A reação de Dumbledore e a pri





Capítulo 2 - A reação de Dumbledore e a primeira noite em Hogwarts



Martha já tinha ouvido falar muito a respeito de Alvo Dumbledore, mas nem mesmo as muitas informações de Severo conseguiram diminuir o impacto da presença do bruxo imponente. Ele parecia ter saído de um livro de histórias do século 17, todo vestido de púrpura e dourado, com um barrete vermelho. Ele os recebeu em seu gabinete, um local que Martha jamais imaginou em toda sua vida.



Era um aposento circular, e as paredes eram praticamente inteiramente cobertas com retratos de antigos diretores. Esses retratos, a exemplo dos que estavam no resto da escola, também se mexiam. Alguns estavam dormindo, outros olhavam com interesse para os recém-chegados. A sala também tinha engenhocas e parafernálias que giravam sozinhas, soltavam fumaça ou abriam e se fechavam continuamente.



O escritório tinha pelo menos três níveis que Martha logo distinguiu. O primeiro era o nível onde ela estava, que tinha a escrivaninha e um poleiro ao lado, onde uma magnífica ave de exuberante plumagem vermelha e dourada encarava Martha com seus pequenos e ágeis olhos. Bem à frente, era impossível ignorar o mezanino, onde estava uma trapizonga imensa que parecia ser uma espécie muito estranha de telescópio. Era óbvio que um dos passatempos do professor deveria ser a observação do céu. Outro nível do escritório, mais ficava abaixo, com entrada ao lado da escrivaninha, provavelmente o local onde ficava a alcova onde o professor se retirava.



Martha teve que se segurar para não ficar totalmente boquiaberta. A moça calculou que alguém poderia ficar uma semana dentro daquele escritório e não ver tudo que tinha ali dentro. Ela procurou não prestar muita atenção nas quinquilharias, livros e retratos para se concentrar no homem à sua frente.



- Severo, meu rapaz - Dumbledore se ergueu de sua escrivaninha para saudá-los. - Que satisfação em vê-lo de volta a Hogwarts. E tão bem acompanhado...



- Obrigado, Alvo. Deixe-me apresentar Martha Scott, que me ajudou muito no mundo trouxa.



Ela estendeu a mão:



- É um prazer conhecê-lo, professor. Ouvi muito a seu respeito.



- Ah, temo que nem tudo que tenha ouvido seja totalmente verdade - Ele pegou as duas mãos de Martha e deu um de seus sorrisos mais encantadores. - Seja bem-vinda a Hogwarts, Srta. Scott.



- Chame-me de Martha, por favor.



- Como quiser, Martha - Os dois se acomodaram em poltronas em frente à escrivaninha de Dumbledore, que se dirigiu à cadeira. - Você deve ter cursado Beauxbatons, então. Eu certamente teria me lembrado se tivesse sido aluna em Hogwarts.



- Na verdade, eu não -



Severo interrompeu:



- Martha não é bruxa, diretor. Nem vem de uma família bruxa. Ela é uma trouxa puríssima.



A única reação visível do diretor de Hogwarts foi um espanto mediano e polido.



- Verdade? Não conheço muitos trouxas tão puros.



Martha sorriu:



- Oh, bem, eu também não posso dizer que conheça muitos bruxos. Ao menos alguns que eu saiba que são bruxos.



- Entendo - disse Dumbledore - Diga-me: como exatamente conheceu Severo?



Em poucas palavras, do seu jeito simples, Martha colocou o Prof. Dumbledore a par dos principais fatos entre os dois. Mas deixou de fora o essencial.



- Você certamente foi muito prático em conseguir um emprego trouxa e ganhar dinheiro trouxa, Severo. A adorável Martha certamente é encantadora. Mas devo dizer que apenas isso não explica a presença dela em Hogwarts, Severo.



Sentindo o tom de cobrança nas palavras educadas de Dumbledore, Severo disse:



- Decidimos que não queríamos nos separar. Como eu tinha que voltar para Hogwarts, ela veio comigo.



Dumbledore se sentou e pediu:



- Martha, minha querida, por favor, poderia nos deixar a sós por um minuto?



Já esperando por esse pedido, ela assentiu, erguendo-se:



- Claro -



- Não - interrompeu Severo friamente - O que tiver a falar sobre Martha, diretor, é melhor que ela ouça diretamente do senhor. Não se vá, Martha.



- Pois não, Severo - disse ela, voltando a se sentar.



