Desejo



O SOLDADO ENTROU na fortaleza escura, as tochas lançando sombras nas paredes. Caminhou na direção dos homens ao lado dos quais lutara em batalha. Amigos, rivais — eles não mereciam o que ele estava sendo obrigado a fazer.


O sonserino queria que ele traísse os Potter. Se não o fizesse, machucariam sua esposa, Parvati. O soldado engoliu sua raiva inútil, sabendo que não tinha escolha senão seguir as ordens.


— O que aconteceu? — Um guarda lhe bloqueou o caminho, reconhecendo-o. — Pensamos que estavam mortos. Os sonserinos...


— Eu escapei — ele disse. — Os outros ainda são mantidos prisioneiros.


— Estão vivos? — perguntou o amigo.


Ele assentiu.


— Por enquanto.


— Que bom. Harry mandou um grupo de resgate. Neville partiu com eles dias atrás.


— E por que Harry não foi com eles?


— Nosso rei proibiu. — O amigo caminhava ao lado dele em direção ao pátio interno. — Mas devem voltar logo. Se ainda estiverem vivos.


O soldado não mencionou a esposa, embora temesse pela segurança de Parvati. Será que Sir Draco a deixara aprisionada com os outros? Ou será que a removera para outro lugar? Tinha visto o ar de interesse no rosto do sonserino e rezava a Deus para que ela continuasse intocada.


— E você? Não o machucaram?


O soldado meneou a cabeça. Não fora machucado porque era de serventia para eles. Seu estômago se revirou ao pensar na esposa sendo vitimada pelos sonserinos.


Medo e raiva rapidamente brotaram dentro dele. Tudo isso por causa de uma mulher, Gina Weasley. Se não fosse por ela, nada disso teria acontecido.


Sir Draco queria a mulher, só falava em Gina. Se a levasse de volta para Godric. Sir Draco ficaria satisfeito. O soldado se certificou de que o sonserino libertaria sua esposa em troca.


— Harry retornou? — perguntou o soldado. — Preciso falar com ele,


— Está nos aposentos dele,


— E Lady Gina? — A expectativa fazia uma fina camada de suor irromper por sua pele. Precisava encontrá-la. Descobrir uma maneira de levá-la a Godric. Só assim receberia Parvati em troca.


— Ainda está aqui. — O amigo acrescentou: — Alguns de nós acompanharemos Harry até King’s Cross dentro de poucos dias. Virá conosco?


— Ainda não sei quais são minhas ordens. — Ele deu um tapinha nas costas do amigo, e estava para pedir licença quando o homem o deteve.


— Encontramos seu filho dias atrás.


— Meu filho? — Parvati jurou ter deixado o pequeno Teddy com uma amiga de confiança. Não pensou que qualquer perigo poderia se abater sobre ele. — O que aconteceu?


— Não tema. Nós o trouxemos para cá. Sua esposa...


A expressão do soldado se fechou.


— Ela é mantida prisioneira pelos homens de Sir Draco. Ela tentou nos libertar.


— Os Potter não descansarão até todos estarem livres. — O amigo tentou consolá-lo.


Mas o soldado não conseguiu concordar com o amigo. Harry os abandonara há dias, sem qualquer tentativa de retomar Godric. Os homens sofriam em cativeiro enquanto seu líder não fazia nada.


Se os Potter tivessem atacado imediatamente, Parvati estaria a salvo. O soldado colocava toda a culpa em Harry.


— Onde está meu filho? — ele perguntou.


— Lá em cima.


Ele pediu licença, mas outros amigos vieram cumprimentá-lo antes que pudesse ir mais além. A cada saudação, a cada palavra de boas-vindas, sua culpa aumentava. Não desejava traí-los.


Amaldiçoando sua fraqueza, ele se esgueirou pelas sombras. Enquanto os minutos se estendiam, sua respiração se normalizava. Depois que garantisse a segurança do filho, encontraria Lady Gina e a devolveria a sir Draco.


As batidas de seu coração se arrastavam devido ao medo do fracasso. Abriu a porta furtivamente, sem saber o que encontraria dentro do quarto. O único som vinha do crepitar do fogo na lareira. Viu Harry dormindo numa cadeira, e a visão de seu comandante deteve o soldado.


Se Harry acordasse, faria perguntas.


O olhar do soldado buscou a cama. Ali ele viu Lady Gina, junto com algo que fez seu coração parar.


