Para onde vamos a partir daqui



Antes do Amanhecer
Escrito por snarkyroxy
Traduzido por BastetAzazis
Betado por Ferporcel

Sumário: O esbarrão de Snape com a morte mudou muitas coisas... algumas para melhor, outras não.

Disclaimer: Tudo que você reconhece pertence ao gênio imensurável de J. K. Rowling; eu só gosto de pegá-los emprestado e brincar com eles.


* * * * * * *

Capítulo 28: Para onde vamos a partir daqui?


Na terça-feira de manhã, Hermione fez seu caminho para a sala comunal assim que amanheceu para dar os últimos retoques no seu trabalho de Aritmancia, a ser entregue depois do almoço. Normalmente ela teria terminado o trabalho com dias de antecedência, mas ela estivera um tanto preocupada e deixara todas as lições se acumularem.

Ela estava justamente enrolando os vinte centímetros de pergaminho e colocando-o de volta na mochila quando Harry e Rony desceram do dormitório dos meninos.

– Bom dia, Hermione – Harry disse, Rony imitando o cumprimento, acrescentando: – Você levantou cedo.

– Apenas terminando algumas lições – ela disse com um sorriso, garantindo-lhe um olhar esquisito dos dois amigos.

– O quê?

– Faz um bom tempo que não vejo essa expressão no seu rosto – Harry disse, devolvendo o sorriso. – Devo assumir que você tem boas notícias?

Hermione assentiu e depois olhou em volta. Outros alunos começavam a descer para a sala comunal, então ela acenou para os rapazes a seguirem de volta para seu próprio quarto, fechando a porta atrás deles e adicionando um Feitiço Silenciador por cuidado.

Sentando-se na cama, ela explicou brevemente aos amigos o que acontecera na noite anterior.

– Ah – refletiu Rony. – Por isso você não estava no jantar. Nós imaginamos quando vimos Dumbledore, McGonagall e Lupin todos juntos; isso não acontecia há séculos.

– Era tão óbvio? – ela perguntou preocupada.

– Apenas para nós – Harry assegurou-lhe. – Então, quando ele volta a lecionar? Acho que eu realmente posso ter agarrado um E com a poção de sexta-feira. Melhor aproveitar enquanto dure.

– Não sei se ele vai voltar – ela disse em voz baixa. – Do jeito que Dumbledore falou no café da manhã semana passada, não parece que será assim.

Ela franziu a testa com o suspiro de alívio audível do Harry.

– Ah, eu sei, Hermione – ele disse rapidamente, antes que ela pudesse censurá-lo. – Estou feliz por ele estar bem porque ele é bom para a Ordem e porque você estava preocupada com ele, mas ele ainda é a mesma pessoa para mim.

– Estou cuidando disso – ela murmurou quietamente.

– Eu não me esforçaria tanto – Rony deu uma risadinha.

– É – Harry acrescentou. – Não é como se o sentimento não fosse inteiramente mútuo.

– Sim, bem – ela disse sucintamente. – Eu só pensei que vocês estariam interessados em saber, de qualquer forma, e você até perguntou.

– Nós estamos, Hermione – Harry disse. – Obrigado.

– Então, isso significa que veremos mais você? – Rony perguntou esperançoso.

– Eu não sei – Hermione suspirou. – Quero dizer, obviamente mais do que têm me visto na última semana, mas vai parecer estranho se eu parar de fazer poções para a enfermaria e o lugar continuar com os estoques cheios. Tenho certeza que Dumbledore vai pensar em alguma coisa, entretanto. Além disso, o Severo não parece estar pronto para preparar poções ainda, e eu preciso levar a Poção Mata-cão para o Prof. Lupin todas as noites desta semana, então...

Ela se interrompeu, percebendo que Rony a encarava como se ela tivesse ficado louca.

– O quê?

Ela olhou para o Harry, confusa, mas ele desviou os olhos e olhou de relance para o Rony ao invés disso, deslocando-se desconfortavelmente no lugar.

– Diga que estou ouvindo coisas – Rony disse, olhando para o Harry com uma expressão vagamente suplicante.

– Você não está – Harry disse. Vendo a expressão confusa de Hermione, ele suspirou e acrescentou calmamente: – Você o chamou de Severo, Hermione.

Ela bateu a mão na boca, os olhos arregalados. A forma de endereçamento se tornara quase que natural para ela fora da sala de aula de Poções, que era o único lugar que ela falava com ele na presença de outras pessoas. Claro que Harry não estava surpreso – ele a vira interagir com Snape na noite que a adaga fora retirada –, mas ele ainda parecia um pouco perturbado pelo trato amigável. Rony parecia positivamente verde.

– É do Snape que nós estamos falando aqui – ele disse.

Aqui vamos nós de novo – ela pensou, imaginando como seu amigo de cabelos vermelhos reagiria se algum dia ela lhe contasse a verdade sobre seus sentimentos pelo Snape. Melhor manter aquilo para ela mesma, pelo menos por enquanto.

– O que está acontecendo com ele? Você não o chama assim! – Rony continuou, confuso.

– Eu o chamo assim mesmo, Rony – ela disse, exasperada. – Ele é meu amigo, assim como você. Como você quer que eu o chame? Sr. Snape?

Harry segurou uma risada e ela olhou feio para ele, indiferente.

Rony balançou a cabeça.

– Desculpe, Hermione, mas isso é simplesmente... errado.

