresentei. Eu sou Gregory McKinnon, tio de Guilherme. – o homem do roupão dourado lhe estendeu a mão e Harry percebeu o jogo dele. Apesar da encenação bem feita, era notável que ele sabia quem Harry era assim que o viu e era igualmente óbvio que não se apresentara de imediato apenas para ver sua reação. Imediatamente, Harry percebeu que aquele homem não era qualquer um. Girou a varinha habilmente e a guardou de volta no bolso do roupão, para em seguida apertar a mão do homem à sua frente.

-Desculpe pela varinha. – disse Harry mecanicamente enquanto apertava a mão do homem o mais forte que podia. Sentia algo estranho com relação a ele. Algo que não sabia definir.

-Oh, sem problemas. Desculpe pelo susto. – disse Greg soltando a mão de Harry. – Está escuro aqui, não está? Deixe-me acender algumas luzes. – estalou os dedos e várias velas se acenderam por todo o aposento, algumas em castiçais e outras flutuando, iluminando-o bem melhor do que antes. – Desculpe-me por isso, Harry, mas é que eu gosto de ler à luz da lareira.

Harry ignorou o comentário sobre a precária iluminação anterior para se concentrar na figura à sua frente. Agora que a biblioteca estava mais iluminada podia dar uma boa olhada no homem: tinha estatura mediana, chegando quase aos dois metros de altura; seu corpo era quase perfeitamente proporcional, exceto por uns quilinhos a mais; usava um roupão dourado impecavelmente liso, como se nunca houvesse sido mexido até aquele momento; inúmeros anéis brilhavam em seus dedos; tinha um porte de quem tem poder e sabe disso, acostumado a ser obedecido o tempo todo; seu rosto era ligeiramente arredondado, quase rechonchudo, mas a barba fora feita com perfeição; o nariz era fino e mais comprido do que o normal, e dava a impressão de já ter sido quebrado algumas vezes; os cabelos raleavam na testa, mostrando grandes entradas frente ao cabelo penteado para trás. No entanto, o que mais chamou a atenção na figura eram seus olhos: tinha olhos ligeiramente puxados, mas grandes e alertas; suas íris eram negras e pequenas, sem brilho e nem vida; algo de astuto brilhava naquele olhar, algo de reptílico, quase como um crocodilo a espreitar sua presa. Enquanto os olhos miúdos observavam Harry, suas sobrancelhas finas e bem desenhadas estavam erguidas, quase como se aguardasse pacientemente que o exame detalhado que Harry lhe fazia acabasse.

Harry percebeu que ficara apenas alguns segundos a fitar o dono da mansão, mas o olhar que este lhe lançava tinha algo de zombaria, quase como se perguntasse "E então, passei no seu exame?". O moreno de olhos verdes encarou aqueles olhos negros e miúdos e percebeu imediatamente que aquele homem era muito mais perigoso do que sua aparência inofensiva poderia vir a demonstrar. E muito mais poderoso do que queria que as pessoas imaginassem também. Assim que isso lhe passou pela cabeça, Gregory sorriu à Harry como se soubesse exatamente o que se passava em sua mente. Com essa idéia na cabeça, Harry deu instintivamente um passo atrás e se concentrou imediatamente em executar Oclumência. Quando sua mente se limpou e ficou completamente em branco, Harry vislumbrou algo como desapontamento no rosto do homem, mas foi um vislumbre tão rápido que no instante seguinte Harry chegou a duvidar se realmente vira aquilo.

-Oh, que falta de educação a minha. Sente-se, por favor, Harry. – disse Gregory fazendo um gesto em direção à outra poltrona em frente à lareira. Quando Harry se sentou, Gregory se sentou também. – O que faz acordado a essa hora, Harry, se é que não se importa em eu perguntar?

Harry pensou cuidadosamente no que responder. Por alguma razão não confiava no homem à sua frente e já haviam lhe dito para seguir seus instintos. Achou melhor não dizer nada com relação a penetrar na mente de Voldemort acidentalmente.