Seu filho, aninhado nos braços dela.


O soldado fechou aporta, seu plano já não era mais possível. Era como se Deus pedisse que ele escolhesse entre a esposa e o filho.


E o soldado não tinha resposta para isso.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


UM CHORAMINGO despertou Gina do sono. A jovem criança se remexia em seus braços, murmurando pela mãe.


— Nós a encontraremos, amorzinho — sussurrou Gina, beijando a testa do menino.


Mal conseguira dormir naquela noite, dividida entre segurar a cabeça dele sobre o vapor e tentar mais cataplasmas recomendados pela curandeira. Pouco antes do amanhecer, o menino caíra num sono mais tranquilo, a respiração parecendo mais leve. Gina agora acreditava que ele fosse viver, embora ainda levasse tempo para que recuperasse as forças.


Durante o sono, o menino se aninhara a ela, fazendo com que Gina sentisse uma onda de ternura por ele. Seus finos cabelos de bebê eram macios, feito uma penugem. Ele levou o polegar à boca, buscando por conforto.


Gina colocou o menino sentado. Viu Harry largado na cadeira, a cabeça apoiada na mesa. Apesar das estranhas circunstâncias entre eles, Harry ficara ali a noite toda, negando-se a sair de perto da criança.


Ele não dissera mais nada a respeito da sua proposta, e as faces de Gina coraram ao recordar a recusa. Pensou que ele fosse considerar o arranjo, mas fora rejeitada.


Gina tomou a criança nos braços, andando na ponta dos pés até a porta. Harry não acordou, então ela desceu com o menino. Ele mal tinha comido nos últimos dois dias e provavelmente estava faminto.


Ela tinha dormido além da hora da missa, e a maior parte da família estava envolvida em seus afazeres matinais. Gina falou com um dos servos, pedindo um bocado de sopa.


O menino se remexeu em seus braços. Ele abriu os olhos, que tinham um tom castanho esverdeado, e a fitou seriamente.


— Qual o seu nome? — perguntou Gina.


Ele não disse nada, mas enroscou os dedos nos cabelos dela, levando-os a boca. Quando a sopa chegou, Gina o ajudou a comer. Encheu-se de alívio ao ver como ele comia com bom apetite.


Tinha acabado de alimentá-lo quando um homem adentrou o salão. O cabelo alcançava os ombros, e ele caminhava com alegre confiança. Quando a viu, ele sorriu.


Foi um daqueles sorrisos que faria os ossos de uma mulher derreter. Ela assentiu e fingiu estar encantada com o menino. O homem se aproximou e sentou-se ao lado dela no banco.


— Você deve ser Gina.


As faces dela coraram. O que estava acontecendo com ela? Erguendo o olhar, viu o sorriso dele se alargar.


— Sou Neville Potter. — Ele estendeu a mão para afagar os cabelos do menino. — É um bom rapazinho, não é? Ronald disse que você o salvou do lago.


— Sim. Ainda estão procurando pelos pais dele.


— É verdade — Uma sombra dominou o rosto de Neville, e Gina imaginou se ele sabia de algo. Mudando de assunto, ele acrescentou: — Você é formosa de rosto, devo dizer. Que prazer encontrá-la esta manhã.


— Sempre cumprimenta as mulheres desta maneira?— retrucou Gina, depois cobrindo a boca. O homem não fizera nada além de cumprimentá-la, mas sua aparência bonita a deixava inquieta. Faces bonitas freqüentemente escondiam um coração enganoso. Tinha aprendido isto com Draco.


— Sim. — A voz de Harry irrompeu pelo salão. — Neville sempre está de olho em muitas mulheres. Veio andando na direção deles, o rosto brilhando com gotas d’água. Os pelos escuros da barba por fazer cobriam suas bochechas, embora não escondessem o par de cicatrizes. Sua aparência feroz fez a pele de Gina arder ao lembrar da conversa da noite anterior.


Embora tivesse ficado com ela para olhar o menino, Harry a evitava, comportando-se como se não suportasse ficar perto dela. Gina não entendia o que fizera de errado. Mesmo assim, durante alguns pequenos instantes, apanhou-se sendo observada por Harry, cuja expressão era inescrutável.


Gina apertou mais a criança, fingindo dar toda atenção ao menino.


Neville se inclinou mais perto.