O velho diretor observou a interação e determinação dos dois atentamente e ergueu-se, dizendo:



- Muito bem, então. Tenha em mente, Martha, que eu estou preocupado apenas com o bem-estar de vocês dois. Mas acredito que Severo tenha lhe dito a respeitos das restrições de nosso mundo.



- Sim, ele disse, sim, senhor. Mas nada me prendia ao lugar onde eu vivia. Meu lugar é ao lado de Severo.



O mestre de Poções se adiantou em dizer:



- Eu estou disposto a pagar pelas conseqüências de meus atos.



- Muito bem, então. Espero que vocês tenham consciência de que essa situação pode provocar muita polêmica, e as repercussões podem ir além das paredes de Hogwarts.



- Como assim? - quis saber Martha.



- Odeio dizer isso, mas para me restringir às repercussões em Hogwarts, há uma chance de Severo ser discriminado e questionado por sua própria casa, para quem o sangue puro é importante. Também os membros do conselho da escola podem não ser tão compreensivos e exigir a saída de Severo da escola.



- Oh! - fez Martha, levando a mão à boca. - Eles podem fazer isso?



- Receio que possam - disse Dumbledore -, mas acredito que um trabalho de convencimento possa dissuadi-los. O mesmo, porém, não pode ser dito do Ministério da Magia.



- Ministério da Magia?



- A autoridade da qual lhe falei - disse Severo. - Eles regulam as atividades dos bruxos e também as relações com pessoas não-mágicas.



Martha perguntou:



- Prof. Dumbledore, Severo pode ser preso por ter me trazido aqui?



- Dificilmente - tranqüilizou ele - Mas ele pode sofrer outros tipos de punição por violar a lei do sigilo. Expor nosso mundo a trouxas é considerado um ato muito grave.



- Mas ele não expôs o mundo de vocês! Eu decidi entrar nele! - ela parecia nervosa - Eu não quero prejudicar Severo. Posso voltar para Londres agora mesmo.



Severo segurou seu braço, e Dumbledore disse:



- Não desista tão rápido, minha criança. Posso ver que você se preocupa muito com Severo.



- Se eu não o amasse, não teria largado tudo para vir com ele.



Os olhos do bruxo velho brilharam num tom mais intenso de azul por trás dos óculos de meia-lua. Ele assentiu, como que para si mesmo, e disse:



- É claro. Severo deve se sentir do mesmo modo, já que concordou em trazê-la até aqui sabendo plenamente de tudo isso, bem como das conseqüências para suas outras... atividades.



- Isso é correto, diretor. Eu a amo também.



Dumbledore sorriu, e Martha sentiu o seu coração se esquentar pela sinceridade demonstrada no sorriso:



- Severo, isso me deixa muito, muito feliz. Odiaria vê-lo se tornar ranzinza e solitário quando os anos lhe pesassem. Parabéns aos dois. Calculo que saibam os obstáculos que os esperam. Ainda assim, pretendem insistir nesse amor?



Martha tomou a mão de Severo e disse, com um olhar perdido:



- Odiaria prejudicar Severo, mas viver sem ele não seria nada fácil. Se houver um jeito de ficarmos juntos, eu gostaria de tentar até a última possibilidade.



- E você, Severo?


- Martha provavelmente não tem noção do que eu estou arriscando em trazê-la para cá. Ela significa para mim mais do que eu posso dizer, e o fato de ela ter largado tudo para vir comigo é apenas prova de que ela sente a mesma coisa.



Eles se entreolharam, sorrindo, e chegaram mais perto um do outro, Martha aninhando-se nos braços de Severo. O sorriso de Dumbledore cresceu e o brilho nos seus olhos azuis também:



- Vocês parecem muito bem, juntos. Sabem, acaba de ocorrer que tudo ficaria imensamente mais fácil se vocês dois se casassem.


Martha e Severo se entreolharam e a expressão assustada no rosto da moça fez Severo dizer:



- Na verdade, nós não chegamos a discutir isso.



- Entendo. Mas seria bom que começassem a pensar nisso. Evitaria o risco de banimento.



- Banimento?



- A expulsão de Severo do mundo mágico. Ele teria sua varinha quebrada e estaria proibido de usar magia, condenado a viver no mundo trouxa.



Martha arregalou os olhos e pôs a mão na boca, horrorizada:



- Oh, não! Eles podem fazer isso?



Dumbledore assentiu:



- Receio que o Ministério tenha poder para tanto. Está disposto a arriscar isso, Severo?



Ele garantiu:



- Eu vivi no mundo trouxa todas essas semanas. Com Martha a meu lado, eu viveria em qualquer lugar.



