A audácia de Draco Malfoy



Capítulo 5 - A audácia de Draco Malfoy



Martha desceu as escadas em caracol e estremeceu um pouco quando a grande gárgula de pedra saiu do caminho para que ela pudesse deixar o escritório do diretor de Hogwarts. De repente ela se viu sozinha num corredor de pedra, e precisava chegar até as masmorras. Mas felizmente ela sabia onde ficavam as escadas e desceu-as, rezando para que elas não se mexessem, pelo menos muito. Os retratos nas paredes a observavam com curiosidade, mas quando ela olhava para eles, fingiam que não a viam. Martha ficou intrigada, e imaginou se esses retratos gostavam de fazer fofocas.



Ela desceu pelo menos quatro andares sem cruzar com uma única pessoa. Não era de se estranhar, uma vez que era óbvio que professores e alunos estavam em aula. Vez ou outra, ela ouvia o ruído distante de uma voz vinda das salas de aula.



Ao chegar às masmorras, os corredores foram ficando cada vez mais escuros, e ela sentiu um arrepio de frio. Ela viu algumas pinturas e armaduras conhecidas e atreveu-se a se dirigir a uma delas para confirmar se aquela era a direção para os aposentos do Prof. Severo Snape. Um bruxo jovem, de cabelos pretos e olhos bem azuis, respondeu de dentro do quadro que ela estava no corredor certo. Em seguida ela ouviu a voz de Severo, e sabia que tinha chegado em segurança sem sequer ter precisado da bolsinha do Prof. Dumbledore.



Mas qual porta dava direto nos aposentos, sem atrapalhar a aula? Ela tentou uma e viu nada menos do que 20 alunos virando o rosto para longe de seus caldeirões e direto no rosto dela. Ela enrubesceu, parada na porta, e algum burburinho se formou. O Prof. Snape ralhou:



- Silêncio - Ele a olhou, intrigado. - Posso ajudá-la, Srta. Scott?



- Desculpe, professor. Eu estava procurando a entrada para os aposentos.



- Duas portas adiante, nesse corredor.



- Claro. Mais uma vez desculpe.



Ela fechou aporta, mas ainda ouviu Severo mais uma vez pedir silêncio à turma, que tinha voltado ao burburinho. Ela queria se matar de vergonha. Como ela tinha interrompido a aula de Severo daquela maneira? Que coisa estúpida. Ele deveria ficar irritado com ela. E Severo irritado era uma coisa que nem mesmo Martha gostava de ver. Ela deveria ter usado a bolsinha do Prof. Dumbledore. Afinal, ele a dera para isso. Que estúpida! Já imaginou se fosse com a Profª McGonagall, que não gostava muito dela?



Meia hora mais tarde, ele entrou nos aposentos, carregando uma pilha de pergaminhos. Martha apressou-se em se desculpar:



- Desculpe por interromper sua aula, Severo. Prometo que não faço mais isso.



Severo colocou os pergaminhos na mesa e sorriu:



- É natural que você se perca no castelo. Logo estará andando por esses corredores como se fosse sua casa. Mas espere, aqui será a sua casa.



Martha sorriu e abraçou-se a ele:



- Senti sua falta.



- O que Dumbledore e você fizeram hoje de manhã?



- Oh, ele me mostrou um pouco do castelo e arredores. Eu estou curiosa para conhecer o lago.



- Talvez possa fazer isso hoje à tarde.



- Não sei. Hoje à tarde eu tenho chá com Hagrid e uma visita à biblioteca. Madame Pince vai me dar um cartão para eu poder consultar os livros.



- Chá com Hagrid? Um conselho: nem por educação aceite os bolos crocantes dele.



- Anotado. E como foi sua volta às aulas?



- Ah, poderia ser pior. Mas me pareceu que os alunos me olhavam muito hoje. Aliás, mais do que o de costume. Eu estou com meu nariz pintado? Tem alguma coisa nos meus dentes?