— E meu irmão está de olho em você? Se for o caso, eu poderia batalhar com ele por você.


— Deixe-a em paz. — Harry se encostou à mesa de cavalete, olhando zangado para Neville. — Encontrou os homens?


A expressão de Neville ficou séria.


— Trouxemos três deles de volta. Dois morreram em cativeiro. Um está desaparecido.


— Não foram detectados pelos homens de Draco?


— Sua gente nos ajudou. E Sir Draco não estava na fortaleza. — Neville olhou para Gina. — Está procurando por ela.


Invisíveis linhas de apreensão se enroscaram na garganta de Gina, tornando difícil respirar. Sabia que Draco não desistiria.


— Ele sabe onde ela está — disse Harry.


— Sim. Mas também sabe de nossa força. Ele não tem homens para atacar Hogwarts. Vi quando voltaram para o acampamento na noite passada.


Os ombros de Gina se curvaram de alívio. Mas não se esqueceria de que Draco poderia enganar a defesa dos Potter. Suas habilidades de batalha eram mortais, aprimoradas pelos anos de experiência.


Olhando para a criança, Neville acrescentou:


— É o pai do menino que está desaparecido. Mas descobri que escapou sozinho.


— Ele está aqui? — Sem esperar resposta, Harry ordenou: — Tragam-no aqui. Ele vai querer ver o filho.


O olhar de Neville se tornou inquieto.


— Ele esteve aqui. Mas desapareceu novamente. Algo está errado. Os homens disseram que Sir Draco mantém a esposa dele prisioneira. Queria que o soldado nos traísse.


Gina abraçou o menino, acariciando-lhe os cabelos. Deu-lhe um beijo na bochecha, rezando pela segurança da mãe. Se Draco estava com a mulher, não teria qualquer misericórdia por ela.


— Não havia qualquer mulher por lá quando libertamos os homens — acrescentou Neville. — Não sei o que aconteceu com ela.


A visão de Gina se turvou com as lágrimas contidas ao abraçar o menino. Embora quisesse acreditar que tudo estava bem, seu coração sabia a verdade. Se a grifinória não tivesse serventia para Draco, ele a mataria.


— Então precisamos encontrá-lo — enfatizou Harry. — E a esposa.


— Cuidarei disso. — Neville lançou um olhar travesso ao irmão. Enquanto você estiver de visita ao rei supremo, claro.


Ele enfiou a mão dentro da túnica e puxou um ramo de azevinho, as frutinhas vermelhas brilhantes devido à neve derretida.


— Para você. Neville ofereceu o ramo a Gina, levando a mão dela aos lábios.


Com o beijo. Gina tentou puxar a mão. As atenções excessivas de Neville a lembravam muito do modo como Draco costumava cortejá-la


— Partirei para King’s Cross pela manhã disse Harry, agindo como se nada estivesse acontecendo. Ronald concordou em emprestar alguns soldados de Hogsmeade para que me acompanhem. — Apontando para o irmão com a cabeça, acrescentou: — Cuidará dela, não é?


Neville pôs o ramo de azevinho na mão dela, o sorriso se tornando mais caloroso.


— Ah, acho que cuidarei muito bem dela.


As palavras de Harry fizeram Gina se sentir como se tivesse acabado de ser entregue a outro homem. E ela descobriu não gostar da idéia.


— Posso cuidar de mim mesma, agradeço aos dois. — Levantando-se, Gina equilibrou o menino no quadril. Ao deixar o salão e atravessar o primeiro conjunto de portas, o menino se debateu em seus braços.


— Papai! — ele gritou, arqueando as costas.


Gina parou e olhou para trás. Pensou ter visto um movimento, mas apenas Neville e Harry continuavam absortos conversando lá atrás no salão. O menino choramingou, tentando se soltar. Gina tentou acalmá-lo, puxando-o contra seu ombro. Ela não via ninguém. Mas sentia um arrepio na espinha, o que a deixou desconfiada.


Com o tempo, a agitação do menino se transformou num fraco choro. Ele terminou por encaixar a cabeça debaixo do queixo de Gina e puxar-lhe os cabelos em busca de conforto. O coração dela bateu forte e, por um instante, ela desejou que o menino fosse seu filho.


Ela subiu os degraus, o corpinho do menino relaxando enquanto caia no sono. Gina sentiu-se cheia de ternura enquanto o abraçava. Seus pensamentos sobre ter um filho subitamente se voltaram para o leito nupcial.


