Profissionais



Capítulo 39 – Profissionais

Harry, Killua e Guilherme saíram do beco onde haviam parecido. Harry não fazia a menor idéia de onde estavam e nenhum dos amigos parecia preocupado em explicar a ele. À sua frente se estendia uma verdadeira multidão, que se apertava e se comprimia à medida que caminhava pela rua cheia de lojas, nenhuma delas, até onde Harry pôde ver, vendia artigos mágicos.
-Essa é uma área trouxa. Não usem magia a menos que seja extremamente necessário. – avisou Guilherme que estava à frente dos garotos. Se virou para Killua e Harry. – Vou fazer o reconhecimento, me esperem aqui mesmo. Volto já. – e depois sumiu na multidão.
-Onde ele está indo?
-Há um restaurante bem movimentado do outro lado dessa rua. – explicou Killua apontando a multidão em movimento. – É para o B.K. encontrar o cara do Ministério lá.
-Onde estamos exatamente? – perguntou Harry expondo mais uma das inúmeras perguntas em sua cabeça.
-Algum lugar da Espanha, acho. – disse Killua vagamente. Por fim sorriu fracamente e disse enquanto enfiava as mãos no bolso. – Relaxe, Harry. Não vai demorar muito. É só um encontro para pegar informações. Logo estaremos no campo no meio de uma revigorante partida de Quadribol.
-Certo. – Mais um momento em silêncio em que Harry tentou inutilmente segurar sua língua. Por fim desistiu e soltou enquanto observavam a multidão à espera do retorno de B.K. – O que é aquela frase que você disse assim que reviu o Guilherme?
-Hã? – Killua parecia distraído ao observar as pessoas andando. – Ah, sim... "Moshimo Kono Sekai de Kimi to Boku ga Deae Nakattara"? – Riu um pouco. – Foi a última frase que o B.K. me disse antes de ir pra Inglaterra.
-E o que significa?
-É uma música. Em japonês.
-Sério? E vocês falam japonês?
-Na verdade não. – Killua deu uma risada curta quando a lembrança invadiu sua mente.

Flashback

Guilherme caminhava silenciosamente ao lado de Killua. Eles haviam acabado de descer o último degrau da escada quando Killua parou à frente do amigo e o olhou profundamente.
-Quando você vai me dizer o que houve?
-Não houve nada... – respondeu Guilherme vagamente. Parecia bem chateado com algo.
-Não houve nada? Não houve nada? A quem você acha que está enganando, B.K.? Desde que a Susan falou com você ontem à noite você está assim. Ou você pensa que eu não percebi que você não dormiu nada essa noite?
-Eu não sei do que...
-Não subestime minha inteligência, Guilherme. – pediu o garoto de cabelos branco-prateados.
-Certo. – conformou-se Guilherme, desistindo da postura que estava adotando. Suspirou fundo e respondeu ao amigo: - Ela terminou comigo.
-Isso todos já perceberam. – disse uma voz aguda sobre a cabeça deles. Ao olharem para cima o amigável fantasma chamado de Dom Petty estava flutuando sobre suas cabeças, aparentemente ouvindo toda a conversa.
-Quer fazer o favor de parar de ouvir conversas alheias? – perguntou Killua cinicamente. E depois aumentou o tom de voz para que todos que estavam no hall da escola ouvissem. – E isso vale para qualquer um, esteja vivo ou morto. – imediatamente após as palavras do garoto, um bando de garotas e um grupinho de alunos mais novos se precipitaram para fora do recinto, deixando os garotos sós com o fantasma que logo se foi também.
-E então? – inquiriu Killua querendo a continuação da história.
-Ela terminou comigo por causa do Avery. – continuou Guilherme como se não houvesse havido interrupção.
-O que o Avery tem a ver com o término do seu namoro? – perguntou Killua se sentando ao lado do amigo num dos últimos degraus da escada.
-Desde que a notícia de que ele apareceu morto saiu nos jornais, a Susan andava desconfiada... e então eu tive que contar para ela...
-Você não fez isso! – exclamou Killua. – Você contou a ela que matou aquele cara? Você tem problema?
-Eu tive que contar. Não havia outra forma. Ela descobriria cedo ou tarde...
-Que fosse tarde então. – reclamou o outro.
-De qualquer forma, está feito. Não posso voltar atrás.
-Na verdade, se você falasse com o seu tio...
-Eu não vou pedir um vira-tempo. Isso está fora de cogitação! – disse Guilherme antes mesmo que o colega expusesse a idéia.
-Qual a utilidade de ter um parente tão poderoso no Ministério se você se recusa a utilizar os privilégios? – indagou Killua inocentemente, como se estivesse colocando a idéia a uma pessoa que não falasse a mesma língua que ele.
-Nem vou discutir isso com você novamente, ok? – respondeu Guilherme se levantando.
Alguns passos depois, entretanto, Killua quebrou o silêncio novamente:
-Você quer que eu fale com ela, não é?
-Você se importaria? Quero dizer... ela sabe tudo sobre você e sua família e parece não se importar... Você não se importa, não é?
-Certo, certo... eu falo com ela, mas não se acostume...
-Ok. Estarei lá fora com o pessoal, certo?
-Aham. Tem vejo depois. – disse Killua e depois disso Guilherme saiu para o jardim. Killua subiu as escadas que haviam acabado de descer e não demorou a encontrar a ex-namorada do melhor amigo. Engajou uma conversa longa com ela e está só foi interrompida quando um grupo de cinco aurores usando vestes negras e prateadas passaram por eles, escoltando Guilherme McKinnon.
Guilherme se aproximou de Killua e Susan e enfiou um pedaço de papel nas mãos da garota e depois se virou para o amigo e disse uma única frase:
-Moshimo Kono Sekai de Kimi to Boku ga Deae Nakattara. – e por fim sorriu, sendo levado embora pelos aurores.
Susan abriu o pedaço de papel e leu algumas palavras que pareciam ter sido escritas às pressas. Killua ler por cima do ombro da garota: "Desculpe ter te decepcionado. Prometo que quando nos virmos novamente você pode me bater, gritar comigo e fazer o que quiser, desde que me deixe explicar o que realmente aconteceu naquele dia. Desculpe se te magoei, não era minha intenção e você sabe disso. Te amo. B.K.".
Assim que teve chance, Killua foi até a cama do amigo e notou que todas as suas coisas haviam sido levadas, exceto um caderno de anotações dele, onde anotava as letras de músicas das quais gostava, poemas que escrevia, entre outras coisas. Abriu o caderno que havia sido largado na cama e folheou rapidamente pelas anotações em letra caprichada. Chegou a uma página com o nome que Guilherme lhe dissera mais cedo. Era uma música. Em japonês. Killua sabia falar algumas línguas, mas japonês não era uma delas. Felizmente, Guilherme era muito perfeccionista e organizado e escrevera a tradução da letra logo abaixo da original. Killua leu o seguinte:
"Se nós não tivéssemos nos encontrado nesse mundo