Martha sorriu:



- Claro que não, querido. Os alunos estão curiosos por que o professor deles apareceu com uma amiga - possivelmente mais do que uma amiga. É uma curiosidade natural. Espero não ter arruinado sua reputação.



- Não se preocupe quanto a isso. Uma pequena lufa-lufa hoje quase chorou quando eu avaliei sua poção. Eu estou em forma. Mas você pode estar certa. Normalmente, ela teria ido às lágrimas.



- Severo! - escandalizou-se Martha. - Isso é cruel.



- Isso é o professor de Poções. Eu sou assim.



- Você não é só>/i> assim. Você pode ser diferente. Eu descobri que você pode ser diferente - Ela sorria para ele e era um sorriso malicioso - Ah, se os alunos soubessem...



Severo a apertou entre os braços, sentindo o corpo dela contra o seu:



- Eu também senti sua falta... Mas não podemos nos atrasar para o almoço - Ele beijou o rosto dela - Por mais tentador que isso seja.



- Ah, que pena - Ela disse, beijando o pescoço dele e insinuando-se de maneira sensual. - Ia ser tão bom.



- Martha...



Rindo, ela se afastou dele:



- Está bem, está bem. Fica para depois. Escute, será que eu tenho que trocar de roupa para o almoço? As coisas são formais aqui?



- Não tão formais quanto McGonagall faz parecer, acredite. Sua roupa está ótima. Só vou lavar as mãos e poderemos subir para o Salão Principal. Mas antes, quero passar rapidamente pelo salão comunal de Sonserina. Marquei uma reunião com os alunos para fazer sua apresentação.



- Minha apresentação?



- Sim. É uma cortesia para com minha casa, apresentá-la de maneira diferenciada. E também pretendo formar alianças.



- Parece um jogo político.



- E você é uma peça principal. Podemos ir?



Ela deu um giro sobre si mesma:



- Estou bem assim? Será que os alunos vão gostar de mim?



- Você está ótima. E se os alunos não gostarem de você, bem, eu saberei o que fazer - Ele ofereceu o braço. - Não se preocupe, tudo sairá bem.



Martha continuou repetindo para si mesma as palavras de Severo enquanto era levada para o salão comunal de Sonserina, que ficava muito perto dos laboratórios de Poções. Ela foi informada de que eles estavam na verdade embaixo do lago e isso a impressionou muito.



Ela jamais esqueceria do impacto quando Severo abriu a passagem e ela finalmente entrou nos aposentos sonserinos. Dezenas de alunos que estavam tagarelando entre si foram se dando conta que seu chefe de casa estava no local e o barulho foi diminuindo. Em poucos segundos, os murmúrios foram morrendo, e fez-se silêncio sepulcral.



Snape assumiu seu ar professoral e disse:



- Agradeço a presença de todos. Gostaria de lhes apresentar minha convidada, Srta. Martha Scott. Ela deverá ser chamada de Srta. Scott em todas as ocasiões e sim, antes que vocês ouçam rumores de outras casas, a Srta. Scott é uma trouxa - Houve um fio de nervosismo entre os alunos, que Severo ignorou prosseguindo. - Em breve, ela deverá auxiliar o Prof. Hagglemore na disciplina de Estudo de Assuntos Trouxas, e terá uma valiosa contribuição a dar. Como tal, ela deverá ser tratada com o máximo de cortesia e educação. Considero vocês como responsáveis por tornar a vida da Srta. Scott o mais fácil possível em Hogwarts e considerarei qualquer ajuda a ela como um favor pessoal. Agora, se não tiverem nenhuma pergunta, eu os apresentarei à Srta. Scott.



Um menininho de cabelos escuros e olhos muito pequenos ergueu a mão:



- Senhor... Eu t-tenho uma dúvida.



Snape se virou para ele:



- Sim, Sr. Laettes?



