Os Desejos de Dumbledore



escrito por snarkyroxy
traduzido por BastetAzazis
beta-reader: ferporcel

Summary: Dumbledore está agindo como um velho tolo e intrometido. Snape está de péssimo humor depois de voltar de uma convocação, e Hermione observa com relutância.

Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!



* * * * * * *


Snape franziu a testa quando viu Hermione sentada com Dumbledore, mas não disse nada enquanto atravessou a sala e se afundou na poltrona vazia, sua elegância habitual levemente ausente.

– Houve outro atraque – ele disse cansado.

O Diretor assentiu, conjurando uma terceira xícara de chá e magicamente fazendo-a pairar, cheia, em frente ao mestre de Poções. Quando tudo o mais falhar, faça uma xícara de chá, Hermione pensou. Era um hábito que Dumbledore provavelmente aprendera com a Sra. Weasley, ou vice-versa. – Era de se esperar. Você estava presente?

Snape assentiu. – Nós não fomos avisados do nosso destino. Pegamos uma Chave de Portal no último minuto. Não tive tempo de mandar um aviso.

Hermione ficou abalada com o desespero que o mestre de Poções aparentava. Não em seu rosto; a máscara fria e indiferente estava no lugar, como de costume, mas na amargura da sua voz.

– Quem foi o alvo esta noite? – Dumbledore perguntou devagar, inclinando-se para frente em sua cadeira. A pergunta ficou suspensa no ar enquanto Snape o observava através de uma cortina de cabelos finos.

- Aurores – disse Snape, e então, depois de uma pausa –, Shacklebolt.

Dumbledore respirou fundo e encostou-se novamente na cadeira, o brilho nos seus olhos extinguiu-se abruptamente enquanto assimilava a notícia. – Você está ferido? – perguntou.

– Não mais que qualquer outro – Snape respondeu amargo.

– Severo.

– Não é nada – Snape disse firme, tirando seu cabelo negro do rosto.

Foi só então que os outros dois ocupantes da sala puderam ver o corte ensangüentado atravessando seu rosto e desaparecendo na linha dos seus cabelos, perto da têmpora. Hermione inspirou repentinamente quando viu o forte contraste do sangue fresco contra a pele pálida e os cabelos negros.

– Eu lhe asseguro – zombou, com um olhar superficial na direção dela –, não está tão ruim quanto parece. Eu simplesmente fui pego no meio do fogo cruzado. Ao contrário da outra pessoa que encontrei no nosso lado esta noite, eu ainda tenho a minha cabeça.

Hermione não conseguiu conter uma exclamação de horror ao ouvir aquilo, e o Diretor levantou-se abruptamente.

– Severo!

Hermione permaneceu sentada em choque. Quando Snape mencionara o ataque, não lhe ocorreu que o homem havia sido realmente assassinado. Ele era um Auror, afinal de contas. Não eram eles os bruxos mais formidáveis na comunidade mágica? Se eles não podiam defender um ataque de Comensais da Morte, que esperança o resto do mundo bruxo teria?

Além disso, Quim Shacklebolt não era apenas um Auror, era também um membro da Ordem. Embora ela tivesse falado com aquele homem negro apenas algumas poucas vezes, ele lhe parecia amigável e de bom coração, mesmo sendo um bruxo poderoso com um trabalho tão difícil. Ele foi um dos bruxos que resgataram Harry na Rua dos Alfeneiros no verão após o retorno de Voldermort, e seu pensamento rápido no ano passado salvara a vida de muitos de seus colegas quando Comensais da Morte atacaram Hogsmeade. Ela o assistira a duelar naquele ataque, e ele lhe parecera um aliado formidável. Certamente ele seria capaz de se defender de alguns Comensais da Morte. Ele não podia realmente estar...

– Morto? – ela murmurou, quase inaudível, mas Snape a ouviu.