-Fui dormir mais cedo do que esperava e só acordei agora. – disse Harry vagamente.

-Você não se deitou na cama, deitou?

-Deitei sim. Por quê?

-Então foi isso. – Sorriu Gregory. – O Feitiço de Sonolência. Achei que você soubesse.

-Feitiço? Não, eu não sei do que voc... o senhor está falando. – corrigiu Harry.

-Achei que Guilherme tivesse explicado a você. Todas as camas da casa têm um Feitiço de Sonolência. Ele é ativado sempre que alguém cansado se aproxima e quando a pessoa cai no sono, não acorda até que seu corpo esteja completamente descansado. Acho que foi isso que aconteceu com você. Desculpe não termos avisado, mas suponho que Guilherme tenha achado que você sabia, afinal, a maioria das casas bruxas, de classe média para cima, têm esse tipo de coisa.

-É que não costumo freqüentar casas bruxas, muito menos de classe média para cima. – disse Harry ligeiramente desconcertado.

-Ah certo. Tem razão, Harry. Sequer tinha pensado nisso. Me desculpe. – a voz bajuladora de Gregory quase convenceu Harry, mas novamente o garoto percebeu sua atitude. A falsidade em sua voz estava bem disfarçada, mas alguém como Harry, que vivia escondendo coisas e mentindo, podia perceber isso nitidamente.

-Sem problemas. – disse Harry em tom de quem finaliza a conversa. Gregory não se fez de rogado e ergueu uma sobrancelha ao ouvir aquele tom. Levantou-se, pronto a se retirar da biblioteca. Antes de sair, disse:

-Você se parece mais com o Guilherme do que se poderia imaginar. – fez uma pausa, pensativo. Depois acrescentou em tom de aviso: - Cuidado, Harry Potter. Isso não é um bom sinal. – depois a expressão de Gregory se abrandou e ele se encaminhou para fora do aposento. – Fique à vontade e tenha um bom resto de noite. – e sumiu porta afora.

Harry não gostou nada do que Gregory dissera. Parecia uma ameaça ou algo assim. Instantaneamente sentiu como se não fosse bem-vindo na casa. Chegou a cogitar arrumar as malas e dar o fora antes que todos acordassem, mas a idéia sumiu de sua mente ao se lembrar que todos os amigos estavam hospedados na casa também. Apenas o fato de poder revê-los depois daquelas semanas sufocantes na casa dos Dursleys o fez reconsiderar. Caminhou de volta à lareira e olhou novamente os porta-retratos, notando fotos de Guilherme com amigos, com o tio, com Susan. Voltou a analisar estantes com livros e mais livros. Havia livros trouxas e bruxos de todos os tipos e tamanhos, mas nenhum interessou a Harry naquele momento. Caminhou para uma das janelas e observou a vista: na sua extrema direita podia ver o vulto disforme do vilarejo recortado contra o céu azul cheio de nuvens repolhudas; o resto da paisagem era formado por retalhos de campos, de diferentes tons, dispostos em frente a um céu que clareava lentamente, se tingindo de rosa e laranja. Observando aquela paisagem, Harry se soltou na poltrona que ficava em frente à janela e ficou olhando a vista, perdido em pensamentos. Não sabia o que o motivou, mas se deu conta de estar pensando em Hemione. A forma como ela o olhava, a forma como sorria, o olhar concentrado, o rosto determinado, a cara de culpa que fazia ao achar graça em alguma brincadeira de Harry e Rony, o olhar de aviso que lhes lançava quando estava entretida com um livro e era interrompida. Harry não soube o porquê, mas queria que a garota estivesse ali com ele. Sentada ao seu lado, conversando com ele, rindo com ele, beijando ele.

Harry abriu os olhos. Piscou de leve, esfregando os olhos. Parecia ter cochilado, ou talvez, se perdido em pensamentos.

