Decisões



Antes do Amanhecer
por snarkyroxy

traduzido por bastetazazis
beta-read por ferporcel


Summary: Herminone e Harry conversam sobre várias coisas, e Rony se desculpa pela estupidez de antes.

Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!


* * * * * * *

Capítulo Dez: Decisões


A Ala Hospitalar estava deserta quando Hermione atravessou silenciosamente as portas duplas. Olhando melhor, ela encontrou Madame Pomfrey no seu escritório, fazendo um inventário do estoque de poções medicinais; pena e pergaminho suspensos no ar próximos a ela, registrando as palavras que ela murmurava.

Hermione bateu gentilmente no batente de madeira da porta e a medibruxa, vendo a Monitora Chefe, assinalou silenciosamente para ela esperar um momento. Ela terminou de catalogar os últimos poucos frascos do armário e deu um golpe leve no pergaminho flutuante com sua varinha, murmurando “finite tabula”. Com a pena e o pergaminho inanimados em sua mesa, ela voltou-se para Hermione.

– Pronto, Srta. Granger – ela disse vivamente. – O que posso fazer por você?

– Eu acho que machuquei o meu ombro – Hermione disse contorcendo-se. – Acho que tentei carregar livros demais na minha mochila.

A medibruxa murmurou um tsc, tsc desaprovador e conduziu Hermione para fora do seu escritório e para a cama mais próxima, puxando a cortina para protegê-las da porta. Pegando o braço de Hermione gentilmente com uma mão, ela manobrou o membro da mesma forma que Snape fizera anteriormente, chegando também à mesma conclusão.

– É só uma luxação, querida – ela disse. – Fácil de consertar.

Hermione não se moveu.

– Bem, vamos Srta. Granger – ela ralhou impaciente. – Tire sua roupa. Você não espera que eu cure seu braço com todas essas camadas, espera?

Hermione corou, entendendo porque Snape parecera vagamente desconfortável quando ela pediu para demonstrar-lhe o encantamento. Ela tirou sua capa, agasalho e, com a ajuda da medibruxa, conseguiu tirar seu braço machucado da manga da sua blusa.

Hermione observou interessada à medibruxa sacar sua varinha. Entretanto, em vez de direcioná-la para o seu ombro, Madame Pomfrey colocou a ponta da varinha na sua própria mão e encantou: “curare tendére”. Então, trocando a varinha de mão, repetiu o mesmo feitiço na outra mão.

– Vire-se – a medibruxa a instruiu, e no momento seguinte Hermione sentiu mãos frias e magras massagearem cuidadosamente a junta machucada do seu ombro. Ela ficou surpresa ao sentir a dor nos seus músculos ir desaparecendo com cada estímulo das mãos frias da medibruxa.

– Este não é um feitiço comum – ela comentou. – Eu nunca ouvi falar de um feitiço onde a mágica estivesse focada no emissor e não receptor.

– Na verdade, isso é bem comum nos feitiços mais simples de cura – Madame Pomfrey disse a ela, pegando seu braço e movendo-o em várias direções novamente. Satisfeita com a ausência de dor, ela ajudou Hermione a colocá-lo de volta dentro da blusa enquanto continuava sua explicação. – É bem mais confortável para o paciente ser curado pelas mãos de alguém que pela ponta áspera de uma varinha. Vocês vão aprender estes feitiços mais tarde neste ano, embora eles exijam muito do curandeiro. O feitiço que eu lancei no início, apenas dirige a energia mágica do emissor para suas mãos; é preciso um nível muito alto de concentração para canalizar os poderes mágicos de uma pessoa através de alguma coisa que não seja uma varinha.

Hermione estava fascinada. – Eu estou ansiosa para tentar – ela disse. – Eu vou lamentar perder o resto das suas aulas de Poções Medicinais; elas certamente também serão interessantes. O Professor Dumbledore já falou com você a respeito do novo acordo?

– Falou – a medibruxa disse, apressando-se para voltar ao seu escritório. – Eu devo dizer que será uma pena perdê-la, mesmo por apenas metade das minhas aulas, mas eu não duvido da sua capacidade para realizar sua outra tarefa. O Professor Snape sempre me forneceu poções exemplares, e tenho a certeza que você fará o mesmo.

Hermione a seguiu até a sala apertada e Madame Pomfrey lhe entregou o pergaminho que ela tinha enfeitiçado anteriormente para catalogar seus estoques.

– O que é isso?

