FELIZ PARA SEMPRE



GINA POTTER:

Quando era pequena, uma vez minha mãe leu para mim um conto trouxa
para crianças, no qual era dito no final que os personagens principais viveram felizes para sempre. Sempre achei aquele conceito estranho. Feliz para sempre. Mas era dessa forma que eu me sentia na manhã seguinte à primeira noite em que eu e Harry passamos juntos.


Harry estava bem disposto no café da manhã naquele domingo. Satisfeito por ter seus dotes culinários apreciados, Dobby era todo delicadeza e sorrisos com o patrão, enquanto perguntava se ele não queria comer mais nada. Ainda sonolenta, Patrícia desceu do seu quarto e pediu um café, torradas e suco de laranja para o elfo. Depois, olhando de maneira divertida para o irmão, perguntou:

- Até que horas você e Gina ficaram conversando? Quando eu cheguei você já tinha ido dormir. E aí, se acertaram?

- Acho que sim - disse a ruiva, que acabava de descer do quarto de Harry usando uma das suas camisas, que lhe batia quase nos joelhos, além de um moletom largo, também do jovem – Espero que você não se importe se eu partilhar o café da manhã com vocês.

Durante alguns segundos, Patrícia olhou Gina com incredulidade, depois, levantou-se bruscamente e fez um gesto de vitória, típico de jogadores de quadribol, abraçando de maneira comovida a ruiva.

- Ouiiiiiiii! – gritou em francês – o que lhe valeu um olhar de censura de Harry.

- Patrícia, por favor... – disse o irmão, ligeiramente constrangido. Gina ria da timidez de Harry, dando-lhe um beijo antes de também se sentar e pedir ovos, bacon e suco de abóbora para um satisfeitíssimo Dobby.

- Oh, claro! Repor as energias – disse o elfo maliciosamente. Gina riu mais ainda, percebendo o olhar mortal que Harry lançou a Dobby. Bem, seria divertida a vida com um elfo doméstico sarcástico, uma cunhada adolescente maluca e o amor da sua vida ficando rubro de vergonha cada vez que faziam referência à sua vida amorosa.

- Foi, ahn, tudo bem? – ia perguntando Patrícia.

- Coma, Pat! – cortou-a Harry. A jovem achou melhor obedecer, pelo menos daquela vez. Quando Patrícia começou a passar geléia nas suas torradas, Gina percebeu que Harry olhava para ela e sorria. Sorria como costumava fazer quando tinha quinze anos. Antes de ter enfrentado todo o mal que havia no mundo. Antes que tivesse que escolher entre o amor e a imortalidade. Ali, tomando seu café da manhã, naquele domingo frio, ele mais uma vez teve a certeza que fizera a escolha certa.

Dois meses depois estávamos casados. E permanecemos casados por doze anos, seis meses e três dias. Harry me disse que aqueles foram os melhores anos da sua vida. Foram os da minha também. Não porque casei com meu amor de infância, não porque desposei o herói do mundo mágico (o que às vezes era uma dor de cabeça). Mas porque Harry foi, não apenas um homem maravilhoso e um pai exemplar, como os jornais do mundo mágico estão alardeando hoje, aniversário de um ano de sua morte. Não, Harry Potter foi, acima de tudo, um grande amigo. Os tormentos físicos e psicológicos por que passou, diferentemente do que se podia esperar, fizeram dele uma pessoa compreensiva, paciente e amorosa.

Para o desespero dos amigos, ele tinha o hábito (aprendido na França) de beijar as pessoas. Dizia, com muito senso de humor (sim, ele o tinha!), que nós ingleses somos muito “travados”, por isso havia existido tantos bruxos das trevas na Inglaterra.

