Não hoje, não agora

Não hoje, não agora



A água quente do banho dela deixava que o vapor instalasse no banheiro um clima pesado. Ou seria apenas a impressão dele por saber que momento estava por vir?

Além do mais, ele também não sabia ao certo se ela estava incomodada com a presença dele no aposento, encostado à porta, respirando com dificuldade.

Na verdade, não sabia se ela notara. Não sabia se ela se importava .

Olhando para o vidro embaçado ele pode ver a silhueta perfeita da esposa, enquanto esta brincava com a esponja. Sua menina, sua mulher. Por quanto tempo ficou olhando para ela, não sabia ao certo. Sentia saudades daquele cheiro que agora podia ser praticamente tocado, que o inebriava. Saudades dos lábios dela nos seus, saudades dos seus corpos juntos, saudades das carícias, dos carinhos, dos sorrisos conjuntos, dos beijos. Saudades de quem ela era...

E, mais do que tudo, era isso que dava forças a ele. Forças que vinham das lembranças, da saudade. Forças que, ele sabia, precisaria mais do que jamais precisara. Sem dúvida aquele era um dos momentos mais difíceis de sua vida. Era sempre assim, tudo com Hermione era muito difícil, muito complicado.

Em pensar que o primeiro momento deles havia sido tão fácil...

Eu estava vulnerável por causa da morte do meu pai, estava carente, precisava de atenção... E a Mione, minha amiga, apareceu na hora certa. Mas, bem... Nós dois sabíamos que as coisas não estavam acontecendo como realmente gostaríamos que estivessem. Foi fácil porque precisávamos um do outro.

Então uma vozinha dentro dele perguntou: E não precisaram um do outro nunca mais?

Ele balançou a cabeça, como se isso bastasse para afastar aqueles pensamentos. Não precisava dar satisfações a si mesmo . Na verdade, não precisava dar satisfações a ninguém.

Mas a voz insistia: Isso tudo é porque não consegue encarar a verdade?

Mas não havia verdade! Quer dizer, não a verdade que aquela voz maluca dentro dele insinuava. Não tinha porque não encarar a verdade. Ele sabia perfeitamente que a notícia sobre pai dele abalara a ambos e que, naquele momento, eles deixaram todas as briguinhas e rivalidades fúteis de lado e foram um para o outro o que sempre quiseram. E não, eles não queriam aquilo só naquele momento mas, admita voz irritante, sabiam muito bem que eram Ron e Hermione e que as coisas nunca eram fáceis para eles. Eram felizes porque eram eles mesmos.

Felizes... Até parece.

Aquela voz estava começando a irritá-lo profundamente. Eram felizes sim! Na medida do possível eles eram felizes! Só faltavam duas coisas: seu pai e a verdadeira Mione. Duas coisas que faziam uma falta imensa em sua vida, duas coisas pelas quais ele se importava mais do que o mundo, duas coisas que eram suas bases.

E ele se encontrava perdido, há muito tempo.

Seu pai se fora e, no mesmo dia, ele pôde contar com a pessoa que se tornava, naquele momento – mesmo sem saber –, a pessoa mais importante da sua vida. No dia da morte de seu pai, seu melhor amigo, seu mentor; ele estabelecera a relação de sua vida, com a pessoa que ele mais amava no mundo: sua melhor amiga, sua garota.

Ela não sabia, mas ele estava decidido não deixar que nada a magoasse, que nada a deixasse triste, que motivo algum fizesse com que ela retirasse aquele sorriso maravilhoso de seu rosto. Ele faria tudo por ela.

Mas há muito tempo tudo vem dando errado.

E ele nem ao menos sabia motivo... Hermione estava tão mudada. Tão frágil, conformista e melancólica. E ele se esforçara tanto...

Arriscou mais uma vez olhar para Mione e pôde perceber que ela já havia acabado o banho e que ia saindo do box lentamente. Será mesmo que ela não teria percebido a sua presença ou, mais uma vez, estava ignorando-o por completo?

Andando calmamente, ela passou na frente de Rony, pegou a toalha e se enrolou nela. Soltou o coque meio frouxo que prendiam seus cabelos e postou-se a frente do espelho, que ficava a esquerda da porta onde Ron continuava recostado.

Então... Sim. Ela estava fazendo questão de ignorá-lo.

- Eu... Eu queria conversar... – ele começou meio sem jeito. – Bati na porta e você não abriu...

