Explicações



Antes do Amanhecer
Explicações
Escrito por SnarkyRoxy
Traduzido por: Bastet Azazis
Beta-read por: Ferporcel

Sumário: Hermione e Dumbledore discutem o futuro dos pais dela, e Snape explica suas ações ao Lorde das Trevas.

Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!

* * * * * * *

Chapter 18: Explicações

A sala parecia estranhamente vazia quando Hermione voltou para a mesa e sentou-se novamente, notando a tristeza nos olhos do velho senhor sentado do outro lado.

– É sempre assim? Como se você estivesse mandando-o para a morte? – ela perguntou calmamente.

Dumbledore levantou os olhos cansados e assentiu com a cabeça. – Eu não posso contar o número de vezes que desejei não ter mais que pedir isso para ele – ele disse com um suspiro –, mas é uma esperança tola. Que vida ele teria se recusasse a responder uma convocação? Ele seria marcado como um traidor, condenado à morte, e forçado a permanecer em Hogwarts pelo resto da vida.

– Ele sobreviveria – Hermione comentou, mas o Diretor balançou a cabeça.

– Uma vez ele me disse que preferiria morrer que viver o resto da vida de outra maneira. Ele disse que não acreditava em liberdade parcial. Ou você é livre, ou não é. Ele deveria saber – ele terminou melancolicamente –, sou eu quem o mantém aprisionado nestes últimos vinte anos.

– Aprisionado? – Hermione disse incrédula. – Você lhe deu a chance de ganhar a liberdade. Sem a sua ajuda, ele estaria morto ou em Azkaban.

– Sim – Dumbledore disse pesarosamente –, mas talvez o preço que pedi pela liberdade dele seja muito alto. Afinal, o que é liberdade se obtê-la significar a morte? O trabalho árduo dele não adiantará de nada se a verdadeira lealdade dele for descoberta antes da guerra acabar.

Hermione engoliu em seco, esperando que nunca chegasse a tanto. – Você acha que Voldemort ficará furioso com o que aconteceu esta noite?

– Sim – Dumbledore confirmou, e Hermione puxou o ar.

– Mas – o Diretor continuou –, pelo que Severo me disse, Lúcio Malfoy também estava agindo contra as ordens. Voldemort vai se lembrar disso e provavelmente irá puni-los igualmente.

Hermione lembrou-se da última vez que Voldemort havia “punido” Snape, e sua preocupação com o mestre de Poções deve ter ficado aparente em seu rosto.

– Não se preocupe com o Severo, Srta. Granger – Dumbledore acrescentou. – Voldemort planeja adquirir um lote inteiro da Poção Cruciatus. Ele não vai ferir Severo a ponto de impossibilitá-lo de prepará-la. Voldemort sabe que seu Mestre em Poções precisa de mãos firmes.

Não era um pensamento particularmente reconfortante, mas fez com que Hermione se sentisse um pouco menos preocupada com Snape. Estas preocupações foram substituídas no primeiro plano da sua mente por outras aflições.

– Agora, tratando do assunto em questão – disse Dumbledore, adiantando-se à mudança nos pensamentos dela. – O que será dos seus pais.

– Eles não podem voltar para casa, não é? – Hermione disse suavemente, sabendo a resposta antes mesmo de formular a pergunta.

Dumbledore balançou a cabeça. – Eu temo que não. Depois que vocês desapareceram da casa, os Comensais da Morte descontaram suas frustrações na própria casa. Eu temo que haja pouca coisa que possa ser salva.

Hermione abaixou a cabeça, sem confiar na sua voz para responder. Tendo vivido longe da sua família pela maior parte dos últimos sete anos, não era tão ligada à sua casa quanto deveria, mas sabia que seus pais ficariam devastados. Independente do que sua mãe dissera anteriormente naquela noite sobre a família transformando uma casa em um lar, todas as memórias, todos os registros das suas vidas juntos como uma família, estavam na casa; fotografias, livros, aquelas bugigangas que ninguém joga fora porque têm algum valor sentimental. Tudo o que lhes restava era a roupa do corpo e...

