O Casamento



DIAS DEPOIS, Harry Potter e o conde voltaram a Tocah para finalizar o novo acordo de casamento. O rei sonserino consentiu que nenhuma moeda fosse entregue em reparação a Sir Draco, a pedido do conde de Weasley.


Enquanto estavam fora, Gina voltou para Godric, desfazendo-se de qualquer coisa que a lembrasse de Draco. Foi então que encontraram o corpo da prisioneira — a esposa do soldado que tentou raptar Gina. Os cabelos estavam tosquiados, e Gina pressionou o punho na boca, imaginando o medo da mulher. Lágrimas correram por seu rosto, pois aquela poderia ter sido ela um dia. Ordenou que a mulher fosse enterrada e uma onda de pesar a engolfou. Teddy perdera os pais. Embora a tia o amasse, não seria o mesmo.


Lamentava ambas as mortes. Quando Harry viu o soldado ameaçando-a, não hesitou em matar o homem. Ela levou a mão ao pescoço com a lembrança. Ele matara um dos seus próprios homens pelo bem dela. Aquele pensamento a sossegava.


Não sabia por que ele tinha feito tal coisa. Na verdade, Harry continuava um mistério para ela. Por que teria mudado de idéia quanto ao casamento? E que tipo de marido ele seria, uma vez que seu pai tivesse voltado para a Sonserina?


Era fácil recomeçar a vida em Godric sem a presença de Draco. Contudo ela ainda precisou de dois dias para reunir coragem de entrar em seus antigos aposentos.


Gina entrou no quarto com uma braçada de juncos frescos, esperando ocupar-se com a atividade. As criadas trabalhavam com ela, que amontoou turfa na lareira para garantir um fogo duradouro. O forte cheiro de logo encheu o cômodo, oferecendo conforto.


Ela observou a cama. Sentiu náuseas no estomago com as lembranças evocadas. Draco prendendo-a, surrando-a ate que ela ficasse imóvel sob ele. Sua visão se turvou, e Gina cerrou os punhos, lutando contra a onda de raiva. Draco queria controlá-la, fazer com que sentisse desejo por ele. Ele se gabava de seus talentos, ridicularizando os temores dela e insistindo em dizer que faria com que ela o desejasse. Era a única razão para não ter sido violada, embora isso tivesse chegado perto de acontecer.


— Sente-se bem? — perguntou uma jovem criada.


— Leve a cama daqui. Não quero ver isso novamente — disse Gina. — Queime-a, se quiser.


A garota assentiu.


— Cuidarei disso.


— Deixem-me sozinha — ordenou Gina. As criadas atenderam e ela desforrou a cama das cobertas. Atirou uma por uma no fogo, observando-as arder em chamas antes de se desmancharem em cinzas.


Dentro de poucos dias teria de enfrentar seu próprio leito nupcial. Embora soubesse que Harry não a queria, ele precisava consumar o casamento para torná-lo valido. Os nervos dela estavam tão tensos que precisou fechar os olhos para espantar o medo. Só uma vez, lembrou a si mesma. Só precisava ser uma vez. E não achava que Harry fosse machucá-la.


Precisava de uma distração. Erguendo-se, deixou o quarto. Hermione enviara Colin para lhe fazer companhia, juntamente com uma dúzia de escoltas. Gina finalmente o encontrou na sala de armas. Ele mantinha o braço erguido, como se segurando uma espada imaginaria. Seu olhar continuava preso ao chão, os pés se movendo em padrões intrincados enquanto murmurava consigo mesmo.


— Perdoe-me — interrompeu Gina —, mas o que esta fazendo?


O olhar de Colin disparou na direção dela.


— Feche a porta que eu mostro.


Ele pegou uma espada da parede e avançou para atacar um adversário invisível. Os pés se moviam na mesma seqüência. Enquanto o braço armado desferia e defendia golpes imaginários.


Gina se encostou à parede, observando:


— Isso funciona?


Colin encolheu os ombros.


— Pratico todas as noites. Um dia usarei minhas habilidades no campo de batalha.


— Isso parece muito complicado.


— E é. Leva anos de pratica. — Colin repetia o padrão dos passos, a concentração focada nos pés.


