O Pai



ARTHUR Weasley, o conde, observava o guerreiro grifinório. Harry Potter estava concentrado em regressar para Gina e cavalgava feito um homem possuído. Havia urgência em cada um de seus movimentos, todas as suas energias pareciam concentradas em alcançar Gina.


Não era o comportamento de um homem interessado apenas nas terras. Potter era um enigma, pensava Weasley. Esta nova aliança oferecia uma possibilidade intrigante. Nunca aprovara o noivado entre Gina e Sir Draco, mas como o rei iniciara o arranjo, seria difícil rompê-lo. Agora ele possuía meios, e se valeria deles antes do cair da noite.


Weasley sabia ser tolerante quando o assunto envolvia Gina. Sendo sua única filha, ela tinha um lugar único em seu coração. Gina lhe pedia pouco, e ele ficava satisfeito em atender aos seus desejos. Quando ela implorou para se casar com Sir Draco, seus instintos o alertaram contra a união. Ele teria recusado, apesar dos apelos dela, se não fosse desejo do rei recompensar o jovem cavaleiro com um ambicioso casamento.


Embora o grifinório tivesse acusado Sir Draco de bater em Gina, Weasley já sabia a verdade. As próprias palavras de Gina proclamavam o cavaleiro culpado, e o conde não permitiria que Malfoy se aproximasse de sua filha novamente.


Mas ainda não sabia se podia confiar em Potter.


Já era o segundo dia de jornada rumo ao sul, e o sol começava o seu caminho de descida. Os dois homens cavalgavam firmes, o suor brilhando nos flancos dos corcéis. O vento açoitava seus rostos, mas nem Potter ou Sir Draco mostravam qualquer interesse em montar acampamento. O conde mantinha-se atrás dos dois cavaleiros e, em dado momento, ouviu da conversa entre eles.


— Gina me pertence. Sua idéia estúpida de deixar que ela faça a escolha não significa nada. O pai dela nunca deixará que ela prefira um bárbaro grifinório a um sonserino — dizia Sir Draco.


— Você tem medo de que ele descubra a verdade — adivinhou Potter — Qual de nós é o verdadeiro bárbaro?


Ao ouvir isso, Weasley incitou o cavalo e se colocou entre os dois.


— Quando chegaremos a Hogwarts?


— Ao cair da noite — calculou Harry.


— E como pode garantir que ela esta a salvo?


Como o grifinório não respondeu, Weasley pressionou mais:


— Se o que dizem é verdade, você não conseguiu manter sua esposa em segurança.


— Se o que Gina diz é verdade, você não atendeu aos apelos dela quando precisou — retrucou Potter. — Ou todos os sonserinos acham necessário bater nas mulheres para que sejam submissas? — A postura dele ficou rígida. —Nós valorizamos as mulheres aqui.


A réplica de Potter confirmou o que Weasley já suspeitava. Embora reconhecesse a intensa indisposição dele pelos sonserinos, percebia que Potter nunca levantaria a mão contra sua filha quando estivesse furioso.


O que era mais do que poderia dizer de Sir Draco.


— Sir Draco, quero falar com você em particular — disse Weasley, guiando o cavalo para o lado. O cavaleiro o seguiu, a expressão cautelosa. Weasley esperou que os outros tomassem bastante dianteira. — O que diz das acusações de Potter?


— Sabia que um homem de sua posição não daria crédito às mentiras de  um grifinório — disse Sir Draco calmamente. —Nós dois sabemos que ele não se deterá por nada até tomar controle das terras que eram dele. É nosso dever proteger Gina deste homem.


O conde não fez qualquer comentário, mas pôde ver o suor surgindo no rosto de Sir Draco.


— Falei com alguns dos soldados que mandei escoltando Gina. Pode imaginar o que me contaram sobre seu tratamento com ela?


Malfoy empalideceu.


— Eu protegeria Gina com minha vida, milorde. Ela é uma nobre dama de espírito forte.


— Tão forte que você achou necessário domá-la? Você ainda não é marido dela, Draco.


— Um noivado é quase o mesmo que um casamento.


— Mas ainda sou pai dela. E minha autoridade supera a sua antes que ela esteja casada. — Ele se calou, observando Sir Draco pensar em outra desculpa. Antes que o cavaleiro pudesse argumentar qualquer coisa, Weasley fez o cavalo parar. — Pedi para falar em particular para não lhe causar vergonha diante dos outros. Você não se casará com Gina. Enquanto estivermos em Hogwarts, você retornará para a Sonserina. Mandarei que despachem seus pertences, junto com todos os presentes e moedas que ofereceu a Gina. Não apareça diante de mim novamente.


Weasley vasculhou uma algibeira e puxou um pergaminho amarrotado. Exibindo-o para Sir Draco, ele leu a caligrafia do padre que revelava um dos pedidos de ajuda de Gina.


— Não é só por isso que quero você longe de Gina. Ouvi histórias sobre sua crueldade com meus próprios homens. Falaram de um soldado que tentou protegê-la, a quem você matou por isso. Não casarei minha filha com um assassino.