Ei, se nós não tivéssemos
nos encontrado nesse mundo,
minha tola crença em sonhos
certamente teria continuado a mesma.
Obrigado, meu melhor amigo.

A hora da partida se aproxima.
Nossos caminhos seguem por diferentes direções.

Você me ensinou
a sempre continuar sorrindo, não importa como.

Ei, se nós não tivéssemos
nos encontrado nesse mundo,
minha tola crença em sonhos
certamente continuado a mesma.
Obrigado, meu melhor amigo."

Fim do Flashback


Killua sorriu com a lembrança. Ainda guardava o caderno do amigo. Piscou algumas vezes, deixando de lado o passado e voltando a observar o presente. B.K. voltava a caminhando a passos rápidos em sua direção.
-E então? – perguntou Killua.
-Aparentemente é o cara certo. Não deu pra analisar as redondezas devidamente, mas de qualquer forma vou lhes explicar o Plano B, caso algo dê errado. – Guilherme respirou fundo e passou uma mão pela testa, limpando o suor que a molhava devido ao intenso sol do meio da tarde. – O Plano A é bem simples: eu vou até lá e pego os documentos enquanto vocês me observam, me dando cobertura. O Plano B é um pouco mais complicado... se algo sair errado, quero que você, Harry, fique com o Killua o tempo todo. Ele irá cuidar de você. Se algo der errado, iremos nos separar. Eles provavelmente irão me seguir.
-Onde nos encontraremos? – perguntou Killua enquanto Harry concordava e observava atentamente a situação.
-Loja da Irene.
-Qual das Irenes? – perguntou Killua erguendo uma sobrancelha.
-A da Loja de Tricô. – disse Guilherme simplesmente. – Em Berlim.
-Ah, certo. – lembrou-se Killua. – À que horas?
Guilherme consultou o relógio e Harry fez o mesmo. Seu relógio marcava 15h27min no horário de Londres.
-São quase três e meia da tarde, horário de Londres. Nós vemos lá às cinco e meia, horário de Londres?
-Beleza. - concordou Killua. – Vamos lá, então.
Num instante, Harry se viu atravessando a multidão em direção ao restaurante do outro lado das pessoas que cruzavam a rua, carregando sacolas e pacotes enormes. Chegaram finalmente à uma grade metálica preta que separava a rua de uma pátio azulejado cheio de mesas e guarda-sóis. Várias pessoas estavam sentadas nas muitas mesas protegidas da luz solar, mas não o homem para quem Guilherme apontou discretamente.
Ele estava usando uma roupa toda preta e sua mesa não tinha guarda-sol. Mesmo assim, ele não parecia nem remotamente incomodado com o calor. Ao lado de sua cadeira havia uma pasta executiva de couro preto. Seu rosto parecia feito de mármore: apesar de jovem e bonito, não demonstrava nenhuma reação a nada. Harry, ao observá-lo, teve a impressão de que se um bando de Comensais saíssem da multidão atirando feitiços, ele sequer mudaria a expressão. Provavelmente até ajudaria os malditos, pensou Harry.
-Tem algo de errado. – sussurrou a voz de Killua da direita de Harry.
-Eu também achei isso. Só não consegui identificar o que está errado. – resmungou Guilherme também em voz baixa, do lado esquerdo de Harry.
-Esse cara é o que no Ministério? – perguntou Harry, tentando descobrir o que era aquela estranha sensação que os três sentiam.
-Me disseram que é um civil ligado às relações bruxo-trouxas.
-Não... – começou Killua. – Esse cara não é um civil... Ele é... – antes que pudesse terminar a frase, o homem sentado à mesa consultou o relógio. Impaciente, olhou na direção do bar, onde um garçom lhe lançou um olhar cheio de significado para depois olhar a multidão, desconfiado; em seguida o homem de preto olhou para o telhado de uma casa onde um homem, aparentemente consertava um poste de energia, entretanto, o eletricista também lhe lançou um olhar para depois vasculhar a multidão atrás de alguém. Foi então que o homem de preto olhou a borda de pessoas à beirada da grade e seu olhar recaiu sobre os três garotos que o observavam. – Ele é um profissional. – concluiu Killua.
-É uma emboscada. – afirmou Guilherme. – PLANO B! CORRAM! – e depois de gritar as últimas palavras, Guilherme se lançou em meio à multidão, sumindo de vista enquanto se espremia para passar por entre as pessoas.
Harry sentiu a mão de Killua agarrar seu cotovelo e puxar fortemente.
-Rápido, Harry! – berrou a voz do garoto. Enquanto era arrastado pela multidão, Harry olhou para trás e pôde ver o homem de preto de pé ao lado da mesa, observando os garotos sumirem na multidão.