Não era o santo que queriam torná-lo. Era um homem de carne e osso, que tinha momentos de irritação como qualquer pessoa, principalmente quando via manifestações de preconceito, sobretudo contra os bruxos nascidos trouxas. Uma vez quase agrediu um jornalista que pediu que ele explicasse sua amizade com uma “sangue-ruim” (referência a Hermione). Por isso, sempre que tinha a oportunidade, usava seu prestígio na comunidade mágica para se manifestar contra o preconceito que alguns bruxos puros sangues ainda demonstravam contra mestiços ou nascidos trouxas. Um ano depois do seu retorno, concedeu a sua primeira entrevista para o “Pasquim”, jornal de Luna Lovegood, que apesar das idéias excêntricas, era uma jornalista honesta, que não deturparia as sua palavras.


- Por que você não gosta de falar sobre o seu combate final contra “Você-sabe-quem”, Harry?

- Porque eu não quero ser lembrado como um guerreiro cruel e impiedoso. Porque eu não me orgulho de ter provocado mortes, mesmo que tenha sido para proteger as pessoas. Não quero que tenham uma idéia equivocada de que tenho orgulho das mortes e destruições que causei. Porque acredito que o espectro de Voldemort continuará existindo sempre que o apetite exagerado pelo poder e a arrogância contra quem julgamos inferiores continuar existindo. Eu não matei Voldemort. Matei uma manifestação doentia do seu poder. Cabe ao conjunto do mundo mágico impedir que esse fantasma nos assombre novamente.

- E como isso seria possível, digo, impedir “que o fantasma nos assombre novamente”, para usar as sua palavras?

- Sendo tolerante com todas as criaturas, mágicas ou não, não alimentando tolos preconceitos de pureza sanguínea e opondo-se sempre aos bruxos que se julgam melhores do que os demais, por causa do seu poder ou da sua riqueza.


Onze meses depois de nosso casamento, nasceram os gêmeos (seguindo a tradição Weasley) Líliam e Sirius. Ambos puxaram os cabelos negros e rebeldes do pai e os meus olhos castanhos. Felizmente crescerão crianças bruxas sem a marca do “DOM”. Contudo, sei que serão bruxos poderosos, pois tive muito trabalho para controlar o poder de ambos, que às vezes se manifestava involuntariamente quando ainda eram pequenos. Sirius é expansivo e brincalhão como os seus tios Fred e Jorge, enquanto Liliam é séria e centrada, embora às vezes seja capaz de tiradas bem sarcásticas, como um certo moreno de olhos verdes quando jovem. Ambos foram criados num ambiente de muito carinho. Harry foi um pai muito presente na vida dos filhos, pois certamente sabia o que era ser criado sem o amor dos pais. As crianças o adoravam de verdade.

Quando ele morreu, ambos fizeram um esforço comovente para parecerem fortes. Sei que Harry pediu para que cuidassem de mim. Ele deixou uma carta para os filhos, que devo dar a eles apenas quando achar oportuno. Isso não demorará muito. Nos doze anos em que ficamos casados houve algumas crises de saúde, das quais ele sempre se recuperava, nem sempre mais forte, infelizmente. Parecia saber quando iria nos deixar. Uma dessas crises ocorreu dois anos após do nascimento dos gêmeos.


- Que susto o senhor nos deu, Sr. Potter – disse Gina segurando as lágrimas quando seus olhos verdes se abriram e ele a fitava com ar preocupado.

- Eu não iria deixar você com dois bebês para cuidar sozinha, Sra. Potter – respondeu Harry forçando um sorriso, e acrescentou irônico – E depois, quem iria cozinhar para vocês?


Entre os insuspeitados poderes de Harry Potter estava o de cozinhar muito bem. Bem melhor do que eu, devo admitir. Sempre dizia que durante sua infância havia sido obrigado a cozinhar para aqueles seus horríveis parentes trouxas. Mas agora tinha prazer em realizar essa tarefa para a esposa, os filhos e os amigos. Adorava receber as pessoas na nossa casa, próxima de Hogsmeade. Para impedir jornalistas e curiosos em geral, a casa estava protegida por um feitiço “fidelius”, cujo fiel era ele mesmo. Só que usando seus vastos poderes herdados do ”DOM”, era capaz de fazer os amigos localizarem a residência.

