A Suprema Corte dos Bruxos




Capítulo 21 - A Suprema Corte dos Bruxos




Martha voltou totalmente a sua atenção para a corte de bruxos. Parecia ter mais gente do que quando ela estivera ali, a maioria na penumbra, vestidos com capas cor de ameixa que tinha um lindo e elaborado "W" bordado em prata na altura da lapela. Os juízes estavam dispostos em anfiteatro, e no centro, no nível mais baixo, estava Emília Bulstrode, parecendo muito assustada. No nível de honra, estava Cornélio Fudge, que pigarreou pedindo silêncio a seus pares e disse, mexendo num amontoado de pergaminhos:



- Muito bem, então, vamos dar início à sessão - a seu lado, o jovem Weasley pegou uma pena e preparou-se para tomar notas - Esta é uma audiência preliminar no dia 23 de novembro dentro do inquérito criminal por ofensas contra o Ato de Proteção aos Trouxas cometidas por Emília Millicent Bulstrode, residente em Charter House, Devonshire. A Suprema Corte dos Bruxos está reunida. Interrogadores: Cornélio Oswaldo Fudge, ministro da Magia; Amélia Susana Bones, Chefe do Departamento de Execução das Leis Mágicas, e Dolores Joana Umbridge, assistente sênior do gabinete do Ministro. Testemunhas já foram arroladas, e o advogado de defesa será Argemiro Peçanha McDonald. Escrivão, Percy Inácio Weasley.



Martha notou o jovem inflar o peito com orgulho. Fudge continuou:



- Por ser menor e estudante na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a ré está acompanhada de seus pais, Sr. e Sra. Bulstrode. As acusações contra Emília Millicent Bulstrode, são as seguintes: que ela, deliberadamente, sem provocação e em plena consciência de que cometia um ato ilegal, lançou azarações e feitiços contra uma trouxa desarmada e indefesa. No momento do ato, ela estava acompanhada por Vicente Crabbe e Gregório Goyle, contra quem poderão ser apresentadas acusações criminais por cumplicidade e negligência. Que conste dos autos que este tribunal está reunido em sua forma plena devido ao ineditismo do crime. A vítima é uma trouxa que não precisará ser obliviada.



Fudge pegou um outro pergaminho e dirigiu-se à bruxa de monóculo sentada à sua esquerda:



- Madame Bones, pode começar.



Ela não perdeu tempo:



- Você é Emília Millicent Bulstrode, residente em Charter House, Devonshire?



- Sim, senhora - disse a jovem, timidamente:



- E você deliberadamente enfeitiçou uma trouxa na frente de testemunhas dentro da Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts no dia 21 de outubro?



- Bem, sim, mas....



- Você conhece o Ato de Proteção aos Trouxas?



- Sim, mas...



- Então você tem consciência de que estava praticando um crime?



- Não!



- Como não? Você acabou de dizer que conhece a lei que infringiu. Lembre-se de que mentir só vai piorar sua situação.



- Mas eu não estou mentindo! Eu não sabia que o que eu fiz era crime; era só uma brincadeira! Foram umas azarações bobas, não sei por que estão fazendo tanto alvoroço.



Os juízes se mexeram, alguns cochicharam entre si. Amélia Bones continuou:



- Srta. Bulstrode, qual a sua opinião de trouxas em geral?



Antes que a garota abrisse a boca, Martha ouviu um bruxo à sua direita gritar com ferocidade:



- Protesto!



Os pais de Emília aprovaram o gesto.



Cornélio Fudge disse:

- A Suprema Corte dos Bruxos reconhece Argemiro Peçanha McDonald, defensor da Srta. Bulstrode. Explique seu protesto, Sr. Peçanha.



Ele disse, mal-humorado:



- Minha cliente está sendo julgada por seus atos, não por suas opiniões. Daqui a pouco vai ser crime torcer contra um determinado time de quadribol, Sr. Ministro!



- Desculpe discordar, Sr. Peçanha - disse Amélia Bones -, mas nesse caso as opiniões e convicções da Srta. Bulstrode são de crucial importância para que nós determinemos a motivação de seus atos e para que ela perceba a gravidade deles.



Fudge assentiu, concordando:



- Protesto negado. A acusada deverá responder a pergunta.



A menina estava corada e não escondia sua relutância:



- Trouxas não são como nós; eles não têm poderes. São diferentes. Eu... eu me sinto desconfortável com a presença dela na escola.



Amélia Bones insistiu:



- Então por que foi brincar com ela? - ante o espanto da garota, ela acrescentou - Disse que tudo era uma brincadeira inocente. Agora responda: a Sra. Snape é sua amiga?



- Não - a cara dela dizia "Merlin me livre".



- Então costuma brincar com quem não gosta?



