Uma Nova Esperança



Antes do Amanhecer
Uma Nova Esperança

Escrito por Snarkyroxy
Traduzido por BastetAzazis
Beta-read por Ferporcel

Sumário: Um novo semestre em Hogwarts, um novo ano e uma nova esperança.

DISCLAIMER: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só gosto de pegá-los emprestado para brincar com eles.

* * * * * * *

Capítulo 22: Uma Nova Esperança
Na manhã seguinte, tornou-se aparente para Hermione que, embora a maioria da escola não soubesse do que acontecera com ela e sua família no Natal, isso não era nenhum segredo para um certo grupo de sonserinos.

Assim que entrou no Salão Principal para o café da manhã, Crabbe a chamou em voz alta:

– Teve um bom Natal, sangue-ruim?

O grupo em volta dele riu descaradamente, e Hermione se agarrou a Harry e Rony para impedi-los de ir para cima dos sonserinos.

– Não vale a pena – ela disse por entre dentes cerrados, empurrando seus dois amigos para a mesa da Grifinória. Podia sentir sua própria fúria borbulhando logo abaixo da superfície, mas não havia sentido em causar uma cena. Mesmo assim, ela odiava o fato de que eles estavam exultando abertamente o que acontecera.

– Eu aposto qualquer coisa como o pai dele era um deles na sua casa – Rony disse duramente, espalhando geléia na sua torrada com tanta força que a faca atravessou o pão.

– É – Hermione murmurou, atacando sua própria torrada com menos gosto.

Ela olhou de relance para a Mesa Principal quando levantou a torrada até a boca e ficou surpresa ao ver Snape presente, segurando uma caneca fumegante entre as mãos enquanto observava o mesmo grupo de sonserinos. Os olhos dele vacilaram na direção dela num olhar questionador, mas ela balançou a cabeça levemente e desviou o olhar. Mais abaixo na mesa da Sonserina, longe da multidão rouca em volta dos filhos de Comensais da Morte, ela nem percebeu Draco Malfoy olhando repetitivamente de Snape para ela.

Um instante depois, ela chegou à sala de aula de Poções sozinha, tendo deixado Harry no Saguão de Entrada discutindo quadribol com os dois batedores da Grifinória.

A porta da sala estava fechada, e o único outro aluno presente era o Malfoy, recostado casualmente contra a parede de pedra do corredor.

– Granger – ele disse assim que ela parou a uma distância curta dele e colocou sua mochila pesada no chão.

– Malfoy – ela disse formalmente, olhando de relance para trás no corredor na esperança que outros alunos não estivessem distantes. Não havia ninguém a vista.

Depois de um momento de silêncio, o loiro disse casualmente:

– Eu me perguntei se você voltaria neste semestre.

Hermione virou-se para encará-lo, os olhos estreitos.

– É uma pena desapontá-lo, Malfoy – ela disse friamente. – Seu pai deve ter ficado terrivelmente desapontado por não poder entregar o planejado, hum, como você chamaria? Presente de Natal?

Pontos irritados apareceram no alto das bochechas do Malfoy, mas ele não disse nada.

– O quê? Nenhum insulto hoje? – ela debochou. – Nada de sangue ruim ou alguma outra variação imunda?

Malfoy suspirou alto e disse:

– Francamente, Granger, quando foi a última vez que eu a chamei assim?

– Eu... – A réplica morreu em seus lábios quando ela percebeu que não conseguia realmente se lembrar da última vez que ele a chamara de sangue ruim. De fato, fora as escassas reuniões com Dumbledore que requeriam a presença tanto do Monitor quanto da Monitora Chefe, ela não conseguia lembrar sequer da última vez que ele falara com ela. Estranho, já que ele sempre estivera pronto para insultá-la nos primeiros anos.

– Ah, é verdade – ela disse numa compreensão simulada. – Você provavelmente deixou de insultar sangues-ruins. Seguindo os passos do seu pai e matando-os ao invés disso, não é?

O rosto pálido de Malfoy perdeu ainda mais cor, e ele se aproximou de Hermione, seus olhos cinza perfurando os dela.