– Bichento! – Hermione ofegou, as lágrimas em seus olhos começando a cair de repente. A nova coruja dos seus pais, Mercúrio, estivera fora, caçando, na hora do ataque, e sem dúvidas ela encontraria os donos assim que eles deixassem a casa implotável. Entretanto, no terror de fugir dos Comensais da Morte, seu meio-amasso fora esquecido.

– Ele está bem, Srta. Granger – Dumbledore disse. – Eu acredito que ele foi descoberto por um membro da Ordem que eu mandei para observar as autoridades trouxas. Ele está totalmente seguro, embora ele estivesse um tanto relutante em ser mandado de volta a Hogwarts sem você.

Hermione suspirou aliviada. O gato alaranjado fazia parte da sua vida por cinco anos, e ela não podia se imaginar indo dormir à noite sem ele deitado sobre os seus pés à beira da cama.

A conversa voltou para o destino dos seus pais.

– Para onde eles vão? – ela perguntou. – Isso já aconteceu antes, não? Vocês têm algum tipo de plano?

Dumbledore escondeu os dedos abaixo do queixo. – Eu não tenho um plano exatamente, entretanto eu acredito que vocês tenham parentes na França, não têm?

Hermione assentiu. – Sim, minha tia e a família dela. Nós os visitamos há alguns anos durante o verão. – Ela fez uma pausa. – Espera aí, você quer mandar meus pais para a França?

– Eu acredito que seria melhor para todos os envolvidos se eles estivessem fora do país. Este não foi um ataque aleatório, Srta. Granger. Alguns Comensais da Morte devem estar tão furiosos com a sua fuga que fariam outra tentativa contra as vidas de vocês. Porém, há pouca atividade dos Comensais da Morte no sul da Europa – ele continuou. – Eu acho que seria o local mais seguro para os seus pais nesse momento.

– E quanto ao trabalho deles? – ela perguntou, levantando-se para andar pela cozinha. – Eles ainda precisam ganhar a vida. Eles têm um consultório, têm seus pacientes. Eles não podem simplesmente se levantar e partir!

– Mesmo que ficar lhes custe suas vidas?

Hermione parou de andar abruptamente com o comentário. Suspirou e sentou-se pesadamente no banco de madeira.

– Você está certo – ela disse. – Desculpe-me. Eu não quis parecer ingrata. Eu tenho que ficar lembrando para mim mesma que esta não é mais uma situação “e se”; nós estamos realmente discutindo vidas.

O Diretor disse simplesmente:

– É fácil subestimar o impacto das ações de alguém se as conseqüências não são imediatamente aparentes.

Livrando-se da sensação de que o Diretor estava, novamente, falando em duplo sentido, ela perguntou:

– Quando eles terão que partir?

– Esta noite – o Diretor respondeu. – Ou devo dizer, esta manhã. Um membro da Ordem estará aqui em breve para escoltá-los até uma casa segura em Londres. De lá eles podem entrar em contato com seus parentes e fazer qualquer arranjo necessário, antes de partirem para a França em alguns dias.

– Eu poderei ir com eles, por esses poucos dias? – ela perguntou. Ela passara quase uma semana em casa e pensou que a esta altura já estaria farta do mundo trouxa, mas depois da noite passada ela sentia-se obrigada a passar mais tempo com seus pais, nem que fosse apenas para tentar compensar por uma coisa de que se culparia para sempre.

– Eu acho que seria melhor se você retornasse a Hogwarts hoje, Srta. Granger – o Diretor disse cuidadosamente. – Eu entendo que você queira passar mais tempo com sua família, mas eu sinto que não seria bom para a sua segurança, nem a deles, se todos ficarem no mesmo lugar.

– Oh – Hermione disse calmamente. Ela não via que diferença um ou dois dias a mais com a sua família faria se eles estivessem numa casa segura, mas ela sabia que era melhor não questionar a decisão de Dumbledore. – Eu suponho que alguém deva contar-lhes o que está acontecendo, embora eles não vão gostar disso. Posso ir acordá-los, se é que eles conseguiram dormir?

– Por favor, Srta. Granger – disse Dumbledore. – Traga-os até a sala de estar e eu me empenharei em explicar tudo.