Sempre recebíamos visitas de Hermione e Rony. Eles se casaram dois meses depois de nós e agora possuem dois filhos, Linda e Alvo. Eu e Harry somos padrinhos da menina, enquanto Draco e Patrícia são do garoto. Linda, a mais velha, inteligente como a mãe, ingressará esse ano em Hogwarts. Os nossos gêmeos estão no segundo ano da escola, que continua sendo dirigida pela professora MaCgonagall e que tem uma nova geração de professores da qual fazem parte Draco Malfoy, eu, Neville e até a um ano atrás, Harry.

Voltar para Hogwarts fez Harry realmente muito feliz. Anos antes, numa cerimônia sugerida pela diretora, ele havia recebido um diploma honorário da escola, uma vez que nunca havia se formado. Como Hagrid se julgava velho demais para acumular as funções de guarda-caças e professor de Trato das Criaturas Mágicas, Harry assumiu essa função. Logo essas aulas tornaram-se as mais populares da escola. Todos queriam ter aulas com aquele professor jovem, bonito, herói do mundo mágico e que conseguia imitar o canto das aves e falar com hipogrifos. Eu me tornei professora de vôo, embora mandasse ainda semanalmente minha coluna sobre quadribol, esporte que eu continuava acompanhando, para o “Profeta Diário”.

Draco Malfoy desligou-se a quatro anos do St. Mungus e tornou-se professor de Poções. É o atual diretor da casa de Sonserina. Surpreendendo a todos, não se tornou um novo Snape. Embora seja um professor bastante exigente e até ligeiramente cruel com os estudantes, ele é bastante justo, tirando e distribuindo pontos de acordo com os méritos dos alunos, em nenhum momento favorecendo essa ou aquela casa. Há três anos atrás se casou com medibruxa francesa Edith Lambert após anos de rompimentos e reconciliações. Ele e Harry tornaram-se bons amigos e Draco preserva ainda aquele humor peculiar, que tanto pode divertir quanto irritar as pessoas.

Aos dezessete anos (maioridade no mundo mágico), Patrícia pediu permissão para mim e para Harry para mudar o seu sobrenome para Potter. Queria esquecer seu vínculo com o “Voldemort Africano” e, como ela mesma declarou, consolidar seu parentesco com Harry, sua verdadeira família. Não tivemos motivo para recusar. Patrícia Potter, além de uma boa amiga, é uma bruxa muito talentosa, tendo seguido carreira na área de medicina mágica. Três anos atrás casou-se com um diplomata bruxo da França, apesar de ter-se mudado para a Inglaterra em definitivo, atendendo um convite de Hermione para trabalhar na área de pesquisas do St.Mungus. Foi convidada recentemente para ministrar aulas de Defesa Contra Arte das Trevas em Hogwarts. A matéria não costuma manter professores durante muito tempo, mas hoje muito mais por superstição boba do que por alguma suposta maldição. Está tentada a aceitar e já procura uma residência em Hogsmeade, para ficar perto da escola. Seu marido trabalha no consulado bruxo francês em Londres.

Harry sempre tentou me preparar para a sua perda. Eu sempre dizia que ele viveria o suficiente para ver os nossos netos e os de Rony e Hermione. Ele apenas sorria e fingia concordar, mas provavelmente sabia que as coisas não ocorreriam dessa forma.

Poucos meses após o casamento de Patrícia teve mais uma crise séria. Logo após uma aula sobre unicórnios para excitados terceiroanistas da escola, teve um mal-estar e uma nova perda de visão (infelizmente tais eventos estavam se tornando comuns). Foi levado imediatamente para o St. Mungus, onde nossa amiga Hermione se apressou em atendê-lo. A antiga lesão cerebral parecia sob controle, mas depois de extensos exames, Hermione, Patrícia e Remo Luppin, que Hermione havia conseguido empregar no hospital, na área de reversão de feitiços acidentais, compareceram no quarto de Harry com os semblantes carregados. Patrícia tinha os olhos vermelhos.