- Excelente! - Dumbledore bateu palmas - Então é um amor pelo qual vale a pena lutar. Farei o que puder por vocês. Mas agora preciso me corrigir por ter sido um péssimo anfitrião. Dobby!



Do nada, surgiu um ser pequeno, de pernas muito finas, com um imenso nariz, grandes olhos verdes e orelhas compridas, esticadas para o lado. Martha jamais vira qualquer coisa semelhante. A criatura, obviamente, o tal Dobby perguntou:



- Sim, Mestre Dumbledore?



- Dobby, por favor, traga chá, bolinhos e biscoitos para nós três.



- Sim, senhor.



- E Dobby, esta é a Srta. Martha Scott. Ela ficará como nossa convidada em Hogwarts e você deve ajudá-la em tudo que ela precisar.



- Sim, Mestre Dumbledore. Jovem mestra Martha Scott pode contar com Dobby. Com licença.



E sumiu do mesmo jeito que chegara. Martha ainda tentava se habituar a tudo aquilo. Dumbledore explicou pacientemente:



- Dobby é um elfo doméstico. Pode pedir a ele qualquer coisa doméstica que precisar. Confio que Severo vá lhe mostrar como o castelo funciona. Receio que terei de proibir seu acesso à Floresta Proibida desacompanhada. A mesma regra vale também para os alunos.



- Entendo.


- Diretor - disse Severo -, gostaria que pensasse na possibilidade de Martha ajudar nas aulas de Estudos dos Trouxas.



Dumbledore se virou para a moça:



- Gostaria de ajudar nas aulas?



- Bom, no momento, estou sem emprego, e não sou mágica. Acho que tenho algo a colaborar com o professor.



- O Prof. Hagglemore está nessa cadeira há algumas décadas - disse Dumbledore - Ele se beneficiaria de uma reciclagem com uma trouxa autêntica. Posso consultá-lo a esse respeito. É claro que tudo dependerá da disposição dele, que afinal de contas é o titular da cadeira.



Martha garantiu:



- Entendo perfeitamente.


Dobby voltou, carregando duas bandejas, e eles se acomodaram para jantar. Martha achou os quitutes deliciosos, e viu que Dobby também trouxa sanduíches e bolos. Ao invés de comidas típicas de internato, as delícias de Hogwarts eram mais parecidas às da cozinha de uma pousada paradisíaca no interior da Escócia. Martha teria que se cuidar para manter o peso.


Após a refeição, os dois se recolheram às masmorras, e Martha observou que até aquele momento ela não vira um único aluno. Ela ainda não sabia se isso era bom ou ruim.


Depois de se maravilhar com os corredores de Hogwarts, iluminados por autênticas tochas mágicas, que não se apagavam, Martha viu Severo parar diante de uma grande tapeçaria com um intricado motivo em verde e prata. Ele puxou a varinha e disse:



- Abre-te, Sésamo!


Parecia uma senha meio óbvia, mas Severo explicou que não eram as palavras, mas a magia correta que fez a tapeçaria deslizar para o lado, revelando uma pesada porta de madeira. Ele deu espaço para Martha passar e disse:



- Você não precisará usar a senha para entrar. As proteções mágicas vão reconhecer você automaticamente.



- Obrigada - disse ela, entrando pela porta.



Mal ela deu dois passos e teve que parar para olhar em volta do aposento que era, na verdade, uma sala de estar ou foyer. Com um sofá e duas cadeiras perto da lareira e uma grande mesa perto da porta de entrada.



- Incendio!



A lareira se acendeu, iluminando ainda mais o aposento. Nas paredes, havia dois retratos, que cumprimentaram Martha polidamente. Ela retribuiu e Severo disse:



- Aqui fica meu escritório - apontou para uma porta -, ali meu estoque de ingredientes e laboratório particular, o quarto é ali e lá dentro há um banheiro. Ah! Vejo que nossas bagagens chegaram.



Martha observava tudo, entre espantada e maravilhada. Aquele era seu novo lar. Provavelmente para sempre.



A voz de Severo a devolveu à realidade:


- Pronta para entrar apropriadamente na sua nova casa?



- Apropriadamente? - ela repetiu.



- Assim - Ele a ergueu nos braços, provocando um gritinho em Martha.



Ela se agarrou ao pescoço dele exatamente como fizera na primeira vez que os dois se viram, ainda na lojinha da esquina. Severo a carregou para dentro do quarto.