Assim que Hermione subiu com passos firmes a escada até o quarto de hóspedes, ela não conseguia deixar de se sentir, novamente, como uma peça de xadrez sendo movimentada para frente e para trás no tabuleiro pela mão branca e áspera do Diretor.

* * * * * * *

Esperando um instante para limpar a sua mente, Severo Snape fechou os olhos, tocou com sua varinha a Marca Negra que agora ardia incessantemente no seu braço, e aparatou até a localização do Lorde das Trevas.

Assim que inclinou a cabeça e ajoelhou-se apoiado num joelho na esperada prostração de servidão, ele tentou avaliar sua vizinhança. Ele estava ao ar livre, numa clareira cercada por uma vegetação rasteira fechada e árvores altas. Havia duas figuras paradas ao lado do Lorde das Trevas; a forma presunçosa e equilibrada de Lúcio Malfoy, e a ranhosa e covarde de Pedro Pettigrew. O último era uma presença constante ao lado do Lorde das Trevas, e a risada nervosa dele em momentos inoportunos deixava Snape se coçando para azarar a criatura repulsiva para o esquecimento.

– Severo, que bom você se juntar a nós. – A voz alta e fria do seu antigo mestre fez um arrepio involuntário descer pela espinha de Severo, e ele preparou-se mentalmente para encontrar os olhos do Lorde das Trevas.

– Eu peço desculpas por fazê-lo esperar, meu Lorde – ele murmurou sem se levantar da sua posição ajoelhada. – O velho tolo ficou muito perturbado com os acontecimentos da última noite e insistiu na minha presença para lidar com a garota e os pais dela.

– Os pais que deveriam estar mortos? – Malfoy retrucou.

– Silêncio, Lúcio – o Lorde das Trevas advertiu. – Você também desobedeceu ordens específicas minhas. Severo deve ter a mesma oportunidade para se explicar que eu lhe dei.

Malfoy olhou furioso para Snape, sem dizer uma palavra. Olhando com mais atenção, Snape notou um brilho de suor cruzando a testa do homem louro e uma aparência um tanto desgrenhada do mesmo. O Lorde das Trevas já devia ter punido Malfoy pela desobediência da noite passada.

– Fale, Severo – o Lorde das Trevas continuou –, mas esteja avisado. Eu não aceito cordialmente que meus servos sigam suas próprias agendas.

Pettigrew observava o confronto, os olhos arregalados em expectativa. Não havia nada que o covarde ranhoso gostasse mais que um duelo, contanto que ele não estivesse envolvido. Severo tomou fôlego e mandou uma mensagem silenciosa para quem quer que estivesse ouvindo de que o Lorde das Trevas aceitaria suas explicações.

Encontrando os olhos do Lorde das Trevas, ele sentiu uma pontada no fundo da sua consciência assim que o seu mestre entrou na sua mente, e ele começou a falar, confiando a Lúcio sua idéia de usar a garota Granger para ganhar informações sobre o Potter. Ele explicou que a mesma idéia já havia cruzado a sua própria mente quando Dumbledore o forçara anteriormente a aceitar a ajuda dela.

– Por que você não falou isso antes? – o Lorde das Trevas silvou.

– Perdoe-me, meu Lorde – Snape disse. – Eu não tinha certeza se seria capaz de usá-la para obter informações. Eu não quis ofertar-lhe tal idéia até que estivesse absolutamente certo que conseguiria ganhar a confiança dela.

Malfoy escarneceu, mas o Lorde das Trevas parecia ter aceitado sua explicação, e acenou para ele continuar.

– Tenho feito um bom progresso ultimamente – ele continuou, permitindo que imagens deles trabalhando juntos pairassem em sua mente. Ele sentiu o Lorde das Trevas analisando cuidadosamente as imagens, procurando por alguma coisa errada. Ele permitiu um riso de escárnio no seu rosto quando disse: – Ela acha que fez amizade comigo, que eu a considero como uma igual.

Pettigrew bufou com uma risada.

