Julgamento



O SOLDADO SAIU de Hogwarts pouco antes do amanhecer. O comandante de Sir Draco tinha ordenado que reportasse suas descobertas dentro de um dia, para evitar suspeitas. O acampamento sonserino ficava poucos quilômetros além da fortaleza. Enquanto se aproximava do inimigo, seu coração ficava pesado. Tinha visto o filho de relance, mas não podia se revelar para Harry ou para Lady Gina. Em vez disso, mandou uma mensagem para a cunhada, pedindo que viesse buscar seu filho.


Contudo, pressentia que sua causa estava destinada ao fracasso. Fora visto pelos amigos, que se perguntariam por que não levara Teddy para casa. Indagariam sobre como conseguira escapar, uma resposta que não podia dar. Havia evitado a todos, fingindo que os deveres exigiam sua presença em outro canto. Mas a suspeita deles aumentava.


Quando chegou ao acampamento, os sonserinos o conduziram ao capitão.


— Que informações você tem para mim? — perguntou Gregory Goyle.


— Há uma parte da muralha externa onde a madeira está enfraquecida. Posso fazer com que o lugar fique desprotegido — explicou. — Agora mesmo há poucos homens posicionados por lá. Muitos estão acompanhando Harry Potter até Tocah. — Ele tentava manter o olhar firme, cauteloso para que Goyle não suspeitasse de suas mentiras.


Estava contando meias verdades sobre os Potter ao capitão — informação formulada para que os sonserinos caíssem numa armadilha.


— E Lady Gina?


— Eu mesmo a levarei para Godric — ele disse. — Quero minha esposa de volta.


— Bom, — Goyle montou o cavalo e preparou-se para partir. Depois sorriu. — Espero que esteja dizendo a verdade. Pelo bem de sua mulher. — Então jogou um saquinho para o soldado. Um presente por sua ajuda.


O saco era leve demais para conter peças de prata. O soldado esperou que Goyle voltasse para a própria tenda antes de abri-lo.


Dentro encontrou longos cachos de cabelo de sua esposa, Parvati. Seus adoráveis cabelos, tosquiados pelo inimigo. E com isso emergiu uma súbita raiva de Harry Potter. Harry abandonara seus próprios homens por uma mulher sonserina. Parvati tentou salvá-los depois que os Potter os abandonaram no momento de necessidade,


Se não fosse pelo ataque desastroso de Harry, sua esposa estaria segura em casa, tecendo. O tempo estava ficando curto caso ainda quisesse salvar a vida de Parvati.


Teria a oportunidade assim que Harry partisse para Tocah. A única maneira de salvar a esposa seria entregar Lady Gina nas mãos do inimigo.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


GINA FAZIA cócegas na barriga do menino, gargalhando com as risadinhas que arrancava dele. Com o humor mais animado, ele passou a manhã vagueando de um canto a outro.


Na noite anterior, Gina tentou preparar seus pertences para ir com os homens para Tocah, mas Harry não permitiu que ela fosse com eles. Se não fosse a ameaça dos homens de Draco, teria viajado sem a permissão de Harry. Ficara ressentida por permanecer em Hogwarts, pois preferia falar com o pai em pessoa.


Uma suave batida à porta a interrompeu. Quando Gina mandou a pessoa entrar, viu uma mulher miúda de cabelo castanho claro e corpo rechonchudo. Quando viu o menino, o rosto da mulher se iluminou de alegria, e ela abriu os braços.


— Lilá! — ele berrou, que correu para os braços dela, abraçando-a com força, enquanto a mulher murmurava coisas em grifinório, acariciando-lhe os cabelos.


Um sentimento de perda espiralou pelo estômago de Gina.


— Você é a mãe dele?


A mulher meneou a cabeça.


— A tia. Meu nome é Lilá. E você é Lady Gina, não é?


Gina assentiu. Lilá usara seu titulo por cortesia, embora fosse desnecessário ali em Grifinória.


— Minha irmã foi atrás do marido e deixou Teddy com um dos arrendatários — disse Lilá. — Ele fugiu naquela manhã e, embora o tivessem procurado, ninguém conseguiu encontrá-lo. — Ela apertou Teddy nos braços, afagando-lhe o cabelo. Quando recebi a mensagem de que ele esta aqui, vim correndo. — O menino se contorcia, tentando se soltar.