— Não deveria olhar para seu oponente?


— O quê? — Ele baixou a espada. — Ah! Bem, farei isso assim que dominar esta nova seqüência.


Gina deixou que ele continuasse e comentou:


— Eu costumava observar meus irmãos praticando com a espada quando era mais nova. Eles nunca me deixavam tentar.


Colin Ihe dirigiu um olhar incerto.


— As espadas são pesadas.


— Sim, são pesadas. Mas nunca vi meus irmãos observando os pés. Eles juram que, não importa o que aconteça, sempre se deve manter os olhos no inimigo.


— Harry diz isso. Nunca vi alguém se mover mais rápido do que ele. É invencível em batalha. — Colin deu uma risadinha autodepreciativa. — Eu jamais ganhei uma batalha.


— Nem eu. — Gina sorriu para ele. — Mas acredito que isso acontecerá no momento certo.


Os olhos dele se iluminaram.


— Quero ser o maior guerreiro de toda Grifinória. Quero ser uma lenda.


— Acho que você será um dia — encorajou Gina. — Mas se eu fosse você, olharia para o oponente e não para os pés.


Colin ponderou sobre as palavras dela.


— Sempre que luto, meus pés se atrapalham. Pensei que, praticando meu trabalho de pés, isso não aconteceria.


Ele arrumou a postura e praticou mais um pouco.


— Você e bem diferente de Cho, sabia?


— O que quer dizer?


Colin atacou o ar e cambaleou antes de recuperar firmeza nos pés.


— Ela nunca ria. Harry estava sempre tentando fazê-la sorrir. Ela não sorria muito.


— Acha que era infeliz aqui?


Ele meneou a cabeça.


— Cho costumava dar longos passeios sozinha quando Harry não estava por aqui. Às vezes ficava afastada por horas. Ele baixou a espada e parou por um instante. — Uma vez, quando Harry estava ausente, ela só voltou na manha seguinte. Foi poucas semanas antes que morresse.


— Tem certeza de que ninguém procurou por ela? — sugeriu Gina. — Seu irmão nunca permitiria que algo de mal Ihe acontecesse.


— Ninguém soube que ela saiu. Só sei porque a segui.


Gina estava aflita para perguntar aonde Cho tinha ido, mas pela expressão reservada de Colin, duvidava que ele fosse contar.


— Fico feliz por você se casar com Harry — disse Colin.


Gina ficou admirada com o comentário.


— Por que diz isso?


— A maneira como olha para ele. Você gosta dele mais do que Cho jamais gostou. — Ele ficou carrancudo e Gina se perguntou novamente o que teria feito com que ele desgostasse tanto da cunhada.


— Ele não quer casar comigo — ela disse. — Não consegue perdoar meu sangue sonserino.


— Ah, não e por isso. — Colin atacou o ar e cambaleou quando perdeu o equilíbrio do jogo de pés. — Harry leva suas promessas a sério. Quando Cho morreu, ele jurou nunca mais casar. Acha que esta sendo leal a ela.


— Gina sabia que Harry amara a primeira esposa, mas agora se perguntava sobre a intensidade dos sentimentos dele. Será que a comparava com Cho?


Ela tirou uma das pesadas espadas da parede. A falta de familiaridade com o peso esticou seus músculos, mas ela suportou.


— Então o que atrairia seu irmão para mim?


A boca de Colin se contorceu e ele deu de ombros.


— Você pode tentar doces ou tortas. Especialmente aquelas com cerejas ou maçãs secas. Pensei ter visto algumas na cozinha.


Gina suspeitava que ele falava mais de seus desejos do que das preferências do irmão. Sorriu para ele de maneira calorosa.


— Talvez você esteja certo.


Ela ergueu a espada e tocou a dele.


— Você deveria visitar a Sonserina um dia. Poderia treinar com alguns dos cavaleiros de meu pai, se quisesse.


Ele meneou a cabeça.


— Meu lugar e aqui. E agora é o seu também.


Gina não respondeu. Cada dia era uma batalha para apagar as terríveis lembranças. Estava grata pela presença de Colin. O entusiasmo dele mantinha sua mente longe de Draco.