– Eu tenho sido condescendente com ela, não lhe dando nenhuma razão para suspeitar que minha lealdade esteja em qualquer outro que não com Dumbledore. Eu tenho toda a razão para acreditar que ela confia em mim completamente. Se os eventos da noite passada tivessem procedido como Lúcio planejara, acredito que a perda dos pais seria permanentemente prejudicial ao nosso relacionamento.

– Isso é tolice – Lúcio desdenhou. – Ela teria ficado grata a você por salvar a vida dela.

– E me culparia por ter chegado muito tarde para salvar os pais – Snape retrucou. – Agora, ela acredita que eu arrisquei minha própria vida para salvar a família dela, e como resultado, a confiança dela em mim está inabalável.

Odiando-se por ter que revelar isso, ele permitiu que o Lorde das Trevas visualizasse o olhar de gratidão no rosto de Hermione enquanto ela o abraçara no corredor escuro da sua casa, que ouvisse o suspiro de contentamento dela quando se recostou nele procurando por calor e conforto em frente à lareira.

Houve um silêncio, e Snape continuou sentindo a sensação de formigamento do Lorde das Trevas remexendo em sua mente. Ele permitiu que imagens aleatórias viessem para a superfície da sua consciência, assim como imagens seletas de Hermione; preparando poções, examinando ansiosamente sua estante de livros, pegando em sua mão enquanto ele relatava os efeitos da Poção Cruciatus, o olhar de terror dela quando ele explicou o plano para matar os pais dela.

Depois de algum tempo, Snape sentiu o Lorde das Trevas retirar-se da sua mente, e respirou aliviado. Seus escudos de Oclumência estavam intactos e o Lorde das Trevas não parecia ter conhecimento de que não acessara completamente a mente do seu servo.

– Levante-se, Severo – o homem de olhos vermelhos silvou. – Você fez bem.

Rabicho pareceu desapontado e Malfoy fez um som de indignação quando Snape se levantou, limpando a sujeira dos joelhos de suas vestes.

– Paciência, Lúcio – o Lorde das Trevas disse, e voltou-se para Severo. – Mantenha a garota por perto; relate qualquer coisa que ela lhe contar sobre o Potter.

– Sim, meu Lorde.

– Eu posso confiar que a poção ainda estará pronta como planejado?

Snape hesitou. Ele ainda não fora informado sobre o que o Lorde das Trevas planejava fazer com a poção, e ele precisava barganhar por tempo até ter pelo menos alguma idéia de qual seria o uso dela. Ele não podia fornecer tal arma ao Lorde das Trevas sem dar um alerta para a Ordem.

– Perdoe-me, meu Lorde – ele disse pesarosamente. – Sua convocação na noite passada interrompeu um dos estágios cruciais para o desenvolvimento da poção. – Snape viu o Lorde das Trevas franzir a testa e sacar a varinha das vestes, e continuou apressadamente: – Eu não teria deixado o preparo da poção, se não fosse pela sua ordem específica da minha presença nesta incursão. Feitiços de estase são ineficazes na poção, então eu temo que terei que começar um novo lote. Levará uma semana inteira para ficar pronto.

O Lorde das Trevas havia realmente sacado uma varinha das vestes, mas Snape se surpreendeu ao ver que era a sua própria varinha – aquela que lhe fora tirada durante o seu confronto com Malfoy na cada dos Granger.

– Muito bem – o Lorde das Trevas disse depois de um momento tenso de deliberação. – Esteja certo de que não atrasar mais os meus planos.

– Sim, meu Lorde.

– Agora – ele continuou –, há outra questão para resolvermos. Severo, suas ações nesta noite serviram para ajudar na nossa causa, entretanto – o sangue de Snape gelou quando Rabicho riu silenciosamente excitado –, fazendo isso, você prejudicou nossos companheiros Comensais da Morte.

Snape caiu em um joelho novamente, ciente de que Lúcio se movera, embora para onde, ele não conseguia ver. – Perdoe-me, meu Lorde – ele disse calmamente, abaixando a cabeça.

– Você tem a minha aprovação, Severo – o Lorde das Trevas garantiu –, mas eu acho que é justo permitir a Lúcio sua vingança.

Snape levantou os olhos para ver o Lorde das Trevas assentir sobre os ombros, e no momento seguinte um chute pesado na omoplata o mandou estatelado de barriga para o chão de terra.

