Uma Fuga Afortunada



Antes do Amanhecer
por snarkyroxy

traduzido por bastetazazis
beta-read por ferporcel


Summary: Quando Hermione recuperou os sentidos, ficou imediatamente ciente de três coisas: a dureza da superfície onde estava deitada, um peso enorme sobre suas pernas, e a voz frenética e histérica da sua mãe em algum lugar distante.

Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!

* * * * * * *

Capítulo Dezesseis: Uma Fuga Afortunada


Quando Hermione recuperou os sentidos, ficou imediatamente ciente de três coisas: a dureza da superfície onde estava deitada, um peso enorme sobre suas pernas, e a voz frenética e histérica da sua mãe em algum lugar distante.

Gemendo, ela abriu os olhos e tentou focalizar alguma coisa na sala pouco iluminada. Ela não tinha a menor idéia de onde estava.
De repente, a voz da sua mãe tornou-se mais clara, e ela se viu sendo sacudida fortemente pelos ombros.
– O que… o que aconteceu? – resmungou entorpecida, tentando afastar as mãos para longe dela.
– Querida? Hermione? Você pode me ouvir? Você está bem?
Ela piscou, e finalmente conseguiu focalizar os rostos aterrorizados da sua mãe e do seu pai, que exalaram um suspiro visível de alívio quando ela balançou a cabeça para limpá-la.
– Eu estou bem – ela disse, quando de repente tudo voltou apressadamente à tona. – Eu estou bem. Onde está o Prof. Snape?
Ela sentou-se com dificuldade, lutando contra uma onda de tontura e contra o peso que ainda prendia sua perna direita ao chão de madeira dura. Tentou empurrá-lo para o lado e congelou; sentindo um frio no estômago. O peso enorme era o Prof. Snape. Ele estava esparramado de qualquer jeito no chão, completamente imóvel.
– Professor! – ela chamou urgentemente, com um aperto de medo no estômago, enquanto ela se lembrava da artilharia de feitiços lançados contra eles assim que aparataram. Ela fez uma oração silenciosa para qualquer um que estivesse ouvido para que a última maldição lançada não tivesse alcançado seu alvo. Conseguindo tirar sua perna debaixo da dele, ajoelhou-se ao seu lado. Seus pais a observaram com medo quando, com alguma dificuldade, ela virou-o gentilmente de costas, notando o buraco na parte de trás das vestes dele, onde uma azaração havia queimado.
O seu rosto não tinha marcas, seus olhos estavam fechados, e ela hesitou apenas por um momento antes de arrancar o colarinho da camisa para encontrar o ponto de pulsação no pescoço dele. Estava lá, rápido e forte.
– Acho que ele só foi Estuporado – disse aliviada. Procurou no chão em volta deles por sua varinha, encontrando-a eventualmente ainda presa firmemente à mão de Snape. Ela a extraiu dos dedos dele e, respirando fundo, lançou: – Enervate.
Houve um momento assustador onde nada aconteceu, antes de Snape abrir os olhos e tossir fracamente.
– Professor? – ela disse gentilmente.
Seu olhar voltou-se para ela, e ele piscou, tentando clarear a visão.

– Srta. Granger – disse, enquanto se levantava cambaleando, tirando suas vestes pesadas de Comensal da Morte e jogando-as no chão. – Você está bem?