- Eu não entendi se a Srta. Scott é exatamente trouxa ou apenas um Aborto.



Martha gelou ao ouvir aquilo. Ela não entendia exatamente o que era um Aborto, mas pela reação dos demais alunos, não deveria ser coisa boa. Severo agiu como se nada houvesse acontecido e respondeu calmamente:



- Muito bem, Sr. Laettes, fez bem em levantar dúvidas. Jamais tenha medo de levantar dúvidas. Para responder à sua pergunta, devo dizer que a Srta. Scott não tem um pingo de sangue bruxo. Ela é uma trouxa de sangue puro. Alguma outra dúvida?



O rosto de Severo deixava claro que ele não esperava mais dúvidas. Os alunos entenderam o recado.



- Muito bem, então coloquem-se em fila para que eu possa apresentá-los - Eles se rearrumaram e Severo indicou o primeiro - O Sr. Blaise Zabini, do 6o ano - Ela apertou a mão do menino, que retribuiu o gesto -, Srta. Pansy Parkinson, também do 6o ano...



Ao serem apresentados, os alunos apertavam a mão de Martha, e ela sorria para eles, notando que a maioria a olhava de maneira desconfiada ou curiosa. Severo estava impressionado com o controle de seus sonserinos. Talvez eles ainda o deixassem orgulhoso, afinal.



Ao menos, era assim que Severo pensava até chegar a vez de Martha ser apresentada a um rapaz loiro, de olhos cinza miúdos e queixo pontudo. Junto dele estavam dois adolescentes corpulentos e com feições grosseiras. Severo apresentou-o:



- Draco Malfoy.



Martha estendeu a mão para que o garoto a apertasse, mas ele cruzou os braços e disse, de maneira altiva:



- Eu não confraternizo com trouxas.



Por um instante, o tempo parou. Martha arregalou os olhos e retirou a mão, e Severo se pôs entre ela e Malfoy. Houve ruídos surdos de admiração e surpresa, mas Severo estava preparado para isso. Na verdade, ele estava esperando que isso acontecesse.



- Sr. Malfoy - ele disse lentamente, no seu tom mais ameaçador -, em respeito a seu pai, eu vou lhe dar a chance de se retratar com a Srta. Scott antes de decidir sua punição. Mas seria sábio que fosse uma retratação completa.



Desafiador, o garoto manteve os braços cruzados e disse:



- Pois pode esperar sentado, porque não haverá nem meia retratação. Como você ousa colocar na lama tudo o que Salazar Sonserina mais prezava, o sangue puro dos bruxos? Já seria discutível se ela fosse uma sangue-ruim, mas uma trouxa?! E não me venha falar no meu pai. Ele está em Azkaban, sendo punido por acreditar em coisas que você obviamente agora considera desprezíveis, mas que distinguem bruxos de sangue puro desses seres inferiores que sequer poderes possuem.



Martha estava branca, e sentiu que as pernas lhe iriam faltar. Severo segurou a mão dela com força, sem tirar os olhos de Malfoy e sem erguer a voz para dizer:



- Por se comportar como um grifinório, Sr. Malfoy, o senhor acaba de ter todos os privilégios de visitação de Hogsmeade suspensos até notificação posterior, possivelmente até o final do ano. Sonserina acaba de perder 100 pontos e o senhor vai cumprir não um, mas dois meses de detenção com o Sr. Filch.



Houve gemidos por toda a parte, enquanto Malfoy ficava vermelho de raiva. Severo ignorou-o e alertou os demais alunos:



- Espero ter deixado bem claro que não tolerarei qualquer espécie de questionamento sobre minha convidada. Eu esperava ter lhes ensinado alguma coisa sobre ser sonserino. O mínimo que se requer de um bom sonserino ou mesmo de qualquer pessoa de inteligência mediana é uma medida de bom senso e astúcia. Por sua estupidez grifinória, o Sr. Malfoy está sendo punido. Quem concorda com ele pode se apresentar ao Sr. Filch para detenção.



