Quase



Antes do Amanhecer
Escrito por snarkyroxy
Traduzido por BastetAzazis
Beta-read por Ferporcel

Sumário: A Ordem tem uma reunião, uma oferta inesperada é feita, e alguém finalmente reconhece seus sentimentos... para si mesmo, de qualquer forma.

Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!

* * * * * * *

Capítulo 21: Quase


A cozinha no Largo Grimmauld estava cheia de gente quando Hermione chegou pela rede Flu. Ela ouviu vários desejos de boas-vindas, mas distraiu-se quando a Sra. Weasley deu um pequeno grito e correu para abraçá-la apertado.

– Oh, Hermione, querida – ela exclamou. – Nós ficamos tão preocupados quando soubemos do que aconteceu! Está tudo bem com você?

– Eu estou bem, Sra. Weasley. Um pouco abalada – ela admitiu –, mas nós tivemos a sorte do Prof. Snape ter sido capaz de nos ajudar.

– Hermione!

A Sra. Weasley a soltou, e ela virou-se bem a tempo de registrar Harry e Rony se esgueirando entre a multidão antes que seus dois melhores amigos a envolvessem num abraço de quebrar os ossos.

– Hermione, estou tão feliz que esteja bem – Harry murmurou no ombro dela.

– Eu ainda não consigo acreditar – Rony resmungou, balançando a cabeça enquanto os três se afastavam um pouco um do outro, mas não se soltaram. – Como eles puderam fazer uma coisa assim? E no Natal, ainda por cima!

– Eu sei – Hermione sussurrou, sentindo de repente vontade de chorar assim que percebeu apenas como tinha sorte de estar com os amigos novamente.

Ela ouviu o ruído da rede Flu atrás dela, e no momento seguinte a voz do Sra. Weasley disse:

– Oh, Severo, como nós poderemos agradecê-lo?

Ela notou o olhar arregalado do Rony e virou-se para ver a Sra. Weasley abraçando Snape... ou tentando, já que o mestre de Poções se mantinha rígido, parecendo distintivamente desconfortável com a atenção.

– Eu fiz o que tinha que fazer, Molly – ele disse simplesmente.

– Ora, não seja modesto, homem – Molly ralhou, soltando-o apenas para remover um resto de poeira da fuligem dos ombros das vestes dele. Ele franziu a testa, mas tolerou o tratamento silenciosamente enquanto ela conversava de maneira infantil sobre como todos estavam gratos a ele.

Hermione escondeu um sorriso e virou-se novamente para seus amigos, que aproveitaram a oportunidade para disparar uma enxurrada de perguntas sobre a noite anterior. Sua explicação foi logo cortada alguns minutos depois, entretanto, quando todos se juntaram em volta da mesa grande da cozinha para começarem a reunião.

Dumbledore, na ponta da mesa, levantou o primeiro tópico para discussão: o ataque à casa dos Granger. Snape estava em pé em algum lugar nas sombras, atrás de onde Hermione estava sentada, e procedeu para resumir como ele descobrira do ataque iminente e o que acontecera quando chegara a casa dela. Ela ficou grata por ele não mencionar o fato de que eles teriam escapado facilmente não fosse por sua estupidez em deixar sua varinha jogada por aí no segundo andar.

– Então, por que você estava envolvido neste ataque, Snape? – uma voz rouca veio do outro lado da cozinha quando Snape terminou seu relato. Olho Tonto Moody estava sentado na ponta oposta a Dumbledore na mesa, olhando ferozmente para o mestre de Poções.

– Como? – Snape disse brandamente. Hermione instantaneamente reconheceu o tom perigoso escondido numa única palavra.

– Voldemort geralmente não o manda para o campo de batalha, por assim dizer, manda? – Moody continuou. – Mantém você escondido, preparando todas aquelas misturas sórdidas e ilícitas para ele. Por que desta vez?

Dumbledore limpou a garganta.

– Eu acho que posso responder isso, Alastor – disse calmamente.

Hermione virou-se para Dumbledore, mas notou que todos os outros na cozinha olhavam para ela quanto para o Snape, que dera um passo à frente com a acusação do Moody e agora estava exatamente atrás dela.

– A Srta. Granger vem ajudando Severo com algumas das poções que ele prepara para a escola – Dumbledore disse –, para salvar-lhe tempo para trabalhar em projetos mais urgentes. Este acordo parece ter chamado a atenção de Voldemort, e eu acredito que ele pensou que o ataque seria um, vamos dizer, teste para o Severo.

Um murmúrio encheu a sala até que Moody falou de novo espalhafatosamente.

– Como Voldemort descobriu que ela estava trabalhando com você, Snape? Andou se gabando do seu pequeno afortunado acordo com seu Mestre, foi?

Hermione ouviu o mínimo respiro de Snape quando a cozinha ficou quieta, esperando pela reação dele. A animosidade entre Moody e o mestre de Poções era bem conhecida, embora as razões ainda não. Normalmente a antipatia um pelo outro era limitada a provocações passageiras, entretanto, e não a acusações abertas na frente de todo o grupo.

– Alastor – o Diretor começou a dizer ameaçadoramente, mas Snape interrompeu:

– Questionando os meus motivos novamente, Moody? – ele desdenhou do ex-auror. – Isto está ficando realmente cansativo, sabe?

– Eu continuarei a questionar seus motivos enquanto eles forem questionáveis, Snape – Moody replicou. – Você pode ter enganado todo mundo aqui, mas eu não sou tão fácil de se convencer.

– O que ele tem que fazer para convencê-lo? – Hermione disse de repente. O olho mágico do Moody balançou para baixo para fixar-se nela, um olhar surpreso na órbita azul elétrica.

