Reencontro



SUA FILHA. Sua adorada filha. Viva.


Toda a lógica e as palavras Ihe falharam. Harry não entendia como ou por que, mas isso não importava. Ajoelhando-se diante dela, viu quando ela o reconheceu.


— Lembra de mim, filha? — Seu bebê agora era uma menininha. Ela usava um vestido do azul bordado com ouro, os cabelos presos numa trança.


— Papai? — ela murmurou. Harry abriu os braços para Lílian, que se agarrou no pescoço dele. Harry não conseguiu conter as lágrimas de agradecimento que Ihe surgiram nos olhos.


— Lílian. — Ele a abraçava tão forte que quase não a deixava respirar. Mas nunca imaginou que a encontraria ali. — Senti sua falta. O que aconteceu? Por que esta aqui?


— Mamãe me trouxe para cá — ela disse, ainda abraçando o pai. Harry Ihe beijou o rosto, sem conseguir acreditar que estava segurando a filha novamente.


Cho havia mentido. A traição o atingiu tão fundo que Harry teve medo de reencontrá-la. Ela Ihe roubara a filha. Há dois longos anos não a via. A raiva que sentia de Cho só aumentava.


— Onde esta sua mãe?


Lílian meneou a cabeça.


— Mamãe morreu no ultimo outono.


No último outono. Isso significava que ainda estava casado com Gina. Uma onda de felicidade dominou Harry, que visualizava Gina esperando por ele nos portões. Não havia pecado entre eles, só a santidade do matrimônio. Harry exultou ao pensar nisso.


Só então pensou que sua filha, de apenas cinco anos, ainda devia estar chorando pela mãe. Ela não sabia dos atos de Cho.


Lílian olhava para o pai com ar acusador.


— Esperei e esperei por você, papai. Por que não veio me buscar?


— Eu não sabia onde você estava. Quem cuida de você agora?


Ela apontou para a fortaleza.


— Ele. Ele disse que agora é o meu novo pai. Mas você é o meu pai, não é ele.


A mistura de emoções tornava difícil para Harry compreender o que ela dizia. Cho tinha fugido para aquele lugar, levando a filha consigo.


— Afaste-se dela — disse uma voz.


Harry ergueu os olhos e viu um furioso lorde lufalufa. Ele abraçou a filha com ainda mais força.


— Não tenha medo, minha pequena. Ninguém a levara de mim outra vez.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


OS CAPTORES prenderam Gina numa tenda improvisada. Não havia fogueira e ela tremia dentro da capa. Suas mãos estavam presas às costas, os pulsos ardiam de dor por causa das tiras de couro.


Draco Malfoy tinha planejado uma armadilha, querendo usar Gina para atrair Harry. Ela tentou argumentar que Harry não viria, que não se importava com ela. Então soube do que havia acontecido com Colin. Rezou para que ele ainda estivesse vivo. Harry viria atrás de Draco por vingança, mas então acabaria sendo morto.


Gina forçava as tiras, tentando se libertar. Tinham Ihe tomado a faca, depois de revistarem-na para ver se carregava qualquer arma. A aba da tenda se moveu e Malfoy entrou. Agachou-se, observando-a.


— Quando tempo seu marido levara para chegar? — ele refletiu. —  Gostaria de assistir a morte dele?


Gina fechou os olhos, lutando contra o medo. Rezou para que Harry não viesse, para que continuasse a salvo.


Foi atingida por um soco e a dor se espalhou pelo queixo.


— Responda!


Como Gina não respondia, Draco puxou-lhe os cabelos para que olhasse para ele. Era como se ela revivesse seu antigo pesadelo. A mão de Malfoy apertou seu queixo.


— Você entregou seu corpo para ele, pequena meretriz. Deixou que ele tomasse o que me pertencia. Ele pagará com a vida por ter tocado em você.


Draco bateu-lhe no rosto, lançando-a no chão. Gina sentiu o chão frio contra a face, mas não lutou contra ele. Lutar só incitaria ainda mais a raiva de Draco.


Desapontado, Draco a deixou sozinha. O frio do chão ardia contra seu rosto, mas Gina viu uma pequena luz por baixo da tenda. Arrastando-se para a beira da tenda, conseguiu ver por baixo. Três homens a guardavam, outros soldados estavam em alerta, armados e prontos.