Sabia da necessidade de se submeter ao futuro marido para poder gerar um filho. Mesmo assim sentia um terrível medo ao pensar em se entregar a um homem. Talvez não fosse tão ruim com Harry. Ele, ao menos, sabia das surras que sofrera e não ergueria os punhos contra ela.


Contudo, Gina se oferecera com a promessa de lhe conceder liberdade. Tinha jurado não exigir nada dele. Harry não desejaria compartilhar a cama mesmo que ela vencesse o medo. Ele deixara claro que ainda a considerava o inimigo sonserino. Mesmo que ficasse com ela em Godric como seu marido, Gina duvidava que ele fosse mudar de idéia.


Seu pai decidiria seu futuro nos próximos dias, enquanto ela esperava ali em Hogwarts. Gina odiava esta falta de controle sobre a própria vida. Deveria haver algum modo de guiar a mão do destino. Então ficou a refletir sobre as possibilidades.


Lá em cima, encontrou Hermione, instruindo suas damas nas tarefas para aquela noite. Cestas de folhagens estavam espalhadas pelo cômodo, e a própria Hermione segurava uma braçada de galhos de pinheiro.


— Oh, Gina — Hermione se voltou e sorriu agradecida. — Você poderia me ajudar, se estiver disposta. — Ela tomou o menino dos braços de Gina e o entregou á curandeira, uma velha que Gina já conhecia. — Papoula cuidará dele por enquanto.


Ela não gostou da idéia de abandonar o menino, mas Hermione pareceu compreender sua inquietação.


— Papoula tem netos da idade dele, não precisa se preocupar. E os pais dele serão encontrados logo.


Gina ficou quieta, pois duvidava que a mãe do menino estivesse viva. E não havia como saber onde o pai estava. Embora fizesse outra oração silenciosa pelos dois, ficava sentida pela perda da criança.


Hermione colocou uma cesta de folhagens nos braços dela.


— Hoje celebraremos o dia de Gryffindor. É parecido com nossa celebração de Natal, mas os grifinórios têm costumes próprios. Você vai gostar — ela prometeu.


Gina seguiu a mulher escada abaixo, mas acreditava não ter muito que celebrar. Com Harry de partida em breve, sentia-se sozinha e angustiada. E as atenções de Neville, embora amigáveis, ameaçavam sua sensação de segurança. Sua maneira despachada a aborrecia, por isso preferia não encontrá-lo naquela noite, principalmente se Harry não estivesse por perto para resguardá-la de afeições indesejadas.


Enquanto ajudava as mulheres a pendurar as guirlandas de folhas. Gina se repreendia pela covardia. Precisava confiar em suas próprias forças e enfrentar seus medos.


Estava cansada de esperar que outros tomassem as decisões que afetariam sua vida. Queria tomar o controle do problema e evitar a guerra entre sua família e a família Potter, com a qual também se importava.


A aversão de Harry pelo casamento lançava uma sombra em seus planos, mas Gina acreditava que ele queria evitar uma matança tanto quanto ela.


Talvez devesse viajar para King’s Cross com eles, pedir a ajuda do rei Henrique.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


A CELEBRAÇÃO do dia de Gryffindor marcando o início do solstício de inverno estava sendo tão prazerosa quanto reconfortante. O agradável bruxuleio das velas, o crepitar do fogo na lareira e as guirlandas de folhas faziam Gina recordar seu lar.


Neville a encantava com suas histórias engraçadas, arrancando-lhe uma risada mesmo quando lhe oferecia deliciosas porções de comida.


— É bom vê-la sorrir — ele disse.


— Não tinha razões para sorrir há muito tempo — ela admitiu. — Gosto de sua família.


— Sim, são boas pessoas. — Neville tomou um gole de hidromel e acrescentou: — Nós protegemos os que estão necessitados.


A observação fez Gina lembrar do garotinho, perdido e sem família.


— Continuará procurando os pais da criança?


— Quando amanhecer — ele disse. — Mas esta noite pretendo celebrar o solstício.


Gina percebeu os olhares invejosos de várias mulheres por Neville continuar do seu lado. Mas sua mente vagava, fazendo com que observasse as coisas com desinteresse. Imaginava se Harry já teria reunido seus soldados em Hogsmeade. Estaria voltando para Hogwarts para a celebração? Ou a evitaria nesta última noite, fingindo que ela não existia?