– Morto, Srta. Granger? – desdenhou. – Diga-me, por que você pensaria isso? Nós apenas invadimos a casa dele para nos juntarmos a uma conversa amigável sobre a política mundial.

– Severo – Dumblerore disse novamente. – Isso foi desnecessário.

– A pergunta dela também – o mestre de Poções retrucou. – E o que ela está fazendo aqui afinal? Ela não tem o direito de ouvir nada disso.

Hermione levantou-se e dirigiu-se ao seu professor, não conseguindo disfarçar a mágoa na sua voz. – Professor, eu gostaria que você não falasse de mim como se eu não estivesse na sala. O que quer que seja que você queira dizer, pode falar na minha cara.

Snape também se levantou, diminuindo a distância entre eles com apenas alguns poucos passos, até elevar-se sobre ela. Ela não recuou, encarando o olhar zangado dele, igualmente furiosa.

– Você não tem o direito de estar aqui – ele disse com uma voz forçosamente calma.

– Severo – a voz do Diretor o cortou novamente, mas os dois o ignoraram. Hermione não ia voltar atrás. Ela não pedira para participar da reunião, e ressentiu-se com a implicação de que sua presença era auto-imposta.

– Você acha que eu quero estar aqui? – ela disse, ainda cara-a-cara com Snape. – Você acha que eu já não tenho preocupações suficientes este ano, com os N.I.E.M.s e com os meus deveres como Monitora Chefe, sem mencionar o fato de um bruxo muito poderoso e louco ainda estar tentando matar o meu melhor amigo?

– Ambos estão aqui a meu convite – Dumbledore interferiu com firmeza. – Eu entendo seus receios, Severo... – Snape bufou – ...e os seus, Srta. Granger. Eu só peço a vocês que tentem trabalhar juntos.


O olhar de Hermione correu de Snape para Dumbledore e então ela sentou-se, dando-se por vencida desta vez. Snape, também voltou à sua poltrona, lançando um olhar sombrio ao Diretor.

- Agora - disse Dumbledore, tomando um gole do seu chá calmamente. – Tem mais alguma coisa que eu deva saber, Severo?

Snape assentiu, limpando distraidamente um fio de sangue preste a correr para dentro da gola alta da sua sobrecasaca Ele já devia ter se livrado da capa de Comensal da Morte que Hermione o vira usando quando ele saiu, antes de vir ao escritório do Diretor.

– O Lorde das Trevas está ficando cada vez mais impaciente comigo por causa da poção – Snape disse. – Eu não sei por mais quanto tempo eu conseguirei fingir outro fracasso.

– Você ainda não teve sorte com o antídoto? – o Diretor perguntou. – Não podemos nos dar ao luxo de fornecer uma arma tão poderosa ao Tom sem um antídoto pronto ao alcance.

Snape já balançava a cabeça antes mesmo do Diretor terminar de falar. – Todos os meus esforços para neutralizar os efeitos da cicuta dos pântanos até agora falharam. A cicuta venenosa seria a escolha óbvia, mas quando combinada com os outros ingredientes, reage com a cicuta dos pântanos aumentando a dor ao invés de anulá-la.

Hermione não precisava ouvir mais nenhuma descrição dos ingredientes da poção para entender que era uma poção horrenda. Embora nunca a tivesse usado, a cicuta dos pântanos era o ingrediente principal da Morte Dolorosa, uma poção freqüentemente utilizada para levar criaturas mágicas à morte se elas causassem algum mal a bruxos ou bruxas. A idéia de Voldemort querendo usar uma poção similar em humanos revirou seu estômago.

– Tenho um tempo limitado para me dedicar ao antídoto – Snape disse, apertando a parte superior do nariz com os dedos, cansado. – Eu ainda tenho as redações das minhas aulas para corrigir, e os estoques da enfermaria não podem ser negligenciados em tempos como esses. Além disso, eu tenho que manter um estoque de poções falsas à mão caso seja convocado, para demonstrar meu aparente progresso para o Lorde das Trevas.