Largando o sobrinho, ela disse:


— Preciso agradecer por salva-lo. Hermione me contou que você o resgatou do lago.


— Fico feliz por ter encontrado Teddy a tempo respondeu Gina.


Teddy pegou uma espada de madeira de brinquedo e começou a atacar o chão, cantarolando consigo mesmo uma musica sem sentido. Gina conseguiu sorrir, mas sentia uma ponta de tristeza ao olhar para o menino. Lilá levaria Teddy embora, e Gina nunca mais o veria.


Durante os últimos dias, enquanto zelava pela saúde dele, acostumara-se a acordar ao lado do menino, seu corpinho quente aninhado ao dela. Gina se permitiu sonhar por certo tempo que o menino lhe pertencia.


— Você se parece muito com Cho Potter — comentou Lilá. — Eu a vi de longe no verão passado, quando meu marido e eu estávamos visitando a família em Lufalufa.


Gina pegou sua agulha, fingindo-se desinteressada, embora sua curiosidade estivesse atiçada.


— Já me disseram que pareço com ela respondeu. — Mas você deve ter visto outra pessoa. Cho Potter morreu há dois anos.


Lilá franziu a testa.


— Eu estava certa de que era ela. — Depois de um instante, deu de ombros. — Mas você deve ter razão. Eu só a vi de longe.


Quando estavam para partir, Gina pediu para segurar Teddy no colo mais uma vez. Erguendo-o nos braços, ela alisou-lhe o cabelo, beijando-o na têmpora.


— Fico contente que esteja bem, pequenino. — Teddy se contorceu para voltar para a tia, e Gina o soltou, sentindo uma ponta de pesar.


Um dia, prometeu a si mesma. Um dia teria seu próprio filho.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


— ACHA que ele está mentindo? — perguntou Sir Draco ao comandante. — Gregory Goyle assentiu.


— Acho. Sua lealdade aos Potter é maior do que imaginamos. Ele não os trairá.


— Então mate a mulher. — Os olhos de Malfoy faiscavam com impaciência. — Mande o corpo para o traidor. E prepare nossos homens para atacar.


Goyle escondeu o desgosto.


— Milorde, não prefere esperar o conde? Com os homens dele para se juntar aos nossos, estaríamos mais bem preparados.


— Não. Não deixarei que pensem que nossos homens são incapazes de proteger minha prometida.


Aquela missão era suicida, e Goyle sabia disso.


— Parece que Potter pretende viajar até Tocah.


— Você disse que o homem estava mentindo.


— Mas pode ser verdade. O rei Snape está mantendo corte em Tocah. Você pode levar a questão à atenção dele. Estou certo de que o grifinório não suportaria um ataque do exército do rei.


A expressão de Malfoy se alterou enquanto refletia.


— Você esta certo. O rei nunca permitiria que um bárbaro grifinório ameaçasse um de seus súditos. E o conde, é claro, gostaria que a questão fosse levada ao nosso soberano. — Ele olhava para o nada, perdido em pensamentos. — O plano era mesmo levar Gina para Tocah para que o rei testemunhasse a união.


Draco sorriu.


— Isto pode funcionar a nosso favor. Arrume suas coisas. Seguiremos para Tocah a fim de garantir que o rei Snape saiba exatamente como minha noiva foi ameaçada.


Em sua mente, era certo que o rei tomaria seu partido. Quanto a Gina, Draco limparia todas as imagens do grifinório da mente dela até que o único homem que desejasse fosse ele próprio.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


AS SUAVES notas de uma música vinham de dentro de um cômodo. Harry franziu a testa, seguindo a melodia até o solário. Nunca ouvira aquela canção antes, e as delicadas cordas da harpa pareciam encher o lugar de lamento. Quando Harry parou no vão da porta viu Gina sentada junto á harpa.


As mãos se moviam lentamente sobre as cordas, como se ela não quisesse que ninguém a ouvisse. Os olhos permaneciam fechados enquanto ela se perdia na música. Harry não sabia que ela tocava.


Ele clareou a garganta e ela se sobressaltou, as mãos largando as cordas como se elas estivessem em chamas.


— Lamento. Eu não... eu não deveria...


— Não precisa se desculpar. Você toca muito bem. Sua mãe lhe ensinou?


— Não. Aprendi quando vivia em Diagonal. Uma das minhas irmãs de criação era grifinória. Ela levou a própria harpa de casa e me ensinou.


