Enfrentando os Medos

Enfrentando os Medos



HARRY NÃO deixou de notar a indagação nos olhos de Gina. Aturou os gracejos obscenos de seus homens ate perceber que não podia se demorar lá embaixo por muito tempo sem constranger sua nova esposa. Deixou seus convidados e Ronald impediu que vários homens bêbados fossem atrás dele.


Entrou no próprio quarto, fechando a porta ao passar. Felizmente não era o aposento que compartilhava com Cho quando viviam ali. Tinha deixado o quarto para Gina. O quarto onde estava agora costumava ser usado por seus irmãos, por isso não Ihe trazia recordações.


Mas a fortaleza guardava muitas lembranças. Tinha sido muito diferente regressar ao lar desta vez. Reconhecera antigos servos, arrendatários locais e velhos amigos no banquete. Pareciam espantados com o casamento, mas felizes por Vê-lo outra vez. Harry concluiu que já estavam em Godric quando Gina chegou acompanhada de Draco. Será que havia surgido qualquer animosidade, já que ela era sonserina? Aparentemente não, mas ele não tinha certeza.


Harry viu a tina diante do fogo. Havia sido levada antes da cerimônia, mas ele não se deu ao trabalho de tomar banho na hora. Agora a água fria serviria para distraí-lo de Gina. Não duvidava que ela o convidaria para a cama caso fosse procurá-la. Contudo, Harry percebia seu medo. Apesar do que ela dizia, achava que ainda não esquecera as surras de Draco.


Nem sabia se ainda era virgem. Pela magnitude com que ficava intimidada, imaginava que outros pesadelos atormentavam Gina.


Harry se despiu e sentou na tina, espalhando água no rosto e no peito. Como esperava, a água fria mitigou seus desejos. Saiu da tina e pegou uma toalha. Depois de se secar, enrolou a toalha na cintura e sentou ao lado do fogo.


Foi quando notou uma sombra perto da cama. Harry pretendia pegar a adaga, mas viu Gina sair de trás de uma das cortinas da cama. Os cabelos vermelhos estavam caídos sobre a fina túnica. Ela caminhou em sua direção em silencio.


— Gina...


Harry viu o medo e a incerteza nos olhos dela. Continuou parado, não querendo assustá-la com a luxuria que crescia dentro de si.


— Eu não sabia se deveria vir — ela murmurou. — Seus costumes são diferentes, e pensei... — A voz falhou, os ombros se curvaram.


Harry não disse nada e Gina logo endireitou o corpo. Através do fino contorno da túnica, as curvas femininas o atraiam. Vendo sua figura esguia, percebeu o quanto ela precisou de coragem para procurá-lo. Embora devesse mandar Gina embora, sabia que a magoaria se colocasse a idéia em palavras.


Harry queria sentir Gina em seus braços, queria ser o marido que ela merecia. Segurou as mãos dela, puxando-as gentilmente ate Gina ficar parada diante dele. Levou a mão ao rosto dela, o polegar fazendo com que entreabrisse os lábios. Quando ela deixou que a beijasse, Harry se viu perdido.


Gina tinha o sabor de um quente sol de verão, de um doce hidromel, de uma promessa de amor. Apesar da intenção de não tocá-la, seus braços Ihe envolveram a cintura. A sensação da pele macia o deixou excitado, então sentou num banquinho com Gina de pernas abertas no seu colo.


A intimidade da posição fez com que ela tentasse se soltar. As bochechas estavam coradas, mas Harry continuou segurando-a, ate ela se render. Embora não pretendesse reclamá-la como esposa, queria livrá-la dos temores. Deslizou lentamente as mãos pelas costas dela, afagando-a. Através da túnica, viu os seios enrijecerem.


A toalha escorregou e Harry sentiu a úmida feminilidade contra seu membro. Ficou excitado, respirando fundo enquanto Gina tentava se levantar. Os movimentos fizeram com que ela se encaixasse no colo dele e Harry voltasse a Ihe afagar as costas.


Suas bocas se encontraram, o beijo intoxicando-o com fogo e luxuria. A voz da razão gritava para que parasse, mas Harry não encontrava forças para rejeitar Gina.