– Um inventário com os suprimentos de poções neste momento – Madame Pomfrey respondeu. – O estoque atualmente à disposição, as necessidades projetadas para os próximos seis meses, baseadas no consumo dos últimos seis meses, e as datas em que eu precisarei repor as poções perecíveis.

Hermione desenrolou o pergaminho e examinou a lista. Era enorme.

– Uau – ela murmurou. – Eu não imaginava que a escola precisasse de tantos suprimentos. O Professor Snape faz tudo isso habitualmente?

– Sim, ele faz – a medibruxa afirmou. – Foi um golpe de sorte Dumbledore ter contratado um Mestre de Poções que ainda desejasse fazer as tarefas mais triviais, que geralmente são delegadas aos aprendizes. Encomendar algumas destas poções pelo Correio Corujal costumava ser um verdadeiro pesadelo.

– O antigo professor não as preparava? – Hermione perguntou com interesse. Parecia-lhe um absurdo ter que encomendar poções de fora para uma escola que ensinava a arte do preparo de poções.

– Não – ela respondeu. – Aquele velho pretensioso era inflexível quanto à necessidade do seu tempo fora da sala de aula ser gasto com sua pesquisa, que nem valia a pena se dar ao trabalho, se você quer saber. Não chegava aos pés dos feitos do jovem Professor Snape na área, e ele ainda tem conseguido manter os estoques da minha enfermaria por quase vinte anos.

Hermione nunca pensara muito a respeito das produções acadêmicas de seus professores, embora ela agora admitisse ser ingenuidade sua pensar que as contribuições deles nas áreas que escolheram seguir terminassem na sala de aula. Ela sabia através de conversas com sua própria Diretora de Casa, que a professora de Transfiguração teve um papel significativo na introdução de novas regulamentações dos Animagos e de feitiços protetores para detectar a presença de uma bruxa ou um bruxo disfarçado. Fazia sentido que Snape, o único dos professores com título de Mestre, já tivesse feito contribuições notáveis na área de Poções. Ela fez uma nota mental para perguntar-lhe sobre isso, se ele estivesse de bom humor na terça-feira; senão, ela faria uma pequena pesquisa extra na biblioteca.

A medibruxa ainda estava falando. – Embora eu deva dizer que esteja feliz que ele finalmente decidiu ter um aprendiz. Eu não poderia pensar numa aluna mais merecedora da posição que você.

– Ah, hã, eu não sou um aprendiz – Hermione corrigiu rapidamente. – Estou mais para uma assistente, eu acho.

– Pode chamar do que quiser, Srta. Granger – a bruxa mais velha disse com um sorriso sábio. – Eu aposto que você aprenderá mais com Severo em uma semana que em todos os seus anos nas aulas de Poções. Ele não tem muita paciência para ensinar aqueles que não querem aprender.

Você também sabe disso, Hermione teve o anseio de dizer em voz alta. Deveria mesmo ser frustrante ensinar a alunos que estavam na sala apenas porque tinham que estar lá. Se Poções fosse uma matéria eletiva, o professor teria orgulho de cultivar o talento dos alunos, que tinham um interesse genuíno em estar na aula. Porém, a reputação dele o precede, ela pensou. Se Poções fosse uma matéria eletiva, provavelmente não haveria alunos para cursá-la.

Ela não disse nada disso para a medibruxa. Em vez disso, agradeceu-a por curar seu ombro e guardou a lista no bolso das suas vestes. Ela informou à medibruxa que se encontraria com o mestre de Poções na terça-feira à tarde e começaria a trabalhar nos suprimentos o mais cedo possível.

Agora, o próximo dilema, ela pensou, deixando a Ala Hospitalar. Ela não tinha a menor idéia de onde Harry poderia estar, ou se, no tempo em que ela ficara no escritório do Snape, ele e Rony já tinham se falado e resolvido a situação.

Primeiro ela checou a Torre da Grifinória. Nenhum dos dois estavam lá, mas Neville e Simas, que estavam jogando um jogo de xadrez sem maiores conseqüências, estavam lá desde cedo, quando Harry subira enfurecido para o dormitório masculino e voltara, ainda furioso, com sua vassoura na mão.

Ela seguiu para o campo de quadribol deserto, espiando uma figura solitária circulando o estádio muito acima do chão. Subindo até o nível mais alto da arquibancada, ela sentou-se e observou por um instante, até Harry finalmente enxergá-la e descer, saltando facilmente da sua Firebolt assim que a cauda deslizou pelos bancos.

Ele sentou-se ao lado dela e ambos olhavam fixamente para o horizonte por um momento, antes de ela falar.