– Por quê? – ela perguntou, a voz ficando mais alta. – Por que é errado? Porque você não concorda com isso? Porque você não gosta dele?

– Bem, eu... – Rony gaguejou. – É que ele não é uma pessoa para se ter como amigo.

– Ora, não seja tão ridículo, Rony – ela vociferou. – Todo mundo tem amigos, e acontece que ele é um dos meus, assim como você... ou como você era, se for continuar agindo assim. Você não precisa gostar, mas não há nada que possa fazer quanto a isso.

– Você está certa – ele disse, levantando-se, um olhar furioso no rosto. – Eu não gosto disso.

Com aquilo, ele saiu tempestivamente do quarto, batendo a porta no seu caminho.

Hermione e Harry encararam a porta fechada por um tempo, e depois ela se afundou de volta na beira da cama.

– Eu nunca deveria ter contado a ele nada disso – ela suspirou.

– Nós não podemos excluí-lo, Hermione – Harry disse, sentando-se ao lado dela. – Nós somos um time, lembra?

Ela bufou.

– É... que time. Só me enfurece o quanto ele pode ser obtuso. Eu sei que o Snape foi cruel com ele nas aulas, mas não mais que com qualquer outro, e nem a metade do que foi com você. É quase como se Rony o odiasse por sua causa.

– Humm – Harry murmurou. – E eu nem mesmo o odeio mais... não realmente.

Hermione olhou para o amigo, surpresa.

– Bem – Harry emendou. – Não é como se eu gostasse dele ou algo assim. Eu só... Eu acho que o entendo um pouco melhor agora.

Hermione riu.

– Isso é um pequeno feito. Até mesmo eu não o entendo na maior parte do tempo.

Houve silêncio por um instante, e depois Harry se virou para encará-la, uma expressão séria no rosto.

– Hermione – ele começou. – Você é minha amiga, uma das minhas melhores amigas, certo? Você é o mais próximo que eu já tive de uma irmã.

Ela olhou para ele curiosamente.

– O que está realmente acontecendo entre você e o Snape? – ele perguntou sem rodeios.

Ela o encarou, sentindo um rubor crescer nas bochechas mesmo enquanto dizia:

– Não comece você também, Harry. Já ouvi bastante destas acusações do Rony.

– Eu não estou acusando – ele disse. – Só estou perguntando. Eu conheço você, e o jeito como você olhava para ele naquela noite era mais que amizade.

– Eu achei que ele estava morrendo, Harry – ela replicou. – Eu estava preocupada, e desconcertada, exatamente como ficaria se fosse você ou o Rony na posição dele.

Ela desviou o olhar. Hermione odiava não lhe dizer a verdade, embora ela não tivesse mentido exatamente... apenas desviado da pergunta, realmente.

– Até aonde isso já foi?

– Eu... o quê? – Ela encarou Harry, o rosto empalidecendo momentaneamente antes de sentir o calor crescendo nas bochechas novamente.

Ele a observava de perto, claramente esperando por uma resposta, e por mais que ela tentasse não conseguiria juntar escárnio para responder com um sarcástico “Lugar algum” ou “Você só pode estar brincando.”

Ao invés disso, ela balançou a cabeça e disse:

– Não vejo como isso seja da conta de alguém.

– Céus, eu estava certo – Harry murmurou, tomando a falta de protesto dela como confirmação das suas suspeitas. Ele se levantou e andou até a janela.

– Harry, eu... – Ela se interrompeu, sem nenhuma idéia do que dizer ao amigo, ainda sentindo a necessidade de dizer alguma coisa, mesmo que realmente aquilo não fosse da conta dele.

– Só não me diga que você está apaixonada por ele ou algo assim – ele murmurou. – Eu posso ser mais compreensivo que o Rony, mas até eu tenho meus limites.

Ela baixou os olhos para as mãos e ouviu o leve farfalhar das vestes dele quando ele voltou para parar em frente a ela.

– Hermione.

Ela olhou para cima e encontrou os olhos dele, vendo a expressão de desgosto passar pelo rosto dele. Ela suspirou, percebendo que teria que se explicar agora, com receio que ele pulasse para a conclusão errada.

– Harry – ela disse, pegando a mão dele e puxando-o para sentar-se ao lado dela. – Não é o que você está pensando.

– Você não quer saber o que eu estou pensando – ele disse com um arrepio visível.

– Olhe – ela disse. – É difícil de explicar. Eu conheço um Severo Snape completamente diferente daquele que você conhece, aquele que a maioria das pessoas conhece. Sim, o Severo ainda é sarcástico e pavio curto, mas ele não é cruel nem odioso só por ser. Ele é brilhante, e eu aprendi tanto com ele, e eu... eu simplesmente gosto verdadeiramente de passar o tempo com ele, Harry. Você consegue entender isso?

Seu amigo ficou em silêncio por um tempo, observando-a com uma expressão indecifrável no rosto.

Finalmente, ele disse:

– E não há mais nada entre vocês dois?

Ela balançou a cabeça. Ela estava sendo honesta… na maior parte. Não valia a pena mencionar um simples beijo, e aquilo era tudo o que era... por agora.

– Eu não consigo entender – ele disse com um suspiro. – Mas eu posso aceitar, eu acho.

– Já está bom o bastante para mim – ela disse calmamente, aliviada. – Você vai tentar colocar algum senso no Rony, então? Eu só acho que ele não vai ouvir alguma razão de mim, e não quero que a gente brigue... não agora.

Depois de quase perder um amigo, ela não queria permanecer em más relações com mais ninguém.