Ela interrompeu o beijo, tentando respirar. Desta fez, Harry a soltou. Gina parecia pronta para fugir do quarto.


— Perdoe-me — ela arfou. — Pensei que conseguiria deixar que você...


— Não esta noite, Gina — ele respondeu com um rouco suspiro.


Ela ficou pálida, tomada de desalento.


— Desculpe se o desagradei. — Ela começou a se afastar, mas Harry a deteve.


— Gina, não posso ser um verdadeiro marido. Não da maneira que você quer. — O corpo dele ardia, mas Harry conseguia se manter sob controle. Abaixando-se, apanhou a toalha e a enrolou nos quadris.


— Se me der um pouco de tempo, farei o que é esperado de mim — ela insistiu.


Harry a levou para a cama e afastou as cobertas.


— Agora durma.


Gina queria praguejar, de tão frustrada. Conseguira se infiltrar no muro de indiferença por um breve instante, apenas para ser atirada fora novamente. Foi necessário reunir toda a coragem para procurar por Harry, enquanto sofria para bloquear as terríveis lembranças do passado.


A voz debochada de Draco surgiu em sua mente. Você é um pobre arremedo de mulher. Deveria estar agradecida por receber minhas atenções.


E ali também ela havia fracassado. Na escuridão, aconchegava-se sozinha na cama. O que seria preciso para que Harry a visse como esposa, não como um fardo?


Gina ergueu a cabeça para observá-lo. Sob a luz do fogo, a pele era bronze derretido. Marcados de batalha, os músculos fortes se flexionavam enquanto ele vestia a calca. O peito estava nu, o torso escultural coberto por uma fina camada de pelos escuros.


— Harry?— ela murmurou.


— Sim?


— Não me deixe sozinha. Não esta noite — ela implorou.


Harry viu o quanto ela parecia embaraçada.


— Não a humilharia desta maneira, meu coração. Todos lá embaixo pensarão que o casamento foi consumado, não se preocupe.


— E os lençóis? — ela perguntou, fitando o linho limpo. O rosto dela ficou vermelho. — O sangue... — Gina se calou, envergonhada demais para continuar. Na sua terra, os lençóis de uma noiva eram orgulhosamente exibidos para provar a perda da virgindade.


Um ar de divertimento tomou o rosto dele.


— Não temos este costume. Meus homens acreditarão em mim quando eu disser que você não é mais donzela.


Mas seus pais desejariam ver os lençóis, ela concluiu. Costume ou não, pediriam para ver.


— Pode me emprestar sua faca? — perguntou.


— Por quê?


— Para satisfazer meu pai. Ele espera ver meu sangue.


Harry se levantou e desembainhou a faca. Sem despregar os olhos de Gina, fez um pequeno corte na mão, deixando que gotas de sangue se espalhassem sobre os lençóis.


— Não precisa ser o seu sangue.


Gina estremeceu, mas ele agia como se o gesto fosse de pequena importância. Depois disso, ele arrumou uma cama diante do fogo, deitando-se no duro chão de madeira.


Ela pensou em pedir que ele dormisse na cama, por causa do conforto. Mas não reunia coragem para dizer as palavras. Como seu corpo ardia de frustração e vergonha, ela escondeu o rosto no colchão. Os fantasmas do passado de Harry habitavam aquele quarto. Tinha enganado a si mesma pensando que queria uma vida separada da dele.


Ao ser beijada, Gina sonhou com o dia em que renunciaria a todos os temores e acolheria Harry em seus braços.


Sob a tremeluzente luz do fogo, viu Harry se esticando para dormir. As costas possuíam cicatrizes de antigas batalhas. Aquele era um corpo que tinha testemunhado mortes e liquidado inimigos. Mas por baixo daquela superfície, existiam outras cicatrizes. Um pai que perdera a filha. Um marido que não conseguira proteger a esposa do inimigo. E um homem forçado a casar com uma mulher que não queria.


— Harry? — ela murmurou, incapaz de conter a pergunta que a atormentava. — Por que se casou comigo?


Ele parecia tão inflexível antes de partir para Tocah. Teria feito qualquer coisa para evitar o casamento.