Harry estava vindo para uma armadilha. Malfoy o mataria como prometera. E ela o veria morrer, a menos que fizesse algo para impedir.


Mas o quê?


Mordeu o lábio para suportar a dor e se concentrou nos nós. A umidade da neve os deixara mais apertados, mas ela tentava usar as pontas dos dedos.


Fugir era a única chance de salvar Harry. Pensar nele fazia seu coração doer. O rosto bonito, marcado nas batalhas, surgiu em sua mente. Pensou nos seus olhos velados, na maneira como a fitava cheio de desejo. Lembrava de como tinha afastado seus temores, ensinando-lhe as maneiras de amar.


Não queria que ele morresse. Não importava que tivesse escolhido Cho, ela o amava. Rezou para que uma criança estivesse crescendo em seu ventre, que uma parte dele sempre Ihe pertencesse.


Um dos nós se desfez, oferecendo-lhe um fio de esperança.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


NÃO DEVERIA ter vindo, Potter. — O barão de Lufalufa encarava Harry, a espada em punho. Diggory era forte, moreno, e possuía barba e bigodes bem aparados. Era mais baixo que Harry, mas não havia dúvida de que era um homem que já vira batalhas antes, a julgar pela maneira como segurava a espada.


— Vim por Lílian. — Harry cortaria o homem em pedacinhos se ousasse Ihe tomar a filha.


Levou a mão às costas e puxou a espada para rechaçar a arma de Diggory. O barão tinha um escudo de madeira, enquanto Harry contava apenas com sua arma. As lâminas se chocavam enquanto rodeavam um ao outro.


— Por que roubou minha esposa e minha filha? — perguntou Harry. — E porque não teve coragem de me enfrentar?


Diggory ergueu o escudo para se defender do ataque de Harry, mantendo firmeza na lâmina.


— Isso foi obra de Cho. Eu Ihe pedi que revelasse a verdade. — O semblante dele se tornou cruel. — Você deveria ter morrido no campo de batalha anos atrás, Potter. Se não fosse pela misericórdia de Cho, eu teria ficado satisfeito em Ihe tirar a vida.


Harry estava aquecido pela luta e agora começava a sentir prazer com isso.


Um soldado pegou Lílian nos braços, para impedi-la de correr na direção dos homens.


— Papai! — gritou Lílian.


O som da voz dela fez Harry lutar ainda mais vigorosamente. Sua espada colidiu com o escudo de Diggory outra vez. O barão bloqueou a lâmina dele, girando para forçar Harry numa nova direção. Lorde Diggory era habilidoso, um desafio que ele não esperava.


O barão aumentava o ritmo da luta. Forçou Harry a se concentrar na defesa. Ambos estavam à altura um do outro. Harry rodeou o barão, procurando por qualquer fraqueza. Parecia que Diggory favorecia o lado direito.


Harry atacou e, quando Diggory ergueu o escudo, mudou de direção, forçando o inimigo a recuar. Aço contra aço, as lâminas retiniam no silencio do inverno. Harry colocava todas as suas energias na luta, liberando dois anos de sofrimento e raiva. O suor escorria pelo rosto de Diggory, a armadura de metal se transformando num obstáculo ao invés de proteção.


O barão respirava pesado, mas ainda o enfrentava. Diggory girou a espada para baixo e Harry mal evitou o golpe fatal. Em resposta, aumentou a velocidade, dando investidas até Diggory ficar encurralado na parede. Com um golpe final, Harry desarmou o barão e apontou a espada para a garganta dele.


— Eu deveria matá-lo — ele disse. — Por tudo o que me fez.


— Papai? — uma vozinha infantil sussurrou. — Quero ir para casa.


O rosto de Cedrico Diggory abrandou com o apelo de Lílian.


— Eu a tratei como se fosse minha própria filha. Queria que fosse mesmo. — Baixando os ombros em derrota, ele disse: — Leve-a. Ela deve ficar com o pai. — Com um gesto para o soldado, Diggory ordenou que Lílian fosse solta.


Os bracinhos dela apertaram a coxa de Harry. Com a mão esquerda, ele acariciou a testa da filha.