Pare de pensar nele. Gina se repreendeu pelos pensamentos errantes.


— Sua atenção está longe daqui, posso ver — disse Neville, segurando gentilmente a mão dela. Quer que eu a deixe sozinha?


Gina repeliu os devaneios.


— Não. Sinto muito. É que não estou conseguindo me concentrar esta noite.


— Dance comigo. — Neville segurou-lhe as mãos. O calor de suas palmas e a intensidade de seu olhar cativavam ao mesmo tempo em que assustavam Gina.


— É melhor não. Mas a música se tornara suave novamente, fazendo com que ela saboreasse as notas que ecoavam pelo salão. As delicadas cordas da harpa tocavam suas emoções, permitindo que sorvesse cada nuance da melodia.


— Então apenas escute. A mão de Neville lhe envolveu a nuca numa suave carícia. Gina começou a se afastar, mas lembrou a si mesma de que Neville não tinha feito nada impróprio.


Depois de escutarem várias canções, Neville a convenceu a dançar. Gina não conseguia acompanhar os passos rápidos, então desistiu e simplesmente deixou que Neville rodopiasse com ela em seus braços.


Enquanto dançava com Neville, pensava em Harry. Ele não parecia o tipo de homem que gostava de dançar e festejar, Perguntava-se como ele era antes de perder a esposa e a filha, Só o viu sorrir uma vez, mas ele jamais ria.


O vinho que Gina bebera, combinado à tontura, fez com que perdesse o equilíbrio. Neville a firmou, segurando-a em seus braços fortes.


O sorriso desapareceu quando percebeu que Neville pretendia beijá-la.


— Por favor, não,


O polegar dele traçou um caminho desde seus lábios até sua garganta.


— Você gosta dele, não é?


O coração dela disparou no peito enquanto tentava encontrar as palavras certas para responder.


— Harry é meu amigo.


— Seus sentimentos são mais profundos. Se não fosse por ele, eu roubaria muito mais do que beijos esta noite. — Gina de repente achou aquela arrogante presunção engraçada.


— Acredita nisso, não é? Só porque você é bonito, não significa que estou querendo beijá-lo.


Neville caiu na gargalhada.


— Então me considera agradável? Preciso contar isso a ele. — Ele segurou o rosto dela entre as mãos. — Acho que devemos deixá-lo com ciúmes.


— Harry não está aqui — disse Gina. — Foi buscar soldados em Hogsmeade.


Neville acariciou-lhe o queixo.


— Ele voltou e está nos observando há um bom tempo. Vamos. Apenas um beijo.


— As mulheres nunca o rejeitam?


— Nunca. — Neville franziu os lábios. — Não está curiosa para saber o que ele fará?


— Não acredito em você. Acho que só quer me convencer a beijá-lo. Harry não está aqui.


Neville riu, animado.


— Isto seria um ótimo gracejo, milady. Mas é verdade que ele está observando.


Gina olhou na direção apontada por Neville no mesmo instante em que os lábios dele lhe roçaram a bochecha. Ele não estava mentindo. Harry estava encostado à parede, um copo de hidromel na mão. Gina não conseguia ler sua expressão, mas Harry permanecia imóvel, observando-a, como Neville havia afirmado.


— Espere — avisou Neville. — Ele virá atrás de você. Meu irmão nunca resiste a um desafio.


Mas a previsão não se tornou verdadeira. Gina viu Harry se virar e ir embora. Sentiu-se gelar por dentro quando ele a ignorou. Harry não gostava dela. Preferia deixá-la nos braços de Neville, sabendo que o irmão não lhe faria qualquer mal. Ela era apenas uma obrigação, nada mais.


A mão cálida lhe tocou o rosto.


— Se ele é tão estúpido para não notar a beleza que tem diante de si, eu não sou. — Os lábios de Neville tomaram os dela, e Gina reuniu forças para não gritar.


O beijo gentil deveria fazer com que se achasse desejada, mas só conseguia fazer com que se sentisse aprisionada. Como Neville, Draco também fora jovial e se demorara fazendo-lhe galanteios. Mas a audaciosa força que ela antes admirava se transformara nos braços de uma prisão.


Gina tremeu e deixou escapar um gemido assustado. Neville a segurou pelos ombros.


— Sente-se bem?


