Delícia?



A festa arrastara-se por toda a tarde e todos agora estavam se preparando para o jantar. Gargalhadas, crianças chorando, correria pela cozinha. A casa dos Weasley sempre seria a mesma: cheia e agitada.

Mas longe de tudo isso se encontrava Rony, sentado numa poltrona da sala, olhando atentamente para sua irmã e sua esposa conversando num canto mais afastado. Ele não sabia por que, mas aquele sorriso bobo de Hermione enquanto sentia o bebê de Gina chutar dentro da barriga o irritava.

Era sempre a mesma coisa: bebês. Será q ela não podia ser um pouquinho menos egoísta e pensar nele? Será que ela sempre seria a garotinha mimada e acostumada a ter tudo que queria?

Ele riu. Ela estava muito enganada se pensasse assim. Ela já tinha o máximo que ele podia dar. O amor dele. E nada mais.

Eles já tinham tudo. Eram felizes, amigos desde sempre, companheiros. Pensando bem, nem tudo... De uns tempos para cá ele realmente percebeu que não eram mais um casal. Não saíam para namorar, não se beijavam e muito menos faziam “outras coisas”. Lembrava-se da última vez que ela havia tentado algo, então ele a acusou de tentar enganá-lo para terem um filho. Não que ele achasse que ela era capaz de fazer algo desse tipo, mas ela estava estranha. Dizia sempre que o amava, que não ia deixá-lo que estaria com ele sempre. Isso o deixou preocupado. Ele já sabia de tudo isso, não havia motivo para ela ficar repetindo. A não ser que... Ela quisesse um filho e estivesse fazendo quase que “suaves” chantagens emocionais.

E ele logo cortou. Não queria filhos. Era tão difícil entender?

Mas se arrependera. Não pela decisão dos filhos, mas de afastar a sua mulher. A amiga continuava lá, como ela sempre dissera, mas a sua mulher... Aquela que ele desejava mais que tudo, aquela que ele se orgulhava de acompanhar a qualquer lugar. A sua esposa: linda, competente, cobiçada.

A mulher que ele sabia, muitos desejavam. Mas só ele tinha. Tinha... Mais uma vez o uso do passado o incomodava.

Ele se ajeitou na cadeira, abrindo um botão da camisa que usava, deixando seu peito aparecer. Estava incomodado, sufocado.

Então se lembrou de uma das últimas coisas que Harry dissera a ele. “Cuidado com a Mione.” Ele rira na hora, mesmo que nervoso. E disse ao amigo que ele não precisava se preocupar, ela não oferecia risco nenhum. Mas agora estava começando a entender: quem oferecia o perigo era ele e não ela. Era ele mesmo quem magoava Hermione, era ele quem a feria cada vez mais.

Ou não. Se ela vivia com ele, dormia com ele, acordava com ele, ela não estava magoada. Se ela dizia que queria o bem dele, que o amava, que o ajudaria em tudo, ela não estava chateada.

E então relaxou na poltrona. Ela o amava e ele não precisava de mais nada.

Olhou novamente para as duas que ainda conversavam. Hermione com a mão sobre a barriga de Gina, que sorria, feliz.

Sorriu também. Sorriu pelo futuro sobrinho, pelo orgulho da irmã e sorriu também pensando no orgulho que Harry estaria sentindo agora.

Logo o imaginou abraçando sua irmã por trás, com a cabeça recostada no ombro dela, com as mãos sobre a barriga de sete meses agora. Desde que soubera da gravidez de Gina, Harry não tirava mais as mãos de sua barriga. Ele sempre dizia que era um egoísmo o bebê ficar apenas dentro das mulheres e que por isso ele tinha que tocar o máximo possível no bebê, para ele se acostumar com o pai também.

E agora Gina devia sentir falta disso.

Remexeu-se na poltrona novamente, incomodado. E Hermione o olhou.

Se encararam demoradamente e ela voltou a olhar Gina. Mas estavam bem, ele sabia que estavam bem.

Olhou para Gina sorrindo, satisfeito com o seu casamento perfeito. E a irmã o olhou estranhamente. Ele sentiu vergonha e pena no olhar dela, mas antes de poder pensar sobre isso ela já olhava para Hermione de novo e falava algo.

Levantou. Definitivamente era a poltrona que era pequena.

Foi direto para a cozinha. E então viu sua mãe rodeada de pequenos Weasley. Filhos de Fleur e Gui, de Carlinhos e a mulher dragão – como Fred e Jorge falavam, pedindo delícias gasosas. E num canto, com cara de choro, estava Josh, sentado. Como quem não consegue participar da brincadeira.

Rony sorriu. Foi até Josh e o pegou no colo. Josh sorriu e bateu no nariz do tio. Molly olhou para o filho e sorriu.

- Rony, tome duas. Uma para o Josh e outra para o seu.

Rony ficou parado, sem ação, segurando as duas delícias gasosas na mão olhando para sua mãe. Josh esticava a mãozinha para os doces em vão, o tio não parecia estar neste mundo. E ficou batendo no nariz do tio para fazê-lo voltar ao mundo real. Depois de um tempo Rony sorriu, vermelho. Olhou para Josh e ainda sorrindo lhe entregou o doce. Entregou-o ao pai e foi procurar Hermione.

Ele queria. Queria. Era o filho deles. Claro que ele queria um filho. O seu filho, o de Hermione.

Voltou para sala a passos rápidos, o doce ainda nas mãos. E viu Gina sozinha, sentada na poltrona que ele ocupara grande parte da tarde. A poltrona também parecia pequena para ela, mas era pequena literalmente. A barriga, enorme, não deixava que ela se acomodasse, sempre procurava uma posição melhor a cada cinco segundos.

- Gina, cadê a Mione?

Então ela o encarou. E ele pode pensar, sentir. Na verdade podia sentar e estudar este olhar de tão demorado. O mesmo olhar de pena e vergonha de antes.

Mas ele não desviou o olhar. Não havia nada errado e, para ser sincero, sua irmã sempre considerava tudo que Rony fazia errado, talvez a sua existência para ela também fosse errada. Mas não se arriscou a perguntar. Ainda queria ter um filho.

- Gina, cadê a Mione? – repetiu calmamente. – Vocês estavam conversando há poucou.

- Eu sei, mas ela foi embora. – disse a garota com mais calma ainda, novamente se ajeitando na poltrona.

- Como assim foi embora? Ela nem ao menos jantou!

- Rony, você devia abrir mais seus olhos sabe. Você acha que ela deixou apenas o jantar para trás? Você estava fazendo a vida dela ficar para trás!

Ele a encarou, com raiva. Não era verdade! Eles se amavam! Ela não faria isso com ele. Não agora que ele estava pronto para esquecer tudo de ruim, agora que ele pediria desculpas para sua mulher, para sua amiga, agora que ele queria um filho...

Só amor não basta.”

Então ele jogou o doce longe, enfurecido. E aparatou.

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