Ela estendeu a espada na direção de Colin.


— Vai me ensinar o que sabe?


Ele deu outro sorriso autodepreciativo.


— Sim. Mas não demorara muito.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


HARRY CAVALGAVA com seus homens, os músculos doendo ao redor do velho ferimento do ombro. A ferida havia aberto uma noite, mas felizmente o sangramento parara minutos depois de ser recosturado. Ele sabia de muitos homens que morreram de ferimentos sérios assim. Estava grato por Gina ter cuidado tão bem dele.


Ao pensar nela, Harry se retesou. Recebera ordens de casar com ela imediatamente apos seu retorno a Godric. E a pressa parecia necessária, pois Sir Draco poderia ameaçar o casamento de alguma forma. Protegê-la era o que vinha primeiro em sua mente.


Os pais de Gina viajavam no fim da comitiva, mantendo-se distantes de seus parentes. Harry falara pouco com eles, pois a esposa do conde, Lady Molly, o considerava o mal encarnado. Weasley era mais afável, e Harry percebeu uma nota de respeito por parte do homem desde que salvara Gina.


Neville veio cavalgando para cumprimentá-los uns poucos quilômetros além dos portões de Godric.


— Você parece estar indo se encontrar com seu executor — ele comentou. — Mas deve ser porque está prestes a casar.


A provocação o importunava, mas Harry não mordeu a isca.


— Eu ficaria contente em receber uma mulher como Gina. — Neville deu um sorriso malicioso e puxou o cavalo para junto de Harry. — Os lábios dela têm a doçura do mel.


O punho dele mirou o queixo do irmão, mas Neville bloqueou o golpe, rindo.


— Não tema, irmão. Você se casara com ela quando chegarmos.


Harry encarou Neville com fúria, o ciúme consumindo seus pensamentos racionais. Sim, ele tinha empurrado Gina para os braços de Neville, mas não queria qualquer homem perto dela.


Isso o lembrava de como Cho era amigável com estranhos. Mostrava-se gentil sempre que havia visitantes em Godric. Mas quando eram apenas os dois, ela parecia se retirar para um lugar distante. Embora fosse capaz de levar o corpo dele a um estado de êxtase, a mente de Cho sempre esteve fora de alcance.


Parecia que se lembrava cada vez mais dos defeitos da esposa. Por que isso importava? Ela estava morta, e eles tinham vivido muitos anos felizes juntos.


Recordou seu ultimo abraço com Gina. Logo teria o direito de se deitar com ela como marido. Ela Ihe pertenceria.


Isto, concluiu ele, era o que o aborrecia. Tinha sido forçado a esta união, mas não queria desonrar a memória de sua primeira esposa com outra mulher. Caso se deixasse atrair por Gina, estaria traindo o voto feito com a morte de Cho.


Poderia tocar Gina, satisfazer seus desejos, e mesmo assim se manter distante? Não sabia. Desejava Gina, mas ela havia passado por muito sofrimento. Não queria que os pensamentos dela se ocupassem com Draco.


Além disso, sentia-se culpado pela luxúria que sentia. Sempre que via Gina, queria acariciar-lhe a pele macia, conduzir o corpo dela a um excitado estado de satisfação.


Não ousava arriscar deixar que outra mulher se aproximasse dele novamente. Especialmente Gina, que ocupava sua mente o tempo todo, apesar das tentativas de rechaçar sua imagem. Que tipo de homem poderia se declarar caso abandonasse seu juramento?


Aprumando a postura, aumentou o passo do cavalo ate Godric emergir no horizonte. Os campos recobertos de neve seriam tomados por uma dourada plantação no verão. Acrescentaria uma nova seção na fortaleza — uma feita de pedra. E com o passar dos anos acabaria substituindo toda a madeira por pedra, ate nada poder destruí-la. Visualizava a prosperidade de sua gente, as amizades com os arrendatários de suas terras.


Não tinha percebido o quanto sentia falta daquele lugar. Fora mais fácil ficar com seu irmão e negligenciar esta parte de sua vida, seu antigo lar. Lembranças amargas o inundaram enquanto cavalgava em direção aos portões. Lembrava de Cho esperando por ele, parada no topo da escada.