– Vou tentar – ele disse –, mas não segure o fôlego. Você sabe como ele é.

Sim, eu sei – ela suspirou intimamente, e eles deixaram o quarto e desceram para o Salão Principal para o café da manhã.

* * * * *

O dia de aulas voou, e antes que Hermione se tocasse, ela estava terminando sua ronda de Monitora Chefe depois do jantar e fazendo seu caminho até a sala do Diretor, seguindo pela rede Flu para os aposentos do Snape de lá. Ela tinha que levar outro cálice da Poção Mata-cão para o Prof. Lupin, e Dumbledore a alertara contra aparecer pela passagem secreta do primeiro andar com a poção nas mãos, sugerindo ao invés disso que ela entrasse e saísse pela rede Flu no escritório dele.

Aparecendo na lareira da sala de estar e tirando o pó das vestes, ela ficou surpresa ao ver Snape sentado atrás da escrivaninha, um livro aberto na frente dele e mais uma pilha ao lado.

– Você está de pé – ela disse. – Pensei que você ainda estaria na cama.

Ele não respondeu na hora, e ela percebeu que ele não estava lendo, como assumira primeiramente, mas fitando o braço esquerdo que descansava na mesa. A manga da camisa estava enrolada acima do cotovelo, e ele virara um pouco o membro, encarando a pele pálida e não marcada do interior do antebraço como fizera na noite passada.

Depois de um momento, ele pareceu se sacudir visivelmente e levantou os olhos para ela, um sorriso torto cruzando o rosto.

– Eu simplesmente tenho que ficar checando – ele disse calmamente – para ter certeza de que ela realmente se foi.

Ela atravessou a sala e tirou uma pilha de pergaminhos do canto da mesa, levantando-se para empoleirar-se no espaço livre. Ele levantou uma sobrancelha para a audácia dela, mas ela a ignorou e alcançou a mão esquerda dele, puxando o braço para o seu colo. Quando ela estava certa de que ele não iria tirá-lo, ela alcançou a manga dele, desdobrando o tecido macio braço abaixo, escondendo a pele desmarcada.

Ela levantou os olhos para ele quando terminou de fechar os pequenos botões do punho, e ele tirou o olhar de onde estivera observando seus pequenos dedos para encontrar seus olhos.

– Não vai voltar – ela disse calmamente.

– Eu sei, eu só... – Ele se interrompeu, apertando a base do nariz cansadamente com os dedos da mão direita enquanto tirava o braço esquerdo do colo dela. – É loucura, eu sei, mas não consigo evitar.

– Não é loucura – ela insistiu. – Só vai levar um tempo até você se acostumar.

Ela o estudou mais de perto, notando as olheiras que pareciam manchas sob os olhos dele.

– Tem certeza que está se sentindo bem o suficiente para estar de pé?

– Eu estive na cama por uma semana, Hermione – ele disse secamente. – Eu vou ficar louco se permanecer desocupado por mais tempo.

Ele se levantou para provar seu argumento, levando os livros fechados em cima da escrivaninha até o outro lado da sala nas prateleiras e colocando-os de volta no lugar entre os outros tomos empoeirados. Hermione percebeu que, apesar da certeza dele, ele não se movia com a graça veloz que ela viera a associar a ele nos últimos sete anos. Havia uma leve hesitação nos movimentos dele, como se ele não confiasse muito no corpo para suportá-lo totalmente de novo ainda.

Ela pulou da escrivaninha e atravessou a sala para juntar-se a ele.

– O Prof. Dumbledore já falou com você?

– Não. – Ele deu as costas para a estante, o último livro ainda nas mãos. – Ele vai descer mais tarde esta noite, na verdade. Eu não acho que vou gostar do que ele tem a dizer.

– Você não sabe disso – ela argumentou.

– Ele fez nada mais que me proibir de deixar estes aposentos até que tenha falado comigo – Snape respondeu sombriamente. – Isso não é um bom presságio.

– Você acha possível que ele mantenha você aqui? – ela perguntou.

– Eu não colocaria isso acima dele – ele murmurou.

Incapaz de pensar em alguma coisa tranqüilizadora para dizer – ela tinha a sensação de que Snape estava certo, de qualquer forma – Hermione foi para o laboratório para pegar um cálice fresco da Poção Mata-cão para levar ao Lupin.

– Eu posso usar a rede Flu direto daqui? – ela perguntou, voltando à sala de estar para encontrar Snape de volta à mesa dele.

Ele balançou a cabeça.

– Alvo colocou proteções na lareira. Você só pode ir para o escritório dele. Você terá que usar a rede Flu até lá e então usá-la novamente para a sala do Lupin.

Ela suspirou.

– Está bem, eu volto num instante.

Ela voltou cinco minutos depois com um cálice vazio. Snape estava de volta na escrivaninha, mas tinha virado a cadeira de frente para as janelas. Quando ela atravessou a sala para juntar-se a ele, um pio leve a assustou, e ela notou a coruja preta dele sentada no poleiro num canto.

Ela desviou para cumprimentar o pássaro levemente e coçou as costas da cabeça dele. Ela parou ao lado da coruja por algum tempo, observando Snape, que olhava para fora da janela. A escuridão absoluta lá fora e o reflexo do candeeiro na parede da sala deixavam pouco para se ver, e ela notou que ele de novo esfregava o braço distraidamente.

– Eu não me preocuparia com o que o Prof. Dumbledore vai dizer – ela disse sociavelmente depois de algum tempo.

