À beira do lago




Capítulo 12 - À beira do lago



- Onde fica a área para piqueniques? - indagou Martha.



Ela e Severo saíram do castelo e estavam andando pelos gramados, na direção oposta da cabana de Hagrid. Severo carregava uma grande cesta de vime.



- Você fala daquelas mesas espalhadas pelos parques como eu vi em Londres?



- Essas mesmas.


- Não tem disso aqui - ele apontou - Você disse que queria conhecer o lago.



Martha sorriu, ao ver o lago diante de si, e uma extensa área verde em volta. Havia árvores com folhas mudando de cor, e uma brisa fresca que parecia limpar o ar ao redor deles. Martha adorou o verde da relva e olhou para cima, para ver as árvores altas que abrigavam diversos pássaros que cantavam, numa verdadeira sinfonia da natureza.



- Severo, isso aqui é lindo!



- Eu sei como você gosta de ficar perto da natureza. Vamos até a beira do lago.



Eles foram até o lago, Martha se sentindo uma criança diante de tanta beleza e harmonia. Ela abriu os braços e rodou, respirando fundo o ar fresco e limpo:



- Eu adorei esse lugar!



Severo olhou para ela e após uma pausa, disse:



- Uma lula gigante mora no lago, bem como outras criaturas. Por isso, eu não recomendaria nadar sem um acompanhante.



Martha arregalou os olhos:



- Ela é feroz?


- Não, mas ela pode ter um pouco de... entusiasmo que não é muito saudável.



- Oh - por via das dúvidas, Martha ficou um pouco mais longe da margem - Você se lembrou de trazer um cobertor?



Ele pareceu espantado:



- Por que cargas d'água eu traria um cobertor?



- Severo, não existe piquenique sem cobertor e formigas. Essa é uma constante do universo! O cobertor é usado como toalha ou cadeira. É clássico!



- Não aqui - ele disse, sacando a varinha - Por favor, fique atrás de mim enquanto eu preparo tudo. Segure a cesta, por favor.



Surpresa, Martha obedeceu e observou Severo usar sua varinha como se fosse uma batuta de maestro, conjurando objetos. Ele colocou uma lona no chão, vários tapetes em cima da lona e, sobre os tapetes, almofadões macios e fofinhos. Colocou também uma mesa baixinha, para que eles comessem deitados nos almofadões. Em seguida, ele ergueu uma tenda, de feições orientais, para protegê-los do tempo fresco. Martha viu, maravilhada, os ricos tecidos se desenrolando para formar uma tenda, e ela estava boquiaberta.



- Agora só falta...



Faíscas saíram de sua varinha, e ele murmurou vários feitiços. Depois, guardou a varinha e virou-se para pegar a cesta:



- Pronto. Pus feitiços de privacidade e também um feitiço desilusório para ninguém nos incomodar. Estaremos à vontade como se estivéssemos dentro da masmorra. Ninguém nos verá lá dentro. Quem chegar perto vai se lembrar que esqueceu alguma coisa bem longe daqui e terá uma vontade irresistível de ir buscá-la.



Martha tentou encontrar a voz:



- Eu... eu... Severo, eu não sei o que dizer!...



- Não precisa dizer nada - ele disse, oferecendo o braço - Vamos?



Ela aceitou e entrou dentro da tenda, ajeitando as capas para se sentar nos almofadões. Ela olhou para cima e disse, excitada:



- Sinto-me como se estivesse numa tenda árabe, no meio do deserto.



Severo soltou um meio sorriso, ajeitando a cesta a seu lado:



- Acredite, a temperatura aqui é bem mais saudável. Bem, que tal começarmos? Confesso também estar com fome.



- Boa idéia.



Ele retirou uma toalha, dois pratos, copos, talheres e guardanapos. Com a varinha, ele pôs a mesa e aproveitou para deixar uma das "paredes" da tenda transparente, e assim eles pudessem apreciar a vista do lago. Martha suspirou, fundo:



- Oh, Severo... Isso tudo é simplesmente perfeito.



- Perfeito é o cheiro que vem dessa torta de carne. Ah, mas está fria. Deixe que eu cuido disso. Vou cuidar de tudo, você não tem que fazer nada - Ele apontou a varinha para o prato - Thermos!



Martha estava muito emocionada. Os dois estavam tendo um dia muito especial, e a surpresa romântica de Severo a tinha deixado completamente extasiada. Após o almoço, Severo serviu a sobremesa, mas só o que Martha viu foi uma caixinha de chocolate artesanal no prato. Ela bateu palmas, excitada como uma criança:



- Severo, que lindinha! Dá até pena de comer.