Movendo-se para se defender, ele rolou em suas costas e sacou a varinha, apenas para tê-la arrancada dos seus dedos pelo Expelliarmus do Lorde das Trevas.

– Isso é uma punição, Severo, não um duelo, e você vai encará-la como tal – o Lorde das Trevas sibilou, atirando as duas varinhas de Snape para Malfoy, que as pegou e escondeu-as num bolso oculto das vestes dele. – Você poderá reavê-las quando Lúcio tiver terminado com você.

Snape viu o Lorde das Trevas se mover para a beira da clareira, Pettigrew ao lado dele, respirando rapidamente à espera do castigo.

Contra seu bom-senso, Snape permaneceu de costas no chão de terra. Anos tanto observando quanto participando de tais punições ensinaram-lhe que terminaria mais rapidamente se ele aceitasse o que estava por vim sem questionamento.

Parado acima dele, Lúcio tencionou sacar a varinha da bainha da bengala, mas foi parado pela voz do Lorde das Trevas.

– Eu preciso que as mãos dele estejam firmes para completarem minha poção – Snape ouviu o Lorde das Trevas dizer. – Eu acredito que você não tenha nenhum problema em recorrer às formas trouxas de punição, Lúcio?

– De maneira nenhuma, meu Lorde – Lúcio sorriu desdenhosamente, voltando-se para o companheiro Comensal da Morte no chão.

– Agora – ele disse tão suavemente para que apenas Snape conseguisse escutá-lo. – Por onde eu começo?

Snape olhou para seu assim chamado amigo desafiadoramente, e foi recompensado com um chute forte nas costelas. O único som que emitiu foi uma forte inspiração com a dor repentina, e seus olhos se fecharam momentaneamente.

– Isso – Lúcio sibilou – foi por me fazer de bobo na frente do nosso Lorde.

– Eu não preciso fazê-lo de bobo, Lúcio – Snape zombou. – Sua imprudência já o faz sozinha. Se você tivesse considerado o plano além do potencial derramamento de sangue, você teria visto as falhas dele como eu vi.

– De joelhos – Lúcio rosnou.

Snape obedeceu, e tão logo estava ajoelhado já foi derrubado para o lado, o cabo da bengala de Lúcio encontrando o seu rosto numa batida abafada.

– Isso foi por estragar minha diversão com a vadia sangue-ruim – ele cuspiu enquanto Snape esforçava-se para ficar de joelhos novamente, sua cabeça girando.

O homem mais velho chegou mais perto, segurando seu cabelo e empurrando-o para trás, forçando Snape a encontrar o olhar fixo dele.

– Nosso Lorde pode ter acreditado na sua historinha, Severo – ele sussurrou –, mas eu sinto que tem alguma coisa errada.

– Ah, mas então por que você não diz isso para ele, Lúcio? – Snape zombou do homem louro. – Eu tenho certeza que ele adoraria ouvir as suas explicações.

Com um rugido, Lúcio soltou o cabelo de Snape, e outro chute bem colocado o mandou espatifado de costas no chão novamente. No momento seguinte, ele se viu pregado no chão, a sola pesada das botas de Malfoy suspensas sobre seu pescoço.

– Eu não sei o que você pretende, Severo – ele sibilou, abaixando seu pé apenas o suficiente para que a respiração tornasse desconfortável para Snape. Ele resistiu à vontade de agarrar a bota restritiva, escolhendo ao invés disso fechar os punhos ao seu lado e permanecer parado.

– Mas lembre-se – Malfoy continuou, vagarosamente exercendo mais pressão para baixo. – Você teve sorte desta vez. – Mais pressão, e Snape descobriu que não conseguia respirar. – Da próxima vez eu terei o que desejo – ele sussurrou, inclinando-se enquanto esmagava ainda mais a garganta de Snape. – Você e a sangue-ruim vão pagar.

Abandonando qualquer fingimento, Snape levantou as mãos para agarrar a bota que restringia suas vias respiratórias. O homem louro apenas riu, e a luta do Snape tornou-se desesperada quando começou a se sentir apagando.