Ouviu passou no corredor e a voz de Guilherme dizendo palavras que não pôde compreender. Num instante o seu anfitrião havia irrompido na sala. Não pareceu muito surpreso ao ver Harry ali.

-Hum... bom dia, Harry. Dormiu bem?

Harry o encarou de leve, impassível, para depois voltar a encarar o céu da aurora.

-Dormi. – Harry pigarreou. Será que deveria fazer o que estava pensando? – Escute...

-Gui... o que você... – disse Susan aparecendo à porta da biblioteca. Ela sim parecia surpresa em ver Harry. – Oh... bom dia, Harry.

-Bom dia. – respondeu Harry sem jeito. Tinha a impressão de ter interrompido alguma coisa. Algo deve ter transparecido em sua face, pois Susan sorriu bondosamente e disse:

-Estávamos indo treinar. Sabe como é? Indo correr um pouco. Quer vir conosco?

-Oh... certo. Quero dizer... não, obrigado. – ainda mais sem jeito. Ela riu e olhou Guilherme interrogativamente, no entanto este não se mexeu, encarando Harry que havia desviado o olhar. Sabia que Harry queria lhe dizer alguma coisa.

-Susy, porque você não vai se aquecendo lá embaixo enquanto bato um papo com o Harry? Desço daqui a pouco, ok?

-Claro. Até mais, Harry. – disse a moça e antes que Harry pudesse responder ela já havia sumido.

-O que foi, Harry? – perguntou Guilherme se sentando numa outra poltrona que trouxera para perto daquela que Harry usava.

-Eu... – parou, em dúvida se deveria continuar e por fim acabou dizendo uma coisa totalmente diferente do que diria inicialmente: - Conheci seu tio.

-Sério mesmo? – perguntou Guilherme achando graça na expressão de Harry. – E o que achou dele?

-Ele parece legal. – mentiu Harry, mas novamente sua expressão foi transparente porque Guilherme riu com deboche de sua cara, cruzando as pernas de forma bem relaxada.

-Eu sei o que ele aparenta ser, Harry, mas te garanto que ele é melhor do que se pode esperar à princípio. – Guilherme parou de falar e ficou encarando Harry por alguns segundos. – Mas não era sobre isso que você queria conversar, era?

-Não. Eu... queria te fazer uma pergunta pessoal.

-Faça. – disse Guilherme relaxado, esperando pacientemente.

-Certo... ah... como você soube que... ah... estava apaixonado pela Susan? – Harry sentia que seu rosto queimava de vergonha, mas Guilherme fingiu não ver, olhando para fora da janela enquanto parecia analisar a pergunta.

-Sabe, Harry... essa talvez seja a pergunta mais difícil que você já me fez. Não, a pergunta mais difícil que qualquer pessoa já me fez. – Guilherme desviou o olhar do céu e o voltou a Harry. – Essas coisas não se sabem, Harry. Esse tipo de coisa se sente. – e dizendo isso, Guilherme tocou a têmpora com um dedo, movendo-o para o peito logo em seguida. Harry soltou um suspiro pesado. Já esperava uma resposta daquele tipo, mas isso não impediu que uma imensa frustração o invadisse. Guilherme vendo que aquela resposta não agradou, emendou:

-Eu conheci Susan quando ambos tínhamos 11 anos. Ela era incrivelmente linda. Tinha um brilho inacreditável nos olhos. Não vou mentir para você: assim que a vi, não senti nada de impressionante, exceto uma fascinação pela beleza dela. Lindíssima. É claro que os hormônios de um garoto de 11 anos me ajudaram a admirá-la. – Guilherme sorriu abertamente. – Mas mesmo observando-a daquela forma, eu não soube imediatamente que me apaixonara por ela. Na verdade eu descobri isso vinte minutos depois de tê-la visto pela primeira vez... quando nos beijamos. – um sorriso saudoso surgiu no rosto do garoto. – Eu juro a você, Harry... juro a você que eu vi estrelas. Isso foi o que me alertou para o fato de eu estar apaixonado: as estrelas. – Guilherme parou de falar, dando a impressão de estar botando os pensamentos em ordem. Harry, no entanto, não podia dizer que sabia a que ele se referia. – Quando nossos lábios se tocaram, faíscas voaram, e não digo isso num sentido mágico. – Guilherme riu um pouco. (N/A: Começar a ouvir I Will do Billy Gilman.) – Instantaneamente percebi que era ela. Ela era a garota para mim. Foi então que eu soube. - Harry assentiu, ouvindo atentamente. – É surpreendente como essas coisas acontecem, certo? Quero dizer, estamos com 16 anos, quase 17, e mesmo assim ainda me lembro perfeitamente de como eu a conheci. Faz cinco anos que conheço Susan e ainda hoje consigo encontrar motivos para adorá-la: seu doce sorriso, seu coração bondoso, tudo. Antes de ser uma amante, uma namorada, ela é minha melhor amiga. – seus olhos brilhavam. – Eu a amo, Harry. Conviver com ela por todo esse tempo me mudou. Fez de mim a pessoa que eu sou hoje.


It amazes me
Surpreende-me

How I can see
Como eu posso ver

That there is still so much more
Que há ainda muito mais

After all this time
Depois deste tempo todo

It's not hard to find
Não é difícil encontrar

Why I adore you
Motivos para eu adorar você

Your smile, your heart, my friend
Seu sorriso, seu coração, minha amiga

You make me all that I am
Você faz de mim tudo o que eu sou


-Não sei como será o futuro, Harry, pois não posso prevê-lo, mas tenho certeza que se necessário for, darei minha vida por ela. Darei a minha vida pela dela. Ela é a pessoa mais bondosa que já conheci e eu conheço muita gente. Nunca, ninguém sequer chegou perto de ser como ela, ao menos para mim.


If you can tell me how
Se você puder me dizer como

I could love you more than I do now
Eu poderia te amar mais do que eu amo agora

I will
Eu irei

And I know without a doubt
E eu sei, sem sombra de dúvida

I will give you all I have to give
Eu vou te dar tudo que tenho para dar

For as long as I live
Enquanto eu viver

I will
Eu irei


-À medida que esses cinco anos passaram, já conheci outras garotas, já fiquei com outras garotas, namorei outras garotas, mas nenhum delas me marcou como essa mulher. Sim, pois ela não é mais uma garota, não para mim. Eu sou um homem apaixonado e ela uma mulher. Eu vou pedi-la em casamento quando essa guerra acabar, Harry. Ninguém sabe sobre isso ainda, e eu sei que ela vai aceitar. O meu mundo tem um nome: Susan. Quando nos beijamos pela primeira vez, naquele longínquo dia de verão, eu soube que passaria minha vida com ela. Soube que eu não teria uma vida se não fosse ao seu lado. Eu não existo sem aquela mulher. Nunca sairei do lado dela. A minha vida pertence a ela.


As the years go by
Conforme os anos passam

I know that I
Eu sei que eu

Will never leave your side
Nunca irei deixar o seu lado

You're the world to me
Você é o mundo para mim

And I'll always be
E eu sempre vou estar

Right here for you
Bem aqui para você

Until the last breath I take
Até o meu último suspiro

I'm yours, for the rest of my days
Eu sou seu, para o resto dos meus dias


-Sei que pode parecer absurdo para quem ouve, mas é a verdade. Eu não saberia viver sem a presença dela. Não saberia o que fazer da minha vida. Não há forma de descrever um sentimento em palavras, tudo o que se pode fazer é dizer: amor. Tudo que essa palavra representa é uma idéia, mas é o mais próximo que se pode chegar de descrever um sentimento.


