Mudanças, finalmente

Mudanças, finalmente



Tremendo de raiva dos pés a cabeça. Raiva do rumo que sua vida levara, raiva de quem Rony se tornara, raiva dela mesmo por deixar a situação chegar onde ela se encontrava agora. Raiva do amor que sentia, amor que a impedia de revidar, amor que a impedia de levantar a voz, de dizer verdades, amor que acabara.

Hermione se levantou do chão, achando ridículo o estado em que se encontrava. Achando sua sala ridícula. Sua casa ridícula. Seu marido ridículo. Sua vida... Mais que ridícula, medíocre.

Limpando as lágrimas do rosto – que para ela, naquele momento, se tornaram evidências de uma pessoa fraca e incapaz -, ela se dirigiu ao quarto.

Cantarolando uma música qualquer ela abriu a porta do quarto, pegou umas roupas e foi para o banheiro. Um banho. Era disso que ela precisava nesse momento, depois ela resolveria o resto. E resolveria mesmo.

Entrou embaixo do chuveiro, apoiando a cabeça na parede, pensando em como sua vida poderia ter sido diferente. Sim, ela o amava, mas colocara esse sentimento a frente de tudo em sua vida, colocara esse amor à frente de suas próprias vontades e, com isso, sumira. Tanto na vida dele quanto na dela própria.

Então a culpa é minha.

Ignorou as batidas na porta entreaberta, recomeçou a cantarolar qualquer coisa. Não queria ser interrompida, ela queria pensar. Sozinha, definitivamente.

As batidas se tornaram mais insistentes e ela pôde ouvir a voz de Ron.

- Mione...

Ignorou-as. Não era a hora, ainda não.

***

E bata a porta.

Ron sentou-se na cama, não acreditando na pessoa que Hermione se tornara. Na pessoa fútil, mesquinha, egoísta e burra, extremamente burra que Hermione se tornara.

Sentou-se na cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e a cabeça sobre as mãos. Perdido. Ele sabia, era o fim. O fim de um sonho que sempre sonhara em realizar, o fim de um sonho que se considerava incapaz de vivenciar. Era o fim de seu casamento, era o fim de uma amizade, era seu próprio fim.

E chorou.

Pois, por mais que encontrasse defeitos que odiava, ainda era Hermione. A mulher que amava, que sempre amaria.

Olhou para o lado, como se fosse achar alguma resposta, alguma ajuda e, ao invés disso, se viu mirando uma das fotos que o casal mais gostava: ele a abraçava por trás e contava alguma coisa ao seu ouvido, ela batia nele, repreendendo-o, mas ele não parava e ela não conseguia esconder o sorriso.

E sorriu.

Pegou o porta-retrato entre as mãos trêmulas e, com seu dedo, alisou o rosto de Hermione. Ela não o repreendia mais, não insistia para que lesse livros e mais livros. Ouvia tudo que ele dizia e concordava, concordava. Recolocou a foto no lugar e se virou, encarando a porta, quando ouviu que esta se abria.

Já sabia o que viria a acontecer, era sempre assim. Ela entraria, sentaria do seu lado, o olharia. Então o abraçaria, pediria desculpas e diria que o amava. E ficariam bem até a próxima briga.

Sim, ele estava certo: ela entrou.

Pegou umas roupas e foi para o banheiro.

Ignorou-o.

Ele não entendeu. Não entendeu absolutamente nada sobre a atitude dela.

Em primeiro lugar ela o ignorou, e isso não acontecia desde os tempos de Hogwarts. Seu rosto não estava vermelho, não havia nenhum sinal de lágrimas, ela parecia estar muito bem, obrigada. E cantarolava.

Com a mesma rapidez que entrou e pegou suas coisas, ela sumiu no banheiro.

E ele continuou estático, encarando agora a porta do banheiro, agora entreaberta.

E então percebeu: as coisas mudaram. E não pode deixar de sorrir.

Era esse o momento. Era esse o momento de esclarecer, de brigar, de gritar, de explodir. Era esse o momento que ele tinha de se encontrar com a verdadeira Hermione. Era esse o momento que ela passaria o maior sermão nele, dizendo que ele era um legume insensível, dizendo que ele tem a amplitude emocional de uma colher de chá e coisas do gênero.

Sorriu mais uma vez. Era essa a Hermione por quem se apaixonara. Era por essa que valia a pena lutar.

Meio inseguro do que poderia vir a acontecer a seguir, ele se levantou, caminhou até a porta do banheiro e parou. Não sabia se batia, se esperava, se entrava... Não sabia o que fazer... Tantas coisas já haviam mudado.

Bateu.

Silêncio.

- Mione...

Silêncio.

Então resolveu entrar.

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