– Ele não quis dizer aquilo, você sabe.

– Ah, sei – Harry zombou. – Você já conversou com ele e agora ele te mandou aqui para fazer as pazes comigo por ele.

– Não – Hermione disse com firmeza. – Eu não conversei com o Rony. Eu disse a ele, depois que você saiu do Salão Principal, que ele não precisava se incomodar em vir falar comigo até que pedisse desculpas para você primeiro.

– O quê? Você acha que pedir desculpas vai fazer tudo ficar bem? – ele devolveu secamente. – Não é a primeira vez que ele diz algo parecido, e você pode ter certeza que não será a última.

As pessoas de fora podiam enxergar Harry como o garoto-que-sobreviveu, jovem confiante e estrela do time de quadribol, mas Hermione sabia como ele acreditava pouco em si mesmo, especialmente nos últimos tempos. Desde a morte de Sirius há dezoito meses, Harry ficou relutante em confiar nos seus próprios instintos, ou nas suas habilidades e capacidades como bruxo. Sua confiança excessiva custara a vida de seu padrinho, e ele não falharia mais com seus amigos.

O comentário de Rony o magoaria em qualquer circunstância, mas agora que Harry já estava com a sua auto-estima tão baixa, foi como uma apunhalada nas costas de uma das duas pessoas que sempre acreditaram nele, e que sempre o apoiaram, não importava como.

Hermione suspirou, procurando pelas palavras certas. – O Rony só... ele diz essas coisas no calor do momento. Ele não pensa antes de abrir a boca... e eu sei que isso não é desculpa – ela acrescentou rapidamente quando Harry abriu a boca para retrucar. – Ele não pensa em como suas palavras vão afetar os outros. Aquilo foi direcionado a mim; ele não queria insultar você.

– Eu sei disso – Harry disse calmamente. – Eu só... Eu sinto que ele tem ciúmes às vezes, porque sou eu quem tem toda a atenção, ou porque sou eu quem vai derrotar Voldemort ou morrer como um mártir tentando...

– Não diga isso.

– Eu sou a pessoa que deve salvar todo o maldito mundo – ele disse, soando quase histérico. – Ele não percebe que eu odeio tudo isso. Eu odeio ser o centro das atenções, eu odeio ter toda essa expectativa sobre os meus ombros. Às vezes eu tenho vontade de fugir, desaparecer no meio da noite e nunca mais voltar... mas eu não posso, porque tem uma profecia que diz que tem que ser eu quem dará o golpe final.

Harry interrompeu a conversa e correu as mãos pelos cabelos antes de virar-se para Hermione.

– E se ele estiver certo, Hermione? – ele disse, seus olhos verdes implorando por uma resposta. – E se eu não conseguir derrotá-lo? E se Voldemort ganhar?

– Ele não vai – ela disse com firmeza. – Rony estava apenas agindo como um idiota quando ele disse aquilo.

– Entretanto, ele não é o único – Harry disse. – Eu venho notando o jeito que as pessoas me observam quando elas acham que eu não estou olhando. Eu ouvi a Ordem comentando sobre mim durante o verão, se eu consigo derrotá-lo ou não. Você sabe o que eles disseram? O que Dumbledore disse?

Hermione balançou a cabeça.

– “Ele tem que conseguir”. Não, “Ele irá conseguir” ou “Ele pode derrotá-lo”. Se Dumbledore não acredita que eu posso fazer isso, como eu mesmo posso acreditar?

O coração de Hermione sofria por seu amigo. Ela procurou no fundo de sua mente por palavras para confortá-lo e tranqüilizá-lo. Ela mesma tinha as mesmas dúvidas, depois dos últimos dois confrontos que Harry teve com Voldemort, mas ela atribuía isso ao medo e à incerteza, e agora certamente não era hora de confessar suas aflições. Agora era hora de mostrar-lhe sua fé, por mais cega que pudesse ser.

– Harry – ela disse, virando-se para ele e colocando as mãos protegidas pelas luvas de quadribol nas suas. – Eu não acho que seja falta de confiança em você e na sua capacidade. Eu acho que depois que Voldemort foi derrotado pela primeira vez e depois retornou, as pessoas têm receio de fazer outra coisa se não esperar o pior. Não é que eles não acreditem que você seja capaz de fazer isso, eles só não se atrevem a esperar que você o faça.

Harry assentiu com a cabeça, mas ela podia ver que ele não estava totalmente convencido.

