Explorador



Capítulo 36 – Explorador

Harry estava estático e atônito ao lado do companheiro que tornou a perguntar:
-Quem é Guilherme? – seu olhar estava perdido e ligeiramente desfocado. Como que se lembrando que tinha outras perguntas, acrescentou quando Harry abriu a boca para falar: – Aliás, quem é você? E... quem sou eu?
Harry fechou a boca. A última esperança que tinha acabara de fugir por entre seus dedos. Tentara se agarrar à possibilidade de Guilherme estar lhe pregando uma peça numa brincadeira muito sem graça. Ficou ainda mais frustrado com aquilo. Olhou por sobre o ombro e viu a placa de pedra flutuando inocentemente no mesmo lugar. Não havia se movido. Voltou-se para Guilherme para dar de cara com o garoto o encarando, com o se esperasse uma resposta.
-Meu nome é Harry. Harry Potter. E você se chama Guilherme McKinnon. Por enquanto fique aqui. – murmurou Harry.
Harry se virou para a estátua de Merlim ao fundo da sala. Caminhou até lá e hesitando um pouco, pegou a placa de pedra. No entanto, antes de tocar na pedra, Harry protegeu as mãos cuidadosamente com a bolsa de couro. Harry retirou a placa cuidadosamente das mãos de Merlim e a colocou na bolsa de couro vazia que Guilherme trouxera e na qual as mãos de Harry estavam protegidas. Pendurando a bolsa no pescoço, Harry se voltou para o amigo que havia ficado observando impassível.
-O que diabos você estava fazendo? – perguntou Guilherme a Harry.
-Agora não é a hora para isso. Vamos lá pra fora. Lá poderemos conversar. – disse Harry, guiando o amigo para fora da sala e minutos depois, do Templo.
Assim que saíram do Templo, Harry notou que Hermione e Rony estavam sentados ali, esperando que saíssem.
A clareira onde o Templo da Terra fora construído esta bastante grande e podia abrigar facilmente todo o castelo de Hogwarts. O Templo, apesar de bem menor, era tão imponente quanto a moradia dos estudantes bruxos. Olhando de fora, aparentava ter vários andares e nesses, várias janelas. Entretanto, só havia um caminho a se seguir e ele não levava a nenhum dos inacessíveis andares superiores.
Harry caminhou para fora do corredor de pedra com Guilherme apoiado em seus ombros. O garoto de olhos castanhos parecia ter torcido o tornozelo com a queda. Ao ver os dois garotos voltando e, notando que um deles era carregado, Hermione se adiantou e perguntou ansiosa:
-O que houve?
-Ah... – resmungou Harry, aliviado por finalmente colocar o amigo sentado em uma pedra. Guilherme olhou enigmaticamente para Hermione, como se ela fosse um animal especialmente interessante num zoológico. – Ele só torceu o tornozelo...
-Ah bom. – suspirou a garota aliviada.
-É claro que isso foi logo depois de ele ter sido arremessado pelo Templo, o que pelo que me parece, o fez perder a memória. – continuou Harry, como se não houvesse tido interrupção.
-Isso é... O que disse? – perguntou Hermione encarando Harry, como se esperasse que aquilo fosse uma piada. – Realmente espero que isso seja uma brincadeira.
-O que está olhando? – reclamou Rony para Guilherme, devido ao fato de este estar observando o ruivo.
-Nada. Só acho que você me parece familiar. – respondeu o moreno simplesmente.
Rony fez uma cara estranha, mas não respondeu, pelo que Harry agradeceu internamente.
-Isso não é uma brincadeira? – perguntou Hermione, numa voz aguda que lembrava a Harry uma pessoa muito agoniada e desesperada.
-Eu te conheço, não é? – perguntou Guilherme a Hermione. A garota olhou para o rapaz, os olhos arregalados e o rosto vermelho. Hermione puxou a varinha e se abaixou, dando um toque com ela no tornozelo do moreno. – Como você fez isso?
-Magia. – respondeu ela secamente. Agarrou Harry pelo braço e o afastou alguns metros do amigo desmemoriado. Sussurrou: – O que houve, exatamente?
-Foi um feitiço de proteção, acho. Assim que ele tentou pegar... – Harry apontou a placa de pedra na bolsa que carregava. - ...ele foi lançado contra a parede. Não sei se foi um Feitiço de Memória, o Obliviate, ou uma Azaração do Empurrão, o Expendia, mas de qualquer forma o efeito é o mesmo, não?
-Na verdade não. Se for uma simples amnésia trouxa é possível reverter com as poções e feitiços certos, mas se for um Obliviate, o que eu não duvido que seja, pode dar mais trabalho.
-Entendo.
-Fique com ele. – disse Hermione observando Guilherme que por sua vez olhava a imponente imagem do Templo. – Não o perca de vista.
-Certo. – concordou Harry.
Hermione se aproximou do ruivo e começou a sussurrar palavras urgentes para ele. Harry se aproximou de Guilherme que ao vê-lo se aproximar perguntou:
-Ela está zangada?
-Quem? – perguntou Harry distraído enquanto olhava para as costas de Hermione.
-A sua namorada. Ela está zangada?
-Hermione não é minha namorada. – respondeu Harry de imediato, desviando o olhar.
-Entendo. Mas bem que você queria, não?
-É claro que... não. Do que você está falando? – perguntou o garoto de olhos verdes se virando para os olhos castanhos cor de mel do companheiro. – Ela é apenas minha amiga. Sempre foi assim.
-Sei... – o tom de descrença era nítido na voz do garoto.
-É verdade. Nós sempre fomos amigos e apenas isso: amigos.
-Entendo. – disse Guilherme achando melhor não discutir.
Naquele momento Susan chegou. Ela apareceu pela trilha que levava à clareira onde estavam. Ainda usava a roupa de mergulho que usara quando foram ao Templo da Água. Seu cabelo estava preso e algumas folhas estavam presas em sua cabeleira negra.