If you can tell me how
Se você puder me dizer como

I could love you more than I do now
Eu poderia te amar mais do que eu amo agora

I will
Eu irei

And I know without a doubt
E eu sei, sem sombra de dúvida

I will give you all I have to give
Eu vou te dar tudo que tenho para dar

For as long as I live
Enquanto eu viver

I will
Eu irei


-E, por mais doloroso que seja, eu tento imaginar, às vezes, como seria perdê-la, mas eu não consigo. Imaginar perdê-la seria admitir essa possibilidade e eu não posso suportar isso. Só posso desejar que eu me vá antes dela, porque eu não existo sem ela. Sem ela em minha vida, não sei o que teria me tornado. Não consigo pensar nisso, simplesmente não consigo.


I can't imagine how
Não consigo imaginar como

I would be now
Eu seria agora

Without you here with me
Sem você aqui comigo


-Não sei, Harry. Não sei dizer como, quando ou por que. Eu apenas a amo. É tudo que eu sei.


If you can tell me how
Se você puder me dizer como

I could love you more than I do now
Eu poderia te amar mais do que eu amo agora

I will
Eu irei

And I know without a doubt
E eu sei, sem sombra de dúvida

I will give you all I have to give
Eu vou te dar tudo que tenho para dar

For as long as I live
Enquanto eu viver

I will
Eu irei


-Tudo o que sei é o que sinto. Quando você sentir isso, entenderá. Quando sentir que outra pessoa é tão essencial para a sua sobrevivência quanto sua própria alma, entenderá.


For as long as I live
Enquanto eu viver

I will
Eu irei


-Talvez você não esteja me entendendo, mas quando entender, terá a sua resposta. – Guilherme deu um sorriso estranhamente sentimental e esfregou os olhos marejados. – Susan foi a primeira garota que eu beijei, a primeira garota com quem eu sai, a primeira garota com quem eu enchi a cara, a primeira garota com quem eu vomitei, a primeira garota com quem eu... – Guilherme parou de falar, dando um sorriso meio envergonhado que fez com que Harry completasse a frase por si só, em pensamentos. - ...enfim, ela foi a primeira em muitas coisas. Eu posso não ter percebido o quanto ela seria importante na minha vida à primeira vista, mas eu percebi assim que senti os seus lábios nos meus; percebi à medida que nos tornávamos unidos; percebi quando nos tornamos inseparáveis; percebi quando nos separamos. – Guilherme parou de falar e sorriu a Harry, enxugando as lágrimas disfarçadamente. Harry notou que ele ia terminar de falar: - Não me lembro como essa conversa chegou a esse ponto, Harry, mas me lembro que você me perguntou como eu soube. Aí está sua resposta. Felizmente, eu não tive que esperar mais que vinte minutos para conhecê-la. É claro que se fosse nos dias de hoje, não esperaria tanto assim. Essa guerra caminha para seu fim, Harry. Não podemos esperar que não haja baixas. Nunca se sabe que vidas podem se perder antes do fim, por isso eu te digo: Harry, não perca tempo. Seus vinte minutos acabaram faz tempo e só vocês ainda não perceberam. Se quer ter a confirmação de que o que sente é amor, corra atrás. Não fique esperando que a resposta caia do céu. – Guilherme se levantou. – Nos vemos no café da manhã, Harry. – e dizendo essas palavras, Guilherme saiu da biblioteca em silêncio.

Harry olhou pela janela e o sol nascia, surgindo timidamente no horizonte, lançando seus raios dourados por sobre um mundo de silêncio e calma. E à medida que os passarinhos começavam a cantar, os raios dourados se lançaram por todos os lados, banhando a tudo e a todos na luz dourada de um novo dia. Um dia de promessas e desejos, de amores e amizades, violência e paz.


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N/A: Bem, espero que tenham gostado. O próximo capítulo está pela metade ainda, por isso sem previsão de postagem, mas não se preocupem, um dia ele vem. Grato pela leitura. Abs a todos

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