– Você fique fora disso, mocinha – ele rugiu. – Não interfira em coisas que você não entende.

– Não entendo? – Hermione repetiu indignada. – Manter-me fora disso? Eu estou bem no meio disso, ou você não ouviu o que aconteceu na noite passada? – Ela se levantou furiosa, olhando em volta para o resto da Ordem antes de se voltar para Moody. – O Prof. Snape arriscou sua posição como espião, assim como a vida dele, na noite passada para me ajudar e aos meus pais, e ao invés de agradecê-lo, você tem a audácia de questionar a lealdade dele! Ele tem que morrer para você acreditar que ele está do nosso lado?

Um silêncio mortal seguiu sua explosão, e ela sentou-se novamente, respirando pesadamente e olhando ferozmente para Moody com uma expressão desafiadora.

O ex-auror respondeu ao olhar dela por um instante, depois levantou do seu lugar na mesa e andou com passos pesados em volta da cozinha, onde ela estava sentada. Ele dispensou um último relance para ela e então se virou para Snape, que ainda estava em pé atrás dela.

– Achou uma pequena e leal defensora aqui, não é, Snape? – ele disse com malícia, seu rosto a centímetros do de Snape, que estava fixo num olhar de completo desgosto. – As aparências podem enganar. Você não pensou que ela seria do tipo que aceitaria a única coisa que você tem para oferecer em troca, não é?

Houve alguns ofegos na cozinha, e a exclamação "Alastor Moody!" da Molly pôde ser ouvida mais alto que todos. Hermione sentiu suas bochechas esquentarem de vergonha e esticou o pescoço para ver dois pontos inflamados aparecendo no rosto de Snape também.

– Eu agradeceria se você não fizesse tais insinuações sobre uma aluna sob os meus cuidados – Snape sibilou.

Moody sorriu desdenhosamente, estreitando seu olho sadio por um momento antes passar esbarrando pelo mestre de Poções e andar a passos pesados o resto do caminho até a porta da cozinha.

– Fique de olho nele, Dumbledore – ele disse sobre os ombros. – Lembre-se do que eu sempre digo: algumas manchas nunca desaparecem.

A porta da cozinha bateu em seu rastro.

Hermione olhou para o Snape de novo, que parecia estar concentrado em respirar calmamente pelo nariz; uma veia pulsando rapidamente na testa dele era o único sinal aparente da sua raiva. Ela também estava abalada com as acusações de Moody. Nunca gostara muito do ex-auror, apesar da boa impressão que Harry e Rony tinham das habilidades dele. Antes ela pensava que seu desgosto vinha do fato dela sempre se perguntar se ele era o verdadeiro Moody, ou apenas outro impostor usando a Polissuco. Ela entendeu agora que não era isso, mas sim a recusa dele em aceitar a opinião dos outros, que a incomodava tanto.

– Bem – disse o Diretor, franzindo a testa para a porta fechada –, agora que nós esclarecemos isso, talvez possamos passar adiante. Onde nós estávamos?

– Como Voldemort sabia o que a Hermione estava fazendo – Harry falou.

– Ah, sim – disse Dumbledore gravemente. – Esta é a questão, uma vez que ninguém de fora da Ordem sabia deste acordo, salvo Madame Pomfrey, que está acima de qualquer suspeita.

– Como ele descobriu, então? – começou um bruxo alto e loiro que estava em pé do outro lado da cozinha. Hermione só o vira nos corredores do Largo Grimmauld algumas poucas vezes e não sabia o nome dele.

– Eu não sei – disse o Diretor. – Entretanto, estou preocupado. Este não é o primeiro pedaço de informação que escapa dos limites dos nossos membros recentemente.

Um murmúrio se agitou pela cozinha novamente quando todos os presentes perceberam a implicação das palavras de Dumbledore.

– Um espião? – a voz de Bill Weasley veio do outro lado da cozinha onde o mais velho dos seis irmãos estava recostado ao lado da lareira.

– Eu não sei – o Diretor repetiu cansadamente. – Eu não vejo outra maneira da informação estar escapando, embora eu não tenha como suspeitar que ninguém nesta sala esteja trabalhando contra nós.

Os membros da Ordem olharam de relance um para os outros, obviamente chegando à mesma conclusão. Muitos do grupo vinham trabalhando juntos há anos, mesmo antes da primeira queda de Voldemort, e confiavam suas vidas um no outro. Ainda assim, Hermione podia ver a inquietude que todos sentiam com a possibilidade de um deles estar os traindo.

A reunião tratou de outros assuntos depois de um tempo. Não pediram para Hermione, Harry e Rony se retirarem da reunião, e embora estivesse genuinamente interessada no trabalho da Ordem, Hermione lutava para permanecer acordada. Não era surpreendente, ela entendeu. Não dormira desde a noite de Natal, além da cochilada curta e agitada na casa de Snape depois que escapou da sua.

Várias operações foram discutidas, e quando os relatos foram dados, a multidão começou a se dispersar assim que muitos membros da Ordem voltaram para suas designadas tarefas, ou foram para diferentes áreas da casa onde eles estavam, naquele momento, confinados.

Harry e Rony fizeram sinal para que Hermione os seguisse para fora da cozinha, e ela assentiu brevemente para Snape, que tinha se movido para onde Dumbledore conversava com Lupin.

Ele inclinou a cabeça, dando a ela um olhar levemente curioso, e ela seguiu os amigos para o andar superior.

* * * * * * *

Snape observou Hermione sair da cozinha atrás dos amigos. Ele vira Potter chamá-la e ficou surpreso quando ela olhou em volta para ele antes de seguir com seus amigos mais jovens. Ela não estivera procurando sua aprovação, mas ele se viu levemente contente que ela olhara para ele para avisar que estava saindo.