Assim que a viu, Guilherme se levantou e olhou a garota, fascinado.
-Q... quem... quem é... ela? – gaguejou o moreno. Harry o encarou estranhamente. Nunca ouvira aquele tom de voz sonhador no garoto. Os olhos castanhos brilhavam e seu rosto estava quase púrpura de tão vermelho. Tinha um enorme sorriso no rosto. Maior do que todos os sorrisos que Harry já vira estampando o rosto do amigo.
Hermione, que parecia ter ouvido o que o garoto falara, se aproximou e agarrou um braço do garoto e com a outra mão, segurou a mão de Harry e os puxou em direção a uma outra trilha.
-Harry, siga esta trilha por alguns metros e verá uma caverna. Fique lá com o Guilherme enquanto eu falo com a Susy.
-Ok, Mione.
Hermione, como na maioria das vezes, estava certa. Poucos metros trilha adentro, uma fenda na rocha era visível. Num instante, Guilherme e Harry já estavam dentro da caverna. Guilherme se sentou um uma pedra plana e Harry ficou andando, à espera dos amigos. A intervalos de minutos, olhava para a trilha de onde vieram, à espera de alguém. A luz do crepúsculo começava a tingir tudo com uma cor ligeiramente alaranjada. Por algum motivo, a idéia de se afastar dos amigos, em um lugar estranho e aparentemente isolado com uma pessoa sem memória não lhe era convidativa.
-Harry? HARRY! – a voz de Rony veio da trilha.
-Estamos aqui, Rony. – respondeu Harry, observando o ruivo da entrada da caverna, enquanto este aparecia na curva da trilha. Rony se aproximou e enfiou um pedaço de pergaminho dobrado nas mãos do moreno.
-Hermione pediu pra eu te entregar isso. Agora, tenho que voltar lá para ajudá-la. Faça o que for preciso. E rápido. Não conseguiremos segura-la muito. – e depois se afastou, sumindo no lugar de onde viera.
-O que houve? – perguntou Guilherme.
-Eu não sei. – Harry olhou o papel amassado em suas mãos e disse: - Mas já vamos descobrir. – e começou a desdobrar e desamassar o pergaminho, para poder ler.
-O que diz aí? – perguntou Guilherme, curioso, tentando ler o bilhete por sobre o ombro do amigo.
O bilhete fora rabiscado na garranchosa letra de Rony, mas ainda assim era um pouco legível.

Legilimência. É o que você deve fazer, Harry. Hermione me pediu para que eu te avisasse que você deve usar Legilimência no Guilherme para que ele se lembre. Você deve buscar uma lembrança específica: a senha para se usar o comunicador da Ordem. Segundo a Hermione, é o único jeito de falar com a Ordem. Faça o que for preciso rápido. Seguraremos a Susan o máximo, para que ela e nós fiquemos fora do caminho.

Harry levantou os olhos para Guilherme. Se continuasse a usar Legilimência no amigo, Harry achava que daqui a algum tempo, ele teria mais memórias de Guilherme em sua cabeça do que suas próprias. A questão era: Harry estava pronto pra isso ou não? Talvez, de sua decisão dependesse a vida de todos os seus amigos, e essa não era uma escolha que Harry queria fazer.

***

-Apenas fique calmo, ok? – disse Harry a um Guilherme, novamente sentado. – Vai terminar em um segundo. – Pigarreou. – Legilimens. - Harry num instante viu as imagens do garoto entrando em sua própria mente.
Guilherme estava entrando na cozinha de uma casa. Susan estava ao seu lado. Apresentou o garoto a uma mulher, alta e esguia que deveria ser sua mãe, em seguida, fez um gesto em direção a um garotinho sentado em uma cadeira. O garoto obviamente era irmão de Susan, e eram bem parecidos, exceto por pequenos detalhes: os olhos azul-esverdeados brilhantes, o topete arrepiado no cabelo negro que o garoto usava e suas bochechas que tinham uma coloração rosada permanentemente. Em seguida, o garotinho encarou Guilherme e Harry sentiu as palavras dele, ecoarem em sua mente, muito mais do que ouviu: o que você quer com a minha irmã?
A cena mudou. Guilherme agora, descia os degraus de pedra, saindo de uma mansão, liderando vários garotos aos jardins. Entretanto, parou, olhando a parede da mansão. Havia uma grande pichação ali. As letras brilhavam, de vermelho para azul, de azul para amarelo e de amarelo para vermelho. A frase era simples: B.K. MANDA!!
Guilherme não parecia satisfeito ao ver aquilo. Puxou a varinha, no que foi imitado pelos amigos atrás de si, e começou a remover a pichação da parede.
A cena mudou de novo. Guilherme estava sentado em um tronco numa clareira. Uma grande fogueira estava acesa à sua frente. Ele estava com os cotovelos apoiados nos joelhos e com o queixo apoiado nas mãos. Observava o fogo, que lançava uma luz refletora em seus olhos.
-O que vamos fazer com eles? – perguntou um garoto próximo, em pé, apoiado numa árvore. Era um garoto que Harry nunca tinha visto antes. Usava uma calça jeans, uma camiseta preta de mangas comprida e uma camisa branca toda desenhada de mangas curtas por cima da primeira. Tinha cabelos branco-prateados, olhos negros e sem vida, rosto fino e ligeiramente pálido. Alguma coisa em suas pupilas o fazia se parecer com um gato doméstico. Estava apoiado numa árvore, uma perna dobrada, os braços cruzados e encarava Guilherme. – Você não quer matá-los, não é?
-Eu vou matar alguém, mas não será nenhum deles. – Guilherme respondeu.
-O que faremos então? – o garoto com olhos de gato olhou para o lado e Harry viu dois homens acorrentados a uma árvore. Usavam mordaças e pareciam trouxas, caçadores trouxas.