Doía saber que ela nunca mais estaria ali, esperando. Mas Gina esperaria por ele. E sempre que voltasse de uma batalha, ela estaria ali, como parte de sua vida.


Ele reduziu o passo quando chegaram perto das familiares muralhas. Era como se pudesse de alguma forma preservar as velhas lembranças deixando de entrar na fortaleza. Uns esparsos flocos de neve flutuavam ao vento, caindo sobre suas luvas antes de se transformarem em nada.


Com uma despedida silenciosa a tudo que havia vivido, Harry atravessou os portões rumo a um novo futuro.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


GINA ERGUEU a espada para bloquear o ataque de Colin. Sua capacidade de empunhá-la estava mais forte, mas ela se encolheu com o impacto do golpe. Nos últimos dias, Gina passava as tardes treinando com Colin, deixando que ele Ihe ensinasse a arte de esgrimir. Ela não sabia quase nada do assunto, mas apreciava o exercício. E isso também dava a Colin uma sensação de orgulho por poder exibir suas habilidades, principalmente por ser muito melhor do que ela.


Ele também revelara mais coisas sobre Harry. Pela maneira como falava do irmão mais velho, percebia-se que tanto idolatrava quando invejava Harry. Parecia que queria ser exatamente como o irmão em todos os sentidos.


— Só que nunca me casarei — ele dizia agora, embainhando a espada quando a disputa entre eles terminou.


— Por quê?


 


— Não preciso me casar. Tenho pouco para chamar de meu, a não ser umas cabeças de gado.


Sendo o filho mais novo, a herança de Colin seria a menor, concluiu Gina. Parecia que por ali eram vacas e ovelhas, ao contrario de moedas, que mediam a riqueza de um homem.


— Ronald não Ihe concederia uma porção de terra? — ela perguntou. — Ou você mesmo não poderia comprar?


— Querem que eu me torne padre — ele disse. —Mas não quero este estilo de vida. — A expressão dele se tornou pensativa. — Lutarei como mercenário, como Harry, e guardarei meus ganhos. Talvez assim seja possível comprar alguma terra.


— E não vai querer filhos que herdem a terra? — perguntou Gina. — Certamente precisaria de uma esposa para isso, não?


O rosto ficou vermelho e ele puxou a espada mais uma vez praticando estocadas.


— Elas riem de mim, as garotas. Sabem que não sei lutar.


O constrangimento no rosto dele fez Gina querer dar uma bofetada no ouvido de garotas tão bobas.


— Então precisa encontrar uma mulher que saiba reconhecer seu verdadeiro valor.


Colin não disse nada, apenas retomou o treinamento. Gina sabia que ele queria ficar sozinho, então se retirou da sala de armas.


Lá embaixo, no salão, tentou se ocupar com a costura. Seus dedos se moviam ao longo do linho, uma fileira de pontos regulares escondendo o nervosismo que sentia. Queria estar com seu saltério, perder-se na música.


Colin tinha razão. Harry logo retornaria, e o casamento deles aconteceria.


A agulha se movia entre-o linho enquanto Gina visualizava o rosto dele na mente. Vieram-lhe pensamentos indesejados sobre o beijo, a maneira como ele a tocara.


Será que tinha algum sentimento por ela? Caso tivesse, Harry devia estar lutando contra isso. De acordo com Colin, a lealdade de Harry pela primeira esposa transcendia qualquer coisa que pudesse sentir por Gina.


E ali estava outro problema: Colin não gostava de Cho. Os detalhes estranhos que descobrira incomodavam Gina. Todos os seus instintos avisavam que Cho escondia segredos, sobre os quais Harry nada sabia. O que mais a incomodava era Colin ter alegado que Cho havia deixado a fortaleza mais de uma vez, só retornando pela manha.


Não havia razão plausível para isto, exceto uma: infidelidade. Gina sabia que Harry tinha amado muito a esposa. Mas continuaria sofrendo por ela se descobrisse a verdade?


Em seu coração, sabia que nunca deveria revelar esses segredos. Que bem isso traria? Só faria Harry se voltar contra ela. O silêncio era o melhor plano de ação. Queria ganhar o coração dele, mas não ao custo de destruir suas lembranças.