Se antes Martha se sentira uma princesa, quando ela viu o quarto que seria deles, ela pensou que era digno de uma rainha. Havia uma imensa cama de madeira com ricos dosséis e lençóis de cetim, tapeçarias nas paredes de pedra nua, um armário imenso do outro lado, uma clarabóia com a noite lá fora e uma lareira aos pés da cama. Nada poderia ser mais aconchegante do que isso, e Martha exclamou:



- Severo, que lindo!



Ele a pousou na cama, dizendo:



- Sei que não é exatamente o sonho de todas as moças, mas é o que eu posso oferecer.


Ela o abraçou:



- Eu adorei! É tudo que eu sempre sonhei.



Ele perguntou, sarcástico:


- Você sempre sonhou com uma masmorra escura e fria?



- Eu sempre sonhei em morar num lugarzinho acolhedor ao lado do homem que eu amo - disse Martha, ainda agarrada a Severo - E é um luxo isso acontecer num castelo tão grande e cheio de segredos, Severo.



Ele corrigiu:



- Sev.



- O quê?



- Me chame de Sev.



- Pensei que você preferisse Severo.



- Prefiro que os outros me chamem assim. Só você tem permissão de me chamar de Sev. Será o nosso segredo.



- Claro, Sev - Martha sorriu para ele e o beijou longamente. - Obrigada.



- Por quê?


- Por me dar uma vida nova.


Severo acariciou os cabelos dela, dizendo, triste:



- Ainda nem sabemos se vamos ter uma nova vida realmente.



Martha se virou para olhar fundo nos olhos pretos e dizer, tranqüila:



- Vai dar tudo certo, Sev.



- Você está tendo uma de suas intuições?



Ela assentiu:



- Minha intuição me diz que vamos lutar muito para ficarmos juntos. Mas nós vamos conseguir.



Severo sorriu:



- Você certamente impressionou Dumbledore.



- Ele é quem é impressionante. Parece com tudo que eu sempre imaginei sobre Merlin.



- Alvo é um bruxo muito poderoso. Será um aliado importante. Mas há muitos outros obstáculos à nossa frente.



Martha disse, apavorada:



- Ele disse que você pode ser banido e ter que renunciar à magia!



- Eu faria isso de bom grado para viver a seu lado. Não menti quanto a isso.



- Mas você não gostaria de ficar sem suas poções, eu sei - ela disse - Eu não quero que você faça coisa alguma que não queira, Sev. Nem quero prejudicá-lo. Se eu estiver atrapalhando você ou lhe causando problemas...



Severo colocou dois dedos nos lábios de Martha gentilmente e disse:



- Eu não quero mais ouvi-la falando assim. Nós já conversamos sobre isso. Vamos passar por tudo isso juntos. A menos que você queira desistir.



- Não, de jeito algum. Estar a seu lado é o que eu mais quero, seja você bruxo ou não.



- Fala sério?



- Muito sério. Se eu não quisesse estar com você, jamais teria vindo.



Severo pareceu enrubescer ao acariciar a mão de Martha, dizendo:



- Nesse caso, eu gostaria que você pensasse no que Alvo falou sobre casamento. Sei que nunca falamos disso antes, e não quero ser pretensioso, mas... talvez possamos conversar sobre isso. - Ele acrescentou rapidamente - Quero dizer, mais tarde, depois que você tiver refletido sobre o assunto, aí podemos conversar. Sem pressa.



Martha sorriu:



- Você fica uma graça todo envergonhado.



Ele protestou:



- Não, não fico uma graça. Gracinha não é comigo.



Ela sorriu mais ainda:



- Ai, agora tá todo emburrado. Não adianta, você fica mais gracinha ainda.



Severo se sentou na cama, dizendo:



- Com você aqui, me chamando de gracinha, como vou aterrorizar os alunos? Minha reputação estará arruinada! Eles não terão mais medo de mim.



- Oh, bem, podemos pensar nisso depois. Agora tem uma coisa muito estranha acontecendo.



- Mesmo?



- Estamos os dois na cama e você não está me beijando - disse ela.



- E estamos os dois vestidos. Isso é ainda mais estranho.



Martha sorriu, marota:



- Sev, você precisa dar um jeito nisso.



Ele a apertou contra si:



- Agora mesmo, querida. Vamos comemorar nossa primeira noite em Hogwarts com estilo.



Martha abriu a boca para responder, mas não pôde, porque Severo a cobriu com a sua, um movimento cheio de ardor e paixão. Depois disso, Martha não pôde falar mais nada, pois os dois passaram a comemorar a chegada a Hogwarts - com muito estilo mesmo.



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