-Solte-os, Killua.
-O q... que? Vai simplesmente solta-los? Não vai fazer nada?
-É claro que não. Você vai solta-los e se eles tiverem sorte e forem rápidos, sobreviverão para ver o sol nascer novamente. – O garoto de cabelos brancos apenas olhos os dois trouxas. Ambos eram gordos e não pareciam nada rápidos.
-Você deve estar brincando, não é? Isso seria o mesmo que matá-los... a diferença é que eles seriam devorados ainda vivos...
-A escolha não é minha.
-É claro que é...
-Não, não é. Eles atiraram na líder de uma alcatéia, que, aliás, era uma amiga minha. Você não a conheceu. Quando eu descobri sobre meus pais, ela foi a única criatura que suportou se aproximar de mim. Ela era meiga e fiel e extremamente dócil... e eles a mataram! – Depois de cuspir as últimas palavras, Guilherme se levantou e só então Harry pôde ver que o vermelho em seus olhos não era um reflexo do fogo. – Eles vão arcar com as conseqüências.
-Ei... se você quer matá-los, é só dizer, OK? Você sabe que não precisa agir assim perto de mim. Ao menos mate-os de forma decente, e não...
-Matá-los de forma decente? Você só pode estar brincando... você sabe tão bem quanto eu que essa floresta é uma reserva protegida por lei. Eles entraram aqui sabendo disso e caçaram os animais sabendo disso... eles são culpados por seu destino. Eles têm que pagar o preço...
-Você sabe que só está descontando a raiva por eles matarem uma amiga sua, não é? – Killua descruzou os braços e se aproximou da fogueira.
-Não diga besteiras sem sentido. – resmungou Guilherme apontando a varinha para os homens acorrentados. As correntes se soltaram e caíram retinindo aos pés dos caçadores. Guilherme voltou a se sentar no tronco, e encarou os homens. – Vocês podem ir. Se chegarem à orla da floresta com vida, estarão livres para ir.
-Co... como assim? – gaguejou o mais baixo dos caçadores.
-Bem, vocês mataram uma grande amiga minha, que por coincidência era líder de uma alcatéia aqui da floresta. Obviamente, os membros de seu grupo não ficaram felizes com a morte dela. – Enquanto o garoto de cabelos negros falava, inúmeros pares de olhos brilhantes surgiram nas sombras das árvores às suas costas. Killua, que percebeu isso sem nem sequer desviar o olhar dos caçadores, disse em tom zombeteiro:
-Se eu fosse vocês, eu começaria a correr. – Num segundo os homens sumirem por entre as sombras da floresta.
-Vão! – ordenou Guilherme. – Acabem com eles. Não deixem rastro. – imediatamente após suas palavras, uma multidão de lobos, de todos os tamanhos e cores, dispararam atrás dos trouxas, atravessando a clareira com a fogueira em um instante e sumindo na floresta.
Guilherme se levantou do tronco assim que o som do último animal desapareceu mata adentro. Caminhou até um local um pouco afastado da clareira e abriu um embrulho no chão. Lá estava ela. Helena. Fora assim que ele a nomeara. Sua pelagem era fofa, de cor branco-acinzentada, e tinha um porte elegante de que tem poder e sabe disso. Os pêlos albinos de seu peito estavam agora tingidos de vermelho e seus olhos azul-água, fechados para todo o sempre. Acariciou de leve a cabeça felpuda de sua amiga e depois, num movimento, Guilherme se transformou num lobo. Ele era bem parecido com a loba morta ao seu lado. Os mesmo pêlos brancos e cinzentos e o mesmo porte de que sabe que vai ter as ordens obedecidas, a diferença, no entanto, estava nos olhos. Os dele eram castanhos, cor de mel, cor de âmbar, e os olhos desse lobo também se fecharam quando ele olhou para a lua cheia sobre suas cabeças e uivou. Um uivo longo e contínuo de tristeza que ecoou por toda a floresta, o qual foi respondido por outros muitos uivos que lhe diziam que tudo havia acabado. Helena, enfim, poderia descansar em paz.

Harry abriu os olhos. Sua cabeça latejava. Estava caído no chão da caverna e Guilherme estava caído à sua frente, parecendo tão desnorteado quanto o próprio Harry.
-Você está bem? – perguntou Harry, enquanto ajudava o amigo a se levantar.
Guilherme estava estranho. Como se estivesse com medo de que as imagens que havia visto fossem reais.
-Você... viu o mesmo que eu vi?
-Acho... – pigarreou – Acho que sim. Mas... esqueça isso. Precisamos continuar.
-Cer... certo. – concordou um temeroso Guilherme. Harry suspirou e ergueu a varinha:
-Legilimens.
Inúmeras imagens desfocadas adentraram a cabeça de Harry. Num instante, Harry se viu no meio de um jogo de Quadribol. O mais incrível, era que estava voando sem vassoura ao lado de Guilherme que estava montando a sua mais nova vassoura de corrida, uma Silver Arrow muito veloz. Não alcançava o nível de uma Firebolt, mas era mais rápida do que qualquer Nimbus já lançada. Seu cabo era de um prata brilhante e o nome estava escrito no punho em letras floreadas negras. As cerdas eram bem arrumadas e pareciam ter sido escolhidas à mão devido ao tamanho ideal que tinham e lhe conferiam uma aerodinâmica impressionante. Guilherme carregava a Goles sob o braço esquerdo enquanto segurava a vassoura com a mão direita. Usava um uniforme azul-turquesa e fez um passe perfeito para uma artilheira loira do seu time. Em seguida, se jogou para o lado para escapar de um balaço que viera em sua direção. Fez um looping e estabilizou a vassoura novamente a tempo de receber a Goles de volta. Ao se concentrar para pegar a Goles que lhe fora lançada, tirou os olhos um segundo do campo e quando voltou a olhar, um enorme batedor da equipe rival, vestido de amarelo mostarda, voava em sua direção com o bastão pronto para rebater sua cabeça. Por instinto, Guilherme largou a Goles, e com as duas mãos, mudou drasticamente a direção da sua vassoura. Quando já estava um pouco longe, fez a volta e voltou a voar na direção de onde viera. Um artilheiro adversário, com um sorriso maldoso no rosto, havia pegado a Goles que ele deixara cair e agora voava na direção dos Aros para tentar fazer um gol. Guilherme se deitou sobre a vassoura e disparou em sua direção. Não demorou a alcançá-lo e quando o fez, prestou atenção ao comentarista que naquele momento narrava como os apanhadores perseguiam o pomo. Ficou voando lado a lado com o artilheiro que tinha a Goles e sussurrou para ele:
-Você querem jogar sujo? Ótimo, jogaremos sujo! – e dizendo isso, deu uma cotovelada com força no rosto do rapaz, fazendo com que um monte de sangue espirrasse e manchasse seu rosto. Guilherme não ligou e pegou a Goles, fez a volta e voou em direção aos Aros do time adversário para fazer um gol.