Ele levantou os olhos bruscamente.

– Você sabe o que ele planejou?

Ela balançou a cabeça.

– Fora o fato de que ele mais ou menos contou a toda escola que você não ensinará mais Poções, eu estou tão confusa quanto você. Ele tem boas intenções, entretanto; ele estava muito preocupado com você.

Snape bufou.

– Ele estava preocupado com a perda do seu professor de Poções e espião.

– Não, preocupado com você – ela insistiu. – Professores de Poções e espiões podem ser substituídos, mesmo que com dificuldade. Ninguém pode substituir Severo Snape.

– Que comovente – ele disse com um traço do seu velho sarcasmo, mas ela não pode deixar de notar que ele parecia vagamente satisfeito.

– Estou falando sério, sabe – ela continuou. – Foi só depois da semana passada que eu percebi que Dumbledore se preocupa mesmo com as pessoas além da utilidade delas para ele. Não importa o que ele decida, tenho certeza que será para o melhor.

Ele bufou.

– Freqüentemente Alvo tem uma idéia muito diferente do que “para o melhor” é do que o resto de nós.

– Como isso – ela disse com um pequeno sorriso, gesticulando entre eles.

Ele sorriu maliciosamente um pouco.

– Sim, bem, esta foi uma das suas notáveis exceções.

O sorriso dela aumentou, e Snape estendeu a mão, gesticulando para ela se aproximar. Ela se juntou a ele na janela, e ele a puxou para perto do peito. Colocando os braços frouxamente em volta das costas dele, ela virou a cabeça de maneira que seu rosto encostasse no tecido macio da camisa dele e ela pudesse seguir o olhar anterior dele para fora da janela, mas ela podia ver apenas a sala refletida no vidro. Ela fixou o olhar no reflexo do rosto de Snape, os olhos fechados, o queixo descansando no topo da cabeça dela.

– Para onde nós vamos a partir daqui? – ela murmurou.

– Eu não sei – ele admitiu calmamente, os dedos longos traçando um caminho pelos cachos embaraçados do cabelo dela. – Quem pensaria que chegaria a isso?

– Estou feliz que tenha chegado – ela respondeu brandamente.

Ela sentiu o murmúrio retumbante da resposta dele, mas perdeu as palavras, então ela inclinou a cabeça para cima e disse:

– O quê?

Ele olhou para baixo, o rosto a centímetros do dela, e ela sentiu a respiração quente no rosto quando ele repetiu:

– Eu disse, assim como eu.

Lentamente, dando tempo para ela se afastar se quisesse, ele abaixou a cabeça. Afastar-se era a última coisa na cabeça dela quando os lábios dele encontraram os seus, quentes e macios. A lembrança do último beijo deles repassou em sua mente inúmeras vezes desde que acontecera, mas isso era real, e muito melhor que qualquer lembrança poderia ser. Ele não tinha gosto de uísque de fogo desta vez, ela notou. Tinha apenas o gosto... dele. Era um gosto intoxicante, entretanto, e ela abriu a boca contra a dele, convidando-o a aprofundar o beijo.

Ele cedeu prontamente, e ela estremeceu quando a língua dele traçou um caminho gentil em torno dos seus lábios antes de investir mais profundamente.

Ela fechou as mãos no cabelo dele, afundando um pouco as unhas contra o couro cabeludo dele. A ação extraiu um leve gemido dele, que retumbou numa vibração leve pelas bocas unidas. Ele se afastou após um momento longo e de tirar o fôlego, descansando a testa contra a dela, sua respiração quente e irregular no rosto dela. Ela abriu os olhos – não se lembrava de tê-los fechado – para vê-lo observando-a, tão perto que parecia que todo seu ser estava cheio do fogo negro profundo no olhar dele.

Ela inspirou um golpe trêmulo de ar, feliz que os braços dele ainda estavam ao seu redor porque ela achava que seus joelhos não a suportariam naquele momento. Seu coração batia acelerado, e quando ele se endireitou um pouco e ela mexeu a cabeça para descansar no peito dele, ela podia sentir o coração dele batendo numa cadência colossal também.

Eles ficaram juntos por algum tempo até que Snape finalmente quebrou o silêncio.

– Eu percebi que nunca lhe agradeci devidamente por tudo que você fez nesta última semana – ele murmurou entre o cabelo dela –, embora eu ouso dizer que ainda não conheço toda a extensão da sua contribuição.

Ela se afastou do peito dele e levantou os olhos rapidamente, perguntando-se se de alguma forma ele já descobrira sobre a égua apaixonada, mas então percebeu que ele simplesmente quis dizer que ninguém havia lhe contado o que tinha acontecido na semana que ele estivera inconsciente além do fato de que ela dificilmente – e mesmo assim apenas relutantemente – deixara o seu lado.

– Não é necessário nenhum agradecimento – ela disse, e depois, tentando desviar a atenção dele para outra coisa no caso dele pedir a ela para explicar o que tinha realmente acontecido, acrescentou brincando: – Embora, se me agradecer devidamente envolve fazer o que você acabou de fazer, mais agradecimentos seriam muito bem vindos.

Ele estreitou os olhos, mas havia divertimento neles, e o canto da boca levantou num sorriso malicioso apreciativo quando ele baixou os lábios até os dela mais uma vez.

O beijo foi mais impetuoso desta vez, agora que ele estava certo que ela não faria objeção, mas ele se afastou relutantemente depois do que pareceu um tempo muito curto para Hermione, dizendo como forma de explicação:

– Alvo pode chegar a qualquer momento.