O rosto de Sir Draco ficou vermelho de raiva e constrangimento mal controlados. Weasley manteve a voz moderada.


— Prefiro casar Gina com um bárbaro grifinório que daria a vida para protegê-la do que com um homem que está mais interessado em seu dote.


Ele virou o cavalo, sem esperar para ver a reação de Sir Draco. Já bastava saber que Gina estaria em segurança outra vez.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


LADY GINA, mandaram-me avisar da chegada de seus pais.


Gina estava remendando uma cesta de roupas quando o soldado apareceu. Ela se levantou e deixou a agulha de lado.


— Eles estão lá embaixo?


— Não, milady. Esperam por você além dos portões de Hogwarts.


Gina franziu a testa.


— Por que eles não entram?


O soldado parecia constrangido.


— O rei Ronald não aceitou recebê-los. Ele diz que os sonserinos ainda são seus inimigos.


Algo nas palavras do soldado soava estranho. Embora Harry tivesse ameaçado negar a entrada de sua família, não esperava isto de Ronald. O rei havia adiado julgamento até obter todas as verdades de que precisava. Tinha concedido santuário a Gina. Proibir seus pais do direito de entrar parecia improvável.


Ela estudou o soldado. O rosto dele parecia de alguma forma familiar, embora não soubesse onde o tinha visto. Uma estranha premonição a alertava para ser cautelosa.


— Devo levar meus pertences? — perguntou.


O soldado meneou a cabeça.


— Ronald concordou em mandá-los depois para Godric.


Gina tirou um manto de lã de dentro de um baú, escondendo uma pequena adaga nas dobras da peça de roupa enquanto a colocava ao redor dos ombros. Não confiava nas palavras do soldado, mas havia uma pequena chance de que estivesse dizendo a verdade. Era melhor estar preparada para qualquer coisa.


Depois que Gina vestiu o manto, o soldado a conduziu ao pátio interno. Foi lá que Gina estacou. Não havia nenhuma escolta de soldados para levá-la além dos portões. Agora estava certa da mentira dele.


— Não seguirei adiante com você — ela disse. — Não até ter falado com o rei de Hogwarts.


O soldado segurou-lhe o pulso com força e Gina tentou se soltar. Lutou contra ele usando os punhos e os cotovelos. Fazia o que podia. Mas antes que ela percebesse o que tinha acontecido, o soldado encontrou a adaga que escondia e a manejou de modo a encostá-la contra a pele de Gina.


— Por que está fazendo isso? — ela perguntou, a voz rouca. — Pensei que fosse leal aos Potter.


A expressão do soldado parecia cansada.


— Sir Draco mantém minha esposa prisioneira. Se eu não entregar você, ele a matará.


Gina hesitou.


— Como sabe que Sir Draco já não a matou? Então sua traição não valeria nada.


Ela viu quando ele olhou para um saquinho preso ao cinto. Como rosto sombrio, ele respondeu:


— Não sei. Mas pretendo descobrir.


Num lampejo, Gina lembrou onde tinha visto aquele rosto: nas suaves feições de um menino.


— Você é o pai de Teddy — ela murmurou. Como ele não negou, ela lembrou do dia em que Teddy chamou pelo pai. — Ele o viu naquele dia.


À menção do filho, o soldado afrouxou o aperto.


— Ele está seguro agora.


— Salvei a vida dele — insistiu Gina. — Isso não significa nada para você?


A dor cruzou os olhos dele, mas o soldado apenas disse:


— Se não fosse por você, minha esposa e meu filho estariam a salvo em casa. — Ele cuspiu, amaldiçoando baixinho em grifinório os sonserinos. — A culpa é sua.


Um homem desesperado tomava medidas desesperadas, e Gina percebeu que ele não ouviria a voz da razão. Quando ele a forçou em direção ao portão principal, Gina gritou.


O soldado ergueu a adaga contra sua garganta. Gina tentou dar um passo para trás e usar a técnica que Harry lhe ensinara para escapar. Contudo, o soldado a desequilibrou e a empurrou à frente.


— Deixe-nos passar — ele disse aos guardas. — Ou eu corto a garganta dela. — Os guardas bloquearam a passagem e, para provar o que dizia, ele pressionou a lâmina até começar a aparecer sangue na pele de Gina. A sensação de ardência a encheu de pânico. Ela acreditava que ele cumpriria a ameaça, caso necessário.


Os guardas baixaram as armas e o deixaram passar. O soldado dera apenas alguns passos além do portão quando Gina ouviu um baque surdo. Os braços do soldado afrouxaram o aperto e ela se afastou. Uma flecha estava cravada na garganta dele.


À distância, Gina ouviu o som de cascos se aproximando. Em poucos segundos viu Harry e um grande exército de homens. O alívio a dominou ante a visão dele. Harry ainda segurava o arco, que largou de lado assim que desmontou.