O rosto dela estava vermelho, e Harry notou que tinha chorado. Gina ergueu o rosto e o encarou.


— O que quer? — Os olhos estavam vermelhos e inchados, e Harry ficou imaginando o que a teria feito chorar.


— Estou de partida. — Ele procurava as palavras certas, indagando se Gina estava zangada com ele pela maneira como a tocara na noite anterior. Deveria se desculpar, pois suas ações tinham ido mais longe do que pretendia. — Queria ver se você estava bem antes de ir.


— Estou bem. — Ela pigarreou e o fitou com ar de indiferença — Embora eu não entenda por que me proíbe de ver meu pai.


— Ele virá buscá-la depois que acertamos a questão das minhas terras.


— Entendo que as terras tenham sido suas — ela disse. — Mas meu pai não é seu inimigo. Você não estava lá para defender Godric. Meu pai protegeu sua gente quando Voldemort atacou na última primavera, do contrário seus inimigos teriam destruído a fortaleza. — Gina empertigou-se.— Ele salvou as vidas deles.


A menção de Voldemort, Harry sentiu seu temperamento se inflamar. As forças de Voldemort tinham aportado em Azkaban, destruindo fortalezas e matando centenas de grifinórios apenas dois anos atrás. F durante aquela batalha que ele perdeu Cho e o irmão mais velho, Sirius. Ronald mal conseguira defender Hogwarts.


E então, na última primavera, os invasores atacaram Godric.


— Sua gente não pertence a este lugar — ele disse —, e não entregarei ao seu pai o que me pertence. Nem serei forçado a um casamento que não é de meu desejo.


Os olhos de Gina faiscaram de raiva.


— E acha que desejo casar com um homem que não me quer? Sei quanto despreza meu povo, mas não deixarei que sangue seja derramado por causa de meu orgulho.


Rangendo os dentes, ele disse:


— Estou indo. Quando eu voltar, não precisaremos nos ver.


Ela empalideceu e Harry notou suas mãos trêmulas. Sentiu-se abatido, mas o pedido de desculpas não saía. Gina tinha razão. Ele não estava lá para proteger sua gente. Deixara-se consumir pela dor e abandonara os parentes à mercê dos sonserinos.


Gina manteve a compostura e inclinou a cabeça.


— Como queira.


Sem dizer mais nada, ela lhe deu as costas e saiu.


A raiva crescia a cada passo, até Gina perceber que tinha saído da fortaleza sem a capa. O vento frio lhe lançava os cabelos nos olhos, e ela estremeceu.


— Aqui — chamou uma voz.


Gina pegou a capa no instante em que Colin a jogou.


— Está enganada quanto ao meu irmão — ele disse.


— Estava escutando?


Ele sorriu encabulado e assentiu.


— Claro.


Ela suspirou e se enrolou na capa, protegendo a cabeça. Achou tolice repreender o garoto.


— Sobre o que estou enganada?


— Harry quer você. Se não fosse sonserina, sei que a aceitaria como esposa.


As crenças de um garoto com pouco mais de 14 anos não serviram para tranquilizá-la. Gina continuou a caminhar na direção da muralha interna, Colin seguindo-a de perto.


— Bem, para infelicidade dele eu sou uma sonserina. E ele é tão cabeça dura que não consegue superar isso.


— Ele foi se despedir de você — observou Colin. — Venha comigo ao portão. Poderemos ver os soldados partindo.


— Não quero vê-lo de novo.


— Se subirmos na casa da guarda, poderemos atirar neve nele quando passar — sugeriu Colin.


Apesar da raiva, Gina riu.


— Não.


Pararam no pátio, mas enquanto viam os homens passando, o bom humor dela desapareceu.


Harry a viu e fez o cavalo parar. Flocos de neve caiam sobre seus cabelos negros. Ele ficou parado, os olhos fixos nela. O coração de Gina disparou quando ele se inclinou na sua direção.


— Me desculpe, eu sinto muito.


A mão enluvada tocou a dela, apertando-a de leve. A intensidade do olhar quase a desconcertou.


Gina conteve as lágrimas e assentiu em resposta.


— Eu também sinto muito.


Ela engoliu em seco, e por um breve instante desejou os lábios dele nos seus. Seu corpo lembrava bem do toque de Harry, da maneira como as mãos dele acariciavam sua pele nua.


