Dor e Solidão - I



O novo modo de ornanização desse cap entra hj. Achei que, assim, estava ficando cansativo demais para mim e para vcs. Estou mudando e passarei a colocar por capítulos mesmo.


***



[I]

Frio. Era o que ele sentia. E já não importava mais de onde o frio vinha: se era do chão gelado em que ele se encontrava ainda jogado, se era da rigorosa noite de inverno, nada disso importava mais, afinal grande parte deste frio se encontrava nele, vinha do seu próprio coração. Um vazio inexplicável, uma vontade de gritar que superava qualquer outra que ele já sentira na vida, e uma dor – ah, uma dor -, que ele desejava que ninguém no mundo pudesse vir a sentí-la.

Seu coração batia sem compasso algum, parecendo pronto a falhar a qualquer momento, com grandes solavancos, como se quisesse sair de seu corpo para se livrar de tudo que ele sentia. Todo o amor frustrado, toda a dor devido ao amor frustrado, todas as lembranças dos olhares de pena dela devido, também, a esse amor frustrado. Qualquer coisa que fizesse com que ele esquecesse Hermione era válida, ao menos nesse momento. Teria que pensar nele agora! Como ela estava pensando nela! Teria que levantar do chão de sua sala, levantar seu rosto, levantar sua auto-estima e seguir adiante com a sua vida, passando uma página qualquer – como Hermione – para trás.

Ela não é uma página qualquer.

É, ela é sim. É uma mulher completamente insana que me usou.

Não, ela é a mulher que você ama.

Amor!!! Amor!?!? Não sei o que é amor! E, sinceramente, não quero saber.

Claro que sabe, você a ama.

Claro que não. Amor é para pessoas sem determinação alguma, para as que se submetem aos caprichos dos outros, para as mentes fracas.

Então você sabe o que é amor. Você estava determinado a fazê-la feliz. Você se submetia aos caprichos dela para vê-la feliz.

Ah, mas eu não sou mente fraca por causa dela!

Não, isso você sempre foi.

...

Admita, você a ama.

Não vou admitir!

Já admitiu.


Livrar-se daquela voz em sua cabeça se tornara uma urgência agora. Ele estava completamente fora de si dialogando consigo mesmo. O pior era que ainda conseguia perder para si mesmo. Nem a si próprio conseguia mentir! Riu do seu estado. Mas esse foi um riso triste, frio. Um riso sem vontade, sem motivo.

Ele se encontrava num estado deplorável, largado no chão da sua sala com os olhos inchados e vermelhos, vestígios de lágrimas no seu rosto, seu coração com batidas cada vez mais fracas, conversando com ele mesmo.

Ele tinha que sair! Tinha que deixar esse momento tão difícil para trás, tinha que superar.

Quando você quis superar a morte de se pai, só conseguiu fazê-lo porque ela estava com você.

Ah, cale a boca!!!


Era demais para ele. Louco e sem a mulher de sua vida. Tendo que aturar a si mesmo 24 horas por dia. Isso tinha que mudar.

Sem força alguma para se mover, ele apenas fechou os olhos e se esforçou em pensar em algo saudável. Que não estivesse relacionado com Hermione e que não fizesse sua voz interior começar a dialogar com ele novamente.

Seus pensamentos foram direto para A Toca, sua infância.

Back when I was a child
(De volta a minha infância)
Before life removed all the innocence
(Antes da vida tirar toda a minha inocência)
My father would lift me high
(Meu pai me levantava)
And dance with my mother and me and then
(E dançava com minha mãe e eu e então)
Spin me around 'til I feel asleep
(Me girava no ar até eu adormecer)
Then up the stairs he would carry me
(Me carregava pelas escadas)
And I knew fore sure I was loved
(E eu tinha certeza de que era amado)


Nada superava aquela fase, aquela incrível fase. Seus incontáveis irmãos e sua irmã menor, a bagunça no café da manhã, mamãe louca tentando arrumar a cozinha, toda a algazarra, mamãe louca atrás de todos, brinquedos espalhados por todos os cantos da casa, mamãe louca gritando para que catássemos tudo. Enfim, a fase que toda criança deve viver, deve aproveitar.

Pensar na sua infância era maravilhoso, mas fazia um mar de outras lembranças voltar a tona a sua mente: as lembranças de seu pai.

Nada poderia ser relatado com exatidão sobre aquela casa se seu pai não se encontrasse no relato.