— Saiba que nunca desejei esta farsa — admitiu Cedrico. — Queria que Cho tivesse Ihe contado a verdade desde o princípio. Mas ela queria trazer Lílian consigo. Jurou que você nunca Ihe daria o divórcio, que não suportaria viver separada da filha.


— Tinha razão. — Mesmo agora era difícil acreditar no que Cho fizera. Como podia tomar dele a própria filha? Qualquer sentimento que tivesse por Cho agora havia desaparecido. Jamais chegou a conhecê-la realmente, ou perceber o quanto estava desesperada.


— Como ela morreu?


Diggory baixou a cabeça.


— Creio que a melancolia nunca a abandonou. Ela lamentava a morte da criada... a que tomou o lugar dela e morreu. Depois Cho perdeu um bebe. — O rosto do barão foi tomado de pesar. — Ela tirou a vida depois disso. Não pude salvá-la.


Harry baixou a espada. A infidelidade da esposa não Ihe significava mais nada.


— Levarei Lílian comigo — informou ao barão.


Cedrico se agachou diante de Lílian. Harry ficou tenso, mantendo a arma preparada.


— Vá com seu papai, pequenina. Seja feliz — disse Diggory, a voz embargada.


Lílian colocou o polegar na boca e assentiu. Quando Diggory deu ordens para que se montasse uma escolta, o olhar de Harry examinou o pátio procurando por qualquer sinal de Gina.


A preocupação o dominou ao ver que ela havia desaparecido.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


AS MÃOS de Colin estavam em carne viva, o corpo surrado e machucado, enquanto cavalgava em direção a fortaleza de lorde Diggory. O andar do cavalo chocalhava seus músculos doloridos, fazendo-o lutar para se manter sobre a sela. Tinha falhado com Harry outra vez. E com Gina. Contou a Sir Draco tudo o que sabia, mas não pararam de torturá-lo. Cortaram a pele das palmas de suas mãos até ele duvidar ser capaz de segurar uma espada novamente. O sangue vertia pelas bandagens de ambas, obrigando-o a usar os pulsos para segurar as rédeas.


No portão, os guardas não permitiram sua entrada. Mas ele estava com sorte, pois Harry surgiu no pátio interno.


— Colin! — ele gritou. — O que aconteceu? — O rosto de Harry estava tomado de preocupação.


— Malfoy — conseguiu falar. — Ele pegou Gina. — Ele indicou as colinas com a cabeça. — Depois do rio.


A fúria escureceu o rosto de Harry.


— Por quê?


— Godric — Colin conseguiu dizer, antes de cair desmaiado.


Harry agarrou o corpo do irmão, a consciência pesada. Culpava-se pelos ferimentos de Colin. Ao ver as mãos dele, desejou infligir dez vezes mais ferimentos no inimigo.


Um pavor terrível o assolou quando pensou no destino de Gina. Harry sabia que Draco o queria morto, e isso seria uma maneira de atraí-lo. Malfoy tomaria Gina para si, pois só assim poderia ganhar Godric.


Harry pensou em pedir alguns soldados ao lorde Diggory, mas duvidou que o homem fosse ajudá-lo. Não gostava de Harry, sem mencionar que um séqüito poderia fazer com que Malfoy machucasse Gina.


Não, teria que ir sozinho. Sua única esperança era se infiltrar entre os homens de Malfoy e tentar sair vivo. Sua mente traçava uma estratégia enquanto dava ordens para que cuidassem de Colin.


O barão se aproximou e, vendo os ferimentos de Colin, chamou a curandeira.


— Pode cuidar de minha filha por mim? — perguntou Harry.


Lorde Diggory assentiu.


— Sim.


Com Lílian aos cuidados do barão, Harry montou e partiu na direção do acampamento. Repreendia a si mesmo por ter deixado Colin partir sozinho. Sabia que o garoto tinha orgulho — orgulho que Harry feriu muitas vezes com palavras. Pensou que dar a Colin a chance de viajar sozinho mostraria sua Confiança no irmão caçula. Devia ter ouvido seus instintos. Agora, por causa de sua ansiedade em encontrar Cho, colocara em risco duas pessoas que amava.


Um selvagem desejo de vingança se enraizou em seu coração. Encontraria Gina e a salvaria de Malfoy.


Só podia rezar para que não fosse tarde demais.

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