- Não, é que -



- Mas fez essas brincadeiras com a Sra. Snape, não foi?



- Sabe, quando eu disse brincadeira, na verdade eu quis dizer que não tive intenção de machucar nem de ferir. Foram azarações inocentes, entende?



- Então tudo não passou de uma piada de mau gosto?



- Bom, podemos discutir o gosto - disse a moça, cheia de soberba - Eu gostei.



Madame Bones voltou a consultar seus pergaminhos:



- Os relatórios indicam que você selou a boca da Sra. Snape, e alongou suas orelhas e cabelos. Isso é verdade?



- É verdade, vê o que quero dizer? Tudo inocente. Isso não mata ninguém.



Os membros do tribunal passaram a cochichar desenfreadamente e Martha sentiu-se incapaz de respirar. Seus sentimentos estavam confusos, entre incredulidade no que ouvia e pena pela menina. Os pais pareciam estar de acordo com as opiniões absurdas da moça.



Fudge disse:



- Srta. Bulstrode, por favor, dê-nos sua versão dos fatos.



- Bom, eu saía de uma aula com meus dois amigos Crabbe e Goyle e nós a encontramos no corredor. Ela foi grosseira comigo e eu fiquei muito irritada - Martha se indignou, mas se conteve - Tentei falar com ela, mas ela começou a me xingar, e aí eu tive que lançar as azarações em minha própria defesa.



Amélia Bones continuou o interrogatório:



- Seus amigos participaram das azarações?



- Sim, eles é que me deram a idéia do que usar.



- Se estava se defendendo, por que não a imobilizou simplesmente?



Com a cara mais inocente que podia conjurar naquele rosto quadrado, ela disse:



- Oh! Isso não me ocorreu.



- Também não lhe ocorreu que apenas uma azaração seria suficiente para deter uma trouxa que nem varinha tem?



Emília quase sorriu:



- Também não me ocorreu, não, senhora.



Martha sentiu uma raiva inflada lhe subir pelo rosto. Apesar da indignação, manteve-se imóvel, como se qualquer movimento pudesse fazê-la explodir.



- Então você diria que a raiva a motivou a lançar aquelas azarações?



- Não, foi o medo. Ela parecia muito agressiva.



Desta vez, Martha suspirou fundo para se controlar, e os juízes começaram a conversar entre si. Amélia Bones tirou seu monóculo:



- Está ficando difícil de entender, menina. Primeiro você diz que tudo foi uma piada, agora diz que ela estava agressiva. A Sra. Snape chegou a ameaçá-la?



- Bom, ela deixou bem claro que tinha influência suficiente junto aos professores para tornar minha vida difícil. Então eu só fui me defender.



- Antes ou depois de ter feito a sua... piada?



Ela não gostou da pergunta e pareceu corar ao responder:



- Foi ao invés da piada. Eu estava com medo das ameaças dela!



- Entendo - disse Madame Bones - Algo que queira acrescentar?



- Sim. O Prof. Snape chegou logo depois disso, e ele foi logo ameaçando me jogar em Azkaban. Eu me ofereci para retirar as azarações dela, mas ele não me deixou. Ao invés disso, ele me agrediu e confiscou minha varinha!



- Sei. Então essa é sua versão? Defesa própria?



- Sim, senhora.



- Está ciente de que as investigações preliminares deste ministério apontam para uma outra versão?



- Como assim?! - ela parecia irritada - Foi isso o que aconteceu! Tem que acreditar em mim!



Fudge advertiu:



- Srta. Bulstrode, procure se controlar ou será retirada desta corte e julgada à revelia!



Aquilo pareceu amansá-la:



- Desculpe.



Ele pigarreou e indagou:



- Madame Bones, algo mais a perguntar à acusada?



- Não, Sr. Ministro. Temo que iríamos ouvir outra história diferente.



Alguns bruxos começaram a rir e Emília ficou ainda mais vermelha de puro ódio. Peçanha gritou:



- Protesto! Isso é pré-julgamento da minha cliente! Eu peço a anulação deste julgamento!



Fudge se esquentou:



- O senhor está fora de ordem, Sr. Peçanha. Se desejar entrar com um pedido de anulação, use os canais competentes - ele olhou severamente para o advogado antes de continuar - Agora o tribunal chama a vítima, Martha Snape. Por favor, Sra. Snape, sente-se ali.



Nervosa, Martha se dirigiu ao assento indicado, de frente para os juízes. Sentou-se, sem saber direito o que fazer com as mãos. Amélia Bones consultou um pergaminho novo antes de começar a interrogar:



- A senhora é Martha Snape, residente no Castelo de Hogwarts?



- Sim, senhora.



- Há quanto tempo mora em Hogwarts?



- Há cerca de cinco meses.