As mãos dele seguiram levemente das costas até os ombros dela, e ele levantou uma mão para roçar um único dedo pelos lábios dela.

– Não seria bom ele ver você parecendo assim tão completamente beijada.

– Você mesmo parece muito bem beijado – ela disse, divertida com a aparência ruborizada nas feições pálidas dele. – Como você vai explicar isso para ele?

– Bem – ele disse, levantando uma sobrancelha –, pelo menos se você não estiver aqui pode ser que não seja imediatamente aparente. Eu sempre posso ter a esperança dele ter perdido os óculos.

Ela soltou um bufo leve de riso e deu um passo para trás, fazendo com que as mãos dele caíssem dos ombros dela.

– Você vai me contar o que o Diretor tem a dizer? – ela perguntou, atravessando a sala para a porta que levava à saída do corredor do primeiro andar.

– Amanhã – ele concordou, movendo-se para a estante novamente.

Ela abriu a porta, hesitou, e voltou-se para ele. Ele selecionara um livro grande da prateleira e o folheava, procurando por uma página em particular.

– Severo?

Ele levantou os olhos, deixando o livro se fechar novamente.

– É bom ter você de volta – ela disse sinceramente.

Ele sorriu fracamente e assentiu com a cabeça, e ela saiu, fechando a porta levemente atrás de si.

* * * * *

Na quarta-feira, a última aula antes do almoço era Poções, e Hermione tentou falar com o Diretor no final da aula. O bruxo ancião parecia bem mais cansado que o normal naquele dia, e ela se perguntou se era resultado da conversa – ou talvez discussão – com Severo na noite anterior. Ela queria ter alguma idéia do que esperar quando descesse para os aposentos do antigo mestre de Poções mais tarde naquele dia.

O Diretor desapareceu prontamente no final da aula, entretanto, antes mesmo dos alunos terminarem de limpar os caldeirões.

– Você vem almoçar, Hermione? – Harry perguntou, caminhando até ela enquanto ela enfiava seu livro de Poções de volta na mochila com a testa franzida.

– Não, acho que não – ela disse, olhando em volta para verificar se o Malfoy tinha saído da sala. – Tenho trabalho a fazer – ela acrescentou significativamente.

Harry suspirou.

– Ah, está certo.

– Além disso – ela acrescentou, seguindo-o para fora da sala de aula e fechando a porta atrás de si –, não é como se o Rony estivesse com alguma vontade de falar comigo ainda. Ele certamente não estava no café da manhã.

– Eu realmente falei com ele na noite passada – Harry disse enquanto eles subiam as escadas para o Saguão de Entrada. – Ele só está sendo cabeça-dura. Dê alguns dias e ele voltará ao normal.

– Espero que sim – Hermione murmurou antes de se despedir do amigo e dirigir-se ao corredor do primeiro andar.

A aula da tarde era Poções Medicinais, que ela usava como horário para preparar poções para a enfermaria, e ela tinha uma lista pequena da Madame Pomfrey das poções e bálsamos requeridos nos próximos dias.

Snape estava no laboratório quando ela chegou, mas ele apenas grunhiu em resposta ao seu cumprimento. Ela franziu a testa, esperando uma recepção um pouco mais calorosa depois da noite anterior. Talvez ela estivesse se enganando. Ele ainda era a mesma pessoa, apesar de tudo, e não alguém propenso a manifestações públicas de afeto.

Ela olhou devidamente para ele, então, para ver que o rosto dele estava fixo numa carranca.

– Qual o problema? – ela perguntou, cruzando para o lado oposto da bancada onde ele estava parado. Ele levantou a mão, e ela percebeu tardiamente que ele estava contando o número de mexidas que fazia com um bastão de vidro na mão.

Ele parecia ainda mais cansado que na noite anterior, ela notou, e imaginou o resultado da conversa dele com o Diretor.

Espiando no caldeirão, ela reconheceu a Poção Mata-cão, e estava prestes a perguntar por que ele a estava preparando – ela fizera o suficiente para o ciclo lunar atual no início da semana – quando ela viu o pergaminho ao lado do caldeirão, cheio de variações rabiscadas e borradas da poção original.

Ela o conhecia bem agora para não perturbá-lo numa experiência; a Poção Mata-cão era razoavelmente segura de se preparar, mas se Snape estava acrescentando ingredientes extras ou mudando as quantidades ele não podia se dar ao luxo de perder a concentração.

Voltando quietamente para seu próprio canto do laboratório, ela começou a preparar os ingredientes para a Poção Reanimadora básica. A medibruxa quase esgotara seu último lote da poção graças à quantidade de tosses e resfriados acometendo o corpo discente naquele inverno.

Como acabou acontecendo, Snape não precisava de Hermione para distrai-lo. Cerca de uma hora depois que ela entrara no laboratório, ela ouviu um xingamento alto do outro lado do cômodo, seguido por um ruído sibilante quando o caldeirão em que ele trabalhava afundou de um lado, derretendo.

Um líquido cinza escuro vazou de um furo no ferro fundido pela bancada, sobre a mão de Snape, que ele afastou num solavanco, e pelo chão. Snape pulou para trás quando o líquido molhou suas botas, agarrou a varinha e lançou uma rápida sucessão de Feitiços Esvanecedores enquanto a mistura continuava a borbulhar e se espalhar.

