Pontos de Vista



Antes do Amanhecer
Pontos de Vista

Escrito por Snarkyroxy
Traduzido por BastetAzazis
Beta-read por Ferporcel

Sumário: O que estava se passando na cabeça de Severo Snape quando ele fez a súbita decisão de salvar os pais da Hermione? De fato, o que ele tem pensado nestas últimas seis semanas em que ele e a jovem grifinória vêm trabalhando juntos?

DISCLAIMER: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só gosto de pegá-los emprestado para brincar com eles.

N.A.: Como vocês sem dúvida notarão, há alguma coisa um pouco diferente neste capítulo… mais explicações no final.

* * * * * * *

Capítulo 17: Pontos de Vista

Severo Snape olhou para baixo de relance para a cabeça lanzuda que de alguma forma conseguira aninhar-se ao seu lado. Sua dona estava totalmente recostada sobre ele e emitia um ronco suave, a fadiga dos eventos daquela noite finalmente tomando conta.

Não sabia o que o possuíra para permanecer no lugar quando ela se aproximara dele no sofá pela primeira vez, nem que parte do seu cérebro lhe dava ordens quando colocou seu braço em volta dos ombros dela e puxou-a para mais perto ainda.

Ocorrera-lhe que talvez seu cérebro não fosse a parte do seu corpo que estava lhe dando ordens afinal. Afastou este pensamento rapidamente, amaldiçoando-se por deixar sua mente delirar desta maneira. O que ele estava pensando? Os pais dela estavam no andar superior e o Diretor poderia chegar a qualquer momento, possivelmente através da lareira na sala de estar e não pelo Quarto de Chegada no andar de cima.

Cuidadosamente, para não acordar a garota adormecida, ele desprendeu-se da sua posição, deitando-a gentilmente no sofá. Ela murmurou alguma coisa inteligível, mas não acordou. Ele franziu a testa, conjurando magicamente uma almofada embaixo da cabeça dela para que não acordasse com um torcicolo, e ela se mexeu, cruzando os braços ainda mais apertados em volta do tronco.

Estava frio, ele concluiu, mesmo com o fogo ainda aceso. Olhou em volta da sala procurando por alguma coisa adequada para transfigurar em um cobertor, mas não achou nada. Não era uma surpresa que a sala estivesse tão vazia, dado o tempo que ele passava, ou melhor, não passava nela.

Com um suspiro, ele tirou sua sobrecasaca e transfigurou-a, cobrindo o corpo adormecido de Hermione com o cobertor resultante. Ela ainda estava roncando suavemente, uma mecha de cabelo que caíra sobre o rosto dela mexia-se a cada respiração. Ele estendeu a mão para removê-la para o lado, mas recuou rapidamente antes de encostar nela.

O que eu estou fazendo? – ele pensou, virando-se de costas para a garota e caminhando a passos largos para a cozinha. Ele procurou pelos armários pouco usados da cozinha até que apareceu com uma garrafa velha e pela metade de Velho Uísque de Fogo Ogden. Uma busca por um copo apropriado resultou em nada, então ele colocou uma pequena dose da bebida numa xícara de café, tomando-a de um só gole.

Provavelmente era uma estupidez começar a beber num momento como aquele. Outro encontro com o Lorde das Trevas era iminente, e ele ainda sentia-se um pouco nauseado, tanto com a aparatação como com os resíduos do feitiço que passara pelo seu corpo quando eles deixaram a casa dos Granger. Se eles tivessem hesitado por uma fração de segundo, a Maldição Imperdoável o teria atingido. Mesmo assim, o feitiço atravessou o espaço que ele ocupara, e os resíduos que se ligaram às últimas partículas do seu corpo ao deixarem a casa o deixaram com efeitos colaterais amenizados do feitiço completo. Ele se surpreendeu que Hermione não tivesse reclamado de desconforto também. Talvez ele tivesse conseguido protegê-la do ímpeto da maldição. Embora, com a confusão de emoções que ela sem dúvidas estava sentindo depois dos eventos daquela noite, não era de estranhar que ela não tivesse percebido que estava mal fisicamente. Ele olhou pela porta entreaberta, mas só conseguiu distinguir o alto da cabeça lanzuda dela sobre o braço do sofá. Ela ainda estava dormindo.