Ela assentiu, e ele virou-se para os pais dela, parados incertos no centro da sala e parecendo um pouco desalinhados com a jornada através da Chave de Portal. Olhando em volta pela primeira vez, Hermione percebeu que a sala não estava apenas vazia, mas também não tinha janelas, iluminada por alguma fonte mágica e invisível.
– Sr. e Sra. Granger – ele disse. – Peço desculpas pela minha indelicadeza, mas era absolutamente necessário tirá-los da sua casa o mais rápido possível. Eu não sei o quanto sua filha contou-lhes sobre...
– Nós sabemos o que tem acontecido – a mãe de Hermione interrompeu suavemente, parecendo muito abalada, e apertando a mão do marido. – Nós temos acompanhado o Profeta Diário pelos últimos três anos.
Snape pareceu suspirar aliviado com a perspectiva de não precisar explicar suas ações para pais enfurecidos. Entretanto, Hermione mordeu os lábios preocupada, assim que seu pai deu um passo em direção ao professor.
– O que eu não entendo – Adam Granger disse com uma voz firme –, é como você sabia que eles estavam chagando, e por que você estava vestido como um deles.
Snape olhou de soslaio para Hermione, e ela, entendendo a pergunta não dita, balançou a cabeça silenciosamente; ela não contara nada para seus pais sobre a Ordem, ou a guerra, além do que fora publicado no Profeta.
– Pai – Hermione suspirou. – Talvez eu deva explicar…
– Não, deixe-me explicar, Srta. Granger – Snape a interrompeu –, mas antes, talvez vocês queiram ir para uma sala um pouco mais confortável.
Hermione e seus pais olharam lívidos para as paredes vazias da sala onde estavam, perguntando-se como aquilo seria possível.
– Se vocês me seguirem – Snape disse, indo a passos largos para uma parede onde uma porta materializou-se assim que se aproximou. Ele os conduziu por um pequeno corredor e por um lance de escadas para dentro de uma pequena sala de estar. As paredes eram caiadas e livres de retratos, a monotonia quebrada apenas pela pequena lareira e sua moldura gasta de madeira.
Ouviu-se um Crack estridente, e por um momento Hermione temeu que outros Comensais da Morte tivessem, de alguma maneira, os seguido, mas ela virou-se para encontrar um elfo doméstico parado à frente de Snape, vestindo uma toalha de chá muito limpa e apertando as suas mãozinhas.
– Mestre Snape! – guinchou. – Você não me disse que viria, e trazendo convidados! Kimby não deixou a casa apropriada para visitas!
Hermione olhou para Snape surpresa. Assumira que ele os trouxera para uma casa segura usada pela Ordem. Entretanto, não imaginara que seria a sua própria casa. Ouviu com interesse o que Snape dizia para o elfo, surpresa, novamente, pelo tom civilizado com que ele se dirigia à criatura.
– Não é preciso se preocupar, Kimby – ele disse. – Nós não ficaremos por muito tempo. Você pode nos trazer um chá.
O elfo assentiu vigorosamente e desapareceu com um pop.
Um fogo surgiu na lareira, e Snape gesticulou para o sofá e as poltronas espalhadas num semi-círculo irregular em frente à lareira. No momento seguinte, um serviço de chá de prata apareceu na mesa de centro à frente do sofá. Assim que estavam todos acomodados, Snape prosseguiu com a explicação, o mais resumidamente possível, de como ele ficara sabendo dos eventos desta noite.
Os Granger ficaram em silêncio durante quase toda a explicação, até que a mãe de Hermione comentou no final: – Por que a Hermione? O que ela fez para merecer isso?
– Mãe – ela disse. – Você não ouviu nada do que o Prof. Snape disse? Isso não tem haver com vingança. Eles desejam poder e dominação e vão liquidar qualquer um que ameace os seus dogmas, ou que ouse se interpor em seus caminhos. Isso não tem haver com o que eu fiz; mas com quem eu sou.
Snape limpou a garganta. – Isso não está exatamente correto, Srta. Granger.
Ela olhou fixamente para ele. – O que você quer dizer? Foi você quem me disse...
Ele levantou a mão. – Essa é uma parte dos motivos deles – ele concedeu. – Entretanto, você também é amiga do Potter, o que a torna um alvo, mesmo que apenas para feri-lo, e além disso, por meios desconhecidos, o Lorde das Trevas ficou sabendo que você está trabalhando comigo.
Hermione empalideceu e sua mãe parecia confusa, mas seu pai sentou-se mais para frente no seu lugar, olhos lampejando.
– Você está querendo me dizer – disse em voz baixa –, que você, um professor encarregado de proteger minha filha, foi o responsável por isso?
– Pai! – Hermione exclamou, mas Snape a silenciou com um olhar.
– Sr. Granger – ele disse francamente, embora Hermione pudesse ver a veia na sua testa pulsando de fúria com a alegação do seu pai. – Eu não vou negar que esta situação originou-se parcialmente porque sua filha estava trabalhando comigo. Entretanto, de maneira nenhuma eu tive a intenção de colocá-la em perigo. Há circunstâncias extenuantes, sobre as quais nós não temos controle, que levaram à batalha desta noite. Há alguém dentro da Ordem da Fênix passando informações para o outro lado, e por causa disso, os Comensais da Morte ficaram sabendo que sua filha estava trabalhando comigo, e a transformaram num alvo para o ataque.
Hermione suspirou aliviada quando seu pai recostou-se, seu temperamento de certa forma se moderando.
– Eu não entendo – disse a sua mãe. – Se eles acham que Hermione tem ajudado você, por que eles iriam querer matá-la?
Snape massageou a parte de cima do nariz com dois dedos antes de falar. – Eles não tinham a intenção de matar a sua filha esta noite, Sra. Granger.
– O quê? – disse Hermione, assustada. – Mas Malfoy estava...
– Malfoy segue sua própria agenda e não a do Lorde das Trevas – Snape disse ironicamente. – Uma coisa que, por sorte, facilitará minhas explicações sobre minhas ações esta noite. Como eu disse, o Lorde das Trevas sabe que você é próxima do Potter. De alguma forma, ele também sabe que você tem mais respeito por mim que a maioria dos seus colegas, e quer que eu use isso. Ele acredita que se você confiar em mim o suficiente, eu conseguirei obter informações de você sobre o Potter, e passá-las para ele.
– Oh. – Hermione pensou no que Snape dissera, e fazia sentido, mas o que isso tinha haver com esta noite?
Antecipando sua pergunta, Snape, com a cabeça baixa, disse: – Ele acreditava que a sua confiança, ou talvez gratidão seja a palavra mais adequada, seria ganha esta noite, se eu chegasse em tempo de salvá-la. Apenas você.
– Oh, meu Deus – a mãe de Hermione sussurrou, apenas agora percebendo o quanto estivera próxima à morte.
Voldemort planejara matar os seus pais, acreditando que, no seu desespero, ela ficaria mais próxima a Snape. Sua gratidão por salvar sua vida, e o remorso dele por ter falhado ao salvar os seus pais, dando a ela motivos para procurá-lo. Ela procuraria conforto e orientação da única pessoa que entenderia o que ela sentia, e ele, procurando pelo seu perdão, a ouviria e orientaria, conseguindo informações sobre Harry para serem passadas para Voldemort no processo.
Hermione olhou para os seus pais, ambos sentados, pálidos, no sofá. A expressão do seu pai mudou do choque para a determinação, e ele se levantou e atravessou a sala parando em frente a Snape.