Seus pensamentos foram interrompidos por Lupin.

– Então, Severo – ele disse cordialmente –, você está achando a Hermione uma assistente aceitável? Vocês parecem bem confortáveis um com o outro.

Snape estreitou os olhos para o lobisomem. Será que Lupin vira o olhar que ele trocara com Hermione quando ela deixou a cozinha, e estava seguindo a mesma linha de pensamento do Moody?

Entretanto, Lupin riu do olhar sombrio.

– Ah, abaixe a crista, Severo – disse calmamente. – Não estou implicando nada. Só estou dizendo que é bom que tenha encontrado uma ajuda tanto competente quanto agradável.

Snape apenas resmungou, e desta vez tanto Dumbledore quanto Lupin riram.

– Ele não está negando – Lupin disse ao Diretor –, então deve ser verdade.

Snape cruzou os braços sobre o peito e olhou feio para o Lupin.

– A Srta. Granger é uma assistente competente e uma jovem inteligente – ele disse formalmente.

Lupin riu novamente, mas não disse mais nada e saiu da cozinha. Sentado na agora deserta mesa grande, Dumbledore sorriu do jeito enfurecedor de sempre e disse:

– Admita, Severo, você gosta de ter ela por perto.

– Não importa o que eu gosto – Snape protestou, embora pudesse sentir fracos pontos corados aparecendo no alto das suas bochechas. – Importa a segurança dela, que você não pode negar que vem sendo comprometida por esse seu plano, seja lá qual for.

– Confie em mim, meu caro – Dumbledore assegurou-lhe. – Vai dar tudo certo no final. Nós garantiremos que você tenha informações úteis o suficiente sobre a Srta. Granger para mantermos o Tom feliz, e assim que sábado chegar, você vai precisar da ajuda dela mais que nunca. Eu duvido muito que um único lote da Poção Cruciatus vá satisfazer o Tom; é provável que ele queira um novo lote a cada semana.

– Eu já disse tanto para você quanto para ela várias vezes, Alvo – ele disse, também se sentando à mesa. – Eu não permitirei que ela prepare a poção.

– E você não deve mesmo – o Diretor concordou. – Mas você vai precisar da ajuda dela com o resto do seu trabalho, se você pretende fazer tudo a tempo.

Snape não podia negar aquilo. Ele já sentia que estava chegando ao fim de suas forças, e os próximos meses estavam apenas para se tornar os que mais exigiriam dele, tanto física como mentalmente. Ele não admitiria isso para o Diretor, mas o tempo que ele passava com Hermione no laboratório era o único que ele podia realmente se permitir para relaxar e baixar a guarda nestes dias.

– Ela estará bem protegida dentro da escola, Severo – o Diretor assegurou-lhe –, e quando tiver motivos para partir, ousou dizer que essa guerra estará terminada, de um jeito ou de outro.

Por alguma razão que Snape não podia explicar, esta idéia não era tão confortante quanto deveria ser.

Snape suspirou. – Eu só espero que você saiba o que está fazendo, velho.

A porta da cozinha abriu rapidamente e Lupin, Tonks e Molly Weasley entraram de novo. Snape se levantou da mesa e estava quase na porta que dava para o corredor quando Dumbledore o parou.

– Severo, talvez eu fique aqui por um tempo esta noite. Ainda há muito para discutir. Eu gostaria de saber se você faria a gentileza de escoltar a Srta. Granger de volta para a escola?

– Ah, mas, Alvo – Molly o interrompeu. – Certamente ela poderia ficar e pegar o trem de volta com Harry e Rony amanhã? Merlin sabe que a menina não teve muito de feriado até agora.

Dumbledore balançava a cabeça antes mesmo de Molly terminar de falar.

– Temo que não. Seria melhor se a Srta. Granger retornasse para Hogwarts esta noite. – Ele voltou-se para Snape, sorrindo por trás da barba. – Severo, se você não se importa?

Dumbledore sabia muito bem que ele não se importava, mas para o benefício dos outros ocupantes da cozinha, Snape fixou um olhar de indiferença no rosto e falou arrastado:

– Eu ouso dizer que darei um jeito, já que fui eu quem escoltou a menina até aqui em primeiro lugar.

Ele deu meia-volta, fechando a porta da cozinha atrás de si enquanto Molly gritava:

– Eu acho que ela está na biblioteca!

– Típico – ele resmungou, embora sem sinal de descontentamento, uma vez que não havia ninguém para ouvi-lo.

Ele realmente a encontrou na biblioteca, encolhida e quase adormecida num dos sofás aparentemente confortáveis, a cabeça dela no ombro de Rony Weasley. Snape sentiu uma onda estranha de ciúmes com a intimidade da cena, mas manteve seu rosto impassível.

O garoto ruivo estava jogando uma partida de xadrez com o Potter, que estava sentado de frente para o casal numa poltrona, e os dois rapazes olharam para cima, assustados, quando Snape entrou à passos largos na biblioteca.

– Professor? – Potter o observou cautelosamente quando ele parou a uma distância curta deles, os braços cruzados.

– A Srta. Granger deve voltar comigo para Hogwarts esta noite.

A cabeça encaracolada não se moveu, mas os olhos do Weasley lampejaram quando ele disse:

– Dê um tempo a ela! Ela não dorme desde a noite de Natal! Por que ela não pode ficar com a gente?

Snape olhou com descaso para o jovem Weasley, notando com alguma surpresa que o Potter não tinha replicado com uma objeção própria.