A compreensão do quão súbita e certamente a garota Granger havia conseguido entrar na sua vida era alarmante… e perturbadora. Crescendo numa família pequena, Severo Snape nunca fora daqueles que desejavam estar rodeados por várias pessoas. Os corredores ressonantes e a barulhenta sala comunal da Sonserina em Hogwarts foram um choque para o jovem garoto acostumado com a solidão e o silêncio, e ele tomara a biblioteca como refúgio desde o primeiro dia.

Agora, que já era um homem, ele procurava a solidão por diferentes motivos. Cometera o erro de mostrar abertamente seus sentimentos no ápice da sua juventude e pagara um caro por isso, assim como o alvo do seu afeto. Prometera nunca mais deixar alguém ficar tão próximo novamente, com receio de que sofresse do mesmo destino. Ela já tinha sangue inocente e anônimo suficiente em suas mãos sem contar o das pessoas que conhecia para acrescentar à mancha.

E mesmo assim esta garota – ou jovem mulher, embora ele não se atrevesse a reconhecer isso caso seus pensamentos o desviassem do caminho – conseguira entrar na sua vida tão inesperadamente que ele arriscara tudo nesta noite... e nem era para salvá-la, mas apenas pessoas que eram importantes para ela, mesmo que não significassem nada para ele.

Será que ele se importava tanto assim com ela a ponto de agir para poupá-la do sofrimento emocional de perder os pais? Por mais que isso o perturbasse, era verdade. Salvando a vida dela, ele podia dizer para si mesmo que fizera isso por puro egoísmo... mas esta necessidade não exigiria que ele salvasse os pais dela... Trouxas.

Ele odiara Dumbledore por forçá-los a trabalharem juntos, e a odiara por aceitar a situação tão facilmente. Ele não queria uma assistente e certamente não precisava de uma babá. Então, com seu jeito habitual, ele a insultara, zombara e gritara com ela a toda hora, esperando que ela jogasse a varinha no chão e saísse tempestuosamente do seu laboratório, jurando para o Diretor que não conseguiria trabalhar com um bastardo tão cruel e desagradável.

Entretanto, ela não fez isso; ela vencera cada insulto sem dificuldades. Sendo a grifinória determinada que era, desmascarara a personagem que ele construíra cuidadosamente, tão gradualmente que ele mal percebera até a primeira vez que a mascara caíra, os últimos retalhos de seu disfarce rasgados por uma mão curadora e um toque suavizante tarde da noite no escritório do Diretor. Ficara aborrecido com a facilidade com que ela quebrara suas defesas. Será que ele estava tão carente por contato que um simples gesto de bondade era suficiente para desarmá-lo?

Não, não era isso. O toque de qualquer outra pessoa não o afetaria tanto. Havia alguma coisa naquela jovem grifinória, alguma coisa intangível que fez com que ele a olhasse de outra maneira, tentando enxergar além da insuportável sabe-tudo que ele sempre proclamara que ela era.

Quando enxergou, viu alguém como ele, de certa forma, e ao mesmo tempo completamente diferente. O anseio que ela tinha por conhecimento competia com o dele, e fora uma agradável surpresa perceber que a inteligência dela ia muito além da habilidade de recitar os livros-textos. Ele teria percebido isso antes, é claro, se ela não fosse uma grifinória. Agora ele reconhecia que o entusiasmo exagerado dela nascera da necessidade de se adaptar, de ser bem-sucedida em um mundo onde alguns ainda diziam-lhe que ela não pertencia.

Diferentemente dele, ela tinha um grupo próximo de amigos. Em vez de isolá-la, sua postura estudiosa fez com que eles gostassem dela, e a lealdade entre eles não tinha limites. Como sua própria vida poderia ter sido diferente se tivesse amigos como eles… assim como ela?

Ela se considera sua amiga – ele lembrou para si mesmo, perguntando-se como isso havia acontecido. Foi ele mesmo quem fez isso, para falar a verdade. A partir do momento em que se livrou da frustração inicial pela recusa dela em ser intimidada, ele tomou para seu encargo a educação dela. Poções era uma disciplina obrigatória e a maioria dos cabeças-ocas nem queriam, ou mereciam, estar lá. Por que ele não podia ter prazer em ensinar uma dentre os poucos alunos que realmente queriam aprender?