Snape, também, levantou-se da sua cadeira, incerto da reação do homem mais velho.

– Parece – o Sr. Granger disse, limpando a garganta –, que eu lhe devo desculpas pelas minhas suposições anteriores, e nós também lhe devemos um agradecimento por salvar as nossas vidas. – Ele estendeu uma mão para um Snape surpreso, que olhou para o homem mais velho por um momento antes de retornar o aperto de mãos com sua mão firme.

A mãe de Hermione também se levantou do sofá e fechou a mão de Snape nas suas, sussurrando seu agradecimento gentilmente.

Snape parecia vagamente desconfortável com a atenção e simplesmente murmurou alguma coisa sobre ser impensável não agir perante tal conhecimento.

Entretanto, isso não era verdade, Hermione percebeu de repente. Ela lembrou-se do que ele lhe dissera, várias semanas atrás, antes de eles começarem a trabalhar juntos: – Eu estava lá. Eu fiquei sabendo do ataque com uma hora de antecedência e não fiz nada para salvá-los. Eu não lancei nenhuma Maldição de Morte, mas eu fiquei lá parado e assisti enquanto outros o fizeram.

Por que ele não tinha ficado no seu lugar e assistido a tudo nesta noite, intervindo no último minuto para salvá-la, como Voldemort planejara? O que o impelira a arriscar tudo, sua posição no grupo de Voldemort e sua própria vida, para salvar os pais trouxas de uma aluna?

Não que ela não estivesse grata; ela não sabia como conseguiria retribuir ao mestre de Poções por este ato tão altruísta, mas o que Dumbledore lhe dissera sobre a guerra? A vida é uma coisa preciosa, mas o sacrifício de uma vida para continuarmos com a nossa causa já foi necessário no passado, e será necessário novamente.

Se a posição de Snape com os Comensais da Morte foi posta em risco por causa desta decisão, será que o Diretor acreditaria que suas ações valeram as conseqüências? Se fosse outra pessoa que não os pais de Hermione, ela acreditaria que salvar a vida de dois trouxas valia a revelação do disfarce do espião deles? Por mais inquietante que fosse, sua resposta seria não.

Ela percebeu que estivera perdida em pensamentos por algum tempo, e Snape ainda estava falando com os seus pais.

– ...muito para discutir – ele dizia –, entretanto, acho que é melhor esperarmos o Diretor chegar. Sem dúvida ele está ciente da situação e estará aqui o mais rápido possível.

– Quando nós poderemos voltar para casa? – a Sra. Granger perguntou.