Gina segurou o fôlego quando ele a esmagou num abraço, puxando-a tão perto que ela podia sentir seu perfume de pinho. A barba era áspera contra suas bochechas, as mãos lhe segurando o rosto.


— Você está bem? — ele murmurou com voz rouca. Os dedos limparam a mancha de sangue no seu pescoço.


Ela conseguiu assentir, embora mal pudesse ficar de pé. Harry a enrolou em seu manto, massageando-a nos ombros para lhe devolver o calor. Era tão bom estar nos braços dele, então ela apoiou o rosto no peito de Harry enquanto ele esfregava suas costas.


— Tentei fugir dele — ela murmurou.


— Eu sei. — Harry recuou e apontou para os parapeitos. — Mas ele não teria ido longe. — Gina ergueu os olhos e viu os arqueiros de prontidão. Embora ela compreendesse o que ele queria dizer, estava grata por ter sido salva por Harry. Tinha sentido mais falta dele do que imaginava possível.


— Seu pai está aqui. Ele mandou Sir Draco de volta para a Sonserina. Ele não a perturbará mais.


Gina mal acreditava que Draco fora embora. Era como se as correntes do medo tivessem se estilhaçado e caído.


O olhar intenso de Harry a inflamava. Ele a soltou, e o comportamento de guerreiro distante retornou. De repente, Gina não queria saber a decisão do rei.


— Estou com frio — ela murmurou.


Harry tirou o manto e o colocou sobre os ombros dela. Gina sentiu o calor do corpo dele, mas isso não ajudou a aquecer o medo que a congelava por dentro.


— Seu pai se aproxima — disse Harry bruscamente.


Ao ver o pai, Gina correu até ele. Arthur Weasley a recebeu nos braços, abraçando-a com força.


— Está machucada? Diga-me, filha. — Olhando para o hematoma na bochecha, ele dirigiu sua raiva a Harry.


— Quem fez isso?


Gina conteve o pai.


— Não é tão grave quanto parece. Foi a punição que Sir Draco me deu por ajudar Harry a escapar.


Arthur Weasley tomou a mão dela, apertando-a. Dirigindo um olhar sagaz à filha, ele perguntou:


— Quer se casar com Harry Potter?


A pergunta do pai pegou Gina de surpresa. Ela observou o rosto de Harry em busca de algum sinal de encorajamento. Como ele não ofereceu nenhum, a centelha de animação se apagou e Gina se sentiu dividida com a pergunta.


— Por que me pergunta isso? — Ela sabia muito bem que seus desejos pessoais não importariam no tocante a alianças políticas.


— Um novo acordo de casamento foi feito. Ainda não dei meu consentimento.


Gina percebeu a pergunta silenciosa do pai. Ele queria saber se tinha reservas quanto ao casamento com Harry. Diferente da maioria dos pais, ele sempre ouvia a opinião dela antes de tomar uma decisão quanto ao seu futuro. Mesmo com Draco. Como tinha sido boba, pensou ela com melancolia.


— Você concorda com este arranjo? — ela perguntou a Harry, receando ouvir a resposta.


— O rei me concedera Godric — ele respondeu. Quando Gina olhou nos olhos de Harry, compreendeu que ele queria suas terras de volta, e este direito só seria concedido casando-se com ela.


— Posso Ihe arranjar um casamento quando voltarmos para a Sonserina —o pai sugeriu. — Há muitos homens que Ihe ofereceram casamento, e vários fariam uma sólida aliança.


Gina considerou a sugestão do pai, mas uma olhada na inabalável determinação no rosto de Harry fez com que percebesse que vidas eram mais importantes que seus desejos. Se não casasse com Harry, isso significaria guerra. Não poderia conviver consigo mesma quando voltasse para a Sonserina e causasse a morte dos homens de seu pai.


Gina se desvencilhou do turbilhão de emoções e ergueu o queixo.


— Eu me casarei com ele.


— Esta certa disto? — perguntou o pai.


— Sim, papai. — Ela esperava um dia contornar a antipatia de Harry. — Fiz minha escolha.


Gina não olhou para Harry, temendo ver seu ressentimento. Embora ele a tivesse salvado do soldado, a tivesse abraçado como um amante faria, não poderia culpá-la pelo casamento.


Arthur suspirou.


— Então suponho que vai querer que sua mãe ajude com a celebração. Eu a trarei aqui para você.


Ela abraçou o pai e Arthur apertou-lhe a cabeça contra o peito. Naquele instante, o gesto a fez recordar de quando era uma garotinha, sentada no colo dele. Uma única lagrima correu por seu rosto.


— Ora, não vamos ficar aqui fora no frio — disse o pai. — Vamos finalizar os preparativos.


Enquanto entravam na fortaleza, Gina arriscou um olhar na direção de Harry. Não havia sinal de contentamento ou alegria, apenas uma expressão impassível que ela não conseguia interpretar. Tentou reforçar a coragem. Encontraria alguma maneira de agradar Harry e conquistar seu respeito, caso não conquistasse seu coração.

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