O incidente com Goyle o assustara tanto quanto a ela, e novamente, ele tentara culpar a aproximação entre eles pelo conflito. Entretanto, o Diretor não queria saber de terminar o trabalho conjunto dos dois, e pensando sempre na segurança dela, ele concordara em permitir que ela usasse a passagem secreta para o laboratório através dos seus aposentos. Esta fora a sua desgraça. Não apenas lhe dera acesso ao seu trabalho, mas também à sua vida, e ela considerara isso como um sinal da sua aceitação.

Surpreendentemente, ela entendeu seu sarcástico senso de humor e o devolvia da mesma forma. A explosão do caldeirão e o incidente retaliatório com o Creme de Canário no início de dezembro fora a primeira vez que ele rira – um riso real e verdadeiro – depois de muito tempo, e foi inquietante perceber o quanto ele gostava da companhia dela.

Foi então que ele começou a afastá-la novamente, só que desta vez não era porque ele não a queria por perto, mas porque ele queria. Ela aparecia no laboratório cada vez com mais freqüência, mesmo em dias fora do cronograma agendado. A última gota foi quando ele se viu olhando para o relógio e atento para ouvir o barulho suave da porta quando ela entrasse na sua sala de estar; o farfalhar quando pendurasse a capa no cabideiro, e o cumprimento silencioso quando entrasse no laboratório.

Ele a levou para visitar a égua-apaixonada naquela noite. Ela se mostrara tão prudente quanto capaz. Ela precisaria saber como coletar os ingredientes, se ele mesmo não o pudesse fazer.

Uma menção à sua Marca Negra foi tudo o que precisou para que a realidade caísse sobre sua cabeça. Ele a deixara se aproximar demais, levando-a numa expedição para encontrar uma criatura a quem ele prometera solidão, mostrando para ela um lado que ele nunca quis que ninguém visse. Ele não precisava de uma assistente, companheira, amiga, e o que ele queria não importava. Ela era muito inteligente e útil para se arriscar aproximando-se dele, ele decidiu, suprimindo a voz dentro de si que dizia que ele se importava demais com ela para colocá-la em perigo.

Ele a censurara verbalmente, e pela primeira vez em muito tempo ela levara suas palavras a sério. Ele quebrou um conjunto de frascos de cristal quando ela partira; despedaçou uma prateleira de béqueres quando se viu esperando pelo barulho dela chegando no dia seguinte. Ela não veio, e ele pensou que tinha finalmente conseguido afugentá-la. O senso de perda era tangível.

Naquela noite, depois que o Lorde das Trevas forçara sua própria poção goela abaixo, foi a primeira vez que Severo Snape aplaudira a lealdade e a bravura grifinória. Ela se aventurara pelo seu quarto, mesmo depois das palavras tão duras com que ele se dirigira a ela no dia anterior, puramente pela preocupação com o seu bem-estar. Suas fracas tentativas para mandá-la embora naquela noite já não eram mais por preocupação com a segurança dela; ele já tinha se conformado com o fato de que ela estava lá para ficar. As mãos frias e a voz gentil dela fizeram com que ele ignorasse suas reservas, entregando-se aos cuidados dela apenas com protestos fracos. Já fazia muito tempo desde que alguém mostrara preocupação com seus ferimentos, ainda mais desejo de curá-los. Talvez nesta pequena grifinória, corajosa o suficiente para aventurar-se de volta ao seu covil depois do seu comportamento detestável, ele havia descoberto uma amiga verdadeira e leal.

A manhã seguinte foi embaraçosa; na luz do dia, ele repreendeu-se severamente pela sua fraqueza física e mental na noite anterior. A discussão depois que ele encontrou-a adormecida na sua sala de estar foi exaltada, mas para falar a verdade, ele havia discutido com ela mais por vergonha que por qualquer desejo real de continuar afastando-a dele. Odiava que qualquer um o visse num estado tão enfraquecido e desamparado como ele estava na noite anterior, mas ela lidara com a situação com benevolência e compaixão, e soubera a hora de se afastar e lhe dar espaço, mesmo permanecendo por perto.