— Não. — Gina se afastou dele, querendo fugir. Neville a deixou ir, mas Gina sabia que ele a observava. Correu para uma escada a um canto, sentando-se nos degraus. Encostou a cabeça na parede lateral, incapaz de acalmar a respiração acelerada.


Seus temores eram tolos. Neville não pretendia fazer mal a ela, apenas roubar um beijo. Mas a familiar ansiedade a vencera mais uma vez. As lágrimas ardiam em seus olhos, mas Gina as continha.


Os fantasmas dos abusos de Draco a atormentavam. Enquanto ele tivesse tamanho poder sobre ela, nunca escaparia dele. Embora os olhos continuassem secos, Gina chorava por dentro por causa de um futuro que não poderia ter.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


FOI NECESSARIO cada pedacinho de autocontrole para ir atrás dela. O beijo roubado por Neville e a subseqüente fuga de Gina enfureceram Harry. O irmão o fitou com ar indagador, e Harry respondeu com um olhar furioso que ordenava que deixasse Gina em paz.


Ficou escondido num canto onde podia manter vigilância sobre ela. Das sombras podia vê-la sentada na escada, a cabeça encostada à parede. Um cacho de cabelos se soltara, uma sedosa mecha vermelha que escorregou pelo rosto dela. Os braços envolviam a cintura, mas Gina não chorava.


Harry não esperava que Neville fosse beijá-la, e repreendeu a si mesmo por deixá-la sozinha. Gina ficara apavorada com seu irmão. Qualquer homem produziria o mesmo efeito após os abusos que ela sofrera.


Contudo, ela não fugia dele. Lembrava-se da sensação delicada de tê-la nos braços, semelhante a uma rosa de verão. Quando a beijou, Gina apagou todas as recordações de Cho de sua mente.


Ela estava disposta a se sacrificar num casamento que impediria uma guerra por Godric. Tinha jurado não lhe fazer exigências, deixar que ele levasse a vida que escolhesse.


Harry acreditava na sinceridade dela. Mas a honra exigia que ele recusasse a oferta. Observara Gina acalentando o menino no colo, cantando uma suave balada quando achou que ele não estava a ouvindo. Não era justo negar a Gina a chance de ser mãe.


Harry deu um passo na direção dela, sabendo que não deveria. Se encurtasse a distância entre os dois, não haveria volta. Mas queria confortá-la, afastar o passado que a assombrava.


Por que ela o perturbava desta maneira? Por que fazia com que tivesse sentimentos novamente? A garganta se apertou de ansiedade enquanto Harry se aproximava. Subitamente sentiu-se como Colin, um adolescente que não sabia falar com uma mulher. O que diria a ela?


Gina ergueu o rosto. O vazio em seus olhos fez Harry desejar nunca ter empurrado Gina para Neville. Embora o irmão preferisse cortar o braço a maltratar uma mulher, não compreendia o que Gina tinha sofrido.


— Partirei para King’s Cross pela manhã — ele disse. — O rei decidirá a questão de Godric.


Como se ela já não soubesse disso. Queria morder a língua e não ter dito aquelas palavras ridículas.


Gina exibiu um sorriso cauteloso.


— Acho que eu deveria me despedir, mas creio que não será necessário.


Harry não sabia como responder, mas ela continuou:


— Estive pensando na questão de Godric, e acho que seria melhor acompanhar você até King’s Cross. Posso falar com meu pai e interceder se for necessário.


— Não. Você fica aqui, onde nossos soldados podem protegê-la. — Sabia que teria de enfrentar o pai de Gina, mas não deixaria que ela lutasse suas batalhas por ele.


— Não serei mantida presa aqui — ela argumentou.


Harry tomou-lhe as mãos com firmeza.


— Escute-me, Gina. Já disse que você não irá a lugar nenhum.


— Não pode me manter aqui.


— Não posso? Ele a segurou pelos pulsos. — Os homens de Draco estão esperando pela chance de apanhá-la. Não permitirei que se exponha ao perigo — ele disse. — Não discuta.


— Não tem direitos sobre mim, Harry. Posso fazer o que quiser. — Os olhos dela faiscavam em rebeldia, deixando Harry com vontade de sacudi-la para que recuperasse a razão.


— Não me desafie, Gina. — Ele avançou até pressioná-la contra a parede do corredor.


Gina se encolheu, então ele afrouxou o aperto, respirando fundo.