Gina esperou pela resposta por certo tempo, imaginando se ele teria ouvido. Por fim, Harry disse:


— Para mantê-la longe de Draco. Você seria obrigada a casar com ele. Mulher nenhuma mereceria tal vida.


Os olhos dela se encheram de lagrimas com a admissão dele.


— Mas meu pai cancelou o noivado — ela murmurou. — Draco não poderia me fazer mal.


Harry se virou para fitá-la.


— Eu me ofereci no lugar de Draco. Ele é um dos favoritos do rei, não esqueça. Mas uma aliança grifinória é mais vantajosa para o rei Snape.


— Creio que você tem razão.


— E não confio em Draco. Duvido que ele vá desistir tão facilmente. Se algo acontecesse ao seu pai, ele viria para se apossar de você. E de Godric. — Ele suavizou a voz, como se para afastar-lhe os temores. — Esta a salvo dele agora.


Quando Harry lhe deu as costas, ela agarrou os lençóis. Seria fácil ignorar aquela mudança no coração de Harry se não gostasse dele. Poderia ter fechado seu coração para o estóico guerreiro que a mantinha distante.


Mas não para o homem que se casara com ela para mantê-la a salvo. Não para o homem que a beijara, despertando seu corpo para o toque masculino.


Gina rezou para que um dia ele pudesse se livrar das lembranças que o assombravam. Ate este dia, não haveria esperança de que o casamento deles deixasse de ser um mero arranjo.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


QUANDO HARRY acordou, Gina não estava mais ali. Levantou-se do chão, encolhendo-se por causa do ombro dolorido apos uma longa noite. Não conseguira dormir, pensando nela. Embora tivesse considerado dormir com ela na cama, não confiava em si mesmo para não tocá-la. Gina tinha a capacidade de desarmar sua força de vontade e transformá-la em poeira.


Vestiu a túnica, e quando entrou no salão foi atraído pelo delicioso aroma de doces e frutas assadas. Colin estava sentando em uma longa mesa enchendo a boca de comida.


Ao ver o irmão, Harry perguntou:


— Onde esta Gina?


— Não a vi esta manhã. Mas você deveria fazer o desjejum — sugeriu Colin. — Prove as tortinhas de maçã.— Ele usou o braço para limpar os respingos de mel da boca.


A mesa estava cheia de vasilhas de fumegante mingau de aveia e tortinhas regadas com mel e maçãs secas. Harry decidiu experimentar uma das tortinhas. A crosta doce praticamente derreteu em sua língua e Harry pegou outra.


— Foi ela quem fez isso?


— Não, mas pediu que fizessem. Nunca comi algo tão bom na vida — comentou Colin. — Talvez eu nunca vá embora.


— Em breve — disse Harry com firmeza — você terá que voltar para Hogwarts. — À resposta do irmão foi se servir de outra colher de mingau.


Embora soubesse que não havia razão para se preocupar, ele se indagava sobre os motivos de Gina. Ele nunca se incomodava muito com comida pela manhã, mas a súbita mudança Ihe causava preocupação quanto às outras mudanças que pretendia fazer.


Depois de terminar, saiu à procura dela. O vento congelante atravessava sua capa, mas enquanto cruzava o terreno viu Gina no pátio interno. Ficou parado, observando-a ajudar a lavadeira com um caldeirão fumegante. Gina usava uma longa vara para mexer a roupa suja. O calor da água fervente Ihe umedecia os fios de cabelos nas têmporas, as bochechas brilhavam com o esforço. Um véu de linho mantinha o cabelo longe do rosto.


A maneira como lidava com seu povo, tomando parte nas tarefas cotidianas, fez com que Harry percebesse que ela parecia pertencer ao lugar. Gina sabia a língua deles e não tinha os modos frios de uma nobre dama sonserina. Eles não a viam como uma estranha, um fato que o incomodava.


Gina o viu e levantou a mão num aceno. Harry assentiu em resposta, mas voltou para a fortaleza sem falar com ela. Entrou no salão e foi para o andar de cima, para o antigo aposento que costumava compartilhar com a esposa.


Não Ihe tinha passado pela cabeça que Gina pudesse produzir mudanças em Godric. A cama original tinha desaparecido e, em seu lugar, estava outra, menor. A armação de madeira era nova, assim como as cobertas.