A imagem mudou. Harry estava andando ao lado de uma figura encapuzada numa rua que Harry reconheceu como sendo a Travessa do Tranco. Entraram em uma viela e saíram em uma outra rua escura e entraram em um beco. Havia uma grande loja com letreiro gasto e ilegível. A figura encapuzada virou a cabeça como que checando se ninguém a vira e entrou na loja. Uma sineta tocou, avisando que clientes haviam chegado. A loja era estranha. Parecia uma mistura de loja de ingredientes para poções e antiquário de magia negra. Haviam sacas e bancadas com os mais variados ingredientes para poções, e Harry notou que nunca usara e sequer vira qualquer um daqueles ingredientes. Os artefatos eram os mais variados e até havia uma estante cheia de livros suspeitos num canto. O encapuzado parou ao balcão e tirou o capuz que lhe cobria o rosto. Era ninguém menos que Guilherme. Um homem careca e gordo veio dos fundos da loja. Cheirava fortemente a fumo e a bebida e segurava um palito mordido entre os dentes amarelados.
-Ah, Sr. McKinnon. Finalmente o senhor deu o ar da graça, não é? Eu o esperava há três dias.
-Desculpe. Estive ocupado. – seu tom era bem seco e profissional. – Tem a encomenda que eu pedi? – O homem deu um sorriso cruel e disse entre os dentes sujos:
-Isso depende. Você tem a minha encomenda?
-Humpft... – resmungou o garoto contrariado. Enfiou a mão na capa e puxou uma caixa de madeira amarrada com fios de barbante. – Aqui está a sua. Onde está a minha?
O homem careca e nojento enfiou a mão embaixo do balcão e puxou um objeto retangular embrulhado em papel escuro e sujo.
-Se alguém descobrir sobre isso, você não o conseguiu comigo, entendeu bem? – perguntou enquanto cortava os barbantes e olhava o conteúdo da caixa. Harry esticou o pescoço e viu vários frascos com uma poção amarelada dentro da caixa que Guilherme entregara. O careca pegou um frasco e o abriu, derramando uma gota sobre um pedaço de papel no balcão. Pegou uma poção avermelhada sob o balcão e pingou sobre o papel onde a poção de Guilherme estava. Houve um chiado alto e o papel, onde as poções se encontraram, ficou azul meia-noite. – É... parece que está tudo certo. Como sempre, é um prazer fazer negócios com você, McKinnon. – Guilherme ergueu uma única sobrancelha, demonstrando que não gostou do tom de deboche na voz do homem.
-Veja como fala, Rupsty. Você sabe que não está lidando com um garoto qualquer. – o tom de ameaça na voz de Guilherme era evidente.
-Certo. Desculpe. – concordou o homem, finalmente deixando de lado todo aquele ar de superioridade.
-Ótimo. Eu preciso de mais ingredientes. O meu estoque básico já acabou e o estoque avançado está no fim.
-OK. Mando um novo kit amanhã pela maneira usual.
-Perfeito. Ah, e se alguém perguntar, você não sabe de onde vieram essas poções, entendeu?
-Toda vez que você vem aqui precisa repetir a mesma coisa?
-É só pra ter certeza de que você entendeu. Até mais, Rupsty. – e após recolocar o capuz sobre a cabeça, Guilherme saiu da loja.
A imagem mudou de novo. Guilherme estava numa sala realmente escura. Não havia nenhuma janela e apenas uma porta. A iluminação vinha de velas que espalhavam uma luz fraca no aposento. As paredes eram de pedra e pareciam-se com as masmorras de Hogwarts. Sobre uma bancada de madeira, o embrulho em papel escuro e sujo estava rasgado e aberto, revelando ser um livro o que o garoto recebera do homem da Travessa do Tranco. Ao lado havia uma caixa quadrada aberta onde se podiam ver os mais variados ingredientes de poções. Ao lado da bancada de madeira havia um caldeirão com um líquido negro e pegajoso borbulhando. Guilherme colocou três tigelas de porcelana sobre a bancada e com uma concha, colocou um pouco da poção nojenta em cada vasilha. Checou a página em que o livro estava aberto para saber o que fazer em seguida.
-Ah sim. Então é agora que se coloca aquilo. – Dizendo isso, pegou três frascos com uma gota de substâncias diferentes em cada. Despejou o conteúdo em cada uma das vasilhas separadamente. Houve um chiado estranho e as poções tomaram cor e depois forma. A primeira ficou branca e fosca; a segunda ficou vermelho-sangue e a terceira ficou azul-clara. Num instante as poções se solidificaram em pequenos frascos. Guilherme pegou o primeiro frasco que tinha o formato de uma lágrima e o vidro era aquele branco e fosco. Cheirou seu conteúdo e fechou os olhos.