- Não é a antiga lesão, Harry – disse o professor Luppin.

- Então por que a cara de velório de vocês? – perguntou o rapaz de bom humor. Ele sempre permanecia tranqüilo durante essas crises. A preocupação toda ficava com aqueles que o amavam.

- Harry, você sabe que nos últimos dez anos desenvolvemos muito os estudos sobre as conseqüências dos feitiços no corpo humano – disse Hermione, que parecia também prestes a cair no choro.

- Claro, você, Patrícia e Remo são as três pessoas mais irritantemente inteligentes que eu conheço – replicou Harry, ainda de muito bom humor. Nem parecia ter saído recentemente de uma crise com tonturas, desmaios e cegueira.

- Hoje conseguimos detectar muito melhor o seu mal do há nove anos atrás, quando da sua primeira crise – disse novamente Remo Luppin. Gina, que estava à cabeceira de Harry, prendeu a respiração. Certamente não vinham por aí boas novas.

- Provavelmente os feitiços que você recebeu ao longo da vida debilitaram-lhe o organismo – disse o bruxo mais velho, com ar cansado – Você desenvolveu um tipo de anemia que nunca foi vista antes, nem entre bruxos nem entre trouxas.

- Quanto tempo, Remo? – perguntou-lhe Harry tranqüilamente.

- É difícil saber – apressou-se a dizer Patrícia – Seis meses, talvez...

A irmã de Harry não conseguiu dizer “talvez menos”. Abraçou o irmão e começou a chorar. Depois de alguns minutos tensos, onde Gina e Hermione tentavam (sem muito sucesso) parecerem fortes e confiantes, o Professor Luppin disse:

- Seria melhor você ficar aqui, Harry. Poderíamos ministrar poções que aliviariam o seu sofrimento, quem sabe poderíamos...

- De maneira alguma, Remo – interrompeu o moreno de maneira tranqüila, mas havia muita decisão na sua voz – Eu não vou me afastar das crianças e dos meus alunos – Depois, virando-se para Gina, perguntou calmamente – Você entende, isso não é?
Eu não poderia passar mais tempo me escondendo. Eu tomo os remédios que forem necessários, mas não me afastem das pessoas. Por favor.

Um silêncio pesado caiu sobre o ambiente como se um feitiço silenciador tivesse sido lançado. Gina não sabia o que pensar. Mesmo Hermione, sempre tão eficiente, olhava para o amigo aparentando uma grande confusão.

- Eu acho que Harry está certo, Remo – disse Draco Malfoy que acabava de entrar no quarto. Sua esposa Edith segurava na sua mão e ela também parecia confusa com a situação – Privá-lo do convívio da família e dos alunos seria pior ainda. Eu e Gina prometemos ficar de olho nele em Hogwarts e obrigá-lo a tomar as poções prescritas, nem que tenhamos que lançar mão de uma maldição “Imperius”. E depois – acrescentou com sua voz arrastada e irônica – já pensou se eu tiver que substituí-lo? Tomar conta daqueles bichões certamente estragaria minhas mãos delicadas.

Harry riu gostosamente com a tirada de Malfoy. Apesar da relutância de Patrícia e de Hermione, naquela mesma noite de sábado Harry estava em casa. Entrou correndo e abraçou e brincou com os gêmeos, que estavam preocupados com seu estado.

- Você tá legal, pai? – perguntou Liliam, sempre mais séria do que o irmão.

Harry sentou-se no chão da sala de estar e puxou a menina para bem perto dele:

- Eu nunca menti para você querida, e não pretendo começar agora. Estou tão bem quanto possível, mas isso não vai impedir de fazer cócegas em vocês... – Puxou a garota e agarrou o irmão dela, trazendo-o também para o chão, enchendo-os de cócegas, enquanto os três simulavam uma luta livre muito bagunçada, embolados e rindo muito.