***

Harry não tinha idéia de para onde iam. Só sentia suas pernas se moverem rapidamente à medida que era motivado pela voz de Killua, logo à sua frente, enquanto corriam pela multidão, pisando em pés e esbarrando em pessoas e ignorando seus resmungos de dor e protesto.
Depois de correr sem parar por uns quatro quarteirões, Killua e Harry entraram num beco sem saída e se encostaram nas paredes escuras de pedra para descansar.
-Acho que... conseguimos escapar. – anunciou Killua, meio incerto, e muito menos ofegante que Harry.
Harry apenas balançou a cabeça, concordando, enquanto encostava as costas na rústica parede de pedra e deslizava até se sentar no chão. Respirou fundo várias vezes até sua respiração se normalizar. Killua ficou de pé à entrada do beco, lançando olhares vigilantes para a rua vazia.
-Se esconda, Harry. – disse ele de sopetão.
-O que... mas...
-Tem alguém vindo. Se esconda ali atrás. – e Killua apontou para uma grande lixeira que ocupava metade do beco em que estavam.
Num instante, Harry estava abaixado atrás de uma lixeira velha, enferrujada e fedorenta. Harry encostou o rosto na fresta entre a parede de pedra e a lixeira e olhou para a entrada do beco. Pôde ver Killua ali ainda, num instante ele saltou para trás e simplesmente entrou na parede escura. Harry sentiu seus olhos se arregalarem. Era como se o garoto tivesse sido engolido pela sombra que cobria a parede de pedra.
No instante seguinte, um homem vestido roupas estranhas apareceu na entrada do beco. Ele usava um conjunto parecido com aqueles usados em antigos filmes de Bang-Bang. Ele puxou uma arma trouxa prateada de um cinto na cintura e atirou uma bola de luz na enorme lixeira enferrujada que escondia Harry. Num segundo, a lixeira se transformou um monte de poeira carbonizada. Harry, mais pelo susto do que por outra coisa, caiu para trás, a varinha rolando para longe dos dedos.
-Ora, ora, ora... Parece que eu encontrei um rato se escondendo no lixo, hein?! – sua voz tinha uma malícia esquisita para Harry. Era como se sua voz doesse aos ouvidos devido à forma arrastada de falar e também devido ao seu sotaque ligeiramente mexicano. – Você não sabe quem eu sou, sabe? É claro que não. Se soubesse, estaria tremendo agora e... eu sou O Pistoleiro. – o Pistoleiro deu um passo na direção de Harry, ao mesmo tempo em que firmava a pistola prateada na mão, pronto para atirar e foi então que Harry o viu: Killua. Poucas vezes Harry ficou tão feliz em ver uma pessoa antes.
O garoto de cabelos branco-prateados simplesmente surgiu da parede escura, como se estivesse se materializando das sombras. Ele deu um passou veloz na direção do Pistoleiro, ao mesmo tempo em que este se virava na direção de Killua, pronto para atacar. Tarde demais. No instante seguinte, Killua parara de se mover quando já estava a metros de distância do homem, perto de Harry. O homem se virou e Harry viu seus olhos arregalados de medo. Sua arma prateada deslizou por seus dedos frouxos e caiu com um tinido metálico no chão sujo do beco. Ele ainda deu dois passos antes de cair de joelhos no chão.
-Me devolva... me devolva... ele... – O Pistoleiro esticou um braço fracamente na direção de Killua e Harry finalmente viu algo. Uma mancha vermelha começava a tingir a camisa branca do Pistoleiro. Começou pequena e num instante o sangue havia empapado totalmente o peito do homem. Antes que o homem caísse imóvel no chão, entretanto, Killua se virou e mostrou o que o homem estava pedindo: na mão direita de Killua estava o coração pulsante do Pistoleiro. Ele ainda batia lentamente, mesmo a metros de distância de seu dono. Olhando de forma fria para o assassino de aluguel, Killua simplesmente fechou o punho, explodindo o órgão em vários pedaços minúsculos. E essa foi a última lembrança que o Pistoleiro teve antes de bater no chão, morto.
-Como você... – começou Harry, ainda do chão. Nessa hora, Killua se virou para ele e Harry se sentiu encarando uma serpente extremamente perigosa. Os olhos antes verdes de Killua agora estavam escuros e algumas gotículas de sangue haviam respingado em sua bochecha, ressaltando ainda mais sua palidez. Era o rosto de alguém que acabara de matar e não pensaria duas vezes antes de fazê-lo novamente. Harry simplesmente paralisou ante o olhar fatal do garoto.
Quando Killua percebeu a expressão chocada no rosto de Harry, tentou dar um sorriso e a expressão do moreno suavizou ligeiramente. Ele deveria estar com a cara impassível de assassino que fora treinado a fazer antes e depois de um assassinato, por isso o medo de Harry.
-Como você... fez isso? – perguntou Harry, finalmente se levantando do chão.
-Isso o que?