-Lágrima. Sim, sem dúvida. - Colocou o frasco sobre a mesa. Pegou o segundo. O vidro era transparente e vermelho brilhante. – Sangue, sem dúvida. – Pegou o frasco azul e olhou dentro. – Suor, eu acho. – Finalizou colocando o terceiro frasco sobre a bancada. Lágrima, sangue e suor eram os últimos ingredientes que ele adicionara. As poções na verdade eram perfumes. O do sangue era uma forte poção do amor, mas apenas realçava um sentimento já existente; O do suor induzia quem o sentisse a ter medo da pessoa perfumada; O da lágrima induzia as pessoas que aspiravam o perfume a confiar na pessoa que o usava. Aquela era uma poção pouco conhecida na atualidade e era considerada proibida devido ao poder que quem soubesse fazer teria.
Guilherme pegou o frasco branco e fosco e deu uma espirrada no pescoço.
-Vamos ver se funciona. – E saiu pela porta, sumindo no corredor escuro.

Harry abriu os olhos. Sentia um bolo na garganta. Tinha a impressão que poderia botar qualquer coisa que houvesse comido para fora em instantes. Sentou-se respirando fundo. Viu Guilherme encostado na parede oposta, com uma cara tão horrível quanto Harry, talvez pior.
-Você... – começou Harry, mas se conteve. Fechou a boca com medo de vomitar. Respirou fundo e fechou os olhos. Se concentrou em si mesmo. Aquelas lembranças não eram suas, não tinha porque dar atenção a elas. Por um momento se esquecera o motivo pra estar invadindo a mente do colega, então sentiu o pergaminho, onde o bilhete de Rony fora rabiscado, apertado em sua mão fechada. Lembrou-se instantaneamente que procurava a senha para poder usar o comunicador da Ordem. Abriu os olhos determinado a acabar com aquilo de uma vez.
Harry encarou um Guilherme totalmente abatido. Uma pequena poça ao lado do garoto denunciava que ele já vomitara. Concentrando-se no que tinha que fazer, Harry apontou a varinha para o amigo. Antes que pronunciasse o encantamento ou se desse conta do que estava acontecendo, já estava invadindo a mente do colega de novo.
Uma escadaria. Enorme. Feita de pedra, ela se erguia morro acima, sumindo de vista. Guilherme estava lá. Usava uma camiseta regata branca e uma camisa de mangas curtas também branca aberta sobre a primeira. Usava uma bermuda confortável e carregava uma mochila grande. Ao seu lado estava o garoto de cabelos branco-prateados que Harry se lembrava de ter visto na cena da floresta. Este usava uma regata preta e uma bermuda cáqui. Agora, podendo enxergar à luz do sol, Harry notava que o garoto realmente tinha um ar ligeiramente felino. Algo em seus olhos passava essa impressão. Seu rosto era ainda mais pálido e fino do que Harry se lembrava e seus olhos não estavam negros. À medida que a luz incidia sobre suas pupilas, elas variavam em vários tons de verde até chegar ao preto sem vida que Harry vira na floresta.
-Bem... está entregue. – disse o garoto de cabelos branco-prateados.
-Obrigado por ter me acompanhado, Killua. – agradeceu Guilherme, olhando para o amigo.
-Ah, que nada. – Dispensou o garoto, colocando ambas as mãos nos bolsos. – Você sabe que não me custa nada. Na verdade foi até um prazer... tenho boas recordações desse lugar.
-Ah é... Seu pai te deixou aqui quando você tinha o que? Sete anos?
-Oito, na verdade. Mas pra alguém da lendária família Zaoldyeck, até que era de se esperar, não é?
-Mesmo assim... acho um absurdo.
-Pode até ser, mas todos nós passamos por isso. Nós da família Zaoldyeck, quero dizer.
-Como você agüenta? Quero dizer, ser treinado desde os seis anos para se tornar um...
-Isso foi antes. – interrompeu Killua. – Já conversei com eles. Eles não irão interferir se eu quiser seguir outro caminho que não o escolhido pela família. Mas agora deixe essa conversinha toda de lado e suba logo.
-Certo. – concordou Guilherme, mas após subir alguns degraus, se voltou para o amigo. – Alguma dica de última hora? O que o velhote gosta ou o que não gosta?
-O que o velho não gosta? Ele não gosta de mulheres, brancos e ocidentais.
-Ah, bom saber. – ironizou Guilherme. – Eu sou duas das três coisas que ele não gosta.
-Pense pelo lado bom, pelo menos você não é uma mulher também. – Killua parou de falar observando o amigo moreno. Deu um sorrisinho e disse: - Pelo menos, acho que não é...
-Há há há... – Riu Guilherme sarcástico. – Você realmente é muito engraçado viu.
-Eu sei que eu sou. – Disse Killua e depois deu as costas, acenando. – Até mais.
-Até mais. – respondeu Guilherme começando a subir os intermináveis degraus de pedra.
A cena mudou. Dessa vez. Pareciam estar num porão quase totalmente afundado na escuridão, exceto por um caldeirão aceso sobre uma forte chama azul. O líquido dentro do caldeirão era dourado e borbulhava lentamente. Killua acompanhava as instruções num livro que lia à luz de uma vela. Guilherme observava a substância no caldeirão borbulhar. Ali perto estava Susan, carregando um outro caldeirão que depositou ali perto. Um líquido vermelho-rubi chacoalhava lá dentro.
-Acho que está tudo certo. – disse Killua lentamente. – Como está a sua parte, B.K.?
-Está quase pronta. – respondeu Guilherme ainda observando a poção dourada borbulhar. – E já disse pra não me chamar assim. Esse apelido idiota está começando a pegar.
-Essa é a parte divertida, oras. Susy, como está aí? – perguntou Killua novamente.
-Aqui já está pronto. – disse a garota.
-Ótimo. Acabou. – disse Guilherme e num estalar de dedos, a sala se iluminou. – Está pronta.