Hermione estava do outro lado do laboratório num instante, lançando um rápido feitiço de estase sobre o caldeirão dela antes de adicionar seu próprio Evanesco na bagunça do Snape.

Quando estava tudo finalmente contido, Snape largou a varinha com um sussurro de dor, a madeira caindo no chão recém-limpo com um tinido agudo. Ela olhou de relance para a mão dele para ver que ela ainda estava coberta com o líquido cinza.

– Ah, merda – ela murmurou baixinho, virando-se para o armário próximo para pegar um pano. Uma das primeiras lições que Madame Pomfrey ensinara nas aulas de Magia Medicinal era nunca usar Evanesco na pele de uma pessoa. Se a pele estiver rasgada, o feitiço poderia machucar ainda mais.

Ela alcançou a mão dele para limpar a substância viscosa, mas ele a tirou dela.

– Não, pomada para curar queimaduras – ele rangeu entre dentes cerrados. – Rápido.

Ela voou através do laboratório para o armário de estoque, pegou o frasco grande, e então seguiu Snape até a pequena pia na parede ampla do laboratório, onde ele enfiou a mão sob a torneira fria, enxaguando a poção arruinada.

Quando a pele estava limpa, a mão ficou dolorosamente inchada, bolhas ao longo dos dedos fazendo-os parecer com o dobro do tamanho normal. Sem uma palavra, ela destampou o frasco e tirou o máximo que pôde da pasta laranja e pegajosa nos dedos.

Pegando o pulso dele acima da queimadura, ela espalhou o primeiro bocado nas costas da mão dele. Ele puxou o ar rispidamente quando o frescor do bálsamo fez arder novamente o calor da queimadura.

– Desculpe-me – ela disse, parando seus cuidados por um instante.

– Apenas continue – ele vociferou, embora não sordidamente.

Ela espalhou a pasta cuidadosamente do pulso até as pontas dos dedos, deixando uma camada grossa por toda a pele dele. Funcionava melhor quando deixada para ser absorvida naturalmente por várias horas, curando a pele coberta de bolhas de maneira a não descascar ou deixar marcas.

Ela teve um pouco de dificuldade para espalhá-la entre os dedos, inchados como estavam, e descobriu os olhos dele fechados fortemente quando ela olhou de relance para cima, uma careta costurando o cenho dele enquanto ela terminava.

– Pronto – ela disse calmamente, soltando o pulso dele. – Deve ficar tudo bem em algumas horas.

Ele abriu os olhos e levantou a mão, examinando-a. Parecia como se ele estivesse usando uma luva grande, brilhante e laranja.

– Ainda está doendo? – ela perguntou.

– Ardendo um pouco – ele admitiu, virando-se para inspecionar o caldeirão arruinado, derramado grotescamente sobre a bancada. – Foi sorte nós dois termos agido tão rápido. Obrigado.

Ela dispensou os agradecimentos enquanto ele voltava a passos largos para o outro lado do laboratório, pegando a varinha com a mão boa. Ele olhou para ela severamente, franzindo o cenho, até que ela perguntou:

– O que foi?

– Ela não reagiu tão bem quanto deveria – ele murmurou, virando-a entre os dedos da mão esquerda.

– Bem – ela argumentou –, é diferente da sua varinha de sempre. Talvez você ainda não esteja acostumado com ela.

A varinha principal dele nunca fora devolvida a ele depois da última convocação, e ele estava usando a varinha sobressalente que ele usara pela última vez no Natal. Era um pouco mais longa e fina que a antiga, e a madeira, enquanto ainda era escura, tinha uma nuance vermelha rica quando colocada na luz clara.

– Hummm – ele murmurou reservadamente, ainda franzindo o cenho ao pedaço comprido de madeira.

– O que fez a poção reagir com tanta violência, afinal? – ela perguntou.

– Se eu soubesse, não teria feito, teria? – ele retrucou, e ela deu um passo para trás, ofendida.

Com o rosto vermelho, ela voltou para seu próprio caldeirão, tirando o feitiço de estase e desvanecendo o conteúdo, percebendo que ela havia perdido a conta do número preciso de mexidas necessárias para fazer a poção.

– Eu peço desculpas, Hermione. – A voz dele ecoou através do silêncio do laboratório. – Aquilo foi desnecessário.

– Sim, foi – ela disse duramente, virando para encará-lo. Ele estava sentado na escrivaninha pequena e apertada, de costas para ela. Ela suavizou o tom duro com um suspiro e seguiu até o lado dele.

– Acho que o que quis dizer foi o que você estava fazendo quando deu errado?

Ele suspirou, esfregando a base do nariz cansadamente com os dedos da mão não machucada.

– Exatamente o que eu sempre faço com a Poção Mata-cão; exatamente o que você tem feito para prepará-la também. Eu nem tinha alcançado o estágio para fazer qualquer variação esta noite. Eu só perdi a concentração.

– Você só perdeu a concentração? – ela repetiu sem acreditar. – Você é um Mestre em Poções; você nunca perde a concentração!

– Ah, sim – ele retrucou sarcasticamente. – Chamem o Profeta. Severo Snape arruína uma poção. Com certeza será notícia de primeira página.

Ela abriu a boca para retorquir que se o nome dele aparecesse no Profeta, seria provavelmente especulação sobre os rumores de sua morte e verdadeira lealdade, mas mordeu a língua, percebendo o que ela o tinha distraído para começo de conversa.