– Há muito que ser feito – o Diretor concordou, acenando com um gesto de cabeça –, entretanto, a criação de um antídoto deve ser a nossa prioridade máxima.

– Eu sei disso – Snape disse –, mas é que eu posso fazer tão pouco sem poder recorrer ao uso de um daqueles simplórios vira-tempos, e você sabe muito bem que poções preparadas em loops de tempo são inúteis. Eu só poderia usar o artefato para ganhar algumas horas extras para corrigir as redações.

Com a menção dos vira-tempos, o olhar de Dumbledore passou de Snape para a Hermione. – Srta. Granger, você está assistindo as aulas de Magia Medicinal neste ano, não está?

Ela assentiu, e ele a julgou pensativo por um momento. – Severo – ele dirigiu-se ao mestre de Poções –, você acha que a Srta. Granger seria capaz de preparar as poções necessárias para a enfermaria?

Hermione olhou para o Diretor e depois para o mestre de Poções, curiosa em saber como ele responderia a esta pergunta. Ele não era exatamente conhecido por distribuir elogios, principalmente quando Grifinórios estavam envolvidos, mas ele não podia negar que suas poções estavam sempre perfeitas.

– Acredito que a Srta. Granger consiga preparar poções adequadas – Snape respondeu, sorrindo com desdém, como que a desafiando a questionar sua avaliação.

– Excelente! – exclamou Dumbledore. – Então está tudo arranjado!

– O quê? – Hermione e Snape falaram ao mesmo tempo.

Dumbledore observou os dois por cima dos seus oclinhos de meia-lua, o brilho cintilante retornando suspeitamente aos seus olhos. – A Srta. Granger pode preparar as poções para a enfermaria – ele declarou –, deixando você, Severo, com mais tempo para se concentrar em seus outros esforços.

Snape deixou escapar um suspiro alto e voltou para a sua cadeira, olhando para o teto enquanto murmurava entre sua respiração – Tudo bem.

Tudo bem? Hermione pensou, virando-se para encará-lo, incrédula. Desde quando Snape concordava em dividir suas obrigações com um aluno da Grifinória? Ela sabia que no final as coisas seriam do jeito de Dumbledore, mas nunca pensara que o mestre de poções não iria expor suas objeções antes de ser forçado a fazer alguma coisa que ele veementemente não gostasse.

– Ao que me parece, Srta. Granger – Snape disparou impaciente –, o Diretor, com toda a sua sabedoria, nos verá trabalhando juntos, quer nós gostemos, ou não.

Dumbledore riu. – Eu não pretendo ser um sabe-tudo, Severo. Eu apenas sei mais que você.

O mestre de Poções encarou-o com raiva e Dumbledore riu mais uma vez.

– Desculpe-me, professor – Hermione disse. – Eu reconheço a importância da tarefa, mas quando terei tempo para isso? Meu horário de aulas está completo e ainda tem meus deveres de Monitora Chefe, e ...

Sua voz morreu e ela olhou para o Diretor.

– Eu imagino que metade do currículo de Magia Medicinal cubra os feitiços de cura, enquanto a outra metade cobre as poções – ele disse. – Desta maneira, você pode continuar assistindo as aulas de feitiços, e usar as aulas de poções para ajudar o Professor Snape.

– Você quer que eu desista de parte das aulas? – Hermione estourou.

– Eu imagino que você receberá todos os créditos pela parte de poções desta matéria – Snape sugeriu, sorrindo com desdém novamente –, contanto que suas poções sejam do padrão esperado para suprir a enfermaria.

– Ora, Severo – o Diretor disse, com um sorriso aberto. – Nós dois sabemos que as poções da Srta. Granger não serão menos que perfeitas. Oras, não foi outro dia mesmo que você estava me dizendo que era uma pena não poder conceder pontos a sua aluna mais brilhante porque ela era uma Grifinória?