— Lamento. Não pretendia machucá-la. — Com os polegares, Harry lhe massageava os pulsos.


O dedo desenhava lentos padrões sobre a pele dela, apreciando-lhe a maciez.


— Por que se importa com o que eu faço? — ela murmurou.


Harry ergueu os olhos. Não podia responder porque ele mesmo não conseguia conceber a razão.


Gina recuou, livrando as mãos.


— Harry, preciso fazer isso. Cometi o erro de pedir ao meu pai por um compromisso com Draco Sou eu quem deve pedir ao rei pelo rompimento.


— Isso é tarefa para seu pai — ele argumentou. — E ele nunca deveria ter permitido que Draco a machucasse,


— As coisas são diferentes na Sonserina — ela respondeu. — Uma mulher deve ser subserviente aos desejos do marido.


— Não deveria ser assim. Uma mulher tem o mesmo valor que um homem em Grifinória. — Ele não compreendia por que os sonserinos tratavam suas mulheres tão mal. — Você não merece sofrer nas mãos de Malfoy.


— Não. Mas terei que casar cedo ou tarde. E não terei escolha neste novo arranjo. Só posso esperar que meu pai escolha alguém melhor que Draco.


A idéia de Gina casando com outro homem frustrava Harry, Não queria que homem nenhum tocasse nela.


— Você poder ir para um convento.


— Não tenho vocação para ser esposa de Deus — ela admitiu. Embora Gina não dissesse, ele via o anseio nos olhos dela. Uma mulher como Gina devia ter filhos.


As palavras dela confirmaram sua intenção de não desposá-la. Não podia ser pai outra vez. A idéia de segurar outro filho seu nos braços era como uma espada cravada nas entranhas.


Se Gina lhe pertencesse, temia ser incapaz de resistir à tentação de tocá-la. Ela parecia tão vulnerável que Harry temia o que aconteceria se cedesse às vontades de seu corpo.


Clareando a garganta, ele mudou de assunto.


— Como está o menino?


— Melhor. Papoula o encheu de mimos hoje, dando-lhe vários doces. Mas continua a chamar pela mãe.


O rosto de Harry se tomou melancólico.


— Todas as crianças querem as mães. Lílian ás vezes não me deixava pegá-la no colo, só queria Cho.


— É triste — ela admitiu. — Tenho medo do que Draco tenha feito com a mãe do menino.


— Não deve ficar apegada a ele. O lugar dele é com o pai.


— Eu sei. — Uma lágrima escapou, embora Gina tivesse conseguido exibir um meio sorriso. — Às vezes é impossível evitar certos sentimentos.


Harry enxugou a lágrima, acariciando o rosto de Gina. Ela havia coberto o hematoma novamente, mas a cor começava a desbotar. Mesmo assim, Gina lhe parecia linda.


Harry tentou suprimir a intensa vontade que crescia dentro de si. Desejava esquecer Cho e a amarga sensação de perda.


— Você tem razão. — A voz parecia agarrar na garganta enquanto ele se aproximava. — Às vezes não se pode evitar o que se sente por alguém — A mão se apoiou na parede, o outro braço enrodilhando a cintura de Gina. Harry aguardou, esperando que ela se afastasse, se quisesse.


Ela não se moveu. Lentamente, Harry afastou a mecha de cabelo vermelho, prendendo-a por trás da orelha dela. O mundo pareceu parar no instante em que os olhos cor de mel buscaram os dele. Harry sentiu a pele esquentar enquanto deslizava os dedos pelas costas de Gina.


Ela se encostou à parede, deixando-se sustentar por ela enquanto Harry lhe beijava gentilmente o pescoço. Podia sentir que Gina se rendia a ele, a respiração morna resvalando em seu rosto.


Sua mente mandava que parasse. A voz da razão exigia que a soltasse. Gina não lhe pertencia, nunca seria sua. Isto era errado.


As mãos dela tocaram timidamente seu peito, as palmas pousando de leve sobre seus peitorais antes de lhe cingirem o pescoço, inexperiente e insegura, Gina parecia assustada, porém, determinada.


Deus! Não se lembrava da última vez em que uma mulher o abraçara. Era tão bom, um atear de fogo. Seu corpo ficou impaciente, e por fim Harry cedeu á vontade. Capturou os lábios de Gina, saboreando o doce calor de sua boca.


Ela estremeceu em seus braços, mas não o repeliu. A respiração dele fluía entrecortada.