– Independente do que você acha melhor, Sr. Weasley, o Diretor deu sua ordem. Eu não tenho nem tempo, nem vontade de ficar aqui esperando vocês terminarem sua pequena seção de afagos – ele disse, sorrindo maliciosamente quando as pontas das orelhas do rapaz ficaram com um tom interessante de vermelho. Mais alto, ele acrescentou: – Srta. Granger!

Ela se mexeu e tirou os cabelos dos olhos, seu olhar caindo nele.

– Sev...

– Srta. Granger! – ele vociferou novamente, agradecendo por tê-la assustado a ponto de deixá-la em silêncio. Ele sabia o que ela estava prestes a dizer, o sono devia ter anuviado sua mente. A última coisa que ele precisava era que o Potter e o Weasley ouvissem sua melhor amiga se dirigindo a ele com tamanha familiaridade. Eles provavelmente o acusariam de dar a ela uma poção de coerção.

– Prof. Snape? – Ela se recuperou do susto, sentando-se direito e observando-o numa mistura de expectativa e embaraço.

– O Diretor decidiu que você deve retornar a Hogwarts esta noite – ele disse. – Eu a esperarei lá em baixo em não mais que cinco minutos.

Sem esperar por uma resposta de qualquer um do trio, ele se virou e saiu da biblioteca, fechando a porta um tanto forte demais no seu caminho.

Fora no corredor, ele parou por um momento e fechou os olhos, respirando fundo.

Ponha-se em ordem, homem – ele se repreendeu, endireitando os ombros e seguindo para as escadas no final do corredor. Ela estava apenas passando algum tempo com os amigos... seus outros amigos – ele acrescentou.

Ele não sabia direito o que o perturbara tanto na cena que acabara de presenciar... ou melhor, ele não queria admitir por que ele vinha conscientemente se lembrando de abrir seus punhos cerrados enquanto estava na biblioteca.

Talvez fosse a expressão de contentamento no rosto da Hermione enquanto ela estava encolhida ao lado do Weasley, ou a simples intimidade dos três amigos que apreciavam os poucos momentos de quietude raramente encontrados nos últimos tempos.

Não, na verdade, foi a lembrança de senti-la aconchegada ao seu lado da mesma forma, quase adormecida, menos de vinte e quatro horas atrás. Fora um estímulo para ele que ela tivesse encontrado conforto na sua presença, de perceber que ela confiava nele o suficiente para permitir-se cair no sono. Ao vê-la com seus amigos e ouvir a réplica mordaz do Weasley sobre como ela precisava dormir, a compreensão que o atingiu foi que provavelmente não fora conforto que ela sentira na presença dele afinal; ela apenas estava muito cansada para manter os olhos abertos, independente de quem era o corpo quente ao lado dela.

Deve ser falta de horas de sono de sua parte que estavam fazendo-o reagir de forma tão atípica. Será que ele estava realmente com ciúmes da camaradagem fácil que ela dividia com seus companheiros grifinórios?

Ele teria debochado de si mesmo por tal pensamento, não fosse pela pontada repentina no seu peito que o traiu. Merlin, ele devia estar amolecendo. Tais sentimentalismos ridículos ele normalmente deixava para o Diretor; sonserinos não mostravam seus verdadeiros sentimentos, nem vestiam seus corações em suas mangas, especialmente um sonserino na posição dele. Sentimentos e emoções serviam apenas para distraí-lo, tornando-o uma presa fácil para os jogos mentais do Lorde das Trevas.

Ainda, apesar de todos os seus protestos, ele não podia negar que havia alguma coisa na sua jovem amiga que o fazia desejar que ele pudesse ser apenas quem ele era. Sem tentar conscientemente, ele a permitira ver mais e mais do seu verdadeiro ser nestas últimas semanas, ao invés da pessoa fria e sem sentimentos que os outros achavam que ele era.

Ela se aproximara dele, obrigando-o a se abrir ainda mais, e ele se deixara vencer pelos seus estímulos gentis com nem mesmo um protesto, para os seus padrões, de qualquer forma. Claro, ele armara um bom espetáculo para resistir a ela, especialmente mais cedo naquele dia. Ele estivera relutante em revelar muito de si, afim de que ela não se assustasse ou desaprovasse ou, ainda pior, se revoltasse e se distanciasse dele novamente.

Mas ela não o fizera. Seus olhos castanhos encheram-se com tamanha compaixão enquanto traçava as cicatrizes antigas no seu peito... um arrepio correu pela sua espinha com a ilusão da lembrança do toque dela.

Ele balançou a cabeça, tentando limpar a mente assim que alcançou o final da escada. Ele já tinha muito com que se preocupar na sua situação atual sem essas inseguranças insignificantes juntando-se aos seus problemas.

E ele quase se convencera que seus sentimentos pela jovem grifinória eram insignificantes.

Quase.

* * * * * * *

Hermione se levantou, alisando suas roupas um pouco amarrotadas assim que a porta bateu atrás do Snape. Se ela não soubesse bem, pensaria que ele parecia quase furioso por encontrá-la na companhia dos seus amigos.

– Mais que inferno – Rony exclamou. – Depois de tudo que você passou, daria para achar que o panaca lhe daria uma folga. Como ele pode ser tão insensível?

– Mas você está falando do Snape – Harry resmungou.

Hermione suspirou.

– Está tudo bem. Acho que se alguém precisa de uma folga, provavelmente é ele.

Rony balançou a cabeça.

– Eu sei que você está passando um tempão com ele, Mione, mas eu não entendo por que você continua o defendendo quando ele é tão sórdido.

– Ele salvou a minha vida, Rony – ela o censurou –, e arriscou a dele fazendo isso. Isso não conta para nada?