Hermione olhou incrédula para seu professor pela segunda vez naquela noite. Os pontos vermelhos que apareceram nas maçãs do rosto dele só confirmavam as falas de Dumbledore. Ela teve que fazer um grande esforço para conter o sorriso que crescia em seu rosto. Ela vinha esperando por um elogio do Diretor da Sonserina desde seu primeiro ano, e embora não tenha vindo diretamente dele, ainda assim lhe deu uma confortável sensação de alegria ao saber que seus esforços em Poções não tinham sido inteiramente em vão.

– Sim, bem – Snape disse, levantando-se e cruzando os braços em frente ao peito. – Eu tenho certeza que sua ajuda será ... útil.

– Eu farei o melhor que puder, professor – ela disse, permitindo que um pequeno sorriso aparecesse em seu rosto.

– Magnífico – Dumbledore disse, batendo palmas enquanto levantava-se atrás de sua mesa. – Eu acho que isso conclui nossa reunião esta noite. Srta. Granger, obrigado por sua ajuda com a Poção Mata-cão anteriormente. Severo, eu organizarei uma reunião com a Ordem o mais rápido possível para discutirmos as últimas notícias, mas enquanto isso, há mais alguma coisa que você queira discutir?

O mestre de Poções balançou a cabeça, tirando o cabelo dos olhos. Hermione notou que alguns fios ficaram presos no sangue que secava ao longo do seu rosto.

– Muito bem – disse o Diretor, também observando Snape. – Severo, talvez você permita à Srta. Granger dar uma olhada nisso antes de você sair.

– Obrigado, Diretor – Snape disse, franzindo a testa –, mas eu sou bem capaz de me curar sozinho.

– Ah, eu sei que você é bem capaz – Dumbledore disse animado –, mas Madame Pomfrey sempre me diz que a Srta. Granger é a melhor aluna da sala, e até mesmo eu não me sinto confortável em apontar minha varinha para meu próprio rosto. Srta. Granger, você pode cuidar do Professor Snape antes de sair?

– Sim, professor – ela assentiu, sem deixar de notar o franzir de testa no rosto de Snape aumentar.

– Ótimo – disse o Diretor. – Vejo os dois amanhã. – Ele saiu do seu escritório por uma porta lateral que Hermione não tinha visto antes, deixando-a sozinha com o mestre de Poções.

Melhor acabar logo com isso, ela pensou. Ela se levantou e foi em direção ao Snape, mas ele levantou a mão para impedi-la de se aproximar.

– Não tão rápido, Srta. Granger – ele disse. – Eu ainda sou bem capaz de cuidar disso sozinho, não importa o que o Diretor pense. Você pode ir andando.

– Mas … – ela começou.

- Sem mas, Srta. Granger – ele disse, levantando um pouco sua voz. – Você não consegue perceber quando não é bem-vinda?

Não perto de você, ela pensou. Ele sempre a tratou com a mesma indiferença fria que dispensava ao resto dos alunos. Ela fora uma tola ao pensar que suas atitudes com ela mudariam depois dos eventos da última semana, mesmo com ele sendo tão agradável com ela quando eles prepararam a Poção Mata-cão. Obviamente, aquilo foi um lapso momentâneo da parte dele e, para o espanto de Hermione, dificilmente aconteceria de novo.

Ele passou por ela a passos largos em direção a porta, com a intenção de abri-la para acompanhá-la até a saída, mas quando sua mão encostou na maçaneta, ela emitiu uma névoa de raios vermelhos e ele afastou seu braço abruptamente. Ele ficou olhando para a palma da sua mão por um tempo, esfregando-a, e então sacou sua varinha da sua manga.

– Finite Incantatem – ele entoou, e então agarrou a maçaneta de novo, apenas para receber outro choque e mais um banho de raios.