Snape hesitou, e Hermione viu a compreensão refletir nos olhos de sua mãe. Ela vira as fotos no jornal; os Comensais da Morte não apenas matavam, eles destruíam.

– Não vamos pular para nenhuma conclusão antes de termos os fatos – Snape advertiu. – Será mais seguro para vocês permanecerem aqui até o Diretor chegar. Há um quarto onde vocês podem descansar um pouco, se desejarem.

O mestre de Poções estalou os dedos, e Kimby apareceu novamente.

– Sim, mestre? – disse.

– Leve nossos hóspedes para cima – Snape instruiu. – Mostre-lhes o quarto de hóspedes e arranje-lhes tudo que precisarem.

Ele virou-se para Hermione e seus pais. – Eu sei que será difícil dormir, dadas às circunstâncias – ele disse –, entretanto, foi uma noite cansativa. Sugiro que vocês tentem descansar um pouco.

Os pais de Hermione ofereceram seus agradecimentos mais uma vez e viraram para seguir o elfo doméstico escada acima. Hermione hesitou, querendo agradecer Sanpe também, mas se viu sem palavras. Sua garganta de repente parecia um tanto apertada, e tudo que conseguiu foi dar um sorriso de gratidão, ao qual Snape inclinou-se, antes que ela se virasse para seguir sua família.

* * * * * * *

No andar de cima, Kimby conduziu os Granger para um quarto simples com duas camas de solteiro, uma pequena escrivaninha e duas poltronas. O fogo estava aceso e o quarto parecia bem confortável.

– Este é o seu quarto, senhor e madame – o elfo guinchou educadamente. – Vocês avisam Kimby se precisarem de alguma coisa. Chá, biscoitos, cobertores extra. – Virou-se para se dirigir à Hermione. – O seu é na porta ao lado, senhorita. Você avisa Kimby se precisar de alguma coisa também.

– Obrigada, Kimby – Hermione disse gentilmente. Os enormes olhos do elfo arregalaram-se com a expressão de agradecimento, e ele desapareceu com um pop.

Hermione virou-se para os seus pais, esperando apenas um instante antes de envolvê-los num abraço apertado.

– Eu sinto tanto – ela sussurrou na blusa da mãe. – Isso é tudo culpa minha. Eu...

– Não – sua mãe disse com firmeza. – Hermione, não é. Você mesma disse: é o que você é. Você não pode mudar isso.

– Mas se eu não fosse... – ela cortou o que falava. Se ela não fosse uma bruxa, se ela não fosse amiga do Harry, se ela não fosse uma grifinória cabeça-dura e persistente, talvez nada disso estivesse acontecendo.

– Há algumas coisas que você não pode mudar, Hermione – seu pai disse solenemente. – E algumas coisas que você não pode controlar. As únicas pessoas responsáveis pelo que aconteceu esta noite são aquele bruxo malvado e seus seguidores, mais ninguém, e muito menos você.

Ela secou os olhos e encontrou os do seu pai, vendo a sinceridade no olhar dele. Ele não estava apenas dizendo palavras vazias para fazê-la sentir-se melhor, e isso fez com que sua mente sossegasse um pouco.

– Mas a nossa casa – ela sussurrou. – Está... e se eles...

– Casas podem ser substituídas, Hermione – sua mãe assegurou-a. – Tudo que a faz tornar-se um lar está neste quarto.

– Eu não quero parecer ingrata – Hermione murmurou. – Outros não tiveram a mesma sorte que nós no passado. O Prof. Snape arriscou muito para nos salvar esta noite.

– Ele parece um homem complicado – a Sra. Granger disse.

Hermione olhou para a sua mãe. – O que você quer dizer com isso?

– Ora, nada de mais, querida – ela disse. – Nós somos muito gratos a ele, e ele pareceu muito cortês esta noite, mas depois de vê-lo vestido como um deles... bem, as aparências podem enganar, não podem?

Hermione olhou fixamente para a mãe, sem saber exatamente o que ela estava tentando dizer. Ela viu algum motivo interesseiro, oculto, por trás das ações do Snape, ou ela estava apenas dizendo, assim como Hermione descobrira por si mesma, que há mais no seu professor que os olhos podem ver?

– Ele é só… não o julgue pelo o que ele tem que fazer, mãe – ela disse finalmente. – Ele não é o que parece.