- Três crianças... – disse Arthur Weasley, que juntamente com a esposa, estavam na casa de Gina e Harry, tomando conta dos netos.

- Querida, com todo esse humor e essa energia, Harry ainda vai durar um século pelo menos – falou Molly, rindo também com a algazarra que o pai e os filhos produziam.

Como se nada tivesse acontecido nos últimos dias, Harry insistiu em cozinhar para todos naquela noite. Preparou hambúrgueres, que os garotos e o seu sogro, apaixonado por tudo que fosse trouxa, adoravam, adicionando um molho delicioso, cujos ingredientes ele sempre dizia ser segredo de estado.

À noite, após a partida dos sogros e de ter colocado as crianças para dormir, ele abraçou Gina e prometeu que duraria mais do que os seis meses que Patrícia havia lhe dado.

- Estarei no salão principal de Hogwarts no primeiro dia de aula das crianças. Eu prometo.

Harry realmente cumpriu a promessa, embora, infelizmente, não tivesse vivido um século como minha mãe havia previsto. Sabendo que o ex-grifinório quase havia sido enviado para Sonserina pelo chapéu seletor em seu primeiro dia em Hogwarts, Draco apostou com ele que um dos filhos seria mandado para essa casa. Não que isso fizesse grande diferença hoje em dia. Sonserinos continuam arrogantes e individualistas, mas não paira mais a sombra do Lorde das Trevas ou dos Comensais da Morte sobre eles.


- Eu acho que é a garota – dizia um sorridente Draco Malfoy a Harry – Você pode me dar os dez galeões no pagamento. Eu não sou sovina.

Harry sorria enquanto Sirius caminhava inseguro para o banquinho onde se encontrava o chapéu seletor.

- O chapéu vai anunciar em dois segundos – tripudiou Harry.

De fato, mal Neville Longbotton colocou o chapéu sobre os cabelos rebeldes do menino, foi anunciado: GRIFINÓRIA!

Gina e Harry acenaram para o filho, que parecia muito aliviado. Os primos, filhos de Gui, Fred e Jorge puxavam a grande ovação vinda da mesa de Grifinória.

- Ganhamos mais um Potter! Mais um Potter na Grifinória! – gritava o menino ruivo de pele escura, filho de Jorge e Angelina, enquanto aplaudia com entusiasmo.

Como a seleção agora seguia uma ordem alfabética invertida, logo depois foi chamada a pequena Liliam. Com seu jeito sério, lembrando muito sua tia Hermione, sentou-se reta no banquinho e teve o chapéu colocado em sua cabeça. Diferentemente do irmão, quase um minuto inteiro se passou sem qualquer manifestação, enquanto Draco dizia a Harry que seria um prazer ter uma aluna tão inteligente na Sonserina.

- GRIFINÓRIA! – por fim o chapéu anunciou. Dessa vez era o irmão que puxava os aplausos, enquanto os primos, para a insatisfação da menina, assobiavam à sua passagem.

- Quase, Potter – murmurou Draco, mal-humorado, enfiando as mãos nas vestes e pagando a Harry os dez galeões.

- Nem em sonhos, meu caro Malfoy – zombou Harry – o chapéu apenas estava em dúvida se a mandava para Corvinal.

- Pissiu! – ralho com eles a diretora. Embora gostasse muito dos dois, que realmente eram ótimos professores, Minerva não aprovava as constantes brincadeiras de seus jovens mestres e atuais diretores, respectivamente de Sonserina e Grifinória. Isso era motivo para longas reuniões em sua sala, que depois terminavam em xícaras de chá, biscoitos e ela própria acabava rindo muito com eles, embora no dia seguinte voltasse a lhes chamar a atenção.


Embora tivesse muito entusiasmo, Harry não esteve muito bem desde a última crise. As poções que tinha que tomar eram cada vez mais fortes e tinham como efeitos colaterais uma certa fadiga e muita indisposição.