As tapeçarias haviam desaparecido também — as tapeçarias que Cho tecera com as próprias mãos, trabalhando por longas horas, às vezes até de noite. Lembrou que costumava surgir por trás de Cho para roubar um beijo, enquanto os dedos dela trabalhavam no tear.


Suas recordações haviam sido removidas, deixando para trás pobres substitutos. As paredes estavam nuas, o quarto destituído de qualquer decoração. Mágoa e ressentimento cresceram dentro dele. Teriam vendido as tapeçarias? O que teria acontecido à cama onde ele costumava dormir sentindo o calor de Cho? Sua filha tinha sido concebida naquela cama, e agora ela havia sumido.


Momentos depois, a porta foi aberta e Gina surgiu. Ela sorriu à guisa de cumprimento.


— Bom dia.


— Onde esta a cama? — ele perguntou. — E as tapeçarias?


O sorriso desapareceu. Como ela não respondeu, Harry a agarrou pelos ombros.


— Onde estão?


 


— Não sei onde estão as tapeçarias — ela disse. Os dedos dele a apertavam, a fúria era tão grande que Harry sabia que deixaria marcas na pele delicada. — Mandei destruírem a cama — ela disse. — Mandei que fosse queimada.


Queimada. Ele não compreendia por que faria tal coisa. Não deveria ter dado aquele quarto a ela. Seria melhor deixá-lo trancado, tornando-o um lugar onde guardar suas lembranças.


Agora tudo estava perdido, consumido em cinzas. Tudo por causa das ordens de Gina. Harry fechou os olhos e soltou-a. Tinha medo do que seria capaz de fazer, então recuou um passo.


— Por quê?


Ela meneou a cabeça, lágrimas surgindo nos olhos.


— Porque não conseguia olhar para a cama. Nunca poderia me deitar ali sem lembrar como Draco costumava me bater.


— Nunca pretendi me deitar com você — ele disse com frieza.


Seu rosto ficou branco e ela secou as lágrimas. Por um momento, era como se Harry estivesse fora do próprio corpo, como se fosse outra pessoa. Sabia que suas palavras a magoavam profundamente, mas não conseguia detê-las.


— Deixe-me — ele disse, a voz cansada. — E não faça mais mudanças aqui. Esta á a minha casa e quero tudo como era antes.


Como ela continuasse imóvel, ele berrou:


 — Vá!


Gina fugiu. Harry enterrou o rosto nas mãos. Lamentava ter casado com ela, permitindo que fizesse mudanças. Godric não era, e jamais seria, o mesmo.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


GINA SENTOU ao lado dos pais para a refeição do meio-dia, a comida parecendo areia na boca. Ficara magoada com a repreensão e não sabia adivinhar o que mais poderia provocar outra explosão de raiva.


Suportou mais uma hora de refeição, forçando-se a beber um cálice de vinho de sabugueiro. A mãe se retirou para o quarto e Arthur Weasley tocou a mão da filha.


— Por que esta tão calada? Qual o problema? Ele a machucou?


Um ar embaraçado surgiu no rosto do pai ao mencionar a noite de núpcias. As criadas tinham Ihe mostrado os lençóis e Gina sabia que seu pai ficara satisfeito ao ver as manchas de sangue. Mesmo assim, sentia-se culpada com a mentira.


Gina meneou a cabeça.


— Ele não me machucou, papai.


— O grifinório será bom marido para você, tenho certeza — afirmou o pai — Suas habilidades de batalha são lendárias entre esta gente.


— Ele foi forçado a casar comigo — ela disse. — Isso é maneira de se começar um casamento?


— Alguns dos melhores casamentos começam de maneira nada auspiciosa — ele comentou. — E depois fica muito bem, apesar de tudo. De tempo ao tempo, Gina. Você deve ficar aqui e o rei Snape terá grifinórios leais perto dele quando precisar.


A amargura cresceu dentro dela.


— Sim, permanecerei aqui. Casada com um homem que me despreza.


— Ora, ora. Você é uma mulher crescida, Gina. Não é criança. Ficar amuada não é de seu feitio.


Ela sabia que o pai tinha razão ao conseguir arrancar-lhe um sorriso.