Ela continuava a se encarar no espelho, penteando os cabelos.

- Te chamei e você também não respondeu...

Ele a encarou, esperando uma resposta, esperançoso.

- Eu não queria. – disse ela simplesmente.

- Não queria o quê?

- Abrir a porta, conversar. Não queria te ver agora, não queria ter essa conversa agora. Não queria muita coisa que sofri e engoli por sua causa. Começo até mesmo a me questionar agora se um dia eu já tive a certeza que queria você na minha vida.

Por que ela falara aquilo? É claro que ela tinha certeza! Sempre teve essa certeza!

Não interessa se você sempre teve certeza, menina. Faça com que ele sofra tudo o que você sofreu por ele. É mais que justo.

E era isso que ela estava determinada a fazer.

- O... O quê? – ele perguntou incrédulo.

- Isso mesmo o que você escutou, Ronald. Agora, se você me der licença... – ela tentava empurrá-lo para deixar a passagem livre para que ele pudesse sair e deixá-la em paz. Já havia dito. Não queria ter essa conversa agora.

- Se eu te der licença? Você está maluca, Hermione? Nós vamos conversar sobre tudo e agora!

- Você não pode me obrigar a fazer o que eu não quero! – disse elevando o tom e deixando suas bochechas se avermelharem.

- Você não quer salvar esse casamento? É isso? Não quer ter a única conversa que pode fazer efeito?

- Você só pode estar brincando... – e começou a rir, fazendo com que Ron se perdesse na própria raiva. – Primeiro: você chama isso de casamento? Porque, pra mim, já deixou de ser há muito tempo. Segundo: salvar? Quem te disse que eu quero salvar “isso”? – disse indicando a si mesmo e a ele.

- Hermione, eu te amo, você sabe dis...

- Não me interessa quem você ama ou deixa de amar. – disse ela secamente o encarando com indiferença.

Aquele olhar bastou para fazer com que ele se sentisse pior que sempre e, mesmo que inconscientemente, se viu voltando ao dia da morte do seu pai: o dia que se encontrava sem sua base e não havia colo algum. O dia que então, milagrosamente, Hermione se fez presente na sua vida. Realmente presente.

Mas, e agora? Era sua base que estava indo embora. Mais uma vez ele se via perdido e agora, com certeza, não haveria ninguém pronto para ajudá-lo.

- Não faça essa cara de quem sente por isso, Ronald. Você procurou.

- Não! É claro que eu não procurei por isso! – disse ele quase rindo pelo seu próprio desespero.

- Não? Você tem certeza? – disse ela como se estivesse ensinando uma criança a pensar, analisando o seu próprio erro. – Será que você está tão mal assim que nem ao menos se recorda do que disse para mim na sala, agora há pouco?

- Lembro, claro que lembro, mas aquela não era você, Mion...

- Pelo amor de Merlin, Ron! Cale a boca! “Não era você.” Francamente!

Ron se assustou com a atitude dela. Ficou quieto, surpreendendo até mesmo Hermione.

- O que foi? Percebeu o quão ridículo foi o que você falou agora? – disse mal escondendo um sorriso de triunfo.

- Não...

- Então o que foi? Realmente viu que está perdendo seu tempo discutindo comigo?

Ele ignorou. Ela queria irritá-lo. E sim, estava conseguindo, mas ele não iria demonstrar. Percebendo como era realmente interessante o vapor d’água em contato com a pele, deixou Hermione falando.

- Ou então viu que você não tem argumentos...

Isso faz cócegas, mas irrita. Vaporzinho engraçado esse...

- Ou simplesmente percebeu que sempre foi egoísta demais e nunca se importou com os sacrifícios que as pessoas faziam por você?

Ah, não. Ela estava indo longe demais!

- VOCÊ ESTÁ MALUCA!

E, para o seu próprio espanto, ele viu que ela ria. Satisfeita.

- Estou, é? Prove. – e veio se aproximando de Ron, com um tipo de olhar que ele não via há muito tempo dentro daqueles olhos castanhos. Um olhar de desejo.

Ah, e como ele também a desejava. Mas não havia momento menos propício.

Sentia tanta falta daquela pele, do cheiro dela. Dos cachos perto da nuca, das mãos sempre frias. Dela...

Sentiu quando ela começou a provocá-lo mais ainda: a respiração quente dela no seu pescoço, as pequenas mordidas distribuídas pela extensão da orelha.