-Esse... esse... golpe especial. – emendou Harry sem saber como chamar o ato de arrancar um coração ainda batendo do peito de outra pessoa.
-Não é bem um golpe especial. Tudo que fiz foi arrancá-lo. – disse Killua simplesmente.
-Mas...
-Eu manipulei meu corpo para tornar isso mais fácil. – Killua ergue a mão direita, com a qual arrancara o coração, e seus dedos se contorceram, se alongando. Grossas veias saltaram em cada um dos dedos e suas unhas pareceram crescer e se afiar ligeiramente. No final, parecia que Killua estava usando uma luva bizarra que deixava sua mão maior e com um aspecto letal. - Mesmo que ele seja um assassino, ele ainda é um amador. Eu sou um profissional formado. - fez uma pausa e depois continuou. - Mas, meu pai faz isso bem melhor. O oponente nem sangra quando o coração é arrancado. – e então ao ver o olhar perplexo de Harry, Killua o encarou. – Guilherme não te contou não é?
-Não.
-Isso é típico dele. Minha família é uma família famosa... de assassinos profissionais. A famosa Família Zaoldyeck. Todos os membros dela são treinados desde crianças nesse ramo. Me avô é um assassino... assim como meu pai, minha mãe, meus irmãos e eu.
-Sério? – Harry não sabia o que dizer. Será que aquilo era uma brincadeira?
-Aham. Inclusive eu já tinha ouvido falar desse Pistoleiro. Era um iniciante. Acho que seu nome verdadeiro era Juan Cortez. Estava crescendo no ramo, mas ainda era muito inexperiente para confrontar um membro da Família Zaoldyeck.
-Você quer dizer que já matou muitas pessoas?
-Algumas, na verdade. Meu primeiro assassinato foi com seis anos... – Killua se aproximou da saída do beco, olhando para fora.
-Seis anos? Você está brincando... – mas Harry sabia que ele não estava brincando. Seu tom de voz era sério, embora fosse despreocupado também.
-Não, não estou. Meu pai ficou muito orgulhoso.
-Mas que papo mais chato. – A voz feminina surpreendeu tanto Harry quanto Killua que se viraram na direção da voz: uma mulher vestida toda em couro preto brilhante que estava encostada na parede do fim do beco. – A história estava interessante no começo, mas senti que ia se virar para o lado do "eu não sou compreendido pela minha família" por isso interrompi. Espero que não se importem. – a mulher sorriu brandamente e Harry notou que ela tinha uma beleza bem exótica: extremamente pálida, com cabelo e olhos incrivelmente negros e lábios pintados de vermelho com grande destreza, belas curvas ressaltadas pelo couro negro e brilhante. – E então... com quem eu irei me divertir?
Antes que Killua pudesse dar um passo à frente, Harry o fez, ocupando seu lugar.
-Harry... tem certeza disso? Ela é uma profissional.
-Eu cuido dela, vá trás daqueles que estão escondidos do outro lado da rua.
-Tem certeza que é isso que você quer? – o tom de riso de Killua era notável, talvez pelo fato de Harry ter percebido os outros assassinos escondidos fora do beco.
-Com certeza é o que quero. Vá.
-Certo. – disse Killua. Ele fez um movimento rápido para sair do beco e na mesma hora uma ponta negra do chicote voou na direção de Killua, como que para segura-lo no beco, entretanto Harry fez um movimento rápido e esticou a mão direita de forma que o chicote se enrolou em seu pulso, ao invés do de Killua.
-A sua briga é comigo. – brigou Harry, se dirigindo à mulher que segurava a ponta do chicote, enquanto Killua sumia do beco.
-Não me diga? Eu só queria manter seu amigo aqui para me divertir um pouco. Você não me parece suficiente para uma boa diversão.
-Pois esse é o segundo erro que você cometeu: me subestimar. – Harry cuspiu essas palavras com escárnio e a mulher apenas riu.
-E qual foi o primeiro? – o tom de riso era evidente em sua voz esnobe.
-Não ter fugido quando teve chance. – respondeu Harry de imediato como se esperasse pela pergunta. Enfiou a mão esquerda no bolso da calça e puxou um relógio prateado que estava preso por uma fina corrente ao seu cinto. Segurou firmemente o relógio e murmurou a senha "Tiago, Lílian e Harry". Num instante, o relógio prateado e redondo brilhou e começou a se transformar em uma espada. A espada de seus pais, presente de natal de Guilherme.
Assim que a espada se materializou completamente, Harry levou a mão direita, ainda amarrada pelo chicote, automaticamente em direção à empunhadura. A mulher que segurava o chicote firmemente o impediu com um brusco puxão. Harry, entretanto, não se preocupou. Sacou a espada com a mão esquerda mesmo, de forma que a lâmina apontava para o chão quando foi sacada. Harry sorriu quando cruzou o braço em frente ao peito, de forma que a lâmina apontasse no mesmo sentido que seu braço.
A mulher estreitou os olhos e Harry sorriu mais brandamente.