Numa bela tarde de verão estávamos na escola para a uma reunião do corpo docente, preparando-nos para o começo do ano letivo. Sirius e Liliam foram conosco e eu e Harry passeávamos de mãos dadas pelos jardins da escola. Havíamos chegado horas antes, apenas para apreciar a linda paisagem de verão. Os gêmeos conversavam animadamente com Nathan, filho de Luna e Neville, que também ingressara em Hogwarts naquele ano. Harry visivelmente não estava bem. Eu insisti que ficasse em casa, onde Dobby (sim, ele continuava seguindo Harry) poderia cuidar dele. Ele, por sua vez, insistiu em comparecer à reunião.


- Querido, descanse um pouco no dormitório dos professores. Ainda faltam duas horas para a reunião – Gina lhe disse carinhosamente.

A cabeça de Harry doía terrivelmente, mas ele assentiu, tentando não preocupar a esposa. De alguma maneira ele sabia que era a hora. “Apenas a grande aventura seguinte”, lhe dissera Dumbledore uma vez há tantos anos atrás. Despedindo-se de Gina com um beijo nos lábios e acenando para os filhos e para o garoto com os cabelos louros de Luna, Harry afastou-se, tentando não demonstrar dificuldade. Poucos metros havia andado quando seus olhos, que já não enxergam tão bem, deixaram-lhe no escuro. Usando os sentidos ampliados pelo “DOM”, chegou até o amplo dormitório que teria direito como professor, mas que não o usava por morar nas cercanias da escola.

Deitou-se com as mãos confortavelmente sobre o ventre. Podia ver novamente uma estação de trem. Uma menina de dez anos de cabelos vermelhos acenava febrilmente para os irmãos que estavam num trem em movimento. Harry havia comprado um monte de guloseimas e as dividia com Rony, irmão da menina da estação. Aquele que seria seu melhor amigo. Hermione entraria na cabine, atrás do sapo perdido por Neville.

- Foram dias felizes, não? – perguntou-lhe com uma voz muito calma um homem de longas barbas e cabelos brancos.

- Você foi um grande homem, Harry – disse um bruxo moreno, de cabelos longos, dando-lhe um grande abraço – Seus pais ficaram muito orgulhosos de você.

- Eu posso vê-los? – perguntou Harry.

- Claro que pode – respondeu o bruxo de longas barbas – Mas você pode também desfrutar desse momento mais um pouco se isso lhe agrada - disse bondosamente.


Sentei no gramado, próximo ao lago, aproveitando o sol de verão. As três crianças continuavam sua conversa animada, quando de repente Liliam me chamou:

- Olha, mãe! – disse a menina excitada – Flores negras, não estavam aqui agora há pouco. Nunca tinha visto.

Curiosa, me aproximei do local mencionado e algumas flores totalmente negras como uma noite sem estrelas pareciam ter brotado na relva. Um arrepio percorreu meu corpo. Quando Dumbledore morreu, ouviu-se por toda a escola o canto triste da fênix. Dizem que a morte de um grande bruxo é acompanhada sempre por algum prodígio. Sem querer assustar as crianças, disse que voltaria logo. Quando imaginei que eles não estavam mais prestando atenção em mim, corri em disparada de volta ao castelo. Encontrei Draco no caminho e sem explicar nada, praticamente o arrastei até o dormitório onde Harry deveria estar descansando. Sim, ele estava. Draco teve que me amparar para que eu não caísse.

Vestido de maneira informal como sempre, com jeans e uma camiseta leve de verão, com as mãos cruzadas sobre o ventre e parecendo sorrir, Harry Potter estava morto. Meu marido, o homem que amei a vida inteira estava morto! Há um mês havia completado trinta e sete anos, embora parecesse ter menos. Draco Malfoy o examinou rapidamente apenas para constatar o que eu já sabia ao ver as flores negras. Ele me abraçou. Também estava chorando.