– Você conversou com alguém sobre isso? – ela perguntou gentilmente. – Dumbledore? Eu tenho certeza que ele ficaria desconcertado ao saber como as palavras dele foram tão mal interpretadas.

Harry bufou. – E como alguém pode interpretar ao certo o que ele diz? Ele só fala por enigmas ou meias-verdades.

Hermione mordeu os lábios. Ela sabia que Harry nunca perdoara Dumbledore totalmente por toda a informação que ele escondera do garoto até o final do seu quinto ano; contando-lhe tudo somente depois que seu silêncio custara uma vida. Entretanto, eles estavam passando muito tempo juntos ultimamente. Harry era freqüentemente visto entrando no escritório do Diretor durante as aulas vagas e as horas de estudo. Ela achava que as coisas estavam indo bem, e disse isso a ele.

– Pelo contrário – Harry disse com desprezo. – Como eu posso confiar em alguma coisa que ele me ensina se ele nunca, mesmo agora, me diz toda a verdade. Eu simplesmente me sinto como se estivesse sendo manipulado a fazer exatamente o que ele quer, não importa o que eu sinta sobre isso.

– Você não é o único – Hermione murmurou, pensando nela mesma e em Snape. Eles certamente estavam sendo manipulados, embora ela gostasse de pensar que era para o melhor, por enquanto.

– O quê?

– Ah, isto que eu estou fazendo com o Professor Snape – ela explicou. – Foi idéia do Dumbledore que nós trabalhássemos juntos... ou melhor, foram ordens dele.

– Ele disse por que ele queria que vocês trabalhassem juntos?

Ela balançou a cabeça.

– Viu! – Harry exclamou. – É exatamente o que eu quero dizer. É como se nós todos fossemos apenas peões no tabuleiro de xadrez dele, e só ele sabe qual é o próximo movimento. Isso não está certo. Ele espera apenas que eu lute quando for preciso, sem saber como, ou por que, eu estou lutando.

– Eu realmente acho que você deveria discutir isso com ele, Harry – Hermione disse gravemente. – Vocês dois são as pessoas mais importantes na guerra, e vocês não podem trabalhar juntos se não confiarem um no outro. Apenas lhe diga como se sente. Ele vai entender.

– Não conte com isso – Harry murmurou sombriamente.

– Apenas tente – ela insistiu –, e se não resolver... talvez você possa falar com outra pessoa.

– Quem?

– O Professor Snape – ela sugeriu calmamente.

– Desculpe, Hermione – ele disse. – Só porque você se dá bem com Snape não significa que, de repente, eu tenha decidido gostar dele. Ele ainda é um sórdido, quando se trata de mim.

– Eu não estou lhe pedindo para gostar dele – ela garantiu a seu amigo. – Eu só... é que vocês têm mais em comum do que você pensa. Ele sabe o que é ser manipulado por Dumbledore. Você pode confiar nele.

– Posso? – Harry disse sarcasticamente. – Isso é outra coisa que Dumbledore não me conta; por que ele sabe, sem a menor sombra de dúvida, que Snape está do nosso lado. Se eu tivesse todos os fatos, talvez eu conseguisse confiar naquele idiota.

Hermione não estava a ponto de divulgar o que ela sabia sobre a verdadeira lealdade de Snape, ou o fato de Dumbledore ter lhe contado, enquanto ele ainda escondia essa informação do seu amigo.

– Harry, você confia em mim?

Ele olhou para ela, espantado. – Claro que confio!

– Então acredite em mim quando eu digo que Snape está verdadeiramente do nosso lado – ela implorou. – Não me pergunte por quê, ou como eu sei. Eu apenas sei. Se Dumbledore não o escutar, então converse com o Professor Snape. Você não precisa gostar dele; eu sei que ele não gosta de você – ela disse com um sorriso estranho, que Harry devolveu –, mas você pode confiar nele, certo?

– Está bem – Harry disse. – Eu vou pensar no assunto. Obrigado por me ouvir. Eu acho que eu só precisava de alguém para me escutar enquanto eu desabafava.

– Quando quiser – ela disse, apertando as mãos dele novamente.

Ambos sentaram-se em silêncio de novo, observando o último e fraco raio de sol de inverno se espreitar através das nuvens próximas ao horizonte. Ela estremeceu, desejando que ela também, estivesse usando luvas.

– Vamos – ela disse, levantando-se. – Vamos entrar e conversar com o Rony.

Harry olhou zangado e disse – Deixe ele vir e falar comigo. Foi ele quem começou isso.