– Eu não sou o meu pai, Granger – ele sibilou. – Então não venha até mim toda nobre e poderosa para falar de preconceitos se você não sabe reconhecer isso.

Hermione olhou fixo para ele, confusa, e ele se afastou dela, voltando para sua posição recostada contra a parede.

– O que você quer, Malfoy? – ela perguntou finalmente. – Por que esse papel de menino bom de repente?

Ele abriu a boca para responder, mas então a fechou, e Hermione ouviu um pigarro atrás dela. Ela se virou e seguiu o olhar de Malfoy até Snape, que estava parado a uma curta distância com os braços cruzados.

– Srta. Granger, Sr. Malfoy – Snape disse calmamente. – Eu realmente espero que o Monitor e a Monitora Chefe não estejam brigando em público. Isso não serve como um bom exemplo, não é?

– Não, professor – Hermione disse. Malfoy não respondeu, e Snape franziu levemente a testa para o sonserino antes de passar pelos dois para abrir a porta da sala de aula.

– Você primeiro, Granger – Malfoy disse, um pouco educado demais. Hermione olhou feio para ele e entrou na sala a passos largos, sentando-se na sua mesa de sempre, próxima ao fundo da sala. Malfoy a seguiu e passou por ela até sua própria mesa na frente da sala, seguido por Snape, que lhe dispensou um olhar peculiar quando Malfoy estava virado de costas.

Ela o ignorou, mas então, quando ele estava sentado à mesa na frente da sala, disse:

– Professor, vamos começar alguma coisa nova hoje?

A turma havia completado o projeto da Poção Polissuco uma semana antes do Natal e passado as aulas seguintes estudando a teoria das poções enfeitiçadas ou, como Hermione se referira a elas brincando uma noite no laboratório: “Poções que realmente precisam de movimentos tolos de varinha.” Snape não achara graça.

– Paciência, Srta. Granger – o mestre de Poções zombou. – Certamente você pode esperar cinco minutos até o resto dos seus colegas chegarem.

Malfoy riu, e Hermione abaixou a cabeça, mas não envergonhada pela zombaria do professor. Ela o fez para esconder seu sorriso malicioso ao ver como ele ainda era convincente ao insultá-la.

– Como foram suas férias, professor? – Malfoy perguntou alto enquanto o resto da turma começava a aparecer.

A expressão de Snape não entregou nada enquanto respondia:

– Aceitável, Sr. Malfoy. Um tempo longe de adolescentes idiotas é sempre um bônus.

Hermione quase não conseguiu não rir abertamente daquele insulto dissimulado, e se recompôs quando o último aluno, Harry, entrou na sala, tomando seu lugar relutantemente ao lado de Malfoy, e Snape começou uma breve revisão do que eles já tinham aprendido sobre poções enfeitiçadas até então.

– O termo "enfeitiçada" é enganoso no preparo de poções, já que a maioria dos feitiços são encantos relativamente simples que requerem pouco do poder do encantador – Snape explicou, parado na frente da sala com os braços cruzados. – Poções enfeitiçadas, entretanto, requerem muito mais concentração e a habilidade de focalizar propriamente sua magia. O processo pode ser exaustivo, mesmo para um bruxo ou bruxa bem preparado, e é ainda mais difícil devido a necessidade de encantar usando a mão menos acostumada à varinha. Alguém pode me dizer por que é assim?

Hermione levantou a mão, assim como Malfoy e, para sua surpresa, Harry.

Snape também pareceu vagamente surpreso por um momento, antes de dizer:

– Bem, Sr. Potter, vamos ver se você realmente andou lendo seu livro. Vá em frente.

– Você tem que usar a mão da varinha para adicionar ingredientes à poção – Harry respondeu –, e algumas poções enfeitiçadas requerem que a adição dos ingredientes e a invocação dos feitiços ocorram ao mesmo tempo, então você tem que usar as duas mãos.

– Uma resposta parcial – Snape comentou, e Hermione podia imaginar o olhar mortífero do Harry. Na verdade era uma resposta muito boa.

– Alguém tem alguma coisa a acrescentar? – ele perguntou.