Seu olhar fixou-se nos olhos pálidos do outro homem, mas ele descobriu que não conseguia mais focá-los.

Em algum lugar distante, ele ouviu a voz alta e fria da exigência do Lorde das Trevas: – Chega.

Mas com uma última e fútil golfada de ar, ele sucumbiu ao esquecimento.

* * * * * * *

Snape acordou, algum tempo depois, perguntando-se por que tinha adormecido num lugar tão frio e desconfortável.

Ele engoliu em seco, e a dor na sua garganta imediatamente trouxe-o de volta à clareira, agora vazia a não ser por ele mesmo e suas duas varinhas, largadas próximas.

Rolando, ele tossiu, e então gemeu quando uma nova onda de dor apunhalou seu peito. Maldito Lúcio – praguejou, ajoelhando-se primeiramente, depois testando hesitante os seus pés. Eles pareciam firmes o suficiente, e a clareira girou apenas momentaneamente enquanto recuperava o equilíbrio.

Ele acreditava que deveria estar agradecido por estar vivo, dadas as circunstâncias, mas a dor de cabeça martelando no seu crânio parecia fazer o ato de pensar objetivamente fora de questão.

Recolhendo suas varinhas, guardou a sobressalente dentro de um bolso das vestes e refletiu se estava apto ou não para aparatar. Decidindo tentar, fechou os olhos e concentrou-se fortemente nos portões de Hogwarts.

A tentativa foi um sucesso, mas também pareceu aumentar em dez vezes a dor na sua cabeça. Ele seguiu devagar pelo caminho que levava ao castelo e alcançou as portas principais ao mesmo tempo em que a luz começava a aparecer no horizonte distante ao leste.

Agradecido que Dumbledore pedira para ele esperar para comunicar qualquer informação nova até o encontro da Ordem naquela tarde, ele seguiu direto para os seus aposentos. Tirando as vestes pesadas assim que fechou a porta, ele olhou para o armário no final da fila de prateleiras da sala de estar, hesitando apenas por um momento antes de pegar uma garrafa pela metade de Whisky de Fogo. Não era um Ogden, mas uma variação barata que ele havia confiscado de um aluno no ano passado. Depois da última noite, ele merecia uma bebida.

Cambaleando até o sofá, desmoronou cansado sobre ele, tirando as botas e meias antes de tomar um trago do líquido âmbar direto da garrafa.

O líquido desceu queimando, e ele se perguntou onde estava seu bom senso ao beber um líquido tão irritante quando sua garganta ainda doía por causa da retribuição de Lúcio.

Ele tomou outro bocado, esperando que o álcool eventualmente entorpecesse sua garganta... e o resto do seu corpo junto com ela.

Ele nunca sentira a necessidade de virar uma garrafa para esquecer, mas as últimas doze horas certamente justificavam a ação. No espaço de uma única noite, ele respondera ao chamado do Lorde das Trevas duas vezes, desobedecera diretamente as ordens do Lorde das Trevas para salvar a vida dos pais trouxas de uma aluna, atacara seus companheiros Comensais da Morte para salvar esta aluna, e estivera muito perto de perder a sua própria vida no processo. Ele também aceitara o agradecimento e oferecera conforto à aluna de uma maneira totalmente fora das habilidades que seu personagem projetado, e, acima de tudo, pegara-se pensando nela de uma maneira totalmente imprópria para um professor.

Sim – ele pensou. Meia garrafa de Whisky de Fogo às seis da manhã é perfeitamente justificável.

Depois de outro longo trago da garrafa, ele reclinou sua cabeça dolorida contra o braço do sofá e fechou os olhos, desejando que a força desta imitação barata de Ogden o carregasse para o esquecimento mais uma vez.

* * * * * * *

Continua


N.A.: Obrigada a todos que deixaram comentários no capítulo anterior, e em particular àqueles que comentaram sobre as mudanças nos pontos de vista. Suas opiniões foram de grande ajuda.

Bichento está vivo porque Potion Mistress gosta de gatos. Eu realmente queria matá-lo, mas ele pode se provar útil no futuro.

N.T.: Obrigada a Ferporcel pelo extenuante, e excelente, trabalho como beta-reader.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.