Hermione quase riu ao ouvir o tom de Harry. Ele soava como uma criança petulante. – Não seja tão mesquinho – ela repreendeu. – Ele provavelmente está com medo de chegar perto de você caso você queira azará-lo.

Vendo o olhar de Harry, ela acrescentou – Eu estava brincando.

– Nós não vamos precisar entrar, de qualquer forma – suspirou Harry, apontando para o campo abaixo. Na neblina melancólica do anoitecer, ela podia distinguir a figura solitária de Rony, olhando hesitante para onde eles estavam na arquibancada.

– Vamos descer lá – ela disse, puxando Harry relutante com ela.

Eles encontraram Rony nas sombras das arquibancadas, ele movia-se inquieto de maneira incerta, enquanto tentava medir a reação deles. Harry se jogou em um dos duros bancos de madeira próximo aos vestiários, Hermione e Rony fizeram o mesmo.

– Olha...

– Harry, eu

– Vamos...

Todos os três pararam de falar de repente e riram nervosamente.

– Deixa eu falar primeiro – Rony disse, e Harry reclinou-se, fingindo desinteresse.

– Não há desculpa para o que eu disse no almoço, mas eu realmente sinto muito. Eu estava sendo idiota com você, Hermione, e com isso, eu inadvertidamente também magoei você, Harry.

– É, magoou mesmo – Harry disse áspero. Rony parecia abatido.

– Eu acho que eu ando me sentindo um pouco inútil – ele continuou –, e ser mal educado é minha maneira de lidar com isso.

– É uma maneira muito infeliz – Hermione murmurou.

– Eu sei – Rony respondeu enérgico. – É só que... todo mundo parece estar fazendo alguma coisa para ajudar na guerra. Todos, menos eu. Minha mãe e meu pai, meus irmãos, estão todos na Ordem, Harry é a base de toda a missão e Hermione, eu não sei o que você está fazendo com o Snape, mas eu não posso imaginar que seja algo que não esteja relacionado com a guerra, certo?

Ela assentiu.

– E ainda, ninguém pode me dizer o que estão fazendo – ele disse com amargura. – Eu simplesmente me sinto como se estivesse sendo mantido no escuro, e por causa disso, eu não posso fazer nada para ajudar.

– Então, você preferiria ter um papel mais importante na guerra – Harry perguntou de leve. – Você preferiria ser aquele que tem matar Voldemort ou ser morto por ele?

–Não! – disse Rony, horrorizado. – Não foi isso que eu quis dizer, Harry, e você sabe disso. Eu não tenho ciúmes do que você tem que fazer. Eu não gostaria de estar no seu lugar por nada. Eu só queria ser capaz de ajudá-lo quando o dia chegar, e neste momento eu não acho que serei capaz de fazer isso.

– Você quer ajudar, mas não parece estar exatamente interessado em nada sério – Harry disse, exasperado. – É sempre quadribol isso e quadribol aquilo. Eu também adoro quadribol, mas há coisas mais importantes para se pensar atualmente.

– Eu não discuto a guerra com você porque eu imagino que você já discute bastante isso com todo mundo – Rony respondeu. – Eu achei apenas que você gostaria de conversar sobre coisas normais; esquecer da guerra, mesmo que apenas pelos poucos minutos enquanto você discute comigo sobre quem vai ganhar as preliminares da Copa neste ano.

Harry e Rony se olharam. Hermione pôde sentir a sinceridade nas palavras de Rony e sabia que ele não estava apenas tentando se desculpar pelas suas ações de outrora. Ele estava sinceramente preocupado com Harry.

Rony virou-se para ela. – E Mione, sinto muito pelo o que eu disse antes, mesmo. Eu quase não vejo vocês ultimamente, nenhum dos dois – ele disse, olhando para Hermione e depois para Harry –, e eu só quero aproveitar o máximo possível, sabia?

Ele os observou esperançosamente.

– Eu também sinto muito – Harry disse eventualmente. – Eu venho mantendo você no escuro. Dumbledore me pediu para não contar para ninguém o que acontece nas nossas reuniões, mas isso nunca me impediu antes, não é?

Hermione e Rony balançaram a cabeça, alegres.

– Eu acho que eu já deveria ter aprendido que manter as pessoas no escuro só põe vidas em risco, e eu seria um idiota se arriscasse a vida dos meus amigos cometendo o mesmo erro que Dumbledore cometeu comigo. Mas eu não posso contar-lhes tudo – ele disse, olhando para Rony. – Você entende isso, não?