Ela deixou os seus pais para que pudessem descansar, se conseguissem, e fechando a porta atrás si, encostou-se contra a madeira fria por um instante. Sua cabeça estava rodando de novo, provavelmente devido à combinação da aparatação e do stress dos eventos da noite. Um movimento no outro lado do corredor chamou sua atenção, e ela viu Snape emergir de outro quarto, colocando uma varinha para dentro da manga enquanto fechava a porta.

Ela se perguntou se ele ouvira alguma coisa da conversa que ela acabara de ter com os seus pais, mas se ouvira, não deu nenhum indicativo.

– Você está bem? – ele perguntou, depois suspirou, fechando os olhos. – Claro que não está bem. Perdoe-me, foi uma pergunta estúpida.

Ela deu um pequeno sorriso e andou até onde ele estava.

– Estou melhor do que estaria – ela disse brandamente –, se você não tivesse intercedido esta noite. Como eu posso um dia agradecê-lo?

– Agradecimentos não são necessários – ele disse, daquela maneira tensa que ela já estava acostumada toda vez que ele estava desconfortável.

– Não – ela disse gentilmente. – Mas eles são merecidos, ainda assim.

Ele a encarou de cima, sua expressão era indecifrável. – Você deveria descansar – ele disse finalmente, passando por ela pelo corredor estreito para chegar às escadas. Ela pegou a mão dele enquanto ele passava por ela, fazendo-o parar por um instante.

Ele virou-se para encará-la novamente, e antes que pudesse protestar, ela soltou a mão dele e envolveu os seus braços em volta dele, e desta forma, o puxou rapidamente para um abraço.

– Obrigada – ela sussurrou por entre o tecido rústico do seu sobretudo.

Ele endureceu inicialmente com o abraço dela, mas depois ela o sentiu suspirar e relaxar. Os braços dele a envolveram hesitantes, uma das mãos descansando levemente nas suas costas, a outra contra a massa de cachos atrás do seu pescoço. Apenas por um momento, ela achou que o sentiu inclinar o queixo no topo da sua cabeça, antes de afastar-se, os braços dele deslizando das suas costas para os seus ombros.

Ela olhou para cima, um pouco sem graça depois da sua atrevida demonstração de afeto, mas qualquer arrependimento desapareceu assim que encontrou os olhos dele. Não havia desconforto, nenhum traço de menosprezo ou uma tentativa de, mais uma vez, afastá-la dele. Eles estavam repletos só de simpatia, preocupação e sinceridade.

– Eu ainda não tive a oportunidade de agradecê-la, também – ele disse e, ao seu olhar confuso, explicou –, pelo presente de Natal.

– Ah – ela sorriu encabulada. – Você gostou?

– Muito – ele disse. – Foi tanto atencioso quanto inesperado.

Ela sorriu mais abertamente e respondeu: – Assim como o seu. Obrigada, professor.

Parecia que ele estava prestes a dizer mais alguma coisa, pois abriu a boca, depois fechou-a novamente, deixando suas mãos caírem de onde ainda descansavam nos seus ombros.

– Você realmente deveria descansar um pouco. – ele sugeriu novamente.

Ela balançou a cabeça, a realidade da situação mais uma vez pesando na sua consciência. – Eu acho que não conseguiria dormir – murmurou. – Há muita coisa na minha cabeça agora. Quando Dumbledore vai estar aqui?

– Espero que pela manhã. – ele respondeu, e então, após uma pausa: – Você gostaria de beber alguma coisa? Talvez um pouco de chá? Pode ajudá-la a dormir.

Ela assentiu agradecida e o seguiu escada à baixo até a cozinha, que vagamente lembrava a do Largo Grimmauld, número doze, com sua mesa de madeira comprida no centro do cômodo.

– Esta e a sua casa, então? – ela perguntou, enquanto ele sacava a varinha que ela o vira escondendo na manga anteriormente e conjurava um bule de chá.

– É a minha casa – ele disse, tirando duas xícaras de chá de um armário e fazendo sinal para ela segui-lo até o saguão. – Eu não iria tão longe a ponto de chamá-la de lar. Eu passei, talvez, três semanas aqui nos últimos vinte anos, mas é imapeável e provou ser útil como um esconderijo.

Ele ofereceu uma xícara de chá para ela e, pegando uma para ele mesmo, sentou-se num canto do sofá. Hermione, tremendo ou de frio ou de nervosismo, ela não saberia dizer, sentou-se no outro canto do sofá, de frente para o mestre de Poções com suas pernas encolhidas sob seu corpo.