Ele puxou um pergaminho cheio de fórmulas de uma pilha na beira da escrivaninha, mas então, alcançando uma pena, percebeu que sua mão direita estava inutilizada por enquanto. Ele empurrou o pergaminho de lado de volto e suspirou cansadamente.

Deslocando a pilha de pergaminhos, ela se sentou na superfície dura de madeira, encarando-o.

Ele olhou para ela então, claramente irritado.

– É demais pedir para que você use uma cadeira?

– Sim – ela replicou. – Você não pode me ignorar se eu sentar aqui, e eu não vou sair até você me dizer o que está te incomodando.

– Quanto tempo você tem? – ele perguntou sarcasticamente.

– O quanto for necessário – ela disse calmamente –, a não ser que você tenha outro compromisso urgente.

O rosto dele ficou obscuro e ele encontrou os olhos dela.

– Eu tenho todo o tempo do mundo – ele disse brandamente, embora a voz dele estava firme de raiva –, agora que o Dumbledore decidiu me deixar completamente inútil pelo resto desta guerra.

– Inútil? – ela repetiu cuidadosamente.

– Alvo decidiu – ele começou, depois parou. – Não, exigiu, que eu permaneça aqui. Indefinidamente. Até a conclusão da guerra.

– Em Hogwarts? – ela perguntou.

Ele balançou a cabeça.

– Não só em Hogwarts. Isto, eu provavelmente poderia agüentar. Não, eu estou confinado a estes aposentos.

– Ele quer que você se finja de morto, então – ela declarou com indiferença, percebendo que suas especulações anteriores estavam corretas.

– Ele quer que eu me esconda como aquele vira-lata do Black – ele vociferou. – Completamente e totalmente inútil. Eu vou ficar maluco aqui em dois dias, Hermione. Quanto tempo esta guerra vai durar? Mais um mês? Um ano? Mais?

Hermione abriu a boca para responder, mas percebeu que não tinha qualquer argumento. Ela estava feliz, claro, que Dumbledore não estava arriscando a vida de Snape tornando público que ele sobrevivera, mas ela vira o resultado de manter um homem encarcerado antes – foi a frustração de Sirius por estar confinado e impotente que levara a sua morte precoce.

– E o velho teve a audácia de me parabenizar pela minha liberdade – ele acrescentou acidamente. – Que tipo de liberdade é essa?

– Bem – ela argumentou, pensando rapidamente –, pelo menos você estará seguro, e ainda há coisas que você pode fazer aqui, não há?

– Ah, sim – ele disse sarcasticamente. – Eu ainda posso fazer experimentos com poções, como a desta noite, embora Alvo não disse como nós poderemos colocar qualquer sucesso em uso sem levantar suspeitas de onde as poções vieram. Eu posso dar à Ordem informações baseado no que eu sei sobre a maneira como o Lorde das Trevas opera, e alvos que ele possa escolher, mas é tudo baseado em especulação. Não é a mesma coisa que a corrente de informações de alguém de dentro do grupo dele.

Ele se levantou e passou esbarrando nela, desaparecendo na sala de estar. Hermione olhou fixamente para onde ele fora por um momento antes de segui-lo.

Ele estava sentado num canto do sofá, olhando fixamente para a lareira apagada, a mão ferida largada sobre o braço do sofá.

Ela se sentou ao lado dele no sofá, cruzando as pernas sob ela.

– Ele tem boas intenções, você sabe – ela disse calmamente. – Seria uma sentença de morte você deixar Hogwarts. Mesmo aqui, se Voldemort descobrir que você está vivo, ele poderia encontrar uma maneira de pegá-lo e acabar o que ele começou. O Prof. Dumbledore está apenas tentando mantê-lo a salvo.

– Ele está trocando minha segurança pela vida de outros, Hermione – ele disse, inclinando-se para frente para descansar a cabeça nas mãos. – Os Comensais da Morte poderiam atacar a escola, o Ministério, Hogsmeade, qualquer lugar, e nós não temos nenhuma forma de aviso. Eu não podia prevenir todo ataque quando estava entre eles, mas conseguia fazer alguma coisa. Eu consegui impedir parte do massacre.

Hermione percebeu que não era a notícia do confinamento em si que mais o incomodava, nem mesmo o fato de estar sendo forçado a fazer exatamente o que ele havia provocado Sirius por ter que fazer dois anos atrás e se esconder para a própria segurança. Era a inabilidade de prevenir alguma coisa que ele não tinha controle – os ataques de Voldemort – que era a raiz da frustração dele.

– Tenho certeza que o Prof. Dumbledore vai achar outra maneira de conseguir informação – ela disse, mas ele bufou zombeteiramente.

– Ah, sim – ele escarneceu. – Há espiões entre o grupo do Lorde das Trevas já fazendo fila para tomar minha posição. Não é tão simples, Hermione. Levou-me a melhor parte dos vinte anos para conseguir uma posição de confiança entre eles.

– Você faz parecer que preferiria estar de volta lá – ela murmurou.

– Talvez eu preferisse.

Ela se virou para encará-lo, os lábios dele ainda fixos numa linha fina.

– Você não quer dizer isso – ela disse, e ele baixou os olhos até ela.

– Não?

Ela se levantou, cruzando os braços enquanto dizia brava:

– Depois de tudo que Dumbledore fez por você, você quer jogar tudo na cara dele e acabar morto?

– Tudo que ele fez? – Snape olhou feio para ela. – O que foi que ele um dia fez por mim, por qualquer um de nós, que não foi pelos seus próprios interesses também?