Desta vez, Hermione foi a única a levantar a mão, e Snape assentiu na direção dela.

– Muito bem, Srta. Granger?

– Os ingredientes devem ser adicionados com a mão da varinha porque esta é a sua mão preferencial, a que você escreve, e é mais firme que a outra, a não ser que você seja ambidestro. Poções enfeitiçadas geralmente apresentam requerimentos mais complexos em termos da adição dos ingredientes também, tais como distribuí-los equivalentemente, por isso você precisa da mão mais firme possível. Os feitiços, entretanto, embora sejam complexos em si, precisam apenas ser direcionados para dentro do caldeirão, o que é possível até mesmo com sua mão não preferencial.

– Uma explicação concisa – Snape comentou, embora não foi tão longe a ponto de conferir pontos.

– Então – ele continuou –, devido a precisão requerida nessas poções, vocês vão novamente trabalhar com um parceiro da minha escolha.


Hermione podia quase ver Harry se afundando mais no seu lugar, até Snape acrescentar:

– Um parceiro diferente do último projeto.

Harry endireitou-se no lugar quando Snape começou a parear a turma. Enquanto os alunos se mexiam em volta dela para se sentarem com seus parceiros, Hermione teve uma leve suspeita de que estava sendo deixada por último por alguma razão, uma suspeita que foi confirmada quando Snape dobrou o pergaminho com os nomes e disse, com um leve sorriso malicioso:

– Srta. Granger, você fará par com o Sr. Malfoy neste projeto.

Hermione fuzilou Snape com os olhos enquanto pegava sua mochila, livro e pergaminhos e foi sentar-se ao lado do seu novo parceiro. Malfoy olhava feio para o Snape também, aparentemente não satisfeito com seu segundo parceiro grifinório em tantos projetos.

O restante da aula foi passado tomando notas da complicada Indicii Memoria, uma poção usada para tirar as memórias de quem a bebia do subconsciente para o consciente para que pudesse ser extraída para uma Penseira. A poção era geralmente utilizada para capturar memórias reprimidas de alguém traumatizado para ajudar na captura e condenação de seus agressores. Apesar da sua potência, não era forte o suficiente para extrair memórias depois de uma Obliviate bem lançada, embora um feitiço de memória lançado com pressa pudesse ser quebrado depois do uso prolongado da poção.

Mesmo sentada ao lado do Malfoy, ela conseguiu evitar conversar com ele pelo resto da aula e saiu rapidamente com Harry assim que o sinal tocou. Ele parecia mais feliz com seu parceiro, Ernie MacMilan, e aquilo só serviu para piorar o humor de Hermione.

Depois do jantar naquela noite, Hermione ainda estava irada quando seguiu seu caminho para o laboratório. Ela bateu a porta da passagem secreta um tanto forçosamente, ganhando uma sobrancelha levantada de Snape, que estava sentado à sua escrivaninha corrigindo redações, com uma pena de tinta vermelha em mãos.

– Não me venha com essa sobrancelha levantada, Severo Snape – ela disse furiosa. – O que você estava pensando, me juntando com o Malfoy? Não passou pela sua cabeça que o pai dele tentou me matar durante as festas?

– Snape guardou a pena e recostou-se na cadeira, considerando-a com a testa franzida.

– O Draco Malfoy não é o pai dele, Hermione.

Ela se sentou, sem ser convidada, numa cadeira oposta ao professor.

– Ele me disse a mesma coisa no corredor esta manhã, logo antes de você chegar.

– Mesmo? – Snape realmente parecia surpreso com o que ela disse.

– Talvez seja duplamente verdade, então.

– Dificilmente. Ele estava apenas me alfinetando para descobrir o quanto eu estava perturbada pelo que aconteceu no Natal.

– Estava? – Snape perguntou, sobrancelha erguida novamente. – Ou estava genuinamente tentando manter uma conversa civilizada com você?

Ela bufou.

– Esse dia ainda está para chegar. A única coisa civilizada foi que ele se conteve de me chamar de sangue ruim.

– Hummm – Snape disse descompromissadamente e pegou sua pena de novo.