Três dias depois, foi enterrado num pequeno cemitério que havia em Hogsmeade. O local tornou-se um centro de peregrinação bruxa e um monte de bobagens costuma ser dita sobre aparições fantásticas de Harry Potter. Tudo idiotice, claro. Só bruxos que temem a morte se transformam em fantasmas, Harry jamais a temeu. Seu grande medo foi sempre decepcionar as pessoas que amava, coisa que nunca fez. Um ano depois, hoje, estou me arrumando para a cerimônia oferecida pelos seus amigos e alunos em sua homenagem.

Sirius e Liliam, crianças adoráveis, que me dão força para continuar vivendo, estão prontos. Como o pai, trajam roupas trouxas e estão lindos. Minha amiga Hermione, diretora do St. Mungus e grande candidata a se tornar a mais jovem ministra da magia da história do Reino Unido fará o discurso laudatório. Todos aqueles que o amavam estarão presentes. Meu irmão Rony terminará a homenagem dizendo: “Às goles que virão e aos balaços que rebateremos”. Muitos acharão inadequado, mas sei que Harry, que tenho certeza, descansa hoje entre as pessoas queridas que perdeu, não imaginaria palavras melhores. Tenho que aceitar que nunca mais o verei nessa vida. E isso dói muito.

Harry sempre disse que um dia eu teria que seguir sem ele. Por mais que essa possibilidade sempre estivesse presente, principalmente nos três últimos anos, não é fácil prosseguir.


- Não deixe que transformem você numa viúva de um monumento, Gina. Você me promete que continuará sua vida sem mim?

-...

- Eu amo demais você para permitir que você viva apenas para a minha memória quando eu partir. Prometa!

- Eu prometo seguir em frente, Harry. Mas você sabe...

- Que não vai ser fácil. Ninguém disse que seria – depois ele disse brincando: – Weasleys são corajosos, lembram?

- E Potters são cabeçudos como você – disse Gina beijando-o de maneira apaixonada – Eu amo você, Harry.

- Eu sei. Você é a única mulher da minha vida, lembra?


Três dias depois ele havia partido. E rosas negras ainda são encontradas hoje nos jardins de Hogwarts.













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Comentários (7)

  • Kanastra

    Olha até o momento eu já li várias fics! Mas esta foi a primeira q me deu vontade sincera de chorar!! Parabéns e continue escrevendo!!!

    2013-05-16
  • Larissa Batalha

    ... Nao sei o que dizer ... essa fic é maravilhosa . Esses ultimos capitulos me arrancaram muitas lagrimas , mais este em especial foi o que mais derramei mais ... esta perfeito , nunca havia pensado na possibilidade de ler em alguma fic que Harry morreu ... mais essa me emocionou muiito e os relatos da Gina foram incriveis ... vc é uma exelente autora !!PARABENS !! 

    2012-07-11
  • Bárbara JR.

    Eu sei que te encho o saco com comentários repitidos, mais não posso evitar! Sempre leio esse capitulo ouvindo relicário e choro, choro muito! Mesmo depois de meses ainda não tenho palavras especificas pra descrever essa fic, serião!

    2011-10-06
  • Vitória Leopoldina Gomes Mendes

    você realmente é um escritor fantastico!!!! sou uma fão de leituras que fazem eu trabalhar a imaginação mas acho que é a primeira vez que vejo uma historia bem contada dessa forma... você fez um final digno de um heroi... que é citado no livro todo! parabens... se não se importa eu gostaria muito de discutir ideias com você e conhecer outras de sua fics me mande um e-mail: [email protected] vc ja escreveu algum livro?

    2011-08-20
  • Bia_Black

    Nem sei o que dizer, só que essa foi uma das poucas fic's que me fizeram chorar, linda parabéns.

    2011-08-18
  • Bárbara JR.

    Estou chorando litros, sério. E ouvindo Relicário deixa mais triste ainda Y.Y'  Cara, nunca chorei tanto O.O

    2011-07-31
  • Dangell

    Cara Deu até um no na garganta e meus olhos estão cheios d'água

    2011-05-31
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