- Diz, Ron... Por que eu sou maluca?

E aquela voz. Aquela voz propositalmente sexy, não mais que um sussurro, ao pé de sua orelha.

- Porq... Mione, Mi-... Pára com is.... Hum..... – ele mal conseguia formular as palavras e, se conseguia, mal as pronunciava. Era impossível se controlar, querer se controlar. Seu corpo pedia por mais, desejava mais. Há muito tempo.

Sem pensar, ele segurou os pulsos finos dela, virou-a e a encostou na porta. Encarou-a. Nada naquele olhar mudara, ainda sentia todo aquele fogo dentro dela arder e, tinha certeza, seu olhar não deixava de transparecer menos.

Beijou-a. Louca e insanamente. Todos os sentimentos embaralhados na sua mente, tudo às avessas, indecifrável. Pensava em tudo e ao mesmo tempo não conseguia pensar em nada. Toda a raiva que ela estava fazendo com que ele sentisse estava agora camuflada pelo desejo que ela implantara nele...

E eu realmente não sei se isso é muito ruim ou muito bom.

Suas mãos agora percorriam a extensão da toalha que a envolvia, procurando pela pele dela. Os beijos estavam cada vez mais quentes, ousados e provocantes.

E então, assim como tudo começou, tudo acabou.

Ela o empurrou, olhou para ele com repulsa e se afastou. Deixando-o mais confuso que antes.

- O que foi, hein? – perguntou ele incrédulo.

- Você ainda pergunta o que foi? – ela disse ainda mais incrédula. – Eu sabia que podia esperar esse tipo de atitude, vinda de você... Como se tudo estivesse nas mais perfeitas condições e como se fôssemos mais um casal apaixonado loucos de desejo, se agarrando por qualquer canto da casa!

- A gente pode continuar na cozinha... – ele disse sarcasticamente. O que não foi muito bom, como ele percebera. A raiva dela pareceu aumentar mais ainda.

- Eu não estou brincando, Ronald!

- Então por que essa provocação?

- Já disse! Para ter certeza de que você não mudara, de que você não passa de um egocentrista!

- O que você queria?? Que eu continuasse a discutir com você?? Que eu ignorasse seu corpo colado ao meu? Porque Mione, mesmo que você não se interesse, eu ainda te amo e ainda te quero. – e então ele abaixou a cabeça derrotado. Ela não era maluca, era mais que isso. Era completamente perturbada. Mulheres.

Ela ficou em silêncio. A voz que antes dizia com toda a certeza do mundo para fazê-lo sofrer, soava cada vez mais baixa em sua cabeça.

Provocara porque queria senti-lo, provocara porque queria saber se ele ainda a desejava, mas, mais que tudo, provocara porque não agüentava mais a distância que os dois haviam definido entre si. Queria quebrar as barreiras, tê-lo para si. Não que o amasse.

Porque eu não amo.

Mas porque necessitava dele naquele momento, como mulher.

E então ela voltou à realidade. Viu-se diante do desejo e da razão. E ela sempre fora racional...

- Mione, escuta... Eu não sei o motivo para toda essa sua raiva. Eu sei que eu fui um grosso na sala, mas eu não agüentava mais te ver submissa, chorando pelos cantos. Aquilo estava acabando com você, comigo, com a gente. Eu gritei aquilo tudo porque queria que você reagisse, queria que você se defendesse, queria você de volta... A Hermione que eu conheci e me apaixonei. – ele não a olhava, encarava os próprios pés como se assumir aquilo fosse reviver cada coisa que haviam passado.

- Você esqueceu de mim, Ron...

- Como você tem coragem de falar isso? – e encarou-a - Mione, pelo amor de Merlin... Eu... Eu... Olha, nem se eu quisesse eu conseguiria esquecer você.

- Não é verdade! – ela percebeu que seus olhos começavam a ficar irritados, lágrimas queriam correr pela sua face, mas ela não queria demonstrar nenhuma fraqueza. – Você morreu quando seu pai morreu. Não queria nada, não saía para nada, não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém. E eu não fiquei fora disso... Parecia que você só me aturava. Que eu era alguém que apenas dividia a casa e a cama com você. Não conversávamos mais, não ríamos mais... Por Merlin Ron, deixamos de ser um casal há muito tempo! Deixamos tudo acabar!

Ele a encarou, com lágrimas nos olhos.