– Mas isso ainda não responde minha pergunta original, mesmo que você tenha tentado mudar de assunto. Por que eu tenho que trabalhar com ele?

– Ele e o Sr. Potter trabalharam admiravelmente bem juntos, dada a animosidades deles no passado – Snape comentou. – Eu não esperaria menos de você. Chame de outro exercício de relações inter-Casas.

– É um pouco tarde para isso, eu acho – ela murmurou. – Trabalharmos juntos não vai mudar a atitude dele comigo, ou nascidos trouxas em geral. Provavelmente ele já tem a marca no braço para provar isso.

A expressão de Snape ficou sombria.

– Draco Malfoy não tem a Marca Negra – ele declarou.

– Ainda – Hermione adicionou. – É só uma questão de tempo.


– E o que você quer que eu faça, Hermione? Sente com ele para uma conversa, declare minhas verdadeiras lealdades e lhe diga que há outro caminho além do que o pai dele escolheu?

– Claro que não – ela disse. – Ele iria direto para o pai dele e você estaria morto. Ele provavelmente age desta forma por ordem do pai para tentar atraí-lo para uma conversa dessas, se Lúcio Malfoy está tão desconfiado como você diz.

Snape recostou-se novamente, coçando o queixo distraidamente com uma mão.

– Talvez – ele disse vagarosamente. – Entretanto, Draco tem se esforçado conscientemente desde o último verão para ser civilizado, se não francamente agradável, com você; alguém a quem ele odiava abertamente e ridicularizava desde o primeiro ano. Você nunca se perguntou por quê?

Hermione bufou. – Você realmente acha que os esforços dele são sinceros?

– Sim, eu acho.

Ela parou então, olhando incrédula para o mestre de Poções.

– Por quê?

Snape suspirou.

– Um pressentimento, mais que qualquer outra coisa – ele admitiu.

– E você confiaria nos seus instintos acima de sete anos de insultos, maldições e a influência do pai na percepção dele?

– As pessoas mudam, Hermione – ele a lembrou. – Até mesmo aquelas que aparentemente estão a caminho da ruína. Não é fácil virar as costas para tudo que você conhece ou foi ensinado, mas pode ser feito.

Ela teve a sensação que o mestre de Poções não estava mais se referindo somente ao Malfoy.

– Eu sei que pode ser feito – ela disse intencionalmente. – Eu só... Eu tenho dificuldade em acreditar que Malfoy seria alguém que faria isso sem um evento significativo que mudasse sua cabeça.

– Talvez este evento já aconteceu – Snape disse e, ao ver o olhar curioso dela, elaborou: – Como eu disse, Draco ainda não tem a Marca, entretanto ele teve a permissão de comparecer à uma convocação no verão passado e foi testemunha de alguns dos... divertimentos... dela. Você sabe do que estou falando?

Ela assentiu com a cabeça, sentindo levemente enjoada como sempre se sentia quando ele falava de tais coisas.

– Eu acredito – ele continuou – que ele não ficou tão entusiasmado com o que viu quanto nos fez acreditar. Ah, ele tinha uma expressão corajosa e aplaudiu a criatividade do pai, se prostrou diante do Lorde das Trevas e proclamou seu desejo de servir apenas a ele, mas você notou que algumas coisas mudaram desde que ele voltou para a escola este ano?

Hermione se lembrou do café da manhã naquele dia e na multidão de sonserinos rindo com desprezo.

– Ele não estava sentado com Crabbe e Goyle nesta manhã – ela refletiu, e Snape assentiu de modo aprovador seu discernimento.

– Sim – ele disse. – Nem tem andado com estes jovens durante todo o ano, se você se preocupou em notar.

Ela não tinha notado, principalmente porque tinha poucas aulas com os dois pesados sonserinos, e raramente prestava muita atenção neles ou no Malfoy quando os via fora das aulas.

– Mas... – ela disse vagarosamente quando algo lhe ocorreu. – Você disse, quando o Goyle me atacou no corredor, que havia outros sonserinos escondidos por perto...

– E você automaticamente assumiu que eles fossem o Sr. Malfoy e o Sr. Crabbe – ele completou.