— Ficará por mais tempo?


Ele meneou a cabeça.


— Creio que não. Snape ordenou que voltássemos para a Sonserina dentro de uma semana. Mas Ihe mandarei uma criada... alguém que vá chamar sua mãe e a mim caso Potter encoste um dedo em você.


— Harry nunca faria isso — disse Gina. — Ele quase matou Draco por me machucar.


O conde assentiu em aprovação, pondo a mão no ombro dela.


— Lamento pelo acontecido. Se descoberto antes, teria vindo buscá-la. Quero que saiba disso.


Gina baixou a cabeça, escondendo as lagrimas que ameaçavam cair. Ele apertou-lhe a mão.


— Você é uma bela mulher, Gina, com um coração adorável. Vá até seu marido. Mostre a ele quem você realmente é.


— Vai dar tudo certo — ela disse, abatida.


O pai sorriu.


— Você conquistara o coração deste guerreiro, minha Gina. Disso não tenho duvida.


Gina o abraçou e ele Ihe deu uma batidinha no queixo.


— Partiremos para a Sonserina pela manhã. Se precisar de nós, basta mandar uma mensagem.


Com os braços fortes do pai enlaçando-a, Gina se sentiu reconfortada.


— Obrigada, papai.


— Agora vá.— O pai a dispensou com a mão.— Pretendo saborear este excelente uísque antes que sua mãe descubra. — Ele tomou um gole da forte bebida, tossindo enquanto Ihe fazia um brinde.


— Mandarei um barril com você para casa — prometeu Gina.


— Você é minha filha mais amada — ele suspirou, tomando outro gole.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


HARRY NÃO dormiu no quarto deles naquela noite, e Gina não conseguiu pegar no sono. Remexia-se no colchão de palha enquanto o imaginava no outro quarto, contente por estar longe dela.


Na manhã seguinte, ela se despediu dos pais e a mãe prometeu visitá-la na primavera. Lorde Arthur a provocou falando em netos e Gina lutou para manter o sorriso. Não haveria filhos em seu futuro. Não com Harry.


Depois que partiram, ela se ocupou com as tarefas da fortaleza. Os braços se esticaram enquanto ela tentava erguer um pesado saco de grãos. Já tinha enxugado as lagrimas e prometido não sentir pena de si mesma. Havia se casado com Harry sabendo que ele não a queria como esposa. O trabalho pesado manteria sua mente longe das lamentações que apertavam seu coração.


— Coloque isso no chão, Lady Gina! — Uma mulher magra e com cabelos loiros bateu em Gina com um trapo. — Temos homens que carreguem as coisas pesadas.


— Eu consigo — disse Gina. Ela arrastou o saco de grãos para um canto, os braços ardendo com o esforço.


— Não é função sua fazer este trabalho— argumentou a mulher. Poderia prejudicar um bebê, caso já esteja gerando um.


— Não haverá bebê nenhum — ela disse, melancólica.


Lembrou do pequeno Teddy, seu corpinho macio aninhado contra ela, e uma dor profunda ameaçou consumi-la. Como pode pensar que um dia ganharia a afeição de Harry? Ele tinha sido honesto desde o primeiro momento. Ela jamais conseguiria conquistar-lhe o coração, era inútil tentar.


— Ah, claro que haverá um bebê, tenho certeza. Estes Potter... — A mulher deu um suspiro encantado. — Não conheço uma mulher que consiga resistir a eles. Você tem sorte, esta casada com Harry. Ele e um bom mestre, um homem justo. Bem melhor do que aquele sonserino com quem estava comprometida. — A mulher cuspiu no chão ao lembrar.


Gina forçou um sorriso.


— Sim, você esta certa. Qual o seu nome?


— Sou Luna.


Gina apertou as mãos de Luna em cumprimento.


— E um prazer conhecê-la.


Luna puxou Gina pela mão.


— Eu e as outras mulheres nos perguntávamos sobre você. Vimos o que Malfoy fez. Tomara que a alma dele queime no inferno por causa disso. Mas nenhuma de nós podia fazer nada. — Ela fez o sinal da cruz. — Ele simplesmente mataria outra inocente.


— Outra?