-Beleza. Vamos ao trabalho. – disse Killua animado.
-O que você quer dizer com vamos? – indagou Guilherme para o garoto de cabelos brancos. – Você não fez nada além de ler o livro. Eu e Susy fizemos todo o trabalho.
-OK, seu estraga-prazeres. – Bufou o garoto de cabelos brancos. – Então vocês vão ao trabalho.
Killua não pareceu notar porque estava concentrado em manter uma cara falsamente irritada, mas Guilherme piscou um olho e deu um sorriso maroto para a garota. Ambos puxaram as varinhas e começaram o trabalho. Guilherme tirava pequenas bolas de poção dourada com a varinha e as modelava para terem a forma de anéis. Na parte mais larga, a parte que fica à mostra para as pessoas, havia uma buraco vazio, onde Susan depositava uma pequena quantidade da poção vermelha. Num instante as poções haviam secado, virando anéis dourados com uma brilhante pedra vermelha e quadrada na parte superior.
-Está feito. – murmurou a garota.
-E segundo o livro, não podem ser destruídos. O único jeito de serem destruídos é se as pessoas que forjaram os anéis morrerem. No caso, Susan forjou as pedras, então se ela morrer, todas elas irão ser destruídas automaticamente e ao mesmo tempo.
-Exato, e é a mesma coisa pra mim, que forjei a parte metálica dos anéis. – disse Guilherme. – Agora, vamos aos feitiços.
Começaram a lançar feitiços sobre os vários anéis idênticos que haviam criado. Depois de lançados, cada um colocou um anel na mão direita. Guilherme e Susan colocaram em seus anelares e Killua colocou no indicador.
-Temos que entregar para os outros também. – disse Susan apontando para os muitos anéis sobressalentes.
-Nós vamos, mas antes deixe-me explicar isso. O meu anel tem um Feitiço de Proteu, então eu posso convocar reuniões com ele. Mas não é só isso, se um dos outros membros estiver em perigo, todos aqueles que usarem os anéis saberão imediatamente e podem ir ajudar. – Guilherme olhou para o seu anel e duas letras douradas flutuavam na pedra avermelhada: B.K. Olhou para Killua como que perguntando o que era aquilo.
-Ah vai... Vai dizer que você não gosta nem um pouco desse apelido? – e sorriu.
A cena mudou de novo. Havia um homem grande caminhando por uma rua quase deserta. Parecia com alguma rua do subúrbio. As casas aparentavam serem velhas e mal-cuidadas, embora não tivessem o estilo das casas londrinas. O homem seguiu pela rua mal-iluminada em direção a um parque que aparecia bem à sua frente. Harry o seguiu olhando para os lados. Não havia visto Guilherme em lugar algum desde que chegara àquela lembrança, mas ele devia estar por perto, já que essa lembrança era dele.
O homem adentrou no parque. Parecia-se muito com o parque que Harry visitava durante as férias, havia alguns balanços, um escorregador e uma gangorra, todos eles cercados por algumas árvores que lançavam um clima tenebroso no parque àquela hora. Era fim de tarde, o céu escurecia rápido e as luzes dos postes trouxas já haviam se acendido. Assim que chegou a orla do parque onde as árvores terminavam e começavam os brinquedos de crianças, o homem grandalhão que Harry seguiu se virou bruscamente e disse com uma voz fria e cruel:
-Ora vamos, não me subestime. Pode sair, eu sei que você está aí.
Harry teve um arrepio na espinha. Olhou em volta, à procura de mais alguém, mas não encontrou ninguém. Será que o homem estava falando com ele próprio? Talvez não pudesse vê-lo, mas pudesse sentir sua presença. Isso seria possível?
Antes que pudesse pensar que aquilo era muito mais do que improvável, uma voz saiu das sombras às suas costas, flutuando pela escuridão que os cercava.
-Desde quando sabe que eu estou aqui?
-Desde o momento que você aparatou na frente da minha casa, na verdade. – respondeu o homem grandalhão.
-Eu não consegui esconder completamente a minha presença? – perguntou Guilherme, saltando da copa de uma árvore onde estava escondido. Usava uma capa tão negra quanto a noite e isso o tornava quase invisível, exceto pela sua cabeça.
-Não. Na verdade você fez um bom trabalho com isso. – Respondeu o homem quase gentilmente. – O que você não conseguiu esconder foi a sua sede de sangue. Você quer me matar e não consegue esconder isso. Não consegue conter essa vontade. – O homem riu, enquanto arregaçou a manga esquerda de suas vestes, mostrando a Marca Negra. – Você sabe quem eu sou e sabe com quem eu convivi e convivo. Eu sei quando estou correndo o risco de ser morto.
-É bom saber que você pensa assim. – disse Guilherme, afastando a capa do lado esquerdo do corpo e levando a mão à empunhadura de Elizabeth. – Assim, posso te matar sem nem pensar duas vezes e sem arrependimentos.
-Isso se você conseguir me alcançar. – disse o homem e disparou em velocidade espantosa por entre os brinquedos. Harry não percebeu o que aconteceu. Viu a imagem das árvores à sua volta se distorcer como quando se passa em alta velocidade por uma paisagem. Parecia que havia sido arrastado junto com o homem.
Apenas depois foi notar que não podia se afastar de Guilherme, o dono da lembrança, ou seria arrastado com ele. Fora isso que acontecera. Guilherme se movera velozmente e parara na frente de Avery, com a espada em punho.
-Pelo jeito você é bem rápido. – disse Avery. – Eu não estava querendo lutar contra um simples garoto, por isso corri. Esperava que você desistisse se não conseguisse me alcançar, mas agora vejo que isso não vai acontecer, não é?
-Com certeza não vai. – concordou Guilherme e a lâmina dourada cortou o ar, descendo sobre o homem. Errou por pouco.