***

Killua derrubou o quarto homem no chão com a mesma velocidade com que derrubara os outros três. Todos jaziam desacordados aos seus pés e mais três homens ainda o observavam à postos, em posição de batalha.
-Vocês realmente irão querer me enfrentar? – perguntou Killua, erguendo uma sobrancelha, desacreditado. No instante seguinte todos os três homens deram o bote simultaneamente. Cinco segundos depois estavam caídos no chão ao lado dos companheiros. – Agora é só o Harry acabar com aquela mulher e podemos dar o fora daqui.
-Ah... – gemeu um dos homens que Killua acabara de derrubar. – Ele não vai conseguir cuidar dela... Ela é forte demais para um garoto qualquer derrotá-la. Ela é a Viúva Negra.
-Ah... Viúva Negra? – Foi nesse momento que Killua se virou para o beco, na qual deixara Harry, preocupado. – Oh não...
Enquanto Killua pensava em voltar para lá rapidamente um enorme embrulho preto, amarrado toscamente saiu voando do beco e caiu no chão de pedra da rua, rolando até os pés do garoto de cabelos branco-prateados. Só então Killua se deu conta de que o que ele achava que era um embrulho mal amarrado era a Viúva Negra, enrolada firmemente com seus próprios chicotes.
Harry saiu do beco no instante seguinte, uma espada presa firmemente à cintura. Parecia ileso, exceto por um feio vergão no pulso direito e um fino e quase imperceptível corte no queixo.
-Bom trabalho, Harry. – parabenizou Killua impressionado.
-Não foi nada. – murmurou Harry quando se aproximou. – Vamos dar o fora daqui.
-Certo.
Assim que Harry se virou e deu alguns passos na direção oposta, Killua executou a mulher que o observava enfurecida. Conhecia aquele tipo de gente e sabia que assim que ela se levantasse ia perseguir Harry e não pararia até acabar com ele. Tudo para defender a honra de assassina e blá blá blá. Estava cansado daquele papo.
O sangue quente da mulher escorreu pelos dedos anormalmente longos e perigosos do garoto quando ele os retirou do peito aberto da mulher. O vermelho sangue tingiu a calçada lentamente e escorreu ainda mais à medida que Harry e Killua se afastaram correndo dali.