A tensão podia ser cortada com uma faca no ar. Malfoy continuava vermelho, mas tudo indicava que conseguiria se conter. Martha, chocada, sentia as lágrimas lhe subirem, mas tomou a firme determinação de não chorar na frente do moleque esnobe e arrogante.



- Ninguém? - continuou Severo. - Nesse caso, senhoras e senhores, vamos ao Salão Principal do modo sonserino. Caminharemos juntos, mostrando a unidade de nossa casa - Ele tomou o braço de Martha e ordenou: - Podem me seguir.





Martha agüentou estoicamente o percurso até o Salão Principal. Ela precisou de todo seu controle para não chorar diante da humilhação que aquele garoto a tinha feito passar. Mas ela não iria fazer isso. Se chorasse agora, iria minar a autoridade de Severo. Portanto, ela tentou se mostrar altiva e relaxada, embora a tensão acompanhasse aquela virtual procissão de sonserinos.



A entrada da casa inteira de Sonserina toda junta no Salão Principal era digna de uma foto. Aliás, foi exatamente isso que o menino Colin Creevey fez - bateu uma fotografia trouxa do acontecimento, porque afinal, Colin adorava bater fotos. Mas aquela devia ser a primeira que não eram fotos de Harry Potter.



Como os demais estudantes (e até alguns professores), Harry estava intrigado.



- O que você acha que aconteceu? - perguntou Rony.



- Eu não sei - respondeu Harry -, mas tá na cara que Malfoy saiu perdendo. Vocês viram a cara dele?



- Só o que eu sei é que Sonserina ia fazer uma reunião de casa antes do almoço, com todos - disse Simas Finnigan.



Hermione apontou para as grandes ampulhetas que computavam os pontos da casa:



- Vejam! Sonserina perdeu 100 pontos! Está em último lugar!



- Se essa amiga do Snape teve alguma coisa a ver com isso, eu já tô gostando dela! - riu Dino Thomas.



- Snape não iria tirar 100 pontos de sua própria casa - disse Neville Longbottom, baixinho. - Nunca mesmo!



Hermione disse:



- A menos que tivesse algo muito grande em jogo... Snape pode ser muitas coisas, mas burro ele não é. Alguma coisa está acontecendo.



- Talvez Dumbledore faça algum anúncio - disse Harry. - Se bem que, conhecendo Dumbledore, talvez não.



Harry ainda estava muito chateado com o diretor pelos acontecimentos do quinto ano, quando ele perdera o padrinho e a profecia sobre sua vida.



Como Harry previra, Dumbledore ficou calado, e os estudantes estavam curiosíssimos para saber o que tinha acontecido que deixaram os sonserinos tão inquietos.



Para aumentar ainda mais o astral de mistério, de repente o dia começou a ficar mais escuro. Ou era o que parecia, com a quantidade de corujas que entraram no Salão Principal, trazendo correspondência para os professores de maneira geral. Dumbledore recebeu tantas cartas que teve que fazer um saco igual ao do Papai Noel. Snape também recebeu uma grande pilha, e muitos sonserinos receberam mais de uma coruja.



O burburinho era grande no Salão Principal, e Severo inclinou-se para alertar Martha em voz baixa:



- Aparentemente, as notícias também correm muito rápido fora de Hogwarts.



Ela se espantou:



- Essas cartas... são a meu respeito?



- Ao que tudo indica, são. As poucas que eu abri falaram sobre ter uma trouxa em Hogwarts. E não nos termos mais elogiosos.



Martha se sentiu ainda mais deprimida:



- Oh, Severo...



- Tenha calma - disse ele baixinho. - Nós já prevíamos que isso iria acontecer. Não é hora de se desesperar quando tudo que está acontecendo é exatamente o que estava previsto.



Ela suspirou, assentindo. Era o início. Mas ninguém sabia onde aquilo iria parar.



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