Hermione assistia interessada enquanto ele tentava uma série de feitiços, todos elaborados para desarmar proteções, cancelar feitiços de silêncio ou para abrir fechaduras mágicas. Após cada um deles, o resultado era o mesmo, até que eventualmente ele desistiu.

– Maldito velho tolo – disse para si mesmo, esfregando novamente a palma da mão direita com a outra mão, ignorando Hermione completamente enquanto deu passos largos em direção à lareira.

– Eu acredito que você saiba a senha para a sua sala comunal? – ele disse por cima dos ombros, assim que pegou um pouco de pó de Flu e deu um passo para dentro da lareira. Sem esperar por uma resposta, ele jogou o pó cintilante e disse rapidamente –, Sala de aula de Poções!

Um momento depois, ele saiu da lareira, sacudindo o pó de Flu que caíra em suas vestes, inútil como poeira mágica. Hermione tentava disfarçar seu divertimento. Ela já tinha percebido, enquanto Snape tentava abrir a porta, o que estava acontecendo. Dumbledore não pedira apenas para ela para curar os ferimentos do Mestre de Poções antes dos dois saírem, ele insistira nisso. E o que o Diretor deseja, o Diretor consegue, ela pensou, e limpou sua garganta para chamar sua atenção.

Snape olhou para ela, ainda parada no meio da sala. – Bem, não fique aí parada garota – resmungou. – Você quer ficar presa aqui comigo a noite toda?

– Parece, professor – ela disse, com um leve traço de divertimento -, que nenhum de nós poderá sair daqui enquanto os desejos de Dumbledore não forem realizados.

– E que desejos são esses? – ele cortou, virando-se para ela.

Ela apontou para o rosto dele.

– Eu já lhe disse que sou perfeitamente capaz de cuidar disso sozinho, Srta. Granger – ele disse com raiva.

– Eu sei disso – ela disse calmamente, num esforço para abater a raiva dele. – Mas parece que nem a minha vontade, nem a sua, interessam.

Ele olhou em volta da sala por um momento, como se estivesse procurando por outra saída. Então, com um suspiro irritado e algumas palavras murmuradas, que soavam como algo parecido com velho intrometido, ele cruzou a sala e parou em frente à Hermione.

Ela levantou os olhos para encará-lo.

– Bem, vamos logo com isso – ele disse, exasperado. – Quanto antes você curar este maldito arranhão, mais cedo nos livraremos da presença um do outro.

– Você poderia se sentar, professor? – ela pediu petulante. – Eu não posso ver direito o que estou fazendo quando você está me encarando de cima desta maneira.

Ele levantou uma sobrancelha com o tom dela, mas, vendo que esta era a única maneira de sair do escritório do Diretor, abaixou-se, sentando-se na mesma cadeira que ela ocupara anteriormente, de maneira que sua altura não a atrapalhasse.

Sentindo-se bem menos intimidada, ela sacou sua varinha e aproximou-se dele para examinar o corte. Ele estava certo, realmente não era tão mal assim; apenas tinha sangrado bastante, como sempre acontece com ferimentos na cabeça. Ela lançou um feitiço de limpeza para poder ver melhor o corte e então se pôs a executar o feitiço de cura que aprendera no início daquele ano.

Ele observou-a cuidadosamente a princípio, mas depois fechou os olhos quando a varinha dela aproximou-se dele. Ela franziu o cenho, concentrando-se, e assim que terminou o encantamento ficou satisfeita ao ver o corte desaparecendo completamente sob sua varinha, que passava confiante pelo rosto dele.

- Aí está – ela disse gentilmente, abaixando a varinha e estendendo sua outra mão para tocar na pele curada. – Novo em...

Assim que seus dedos tocaram o rosto dele, ele afastou-se bruscamente, olhando ferozmente para os lados, como se por um momento ele tivesse esquecido onde estava. Seu olhar obscuro eventualmente parou nela, e na mão dela, ainda estendida há apenas alguns centímetros do seu rosto.