Eles sentaram-se em silêncio por algum tempo, bebendo chá e olhando fixamente para as chamas tremulantes do fogo da lareira.

– Posso lhe pedir uma coisa, professor? – ela disse, colocando sua xícara vazia de volta à mesa de centro.

Em vez da sua resposta tradicional “Se eu disser não, você vai perguntar de qualquer forma”, ele limpou a garganta novamente e pôs sua xícara na mesa, também.

– Eu acho – ele disse devagar –, que você pode me chamar de Severo, se desejar.

Ela virou-se para olhá-lo, ainda encarando a lareira, pensativo.

– Isso é, se você quiser – ele continuou, um pouco desconfortável. – Eu achei... que a nossa amizade... deveria ser em termos iguais, e já que você me pediu para chamá-la pelo seu primeiro nome... – ele parou.

Hermione virou-se para sentar-se direito no sofá, também olhando fixamente para o fogo. Ela podia sentir o silêncio de Snape ao lado dela, quase como se ele estivesse segurando a respiração, esperando ela responder.

– Obrigada – ela disse e depois acrescentou hesitante: – Se- Severo.

Ela viu Snape relaxar, apenas momentaneamente, e disse de novo, suavemente, testando, se habituando a maneira como o nome rolava em sua língua.

– Eu gostei – ela disse finalmente, esticando os braços acima da cabeça e apoiando os pés na mesa de centro.

Snape virou-se para lhe presentear com uma sobrancelha levantada. – Você acha que isso lhe dá o direito de tamanha desaforo? – ele perguntou, acenando para os seus pés. – Eu terei que alertá-la, esta mesa de centro tem mais de duzentos anos.

– Oops. – Ela deu uma risadinha, tirando os pés da mesa e encolhendo as pernas sob si no sofá novamente.

De alguma forma, durante este incidente, ela se descobriu sentada mais perto do que antes de Snape, ou seria Severo? Não, isso ainda levaria um tempo até ela se acostumar... Seus ombros estavam quase se tocando. Ele não falou nada, e novamente, o silêncio tomou conta da sala.

– O que vai acontecer com os meus pais? – ela perguntou calmamente depois de um tempo. – Eles não vão poder voltar para casa, não é?

Ela sentiu, mais do que viu, ele balançar a cabeça, e ela se afundou no sofá macio, inclinando a cabeça de maneira que seu cabelo caísse para frente, escondendo as lágrimas que apareceram nos seus olhos. Ela soubera desde o momento em que Snape aparecera na sala dos Granger que a vida jamais seria a mesma para os seus pais novamente, mas ter a confirmação de Snape fez a dura realidade dos seus pensamentos a atingir. Apesar do que seus pais lhe disseram, como ela poderia não se culpar, pelo menos parcialmente?

– Não – Snape disse com pesar. – Eu lamento dizer que acho que isso esteja fora de cogitação. – A voz dele parecia mais perto, e ela percebeu que ele tinha se virado para olhar de cima para onde ela estava sentada, ele de braços cruzados e cabeça baixa. Ela estremeceu.

Snape levantou o braço para sacar a varinha, e magicamente aumentou o fogo, confundindo o tremor dela por frio apenas, e não uma mistura disto e de temor. Hermione aproveitou a oportunidade para aproximar-se um pouco mais, procurando tanto por calor como por conforto. Ele não a afastou, e ela encostou-se nele, fechando os olhos e inalando a essência de terra que o envolvia, como uma floresta depois da chuva.

Ela tremeu novamente, e o braço dele descansou levemente nos seus ombros, puxando-a mais próximo dele. Ela podia sentir o calor do corpo dele através do tecido de lã do sobretudo, e sentiu suas pálpebras ficarem cada vez mais pesadas quando uma estranha sensação de bem-estar que, mesmo falsa, caiu sobre si.

– É bom – murmurou sonolenta, e sentiu, mais que ouviu, a vibração ressoante da voz dele quando lhe respondeu, o hálito quente no alto da sua cabeça. Que palavras eram, entretanto, ela não conseguiu decifrar, e no momento seguinte, estava dormindo.

* * * * * * *
Continua

N.A.: Obrigada a todos que leram e deixaram reviews no último capítulo. Vocês realmente não pensaram que eu machucaria o Snape, pensaram? *sorriso malvado* Eu apenas gosto de brincar com ele.

O que era para ser o Capítulo 15 agora parece que foi dividido entre os Capítulos 15, 16 e 17. Esta história era para ter, originalmente, quatro capítulos no total. Bah.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.