O pedido de desculpas era sincero e abrandou o ressentimento que ela guardava dentro de si. Harry se juntou aos homens, e Gina ignorou os olhares curiosos das pessoas ao redor. Embora alguns nunca fossem classificar aquele rosto marcado de bonito, era uma imagem que lhe era querida.


Gina temia que a decisão do rei fosse alterar a vida deles de maneira irrevogável. Pois quando Harry voltasse, seria para ser seu inimigo. Ou seu marido.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


A FORTALEZA do rei supremo Rúbeo Hagrid em Tocah assomava nas vastas terras de Grifinória. A estrutura de madeira dominava a paisagem, com vários morretes cercados por paliçadas. Cada uma das cinco estradas antigas convergia para aquele lugar.


À medida que os cavalos se aproximavam, Harry ouvia os gritos de demência vindo do morrete usado para abrigar reféns. Embora fosse justo, o rei Rúbeo Hagrid não gostava de sonserinos. Harry se perguntava como Hagrid reagiria à questão de suas terras. O rei sonserino estava de visita, aceitando aliança com os reis e lideres grifinórios.


A um ponto distante, Harry divisou a grande rocha Filosofal. Vendo o grande bloco cinzento, imaginou se as histórias seriam reais. Diziam que a rocha bradaria quando o verdadeiro rei supremo se apresentasse. Harry passou por Filosofal, escondendo seu desapontamento quando a lendária pedra continuou em silêncio. Portanto, concentrou-se em sua tarefa. Se tudo corresse bem, resolveria a questão de Godric de uma vez por todas.


Ainda se ressentia do fato de Ronald ter envolvido o rei sonserino. A disputa poderia ser facilmente resolvida pelo conselho. Um rei estrangeiro não tinha o direito de interferir numa terra que não lhe pertencia.


Os homens se ocuparam com a comida e a bebida, apreciando a atenção das mulheres que os serviam. Harry esperou pela oportunidade de falar com o rei, a comida parecendo seca na boca.


Hagrid conversava com Flitwick, o poeta-mor. Sendo seu conselheiro, Flitwick desfrutava de posição de honra, mas o homem pouco se importava com cerimônia. Usava vestes esfarrapadas, e a barba cinzenta passava da altura do peito.


Sentado ao lado do rei supremo estava o rei Snape, rindo e gracejando com seus homens. Parecia confiante e relaxado, mas não havia erro quanto à sagacidade política do rei sonserino. Harry sabia que Snape queria nada mais do que anexar Grifinória ao seu reino. Hagrid também sabia disso, a julgar por sua expressão contida.


No momento certo, Harry foi chamado à presença deles, Rúbeo Hagrid estava sentado no tablado, a mão segurando uma taça de hidromel. Entregou outra taça a Harry, convidando-o a sentar ao seu lado.


— Sei por que está aqui — disse o rei supremo sem preâmbulos. — E concordei em ceder a Snape a autoridade de julgar a questão, já que diz respeito aos seus súditos.


Harry bebeu o hidromel, mantendo o rosto impassível. Não sabia por que o rei supremo tinha atendido ao estrangeiro, mas não duvidava que fosse um acordo político. Não estava gostando de nada disso.


O sorriso no rosto de Snape era reservado, como se o homem o julgasse.


— Soubemos que você já residiu nas terras chamadas Godric — disse Snape. — Só não entendemos por que deixou o lugar sem defesa e livre para ser tomado.


Harry sustentou o olhar do rei.


— Estas são razões particulares. Mas Voldemort não tinha o direito de tomar nossa terra e oferecê-la aos sonserinos.


— Então pensou que poderia tomá-la de volta? — observou Snape. — Seus homens atacaram as terras pertencentes a Arthur Weasley, mas não tiveram sucesso em retomá-las. E então você tentou assassinar o noivo da filha dele, Sir Draco Malfoy.


Harry apertou o cálice com força.


— Sim, precisei me defender da espada dele.


— Você o feriu e levou sua noiva. Mas, felizmente, ele se recuperou dos ferimentos e está aqui agora, para reclamar os direitos sobre Godric e a noiva.


Harry se virou e viu o rosto de seu inimigo quando Malfoy entrou no aposento. Vestido em fina seda e ouro, Malfoy lhe lançou um sorriso triunfante.