Rony assentiu com a cabeça.

– Mas eu lhe contarei o que puder... depois que você admitir que os Brighton Bombers estão muito melhores que os Cannons nesta temporada – ele finalizou, sorrindo com malícia.

Rony riu, uma gargalhada alta, resultado de uma tensão nervosa que finalmente foi liberada, assim que ele percebeu que seu amigo o perdoara. Hermione riu também, e no momento seguinte todos os três estavam rindo.

Levou alguns minutos para eles pararem, depois que Harry perguntou em voz alta por que exatamente eles estavam rindo, o que os fez rir ainda mais, porque nenhum dos três conseguia lembrar o motivo.

– Então, somos todos amigos de novo? – Hermione perguntou, olhando para os dois meninos.

– Eu espero que sim – disse Rony. – Eu prometo nunca mais ser um idiota de novo.

Hermione e Harry riram novamente, recebendo um olhar ofendido do menino ruivo.

– Bem, talvez não nunca – ele corrigiu. – Apenas nunca mais com nenhum de vocês.

– Assim está melhor – Harry disse. – E eu prometo que nunca deixarei meus amigos no escuro.

– Eu prometo... – Hermione começou. – Espere aí, eu não tenho que prometer nada!

– Você pode prometer nunca mais tricotar outra touca – Harry proclamou.

– É mesmo! – Rony riu . – Ou nunca mais comprar outra agenda para nós.

– Ou nunca mais ler “Hogwarts, uma história” de novo!

– Ou nunca mais escrever mais que o comprimento pedido em uma redação!

– Ou nunca mais pegar mais que quatro livros por vez na biblioteca!

A brincadeira amigável continuou enquanto o trio fazia seu caminho de volta ao castelo na escuridão, a lua estava escondida pelas nuvens pesadas de neve.

Hermione sentiu como se um peso enorme fosse retirado das suas costas. Ela odiava brigar com seus amigos, e Harry precisaria de toda ajuda que eles pudessem lhe dar nos próximos meses.

Assim que eles pegaram o caminho de cascalho que levava à entrada principal do castelo, as pesadas portas de madeira se abriram e um raio de luz caiu por sobre a área próxima.

A figura alta e escura que saiu, fechando a porta atrás de si, foi reconhecida instantaneamente pelos três.

– Shhh, – Hermione disse suavemente, puxando Harry e Rony para fora do caminho e para trás de uma grande árvore nas proximidades. – Nós não devíamos estar aqui fora nos jardins depois de escurecer.

Eles ficaram parados silenciosamente, escutando os passos do mestre de Poções conforme ele se aproximava e passava por eles. Hermione arriscou um olhar rápido em volta do tronco grosso da árvore e viu que ele estava novamente vestindo aquelas pesadas vestes de veludo.

Eles o observaram seguir à direta na bifurcação do caminho, em direção aos portões principais e à Hogsmeade.

– Vamos Mione – Rony cochichou, puxando-a de volta na direção do castelo.

– Eu fico pensando para onde ele está indo? – Harry refletiu em voz alta.

–Hogsmeade, talvez – Rony sugeriu. – Para o Três Vassouras para uma dose ou duas?

Harry bufou. – Eu acho que um mestre de Poções poderia preparar suas próprias bebidas.

– É verdade – Rony admitiu, depois riu com escárnio. – Talvez ele tenha um encontro. O que você acha, Mione?

– Eu acho que me lembro de você ter prometido não ser um idiota – Hermione o repreendeu.

– Ora, deixa disso – ele disse amavelmente. – Eu só estava brincando.

Ela olhou para ele com um olhar que dizia que ela não tinha achado graça, e eles continuaram seu caminho para o castelo, deixando de especular sobre seu professor.

A simples idéia de seu recluso mestre de Poções sair para um encontro era absurda, embora Hermione achasse que ela decididamente preferiria isto à verdadeira causa que ela sabia ser o motivo da saída dele esta noite.

* * * * * * *

Continua…


N/A: Obrigada a todos que têm deixado reviews. Eu peço mil desculpas pela falta de Snape neste capítulo, mas foi necessário para que a história continuasse. Eu prometo que não negligenciarei mais o mestre de Poções por um capítulo inteiro novamente! *suplicando por perdão*

Ainda, peço perdão pelo meu terrível Latin:
Finite tabula: terminar o registro
Curare tendere: curar com o toque/massagem

N/T: Obrigada à minha beta-reader ferporcel e à Mi_Granger pelas sugestões!

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