***

Harry e Killua não tiveram que correr muito dessa vez. Ambos checavam frequentemente e chegaram ao acordo de que não estavam sendo seguidos.
Entraram em outro beco e Killua guiou Harry na aparatação. Aparentemente, no país onde eles (Guilherme, Killua e Susan) moravam, e Harry ainda não sabia qual era esse país, a aparatação era permitida a partir dos 16 anos.
A sensação de aparatar não era nada parecida com o que Harry imaginava: imaginava que a pessoa sentisse o corpo se desfazendo ou desaparecendo e se remontando depois, mas na verdade parecia era que o corpo era espremido num túnel incrivelmente pequeno. Nada agradável.
Quando Harry se deu conta, depois da aparatação, estavam num beco mal iluminado.
-Vamos logo, Harry. Temos que encontrar o B.K.
Saíram do beco e atravessaram uma rua pouco movimentada. Logo estavam à frente de uma pequena e simples lojinha de artigos de costura. Ao entrarem uma sineta estridente tocou duas vezes. Harry se surpreendeu com a loja, era bem simples e abarrotada de objetos como agulhas de costura, novelos de lã, gorros, meias e suéteres prontos. Uma velhinha estava sentada atrás do balcão e ergueu os olhos quando entraram.
-Hallo, Jungen. Was kann ich helfen? (N/A: Ela disse "Olá, garotos. Em que posso ajudar?" em alemão).
-Sie können in Englisch sprechen, bitte? – disse Killua. (N/A: Ele disse "Pode falar em inglês, por favor?" em alemão. Lembrem-se que eles estão em Berlim e que a língua original de Harry Potter é inglês).
-Inglês? Com certeza, meus queridos. – O rosto enrugado da velha se contorceu no que pareceu a Harry um sorriso bondoso, entretanto, seus olhos azuis continham um brilho que Harry não soube definir. E com esse olhar brilhantemente misterioso, ela continuou a encará-lo. – Em que posso ajudar?
-Queremos 7 agulhas de tricô, 3 pares de meias de lã e 5 suéteres vermelhos. – disse Killua.
-Oh sim. – a velha balançou a cabeça concordando. – Me esperem na sala dos fundos que eu levarei tudo em 10 minutos, ok? – e por fim a velha deu uma piscadela para os garotos.
-Excelente. Obrigado, Irene.
-Por nada, querido. Vocês sabem como chegar lá?
-Sim, sabemos. – disse Killua, sorrindo.
-Ótimo. Até mais, então.
Killua passou para a parte de trás do balcão, onde a velha estava sentada, se dirigindo ao corredor atrás dela e Harry o seguiu. Quando Harry estava quase sumindo da vista da velha, ele ouviu a voz rouca dela:
-Obrigado.
Harry parou à entrada do corredor e se virou para a velha Irene. Ela parecia muito mais idosa do que há cinco segundos atrás. Seu rosto parecia uma máscara milenar coberta por teias de aranha e seus olhos brilhavam ainda mais por trás das lágrimas que ela impedia de escaparem. Tinha certeza de que ela sabia quem ele era. De alguma forma compreendeu que ela o agradecia por estar ali, participando daquela batalha contra Voldemort. Ela tinha idade suficiente para ter visto a Primeira Guerra, onde Voldemort estava no auge de seu poder, e com certeza não queria ver isto de novo. Era por isto que ela o estava agradecendo. Por Harry estar ali. No meio de uma batalha que ele não começara. Por estar ali batalhando para acabar com aquele império maligno que ele sequer chegou a conhecer. Aquela atitude o tocou fundo. Sentiu um nó na garganta ao encarar os lacrimejantes olhos da velha à sua frente. Se forçou a pronunciar algumas palavras:
-Eu não... – os olhos verde-esmeralda encontraram os olhos azuis e ele parou. Ia dizer que ele não fazia mais que a obrigação ao impedir que aquilo tudo se repetisse, mas viu nos olhos de Irene que não devia dizer aquilo, por isso emendou simples palavras com uma voz que nem parecia sua. – Por nada. – e depois se virou, seguindo pelo corredor. Não sabia onde devia ir, mas uma porta estava aberta no fim do corredor, então Harry seguiu para ela e adentrou uma sala dos fundos.
Killua estava esperando por Harry encostado na parede ao lado da porta. Assim que o moreno passou, Killua fechou a porta com um estalo. Harry deu uma olhada na sala. Parecia uma sala dos fundos de qualquer lavanderia. Havia uma mesa quase vazia, com duas caixas grandes o suficiente para guardar uma goles cada. Numa parede do fundo, havia um cabideiro com vários suéteres pendurados. Um tapete puído cobria o chão sob a mesa e havia uma outra porta ali. Uma porta de metal com uma grande tranca que provavelmente dava na rua. E ao lado dessa porta de metal havia algo que parecia uma esteira de exercícios trouxa.
Killua se encaminhou para a esteira, subiu e apertou alguns botões na máquina. Num instante estava correndo à toda a velocidade no aparelho, enquanto apertava mais botões. Um instante depois, parou a máquina e desceu.
-Sua vez, Harry.
Harry sequer se deu ao trabalho de perguntar. Já vira muitas coisas consideradas esquisitas, mesmo para os padrões bruxos, principalmente desde que conhecera Guilherme e seus amigos. Fez o mesmo que Killua: subiu na esteira e o colega apertou alguns botões na máquina, fazendo com que Harry corresse velozmente sobre o objeto. Killua apertou mais alguns botões e Harry pôde finalmente descer, ligeiramente ofegante. Alguns segundos depois, dois clones dos garotos se materializaram à frente da porta e saíram para a rua, correndo velozmente. Killua trancou a porta e olhou para Harry para ver sua reação, no entanto Harry não se surpreendera. Murmurou apenas uma palavra:
-Útil. – Killua riu.