Os reflexos de Avery eram bons. Ele escapou rapidamente do primeiro ataque do garoto, mas o balanço que estava ao seu lado foi estraçalhado. A trave metálica onde as correntes dos balanços são presas havia sido cortada na diagonal, deixando uma perigosa e curta estaca pontuda no chão.
-Parece-me que você é melhor do que o esperado, McKinnon.
-Muito obrig... como você sabe o meu nome?
-Ora, vamos. Você me observa há tempos, não esperava que eu não soubesse nada sobre você, não é? – uma risada cruel e alta.
-Bom... isso me surpreende um pouco, mas não muda nada.
-Tem razão, não muda nada mesmo. Eu matei sua família e você veio se vingar. É um direito seu. Na verdade, se eu estivesse no seu lugar eu faria exatamente a mesma coisa. – Deu um sorriso perversamente cruel. – Nós somos exatamente iguais.
-EU NÃO SOU IGUAL A VOCÊ! – berrou Guilherme a plenos pulmões. – Você matou inúmeras pessoas inocentes. Você nunca se importou em matar mulheres e crianças, trouxas ou bruxas, não importava. Nunca importou. Você apenas as matava. Você é um monstro. Você não é como eu. VOCÊ É UM MONSTRO! ESTOU FAZENDO UM FAVOR AO MUNDO MATANDO VOCÊ! – e atacou. Um ataque na diagonal, um na horizontal, um na vertical, uma perfuração reta com a espada, como se ela fosse uma lança. Nenhum ataque acertou Avery.
-Você está certo sobre mim. Eu matei dezenas, talvez centenas de pessoas. Nunca me importei se eram bruxos ou trouxas, eu só queria matar. Você já matou alguém, McKinnon?
-Não. – disse Guilherme entre dentes. – Mas estou prestes a fazê-lo. – Outra porção de ataques, em velocidade dobrada em relação aos primeiros. Dessa vez, Avery não pôde se desviar de todos. Um corte horizontal quase o cortou ao meio. Um corte fino e reto se abriu em seu tronco.
-Uau. Você está ficando mais rápido, garoto. Você nunca matou, não é? Eu já sabia. Depois que matar o primeiro, vai ver o quão boa é a sensação. O poder de tirar vidas é algo sublime. Você se sente um Deus. Pode tirar quantas vidas quiser. Se alguém o aborrecer mate-o. É indescritível. Você verá.
-VOCÊ ME DÁ NOJO! – Mais uma porção de ataques. Mais alguns cortes finos e longos surgiram pelo corpo de Avery. Todos superficiais. Ele sempre se esquivava no último instante. Num ataque de perfuração, ele saltou e Guilherme enterrou a ponta de Elizabeth numa árvore. Num instante, Avery havia conjurado uma adaga de aspecto letal. Enquanto Guilherme puxava a espada da árvore com força para desprendê-la, Avery apareceu atrás do garoto.
-Você não é ruim, McKinnon. Já pensou em ser um Comensal da Morte?
-Eu prefiro morrer... – respondeu Guilherme, olhando para Avery por cima do ombro, enquanto esse se aproximava.
-Imaginei que você fosse dizer isso... Ouch! O que você...? – Avery passou a mão pelo seu rosto. Um fino corte havia aparecido centímetros abaixo do seu olho esquerdo. O que acontecera foi que enquanto Avery se aproximava falando, Guilherme puxou a varinha e apontou para o Comensal, atirando um punhal mágico com o Feitiço Expulsore. Na teoria, esse feitiço seria considerado Magia Negra visto que conjurava e atirava um punhal com a lâmina envenenada, mas Guilherme não estava ligando para isso.
-Você já está morto, Avery. – Riu Guilherme, finalmente baixando a lâmina que tirara da árvore. – A lâmina que acabou de te cortar é envenenada. Você morrerá em pouco tempo. Eu vou ficar aqui apenas assistindo.
-Ora seu... – Avery teve que se apoiar em uma árvore. Parecia ligeiramente entorpecido e tonto. – Eu realmente... vou te matar.
-Isso é pouco provável, pra não dizer impossível. Você ainda tem alguns minutos de vida, então porque não senta embaixo de uma árvore e morre quieto e em paz?
-VÁ SE DANAR! – Gritou Avery e saiu correndo na direção do garoto com seu punhal em punho. Guilherme sorriu calmamente e, num movimento rápido, chutou o peito do homem em cheio. Avery voou uns dois metros e caiu no chão. O problema é que ele caiu exatamente sobre a estaca metálica pontuda que havia sido cortada do balanço. A ponta penetrou em suas costas e saiu no meio do seu peito quando caiu no chão.
-Se você tivesse me ouvido e ficado quieto, teria tido uma morte quase indolor. – Guilherme sorriu cruelmente. – Agora vai sangrar até a morte aí.
-Por fav... favor... me mate. – pediu Avery.
-De jeito nenhum. Faço questão de assistir à sua morte sem interferir. – Sorriu novamente. Seus olhos estavam vermelho-sangue.
-ME MATE!
-Não. Na verdade estou pensando em me sentar em algum lugar e apreciar isso. – Seus cabelos negros foram ganhando um tom branco e ficando espetados.
-Ora seu... – com suas últimas forças, Avery enfiou a mão nas vestes e puxou a varinha. Guilherme, por puro instinto, pois ainda segurava Elizabeth na mão esquerda, também puxou sua varinha e um apontou a varinha para o outro, ao mesmo tempo. Ficaram se encarando por um longo tempo.
-Me mate.
-Não.
-Por fav... favor... – Avery tossiu um filete de sangue escorreu pelo canto de seus lábios.
-Não.
-Então... Avada...
-AVADA KEDAVRA! – berrou Guilherme, interrompendo o feitiço incompleto do outro. O raio verde-esmeralda brilhou por um segundo entre os dois e depois bateu com força contra o peito ensangüentado de Avery. O braço musculoso, que segurava a varinha na direção de Guilherme, pairou um instante no ar e depois bateu seco contra a grama, a varinha rolando para longe dos seus dedos mortos.