A mão de Harry buscou automaticamente a espada, mas ela não estava ali, pois o rei não permitia armas em sua presença. Ele cerrou os punhos, a fúria aumentando. Sabendo que Draco tinha surrado e machucado Gina, sentia ímpetos de cravar sua espada no coração daquele cavaleiro.


— Rapto é um crime passível de punição — disse Snape.


— Não estou sujeito às suas leis — respondeu Harry.


O rosto do rei sonserino ficou rubro de raiva. Rúbeo Hagrid interveio:


— Mas está sujeito às leis de seu rei e às leis de sua terra. — Apontando para Snape com a cabeça, Hagrid continuou: — Encontraremos uma solução que satisfaça aos dois lados.


Foi então que o poeta Flitwick falou:


— A penalidade por rapto deve ser cumprida. Você deve pagar uma multa a Sir Draco Malfoy, o noivo dela.


— Ela veio comigo por vontade própria — argumentou Harry. — Ela sofria surras de Sir Draco. Ele deve pagar uma compensação pelos crimes que cometeu contra ela.


— Se ela foi por vontade própria, então você deve pagar à família da dama o preço pelo corpo e pela honra dela — disse Flitwick.


Harry percebeu o rumo que a conversa estava tomando.


— Quero que minha propriedade seja devolvida — disse Harry, mal contendo o temperamento. — Lady Gina pede para voltar para os pais. Ela espera por eles na fortaleza de meu irmão.


Hagrid dirigiu o olhar a Snape, e a expressão do rei parecia contrariada.


— Parece que nosso guerreiro grifinório não quer se comprometer comentou o rei. Já que não está disposto a pagar as penalidades, devemos simplesmente tomar Lady Gina de sua custódia. E não aconselhamos que Godric lhe seja devolvida, uma vez que já se mostrou incapaz de defendê-la.


Harry tomou um gole de vinho, a mão apertando o cálice com tanta força que o metal entortou. Draco endereçou a Harry um sorriso lento e espertalhão. Harry respondeu com um olhar furioso.


A bebida fermentada em nada apaziguava sua raiva. Um nó se formou em seu estômago ao pensar em Malfoy tomando posse de seu lar. Pior era a perspectiva de Gina sucumbindo aos seus maltratos. Se não fizesse nada para impedir, seria responsável por qualquer mal que recaísse sobre ela.


A invisível laçada do dever apertava sua garganta. Não havia alternativa senão se oferecer para casar com ela.


— E se Lady Gina casar comigo? — perguntou Harry calmamente.


— Se ela se tornasse sua esposa, então Godric lhe seria devolvida admitiu Flitwick. — Esta seria uma solução adequada. Embora você ainda deva pagar uma reparação à família dela e a Malfoy.


— O pai dela nunca aceitaria tal aliança — argumentou o rei sonserino.


Para reaver Godric e manter Gina longe das garras de Malfoy, Harry faria qualquer coisa, apesar de seus receios.


— Tragam Lady Gina para Tocah — sugeriu Harry. — E deixem que ela escolha entre mim e Malfoy. Quem ela escolher ficará com Godric.


O rei supremo se voltou para Snape.


— Isto seria um acordo adequado?


Snape meneou a cabeça.


— O conde Arthur Weasley tem o direito de escolher um marido para a filha. Mas não faço qualquer objeção quanto aos pretendentes, desde que o conde dê seu consentimento. — Apontando para Harry com a cabeça, acrescentou: — Se o pai dela concordar, ela poderá escolher o marido. Mas Potter tem que pagar uma compensação por seus atos. Mas a reparação será pesada, por atacar a fortaleza e raptar a filha do conde.


Sir Draco parecia descontente, mas, para surpresa de Harry, não fez objeção.


— Ela pode escolher.


Harry suspeitou imediatamente. Será que Malfoy não sabia que Gina nunca o escolheria? A rápida aceitação deixou Harry cauteloso.


Tudo naquele homem o deixava tenso. As roupas ricamente bordadas, os cabelos dourados e a maneira como sorria de maneira zombeteira para as mulheres da corte de Snape, tudo deixava Harry ainda mais determinado a afastar Gina dele.


— Potter — disse Sir Draco, á guisa de cumprimento. — Ficarei contente em esvaziar seus cofres.


Os olhos de Harry ardiam de fúria ao encontrar o olhar de Malfoy.