Ela baixou a cabeça, percebendo que sua suposição fora precipitada.

– É compreensível – ele comentou –, dada sua história com o trio, entretanto foi também uma suposição infundada. Não, Draco não estava presente na hora do ataque. Apesar do que você possa pensar, ele tem orgulho no seu papel como Monitor Chefe e não seria tão tolo a ponto de arriscar essa posição com tais ações.

Hermione ficou sentada silenciosamente por um momento enquanto o mestre de Poções pegava sua pena de novo. Malfoy estava diferente aquele ano; não havia como negar, agora que ela pensava a respeito. Ela estivera tão preocupada com suas próprias notas, o bem-estar de seus amigos, e agora, com seu trabalho com Snape, para pensar duas vezes sobre o Monitor Chefe, mas ele certamente não era o moleque imaturo e boca suja que ela conhecera nos últimos anos.

– Você acha que ele está mudando de idéia, então? – ela perguntou finalmente.

– Eu não sei – Snape disse, continuando a marcar cruzes vermelhas furiosas numa redação de um aluno desafortunado. – Não há como sabermos a não ser que ele fale com alguém, e esse alguém certamente não serei eu; nem se ele estiver considerando tomar um rumo diferente do que ele pensa que eu segui.

Hermione olhou para a cabeça baixa de Snape, seus cabelos pretos absorvendo a luz da lareira ao invés de refleti-la, e uma compreensão a atingiu.

– Por isso eu estou trabalhando com ele em Poções – ela mencionou. – Você espera que ele venha a confiar em mim e falar comigo, se estiver procurando uma saída para não se juntar aos Comensais da Morte.

– Dez pontos para a Grifinória – Snape murmurou, marcando um último grande D no pergaminho antes de colocá-lo de lado junto com a pena. – Ele e o Sr. Potter trabalharam muito bem juntos na aula, apesar do ódio mútuo, e eu esperava que uma associação a mais com outros alunos fora da Sonserina possa encorajar o Draco a considerar todas as suas opções.

Hermione assentiu com a cabeça. Era uma boa idéia, agora que via as razões do mestre de Poções. Ela disse isso, acrescentando:

– Ainda assim, você podia ter me precavido.

– Ah, mas aquele olhar petulante que você me deu foi impagável – ele sorriu maliciosamente.

Ela se irritou e foi para o laboratório, a interjeição divertida dele a seguindo.


* * * * *

Duas noites depois era Véspera de Ano Novo, entretanto, sendo no meio da semana, muito pouco fora planejado para as festividades. A maioria dos alunos estava nas suas salas comunais depois das nove, banqueteando-se num jantar especial, cortesia dos elfos domésticos, enquanto esperavam para a contagem regressiva para o ano novo.

Hermione, como sempre nas noites de quarta-feira, estava no laboratório do Snape, preparando uma nova base para o antídoto da Poção Cruciatus que ele tinha que entregar para Voldemort no próximo sábado.

Harry e Rony mal piscaram quando ela deixou a sala comunal logo depois do jantar para se juntar ao Snape; estavam acostumados com o tempo que ela passava com ele e satisfeitos por ela poder contribuir para os esforços da guerra, mesmo de dentro da escola.

Snape, entretanto, ficou surpreso ao vê-la.

– Eu não achei que a veria hoje – ele comentou de trás de uma torre de fumaça cinza-esverdeada que subia de um grande caldeirão.

– Por que não? – ela perguntou casualmente, preparando seu próprio caldeirão na bancada ao lado e despejando a poção base de segunda-feira à noite dentro dele.

Ele a olhou intencionalmente.
– É Véspera de Ano Novo, Hermione. Aqueles seus amigos vão pensar que sou ainda mais cruel que o normal, obrigando-a a trabalhar numa noite como esta.

– Na verdade, eles nem se importaram – ela disse. – Afinal, não é como se o Ano Novo fosse alguma coisa, bem, nova. Tudo o que fazemos é sentar na sala comunal bebendo cerveja amanteigada até a meia-noite, abraçar todo mundo, cantar aquelas músicas bobas e depois ir dormir.