- Eu, é… desculpe-me – ela hesitou –, eu só queria ter certeza que não ficaria, é... , que não ficaria uma cicatriz. Posso?

Ela gesticulou para sua mão estendida, e um silêncio desconfortável invadiu a sala antes dele assentir, virando seu rosto levemente para longe dela. Ela esticou o braço tentativamente, seus dedos tocando levemente a pele da testa dele. Quando ele não se retraiu ou afastou-se, ela pressionou um pouco mais firme e correu seus dedos vagarosamente pelo rosto dele, seguindo a, agora invisível, linha do corte.

Ele fechou seus olhos novamente e expirou. Ou foi um suspiro? ela pensou, aproveitando a oportunidade para estudá-lo enquanto ele estava desatento. Sua expressão havia mudado completamente nos últimos minutos, do desafio à resignação... ou seria contentamento? Enquanto seus dedos desciam ainda mais no rosto dele, sentindo sua barba ainda curta, acabando de brotar da pele perto do maxilar, ela pôde jurar que ele estremeceu com o toque dela.

De repente, ela percebeu que os olhos dele estavam abertos novamente, e que ele a observava. Relutante, ela afastou a mão do rosto dele e deu um passo para trás, afastando-se dele.

– Pronto – ela disse de novo. – Novo em folha.

Seus olhos escuros estavam indecifráveis no momento em que ele levou sua mão ao rosto para seguir o corte, imitando os movimentos dela. Ela retornou o seu olhar, vagamente consciente de uma sensação estranha que ela não conseguia identificar e que se opunha à desconfortável sensação no seu estômago. Não era medo... poderia ser... expectativa?

Não seja maluca, Granger, ela repreendeu-se. Expectativa pelo quê?

Ela não teve tempo de responder à pergunta, porque naquele momento, a porta do escritório abriu de repente com um flash de luzes verdes.

– Eu imagino que essa seja a nossa deixa para sair, Srta. Granger – Snape disse, levantando-se.

Hermione não acreditou ao vê-lo voltar ao seu humor normal mais uma vez. Foi só mais um lapso na sua concentração, ela pensou. O mestre de Poções está de volta.

Relutante, ela o deixou acompanha-la, silenciosamente, para fora do escritório, descendo a escadaria em espiral até o gárgula de pedra e seguindo para o corredor principal. Sem esperar mais nenhuma palavra do reservado professor, ela seguiu para as escadas que levavam à sala comunal da Grifinória quando a voz dele a parou.

- Srta. Granger!

Ela virou-se, com o pé no primeiro degrau da escada. – Sim, professor?

Ele olhou em volta rapidamente, para ter certeza que estavam seguros dos ouvidos de qualquer estudante que estivesse fora da cama.

– Você fez um trabalho admirável ao terminar a Poção Mata-cão, Srta. Granger - ele disse. – Sua ajuda foi ... – ele procurou pela palavra certa –, apreciada.

– Obrigada, professor. – ela disse, lutando para manter uma expressão neutra em seu rosto. – Eu fico feliz por ter conseguido ajudar.

Ele assentiu, e então girou nos calcanhares e seguiu a passos largos para a escada que seguia para as masmorras, desaparecendo na escuridão.

Quando Hermione virou-se para a sua escada novamente, ela parou de lutar contra suas emoções e deixou o enorme sorriso que tentara segurar encher o seu rosto.



* * * * * * *


Continua

N/A: Comentários são sempre apreciados.

N/T: Cicuta do pântano (do original “cowbane”) e cicuta venenosa (do original “helmlock”) são duas plantas venenosas, que, embora tenham nomes semelhantes em português, provocam diferentes sintomas em suas vítimas, por isso foi necessária a diferenciação na fala de Snape. ; )

Mais uma vez obrigada a minha beta-reader, ferporcel, e à Mi_Granger, nossa consultora para assuntos potterianos!

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