-Você nem faz idéia, Harry. Vamos, te conto essa história no caminho. – Killua se virou e foi até a mesa pegando uma das caixas e uma chave presa a uma plaquinha de madeira com o número 502 pintado em dourado. Harry pegou a outra caixa que estava sobre a mesa e assim que o fez, a mesa subiu no ar, juntamente com o tapete, revelando uma escada de pedra que descia para a escuridão sob a loja. Killua desceu primeiro e Harry o seguiu. Assim que passaram pela entrada, o tapete e a mesa voltaram ao seu lugar, mergulhando-os na total escuridão. Harry parou de descer as escadas imediatamente, com medo de pisar em falso e cair rolando pelos degraus escuros.
-Lumus. – disse a voz de Killua de algum lugar mais à frente nas escadas. No instante seguinte uma bolha de luz amarela do tamanho de uma bola de tênis apareceu flutuando no ar. Harry se surpreendeu dessa vez. Não era muito comum se fazer magia sem varinha, exceto talvez para B.K. e seus amigos.
A luz não iluminava muito, apenas o suficiente para garantir que ambos pudessem ver onde pisavam. Depois do que pareceu a Harry com uns 10 degraus ou mais, chegaram a um túnel. O cheiro não era agradável, mas depois de alguns minutos Harry estava tão entretido na conversa que sequer notava. Ajeitou melhor a caixa que pegara na mesa embaixo do braço e continuou caminhando atrás de Killua que os guiava com a bolha de luz. Estavam em um túnel, provavelmente do esgoto da cidade, um rio corria por todo o centro do túnel, exceto duas estreitas calçadas coladas às parede inclinadas de pedra cinzenta.
-Então... quem exatamente era aquela senhora? – perguntou Harry assim que Killua materializou a luz e desceram as escadas.
-Quem? Irene? Ah é uma partidária do nosso lado é claro. Antes de Você-Sabe-Quem cair pela primeira vez, ela ajudava refugiados e entrar e sair do país, conseguia mercadoria ilegal, poções proibidas, armas melhores, informações privilegiadas, etc...
-Então ela é... – Harry deixou a frase em suspenso, esperando que o outro a completasse, coisa que ele fez prontamente.
-Ela é uma dona de loja, Harry. É só o que a velhota é, pelo menos agora. Antes disso, a loja era só um disfarce, mas ela envelheceu e assumiu o papel. Mas ainda hoje ela negocia mercadorias proibidas no Mercado Negro e tudo o mais. É uma das fornecedoras do B.K. Quase sempre consegue tudo o que ele pede. Não se deixe enganar pelo rosto de idosa boazinha, é só encenação.
Apesar do tom definitivo na voz de Killua, Harry não achava que aquelas lágrimas era encenação. Não pareciam falsas. Sabia disso. Não eram falsas. Achando melhor mudar de assunto, disse de repente:
-E para onde estamos indo?
-Ah bom... – Killua virou uma esquina no túnel e Harry o seguiu a tempo de ouvi-lo dizer. - ...uma das rotas que eram utilizadas naquela época. Vamos sair num hotel próximo onde B.K. deve estar nos esperando. Ah, e por falar nele, que horas são no seu relógio, Harry? – Harry se aproximou da luz flutuante e checou o relógio de pulso, depois disse:
-São 17h23min no horário de Londres.
-Ótimo. Chegaremos à tempo então. – disse Killua voltando a caminhar. – Ah, e antes que eu me esqueça, cuida com esse pacote, ok? – Harry olhou para a nuca do garoto à sua frente e depois olhou para a caixa que carregava embaixo do braço.
-Você sabe o que é isso?
-Faço uma idéia. – murmurou Killua. Parou de andar ao lado de uma escada metálica e enferrujada que subia pela parede de pedra. – É aqui. Venha logo atrás de mim, Harry.
Num instante a bolha de luz amarela desaparecera e Harry sentiu, muito mais do que viu, Killua subir a escada metálica. Sua respiração foi se tornando mais distante à medida que ele subia em direção à superfície. A escada rangia e estalava assustadoramente à medida que o garoto subia. Harry ficou ali no escuro olhando para cima, esperando alguma coisa acontecer. Ouviu o colega forçar o trinco de uma porta. Parecia se esforçar ligeiramente e arfava um pouco com o esforço. Depois um tinido metálico ecoou e uma réstia de luz penetrou na escuridão subitamente, causando agulhadas nos olhos acostumados ao breu de Harry.
Killua pareceu espiar pela fresta da porta e como que confirmando que podia sair, ergueu a porta e saltou para fora. Harry olhando para cima achou que a porta ficava a uns seis metros do chão, onde ele ainda estava. A cabeça de Killua apareceu no quadrado de luz apressando Harry. O moreno não pensou muito, simplesmente firmou o pacote no braço e agarrou um degrau metálico enferrujado. Sentiu alguma coisa grudenta nas mãos e se forçou a ignorar a sensação de nojo que sentia. Começou a subir os degraus o mais rápido que pôde enquanto observava Killua no alto: o garoto de cabelos brancos olhava para os lados para checar se ninguém vinha.
Subir uma escada suja, enferrujada e velha com apenas uma mão enquanto se segura um pacote frágil na outra mão é muito mais difícil do que possa parecer, pensou Harry. Já devia estar no meio da escada metálica quando ouviu um rangido agourento do metal antigo. O rangido foi seguido por um estalo alto que ecoou medonhamente pelo túnel. O som repentino fez alguns ratos se moverem guinchando no túnel abaixo e Killua olhou na sua direção.