— E eu ficarei contente no dia em que minha espada acabar com sua vida.


Draco cruzou os braços. Então murmurou baixinho:


— Acredita mesmo que deixarei que a tome de mim?


Harry deu um passo á frente, aproveitando-se de sua altura para encarar Draco.


A raiva cruzou os olhos do cavaleiro, mas Draco concentrou sua atenção no rei, curvando-se.


— Proponho outra solução, majestade. Eu poderia desafiar o grifinório a enfrentar minha espada.


— E eu aceitaria o desafio — respondeu Harry, observando o homem como se este fosse uma serpente mortífera.


— Erga-se, Sir Draco — disse o rei Snape. — A questão está sendo decidida. — O rei acenou para um grupo de soldados, e dois deles se aproximaram para evitar uma briga. Harry não enfrentou os guardas, mas mantinha o olhar fixo em Malfoy.


— Já fizemos nosso julgamento, Sir Draco — disse o rei. — E você deve respeitá-lo, como leal súdito da coroa.


O aviso era claro. Desafiar o rei significava traição. Com grande relutância, Malfoy recuou. Harry não despregava os olhos do inimigo.


Hagrid virou-se para Snape.


— Peça ao conde que se junte a nós.


— Ele está aqui? — perguntou Harry.


— Sim — respondeu o rei supremo. — Ele veio a pedido de seu irmão Ronald.


O rei Snape sinalizou para um criado, que deixou o aposento. Momentos depois, o homem voltava com Lorde Arthur Weasley.


O conde era um homem robusto, com cabelos vermelhos com vários grisalhos e barba. Embora fosse um pouco mais baixo que Harry, não havia como não notar a força do homem, nem os braços musculosos.


Harry ficou um tanto satisfeito quando a cor desapareceu do rosto de Malfoy. Draco curvou-se para o pai de Gina enquanto Harry se mantinha de pé.


— Majestade — Weasley cumprimentou o rei. Curvou-se antes de dirigir o olhar a Sir Draco. Harry notou a fúria endereçada ao cavaleiro.


— Um acordo foi acertado — informou o rei ao conde. — Oferecemos a sua filha o direito de escolher entre Sir Draco Malfoy e Harry Potter para marido. O disputado direito de propriedade sobre Godric será dado ao homem que ela escolher. — O rei sorriu, a expressão zombeteira. — Com sua permissão, claro. — Weasley escolheu as palavras com cuidado.


— Sinto-me honrado com o interesse de majestade. Ele se pôs diante de Harry e Sir Draco, a expressão impenetrável.


— Então foi você quem levou minha filha de Godric? — Harry notou que a pergunta parecia ser um teste.


— Sim. Eu a ajudei a escapar. — Respondeu à acusação do conde com uma silenciosa mensagem de desprezo. — Depois de encontrá-la machucada e surrada. Ela o aguarda na fortaleza de meu irmão, Hogwarts.


Harry encarou Malfoy e viu um lampejar de raiva nos olhos do homem.


— E acha que minha filha aceitaria se casar com um homem como você? — O tom do conde deixava claro que não apoiaria uma união entre eles.


— Dada a alternativa que ela tem, não tenho dúvida. — Harry não fez qualquer esforço de esconder o insulto a Malfoy. Lembrava-se muito bem de Gina sofrendo com os golpes dele.


— Eu discordo — disse Sir Draco. — Soube que perdeu a primeira esposa porque não conseguiu protegê-la. O mesmo poderia acontecer a Gina — observou. — Ela parece querer fugir sempre que a idéia lhe vem à cabeça.


Sem se importar com a presença do rei supremo, Harry quis matar o homem com as próprias mãos. Antes que pudesse alcançar Malfoy, os soldados o detiveram.


— Basta desta discussão — disse Weasley, a voz autoritária. — Nenhuma decisão será tomada sem que eu veja minha filha primeiro.


Os soldados seguraram Harry até o conde passar. Por fim, ao sinal de Rúbeo Hagrid, eles o soltaram.


O rei supremo trocou olhares com o rei sonserino.


— Harry, deve compreender que ao aceitar que a dama fizesse a escolha, você transferiu seus direitos para ela. Se ela se casar com Sir Draco, você não terá mais direito de reclamar Godric.


Harry não se preocupou muito com o aviso. Seu único pensamento era alcançar Gina antes que Malfoy o fizesse.

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