Rony resmungou alguma coisa baixinho, mas não admitiu sua derrota.

– E ele não é sórdido na verdade – ela murmurou, espreguiçando-se ligeiramente enquanto massageava o pescoço duro.

– Pois podia ter me enganado – Rony disse irritado, empurrando seu cavalo para frente no tabuleiro de xadrez.

– Ele está enganando você, Rony – ela disse agressivamente, exasperada pela constante desconfiança dele no mestre de Poções. – Ele tem que enganar todo mundo, ou você se esqueceu do que ele faz quando não está dando aula? O que Voldemort diria se descobrisse que o Snape estava favorecendo os grifinórios ou os nascidos trouxas ao invés dos filhos dos Comensais da Morte?

– Ninguém podia ouvi-lo esta noite – Rony replicou. – Eu posso entender que ele seja um panaca em público – ocasionalmente – mas hoje não havia desculpa.

– Poderia ter alguém ouvindo, Rony – Harry alertou. – Lembre-se, nós ainda não sabemos se alguém da Ordem está jogando dos dois lados... alguém além do Snape, eu digo. Vocês ouviram o que o Dumbledore disse; ele não tem idéia de como as informações estão vazando.

– As paredes têm ouvidos, especialmente numa casa como esta – Hermione acrescentou. – Até que o espião seja pego, todos têm que ser cuidadosos, mas especialmente o Prof. Snape.

Rony parecia desconfortável. – Eu acho que está certa – ele disse depois de um tempo.

– Eu já vou indo, então – Hermione disse. – Não quero deixar o Prof. Snape esperando, então vejo vocês dois amanhã, quando o trem chegar.

Ela se dirigiu para a porta, mas parou quando Harry chamou seu nome. Seus dois amigos se aproximaram dela, e então, em uníssono, envolveram-na num abraço apertado.

– Estamos felizes que esteja bem – Harry disse brandamente, a voz abafada no cabelo dela. Rony ecoou seus sentimentos por cima do outro ombro dela, e ela murmurou seu agradecimento. Afastando-se, fixou um sorriso para os dois amigos e deixou a sala.

Ninguém do trio notou o ruído abafado num canto escuro da biblioteca; as paredes tinham ouvidos, certamente.

* * * * * * *

Hermione voltou para Hogwarts pela rede Flu com Snape pouco tempo depois. Ela ficou em pé, um pouco embaraçada, no meio da sala de estar enquanto o mestre de Poções despiu-se de suas vestes externas e sua sobrecasaca, jogando-as sobre o encosto do sofá.

– O que você vai fazer? – ela perguntou, seguindo-o até o laboratório, onde ele começou a preparar um grande caldeirão numa das bancadas.

– Eu tenho uma poção para preparar, se você se recorda – disse secamente.

A Poção Cruciatus – ela pensou, seus olhos flutuando para a mesa dele e o livro de anotações, ainda colocado onde ele o deixara antes.

– Você precisa de mim para alguma coisa?

– Eu achei que nós já tínhamos superado isso, Hermione – ele suspirou, virando-se para os armários e tirando as proteções com um aceno da varinha.

– Não – ela disse. – Eu quis dizer, há mais alguma coisa que eu possa fazer? Qualquer outra coisa que precise ser preparada?

Ele balançou a cabeça, considerando-a com um olhar contemplativo enquanto retornava à bancada, os braços cheios de frascos e garrafas de ingredientes.

– Você realmente precisa descansar – ele disse novamente. – Por mais que me doa ter que admitir, o Weasley estava certo; você não conseguiu descansar por mais de algumas poucas horas nos últimos dois dias.

– Nem você – ela alegou.

– Eu estou acostumado a dormir muito pouco – ele respondeu. – Você, por outro lado, não está. Eu acredito que a primeira coisa que você tem na segunda de manhã é Poções, e seria uma vergonha para mim ter que descontar pontos da Grifinória se você cair no sono na minha aula.

Ela estreitou os olhos. – Você não faria isso!

– Não pense que a nossa amizade vai mudar a maneira como eu a trato nas aulas, Hermione – ele a alertou sombriamente. – Você sabe quais seriam as conseqüências disso.

– Eu sei – ela suspirou, pegando um banco e sentando-se do lado oposto ao que ele começara a cortar um punhado de raízes de descuraína. – Eu só gostaria que fosse diferente.

Seus olhos negros encontraram os dela, refletiam uma mistura de surpresa, apreciação e tristeza. – Eu também, Hermione – ele murmurou. – Eu também.

Ela sentou em silêncio, observando as mãos dele preparando habilmente os ingredientes com uma precisão que ela só podia sonhar em ter. Supunha que isso vinha com os anos de prática, mas não havia dúvidas do talento natural dele para a arte, também. Ele parecia seguir seus instintos tanto quanto qualquer receita escrita, e pelo que ela ouvira das pesquisas dele – o que foi muito pouco – seus instintos freqüentemente provavam ser o mais bem sucedido dos dois.

Depois de meia hora de silêncio, Snape largou a faca e colocou as mãos abertas sobre a mesa. A tranqüilidade trouxe Hermione de volta dos seus devaneios, e ela levantou os olhos para o rosto dele.

– Com o risco de estar me repetindo – ele disse gravemente –, você vai ficar sentada aí e me assistir a noite inteira?

Ela desviou o olhar. A verdade era que ela não tinha vontade de voltar para a torre deserta da Grifinória. Ela sabia que o castelo era suficientemente seguro; mais seguro, possivelmente, que quando estava cheio de alunos, mas ela não achava que passar a noite sozinha, a meio castelo de distância da pessoa mais próxima, lhe daria uma boa noite de sono. Não depois do que acontecera ainda na noite passada.