-Mais rápido, Harry. – mas Harry não se moveu. Teve a impressão de que se fizesse isso a escada ia se despedaçar. Suspirou e moveu um pé para o próximo degrau, a escada rangeu novamente e estremeceu. Olhou para Killua e jogou o embrulho que carregava. Felizmente o garoto tinha ótimos reflexos e agarrou o embrulho instantaneamente. Agora podendo usar as duas mãos, Harry se sentiu mais seguro. Sabia que se tentasse subir, a escada ia despencar pelo túnel. Respirou fundo e firmou as mãos no mais alto degrau que pôde alcançar. A escada estalou mais uma vez e estremeceu, começando a se inclinar para trás. Harry segurou firme e se impulsionou para a frente com as mãos. Sentiu o corpo subir alguns metros e estendeu a mão para agarrar o parapeito da porta, mas não ia conseguir. Usara pouca força, ainda faltavam uns dois metros. Olhou para a escada que passava por ele e encaixou um pé sobre um degrau dando mais um impulso. Subiu o suficiente para enganchar os dedos de uma mão na borda do parapeito, enquanto a escada cedia e se estilhaçava no túnel abaixo, fazendo um estardalhaço metálico e aquoso de pancadas contra pedra.
Sentiu as juntas dos dedos doerem terrivelmente e o sangue ficar preso na ponta de seus dedos. Sentiu seu próprio peso o arrastando para baixo à medida que seus dedos escorregavam, mas antes que pudesse despencar de vez, as mãos de Killua surgiram como se mandadas pelos deuses e agarraram sua mão. Harry não pôde evitar um enorme sorriso de gratidão e alívio, apesar da dor que sentia no ombro, por este agüentar todo o peso do corpo.
Killua o ajudou a se erguer e Harry se soltou no carpete marrom-avermelhado do corredor, ofegante. Killua bateu a porta no chão e esta, que se fundia perfeitamente ao carpete, ficou invisível a qualquer um que passasse por ali.
-Você está bem? – perguntou Killua, com um sorriso nervoso.
-Não poderia estar melhor. – disse Harry. Sentia o próprio coração bater de forma bem acelerada, mais pelo susto do que por qualquer outra coisa.
-Então vamos. Temos que encontrar o B.K. – disse Killua ajudando Harry a se levantar.
Seguiram pelo corredor e começaram a subir uma escada de madeira. Subiram até o 5º andar e depois seguiram alguns metros pelo corredor.
Harry sentiu um arrepio na espinha quando se aproximaram da última porta do corredor. O corredor inteiro estava iluminado por abajures presos às paredes ao lado de todas as portas dos quartos, exceto naquela porta. Assim que se aproximaram o suficiente da porta do quarto, Harry ouviu leves estalos e sentiu pequenas pedrinhas abaixo de seus pés. Foi então que entendeu que Guilherme já chegara e despedaçara as lâmpadas em frente à porta.
-Bem engenhoso. – sussurrou Killua e Harry teve certeza de que pensara corretamente.
Além de prejudicar a visão de um possível invasor pela falta de luz, os cacos minúsculos no chão também serviam como alarme, pois qualquer um que se aproximasse da porta fazia barulho apenas por pisar no vidro moído.
-Quem está aí? – perguntou a voz de Guilherme de dentro do quarto 502. Harry olhou para Killua, estranhando. Viu que Killua erguera uma sobrancelha apenas por ouvir o tom de voz do amigo dentro do quarto. Era um tom que Harry nunca ouvira Guilherme usar. Algo como medo, terror ou pânico.
-Guilherme, somos nós. Abra a porta. – o tom de voz de Killua era normal, mas o simples fato de o garoto chamar o amigo de Guilherme e não de B.K. já era preocupante. Harry nunca ouvira Killua chamar o amigo pelo nome.
Uma tranca girou na porta e uma fresta se abriu, mostrando uma curta correntinha, que não permitia que a porta se abrisse mais. Metade do rosto de Guilherme apareceu ali. Seu rosto estava assustado, apavorado. Sua voz tremia quando ele disse:
-São vocês mesmo?
-É claro que somos nós. – disse Harry, na sua melhor voz calma. Via-se claramente que alguma coisa estava errada.
-Abra a porta, Guilherme. – pediu Killua calmamente.
-O que aconteceu dois minutos depois que tivemos nossa primeira conversa? – perguntou Guilherme para Killua. Era um teste e os três sabiam disso.
-Você disse que não gostava de mim e me socou. Pode abrir a merda da porta agora?
A porta se fechou e a corrente correu no trilho para depois a porta se escancarar. Killua entrou rapidamente, sendo seguido por Harry. Harry sentiu a mão de Guilherme lhe empurrar pelos ombros, apressando-o a entrar mais rápido. O garoto colocou a cabeça no corredor e checou se não havia ninguém, para depois bater a porta e trancá-la com umas quatro trancas diferentes. Harry lançou um olhar preocupado para Killua, que correspondeu, antes de esquadrinhar o quarto com o olhar.
O quarto era pequeno, quadrado, com duas camas, uma em cada parede. Havia uma televisão trouxa que havia sido jogada num canto e estava com a tela quebrada. Uma das camas estava desarrumada com várias pequenas garrafas de vidro espalhadas sobre os lençóis. A porta de um minúsculo banheiro estava aberta e Harry viu que havia uma grande poça de água espalhada pelo chão.
-O que houve exatamente, Guilherme? – perguntou Killua, quando o outro acabou de trancar a porta. Só que quando Guilherme se virou para os garotos, segurava duas varinhas, uma em cada mão e apontava ambas para os garotos, uma para cada um.
Guilherme tinha um olhar febril e um sorriso maníaco no rosto. E Harry soube que se algo não o impedisse, Guilherme ia matá-los ali mesmo.

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N/A: Malz pela demora... Sei q esse cap demoro eternidades... Malz msm viu pessoal... É q foram mtas coisas, Enem ontem, vestibulares no fim do ano, estudos e tal... Mas em compensação o cap. está enorme... Aproveitem... Abs

PS-Nesse cap não há H², mas no cap q vem estou planejando varias cenas H², incluindo uma emocionante partida de quadribol e mais ação com uma divertida (pelo menos para eles) aparição de Comensais... xD
Fuiz

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