— Não devemos fazer isso — ela murmurou. — Não posso...


As mãos de Harry desceram pelo corpo até alcançarem os quadris, puxando-a para perto.


— Eu sei. — Mas enquanto dizia estas palavras, Harry sabia que não seria capaz de parar de desejá-la.


Harry a beijou novamente, movendo os quadris contra os dela numa dança sensual. A música da celebração estava terminando, então Harry a puxou pela mão, guiando-a pelo corredor. Parou diante de seu quarto, esperando. Os lábios dela estavam intensamente vermelhos, úmidos do beijo. Mas do que qualquer coisa, Harry queria levar Gina para dentro e se deitar com ela. Mas a honra exigia que parasse com esta loucura antes que ambos fossem consumidos por ela.


Com grande relutância, Harry a soltou.


— Deixe-me, Gina. Você não quer isso.


Ela recuou um passo, depois outro. Por um instante, Gina pareceu prestes a fugir. Mas ela parou, a incerteza moldando seu rosto.


— Você se importa comigo, Harry? — ela perguntou. — Ainda não passo de uma sonserina para você?


Ele viu os olhos dela se encherem de lágrimas, então foi traído pela fraqueza do próprio corpo. Segurou-lhe o rosto entre as mãos, deixando que ela visse a força do desejo em seu olhar.


— Só um beijo — ele prometeu. Não podia tomar mais do que isto.


Harry traçou o contorno do rosto de Gina, deslizando os dedos pelo hematoma. Com os lábios, beijou o machucado. Os olhos dela continuavam fixos em Harry, que prosseguia com a delicada carícia.


Gina abriu os lábios e fechou os olhos. Harry se inclinou para saboreá-la, nada mais do que um leve roçar dos lábios. Ela estremeceu, jogando a cabeça para trás. Harry a puxou pelos quadris até se encaixarem aos dele, aninhando sua excitação. Desta vez ela o abraçou mais forte, até Harry poder sentir a maciez dos seios contra seu peito.


As mãos deslizavam sob o tecido do vestido, dentro das volumosas mangas, até ele sentir a maciez da roupa íntima. Os polegares estavam sobre a curva dos seios, esperando para ver se ela permitiria que ele avançasse mais. Gina congelou, apavorada, mas Harry via o desejo surgindo nos olhos dela.


A intensa necessidade de tocá-la venceu qualquer hesitação que ele ainda tinha. Lenta e delicadamente, Harry moveu os polegares sobre os mamilos sensíveis. A respiração de Gina ficou entrecortada, e Harry a pressionou contra a parede, acariciando-lhe os seios até que ela gemesse de prazer.


As bocas se encontraram num acalorado frenesi. Gina era a chuva que o despertava para a vida, saciando sua sede. Todos os anos de anseio, de sofrimento, pareciam desaparecer quando ela correspondia ao beijo, buscando a língua dele. Harry silenciou a culpa de antigas lembranças, dizendo a si mesmo que ele era apenas humano.


Os peitos de ambos pareceram se fundir enquanto Harry controlava sua urgência. Então ele sentiu o gosto salgado das lágrimas de Gina. Desprezou a si mesmo naquele momento. Havia magoado Gina sem querer.


— Vá — ordenou. — Agora.


Como ela continuasse parada, ele abriu a porta. Outra lágrima correu pelo rosto de Gina, mas ela obedeceu. Quando ela se foi, Harry entrou no quarto e socou a pesada porta de carvalho. Não conseguia ter qualquer força de vontade quando o assunto era Gina.


No corredor, Gina apoiou a testa na parede. Só podia culpar a si mesma pela humilhação. Seu corpo pulsava numa atroz tempestade de sentimentos. Nunca imaginara que isso podia ser assim, e parte dela queria que Harry continuasse.


Com ele, Gina se sentia apreciada. Por isso não conseguiu evitar as lágrimas. Foi quando ele a repeliu. Por que pensou que Harry pudesse querê-la? Suas bochechas ficaram vermelhas.


Agora que sabia como era ser desejada por um guerreiro como Harry, seu corpo ansiava por mais. Com a mente tumultuada por pensar nele, Gina cambaleou para o próprio quarto. Harry partiria para King’s Cross de manhã para lutar pelo direito de sua terra.


Mas acima de tudo, Gina temia o cerco que já fora formado ao redor de seu coração.

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