Vozes altas Ihe interromperam os pensamentos. Gina se virou e viu a mãe entrando no salão. Um sorriso de alegria surgiu no rosto de Gina.


— Mãe! — Erguendo-se, ela correu para abraçar Molly.


Alta e esguia, Lady Molly Weasley usava um véu para esconder os cabelos. Gina sabia que a mãe usava tinturas vegetais para esconder os fios brancos ao longo das têmporas. Finas linhas de expressão marcavam os cantos dos olhos e da boca — linhas que se curvaram de alegria ao ver a filha.


A mãe a abraçou apertado.


— Diga-me o que aconteceu.


Gina explicou, mas não pode evitar a amargura na voz quando falou das surras.


— Só uma carta chegou... pouco tempo atrás — admitiu Molly. — Se não fosse pela doença, tenho certeza de que seu pai teria vindo mais cedo. — O rosto dela estava cheio de pesar. — E foi nossa culpa mandar Sir Pedro Pettigrew e a esposa. São amigos nossos, mas acho que Draco os enganou.


— Sir Pedro acreditou nas mentiras de Draco de que eu precisava de punição. Não fez nada para impedi-lo.


— Sinto muito, filha. — Molly tocou-lhe o rosto com carinho. — É bom que Draco e Pedro já tenham ido embora, porque eu provavelmente arrancaria a pele dos dois vivos. Seu pai terá uma boa conversa com Sir Pedro, pode ter certeza.


Nunca tendo sido afeita a lidar com questões desagradáveis, Molly mudou de assunto.


— E quero saber sobre este Harry Potter. Você realmente quer casar com ele? — A mãe falava do assunto como se Gina tivesse se oferecido para se jogar do alto de uma torre.


Defendendo-se, ela disse:


— Ele e um bom homem, um excelente guerreiro, mas seu coração sempre pertencera à primeira esposa.


Molly suspirou.


— Não perguntei sobre o coração dele, Gina. Isto é um casamento, não uma balada de amor.


— Eu sei.


— Não tenho muita certeza disso. Sei que o rei queria que você se casasse com Sir Draco, mas ele não era seu único pretendente. Poderíamos casá-la com qualquer homem. Se estivesse pensando com a cabeça, você não estaria deste jeito. — Molly acrescentou: — E não sei se o casamento com este grifinório é uma boa idéia.


— Harry e um forte protetor, mãe — ela argumentou.


— Mas você conseguiria viver com ele aqui em Grifinória? — Molly olhou ao redor, como se preferisse estar morta a viver ali.


Gina escondeu um sorriso. Aprendera a amar Grifinória e suas verdejantes. Havia descoberto que não era sacrifício viver numa terra selvagem cheia de grandes belezas.


— Sim.


Molly continuou expondo suas opiniões quanto ao casamento, mas Gina parou de escutar. Seu olhar tinha sido atraído para a entrada do salão.


Um pequeno grupo de soldados entrou, seguido por Harry. Ele parou, esperando por ela.


— Mãe, por favor, me dê licença por um instante.


Molly se virou e franziu a testa.


— Não estou muito certa sobre este homem, Gina. Ele é praticamente um bárbaro.


— Vá, mãe. Por favor — disse Gina. — Quero falar em particular com ele.


Molly meneava a cabeça quando Harry se adiantou. Olhando feio para Molly, ele ordenou:


— Deixe-nos a sós.


A mãe se empertigou.


— Estarei perto do fogo. Se precisar de mim, eu...


— Mãe... — alertou Gina. — Vá para meu quarto lá em cima. Conversaremos depois.


Meneando a cabeça, Molly saiu. Gina ergueu o olhar para Harry.                 — Lamento quanto a isto. Nunca pretendi...


Ele deu um passo adiante, chegando tão perto que Gina podia sentir a respiração dele em seu rosto. A proximidade a desconcertava, mas ela conseguiu ficar firme. Os olhos verdes daquele guerreiro brilhavam com uma firme resolução. Erguendo a mão, ela tocou a cicatriz que ele ganhara recentemente.


— Sua ferida esta cicatrizando bem.