– Eu... – ela disse evasiva, e ele suspirou.

– Você vai aprender, Hermione – ele disse calmamente, tirando os olhos dela. – Você vai ver como ele trabalha, eventualmente, e não espere que eu esteja por perto para dizer que eu lhe avisei.

– O que isso quer dizer? – ela perguntou.

– Nada – ele disse resignado. – Não importa, agora.

Ela franziu o cenho, perguntando-se se havia alguma coisa que ele não estava contando. Ela não teve chance de insistir naquilo, entretanto, porque no momento seguinte houve um bater de asas, e a coruja preta de Snape pousou nas costas do sofá ao lado dele.

– Ela terá que ir, também – ele disse calmamente e levantou a mão boa para afagar as costas do pescoço de Tonatiuh.

– Ir? – Hermione questionou, sentando-se na beira do sofá novamente, encarando Snape e o pássaro.

A coruja piou, parecendo olhar furiosa para Snape, que se dirigiu ao animal de estimação diretamente, dizendo:

– Bem, eu não posso ter um maldito pássaro voando para dentro e para fora daqui se estou supostamente morto, posso? Alguém vai perceber.

– Oh, é claro – ela murmurou. – Ela pode ficar no corujal?

– Sim – Snape disse. – Eu estava esperando que você a levasse esta noite, na verdade.

Ela assentiu. A coruja observava seu mestre com olhos brilhantes, sabendo que alguma coisa estava errada.

– Ela vai ficar entediada lá em cima – Hermione disse. – Posso usá-la para escrever para os meus pais de vez em quando? Tenho certeza que ela iria gostar do vôo longo.

– Boa idéia – Snape concordou, mantendo o braço esticado para a coruja, que prontamente pulou em cima, agarrando a manga da camisa dele com as garras afiadas quando Snape se levantou.

Hermione também se levantou, assim que Snape fez um gesto para que ela se aproximasse. Ela o fez, e ele impeliu Tonatiuh a pular para o ombro dela. O pássaro o fez, muito relutante, e Snape acariciou as penas da coruja mais uma vez, depois deixou cair o braço e limpou a garganta.

– Eu acho que nunca lhe perguntei, tanta coisa aconteceu desde então, como seus pais estão passando em seu novo lar?

– Tão bem quanto esperado – ela suspirou. – Eles estão seguros, e é isso o que importa, embora eu não ache que eles ficarão felizes até eu estar lá com eles.

– Você planeja se juntar a eles? – ele perguntou ligeiramente, acenando para que ela o seguisse até o laboratório de novo. A voz dele tinha um tom estranho.

– Não – ela disse, e embora ela pudesse ter imaginado, ela pensou ter visto os ombros dele relaxarem levemente. – Mas eles não precisam saber disso. Eu não vou partir antes desta guerra acabar, e eu não vou visitá-los no caso de levar Comensais da Morte lá. Nós tivemos sorte uma vez, graças a você; não vou correr o risco novamente.

Ele assentiu e abriu a porta para a passagem que levava à sala de aula de Poções. Ela o encarou, confusa.

– Você não deveria ser vista com Tonatiuh saindo de qualquer outro lugar a não ser do escritório lá em baixo. Alguns sonserinos mais velhos podem reconhecê-la como a minha coruja. Se você estiver saindo das masmorras e for questionada, pode simplesmente dizer que Alvo pediu para você levá-la ao corujal.

– Tudo bem – ela concordou. – Devo voltar depois? A Madame Pomfrey precisa de Poção Reanimadora o mais breve possível.

Ele balançou a cabeça.

– Eu cuidarei disso esta noite. Não vai demorar muito.

– E quanto a sua mão?

Ele a ergueu para examiná-la. O inchaço já havia diminuído um pouco, e a pele tinha absorvido grande parte da pasta alaranjada grudenta, deixando um filme fino sobre a mão.

– Estará utilizável em breve – ele disse demoradamente. – Posso trabalhar com minha varinha até lá. Talvez você possa vir e pegar a poção amanhã para levá-la até a ala hospitalar?

– Tudo bem – ela concordou. – Eu o verei amanhã, então.

Ela olhou de relance para a mão dele mais uma vez, então para a coruja no ombro e passou pela porta.

– Hermione.

Ela se virou um pouco depois na passagem escura. Parado à porta, o rosto de Snape estava obscurecido em sombras enquanto a luz do laboratório brilhava atrás dele.

– Obrigado.

Ela deu um sorriso malicioso. As palavras tomaram um novo sentido desde o dia anterior, e ela respondeu descaradamente:

– Você pode me agradecer propriamente na próxima vez que nos encontrarmos.

O riso dele ecoou pelo túnel escuro antes dele fechar a porta, e ela acendeu a varinha, fazendo seu caminho para as masmorras. Era reconfortante, de certa forma, saber que ela ainda podia fazê-lo rir apesar de tudo.


* * * * * * *

Continua

N.A.: Muito obrigada, como sempre, a todos que leram e deixaram reviews.

N.T.: Ufa! Finalmente um cap novo! Obrigada a todas que não desistiram de AdA. Eu também prometo que não vou desistir e espero que os compromissos da “real life” não façam os próximos caps atrasarem tanto! :)

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Comentários (1)

  • rafinha granger-potter

    AMEI! O cap ta mto lindo, só nao fiquei mto feliz com a demora, mas td bem, eu sei como é ser uma pessoa ocupada kkkk to esperando mais, ok? bjss

    2012-04-08
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