Ele finalmente havia desistido e admitido em voz alta o que estivera tentando esconder por semanas; ela realmente era o tipo de pessoa que ele poderia considerar como uma amiga… ele a considerava mesmo como uma amiga. O sorriso que rompeu no rosto dela com sua admissão fez com que sentisse uma dor desconfortável no meio do peito, num lugar em que ele achava que estava dormente para sempre.

Ele ficara estupefato ao receber um presente de Natal dela, ainda mais um presente tão bem pensado e prático. Não era um mero gesto de cortesia em retribuição ao seu presente, mas uma lembrança genuína de um amigo para outro.

E então vieram as convocações. Indesejáveis, embora não inesperadas. O Lorde das Trevas tinha um prazer peculiar em perturbar feriados, destruindo famílias no pouco tempo em que passavam juntas durante o ano.

O seu sangue gelara quando Lúcio resumira o plano dele; ganhar a confiança da garota matando os pais dela, e fazendo com que ele a salvasse da morte certa no último minuto. Por quantas vezes ele estivera no círculo dos Comensais da Morte, ouvindo planos como esse, e sem fazer nada? Por quantas vezes ele permanecera parado enquanto homens mascarados lançavam a Maldição da Morte em inocentes nascidos trouxa e suas famílias? Esta noite seria diferente?

Até onde seu trabalho na Ordem o permitia, não. Outro ataque, outra família infeliz perdida para o reinado do Lorde das Trevas. Era desastroso, mas necessário, uma vez que o único espião não podia arriscar sua posição mandando um aviso.

Ele não conseguia explicar o que o fizera agir tão irracionalmente. Ele não tinha pensado em como explicaria seus atos para Dumbledore, muito menos para o Lorde das Trevas. A única coisa que passava na sua mente era que ela poderia se ferir – emocionalmente, se não fisicamente.

Se fosse para qualquer outra pessoa, ele teria deixado que simplesmente acontecesse; ele conseguia lidar com seus próprios demônios, com os olhares sombrios, com o desprezo e a constante desconfiança dos seus colegas. Mas a idéia de vê-la curvar-se sob o peso da culpa e do lamento era algo que Severo Snape não achava que conseguiria agüentar. Foi apenas naquela hora que ele percebeu que ela verdadeiramente era sua amiga. Ele arriscava a vida diariamente, mas por quem se não por um amigo ele desconsideraria ordens explícitas de seus dois mestres, colocando-se em perigo, assim como à sua causa, para salvá-la da dor?

Fora um ato estúpido e impensado, reconheceu, enterrando a cabeça em suas mãos. Dumbledore entenderia suas motivações para agir… ele esperava. Porém o Lorde das Trevas era outra história. Já lhe dando uma dica, sua Marca Negra começou a doer desconfortavelmente, anunciando que seu mestre estava ciente das suas ações e estaria esperando por uma explicação logo.

Ele suspirou, colocou outra dose de uísque de fogo na xícara de café e bebeu tudo num só gole quando ouviu o barulho da rede Flu na sala ao lado, indicando a chegada do Diretor.

* * * * * * *

Hermione acordou desorientada por um momento, até perceber que estava encolhida no sofá na sala de estar da casa do Snape. Ainda estava escuro lá fora; a única fonte de luz e calor da sala vinha da lareira, onde um resto de madeira estalava silenciosamente num forte brilho alaranjado, lançando sombras sinistras pela sala.

Sentando-se, ela se viu coberta por um suave cobertor marrom. Franziu a testa. De onde viera aquilo?

Pensando por um minuto, lembrou-se da conversa com o mestre de Poções. Lembrou-se das suas pálpebras ficando mais pesadas e do sono finalmente tomando conta. Será que ela estava sonhando quando se inclinou contra ele e ele colocou os braços em volta dos seus ombros? Não, porque ela ainda podia sentir o cheiro comum das vestes dele e recordar da vibração da voz dele enquanto falava.