– Alguma coisa está te incomodando – Snape comentou. Não era uma pergunta, mas ele a observava ansioso por uma resposta, assim mesmo.

Ela suspirou e, depois de um momento de indecisão, contou-lhe o que estava sentindo.

– ...é só que eu me sinto mais segura estando por perto de... alguém – ela disse no final da explicação, acrescentando sem graça: – É bobo, eu sei.

– É perfeitamente compreensível, dado tudo que aconteceu. Entretanto, isso ainda não resolve a questão do sono. Você não vai descansar nada se ficar sentada aqui me assistindo a noite inteira, embora... – seus lábios levantaram-se um pouco – ...Poções é conhecida por fazer os alunos dormirem.

Ela deu um sorriso fraco, e Snape voltou para seus ingredientes, adicionando cuidadosamente a descuraína num pequeno frasco de infusão de efedrina chinesa.

Hermione esperou um pouco mais, seus olhos ficando mais pesados a cada minuto, antes de perguntar hesitante:

– Você acha que eu poderia dormir no seu sofá, só por algumas horas?

– O sofá é para sentar, não para dormir – ele respondeu franzindo a testa.

– Você não teve nenhum problema com isso mais cedo – ela replicou.

Ele levantou uma sobrancelha com o tom dela. – Eu agradeceria se você se lembrasse que estes são os meus aposentos e eu posso fazer o que quiser. Você, entretanto, não tem tal privilégio.

– Eu ainda não entendo qual é o problema – ela grunhiu. – Eu dormirei melhor num sofá aqui embaixo que numa cama a cinco andares acima da pessoa mais próxima.

– A diferença, Hermione – ele disse, soltando o frasco de onde ele estava prestes a medir um líquido vermelho viscoso –, é que você precisa de uma noite inteira de sono decente, e um sofá não serve para um sono tranqüilo.

– Mas...

Ele levantou uma mão para interromper o protesto dela e pareceu deliberar alguma coisa antes de falar novamente.

– Você realmente acha que não conseguirá dormir na torre da Grifinória esta noite?

Ela balançou a cabeça.

– Você pode ficar aqui, então – ele suspirou. – Entretanto, você terá uma noite apropriada de sono em uma cama.

– Você tem um segundo quarto?

Foi a vez dele balançar a cabeça, e ela o encarou incrédula.

– Na sua cama?

Ele endireitou um pouco as costas e cruzou os braços contra o peito, interpretando corretamente a expressão chocada dela.

– Não comece a pensar como aquele paranóico do Moody – ele disse firmemente. – Esta poção requer minha total atenção pelas próximas dez horas, e eu não a verei dormindo num sofá enquanto uma cama perfeitamente boa permanece vazia.

A oferta foi completamente inesperada, embora muito bem vinda. Foi também, ela percebeu depois, um sinal de como ele realmente confiava nela, que ele não só a permitiria no seu domínio pessoal como fizera mais cedo naquele dia, mas a deixaria ficar em seu quarto, sozinha, sem temer que ela bisbilhotasse e explorasse a confiança dele.

– Tem certeza de que não há problema? – ela perguntou hesitante.

Ele levantou uma sobrancelha de novo.

– Eu não teria oferecido se houvesse – ele disse seriamente.

– Obrigada – ela disse, instigando um olhar estranho dele.

– Você parece estar dizendo muito isso ultimamente – ele comentou em resposta à expressão dela.

– Parece que eu tenho bons motivos – ela respondeu, ganhando um sorriso malicioso dele.

– Bem – ela disse um pouco depois, vendo-o arrumar o caldeirão e adicionar os primeiros ingredientes. – Eu acho que deveria, er... ir dormir, então.

Ele assentiu distraidamente, concentrando-se enquanto media um líquido azul escuro e o colocava dentro do grande caldeirão, aumentando a chama abaixo dele com sua varinha.

– A porta não está protegida. Se você precisar de alguma coisa, vai ter que se virar. Eu não posso sair daqui agora.

Ela levantou e atravessou a sala. Parando ao lado dele, colocou uma mão no seu ombro, apertando-o levemente e tentando transmitir seu agradecimento sem ter que recorrer à mesma palavra toda vez. Ela a retirou depois de um momento e seguiu para a porta.

– Boa noite, Hermione.

Ela se virou, mas a atenção dele estava novamente na poção, o rosto iluminado pelo brilho das chamas abaixo do caldeirão sobre o qual ele estava inclinado.

– Boa noite, Severo – ela repetiu, e puxou a porta atrás dela, deixando-a levemente entreaberta.

Fazendo seu caminho até o quarto do mestre de Poções, a estranheza da situação de repente a atingiu. Ela se perguntou se era isso que o Diretor tinha em mente quando lhe disse lá em novembro:

– Ele vai precisar de alguém em quem possa confiar antes dessa guerra terminar.

Ela duvidava que até mesmo Dumbledore pudesse ter imaginado o quanto eles se dariam bem juntos; ela certamente jamais sonhara em ter alguma coisa além de uma trégua desconfortável com o mestre de Poções que ela achava que conhecia antes disso tudo começar.

Ela estava nos aposentos privativos dele, dificilmente havia algum outro ser na escola, e ela ia dormir na cama dele. Sem ele – ela acrescentou, mas afastou esse pensamento antes que tivesse tempo de discorrer sobre como se sentia quanto a isso.

Andando até as janelas, ela fechou levemente as cortinas pesadas, permitindo que um pouco do luar infiltrasse no quarto. Tirou os sapatos e tirou o agasalho por cima da cabeça, optando por deixar o resto, mesmo que seus jeans fossem um pouco desconfortáveis para dormir.