- E a senhora é trouxa?



- Sim, senhora, eu não tenho qualquer tipo de poder mágico.



- A senhora foi atacada por um total de três azarações em 21 de outubro?



- Precisamente.



- E como se defendeu delas?



- Eu não me defendi. Não tenho defesa contra um ataque de magia.



- Mas pode atacar?



- Não, senhora.



- Como explica que a Srta. Bulstrode a tenha acusado de fazer ameaças?



- Não posso explicar, madame, porque eu nunca fiz isso.



Os juízes começaram a cochichar urgentemente e Emília se ergueu da cadeira, gritando:



- É mentira!



Fudge fechou a cara, irritado e avisou:



- Srta. Bulstrode, esse é seu último aviso! Se não puder se controlar, será levada para fora desta sala. Continue, Madame Bones.



Sob os olhares mal-humorados de Emília e dos pais, a juíza continuou:



- Sra. Snape, gostaria de nos contar a sua versão dos incidentes de 21 de outubro?



Martha inspirou fundo e disse:



- Bem, senhora, eu me dirigia à biblioteca quando encontrei a Srta. Bulstrode e seus dois colegas. Ela se dirigiu a mim de maneira provocativa, e eu chamei sua atenção. Seus amigos ficaram com medo de se meter em apuros e tentaram detê-la. Foi quando ela lançou o primeiro feitiço, um que me colou os lábios e não pude falar mais. Ela sugeriu que eu ouvisse melhor e usou magia para aumentar minhas orelhas. Depois fez o mesmo com meus cabelos.



- E quando ameaçou usar sua influência junto aos professores?



- Madame, eu não poderia fazer isso mesmo se tivesse passado pela minha cabeça, porque meus lábios estavam selados. Eu não podia falar nada.



Os cochichos aumentaram entre os bruxos, e Emília berrou, desesperada:



- Mentirosa! Ela está mentindo!



Fudge puxou uma varinha e gritou:



- Silencio!



Emília continuou a bradar, mas nenhum som saía de sua boca. Sua voz havia sido silenciada. Frustrada, ela cruzou os braços e deixou-se afundar na cadeira, bufando. O ministro disse:



- Pode continuar, Madame Snape. O que aconteceu depois disso?



Martha continuou, evitando olhar a garota enfurecida:


- Nessa altura, eu estava no chão, devido ao peso de minhas orelhas. Quem chegou foi outro estudante, Draco Malfoy. Ele repreendeu a Srta. Bulstrode e me ajudou a ficar de pé. Outros estudantes chegaram, e também o Prof. Snape. A Srta. Bulstrode confirmou que tinha sido a responsável por meu estado, e disse que não tinha feito nada demais. Foi quando o Prof. Snape advertiu que ela tinha cometido um ato ilegal e poderia ser punida de acordo com a lei. Então ela se ofereceu para desfazer o que fizera, mas o Prof. Snape lhe retirou a varinha e mandou-a para o diretor. Ele retirou as azarações e o incidente teria terminado ali, até que chegou a convocação para essa audiência, há duas semanas.



- O que aconteceu quando chegou a correspondência do Ministério?



- Bom, eu encontrei a Srta. Bulstrode dentro da Floresta Proibida, ameaçando o Sr. Malfoy. Ele estava sem sua varinha, eu a vi no chão.



Madame Bones indagou, interessada:


- E o que fez?



- Primeiro eu tentei apanhar a varinha do Sr. Malfoy. Foi quando a Srta. Bulstrode me viu, e passou a me ameaçar também. Eu pedi que ela soltasse o rapaz, mas ela estava muito irritada e me lançou um feitiço. Felizmente, o Sr. Malfoy tinha recuperado a varinha e acho que bloqueou o feitiço bem a tempo.

- A senhora acha?



Martha ficou vermelha:



- Bom, foi tudo muito rápido e confuso. Eu não vi direito, mas como não fiquei ferida nem fui atingida, só posso supor que o Sr. Malfoy tenha me salvado. Ele deteve a Srta. Bulstrode e depois apareceram dois professores que nos levaram de volta a Hogwarts: Prof. Snape e Rúbeo Hagrid.



- Está bem, então - assentiu Madame Bones - Esta é sua versão dos fatos? Há algo que queira acrescentar?