O medo que ela sentira anteriormente no início da noite e a preocupação com o que aconteceria a seguir – a ela e aos seus pais – haviam passado. O conforto de um corpo quente ao seu lado a fizera sentir-se segura, e permitiu que seu cansaço transpusesse suas preocupações. Eu devo ter adormecido no colo dele – ela pensou atônita.

Voltando para o presente, ela ouviu vozes baixas vindo além da porta da cozinha. Ela conseguia ouvir a voz baixa de barítono de Snape falando com urgência e o som indistinguível da voz do Diretor respondendo.

Levantando-se, embora ainda enrolada no cobertor quente, alguma coisa a fez atravessar lentamente a sala até à porta em vez de deixar que seus passos anunciassem sua presença. As vozes tornaram-se mais claras, e ela espiou cuidadosamente pela fresta da porta.

Os dois professores estavam sentados na longa e baixa mesa da cozinha. As costas de Dumbledore estavam viradas para a porta, mas Snape estava sentado de lado, vestindo uma camisa, a cabeça nas mãos.

Hermione lançou os olhos novamente para o cobertor enrolado em volta dos seus ombros e levou uma ponta dele até seu nariz. Não era de admirar que ela ainda pudesse sentir o cheiro dele. O cobertor era a sobrecasaca dele. Ele devia tê-lo transfigurado depois que ela adormecera. Ela o apertou ainda mais contra o corpo, sorrindo levemente.

A cozinha estava iluminada por uma única vela no centro da mesa, que trepidou quando Snape levantou a cabeça e deu um longo suspiro. A chama lançou a maior parte do rosto dele nas sombras, e as profundas olheiras abaixo dos olhos assustaram Hermione. Ela não era a única que estava exausta depois dos eventos da noite, e se perguntou se o mestre de Poções havia sequer dormido. Era improvável, conhecendo-o como ela o conhecia.

– Que droga, Alvo – Snape disse –, você me garantiu que ela não correria mais riscos trabalhando comigo dos que já estava correndo por ser amiga do Potter. Eu devo ter sido um tolo por acreditar que nossa parceria passaria despercebida.

– Nós não temos nenhum motivo para acreditar que ela já não era um alvo – o Diretor argumentou. –Não tente usar isso como desculpa para interromper o trabalho com a Srta. Granger, Severo.

– Desculpa? – Snape exclamou. – Por favor, Alvo, a garota esteve a uma varinha de ser assassinada! É um pouco tarde para desculpas, você não acha? O Lorde das Trevas sabe que ela está trabalhando perto de mim e está determinado a usar nossa parceria para seus próprios fins. Se ela deve continuar trabalhando comigo, pelo menos me diga por que você insiste tanto em nos aproximar.

– Eu não sei do que você está falando, Severo – o Diretor disse.

– Não tente bancar o inocente comigo, velho. – Hermione assustou-se com o tom que Snape dirigia ao Diretor. – Eu tenho estado com você por tempo suficiente para saber que há mais por trás do que você diz.

– Eu simplesmente enxerguei uma oportunidade e a aproveitei – o Diretor disse suavemente. – Eu acho que nós temos coisas mais urgentes para discutir agora, por exemplo, como manter os pais da Srta. Granger fora de perigo, e como você vai explicar suas ações para o Tom. Ele o chamou nas últimas horas?

– Sim – Snape disse, esfregando seu antebraço por cima da camisa sem perceber. – Ainda não se tornou insuportável. Ele percebeu que eu estaria preso por algumas horas, explicando a situação para você. Por enquanto ele está apenas me lembrando que não está contente e que também vai querer uma explicação logo.

Hermione sentiu um terror renovado ao pensar em Snape retornando para explicar seus atos para Voldemort. Seu antigo mestre estaria furioso. Será que ele sequer se incomodaria em ouvir alguma explicação, ou mataria seu servo desobediente imediatamente? Pelo que ela lera e ouvira, Voldemort não tinha um controle muito rígido dos seus impulsos, e quando zangado, quem sabia o que ele podia fazer?

De repente, uma onda de tontura a atingiu, e ela se esticou para agarrar o batente da porta como apoio. Seu braço bateu contra a porta, que rangeu nas dobradiças, anunciando sua presença para Snape e Dumbledore, que estavam sentados num silêncio momentâneo.