Harry cobriu os dedos dela com os seus. A voz soou em barítono profundo quando ele falou:


— O casamento será realizado hoje.


Ela sabia o quando ele não queria casar com ela. Isso magoava mais do que tinha imaginado.


— Por que mudou de idéia?— ela perguntou.


Harry não respondeu, apenas disse com firmeza:


— Você esta presa a sua promessa. Depois do casamento, levaremos vidas separadas.


O coração dela doeu ao ouvir estas palavras, embora já as esperasse.


— Eu sei.


— Pode aceitar isso? — ele perguntou. — Tudo que posso lhe oferecer é liberdade para fazer o que quiser.


— Não tenho escolha, tenho, Harry? — A voz de Gina soava cansada, mas conseguiu assentir. — Casarei com você para evitar uma batalha entre nossa gente. — A raiva aumentou a ponto de fazer seus dentes doerem com o esforço de apertá-los.


Harry soltou-lhe as mãos.


— Vá se preparar. Nós nos veremos quando o padre chegar.


Os olhos de Gina ardiam quando ele se afastou. Ele não queria qualquer envolvimento com ela, algo que precisaria aceitar.


Seus nervos ficavam tensos só de pensar em partilhar a cama com ele, mesmo que uma única vez. Embora fosse necessário, para validar o casamento, odiava pensar que ela não representava nada alem de um dever. Não sabia se teria coragem de entregar-se a ele de maneira tão intima.


Hermione Potter a interrompeu. A esposa de Ronald, rainha de Hogwarts, viera para o casamento e sorriu alegremente para Gina.


— Gina, não quer vir comigo? Eu a ajudarei a se vestir para o casamento.


Embora os pés pesassem como chumbo, Gina seguiu Hermione até um outro cômodo. Sobre a cama, Hermione estendera um vestido de seda alaranjada com uma veste esmeralda. Uma tina cheia de água quente esperava por ela.


Molly Weasley selecionava as jóias que Gina usaria, resmungando baixinho sua desaprovação ao casamento. Gina afundou na tina de água quente, deixando que Hermione Ihe lavasse o cabelo com sabonete perfumado.


A mãe a ajudou a pentear os cabelos, que secavam diante do fogo. Depois, arrumou os cabelos de Gina em trancas elaboradas, presas em cima da cabeça.


— Você está linda — declarou Hermione, ajustando-lhe um véu creme enfeitado com perolas.


— Ele não é digno dela — disse Molly. — Não gosto nada disso.


Gina olhou a mãe de maneira categórica.


— Não quero ouvir nada contra o homem que será meu marido. — Molly deu de ombros e prendeu um colar dourado incrustado de pedras preciosas ao redor do pescoço da filha. As grandes esmeraldas acentuavam a cor do vestido.


Hermione abraçou Gina.


— Vai ficar tudo bem. Você verá.— Tocando o rosto de Gina, ela acrescentou: — O hematoma sumiu.


Gina levou os dedos à bochecha. Embora seus ferimentos estivessem curados, seu espírito continuava fragilizado. Reuniu coragem para exibir um sorriso.


— Vamos.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


A CERIMÔNIA começou ao anoitecer, depois que Gina e Harry banharam os pés dos convidados para lhes dar as boas-vindas. As jovens damas brigaram pela moeda de prata deixada na bacia, pois se dizia que aquela que a pegasse seria a próxima a se casar.


Depois de feitos os votos, Harry segurou a mão de Gina e o padre abençoou a união. O calor do toque de Harry emanava da pele de Gina, mas os olhos dele continuavam focados no padre. Ela notou a tristeza no olhar de Harry, o que a magoava profundamente.


Estaria lembrando de seu casamento com Cho, a mulher que amava? Gina se torturava, imaginando o que ele estaria pensando.


Os lábios de Harry tocaram os seus num beijo de paz, tão rápido que ela poderia nem ter notado. Depois disso, os convidados deram vivas.


Canecas de hidromel foram servidas e o banquete começou. Gina e Harry foram levados para uma mesa onde suntuosas porções de carne e doces estavam dispostas.