As cobertas da cama estavam levemente amarrotadas onde ele se deitara mais cedo naquele dia para que ela currasse suas costelas. Ela se arrepiou involuntariamente, lembrando-se da pele fria sob o seu toque e dos vergões levantados das cicatrizes que ele não queria que ela visse. A expressão do rosto dele quando ela as vira a confundira e assustara; será que ele realmente achava que ela ficaria revoltada com elas, que ela o julgaria baseada em alguma coisa que estava fora do controle dele?

O fato da opinião dela obviamente ter algum significado para ele também era estranho. Ele nunca lhe passara a impressão de ser alguém que se preocupava muito com o que os outros pensavam dele.

Refletindo sobre isso, ela se enfiou embaixo das cobertas e se afundou nos travesseiros macios. O perfume fresco e terreno que sempre se projetava do Snape preenchia o quarto, e ela virou-se de lado, agarrando um dos travesseiros contra ela numa imitação de abraço.

Se ela escutasse com cuidado, poderia ouvir os sons fracos que vinham do laboratório; o tilintar dos frascos de vidro, e a batida forte da faca enquanto o mestre de Poções trabalhava incansavelmente.

Suas pálpebras ficaram mais pesadas, e ela respirou fundo pelo nariz, sentindo o aroma familiar que viera a significar conforto e segurança para ela em tempos tão incertos. Se ela abraçasse o travesseiro um pouco mais apertado, ela quase poderia imaginar que era um corpo quente ao lado dela.

Quase.

* * * * * * *

Horas depois, Severo Snape descansou seu bastão de vidro e afastou-se do caldeirão. Os próximos quinze minutos seriam o único tempo na maratona de dez horas do processo de preparo que ele poderia permitir que sua atenção vagasse um pouco, já que teria que permanecer tranqüila antes que o próximo ingrediente pudesse ser adicionado.

Ele olhou para os vários frascos e garrafas de ingredientes que tinha alinhado na preparação para o próximo estágio. Tudo estava pronto, e ele poderia ter um descanso de alguns minutos.

Inconscientemente, ele se viu deixando o laboratório e cruzando a sala de estar para parar logo na entrada do seu quarto. Não conseguia ouvir nada lá de dentro, embora a porta estivesse entreaberta, e ele se perguntou o que estava fazendo exatamente.

Não faria mal apenas enfiar sua cabeça pela porta e ter certeza que ela estava bem, faria?

Empurrando a porta para que abrisse um pouco mais, ele deslizou para dentro do quarto e olhou de relance para a cama. Um raio de luar brilhava através das cortinas abertas, caindo na figura adormecida de Hermione.

Ela estava deitada de lado, agarrando um dos seus travesseiros contra o corpo num forte abraço, e o cabelo rebelde caía sobre o rosto dela, ocultando-o da sua vista. Antes que soubesse o que estava fazendo, ele se viu do outro lado do quarto, parado ao lado da cama e esticando uma mão para afastar cuidadosamente a mecha retorcida.

A luz do luar caía sobre o rosto dela, iluminando suas feições adormecidas e os cílios castanho-claros que descansavam na sua face. Ele a fitou, hipnotizado pela maciez da sua pele e pelo som calmo da sua respiração.

Embora ele tivesse negado antes, ele percebeu que estava apenas se enganando se não conseguia admitir que sentia algo além de amizade por esta jovem. Ela o surpreendera de tantas formas.

Ela fez um movimento repentino no seu sono e ele deu um passo para trás. Não seria bom ela acordar e encontrar seu vulto sobre ela daquela maneira. Ela iria querer saber o porquê, e ele não achava que seria capaz de mentir de maneira suficientemente convincente; não sobre aquilo, e não para ela.

Ele praguejou silenciosamente enquanto deixava o quarto relutante e retornava à poção. Por mais desejável que fosse, ela certamente estava provando ser uma distração. Ele se perguntou em vão se era isso que o Diretor tinha em mente quando os aproximou em primeiro lugar.

Conhecendo Alvo Dumbledore, ele não duvidaria de nada.

* * * * * * *

Hermione acordou na manhã seguinte se sentindo mais descansada do que estivera em semanas. Encontrou Snape no laboratório, ainda trabalhando sobre o caldeirão, parecendo mais cansado que nunca.

Ela sabia que ele não poderia descansar até que aquele estágio particular do preparo estivesse terminado, entretanto, não querendo distraí-lo e ainda sentindo-se um pouco desconfortável por ter passado a noite na cama dele, ela se retirou da presença dele e seguiu seu caminho para a torre da Grifinória.

O dia passou rapidamente, entre terminar os últimos dos seus deveres de férias e encomendar novos livros pelo corujal para repor aqueles que ela levara para casa antes do Natal. Ela foi visitar o Hagrid depois do almoço, e então, no final da tarde, foi com ele até a estação de Hogsmeade para encontrar o Expresso de Hogwarts.

Ela abraçou Harry e Rony fortemente mesmo tendo os visto ainda na noite passada, e eles falaram sem parar enquanto faziam seu caminho até o castelo para o jantar.

A sala comunal estava barulhenta naquela noite, com muitos alunos mostrando seus presentes de Natal na forma das Gemialidades Weasley, logros da Zonko, conjuntos de xadrez, Bexigas e Snaps Explosivos.

Os dois únicos presentes de Natal de Hermione que sobreviveram foram o livro que Snape lhe dera, agora seguramente guardado em seu quarto, e o colar dos seus pais. Ela ainda o estava usando na noite que os Comensais da Morte atacaram e se perguntou se era pura superstição que a runa oferecia de fato alguma proteção... talvez eles tiveram apenas muita sorte.