— Sim. Ele matou a pobre Parvati depois que ela contou para onde Harry levou você. O maldito! — Luna levou Gina para fora, entregando-lhe uma manta. Gina aceitou a longa peca de lã, envolvendo os ombros com ela. — Precisa se cobrir, está muito frio.


— Por onde estamos indo?


— Vamos visitar os arrendatários. Estão ansiosos para conhecê-la, tal como eu. Não tivemos a chance quando você estava comprometida com aquele demônio. — Com uma cotovelada, Luna acrescentou: — Eles querem saber que tipo de mulher se casaria com nosso Harry.


— Uma mulher tola — disse Gina. — Sou uma Potter agora, mas dele só tenho o nome.


— Sentindo pena de si mesma, não é? — disse Luna, arrastando Gina pelo pátio interno. O ar gelado atingia seu rosto, então ela apertou mais a manta ao redor dos ombros. — Se quer um bom casamento, ouça meu conselho. Seja uma mulher forte e seja fiel a si mesma. Quando se conquista a própria felicidade, o casamento também se torna feliz. Não há maneira mais fácil de perder um homem do que persegui-lo. Faça-o vir atrás de você. Escute o que digo.


— Você e casada? — perguntou Gina.


Luna riu.


— Duas vezes. Enterrei o primeiro marido, que sua alma descanse em paz. Mas, quando morreu, se foi feliz. Uma boa travessura na cama mantém o marido fiel.


Gina corou com aquele comentário desbocado. Quando chegaram aos estábulos, Luna disse ao cavalariço que trouxesse um cavalo para Gina.


— E você? — perguntou Gina.


— Não preciso de cavalo. Vou andando. Mas você, sendo senhora de Godric, deve ir montada.


Gina sacudiu a cabeça, dispensando o cavalariço.


— Vou andando com você. — Pensou ter visto um brilho de aprovação nos olhos de Luna.


Enquanto seguiam na direção das fazendas dos arrendatários, Luna apontava os nomes das pessoas, contando mexericos sempre que podia.


Gina viu uma extensão de terra, organizadamente dividida em espaços menores com cabanas de teto de palha. Vacas e porcos se amontoavam ao redor dos grãos despejados nos cochos em meio a neve. Um arrendatário quebrou uma camada de gelo que se formara sobre a água de outro cocho. Ele sorriu e acenou para Luna quando elas passavam.


Gina queria conhecê-los e se familiarizar mais. Uma idéia Ihe ocorreu, por isso parou de andar.


— Não decoramos Godric — ela disse. — As festividades já passaram, mas não fizemos qualquer celebração pelo Natal. Com tudo o que aconteceu, nem pensei nisso.


Luna se animou.


— Tem razão, milady. Chamarei algumas moças para ajudar. Uma festa é exatamente o que você precisa para esquecer dos problemas.


— Pode me chamar de Gina — ela disse. Parte dela estava alegre com a idéia de decorar o salão para a festividade de Natal. — Alguém por aqui poderia tocar música hoje à noite?


Gina se lembrou da harpa que tocara em Hogwarts, sentindo saudades do instrumento. Harry não parecia se importar, mas ela ficava nervosa ao se imaginar tocando diante dos grifinórios. Talvez não gostassem de suas canções.


Não, era melhor deixar que outros tocassem. Ela se divertiria com as músicas deles e as aprenderia quando pudesse.


— Todos os homens daqui se acham músicos — disse Luna, revirando os olhos. — Mas direi a Dino Thomas que leve suas flautas. Mas não peça que ele cante.


Gina se enrolou mais na manta, cheia de animação. Não deixaria que a raiva de Harry estragasse o festejo. Mas havia uma maneira de abrandar seu mau humor.


— Sabe onde as mulheres colocaram as tapeçarias que costumavam ficar no meu quarto? — perguntou Gina. Luna assentiu. — Traga todas. Quero pendurá-las no salão.


Faria isso por Harry, como um pedido de desculpas. Mas se negava a manter qualquer vestígio de Cho e Draco em seu quarto. Começaria a tecer suas próprias tapeçarias, adornando o aposento com coisas que só lhe trouxessem novas recordações.


Luna estava certa. Já era hora de parar de sentir pena de si mesma.

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