Guilherme abaixou a varinha e embainhou a espada. Suspirou de leve. Fizera o que tinha que fazer. Uma lágrima rolou pela sua bochecha pálida. Quando lançara a Maldição da Morte, sentira algo dentro dele se partir. Sentia que havia algo sujo dentro dele, algo que não estava ali antes e que agora estava. Não sabia o que era e não queria saber. Iria trancar aquilo no lugar mais profundo de sua alma e deixar lá. Caiu de joelhos, ao lado do corpo do algoz de sua família e chorou. Chorou como nunca antes.

Uma torrente de lembranças não nítidas e informações invadiram a mente de Harry e num momento tudo havia acabado. Abriu os olhos. A última lembrança que assistira tivera um efeito muito forte em si mesmo e em Guilherme. Harry ainda podia vê-la claramente. Já Guilherme havia assumido a forma estranha. Cabelos branco espetados, olhos vermelhos e várias tatuagens negras arredondadas e com pontas estranhas por todas as pares visíveis, formando desenhos tribais negros por todo o seu corpo.
-AJUDE-A, RONY! – Berrou a voz de Hermione. Harry ergueu a cabeça, ligeiramente tonto como se seu cérebro estivesse sobrecarregado de informações. – TEM MAIS DELES VINDO POR ALI! AHHHHH...
-HERMIONE! – berrou Rony. – PAREM! DEIXEM-NA EM PAZ!
Harry firmou a varinha e saiu da caverna. Era noite. Não havia lua brilhando no céu e nem mesmo estrelas. Tudo que havia era um frio que penetrava no corpo, trazendo más sensações e pensamentos cada vez mais negativos. Harry sabia o que aquilo significava: Dementadores.
Caminhou a passos trôpegos pela trilha e saiu na clareira onde os amigos estavam. Hermione estava caída no chão ao lado de Susan. Ambas imóveis enquanto Rony conjurava e mantinha um patrono para protegê-los. Havia muitos dementadores, vindo de todos os lados. Incontáveis capas rumorejavam na relva, espalhando seu mal.
Harry ergueu a varinha, mas seus dedos estavam amortecidos. Parecia que havia sido drogado ou algo do tipo. Nunca se sentira mais cansado. Seu braço parecia pesar toneladas e apenas para levantá-lo, tinha que concentrar toda a sua energia. Sentiu seus joelhos tremerem e se apoiou numa árvore para não cair. Não adiantou. Seu corpo deslizou pelo tronco e ele ficou ali sentado. Juntou toda a energia que ainda possuía e murmurou:
-Expecto patronum... expecto patronum... – quase não ouvia sua própria voz e não conseguia se concentrar em lembranças felizes quando tudo o que conseguia pensar era no assassinato de Avery. Seus olhos foram ficando embaçados e começaram a pesar.
-HARRY! - A voz de Rony o chamava. Ele queria responder, mas quase não tinha forças para manter seus olhos abertos. – CUIDADO, HARRY! – Harry pela surpresa do aviso do amigo, abriu os olhos o máximo que pôde e viu uns quatro Dementadores observando-o enquanto se aproximavam de seu corpo cansado. Tentou pensar em algo feliz para conjurar o seu veado prateado, mas nada lhe veio à mente exceto a luz verde e o sangue de Avery. Seus olhos se embaçaram de novo e ele sentiu uma mão fria e pegajosa agarrar seu pescoço e levanta-lo. Podia ouvir os gritos de sua mãe e um bebê chorando, Sirius atravessando o véu com um sorriso no rosto e choque nos olhos. Tudo o que pôde ver foi o rasgo que era a boca do Dementador se aproximando da sua própria para um beijo que nada tinha de apaixonado. Harry ainda via levemente pela fresta de seus olhos entreabertos e conseguiu enxergar uma luz prateada vindo de sabe-se lá onde que acertou o Dementador que o segurava em cheio. Já que mergulhava em direção à escuridão, Harry nunca se deu conta do momento exato em que tocou o chão.

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N/A: Oi pessoal... Nem vou me alongar muito aqui... Sei que não há desculpa por ficar 6 meses sem atualizar... Desculpem msm... Só consegui terminar o cap ontem... Na verdade foram vários motivos que atrasaram a atualização tanto tempo assim: eu ia prestar vestibular e tinha provas finais, estava um caco de nervoso, passei de ano raspando, depois fiquei roendo as unhas pelo resultado do vestibular, me decepcionei com os resultados embora não fosse surpresa não ter passado, comecei o cursinho... Esse foi o resumo desses seis meses... Isso sem contar as faltas de tempo, falta de ânimo, falta de inspiração e falta de paciência que me assolaram nesse tempo... Desculpem msm... Mas a fic vai continuar sim... Pode demorar, mas eu vou postar caps novos sempre que der... Como quero seguir um curso concorridíssimo, comecei a fazer um curso de redação e preciso treinar minha escrita em narração... Essa vai ser minha desculpa para escrever a fic... Desculpem qlqr coisa... Esse foi o cap mais longo que eu já escrevi em toda a minha curta carreira de ficwriter... 12 paginas de Word... Espero que aceitem isso como um pedido de desculpas...
Até mais pessoal...

PS-Podem reclamar bastante sobre a demora, isso é, se alguém ainda lê isso... De qlqr forma, espero que gostem do cap...

PS2-Tinha me esquecido de avisar: o nome Killua Zaoldyeck e tbm a descrição que eu fiz dele são, ambos, de um personagem do anime HunterXHunter... Quem conhece sabe a qm me refiro... De qlqr forma, se quiserem procurar nas imagens do google ou no orkut, verão o garoto que tentei descrever... É isso...
Té mais...

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