Ele se virou para pegar algo dentro da cesta:



- Espere. A sobremesa não estará completa sem isso - mostrou duas taças de champanhe nas mãos, enquanto a garrafa levitava até a mesa - Ah, esses elfos não aprendem. Champanhe quente é inaceitável! Frigidare!



A champanhe resfriou até formar uma pequena crosta de gelo. Severo serviu as duas taças, enquanto Martha juntava as mãos:



- Oh, meu Deus, champanhe! - ela pegou a taça, espantada - Nossa, Severo, o que estamos comemorando para você arrumar tudo isso?



Severo chegou perto dela e disse, evitando olhar para ela:



- Oh, bem, talvez eu considere essa ocasião especial - mas ele disse - De qualquer forma, a sobremesa está esperando.



Martha notou que ele estava desviando o assunto:



- Severo, tem alguma coisa errada?



- Não, claro que não - disse ele, com um sorriso nervoso - Por que teria?



- Porque você parece estar tentando esconder alguma coisa, é por isso.



- Não prefere comer um chocolatinho? Só um pedacinho, sabe -



- Severo, quer esquecer esse chocolate -



- É que... que... Os elfos se esforçaram tanto para fazer esse chocolate exatamente como eu pedi. Por favor.



Martha não estava entendendo nada. Ela pôs a taça de champanhe na mesa e suspirou:



- Tá bom, tá bom. Eu como o maldito chocolate - Ela retirou a tampinha de chocolate e viu que a caixinha era oca - se você faz tanta quesssss...



A palavra morreu dentro de sua boca quando ela viu que a caixinha de chocolate podia ser oca, mas não estava vazia. Assim que ela viu o que tinha dentro da caixinha, as coisas finalmente começaram a fazer sentido. Peça por peça, o quebra-cabeças estava se encaixando na sua cabeça. Ela ainda estava de boca aberta, de olhos fixos no objeto gracioso e delicado acomodado em meio a todo aquele chocolate.



Um anel. De ouro com brilhantes.



Severo chegou bem pertinho dela e pegou o anel, dizendo:



- Martha, eu... eu queria que você... quero dizer, eu esperava que... Droga, isso não tá indo bem - ele inspirou fundo e Martha finalmente olhou para ele. Ele pegou a mão dela - Desculpe. Eu estou nervoso, porque eu queria que tudo saísse perfeito para essa tarde. Eu não entendo. Eu sou um espião e tenho nervos de aço, mas quando chego perto de você, Martha, eu me descontrolo. Você me tira do sério, Martha, eu fico perdido feito um adolescente a seu lado, e só o que eu sei é que eu quero me sentir assim pelo resto da vida - os olhos de Martha começaram a se encher de lágrimas - Você me fez descobrir coisas a meu respeito que eu jamais imaginei. Você me deu coisas que nem em sonhos mais insanos eu ousava ter esperança: conforto, carinho, compreensão, amor. Eu achei que minha vida nunca teria nenhuma dessas coisas, Martha, e você me deu todas elas e tantas outras. Eu achei que sorrir era um verbo que eu jamais conseguiria conjugar, e hoje eu não faço outra coisa. Você é tudo que eu quero, e tudo que eu sempre quis, embora eu nem soubesse disso. Olhe só, estou falando sobre meus sentimentos pela primeira vez na vida. Sabe o que as pessoas diriam se soubessem? Sei que não sou nenhum príncipe encantado, e andar comigo só vai fazer mal à sua reputação, mas eu preciso de você. Por isso - ele se colocou num joelho só e ofereceu o anel - Martha Scott, por favor, você me daria a honra de se tornar minha esposa?



Martha foi obrigada a enxugar as lágrimas com o guardanapo:



- Mas... eu já tinha dito sim... você não precisava...



- Eu não poderia viver comigo mesmo sem deixar absolutamente claro por que eu quero me casar com você. Isso não tem nada a ver com Dumbledore, ministro da Magia ou aqueles néscios que estudam na minha casa. Não vou me casar com você para tornar as coisas mais fáceis para que eles nos aceitem. Merlin sabe que eu nunca liguei para o que os outros pensavam e não estou inclinado a começar a fazer isso agora. Eu quero me casar com você pelo mesmo motivo que eu a trouxe para Hogwarts: não quero me separar de você nunca. Agora que eu a achei, não quero mais viver sem você, nunca mais - ele deu um risinho de canto do lábio - Além do mais, nós, sonserinos, temos um padrão de seguir tradições. Nenhum Snape que se preze deixaria de dar um anel de noivado à sua escolhida.