– Acho que minhas tendências não-sociáveis devem estar te influenciando – ele murmurou, balançando a cabeça.

Eles trabalharam em silêncio pela maior parte da noite, e Hermione nem notou o tempo passar. Quando ela terminou de cortar, fatiar, medir e adicionar os ingredientes que faziam parte do segundo estágio do preparo do antídoto, faltavam dez minutos para a meia-noite. Olhando para Snape, ela o viu colocando um líquido vermelho gelatinoso no caldeirão, mexendo cuidadosamente. Se ela lembrava corretamente do seu breve relance no método de preparo no final de semana, tinha que ser mexido por cinco minutos, então ferver intocado por meia hora.

Olhando para o relógio novamente, ela deslizou silenciosamente do laboratório para a sala de estar, pegou um punhado de pó de Flu e enfiou a cabeça pela lareira para se conectar à cozinha. Mesmo que agora ela reconhecesse a futilidade do falido projeto F.A.L.E., não gostava de tomar vantagem da boa-vontade dos elfos domésticos em ajudar. Esta, entretanto, era uma circunstância especial, e quando ela puxou a cabeça para fora da lareira, estava carregando duas garrafas de cerveja amanteigada.

Ela entrou novamente no laboratório bem a tempo de ver Snape afastando-se do agora fumegante caldeirão e sentar-se num banco próximo, coçando a base do nariz com uma mão, como ela viera a perceber que ele fazia quando estava cansado.

Ela puxou um banco ao lado do mestre de Poções e colocou uma das garrafas na bancada em frente a ele, tirando a rolha da sua garrafa enquanto ele a concedeu um olhar questionador.

– Cerveja amanteigada? – ele perguntou.

– Bem – ela disse na defensiva –, só porque estamos aqui em baixo não significa que temos que perder todas as festividades, embora eu não vá tão longe a ponto de esperar um abraço seu.

Snape franziu um pouco a testa, e ela ficou preocupada de que pudesse tê-lo ofendido, mas então o rosto dele clareou. Ele considerou a garrafa a sua frente por um momento antes de pegá-la e tirar a rolha, cheirando o conteúdo.

– Eu não tomo cerveja amanteigada há anos – ele comentou à toa.

No silêncio do laboratório, eles ouviram o relógio acima da lareira da sala ao lado repicar indicando o início do ano novo.

– Feliz Ano Novo, Severo – ela disse, levantando sua garrafa na direção dele.

– Para você também, Hermione – ele disse gravemente, brindando com a garrafa. – Vamos esperar que este seja melhor que todos os outros que se foram antes deste.

Entretanto, antes que ela pudesse levantar a garrafa para tomar um gole, Snape a surpreendeu colocando o braço em volta dos ombros dela e puxando-a para mais perto dele. O abraço foi esquisito, uma vez que eles estavam sentados lado a lado na bancada, mas de alguma forma ela conseguiu soltar seu braço do meio dos dois e colocá-lo em volta das costas dele.

Ela virou a cabeça para encará-lo, um olhar satisfeito ainda que questionador no rosto. Era a primeira vez que ele iniciara alguma coisa remotamente afetuosa entre eles, e ela estava satisfeita por ele se sentir confortável o suficiente com ela para fazer isso. Os cantos da boca dele se levantaram num meio sorriso.

– Eu não podia deixá-la perder os abraços e a música – ele gracejou –, mesmo com a cerveja amanteigada.

– O quê? Você não vai cantar para mim? – ela provocou, fingindo uma expressão magoada.

– O dia que eu cantar, Hermione Granger, será o dia em que Alvo Dumbledore jurar que nunca mais tomará sorvete de limão na vida – ele disse sombriamente.

Ela riu e tomou um gole da bebida, o liquido aquecendo seu interior enquanto descia. Snape ainda estava retirando o braço em torno dela, e ela inclinou a cabeça para o lado um pouquinho para descansá-la levemente sobre o ombro dele. Ela mais sentiu do que o viu olhar de relance para ela, mas não comentou, e eles ficaram sentados lá por algum tempo em silêncio, os dedos longos de Snape brincando ociosamente com uma das rolhas na bancada.