O ataque à casa de Hermione, para o seu alívio, não parecia ser de conhecimento público, e a única pessoa que lhe perguntou sobre isso foi o Neville, que obviamente ouvira sobre o acontecido através da avó e suas conexões.

Não demorou muito para Hermione começar a bocejar, e ela desejou boa noite aos amigos e foi para o quarto, colocando um feitiço silenciador na porta por hábito.

Subindo na cama no escuro, ela deitou-se de costas, olhando para o dossel. Alguma coisa parecia errada, mas ela ainda não sabia o que era. Apertando fortemente o travesseiro, ela fixou os olhos na escuridão silenciosa, debatendo-se e virando-se na cama por muitas horas antes que o sono finalmente chegasse.

* * * * * * *

Muito depois que Hermione tivesse caído no sono lá na torre da Grifinória, Severo Snape finalmente foi para a cama, tirando a roupa e afundando-se cansado embaixo das camadas de cobertas. Ele estivera acordado por três dias seguidos e, apesar de ter dito à Hermione que não precisava de muito descanso, até ele tinha seus limites.

Hermione.

Ela era apenas uma das muitas coisas que vinham lhe dando noites de insônia ultimamente, e não apenas por causa do que acontecera no Natal.

Tornando-se amigo dela, ele deixara de vê-la como uma aluna na maior parte do tempo. O lado ruim disso era que ele era então forçando a vê-la como uma jovem mulher, e apesar dos protestos veementemente repetidos pela parte moral do seu cérebro, seu corpo estava lhe dizendo que gostava muito do que viu.

Todas as vezes que seus pensamentos começavam a vagar, uma vozinha na sua mente começava a cantar: Aluna, aluna, aluna, sem parar, num mantra estranho, mas seu corpo e o resto da sua mente não prestavam atenção.

Sob quaisquer outras circunstâncias, ele teria ficado apavorado com seus pensamentos traiçoeiros. Não havia nada mais repulsivo que um professor cobiçando uma aluna aos seus cuidados, mas embora ele tivesse descrito Hermione exatamente assim quando questionado na noite anterior pelo Moody, ela realmente era muito mais que isso. Apesar da sua condição de aluna, ela era uma adulta, uma amiga, uma igual e alguém em quem, apesar da sua apreensão inicial, ele sabia que podia confiar mais cegamente como jamais confiara em alguém antes, salvo talvez o Diretor.

Não que isso realmente importasse de qualquer maneira, porque ele estava apenas pensando alto. Ele nunca trairia a confiança colocada nele como professor, e as chances dela corresponder seus sentimentos eram ainda menores que as chances dele sobreviver a esta guerra infernal... em outras palavras, quase nenhuma.

Afundando-se ainda mais debaixo das cobertas, ele fechou os olhos e tentou afastar todos os pensamentos dela da sua cabeça, mas alguma coisa impedia que isso acontecesse. Virando a cabeça levemente num dos seus travesseiros, ele percebeu o que era. A imagem da noite anterior veio à sua cabeça, dela agarrando-se ao mesmo travesseiro enquanto dormia. Ele inalou o perfume que ainda se agarrava à cama. Era uma fragrância intoxicante; frutada e jasmim, com um toque de baunilha.

Ele praguejou alto quando sentiu seu corpo reagindo ao pensar numa mulher em sua cama e rolou de bruços num esforço vão de suprimir sua excitação. Talvez seus pensamentos fossem apenas um efeito colateral de estar perto de uma mulher – qualquer mulher – que voluntariamente se colocou tão próxima a ele. Não era uma coisa que ele experimentava regularmente, e seu corpo não estava medindo esforços para lembrar-lhe do fato.

Ainda, ele não conseguia sequer tirar a imagem dela dormindo na noite passada da sua mente, e se viu perigosamente perto de admitir o quanto ele quisera estar lá com ela.

Com pensamentos como aquele, não era de se surpreender que seu corpo não lhe desse folga. Depois de uma hora de uma indecisão sem descanso lutando contra sua mente e sua moral, ele gemeu e virou-se de costas, se entregando aos desejos traiçoeiros do seu corpo.

Não havia prazer nos golpes rápidos e insistentes da sua mão, apenas a necessidade de um alívio que deixaria seu corpo sossegado, mesmo que sua mente permanecesse em desordem.

Não havia nenhum som no quarto além do leve ruído da carne se esfregando na carne por baixo dos lençóis, e uma desarmonia da sua respiração quando ele se aproximou do seu máximo. Ele ainda podia sentir o perfume dela preso na roupa de cama em volta dele quando uma única palavra sussurrada fugiu da sua boca:

– Hermione.


* * * * * * *

Continua


Notas da autora:

1. Sim, eu ainda estou aqui. O Enigma do Príncipe foi um chute no saco no que diz respeito à esta história (não me levem a mal, ainda adoro o livro) mas eu planejo continuar num UA enquanto as pessoas ainda quiserem lê-la.

2. Obrigada a todos que me encorajaram a continuar escrevendo na última semana e meia, mas especialmente a tkurogrym e LariLee, sem as quais tenho certeza que não teria escrito metade do capítulo ainda, muito menos postado esta noite.

3. Se você leu até aqui, você pode ver porque mudei permanentemente a classificação da história. E... sim, foi um pouquinho diferente, não foi? Bem, ele é homem, afinal de contas.

4. Não há dúvidas que na minha cabeça de que o Snape é bom, e vou acreditar nisso até que o livro 7 diga o contrário. Se isso acontecer... bem, vocês sabem o que dizem por aí... as garotas más se divertem mais. Lado negro, aí vou eu! :P

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