Ele beijou as costas da mão dela e colocou o anel no dedo, dizendo:



- Eu o comprei hoje no Beco Diagonal. Tem dois diamantes, simbolizando nós dois. Como todo anel mágico, ele se adapta ao seu dedo, e ao de mais ninguém. E tem uma inscrição.



Martha tirou o anel só para ler:



- "Com amor para sempre, SS" - Ela desatou a chorar - Oh, Severo...



Os dois se abraçaram, e Martha imaginou, abraçada a ele, de olhos fechados, que tudo era um sonho e que tudo iria se desfazer quando ela abrisse os olhos. Então ela continuou de olhos fechados, sentindo o corpo dele contra o seu, mas o corpo dela estava vibrando, a cabeça girando. O coração ameaçava explodir se ela não falasse o que estava sentindo.



Abrindo os olhos, ela disse:



- Você sabe que eu não tenho família, nem muita educação, e conheço pouco da vida. Mas você foi a única pessoa que se preocupou comigo depois de minha família. Ninguém nunca me tratou como você me trata, Sev. Eu me sinto cuidada, protegida e acarinhada quando estou com você. Eu te amo, Severo Snape - por isso eu mal posso esperar para ser a Sra. Severo Snape.



Ele olhou nos olhos dela:



- Está falando sério, não está?



- Claro que estou!



- Não me entenda mal, mas é que me ocorreu uma idéia. Por que não adiantamos o casamento? Não precisamos esperar até o Natal! Para que esperar?



Martha pensou um pouco:



- Nossas roupas não estão prontas.



- Ah, droga! - disse ele - Acabo de lembrar também que coloquei um anúncio do casamento no Profeta Diário. Isso é o que a lei prevê. Temos que esperar a burocracia do ministério.



- Demora muito?



- Na verdade, talvez não demore tanto. Com sorte, tudo fica pronto junto, incluindo as roupas, e então Alvo pode cuidar da cerimônia.



- Ele tem poder para nos casar?



- Se ele pode enfrentar Voldemort, ele pode nos casar. Depois é só assinar os registros junto ao Ministério da Magia e a parte burocrática estará encerrada.


- Oh, Severo... Eu vou precisar de alguém para me ajudar com os costumes e tradições de vocês. Não conheço coisa alguma disso! Será que... que tal Minerva? Ela parece ser bem tradicional.



- Se está procurando alguém tradicional, esse alguém é McGonagall, pode acreditar.



- Precisamos escolher padrinhos, essas coisas?



- Não, bastam duas testemunhas.



- Ótimo. Você escolhe uma, eu escolho a outra.



Severo sorriu:



- Eu jamais imaginei que estaria preocupado com um casamento.



Martha ficou envergonhada, mas falou:



- E eu saí do banho pensando que você estivesse disposto a cancelar tudo. Você parecia tão distante...



- Desculpe por isso. Eu estava apavorado. Tinha medo que nada disso desse certo, ou que você tivesse mudado de idéia...



- Sem chance de eu mudar de idéia - ela beijou-o docemente - E muito obrigada por esse momento. Eu jamais o esquecerei enquanto eu viver.



Severo apertou seu corpo contra o dela e sussurrou, sensualmente:



- Tem um outro jeito de fazer esse momento se tornar inesquecível... -



Seus lábios avançaram contra os de Martha, tomando-a de surpresa, fazendo arrepios de excitação percorrerem-na. Primeiro os lábios grudaram, depois as línguas e Severo fez também suas mãos passearem por pontos sensíveis do corpo dela.



Assustada, Martha se lembrou de onde estavam:



- Severo, e se algum aluno aparecer?



Ele passou a aplicar delicados beijos no pescoço dela, afastando o vestido para ter acesso aos ombros:



- O feitiço vai enganá-los. Eu lhe disse que teríamos total privacidade.



Martha estremecia de desejo diante dos carinhos, e não sabia o que a excitava mais: o local proibido ou as carícias apaixonadas de seu noivo.



- Severo, que loucura...



- Martha...



Foi uma louca paixão que os arrebatou em momentos de êxtase à beira do lago de Hogwarts. Naqueles instantes, ambos se entregaram ao mais puro instinto e desejo animal de estarem juntos, incapazes de se importar que alguém pudesse vê-los. Quase ao ar livre, eles se desfrutaram de maneira intensa, selando o compromisso que acabavam de firmar.



Mas ambos sabiam que a jornada para sua felicidade mal tinha começado.



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