Será um ano melhor – ela pensou consigo mesma. As resoluções de Ano Novo eram um costume trouxa bobo e raramente eram concretizadas, mas o ano novo era uma época para começar mais uma vez, então Hermione fez um voto silencioso de tentar fazer o seu melhor para tornar o ano de Severo Snape melhor, o máximo que pudesse.

* * * * *

A noite de sábado chegou muito rapidamente, e Hermione estava no laboratório com Snape quando a Marca Negra começou a arder. Mudando abruptamente a direção do seu caminhar incessante de um lado para o outro que estivera na última hora, ele foi reaver seu casaco no outro quarto, depois retornou para pegar os frascos com a Poção Cruciatus completa.

Hermione o observou receosa enquanto ele encolhia os frascos em pequenas garrafas e os colocava num bolso interno do seu casaco pesado. Ele escondeu a varinha na manga da sobrecasaca e depois olhou de relance para onde ela estava sentada, torcendo nervosamente a pena em suas mãos sem parar. Na verdade, ela viera até o laboratório para usar a extensa biblioteca do mestre de Poções, mas entre o andar de um lado para o outro dele e a sua expectativa nervosa pela convocação, ela avançara muito pouco na redação.

– Não espere acordada – ele disse com um meio sorriso.

Ela não riu, pensando na última vez em que ele fora para seu antigo mestre, e sua preocupação deve ter transparecido no rosto, porque ele cruzou a sala até ela e disse:

– Eu só vou entregar a poção, Hermione. Ela funciona; é exatamente o que ele pediu. Não há razão para ele ficar descontente.

Ela assentiu com a cabeça, e ele pôs a mão no ombro dela brevemente antes de deixar o laboratório. Um minuto depois, ela ouviu o ruído vindo da sala de estar dele saindo pela rede Flu.

Ela suspirou e voltou para os livros que puxara da estante dele mais cedo, tentando sem sucesso se concentrar. Era inútil, e ela ficava ainda mais distraída pelo mesmo som de arranhar que ouvira duas vezes antes, vindo do outro lado do cômodo. Por que isso sempre acontece quando ele não está aqui? – ela pensou, fazendo uma nota mental para contar-lhe a respeito quando ele retornasse. Certamente um laboratório com ingredientes tão sensíveis estaria protegido contra animais daninhos como ratos e doxies.

Ela suspirou, resignada a não conseguir trabalhar, recolocou os livros na estante e guardou suas penas e pergaminhos.

Apesar do gracejo dele antes de sair, passaram-se apenas duas horas quando ela ouviu o barulho da rede Flu de novo, e no momento seguinte, Snape apareceu na porta.

Ela pulou do banco e foi em direção a ele, uma rápida avaliação mostrou-lhe que ele parecia ter retornado nas mesmas condições em que partiu; cansado porém ileso.

– Você está bem? – ela perguntou gentilmente.

Ele assentiu com a cabeça e sinalizou para que ela fosse até a sala de estar, onde ele tirou o pesado casaco e sentou-se numa das poltronas, conjurando uma xícara de chá. Ela ocupou o lugar oposto, mas recusou a oferta do chá, e o observou ansiosa.

– Foi feito – ele disse. – O Lorde das Trevas tem a poção, e eu acabei de informar ao Diretor que ainda não sei o que ele planeja fazer com ela.

Hermione sentiu um soco no estômago com a notícia. – Ele não lhe disse nada?

– Nada – Snape confirmou pesadamente. – Eu entreguei a poção, ele testou para ver se funcionava, exigiu o dobro da quantidade para o próximo sábado, e me dispensou.

– Em quem ele testou... espere, ele quer o dobro para a próxima semana?

Snape assentiu, esfregando a base do nariz novamente.
– Eu não sei em quem ele a testou; um Comensal da Morte com quem ele estava descontente, eu acho, mas ninguém que eu reconheci. Possivelmente um recruta novo.

– O que o Diretor disse sobre tudo isso? – ela perguntou enquanto Snape inclinava-se para frente resignadamente para apoiar o queixo em suas mãos, os cotovelos nos joelhos.