O cara era um gênio. Ele sorriu ao lembrar de seu pai.

Era incrível o quão parecido Ron era com ele. Como agia sob pressão, como sorria, como contava piadas nos momentos mais inusitados, como amava.

Tudo bem, ele sabia que deveria tirar Hermione de sua cabeça, mas era impossível pensar em seu pai e sua mãe sem pensar no amor que eles compartilhavam, sem pensar no amor que ele próprio um dia compartilhara.

Nada naquela época era tão relevante como agora. Para ele, enquanto criança, ver seus pais juntos era nojento, repugnante. Ria com seus irmãos quando seus pais diziam que ficariam fora por uma noite para namorar – mesmo que não entendesse muito bem. Ah, aquelas eram as melhores noites! Doces no jantar! Gui e Carlinhos tomando conta de todos os outros ou pelo menos tentando.

Ele se lembrava dessas noites. Rindo e comendo doces na sala, acabaram adormecendo e acordaram tarde da noite, com sua mãe gritando com seus irmãos mais velhos. Era engraçado ver seu pai concordar com tudo que sua mãe dizia, mesmo que ele mesmo se assustasse com os castigos que ela dava a cada um. Sempre com o coração enorme de pai, capaz de esquecer qualquer travessura e apenas rir com seus filhos. Mas, como todos – ou até melhor –, ele conhecia Molly. E inferiorizá-la na frente das crianças teria como resultado um castigo para ele mesmo.

O bom, pelo menos para Ron e Ginny, era que eles sempre saíam como as vítimas da história – mesmo que esses dois fossem os que mais se divertiam e pediam variados doces e piadas para os irmãos.

Enquanto sua mãe continuava a gritar com seus irmãos na sala, seu pai era quem ia colocar Ginny e ele para dormir, ou pelo menos fazê-los deitar. Os três sabiam muito bem que a sessão de gritos continuaria noite adentro, enquanto Fred e Jorge não parassem de contar piadas sobre a situação e os outros não parassem de rir, mesmo que não quisessem.

Ginny era sempre a primeira por seu quarto se encontrar andares abaixo do de Ron. Ele esperava, pacientemente, do lado de fora enquanto seu pai deitava-a na cama. Quando finalmente se dirigiam para o quarto de Ron, este já se encontrava exausto. Arthur pegava-o no colo e subia com ele o restante das escadas, cantarolando musicas e às vezes rodopiando, o que fazia Ron rir por ficar um pouco tonto.

Chegando ao seu quarto, laranja-berrante toda vida, seu pai deitava-o na cama, o cobria com as colchas igualmente laranja e beijava-lhe a testa.

- Pai, o que você e a mamãe fazem quando saem para namorar?

E sim, Ron também puxara de seu pai o costumeiro rubor nas pontas das orelhas.

- O que um casal faz, meu filho. – dizia ele, tentando controlar o nervosismo. Afinal, era Molly quem geralmente respondia as perguntas das crianças que necessitavam de um pouco mais de cuidado nas respostas.

- E o que um casal faz? –
Crianças. Ron sorria agora, deitado em sua sala, ao lembrar das caras e bocas de seu pai.

- Ahh, um dia você saberá. Um dia você vai casar e também vai sair para namorar. Vai jantar, vai dançar, vai brindar. Vai aproveitar todo e qualquer momento ao lado dela.

- Pai! – ele dizia, pedindo para que seu pai parasse. Aquilo realmente o enjoava. - Eu não quero casar! – ele se lembrava de falar, sempre com nojo.

- Ah, vai querer sim. Um dia você vai encontrar alguém que te completa e dará a você os presentes mais perfeitos em todo o mundo. – Arthur sorria.


Ron sorriu. Pais realmente sabem de tudo, não?

- A mamãe te completa? Ela já te deu presentes? Eu também quero presentes!

-Sim, sua mãe me completa. Você é um dos meus presentes, um dos meus sete tão queridos presentes, na verdade, um dos meus favoritos. – ele piscou para Ron. – E todo mundo, um dia, vem a ter seus próprios presentes, Ron. Você também terá os seus.

- Não vou ter não! - ele dizia emburrado.

-Ok. Se você diz. – e deixava o quarto sorrindo, olhando para o filho na cama, os olhos com um brilho incrível.

- Eu sei pai, e eu também te amo.


***

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