- Sim, agradeço a oportunidade porque eu gostaria de dizer algo sobre tudo isso. Em primeiro lugar eu entendo que minha presença num mundo de magia deve provocar reações, mas não vou pedir desculpas por existir. Esse é meu lugar, e eu o escolhi para ser o lugar a que chamarei de lar. De qualquer modo, é minha impressão de que esta jovem achou que estaria me dando algum tipo de "lição", por isso eu duvido que até agora ela tenha conseguido apreender a gravidade do que fez. Para ela, eu sou um ser inferior, e minha presença a deixa desconfortável. Ela acredita que tudo isso é uma grande bobagem, e que ela não tem motivo para ser punida. Não estou dizendo que entendo nem concordo com suas idéias, apenas que ela é jovem, preconceituosa e cruel. Se isso for motivo suficiente para ela ir para cadeia, então que seja. Mas, com todo o respeito a essa corte suprema, acho que ela aprenderia mais se fosse levada ao mundo não-mágico e fosse obrigada a viver sem seus poderes por um determinado período para ver como os trouxas vivem.



Fez silêncio por alguns segundos, rapidamente quebrado por um:



- Protesto! - era o Sr. Peçanha - Não cabe à Sra. Snape decidir que punição o Tribunal deve aplicar!



Martha se deu conta que tinha ido longe demais e apressou-se em dizer:



- Peço desculpas ao tribunal se pareci presunçosa. Jamais tive a intenção de ofender ninguém, Sr. Ministro.



Fudge tinha a cara fechada e a voz azeda ao dizer:



- Sra. Snape, agradeço muito suas... opiniões sobre o caso, mas deixe-me assegurar que tudo isso está previsto nas nossas leis, incluindo o Ato de Proteção aos Trouxas.



- Obrigada, senhor.



- Muito bem, a senhora pode ir agora. Fique a postos caso precise ser interrogada novamente. Escrivão, prepare-se para chamar a primeira testemunha.



Ela se ergueu e ia saindo, mas antes de deixar a sala, foi interceptada pelo Sr. Weasley, que foi até ela, esbaforido e cochichou:



- Por favor, Madame, venha comigo, por favor.



- Sr. Weasley, o que aconteceu?



Ele parecia inquieto:



- Um repórter e um fotógrafo do Profeta Diário descobriram sobre a audiência. Estão só esperando que saia por aquela porta para incomodá-la. O Prof. Snape me pediu que a trouxesse por uma entrada lateral para despistá-los.



Antes que Martha dissesse qualquer coisa, o ministro Cornélio Fudge, irritado, ergueu o vozeirão:



- Por Merlin, Arthur, quer levar logo a Sra. Snape daqui?



- Sim, senhor - ele se avermelhou ainda mais e dirigiu-se a Martha - Por aqui.



Martha seguiu o Sr. Weasley rapidamente, antes que o ministro se irritasse ainda mais e ouviu-o dirigir-se ao jovem Weasley, mas não conseguiu saber quem iria testemunhar. Assim que chegou ao corredor lateral, viu que lá estavam Harry Potter e Draco Malfoy, os dois a se olharem mutuamente com desconfiança. Ao ver Martha, Harry estranhou:



- Sra. Snape?



- Oi, Harry. Fugindo dos repórteres também? Você também, Draco?



Antes que qualquer um dos dois respondesse, o Sr. Weasley urgiu:



- Vamos, pessoal, não queremos que eles nos achem.



- É, Potter - disse Draco rispidamente - Vai logo!



Os quatro, liderados por Arthur Weasley, andaram por diversos corredores de pedra nua iluminado por archotes, sem falar nas escadas, e Martha começou a ficar inquieta. O local parecia um labirinto, e ela perdera o senso de direção em poucos minutos. Mas aquilo estava demorando mais do que ela previra.



O Sr. Weasley parou em frente a uma porta e disse:



- Por precaução, é melhor eu desiludi-los antes de entrarmos nessa sala. Eles podem ter descoberto tudo e estar esperando por nós.



- É preciso mesmo tudo isso? - indagou Martha - Repórteres podem ser irritantes, mas -



O Sr. Weasley a interrompeu, embaraçado:



- Estou sob ordens, madame. Sabe, o seu marido... er... Entenda...



Ele não precisava falar mais nada. Se Severo tinha dado aquelas ordens, ele não toleraria fraquezas. Martha entendia perfeitamente.



Harry olhou para o Sr. Weasley, que sacara a varinha e tocou na cabeça dele.



- Isso, Harry, bom garoto. E agora a Sra. Snape... - ele fez o mesmo com Martha - Ótimo, agora podemos dar início à segunda parte do plano: Petrificus Totalus!



Antes que Harry pudesse pensar em puxar sua varinha, foi petrificado e caiu estirado no chão, todo duro. Martha imediatamente sentiu o sangue gelar:



- O que está fazendo?!



O sorriso do Sr. Weasley adquiriu um aspecto macabro quando o homem se voltou para ela, varinha em riste:



- Como eu disse, Sra. Snape, eu estou sob ordens. Agora vou levar vocês e depois só nos restará esperar seu marido aparecer para salvá-la. Então nós o pegaremos, finalmente. O Mestre ficará satisfeito.




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