Os pais dela os observavam, e Gina tentou parecer feliz para agradá-los. Era como se ver num lago, silencioso sob a superfície, afogando-se num mar de convidados. O marido sorria quando os outros sorriam para ele, respondia a perguntas e fingia estar se divertindo.


Gina conhecia a verdade. Harry usava uma máscara de jovialidade, e até a beijou quando os outros o provocaram. A atitude dele subitamente a deixou aborrecida.


Será que não merecia a afeição do marido? Não merecia um casamento feliz com um homem que realmente a quisesse?


Havia pensado que não seria tão ruim estar casada com um homem que nunca a maltrataria. Acreditava que, com o tempo, eles ficariam contentes com a companhia um do outro. Mas, enquanto o observava, doía saber que Harry não via motivo para celebrar a união deles.


Gina largou o cálice, concentrando os pensamentos no que mais a preocupava. Embora não fosse a esposa escolhida, a mulher que ele queria, Gina precisaria encontrar uma maneira de vencer a inimizade no coração dele. Harry a desejava; isto ela sabia por causa dos beijos roubados.


Um calafrio lhe percorreu a espinha, então ela tomou outro gole de vinho para se encorajar. Harry devia esperar que ela lhe entregasse a virgindade, mas a idéia de ficar nua diante dele a intimidava.


Sua ansiedade crescia a cada minuto. Na sua terra, a cerimônia nupcial constrangia muitas noivas. Veio-lhe a mente a imagem de mulheres dando risadinhas ao ajudar a noiva a se despir, deixando-a nua na cama para esperar o abraço do marido. Ela olhou ao redor, mas foi cumprimentada apenas por sorrisos amigáveis.


Quando achou que não suportaria mais esperar, ergueu-se da mesa. Se não havia tal costume ali, preferia se preparar sozinha. Talvez conseguisse acalmar as batidas desesperadas de seu coração.


— Aonde esta indo? — perguntou Harry.


— Para nosso quarto. — Ela sorriu timidamente. — Estou cansada.


A mentira lhe fluiu pela boca. Gina não sabia se seria capaz de dormir aquela noite. Afinal, nem sabia se ele consumaria o casamento. Tinha oferecido a ele a escolha de não compartilhar de sua cama.


Gina se afastou, sem aguardar a resposta. Subia as escadas quando decidiu olhar para trás. Harry a observava lá de baixo e, por um instante, Gina ficou fascinada. A túnica possuía um tom único de azul, cor que deixava seus traços fortes mais impressionantes. As mãos seguravam um cálice, mas Harry não bebia.


A multidão pareceu desvanecer, e Harry a fitava como se a enxergasse pela primeira vez. Havia um ar de confiança no rosto dele.


Gina respirou fundo e se obrigou a terminar de subir. Quando finalmente fechou a porta do quarto, sentou-se num banquinho de madeira para esperar por Harry. Notou que as criadas tinham realmente removido a cama imponente. Em seu lugar estava uma cama menor, com novas cobertas. Gina havia redecorado o aposento por inteiro, afastando todos os vestígios da antiga arrumação. Até as tapeçarias tinham sido removidas. As paredes estavam nuas agora, mas ela faria pecas novas.


Seus dedos tamborilavam nervosamente sobre a seda do vestido. Minutos se passaram sem qualquer sinal de Harry. Gina despiu o vestido, colocando de lado os enfeites e o colar. Entrou debaixo das cobertas, sentindo a suavidade do linho contra a pele nua.


De olhos fechados, tentou controlar seus temores. Ele não era Draco. Nunca bateria nela ou a humilharia.


Após uma hora de espera, Gina concluiu que ele não pretendia reclamá-la como esposa.


Será que tinha cometido algum engano. Será que não devia ficar esperando no próprio quarto. Suas bochechas coraram ao vestir uma fina túnica. Os costumes eram diferentes ali. Será que deveria ter ido para o quarto dele?


Embora a idéia de invadir o quarto de Harry Ihe causasse um frio no estomago, ela se controlou. Seria uma única vez. Era o que se esperava dela, e Gina nunca fugia de seus deveres.


Fechando os olhos, concluiu que uma noiva não deveria ter que reclamar o próprio marido na noite do casamento.

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