- Deixamos nosso amor acabar?

- A questão não é essa, Ron... – disse ela. E ele percebeu que ela queria mais que tudo fugir do assunto.

- É mesmo? Então qual a questão? – ele perguntou, começando a se irritar com a situação.

- A pessoa que você se tornou quando perdeu seu pai!

- Ah, ok. Desculpa Hermione, se você ainda tem um pai e pode contar com ele para tudo!

- O quê?? – ela perguntou incrédula. – E você só tinha ao seu pai? E seus irmãos, amigos, e eu, Ron??

- Você mudou.

- Por sua causa! – disse como se fosse óbvio. – Eu ficava tão triste por te ver trancado em casa, apenas lembrando do seu pai. Sua vida continuava, será que era difícil perceber? Você estava acabando com a relação que havia construído com todos... A relação que tinha comigo...

Ela não conseguiu encará-lo. As lágrimas desciam freneticamente pelo seu rosto agora.

O silêncio fazia os dois se sentirem ainda mais nervosos, apreensivos. As respirações descompassadas, os olhares furtivos e pensamentos complexos. Mas nenhuma palavra.

Ron se encaminhou até o espelho, mirou seu próprio reflexo e abaixou a cabeça com as mãos apoiadas na fria pedra de mármore branco da bancada*. Suspirou.

Tudo estava errado. Ela estava certa, ele havia esquecido não só dela e dos outros, mas de si mesmo. E ela o tempo todo preocupada... Agüentando ele dizer que era puro egoísmo, que ela não via como ele sofria... Como pôde ser tão cego e injusto?

Virou. Ele tinha que encará-la, tinha que assumir o erro, se desculpar.

Arriscou olhar para ela. Ela mantinha o rosto sério, encarando-o. E então, inesperadamente, foi em sua direção e abraçou-o.

Ele sorriu. Abraçando-a de volta, feliz com a cumplicidade que tinham.

- Mione, eu...

- Shhh. Não precisa... – ela o olhou com um sorriso fraco.

Ele não pôde deixar de sorrir, as coisas finalmente estavam começando a dar certo.

- Mione... Eu... Bem, antes de vir para casa, er... A mamãe me deu uma delícia gasosa...

- E você voltou a se criança! – disse ela sorrindo, interrompendo-o.

- Não, escuta. – ele disse rindo. – Então, ela me deu o doce... E bem... Disse que era para o nosso filho. E... O que você acha?

O que aconteceu depois disso, ele realmente não esperava: ela se afastou dele, mordendo o lábio inferior, encarando o nada.

- Ei, Mione... – ele a chamou, ainda rindo.

- Ron, por favor... Não misture as coisas. – ela disse. Seria impressão dele ou ela realmente evitava encará-lo?

- Como assim “não misture as coisas”? Eu... Nossa, eu realmente pensei que depois de tudo que passamos hoje, tudo que gritamos, desabafamos, choramos tivesse deixado que nos dois nos entendêssemos, mas... Não foi isso que aconteceu, não é mesmo? Pelo menos não para você... – completou ele decepcionado e se achando realmente um idiota por, pelo menos um minuto, ter achado que tudo iria ficar bem.

- Ron... Olha, eu vou ser bem sincera com você. Um filho nosso foi tudo que eu sempre quis...

- Então! - ele disse novamente esperançoso.

- Não, escuta... Ron. Eu... Eu não me sinto preparada pra criar um filho. Não depois de tudo que passamos, pelo que eu escutei. Não estou falando que a culpa é sua, é porque simplesmente não dá mais.

- Tudo bem, eu espero. Vou esper...

- Não, Ron. Não dá mais. Não dá mais para continuar.




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E aih? O que acharam??

Wow! O que foi minha demora, hein????
Mas valeu a pena! Esse cap tah realmente significativo, grande e com muitas respostas!

Tbm to mtoooooooo feliz pq consegui uma beta q eu adoooooro!!! Thiis, beijão!!! \o/

Bom, acho q algumas pessoas vão me bater ao final do cap, mas...
Ngm agrada a todos, neh?? =b

* N/A: essa historia de bancada foi sinistro. rsrs Eu não lembrava o nome da parada e minha beta (ai, q orgulho), acha q eh esse mesmo! rs Mas, se não for, eh akela pia com o armario embaixo... hauahuah

Espero q tenham gostado e comenteeeeeeem!! ^^

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