– O Diretor acha que qualquer perda resultante será válida em benefício da minha continuidade na posição, embora que benefícios ele veja nisso agora, eu não sei. Do jeito que está, eu estou simplesmente entregando armas de destruição em massa para o Lorde das Trevas e retornando com nada.

Hermione não sabia o que dizer, pois ela também se perguntava sobre a sabedoria de Dumbledore em continuamente abastecer Voldemort com a poção, além da alternativa de expor Snape como espião. Pelo menos, se isso ocorresse, o mestre de Poções poderia permanecer em Hogwarts relativamente seguro e estaria livre do fardo de fornecer a Voldemort tais meios poderosos, ainda que clandestinos, de matar.

– Eu suponho que o Diretor queira mantê-lo sob o benefício do Lorde das Trevas o tempo que for possível – ela comentou. – Se ele descobrir suas verdadeiras lealdades durante um confronto final com o Harry pode ser o elemento surpresa e a distração necessária para lançar o golpe final.

– É exatamente o que o Alvo disse – Snape devolveu com um suspiro, levantando-se para andar de um lado para o outro em frente à lareira. – O que é tudo muito bom, mas ele não parece considerar as vidas que isso custará ao longo do caminho. E se esse tão falado confronto final for daqui seis meses, ou um ano? Quantas pessoas terão que morrer até lá? Pessoas que estariam nos ajudando a ganhar o confronto final? O Lorde das Trevas vem estrategicamente mirando em aurores e membros da Ordem nestes últimos ataques, e eu duvido que ele se desviará desse plano com a poção. Se uma dose potente o suficiente for entregue, metade dos apoiadores de Dumbledore poderiam se tornar residentes permanentes do St. Mungus até o final de junho.

– Mas e o antídoto? – Hermione perguntou, afetada pela imagem que as palavras dele pintavam.

Ele riu amargamente:

– O antídoto que não pode ser usado fora dos muros de Hogwarts caso o Lorde das Trevas ouça a respeito e saiba que estive trabalhando contra ele?

– Nem mesmo em St. Mungus?

Ele balançou a cabeça.
– Os hospitais são os recintos das fofocas, especialmente entre curandeiros e medibruxos quando o desenvolvimento de novos medicamentos está em andamento. A informação escapa daquele lugar mais rapidamente que do Ministério.

– Então, o que você vai fazer? – ela perguntou, movendo-se para ficar ao lado dele na janela, onde ele parou de andar.

– Nada – ele disse, olhando de relance para ela, os olhos negros cheios de uma mistura de fúria e desamparo, antes de voltar seu olhar de volta aos jardins escuros através da janela. – Dumbledore ordenou, e eu farei como ele me pediu.

Novamente, Hermione não sabia o que dizer, então se acomodou descansando uma mão gentilmente nos braços cruzados dele, perto da dobra do cotovelo. Ele parecia tirar conforto no gesto, porque mexeu a mão oposta para cobrir a dela; estava fria, apesar do calor da sala. O tempo pareceu parar enquanto eles permaneceram em pé lado a lado, Snape olhando fixo para a paisagem, Hermione observando o perfil do rosto dele enquanto uma miríade de emoções cruzavam a superfície angular.

Apesar do seu voto na virada o ano novo três dias atrás, ela teve a sensação desagradável de que este ano ficaria muito pior antes de melhorar, particularmente para Severo Snape.

* * * * * * *

Continua

Muito obrigada a hobbit_tabby pelas distrações, sugestões e a betagem enquanto eu escrevia este capítulo, assim como o título do capítulo!

Obrigada a todos que leram e mandaram reviews para o último capítulo. Estou muito feliz em saber que muitos de vocês ainda estão lendo uma "fic do sétimo ano" depois de O Enígma do Príncipe, e que todos parecem gostar a direção levemente diferente que o último capítulo tomou ao final.

Este capítulo é na verdade a primeira metade do que era para ser um capítulo longo, mas se tornou um tanto longo demais para o meu gosto. Pelo lado bom, o próximo está parcialmente escrito, então a próxima atualização não deve levar muitos dias! :)


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