Ela deu um passo para dentro da cozinha, ainda agarrada à porta para se apoiar, tentando fazer parecer que não estivera parada e ouvindo-os por algum tempo.

– Você está mesmo bem, Srta. Granger? – O Diretor perguntou, olhando preocupado para ela.

Ela sentiu o olhar fixo de Snape sobre ela enquanto caminhava devagar em volta da mesa, sentando-se do lado oposto ao Diretor.

– Eu não estava me sentindo bem antes – ela murmurou –, mas eu achei que estava apenas um pouco dominada pela situação. Talvez esteja ficando doente.

– Eu acho que não – Snape retrucou. – É mais provável que você esteja sofrendo com os efeitos residuais das maldições que escapamos por muito pouco.

– Eu escapei – ela replicou secamente. – Você não teve tanta sorte.

O Diretor levantou uma sobrancelha para Snape, e Hermione percebeu que ele não contara tudo o que acontecera para Dumbledore.

– Nada permanentemente danoso – ele disse, dirigindo um olhar tenebroso para Hermione.

– Humm – disse o Diretor, franzindo a testa para Severo antes de voltar-se para Hermione. – Talvez alguma coisa para beber possa ajudá-la?

Ela observou a garrafa de uísque de fogo na mesa e lançou os olhos para Dumbledore, com uma sobrancelha levantada.

– Alguma coisa mais leve, eu acho – ele disse. – Você gostaria de um pouco de chá?

Ela balançou a cabeça. – Na verdade, eu não sei se conseguiria manter alguma coisa no estômago agora – ela disse, enterrando a cabeça em suas mãos.

– Infelizmente, uma Poção Calmante para o Estômago não vai resolver – Snape falou novamente –, embora dormir teria ajudado. Você deve estar livre das náuseas em algumas poucas horas.

– Por que eu estou afetada e você não? – ela resmungou, e foi a vez dele levantar uma sobrancelha.

– Quem disse que eu não estou? – ele respondeu. – Eu simplesmente me recuso a mostrar minhas aflições para que outros tomem vantagem.

Havia um certo escárnio nas palavras dele, mas Hermione não se ofendeu. Ela esquecia, algumas vezes, do quanto ele era bom em esconder coisas.

Algumas coisas – ela se corrigiu, pois naquele instante, Snape sibilou e agarrou o próprio braço, levantando-se abruptamente.

– Eu tenho que ir – ele disparou entre dentes cerrados. – Ele está ficando impaciente. Eu não me atreveria a enfurecê-lo por deixá-lo esperando ainda mais.

O Diretor assentiu com a cabeça.

Snape olhou de relance para Hermione antes de virar-se para sair da cozinha.

– Professor, espere! – Hermione disse repentinamente, pulando da mesa. O cobertor caiu dos seus ombros e o mestre de Poções parou à porta. Ela atravessou a cozinha e parou em frente a ele, ciente que o Diretor assistia à cena interessado.

– Eu... – Snape a observava com cautela, e ela percebeu que deveria ter cuidado com o que diria na frente de Dumbledore. – Eu só queria agradecê-lo e... eu espero... – ela suspirou e estendeu a mão para o mestre de Poções. – Boa sorte, professor.

Snape observou-a pensativamente, antes de um breve aperto de mãos.

Um instante depois, ele se fora.

* * * * * * *

Continua

N.A.: Obrigada a todos que leram e mandaram reviews. O próximo capítulo era originalmente parte deste, mas tornou-se muito longo (novamente), então eu decidi dividi-lo.

Como vocês devem ter percebido, esta é a primeira vez que eu usei o POV do Snape nesta história. Eu resolvi que já era hora de ele dar suas opiniões sobre algumas coisas, e há eventos que acontecerão a partir de agora nesta história que não poderiam ser contados pelo POV da Hermione. Por favor, digam-me se vocês gostaram desta mudança ou não!


N.T.: Mais uma vez obrigada a Ferporcel pela betagem e a Suviana pela consultoria! Brigadinha também às meninas do Comando da Madrugada pelos intermináveis pedidos de atualização.

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